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- É só o senhoro abrir o casca e pegar gomos. Aceitei ressabiado,<br />
temendo que depois ele me matasse. Enquanto abria a laranja ao meio e retirava<br />
devagar os gomos que me ordenou, já ia imaginando aquela espada entrando em<br />
minha cabeça, e me partindo ao meio, como se fosse uma melancia. Pensei em<br />
sair correndo, mas ao mesmo tempo, quase que nitidamente, a faca entraria em<br />
minhas costas, como naqueles filmes, onde o mocinho atirava a sua faca e o<br />
bandido caía com a lâmina enterrada nas costas do fugitivo. O pomar era<br />
imenso, havia várias frutas cítricas e outras.<br />
- Está boa, né? Fara para mim: o senhoro rouba por que, por que num<br />
trabaia? A pergunta feita de súbito me fez tremer. Eu o olhei atentamente por<br />
um instante, e desviei meu olhar para o chão de seu pequeno olho semicerrado,<br />
como se fosse meio fechado de propósito. Fiquei muito envergonhado e sem saber<br />
o que lhe dizer, lembrei de minha mãe dizendo que eu tinha que estar com ela na<br />
roça, quis resmungar-lhe algo como resposta, mas, ao não entender, ficou brabo.<br />
- Fara, fara, o senhoro num entrô aqui? Tornei a fitá-lo tentando medir<br />
sua ira, e também lhe dar uma resposta convincente, para me livrar de sua<br />
enorme espada, ainda em pulso na mão direita.<br />
- Eu queria ir ao futebol – lhe respondi – vai ter jogo no domingo e eu<br />
queria vender umas laranjas para os torcedores e assim ganhar algum dinheiro<br />
para comprar comida. (Na verdade eu queria mesmo era ir ao cinema, na seção<br />
da tarde, no Domingo, chamada de matinê).<br />
- Ah!...Comprar comida? – me respondeu com jeito espantado, surpreso<br />
pela humildade da resposta. Fez aquele seu som de hum..., característico dele, e<br />
propôs que eu colhesse as laranjas, quantas eu pudesse carregar. Ao ouvi-lo<br />
pensei o que teria dado no velho japonês.<br />
- Ande, suba no árvore, apanhe os frutas, que está esperando? Mediante<br />
seu comando saí dali e subi de volta na laranjeira, enchi um saco e fiquei calado<br />
em sua frente, esperando seu novo mandado.<br />
- Agora o senhoro vende os frutas e paga os frutas, e quando quiser<br />
vender mais, vem e compra mais, né? Assim não vai precisa roubar os fruta dos<br />
quintal. Fiquei alegre a ponto de achar que de repente seu Minoro se tornara<br />
meu amigo. Quis demonstrar minha força e, gemendo, coloquei o saco cheio de<br />
laranja nas costas e sai torto com aquele peso todo. Dois dias depois lá estava eu