A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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da Bahia, <strong>em</strong>bora mantivesse uma fachada <strong>de</strong> neutralida<strong>de</strong>. Representava os interesses do alto<br />
comércio e mantinha uma constante pressão sobre os governantes pela redução <strong>de</strong> impostos e<br />
pela manutenção da or<strong>de</strong>m. Seu presi<strong>de</strong>nte, Antônio Soveral, fez parte da comissão que foi<br />
buscar a primeira renúncia <strong>de</strong> Aurélio Viana, e apoiou a ascensão <strong>de</strong> Bráulio Xavier ao governo<br />
(Gazeta do Povo, 13 jan. 1912). Des<strong>de</strong> a visita do marechal Hermes, <strong>em</strong> julho <strong>de</strong> 1911, quando a<br />
Associação foi presenteada com uma faixa <strong>de</strong> terra e com a reforma <strong>de</strong> parte do cais do porto, a<br />
entida<strong>de</strong> vinha se alinhando ao ministro Seabra. Abandonando sua tradicional prudência, as<br />
“classes conservadoras” <strong>em</strong>barcavam alegr<strong>em</strong>ente na caravana seabrista, que prometia trazer o<br />
progresso e o <strong>de</strong>senvolvimento para a velha Bahia.<br />
Além dos trabalhadores e comerciantes, é preciso não esquecer que muitos políticos tradicionais<br />
já haviam a<strong>de</strong>rido ao seabrismo. As <strong>de</strong>monstrações incontestáveis <strong>de</strong> força durante todo o ano<br />
<strong>de</strong> 1911 e os primeiros meses <strong>de</strong> 1912, com a prova inequívoca do bombar<strong>de</strong>io, convenceram<br />
até os chefes mais cautelosos <strong>de</strong> que a maré havia virado <strong>de</strong>finitivamente para o lado <strong>de</strong> Seabra.<br />
Os seabristas <strong>de</strong> última hora precisavam <strong>de</strong>monstrar publicamente sua a<strong>de</strong>são, o que se fazia <strong>de</strong><br />
duas maneiras: através <strong>de</strong> votos e da presença nos rituais, com seus subordinados e agregados.<br />
Com isso, levava-se mais água ao moinho seabrista.<br />
O episódio do bombar<strong>de</strong>io, com seus <strong>de</strong>sdobramentos, assinalou o primeiro gran<strong>de</strong> confronto<br />
entre Rui Barbosa e J. J. Seabra. A força do verbo <strong>de</strong> Rui não foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
articulação <strong>de</strong> Seabra, que finalmente concretizou seus planos <strong>de</strong> tomar o controle da política<br />
baiana. O fato <strong>de</strong> que isso tenha ocorrido pela força dos canhões não invalida a avaliação feita,<br />
no ano anterior, pelo filho <strong>de</strong> Rui, <strong>de</strong> que Seabra preferia alcançar seus objetivos “pelos meios<br />
naturais”. Ocorre que, no contexto do governo Hermes, a associação com os militares era a<br />
opção mais atraente e, provavelmente, era a única capaz <strong>de</strong> dobrar a resistência dos adversários<br />
marcelinistas, severinistas, ruístas e pinheiristas.<br />
Em retaliação às ações <strong>de</strong> Rui Barbosa no plano nacional, e aos ataques verbais ao seu chefe, os<br />
seabristas chamaram o senador <strong>de</strong> “velhote <strong>de</strong>sorientado”, “chefe nato <strong>de</strong> todas as revoluções e<br />
rebeliões que t<strong>em</strong> havido no Brasil”, “figura tétrica”, “esquálida”, “<strong>de</strong>mente”, “gran<strong>de</strong> gênio da<br />
<strong>de</strong>struição que nada jamais construiu n<strong>em</strong> construirá”, “duen<strong>de</strong>”, entre diversos outros. Rui era<br />
apresentado como filho ingrato da Bahia, que só sabia <strong>de</strong>struir, além <strong>de</strong> velho e fisicamente<br />
frágil. Era o contraponto exato à imag<strong>em</strong> que Seabra vinha tentando construir para si mesmo.<br />
Alto, corpulento, com seus bigo<strong>de</strong>s pintados <strong>de</strong> preto, o novo governador buscava aparentar<br />
juventu<strong>de</strong>, força, virilida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> administrativa e apego extr<strong>em</strong>ado à terra natal.<br />
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