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Leia o Texto.

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16<br />

- Gostosão, gostosão, quem vai querer, quem vai?! Eu ouvia e já ficava<br />

louco de vontade, assim, o grito do sujeito que vendia os doces, trazidos dentro<br />

de uma caixa de madeira para vender aos trabalhadores, entrava em minha<br />

cabeça orelha adentro e lá estava eu já solicitando à minha mãe que comprasse, e<br />

quando ela me negava eu ficava possesso e gritava até alguém me dar o tal do<br />

doce. Sempre que chegava a nossa casa o “chinelo cantava” no meu lombo, pela<br />

má-criação cometida no eito da roça. Em geral, comprávamos fiado e, no final da<br />

semana, no dia do pagamento, pagávamos a ele. Era a nossa sobremesa, a mãe,<br />

no entanto, não deixava a gente comprar sempre, e quando não tinha mais essa<br />

opção, pois era controlada por ela, eu ficava com aqueles olhos compridos à<br />

espera que alguém me desse um pedaço.<br />

Quando se perde a dimensão exata das coisas, uma mosca pode virar um<br />

lobisomem e um homem se torna pior que uma mosca. A vida é um mosaico de<br />

acontecimentos. Há momentos em que se riem outros que se imploram outros<br />

que se chora, e, outros ainda que o mundo se acabe sem jamais se acabar. Seu<br />

Minoro não me via como criança perdida. Conheci seu Minoro, quando fui<br />

roubar laranjas na sua chácara, próximo da cidade. Ele me pegou no flagra,<br />

tinha nas mãos uma velha espada de samurai. Neste dia meu mundo acabou sem<br />

acabar. Lá estava eu em cima da laranjeira:<br />

- O senhoro pode descero daí. Num tem vergonha, né? Fiquei sem<br />

palavras e com as faces pegando fogo. Quis sair correndo, mas ele saltou em<br />

minha frente, com aquela espada reluzente, e me disse:<br />

- Nooon, fique aí! Eu fiquei, tremia de medo, ele encostou sua espada no<br />

meu ombro e apoiou o peso de seu braço sobre o cabo, pressionando a face da<br />

lâmina, para<br />

que eu sentisse seu peso, me deixando arcado para um dos lados, devido à força<br />

que empregara na pressão. Com a outra mão sacou uma faca de aço inoxidável.<br />

- O senhoro senta aqui, né! - apontou o tronco da laranjeira em que eu<br />

havia estado trepado. Pegou uma laranja, calmamente, e fez um talho, ferindo<br />

somente a casca de fora, antes da pectina, depois outro em cruz ao primeiro.<br />

Esticou o braço e me deu a laranja.

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