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de pregos e acabei balbuciando que iria trabalhar para comprar uma<br />
pedra de sabão para aquela senhora.<br />
Desci displicente rua abaixo, eu estava limpo, me sentia leve com meu<br />
corpo banhado e limpo, deparado mais uma vez com aquela vitrine separada por<br />
aquela porta de vidro, ali fiquei a olhar aqueles livros bonitos. Muitos sonhos, ali<br />
detrás daquelas capas coloridas daqueles livros, com aqueles escritos pretos ou<br />
em ouro industrial, segredavam-se. Eram as capas as minhas portas? Estariam<br />
aqueles sonhos meus, impregnados de tinta, papel e novos mundos, eram<br />
igualmente, na literalidade do transcrito discorrido das alusões dos autores? O<br />
que precisava tanto ser despertado em mim, e o que me despertaria! O que ali<br />
dentro continha a me chamar, como o cheiro de comida me chamava a fome... O<br />
eu menino daquele tempo, acreditava, voluntariamente, em alguma coisa similar<br />
a isto, neste despertar da fome.<br />
Crer que dentro de mim mesmo, no fundo de meu íntimo tinha um<br />
encantamento guardado – era-me algo de livro, de romance, de aventura, de<br />
sonho e de menino. Hoje eu sabia. Naqueles tempos, não tinha nenhuma<br />
consciência a respeito de minha sabedoria inerente. Tudo realmente havia ficado<br />
marcado como sonhos de crianças.<br />
Havia dias em que eu ficava mais fascinado pela literatura que em outros.<br />
Nesses momentos, eu sentia-me importante, era como se a sabedoria me aguçasse<br />
sem que eu soubesse, claramente, delas. Como se de dentro daqueles livros, cujas<br />
capas eu observava quase que diariamente, saíssem aos poucos, seus<br />
desvendamentos e adentrassem em mim, através de meus olhos ávidos.<br />
Naquele bom dia, enquanto caminhava, vinha-me à cabeça este fascínio<br />
que me aguçou a olhar para aquela lata de lixo. O atrativo, sem que eu soubesse,<br />
poderia bem ser uma luz subliminar da sabedoria. Imaginei faíscas, ou teria visto<br />
mesmo que aqueles luzires, como se os raios do sol estivessem tocando em cacos<br />
de vidros - e talvez até os tocassem -, fossem essa magia de minha imaginação,<br />
apertei meus olhos para desanuviá-los. Mas o brilho de astros, ou de outra<br />
forma artificial, me puxava.