Leia o Texto.

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Depois que olhei atentamente, como se tivesse meio hipnotizado por
aquela luz que me faiscava os olhos, que talvez fosse à luz da sabedoria, me fiz
caminhar até a lata, apanhei com uma das mãos aquele amontoado de páginas
meio amassadas, meio sujas, sem capa, sem foto de autor, e ainda, sobre o nome
havia um risco forte de
barro vermelho encalacrado no papel – as faíscas sumiram, repentinamente, de
meus olhos, como se aquilo fosse para que eu mudasse de foco e atentasse para o
livro ali jogado – não pude ler o nome da história ou quem a havia escrito.
Agora o exemplar apoiado sobre as minhas duas mãos, parecia-se uma
criança acalentada, cuja cria que o segurava, já não mais sabia o quanto ainda
carecia de um colo de mãe.
Após tentar limpar a sujeira com um pedaço de folha de caderno, ali
também encontrado, acabei por sujar mais ainda o livro, esparramando, com
isso, a sujeira sobre a folha de papel.
Apesar disso, conseguiu mesmo assim, ler o primeiro nome: José. José
então havia escrito o livro que o destino me havia presenteado.
- Mas, José se tem tantos... – pensei excitado - talvez pelo fato de que o
pertence tenha me sido disponibilizado, assim meio que abruptamente... José de
quê, de onde? A princípio não importava, e isto havia ficado esclarecido para
mim.
Aquele autor não haveria de morrer com sua obra enterrada em algum
monturo de detritos qualquer. Imaginei que aquele exemplar pudesse ser o
único. E se fosse o único? Eu estaria tendo a oportunidade de salvar uma vida,
sim uma vida literária. Uma vida que passaria, de ora em diante, levar a minha,
fazer parte da minha, completar a minha.
Contudo, o livro estava ainda muito sujo, umedecido, talvez fosse pela
chuva ou água da torneira quando lavaram a casa. Mas, eu recuperaria! Sim, o
leria! Eu estava determinado salvá-lo.
Assim, quando o abri ali mesmo na frente daquela lata de lixo, deparei
logo no primeiro parágrafo, com aquela frase que me acompanhou pela vida
toda: “O amor desvenda o simples”.