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Leia o Texto.

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23<br />

aquele alimento; são, de fato, influências que muitas vezes sem que percebamos<br />

estão nos conduzindo para caminhos alheios.<br />

Saiu naquele dia, como realmente a quem caminhasse para a morte, cabeça<br />

baixa, olhar triste, angústia no peito, o coração magoado doía-lhe na alma, como<br />

se algo o estivesse espetando de dentro para fora. Depois de horas de caminhada,<br />

não havia mais em si, ou em seu refolho, alguma resignação para com o mundo.<br />

Bem no meio daquela ponte enorme estava o jovem da história do livro.<br />

Havia ainda no seu coração, em meio à confusão que lhe passava pela cabeça,<br />

uma pontinha de dúvida, se faria ou não o que pretendia, foi quando pôde<br />

externar sua última oração: - Perdoe-me Deus, se pequei... Ele queria encenar e<br />

dar entonação perfeita às suas palavras, parecia uma vaidade sua impostar a voz<br />

e por em suas palavras à mesma emoção de um ator interpretando o Cristo, visto<br />

na tela do cinema, em uma das poucas vezes em que pôde ver uma fita. Parecia<br />

uma luta inglória com o destino. A lucidez se misturando à loucura.<br />

Olhava fixamente o horizonte como se buscasse nele algum alento para<br />

sua pobre alma perturbada. Tentou buscar dentro de sua cabeça alguma<br />

lembrança de seu pai, visualizou com isso um inteligível féretro saindo de algum<br />

lugar, tentou visualizar o semblante de sua mãe, e lhe veio uma imagem ofuscada<br />

e sombria, e tudo era tão vago, havia um elo partido cujo anelo jamais havia ou<br />

haveria de ser encontrado. Sentiu-se mais só ainda. Diante de seus olhos<br />

nublados de lágrimas misturadas ao verde das montanhas, viria como em<br />

sonhos, os cabelos pretos e grossos, como os de indígenas, de sua mãe, lhe<br />

aparecer emaranhados como cipós secos e retorcidos; numa visão assustadora,<br />

ela portava nas mãos aquela foice negra. Sua pele estava toda enrugada, com<br />

aspecto de folhas quebradiças de amontoados outonos, sua voz ressoava dentro<br />

de sua cabeça – Agora eu tenho que ir e não posso te levar, não posso. - Você é<br />

um homem, um homem, entendeu? Era uma pergunta cuja resposta estava na<br />

própria pergunta.<br />

Dali, de onde lhe parecia avistar o mundo todo, tudo tão minúsculo,<br />

naquela distância infinita, o fim, certamente, suplantava os montes circundados<br />

por grandes árvores. Da ponte, nem parecia que existia terra. Lá embaixo tudo<br />

era uma sombra verde e pequena. A distância de onde estava até o chão parecia

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