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Almanaque de Paulo Freire - DHnet

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O gosto pela música<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> adorava<br />

passarinhos. Adorava<br />

a palavra certeira,<br />

verda<strong>de</strong>ira,<br />

sensível: a que toca<br />

e canta. Adorava música brasileira, música<br />

popular brasileira, música nor<strong>de</strong>stina.<br />

Música... Gostava <strong>de</strong> música, poesia, literatura,<br />

das artes todas.<br />

E tinha o costume <strong>de</strong> assobiar. Podia ser um<br />

trecho <strong>de</strong> Villa-Lobos, uma canção <strong>de</strong> Adoniram<br />

Barbosa, Chico Buarque, Milton Nascimento,<br />

Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Gar<strong>de</strong>l,<br />

Orlando Silva... Assobiava e cantava para<br />

<strong>de</strong>sanuviar. Cantava baixinho para fazer adormecer<br />

seus filhos, quando crianças, assim como<br />

fez seu pai, Temístocles.<br />

Apreciava música clássica tanto quanto a<br />

música da terra: violinos, piano, violão clássico,<br />

viola, sanfonas, flautas, pífanos e batuques.<br />

Sim, toda a “boniteza” era bem-vinda, fosse<br />

seu criador artista consagrado ou anônimo,<br />

da cultura popular ou erudita, fosse boniteza<br />

<strong>de</strong> uma obra exposta num museu, numa feira<br />

<strong>de</strong> artesanato ou a expressa por um gesto, por<br />

uma maneira especial <strong>de</strong> ser homem, mulher<br />

ou grupo, quando as pessoas se colocam, relacionam-se<br />

umas com as outras.<br />

“Meu primeiro mundo foi o quintal <strong>de</strong> casa,<br />

com suas mangueiras, cajueiros <strong>de</strong> fron<strong>de</strong> quase<br />

ajoelhando-se no chão sombreado, jaqueiras<br />

e barrigu<strong>de</strong>iras. Árvores, cheiros, frutas, que,<br />

atraindo passarinhos vários, a eles se davam<br />

como espaço para seus cantares.”<br />

(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. À sombra <strong>de</strong>sta mangueira. São<br />

<strong>Paulo</strong>: Olho d’água, 1995, p. 24.)<br />

22<br />

saber cuidar<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> EDUCAR PARA TRANSFORMAR<br />

A biodiversida<strong>de</strong> das<br />

aves brasileiras<br />

No Brasil, encontram-se 1.677 espécies<br />

<strong>de</strong> aves, o terceiro lugar no mundo – e po<strong>de</strong><br />

chegar a ser o primeiro, pois, continuamente,<br />

são <strong>de</strong>scobertas novas espécies, quando<br />

áreas florestais isoladas vão sendo reconhecidas.<br />

Destas, 191 são espécies endêmicas,<br />

isto é, encontradas apenas no nosso país.<br />

Calcula-se que 103 espécies <strong>de</strong> aves brasileiras<br />

estão ameaçadas <strong>de</strong> extinção, motivada<br />

pelo <strong>de</strong>smatamento, caça indiscriminada<br />

e captura <strong>de</strong> animais para o tráfico.<br />

Quanto mais raro o animal, maior é a cotação<br />

<strong>de</strong> preço no mercado. A extinção compromete<br />

o equilíbrio ecológico <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia<br />

alimentar. As aves também são disseminadoras<br />

<strong>de</strong> sementes, contribuindo para<br />

a reprodução <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> plantas.<br />

Bicudinho do brejo<br />

É uma ave recém-<strong>de</strong>scoberta e a espécie já po<strong>de</strong> estar<br />

ameaçada <strong>de</strong> extinção, pela <strong>de</strong>gradação dos brejos.<br />

Ao adquirir uma ave e adotá-la como um animal <strong>de</strong><br />

estimação, po<strong>de</strong>mos contribuir<br />

para a extinção <strong>de</strong> sua espécie.<br />

É melhor <strong>de</strong>ixá-la<br />

no seu habitat<br />

ou em áreas<br />

protegidas.<br />

Ilustração: Fabiano Silva<br />

O método <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos<br />

“A leitura do mundo prece<strong>de</strong> sempre a<br />

leitura da palavra e a leitura <strong>de</strong>sta implica<br />

a continuida<strong>de</strong> da leitura daquele.”<br />

(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. A importância do ato <strong>de</strong> ler: em<br />

três artigos que se completam. 3. ed. São <strong>Paulo</strong>: Cortez/<br />

Autores Associados, 1983, p. 22.)<br />

Começar do “a-e-i-o-u” e do<br />

“ba-be-bi-bo-bu”, para ler <strong>de</strong>pois:<br />

“A baba é do boi”?<br />

ou<br />

Partir da leitura do mundo<br />

para a leitura da palavra?<br />

No início da década <strong>de</strong> 1960, <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />

propõe um novo método <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />

adultos. Este marca uma significativa diferença<br />

em relação aos métodos anteriores para<br />

adultos, pautados em simples adaptações das<br />

cartilhas para crianças, sendo assim bastante<br />

infantilizados.<br />

Ao invés <strong>de</strong> letras e palavras soltas, fragmentadas<br />

e <strong>de</strong>scontextualizadas da vida social<br />

e da experiência pessoal dos alunos, num<br />

aprendizado mecânico do “ba-be-bi-bo-bu”<br />

ou <strong>de</strong> frases simplórias e alienantes, como<br />

“A baba é do boi”, <strong>Freire</strong> sugere partir dos<br />

temas geradores, ou temas sociais colhidos<br />

do universo vocabular dos educandos, abertos<br />

à discussão coletiva nos “círculos <strong>de</strong> cultura”<br />

e abertos à análise <strong>de</strong> questões regionais<br />

e nacionais.<br />

Por exemplo, a partir <strong>de</strong> uma imagem ampliada<br />

na pare<strong>de</strong>, pelo projetor <strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s, que<br />

verse sobre o tema da construção civil, o educando<br />

passa a falar da realida<strong>de</strong> do seu traba-<br />

23<br />

EDUCAR PARA TRANSFORMAR <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />

lho <strong>de</strong> pedreiro, socializando o seu saber e experiência.<br />

A discussão po<strong>de</strong> caminhar para<br />

uma ampliação <strong>de</strong>sse conhecimento atual, isto<br />

é, para estudos sobre questões do trabalho e<br />

direitos do trabalhador.<br />

A alfabetização parte do texto-contexto<br />

ou “tema gerador”. Este gera <strong>de</strong>bates, pesquisa,<br />

leitura e escritas <strong>de</strong> novos textos relacionados<br />

e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras áreas do conhecimento.<br />

Do texto, são selecionadas as<br />

palavras e estas analisadas em suas partes<br />

menores. Leituras e escritas do mundo e da<br />

palavra se suce<strong>de</strong>m.<br />

Nesse método se fazem presentes a sincrese<br />

(visão inicial e atual do contexto), a análise<br />

(estudo, discussão e <strong>de</strong>talhamento do tema) e<br />

a síntese (visão mais ampla, aprofundada e<br />

crítica do tema).<br />

Enquanto se alfabetizam através do exercício<br />

do diálogo dirigido <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>mocrática<br />

e planificada pelo(a) educador(a), os educandos<br />

conhecem melhor o mundo e po<strong>de</strong>m tomar<br />

posição frente aos problemas sociais que<br />

vão se <strong>de</strong>svelando.<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> em Angicos, 1963.

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