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Leia o Texto.

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21<br />

uma febril paixão, que apagava dele todas as possibilidades de qualquer<br />

amor fazer surgir o desvendar, fazer surgir o simples...<br />

De fato, eu estava aflito, lembrei-me mais uma vez de seu Minoro, o que<br />

diria o velho japonês com sua sobriedade, com sua calma e filosofia - indaguei no<br />

meu consciente, como se seu Minoro me pudesse responder por ele -, houve uma<br />

mistura de sentidos e pensamentos e acabei por ficar sem resposta alguma.<br />

Imaginei que a falta de resposta era-me a resposta que indicava o caminho que<br />

eu precisava percorrer, a minha ferrovia que tinha que trilhar, só assim é que eu<br />

desvendaria o simples proposto, e para desvendar o que se passaria adiante, na<br />

leitura. Uma coisa estava associada à outra, eu não podia fraquejar.<br />

Por fim, e contra todos que não acreditavam naquele rapagão, certo<br />

dia - e neste dia, não falou com ninguém -, decidiu, finalmente acabar com tudo –<br />

como dizia – e saiu disposto a pular de uma ponte ferroviária ou, de algum<br />

penhasco, e tudo terminaria. Estava cego, e como um cego, caminhou rua afora<br />

sem enxergar nada, sem sentir nada, estava anestesiado e extasiado, qualquer<br />

cego sentiria e veria a vida com muito mais vida que ele, neste dia. A ideia lhe<br />

deixou sem sentir coisa alguma, talvez se alguém lhe batesse na cabeça, ainda<br />

assim não sentiria nada.<br />

“Às vezes um homem morre mesmo antes de morrer, quando pensa antes<br />

do fim, que o fim já chegou. Diria seu Minoro, se pudesse vislumbrar aquele<br />

trágico final, comigo.” Eu sempre pensava em seu Minoro, sentia certa<br />

autoridade em lhe atribuir pensamentos que me completava.<br />

Lendo aquela narrativa, me ocorreu que seu Minoro me havia dito, certa<br />

vez, que há uma literalidade intrínseca em todos os acontecimentos no mundo e<br />

que isso os tornam isentos de qualquer coincidência. Coincidência – afirmava – é<br />

inexistente. Para que algo seja coincidente é necessário trilhares de<br />

acontecimentos em cadeia acontecerem, e só assim, ainda, seria possível de<br />

nenhuma interferência, e, como cada<br />

algo iria acontecer com seu próprio agir e de forma arbitrária, sem essas<br />

interferências. Seu Minoro começava a falar comigo e se esquecia que eu era<br />

apenas um menino, parecia-me, que ele não se importava com a minha<br />

ignorância, ou que tinha medo de desmerecê-la, talvez tivesse razão. Ele havia<br />

me dito, lembro-me bem, para terminar: - O senhoro deve ser um bom homem,<br />

nada é por acaso, se for um bom

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