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infinita, igualmente seu olhar para o horizonte, infindo; na verdade não<br />
havia chão, assim como nunca lhe<br />
houvera pão, o fim era-lhe mais plausível. Então pensava já meio trêmulo e<br />
confuso, e como se recitasse uma Sutra indiana, balbuciava palavras<br />
entrecortadas numa mussitação quase incompreensível, para sua própria<br />
autoafirmação à morte. A vida e tudo mais que se podia ter nela havia se<br />
tornado um nada. Ínfima razão, da qual sua culpa suplantava em muito. – Sou<br />
um fracassado, jamais terá lugar para que eu viva de verdade, neste mundo de<br />
ricos e poderosos.<br />
Naquele momento, embora pássaros cantassem nas árvores, embora<br />
aeronave vencesse os ares, mesmo com os gruídos dos falcões, e os bandos de<br />
maritacas cortando os céus, devido a sua displicência ou a uma surdez inevitável<br />
– também em relação ao trem que por ali poderia passar a qualquer momento –,<br />
iludia-se que isso jamais aconteceria e tudo sairia perfeito, até que<br />
surpreendentemente, apita o maquinista. Era aquela buzina de trem, estridente,<br />
longa, infinita, definitiva. Ele não sabia se o maquinista o havia visto ou se<br />
apenas era de costume buzinar por alguma precaução. Se por ali tivesse uma<br />
placa de sinalização, certamente ele não tinha visto.<br />
Assustou-se ao ouvir o forte apito daquela máquina gigante a poucos metros da<br />
ponte, viu-a avançando impiedosamente contra ele. – Chegou o meu fim...<br />
Balbucia. Entre o trem que iria passar, e a grade de aço da ponte, não tinha<br />
espaço para ambos estarem sem se tocar. Agora sua voz estava mais audível,<br />
quase um grito, porém, abafado pelo trilhar das rodas dos vagões e dos atritos do<br />
ferro nos trilhos. Então naquele momento decidiu que, esmagado por aquele<br />
trem, não morreria! Ele já havia feito sua escolha. Decidiu que do jeito que<br />
primeiramente havia pensado, com tanto cuidado e esmero, assim o faria.<br />
E salta em um rompante de desespero, como se não fosse ele próprio,<br />
como se seu destino o empurrasse, ao ermo, ponte abaixo. - Mas, algo haveria de<br />
acontecer fora de seus planos! Neste momento da leitura senti um frio na<br />
barriga, como se a adrenalina do coração de José André, tivesse transposto da<br />
folha do papel e tocado meu corpo. Como se deslizasse por minha coluna, toda a<br />
sua angústia. Senti certo amargor na minha boca, era uma vivência nítida,<br />
naquele momento. Na vastidão da cena, seu corpo voava em queda livre, parecia-