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Leia o Texto.

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26<br />

amor? – Deixe-me viver, deixe-me viver! – Arrependei e aceitai - teria<br />

ouvido ou lido, e agora lhe ressurgiam como um tilintar de sino na cabeça, era<br />

um som, eram palavras, era algo explicável, inexplicável... Vozes do além, das<br />

montanhas, das relvas, das árvores... De onde eram as vozes!<br />

Tinha tantas penas coloridas, aquele bicho; e as asas eram longas, suas<br />

cores eram vivas, e o vento chiava nelas, os raios de sol tremeluziam tornando-as<br />

multicores como espelhos coloridos, que ele ao ver, enquanto caía como se fosse<br />

uma<br />

pluma de paina, imediatamente também se arrependia do que acabara de fazer,<br />

surgia dentro dele aquela angústia de quem devia ter consultado todas as<br />

possibilidades dentro da alma ou, de quem não soubesse de mais nenhuma<br />

possibilidade, mas ainda que tardiamente, ele se arrependia. Ao contemplá-lo, ou<br />

seja, ao perceber aquele lindo animal surgindo, se aproximando... Esquecera da<br />

vida, e até de sua possível morte. Era indubitável sua incerteza, não tinha mais<br />

nenhum caminho certo, tudo virara-lhe incógnita, era o findar absoluto da<br />

esperança na sua mais concreta literalidade. Com a morte da esperança da<br />

morte, incrível, ele renascia para a vida!<br />

Embora, tanto para viver como para morrer, aparentemente, já fosse<br />

tarde demais... Tudo poderia ter volta, e ainda que certamente, não mais<br />

houvesse dentro de si o mais remoto resquício de sobrevivência, mas afinal o que<br />

são milagres, se não incógnitas vertentes do nada, quantas vezes haveria de ouvir<br />

dizer: - para Deus, nada é impossível! Afinal os impossíveis, somente o são,<br />

enquanto não realizáveis. Contudo, por incrível que poderia parecer, sentia um<br />

regozijo pleno, uma calma de silêncio, entremeados com aquelas vozes, um<br />

dulçor na alma, que realmente o lirismo vivo do instante o fizera abandonar todo<br />

o medo, completamente todo o seu medo... Eram tão lindas as penas do animal.<br />

Jamais José André havia visto ou, imaginado ver, em toda sua vida um<br />

pássaro tão grande, (ou seria uma ave?) e também tão bonito, não importava, –<br />

lembro-me de sua vida ali contada, naquelas páginas de meu livro achado, e<br />

reflito que aquele gigante também não tinha um livro para ler, seus pés não eram<br />

belos, eram cascudos e feios, também não tinha uns sapatos para esconder a<br />

feiura de seus pés, e os homens ainda atiravam nas espécies dele, matando-os<br />

para comer ou apenas por esporte. Contudo, ele, ainda assim, não pulava de um<br />

precipício para dar cabo da própria existência, senão, absolutamente, por<br />

obediência àquele mistério. Viver e se dar à vida; era sim sua simples meta de

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