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Leia o Texto.

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28<br />

diante, não passasse a ser o mais rico dos homens, reconhecendo que a vida<br />

era, a sua e de toda a humanidade, a nossa melhor preciosidade. Então, ao invés<br />

do personagem se estatelar lá embaixo, no meio de pedras, montanhas e árvores,<br />

ele pousa sobre o dorso do gigante pavão, agarrando-se, primeiro como se fosse<br />

um carrapato grudado no lombo de um touro, depois com medo de cair daquela<br />

altura, pois já havia desistido de perder sua vida naquela bobagem de desilusão.<br />

Eu estou com a garganta estagnada e a voz embargada e do meio da<br />

minha compenetração sinto precisar de uma pausa. O simples de meu ser<br />

criança, toca no profundo medo de meu herói, então não resisto e choro.<br />

Neste momento, o pássaro gigante voava entre montanhas cheias de<br />

arvoredos gigantes. Embaixo, um braço de mar circundava as montanhas<br />

também gigantes, tão humilde quanto majestoso, azul, infinitamente azul...<br />

Eram eles, ali diante de tantas coisas grandes, seres pequenos. Pequeninos, como<br />

aquilo que dos olhos deles desapareciam pela distância... Agora, o personagem<br />

que fora salvo por aquele animal emplumado e enorme, tinha uma companhia a<br />

mais, o sentimento daquele menino, que era eu. Eu que também não tinha<br />

sequer, até aquele instante, um livro para ler. Eu que adentrava naquela história<br />

de José André de tal maneira que as palavras lidas transformavam-se em atos e<br />

em movimentos em meu cérebro. Ele também não tinha uns sapatos e, por<br />

ironia do destino, também não tinha um amigo ou irmão. Tive vontade de<br />

abraçá-lo e dizer-lhe: - Você tem a mim, sou seu amigo!<br />

Apenas o que tinha era alguns colegas de escola, que praticavam bullying<br />

e o faziam de escudo para esta prática. Era o carregador de objetos tomados de<br />

outros garotos, vítimas dos abusos deles; como recompensa, dava-lhe pedaços de<br />

pão com manteiga, sobrados de seus lanches. Esses meninos pertenciam à classe<br />

média e eu à escória da sociedade Essa mistura do irreal com o real dentro de<br />

mim era mais que verdadeira e eu tomava partido a favor de meu herói. Eu<br />

torcia muito para que ele se salvasse daquele sofrimento. Para mim ele tinha<br />

vida, eu queria dar-lhe minha mão, queria dar-lhe meu abraço, queria lhe dizer<br />

coisas positivistas! Havia, ainda, outro ponto em comum comigo, sua única irmã<br />

havia desaparecido logo ao nascer, talvez morta ou levada por algum homem do<br />

mal. A menina estaria brincando na porta da casa sem muros e dali jamais<br />

alguém soube para onde teria ido ou teria sido levada por alguém, sobre isso o<br />

autor se limitou apenas a dizer de seu sumiço. Deixou nas entrelinhas que talvez<br />

vivesse ainda, em algum país estrangeiro.

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