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acompanhar sem reclamar nada, e lá se foi, obediente. Era incrível como eu<br />
me lembrava. Só me faltava tê-la visto às suas costas com seu alfanje.<br />
A morte de meu pai foi muito marcante, eu imaginava que meu pai fosse<br />
uma espécie de santo, que jamais morreria. Lembro-me nitidamente de sua mão<br />
forte apertando meu braço até começar a chorar e alguém me retirar dali.<br />
Reparei, ainda antes de sair do quarto, enquanto ele se estrebuchava com a dor<br />
da partida, que chorava; olhando-me, como se quisesse dizer algo para mim.<br />
Fiquei com medo. Aquilo ficou misturado na história do conto que ele contava<br />
em certos dias, papeando com seu Araldo. E então, lembrei-me de uma vez<br />
quando me surrou com uma vara de marmelo, por conta de algo que fiz e que<br />
nunca me lembrei de ter feito ou da verdadeira razão por que devia ter<br />
apanhado.<br />
Naquele dia eu desejei não tê-lo, desejei que tivesse morrido. Meu pai tinha um<br />
pátrio poder absoluto. Eu devia saber sempre por que estava apanhando, porque<br />
ele certamente, saberia por que estava me surrando. Mas, agora já não<br />
importava mais. Mais tarde, entretanto, entendi que, mesmo assim, preferia<br />
viver sem saber de suas razões por me surrar, que perdê-lo definitivamente.<br />
No dia do falecimento de meu pai, algumas pessoas choravam, outras<br />
conversavam e ainda outras cuidavam das crianças, dentre as quais, aquele<br />
menino franzino que fugia de quando em quando para ir espiar o movimento<br />
daquele povo estranho que enchia o lugar ao redor do seu cadáver, eu senti<br />
medo, mas algo me puxava para ficar espiando, não devia ter ido tão próximo<br />
dele – ai voltei a lembrar de repente daquele momento inesquecível -, foi como<br />
uma chaga incurável. Ficou-me as marcas para sempre, não no punho, mas na<br />
alma. Ao sondar de longe o cortejo fúnebre e definitivo dele, senti escorregar<br />
uma lágrima vulgar e fria em minhas faces, talvez descobrisse que aquele<br />
momento era-me o derradeiro, definitivo, nunca mais iria vê-lo. Talvez o vulgar<br />
daquela gota translúcida e salgada, fosse pela involuntária displicência do que<br />
sentia sem compreender.<br />
Ainda com meu livro à mão, sentei-me entre o meio fio, um tronco de<br />
árvore, a lata de lixo e a rua à minha frente. A história fluía diante de meus olhos<br />
- porta para a minha mente ávida -, e nela eu mergulhava no seu mundo.