Almanaque de Paulo Freire - DHnet
Almanaque de Paulo Freire - DHnet
Almanaque de Paulo Freire - DHnet
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
“Cheguei ao Chile <strong>de</strong> corpo inteiro. Paixão,<br />
sauda<strong>de</strong>, tristeza, esperança, <strong>de</strong>sejo, sonhos<br />
rasgados, mas não <strong>de</strong>sfeitos, ofensas,<br />
saberes acumulados, nas tramas inúmeras<br />
vividas, disponibilida<strong>de</strong> à vida, temores, receios,<br />
dúvidas, vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver e <strong>de</strong> amar.<br />
Esperança, sobretudo.”<br />
(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Pedagogia da Esperança: um reencontro<br />
com a Pedagogia do oprimido. São <strong>Paulo</strong>: Paz e<br />
Terra, 1992, p. 35.)<br />
No Chile, <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> foi convidado, por<br />
Jacques Conchol, a integrar o Ministério da<br />
Reforma Agrária e coor<strong>de</strong>nar a campanha <strong>de</strong><br />
alfabetização dos camponeses chilenos.<br />
Foi nesse país que ele conseguiu pôr em<br />
prática as suas idéias e on<strong>de</strong> experimentou a<br />
sua metodologia em um ambiente diferente<br />
daquele em que ela foi concebida.<br />
<strong>Freire</strong> reencontrou-se com sua esposa Elza<br />
e com seus filhos vindos do Brasil em janeiro<br />
<strong>de</strong> 1965. Em Santiago retomaram o convívio<br />
familiar, tão importante para ele.<br />
Os permanentes diálogos e a convivência<br />
afetuosa os fizeram uma família feliz, a<br />
quem <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, tantas vezes, <strong>de</strong>dicou os<br />
seus escritos.<br />
Charge <strong>de</strong> Ziraldo<br />
Chile, 1964 a 1969 – as idéias em prática<br />
QUE LUGAR É ESSE?<br />
República do Chile<br />
Área: 756.950 km 2<br />
Moeda: Peso chileno<br />
Língua oficial:<br />
Castelhano<br />
Capital: Santiago<br />
Santiago é a capital do Chile. Com quase 5<br />
milhões <strong>de</strong> habitantes, está situada junto<br />
à base da Cordilheira dos An<strong>de</strong>s e aproximadamente<br />
a 50 km do Oceano Pacífico.<br />
O clima do Chile varia <strong>de</strong> seco ao norte, no<br />
mais árido <strong>de</strong>serto do planeta, o <strong>de</strong>serto <strong>de</strong><br />
Atacama, ao frio úmido do sul, no ponto<br />
mais próximo da Antártida. No centro, um<br />
vale fértil possibilita a produção <strong>de</strong> frutas<br />
e <strong>de</strong> vinho, os gran<strong>de</strong>s produtos <strong>de</strong> exportação<br />
do país.<br />
Com outros exilados do Brasil, durante a<br />
sua estada no Chile, <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> refletia<br />
sobre a realida<strong>de</strong> brasileira enquanto <strong>de</strong>senvolvia<br />
suas experiências educativas.<br />
Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)<br />
Artigo I<br />
Fica <strong>de</strong>cretado que agora vale a verda<strong>de</strong>.<br />
agora vale a vida, e <strong>de</strong> mãos dadas,<br />
marcharemos todos pela vida verda<strong>de</strong>ira.<br />
(...) Artigo IV<br />
Fica <strong>de</strong>cretado que o homem<br />
não precisará nunca mais<br />
duvidar do homem.<br />
Que o homem confiará no homem<br />
como a palmeira confia no vento,<br />
como o vento confia no ar,<br />
como o ar confia no campo azul do céu.<br />
Parágrafo único:<br />
O homem confiará no homem<br />
como um menino confia em outro menino.<br />
Artigo V<br />
Fica <strong>de</strong>cretado que os homens<br />
estão livres do jugo da mentira.<br />
Nunca mais será preciso usar<br />
a couraça do silêncio<br />
nem a armadura <strong>de</strong> palavras.<br />
O homem se sentará à mesa<br />
Thiago <strong>de</strong> Mello, poeta amazonense, em entrevista<br />
ao jornal O Estado <strong>de</strong> São <strong>Paulo</strong>, em<br />
8/5/1999, conta que em seu exílio no Chile, on<strong>de</strong><br />
reencontrou <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, dirigiu um pequeno<br />
coral on<strong>de</strong> cantava Pablo Neruda, um dos<br />
mais importantes poetas em língua espanhola do<br />
século XX.<br />
Pablo Neruda (1904-1973) Thiago <strong>de</strong> Mello (1926- )<br />
“... o maior dos sofrimentos:<br />
não ter por quem sentir sauda<strong>de</strong>s, passar<br />
pela vida e não viver.”<br />
(Pablo Neruda em “Sauda<strong>de</strong>”.)<br />
conhecendo mais<br />
Thiago <strong>de</strong> Mello (Santiago do Chile, abril <strong>de</strong> 1964)<br />
34 35<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> EDUCAR PARA TRANSFORMAR<br />
EDUCAR PARA TRANSFORMAR <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />
com seu olhar limpo<br />
porque a verda<strong>de</strong> passará a ser servida<br />
antes da sobremesa.<br />
(...) Artigo VII<br />
Por <strong>de</strong>creto irrevogável fica estabelecido<br />
o reinado permanente da justiça e da clarida<strong>de</strong>, e a<br />
alegria será uma ban<strong>de</strong>ira generosa<br />
para sempre <strong>de</strong>sfraldada na alma do povo.<br />
(...) Artigo IX<br />
Fica permitido que o pão <strong>de</strong> cada dia<br />
tenha no homem o sinal <strong>de</strong> seu suor.<br />
Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da<br />
ternura.<br />
(...) Artigo Final<br />
Fica proibido o uso da palavra liberda<strong>de</strong>,<br />
a qual será suprimida dos dicionários<br />
e do pântano enganoso das bocas.<br />
A partir <strong>de</strong>ste instante<br />
a liberda<strong>de</strong> será algo vivo e transparente<br />
como um fogo ou um rio,<br />
e a sua morada será sempre<br />
o coração do homem.<br />
“Eita, Thiago velho <strong>de</strong> guerra, amigo-sempre,<br />
companheiro imenso. [...] Precisamos <strong>de</strong> você, da<br />
sua fé e coragem, do seu <strong>de</strong>sprendimento, da sua<br />
poesia – um grito <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> esperança, esperança<br />
na manhã <strong>de</strong> um amanhã <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que<br />
homens e mulheres, oprimidos hoje, teremos <strong>de</strong><br />
criar. Poeta que propõe aos oprimidos um discurso<br />
diferente – sua ´palavração´. Um discurso permanente,<br />
que abalará vales e montanhas, rios e<br />
mares e <strong>de</strong>ixará atônitos e medrosos os atuais donos<br />
do mundo. [...] Agüente o barco, querido<br />
amigo! Muitas madrugadas, cheias <strong>de</strong> orvalho<br />
macio, esperam por você. Andarilho da liberda<strong>de</strong>,<br />
você tem ainda muitos trilhos a percorrer;<br />
seus braços longos, muitas crianças a abraçar;<br />
suas mãos, muitos poemas a escrever.”<br />
(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. “Carta <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> para<br />
Thiago <strong>de</strong> Mello [Genebra, 13 jan., 1974]”. In:<br />
MELLO, T. <strong>de</strong>. Vento geral, 1951/1981: doze livros <strong>de</strong><br />
poemas. 2. ed. 1987, p. 319.)