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Leia o Texto.

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24<br />

infinita, igualmente seu olhar para o horizonte, infindo; na verdade não<br />

havia chão, assim como nunca lhe<br />

houvera pão, o fim era-lhe mais plausível. Então pensava já meio trêmulo e<br />

confuso, e como se recitasse uma Sutra indiana, balbuciava palavras<br />

entrecortadas numa mussitação quase incompreensível, para sua própria<br />

autoafirmação à morte. A vida e tudo mais que se podia ter nela havia se<br />

tornado um nada. Ínfima razão, da qual sua culpa suplantava em muito. – Sou<br />

um fracassado, jamais terá lugar para que eu viva de verdade, neste mundo de<br />

ricos e poderosos.<br />

Naquele momento, embora pássaros cantassem nas árvores, embora<br />

aeronave vencesse os ares, mesmo com os gruídos dos falcões, e os bandos de<br />

maritacas cortando os céus, devido a sua displicência ou a uma surdez inevitável<br />

– também em relação ao trem que por ali poderia passar a qualquer momento –,<br />

iludia-se que isso jamais aconteceria e tudo sairia perfeito, até que<br />

surpreendentemente, apita o maquinista. Era aquela buzina de trem, estridente,<br />

longa, infinita, definitiva. Ele não sabia se o maquinista o havia visto ou se<br />

apenas era de costume buzinar por alguma precaução. Se por ali tivesse uma<br />

placa de sinalização, certamente ele não tinha visto.<br />

Assustou-se ao ouvir o forte apito daquela máquina gigante a poucos metros da<br />

ponte, viu-a avançando impiedosamente contra ele. – Chegou o meu fim...<br />

Balbucia. Entre o trem que iria passar, e a grade de aço da ponte, não tinha<br />

espaço para ambos estarem sem se tocar. Agora sua voz estava mais audível,<br />

quase um grito, porém, abafado pelo trilhar das rodas dos vagões e dos atritos do<br />

ferro nos trilhos. Então naquele momento decidiu que, esmagado por aquele<br />

trem, não morreria! Ele já havia feito sua escolha. Decidiu que do jeito que<br />

primeiramente havia pensado, com tanto cuidado e esmero, assim o faria.<br />

E salta em um rompante de desespero, como se não fosse ele próprio,<br />

como se seu destino o empurrasse, ao ermo, ponte abaixo. - Mas, algo haveria de<br />

acontecer fora de seus planos! Neste momento da leitura senti um frio na<br />

barriga, como se a adrenalina do coração de José André, tivesse transposto da<br />

folha do papel e tocado meu corpo. Como se deslizasse por minha coluna, toda a<br />

sua angústia. Senti certo amargor na minha boca, era uma vivência nítida,<br />

naquele momento. Na vastidão da cena, seu corpo voava em queda livre, parecia-

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