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Leia o Texto.

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4<br />

- Aqueles livros são tão lindos e limpos... Comentei no meu íntimo. Na<br />

biblioteca da cidade eu também não podia entrar. A limpeza era perfeita a<br />

organização impecável. Devia ser por isso que me enxotam – pensava.<br />

– O que quer aqui? Vai andando, vai, vai! – alguém me dizia, como se<br />

espantasse uma mosca varejeira.<br />

Em um desses dias saí caminhando a esmo para os arredores da cidade,<br />

não pensava em nada mais que ir ao córrego me divertir nas águas, me banhar.<br />

Aquilo me era uma fuga de meu cotidiano infeliz. Ao passar por uma das<br />

moradias humildes que antecedia o caminho ao córrego, em um tanque de lavar<br />

roupas encontrei uma pedra de sabão já usada, eu a apanhei, sem imaginar que<br />

fosse um roubo, e segui para o córrego, lá, pude esfregar-me com ela e lavar<br />

minhas vestes. Ao voltar à cidade, agora limpo e me sentindo mais leve,<br />

imaginava que as pessoas me notassem. Não me notaram. Eu queria tanto ser<br />

notado, queria fazer parte daquele mesmo mundo de pessoas que podiam tocar<br />

nos livros. – O que mais estaria fechado para mim... Creio ter imaginado<br />

involuntariamente -, o que mais!<br />

- Vó! Vó! É aquele ali! Eu vi quando pegou, é aquele! Disse aos gritos um<br />

gordinho com cara de bonachão.<br />

A senhora vestida com uma roupa surrada, com dentes faltando na boca e<br />

com cabelos emaranhados, veio ao meu encontro e foi logo inquirindo:<br />

-Então foi você seu ladrãozinho vagabundo, ande, me dê, quero o meu<br />

sabão, meu neto te viu roubando o meu sabão! Sem nada que justificasse, eu<br />

disse:<br />

- Eu não sabia que era da senhora, juro! Vou lhe trazer outro, eu prometo<br />

pra senhora, só peguei para me lavar, mas esqueci no córrego, eu não sou ladrão<br />

não! – disse, tentando justificar aquele injustificável. E com medo já fui saindo<br />

devagar e depois disparando rua abaixo, após correr até ficar sem fôlego parei e<br />

me escondi. Pus-me a chorar, como se algo corroesse meu interior honesto, eu<br />

sabia, mas... quem mais sabia? Depois senti o sol bater forte em meu rosto, sem<br />

querer comecei a rir e rir sem parar, não sabia por que estava rindo, mas ria e<br />

ria até que comecei a chorar novamente. Assim meu brio me fez pensar, como se<br />

me espremesse contra um muro

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