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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Por que Seabra, que certamente dividia opiniões <strong>em</strong> vida, passou à m<strong>em</strong>ória dos baianos <strong>de</strong> hoje<br />

como uma quase unanimida<strong>de</strong> negativa? Este trabalho parte da hipótese <strong>de</strong> que para isso<br />

contribuiu, <strong>em</strong> parte, a rivalida<strong>de</strong> que se estabeleceu entre ele e o gran<strong>de</strong> herói baiano e<br />

brasileiro do período: o senador, ministro e <strong>de</strong>putado Rui Barbosa (1849-1923). Glorificado <strong>em</strong><br />

vida, celebrado após a morte, Rui concentrou as aspirações <strong>de</strong> saber, gran<strong>de</strong>za, civilização,<br />

justiça e liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o país. Numa palavra, ele representava o b<strong>em</strong>. Confrontado a essa<br />

figura mítica, J. J. Seabra encarnava a imag<strong>em</strong> do mal.<br />

Um olhar mais apurado sobre a política baiana da Primeira República, entretanto, mostra que o<br />

quadro não era tão simples. Como aponta Consuelo Novais Sampaio, <strong>em</strong> um texto publicado <strong>em</strong><br />

1989, como prefácio nas Obras Completas <strong>de</strong> Rui Barbosa, o antagonismo entre os dois é b<strong>em</strong><br />

mais complexo do que a m<strong>em</strong>ória popular e parte da historiografia faz<strong>em</strong> parecer. Ela observa<br />

que Rui Barbosa e Seabra tinham muito <strong>em</strong> comum. Eram homens <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> urbana, <strong>de</strong><br />

formação liberal, s<strong>em</strong> ligação pessoal com o latifúndio, mas vinculados aos chefes tradicionais.<br />

Ambos foram exilados ao combater Floriano Peixoto, no início da República, e conquistaram<br />

<strong>de</strong>staque nacional. Enquanto Rui sobressaía pelo po<strong>de</strong>r do verbo, Seabra angariava espaços pela<br />

sagacida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> articular apoios. O confronto ocorria no campo político, era uma<br />

disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Nas palavras da autora:<br />

Foi a luta pelo po<strong>de</strong>r, e as paixões <strong>de</strong>la <strong>de</strong>correntes, que, gradativamente, estabeleceram o<br />

afastamento <strong>de</strong> Rui e Seabra. Na primeira fase republicana, Rui continuou a ser o condutor da<br />

política baiana e seu porta-voz maior junto ao po<strong>de</strong>r fe<strong>de</strong>ral. Mas, aos poucos, o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />

político e a sagacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Seabra passaram a conferir-lhe <strong>de</strong>staque no mundo político nacional. E<br />

as relações políticas que, entre os dois baianos, eram revestidas <strong>de</strong> admiração e respeito, foram-se<br />

<strong>de</strong>teriorando, no <strong>de</strong>correr do período (OCRB, 1919, v.XLVI, t.III, p.XV).<br />

O prefácio citado foi o ponto <strong>de</strong> partida das investigações <strong>de</strong>sta dissertação. A partir daí, foi-nos<br />

colocado o probl<strong>em</strong>a: que convergências e divergências apresentaram Rui Barbosa e J. J. Seabra<br />

<strong>em</strong> suas trajetórias na República? De que forma os dois polarizaram a elite política baiana no<br />

período? Que propostas apresentavam? Que estratégias adotaram no confronto? Vinculavam-se<br />

a que grupos políticos, econômicos e sociais?<br />

A primeira providência tomada na investigação foi uma <strong>de</strong>limitação do t<strong>em</strong>a. Definiu-se que a<br />

pesquisa seria restrita à política da Bahia, <strong>em</strong>bora, muitas vezes, seja imprescindível a referência<br />

ao quadro nacional, como se verá. Esse limite justifica-se porque tanto Rui como Seabra eram<br />

políticos <strong>de</strong> renome <strong>em</strong> todo o país, <strong>em</strong>bora não com a mesma relevância. Apesar do sucesso <strong>de</strong><br />

Seabra, a projeção nacional <strong>de</strong> Rui era significativamente maior. Po<strong>de</strong>-se dizer que, até Getúlio<br />

Vargas, não houve político brasileiro com popularida<strong>de</strong> comparável à <strong>de</strong> Rui.<br />

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