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Eram palavras duras ali contidas, algumas muito difíceis de serem<br />
entendidas por mim, outras fáceis de serem lidas, e outras ainda impossíveis para<br />
minha compreensão, naquele momento, eu não podia ainda saber. Não tinha<br />
muitas experiências com elas - não naquela época -, nem dicionário à mão para<br />
traduzi-las e entender claramente seus sentidos; tudo era desafiante. Mas persisti<br />
bravamente e a história foi-me conduzindo, primeiro às curiosidades, depois às<br />
viagens...<br />
O personagem descrito no livro era muito pobre, vivia flébil em todos os<br />
sentidos, sendo assim, as semelhanças iam se somando: Em seu ar cansado, a<br />
angústia intrínseca que lhe corroia - ele não via em seu espelho por lhe ser<br />
ininteligível, mas isso lhe transgredia as faces. Tinha uma dor avassaladora que<br />
lhe remexia como alguma coisa viva e que lhe queimava as entranhas. Este algo<br />
incompreensível haveria, ainda, de lhe dar a determinante coragem da morte.<br />
Aquela capa negra, aquela foice curva, repentinamente, tudo me saltou à<br />
memória. Ao ouvi-lo dizer,<br />
naquelas linhas, para si mesmo, que já estava cansado de tanto sofrer, me<br />
entristeceu muito. A similaridade que havia entre nós trancou-me o fôlego, como<br />
se a forte mão da desgraça dele - que agora o queria tanto -, quisesse me sufocar<br />
até a morte. Eu sentia - pela leitura -, aquilo esmagando minha garganta com sua<br />
mão de aço do mascara de ferro, entranhado em sua armadura, sem que eu<br />
pudesse ver a cor de seus olhos, e eu como ele, prisioneiro dele, nada me restava<br />
então se não a morte. Dei um leve grito e finalmente respirei, e proclamei: isso<br />
não irá acontecer, eu não sou louco ou um bandido!<br />
Olhei para os lados, a busca de algum observado, e como tive prazer de<br />
me sentir sozinho ao tronco da árvore, sentado naquela calçada. Enxuguei minha<br />
lágrima solitária que caiu bobamente de meu olho esquerdo e depois de estar<br />
refeito, voltei-me à leitura:<br />
O seu estado de espírito exagerado o levava a ter sentimentos contrários<br />
aos que devia sentir – era o que eu pensava e questionava. Deveria ser um<br />
menino feliz - crianças devem ser felizes para atenuar as cargas de infortúnios<br />
dos adultos. Imaginei ou lembrei-me de ter ouvido, certa feita, alguém dizer<br />
isso... Não sei se houvera dito seu Araldo para meu pai, ou se outra pesoa.