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Agora tudo saltava de seu tempo, retornado de certo ventre do nada.<br />
Havia, para mim, um ventre grávido que o gerou e que ainda o gerava e aos<br />
poucos também me desvendava. Meditava assim este homem passarinho,<br />
divagando, como um menino nas suas próprias sombras, refletindo absorto,<br />
como se caminhasse em seus próprios pensamentos.<br />
Assim, era-me agora, a realidade. As palavras lidas naquele primeiro livro<br />
ficaram cravadas em mim, na minha memória. Talvez não houvesse dez, entre<br />
mil pessoas, que tenham retido e fixado na mente tantas lembranças<br />
significativas para alguém, como nesta cabeça.<br />
Havia, enfim, uma convergência entre o meu eu e o personagem daquela<br />
história, misturei-me várias vezes nela e, aquela frase... “O amor desvenda o<br />
simples”, daquela primeira página, remexia-me o cérebro sem que eu soubesse<br />
bem a razão daquela mistura do real com o irreal, e foi à vida inteira assim<br />
marcada como segundos do relógio. Não estaria vivo de fato; ou estaria morto<br />
dentro, de quem sabe, uma vida sem sentido, se assim não fosse.<br />
Até mesmo o silencioso caminhar das nuvens no céu, não me era audível,<br />
como o era em meu mundo de fantasia, agora. Estar vivo, portanto, era um bom<br />
motivo para refletir: “A fantasia me salvou da morte”. O amor desvenda o<br />
simples.<br />
Eu sabia sim que lera em um livro achado, aquela frase, sobre aquele<br />
desvendar que me enchia de mistério, curiosidade, eu não tinha certeza, mas, era<br />
o simples do amor. O amor - pressupõe-se -, seja a íntegra da felicidade, como no<br />
jogo do contente, da menina Pollyana – do livro de Heleonor H. Porther –, era o<br />
jogo da aceitação, sua forma de amor.<br />
Quando encontrei aquele livro, à procura de algum resto que fosse para me<br />
alimentar a alma, ele e sua frase inicial, me foram o perfeito alimento. Não tinha<br />
título o livro que achei; na época, não pude identificar. Achei o exemplar jogado<br />
em uma lata de lixo à beira de uma calçada de uma rua qualquer da cidade.<br />
Eu não tinha um amigo de verdade, e procurava quem me pudesse<br />
escutar. Pegava-me, às vezes, a conversar com pequenos insetos, e quando estes