Almanaque de Paulo Freire - DHnet
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conhecendo mais p<br />
Fui assassinado.<br />
Morri cem vezes<br />
e cem vezes renasci<br />
sob os golpes do açoite.<br />
[...] Fui poeta<br />
como uma arma<br />
para sobreviver<br />
e sobrevivi.<br />
[...] Porque sou o poeta<br />
dos mortos assassinados<br />
dos eletrocutados,<br />
dos “suicidas”,<br />
dos “enforcados” e “atropelados”,<br />
dos que “tentaram fugir”,<br />
dos enlouquecidos.<br />
Sou o poeta<br />
dos torturados,<br />
dos “<strong>de</strong>saparecidos”,<br />
dos atirados ao mar,<br />
sou os olhos atentos<br />
sobre o crime.<br />
Ditadura x Poesia<br />
Pedro Tierra – Poema prólogo <strong>de</strong> “Poemas do Povo da Noite”<br />
Hamilton Pereira da Silva, preso pela ditadura por 5 anos, escreveu inúmeros poemas, fingindo<br />
serem <strong>de</strong> um tal poeta latino Pedro Tierra. Escrevia-os em papel <strong>de</strong> maço <strong>de</strong> cigarros e, para enviálos<br />
para fora da prisão, enrolava-os <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma caneta, que trocava com seu advogado. Assim<br />
nasceu seu livro “Poemas do Povo da Noite”, publicado em 1975, quando ainda estava preso.<br />
Pra não dizer que não falei <strong>de</strong> flores<br />
Caminhando e cantando e seguindo a canção<br />
Somos todos iguais braços dados ou não<br />
Nas escolas nas ruas, campos, contruções<br />
Caminhando e cantado e seguindo a canção<br />
Vem vamos embora que esperar não é saber<br />
Quem sabe faz a hora não espera acontecer<br />
Pelos campos a fome em gran<strong>de</strong>s plantações<br />
Pelas ruas marchando in<strong>de</strong>cisos cordões<br />
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão<br />
E acreditam nas flores vencendo o canhão<br />
Vem vamos embora que esperar não é saber<br />
Quem sabe faz a hora não espera acontecer<br />
Há soldados armados, amados ou não<br />
Quase todos perdidos <strong>de</strong> armas na mão<br />
[...] meu ofício sobre a terra<br />
é ressuscitar os mortos<br />
e apontar a cara dos assassinos.<br />
[...] Venho falar<br />
pela boca <strong>de</strong> meus mortos.<br />
Sou poeta-testemunha,<br />
poeta da geração <strong>de</strong> sonho e<br />
sangue<br />
sobre as ruas <strong>de</strong> meu país.<br />
Assim que Geraldo Vandré apresentou esta canção no III Festival Internacional da<br />
Canção, em 1968, ela alcançou o coração do país, tornando-se uma espécie <strong>de</strong> hino<br />
estudantil, apesar <strong>de</strong> ter perdido para “Sabiá”, sob ruidosos protestos da platéia.<br />
Ele já havia vencido o II Festival <strong>de</strong> MPB da TV Excelsior com “Porta Estandarte”,<br />
on<strong>de</strong> cantava: “Levando pra quem me ouvir/ Certezas e esperanças pra trocar<br />
/ Por dores e tristezas que bem sei / Um dia ainda vão findar”.<br />
Exilado, tornou-se símbolo <strong>de</strong> resistência à ditadura.<br />
Nos quartéis lhes ensinam antiga uma lição<br />
De morrer pela pátria e viver sem razão<br />
Vem vamos embora que esperar não é saber<br />
Quem sabe faz a hora não espera acontecer<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> EDUCAR PARA TRANSFORMAR<br />
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Ur<br />
Quem sabe faz a hora não espera acontecer<br />
Nas escolas, nas ruas, campos, construções<br />
Somos todos soldados, armados ou não<br />
Caminhando e cantando e seguindo a canção<br />
Somos todos iguais, braços dados ou não<br />
Os amores na mente, as flores no chão<br />
A certeza na frente, a história na mão<br />
Caminhando e cantando e seguindo a canção<br />
Apren<strong>de</strong>ndo e ensinando uma nova lição<br />
Vem vamos embora que esperar não é saber<br />
U<br />
U<br />
No exílio, <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> escreveu seus primeiros livros<br />
Educação como prática da liberda<strong>de</strong><br />
Escrito em 1967, é uma reflexão sobre as<br />
suas experiências pedagógicas.<br />
Aqui <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> reafirma a sua concepção<br />
<strong>de</strong> educação conscientizadora e seu<br />
potencial <strong>de</strong> força <strong>de</strong><br />
mudança e libertação.<br />
“O processo <strong>de</strong> educação<br />
não se completa<br />
na etapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelamento<br />
<strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong>,<br />
mas só com a<br />
prática da transformação<br />
<strong>de</strong>ssa<br />
realida<strong>de</strong>.”<br />
Ação Cultural para a Liberda<strong>de</strong><br />
Escrito em 1968, é uma coletânea <strong>de</strong> textos<br />
<strong>de</strong> reflexão sobre a alfabetização.<br />
Propõe um processo pedagógico que possibilite<br />
ao alfabetizando a compreensão do<br />
ato <strong>de</strong> ler, a partir <strong>de</strong> seu contexto social,<br />
por meio da prática <strong>de</strong> diálogo conscientizador<br />
e gerador <strong>de</strong> uma<br />
reflexão crítico-libertadora.<br />
36 37<br />
EDUCAR PARA TRANSFORMAR <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />
Extensão ou Comunicação?<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> reflete sobre a questão da comunicação<br />
no meio rural, entre agrônomos<br />
com formação acadêmica e homens<br />
simples, cuja experiência foi construída no<br />
cotidiano da lida com a terra. Discute o<br />
conceito <strong>de</strong> invasão cultural, <strong>de</strong> extensão,<br />
revista em seu<br />
sentido lingüístico e<br />
filosófico, e a reforma<br />
agrária.<br />
Pedagogia do Oprimido<br />
Esses três primeiros livros <strong>de</strong> <strong>Freire</strong> <strong>de</strong>ram<br />
forma ao “método <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>”, anunciado<br />
em sua obra prima: a Pedagogia do<br />
Oprimido, cujos originais foram escritos no<br />
Chile entre 1967 e 1968, mas publicados<br />
pela primeira vez, em inglês, nos Estados<br />
Unidos em 1970. Consi<strong>de</strong>rada a mais radical<br />
proposta pedagógica pensada a partir da<br />
realida<strong>de</strong> do Terceiro Mundo, Pedagogia do<br />
Oprimido enfatiza as idéias <strong>de</strong><br />
que todo processo educativo é<br />
um processo político. O diálogo<br />
é a essência <strong>de</strong>sse processo<br />
e o sentido que a ação educativa<br />
<strong>de</strong>ve ter igualmente para<br />
educador e educando.