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Olhos de alfinete e línguas de trapos: algumas histórias de crianças ...

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ealizadas, nos dizendo: - Me dê a mão eu posso ensinálo<br />

a resistir ao consumo 5 do espaço tempo escolar,<br />

aprenda com minhas artes e manhas a resistir à<br />

burocratização das relações pessoais, à hierarquia, aos<br />

valores e comportamentos dominantes, não se <strong>de</strong>ixem<br />

encaixar em perfis e, <strong>de</strong> vez em quando, permitam<br />

experimentar outros modos <strong>de</strong> ser adulto, encontrando<br />

brechas no dia a dia cronometrado para cometerem<br />

absurdos. Preocupem-se menos com os resultados,<br />

olhem a poesia dos meus movimentos e atentem para o<br />

prazer dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta.<br />

Assim as <strong>histórias</strong> que serão narradas mostram a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> uma relação com a<br />

infância em que o professor misturando-se às <strong>crianças</strong><br />

po<strong>de</strong> subverter o papel <strong>de</strong> quem sempre ensina e <strong>de</strong><br />

repente apren<strong>de</strong>r com elas.<br />

Estas narrativas insinuam que nenhum mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

infância, nenhuma essência infantil, nenhuma seqüência<br />

<strong>de</strong> fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ou padrões <strong>de</strong> formas <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r dão conta da multiplicida<strong>de</strong> dos modos <strong>de</strong> ser<br />

menino e menina e das infinitas formas <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />

coisas, usar e fazer a escola. Elas <strong>de</strong>safiam a produção<br />

<strong>de</strong> um corpo infantil, mas também <strong>de</strong> um corpo adulto <strong>de</strong><br />

professora que não po<strong>de</strong> se aproximar muito da criança,<br />

correndo o risco <strong>de</strong> contaminar-se pelos trejeitos infantis,<br />

por suas traquinagens, por suas atitu<strong>de</strong>s “pueris” e<br />

“ingênuas”, afinal “quem dorme com <strong>crianças</strong> amanhece<br />

molhado.” Corpo adulto treinado que já apren<strong>de</strong>u que<br />

“manda quem po<strong>de</strong> e obe<strong>de</strong>ce quem tem juízo”, e agora<br />

precisa transmitir este ensinamento aos infantes, por que<br />

“é <strong>de</strong> pequenino que se torce o pepino.”.<br />

Narrativas que anunciam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

invenção cotidiana <strong>de</strong> outras relações entre adultos e<br />

<strong>crianças</strong> que não precisam ser baseadas em mo<strong>de</strong>los, em<br />

apreciação <strong>de</strong> fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, em uma<br />

essência infantil ou adulta. Produção <strong>de</strong> corpos mutantes,<br />

que se moldam no encontro <strong>de</strong> outros corpos, corpos <strong>de</strong><br />

5 Gostaria <strong>de</strong> relembrar a distinção entre consumidor e usuário estabelecida<br />

por Certeau (1990), para ele o primeiro seria aquele que consome<br />

passivamente os objetos que lhe são impostos pelo po<strong>de</strong>r dominante, e<br />

usuário seriam aqueles que operam uma transformação <strong>de</strong>stes objetos,<br />

utilizando-os <strong>de</strong> acordo com a ocasião, com a necessida<strong>de</strong>, emprestando-lhes<br />

outros sentidos.

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