Almanaque de Paulo Freire - DHnet
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Leitura do mundo<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> x MOBRAL<br />
O Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização – MOBRAL – foi criado em 1969 para “erradicar” o analfabetismo do<br />
Brasil, em <strong>de</strong>z anos. Enquanto o objetivo do Programa Nacional <strong>de</strong> Alfabetização, elaborado por <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, em<br />
1963, era alfabetizar <strong>de</strong>spertando no jovem e no adulto um processo <strong>de</strong> conscientização sobre a realida<strong>de</strong> vivida,<br />
pela transformação <strong>de</strong>ssa mesma realida<strong>de</strong>, o MOBRAL propunha um programa <strong>de</strong> alfabetização funcional, visando<br />
à aquisição <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> leitura, escrita e cálculo.<br />
O método <strong>de</strong> alfabetização empregado pelo MOBRAL fez uso do Método <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, esvaziando seu teor politizador.<br />
“Palavras geradoras” também estavam presentes nos procedimentos <strong>de</strong> alfabetização do MOBRAL, mas não<br />
no sentido dado por <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>: palavras selecionadas <strong>de</strong>ntre os vocábulos mais usados pela população a ser alfabetizada.<br />
O MOBRAL utilizava, contraditoriamente, palavras “geradoras” padronizadas para todo o Brasil, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando<br />
as realida<strong>de</strong>s locais. Foi extinto em 1985 com o fim do Regime Militar.<br />
?<br />
Você sabia ?<br />
No período militar, houve<br />
expansão <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada<br />
das fronteiras da agricul-<br />
? ?<br />
?<br />
tura sobre áreas <strong>de</strong> flores-<br />
tas nativas.<br />
Chico Men<strong>de</strong>s<br />
Em 1971, o termo “agrotóxico”<br />
foi cunhado pelo ambientalista José<br />
Lutzenberger, que <strong>de</strong>nunciou a contaminação do<br />
solo, das águas, dos alimentos, pessoas e animais,<br />
provocada por <strong>de</strong>fensivos agrícolas.<br />
Em 1976, Chico Men<strong>de</strong>s, ambientalista assassinado<br />
em 1988, chamou a atenção da mídia<br />
nacional e internacional para o <strong>de</strong>smatamento<br />
da floresta amazônica. Li<strong>de</strong>rou ações pacíficas<br />
contra o <strong>de</strong>smatamento, reunindo um gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> seringueiros, índios, pescadores e trabalhadores<br />
rurais que, <strong>de</strong> mãos dadas, faziam o<br />
“empate”, cercos humanos nas florestas e margens<br />
<strong>de</strong> rios ou abraçavam-se às árvores, a fim<br />
<strong>de</strong> impedirem a sua <strong>de</strong>rrubada por empregados<br />
<strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros e seringalistas, armados <strong>de</strong> foices,<br />
machados e moto-serras.<br />
Em 1985, Chico Men<strong>de</strong>s propôs as Reservas<br />
Extrativistas. Nelas, os povos da floresta<br />
traçam um plano <strong>de</strong> uso sustentável dos recursos<br />
naturais.<br />
38<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> EDUCAR PARA TRANSFORMAR<br />
Leitura do mundo<br />
Escolas Indígenas<br />
Somente há pouco tempo, e apenas em algumas<br />
regiões do país, escolas indígenas passaram a <strong>de</strong>senvolver<br />
conteúdos curriculares e metodologias<br />
<strong>de</strong> ensino e aprendizagem em correspondência<br />
com as necessida<strong>de</strong>s e reivindicações expressas<br />
localmente. São escolas cujo calendário <strong>de</strong> aulas<br />
respeita o calendário social e ambiental do povo<br />
indígena, a fim <strong>de</strong> que alunos e alunas possam<br />
participar das ativida<strong>de</strong>s produtivas e culturais<br />
tradicionais <strong>de</strong> suas famílias e do processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem tradicional <strong>de</strong> seu grupo.<br />
Crianças na escola da Terra Indígena<br />
Mekragnoti, no sul do Pará.<br />
Morena Tomich<br />
Em Genebra<br />
Como professor convidado, <strong>Freire</strong> esteve no<br />
México em 1966 para conferências e seminários<br />
e nos Estados Unidos em 1967, para on<strong>de</strong><br />
voltou <strong>de</strong> 1969 a 1970.<br />
Viveu, <strong>de</strong>pois, por <strong>de</strong>z anos em Genebra<br />
(Suíça), <strong>de</strong> 1970 a 1980, como consultor especial<br />
no Departamento <strong>de</strong> Educação do<br />
Conselho Mundial <strong>de</strong> Igrejas. <strong>Freire</strong> lecionou<br />
na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Genebra e, nessa função<br />
<strong>de</strong> consultor, viajou para Ásia, Oceania, América<br />
e para países <strong>de</strong> língua portuguesa na<br />
África (Cabo Ver<strong>de</strong>, Angola, São Tomé e<br />
Príncipe, Guiné-Bissau).<br />
O IDAC<br />
Em 1971, <strong>Paulo</strong> e Elza <strong>Freire</strong>, Claudius<br />
Ceccon, Miguel e Rosiska Darcy <strong>de</strong> Oliveira,<br />
brasileiros também exilados, criam o Instituto<br />
<strong>de</strong> Ação Cultural, o IDAC. O grupo do IDAC<br />
assessorou projetos <strong>de</strong> educação na África, que<br />
se alongaram por cinco anos na Guiné-Bissau.<br />
A se<strong>de</strong> do IDAC se transferiu para o Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e São <strong>Paulo</strong>, por ocasião do regresso <strong>de</strong><br />
<strong>Freire</strong> ao Brasil.<br />
“Vivendo e Apren<strong>de</strong>ndo. Experiências do IDAC em<br />
Educação Popular.”<br />
Este é o título do livro publicado no Brasil, por<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, em parceria com Claudius Ceccon,<br />
Rosiska e Miguel Darcy <strong>de</strong> Oliveira. (São <strong>Paulo</strong>:<br />
Brasiliense, 1980.)<br />
39<br />
EDUCAR PARA TRANSFORMAR <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />
Manuscrito do poema “Canção Óbvia”, escrito<br />
por <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> em Genebra, em março <strong>de</strong> 1971. (Publicado no<br />
livro Pedagogia da indignação e outros escritos, p. 5.)<br />
Acima: <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> ao lado do educador austríaco Ivan Illicht,<br />
em Genebra, 1971.<br />
À esquerda: <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> com Claudius Ceccom e Rosiska Darcy <strong>de</strong><br />
Oliveira, ao receber o título <strong>de</strong> Doutor Honoris Causa da<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Genebra, em 1979.