Almanaque de Paulo Freire - DHnet
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“Com as discussões sobre o conceito <strong>de</strong> cultura, o analfabeto <strong>de</strong>scobriria que tanto é cultura o boneco <strong>de</strong><br />
barro feito pelos artistas, seus irmãos do povo, como cultura também é a obra <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> escultor, <strong>de</strong> um<br />
gran<strong>de</strong> pintor, <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> místico, ou <strong>de</strong> um pensador. Cultura é a poesia dos poetas letrados <strong>de</strong> seu país,<br />
como também a poesia <strong>de</strong> seu cancioneiro popular. Cultura é toda criação humana.”<br />
(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1983, p. 109.)<br />
conhecendo mais<br />
Diferentes culturas, outras economias<br />
A organização econômica é diferente nas diversas<br />
culturas. Entre os indígenas brasileiros que resistem<br />
à lógica capitalista, essas diferenças são marcantes,<br />
principalmente nas socieda<strong>de</strong>s mais tradicionais. Há<br />
um modo <strong>de</strong> vida mais simples, pois se produz para o<br />
consumo e não para juntar riquezas. Não existe acúmulo<br />
<strong>de</strong> bens ou proprieda<strong>de</strong> individual. A natureza<br />
pertence a todos e cada família retira <strong>de</strong>la o que necessita<br />
para viver.<br />
Há divisão <strong>de</strong> tarefas: homens preparam o terreno<br />
para o plantio, se encarregam da caça e da pesca,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> perigos. Mulheres cuidam das<br />
crianças e da casa, do plantio, da colheita e preparam<br />
o alimento.<br />
Entre os 17 povos do Parque do Xingu, existe o “Moitará”,<br />
comércio anual <strong>de</strong> produtos, on<strong>de</strong> eles fazem a<br />
troca <strong>de</strong> bens produzidos durante o ano. Grupos como<br />
os Mundurukú, Bororo e Xavante organizam-se<br />
em cooperativas ou associações.<br />
A difícil resistência no ambiente adulterado<br />
Alguns povos, como os Ianomâmi, cujas terras e culturas<br />
são violentadas pela presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas<br />
capitalistas, sofrem doenças, fome e <strong>de</strong>snutrição.<br />
Desequilíbrios socioambientais, em razão <strong>de</strong><br />
uma superexploração irracional, dificultam a produção<br />
<strong>de</strong> subsistência, diminuem suas terras férteis, dizimando<br />
plantas e animais. Em situações semelhantes,<br />
outros povos indígenas precisam comprar roupas,<br />
remédios e comida e até trabalhar como mão<strong>de</strong>-obra<br />
assalariada. Povos como os Guarani, Teréna,<br />
Pankararu e Pataxó tiveram suas terras invadidas ou<br />
ocupadas, per<strong>de</strong>ram espaço para a agricultura e precisaram<br />
se adaptar a esses novos tipos <strong>de</strong> economia.<br />
Esses e outros povos fornecem ouro, ma<strong>de</strong>ira, artesanato,<br />
farinha, banana, mel etc. ao mercado regional.<br />
(MUNDURUKU, Daniel. Coisas <strong>de</strong> Índio. São <strong>Paulo</strong>: Callis,<br />
2000, p. 54-6.)<br />
P A L A V R A G E R A D O R A<br />
CULTURA<br />
✐<br />
“Todos os povos têm cultura, porque trabalham,<br />
porque transformam o mundo e, ao transformá-lo,<br />
se transformam. A dança do povo é cultura. A música<br />
do povo é cultura, como cultura é também a<br />
forma como o povo cultiva a terra. Cultura é também<br />
a maneira que o povo tem <strong>de</strong> andar, <strong>de</strong> sorrir,<br />
<strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> cantar, enquanto trabalha (...) Cultura<br />
são os instrumentos que o povo usa para produzir.<br />
Cultura é a forma como o povo enten<strong>de</strong> e expressa<br />
o seu mundo e como o povo se compreen<strong>de</strong> nas<br />
suas relações com o seu mundo. Cultura é o tambor<br />
que soa pela noite a<strong>de</strong>ntro. Cultura é o ritmo<br />
do tambor. Cultura é a ginga dos corpos do povo<br />
ao ritmo dos tambores.”<br />
(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. A importância do ato <strong>de</strong> ler: em três<br />
artigos que se completam. 45. ed. São <strong>Paulo</strong>: Cortez /<br />
Autores Associados, 2003, p. 75-6.)<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> EDUCAR PARA TRANSFORMAR<br />
“Cultura, no seu sentido amplo, antropológico,<br />
é tudo o que o homem cria e recria.”<br />
(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Educação e mudança.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 56.)<br />
Uma das pinturas que Francisco Brennand produziu, a pedido <strong>de</strong><br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, para as suas primeiras experiências com<br />
a alfabetização <strong>de</strong> adultos.<br />
conhecendo mais p Francisco Brennand<br />
Francisco Brennand é<br />
ceramista, pintor, escultor,<br />
<strong>de</strong>senhista,<br />
tapeceiro e gravador.<br />
<strong>Freire</strong> conheceu<br />
Brennand no<br />
Colégio Osvaldo<br />
Cruz, em Recife.<br />
Brennand pintou, a<br />
convite <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, as <strong>de</strong>z situações para<br />
o estudo do conceito <strong>de</strong> cultura utilizadas<br />
por <strong>Freire</strong> nas suas primeiras experiências<br />
com alfabetização <strong>de</strong> adultos. Francisco <strong>de</strong><br />
Paula Coimbra Brennand (Recife, PE: 1927)<br />
não completou o curso <strong>de</strong> direito e se <strong>de</strong>dicou<br />
à pintura. Viajou da França a vários outros<br />
países aperfeiçoando a arte cerâmica.<br />
Obras <strong>de</strong> Francisco<br />
Brennand, localizadas<br />
em sua oficina no<br />
Recife, PE.<br />
26 27<br />
EDUCAR PARA TRANSFORMAR <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />
Prêmio interamericano <strong>de</strong> cultura pelo conjunto<br />
<strong>de</strong> sua obra (1993: OEA – EUA)<br />
Recife e várias cida<strong>de</strong>s<br />
do Brasil e<br />
dos Estados Unidos<br />
exibem em edifícios<br />
e prédios públicos<br />
os seus painéis, esculturas<br />
e murais<br />
cerâmicos.<br />
Seus pisos e ladrilhos<br />
são feitos por<br />
um processo semiartesanal,<br />
com rígido<br />
controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
e pequena escala <strong>de</strong> produção.<br />
Ele expõe no Brasil e no exterior.