Almanaque de Paulo Freire - DHnet
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saber cuidar<br />
No início dos anos 30, a dimensão ambiental<br />
começou a <strong>de</strong>spontar, no Brasil, como<br />
preocupação. Diversas socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
proteção à natureza surgiram naquele momento,<br />
tais como a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amigos<br />
das Árvores, a Socieda<strong>de</strong> Geográfica do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amigos da Flora<br />
Brasílica, a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amigos <strong>de</strong> Alberto<br />
Torres, entre outras. Essas organizações<br />
assumiam uma postura bastante ativa em<br />
<strong>de</strong>fesa da natureza, propondo leis florestais<br />
e reformas na agricultura contra o <strong>de</strong>smatamento<br />
e mau uso do solo. Além <strong>de</strong> incentivarem<br />
o plantio <strong>de</strong> árvores, distribuíam<br />
sementes, ministravam palestras e pressionavam<br />
o po<strong>de</strong>r público da época. Tais mobilizações<br />
não foram em vão. Em maio <strong>de</strong><br />
1933, Getúlio Vargas <strong>de</strong>cretou o código<br />
Florestal e o das Águas, e a Constituição,<br />
promulgada em 1934, estabeleceu que a<br />
proteção das “belezas naturais” e dos monumentos<br />
<strong>de</strong> valor histórico ou artístico seria<br />
competência do Estado. No final da década<br />
<strong>de</strong> 1930, foram criados os primeiros<br />
Parques Nacionais.<br />
Os problemas ambientais são necessariamente<br />
sociais e políticos. A sustentabilida<strong>de</strong> implica reflexões<br />
e <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>. Organizações<br />
ecológicas contribuem para a mobilização social em<br />
torno <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s questões. Entre tantas outras<br />
preocupações, <strong>de</strong>stacam-se as florestas, os rios, lagos<br />
e mares e muitas espécies vivas, ameaçadas <strong>de</strong><br />
extinção. Em muitas regiões, a espécie mais ameaçada<br />
é o ser humano.<br />
?<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> EDUCAR PARA TRANSFORMAR<br />
conhecendo mais<br />
p<br />
Alberto Torres: pioneiro da<br />
ecologia brasileira<br />
Alberto Torres (1865-1917) <strong>de</strong>dicou-se<br />
a pensar a reorganização da socieda<strong>de</strong> brasileira<br />
e o <strong>de</strong>senvolvimento do país. Para<br />
ele, se o progresso fosse alcançado mediante<br />
formas <strong>de</strong>senfreadas <strong>de</strong> industrialização,<br />
os recursos naturais do planeta entrariam<br />
num acelerado esgotamento. Acreditava<br />
que a chave do <strong>de</strong>senvolvimento nacional<br />
estaria na combinação entre exploração sistemática<br />
e racional da agricultura, investimento<br />
na população e na preservação dos<br />
recursos naturais do país.<br />
Suas idéias “ecológicas”, consi<strong>de</strong>ravelmente<br />
aguçadas para o período histórico<br />
em que viveu, influenciaram<br />
fortemente a<br />
geração <strong>de</strong> 1930.<br />
Alberto Torres, nascido no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, bacharelou-se em Ciências<br />
Jurídicas e Sociais, na mesma<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Recife,<br />
on<strong>de</strong> estudou <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>.<br />
Você sabia ?<br />
?<br />
? ?<br />
Por muito tempo, a questão do meio ambiente foi<br />
?<br />
nomia tem sido <strong>de</strong>batida em todo o mundo e o<br />
?<br />
?<br />
ignorada pelos mo<strong>de</strong>los e teorias econômicas.<br />
Atualmente, a relação entre meio ambiente e eco-<br />
?<br />
conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental é o<br />
que vem sendo mais explorado: um processo voltado<br />
à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população,<br />
usando os recursos disponíveis <strong>de</strong> forma que eles<br />
sejam conservados e otimizados para o usufruto<br />
<strong>de</strong>sta e das gerações futuras.<br />
?<br />
A infância roubada com o trabalho infantil<br />
Você sabia ?<br />
?<br />
?<br />
?<br />
Assim como aconteceu com os irmãos <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, muitas crianças e jovens estão fora da escola por es-<br />
?<br />
uma a cada doze ? crianças do planeta enfrenta as piores formas <strong>de</strong> exploração no trabalho. No Brasil, o trabalho<br />
?<br />
tarem trabalhando.<br />
O relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado em fevereiro <strong>de</strong> 2005, revelou que<br />
infantil é proibido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente:<br />
“Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores <strong>de</strong> quatorze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, salvo na condição <strong>de</strong> aprendiz”.<br />
Apesar da legislação brasileira, a Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílio (PNAD-2003) <strong>de</strong>tectou que 5,1<br />
milhões <strong>de</strong> crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, trabalham, tanto na cida<strong>de</strong> como no campo. Destes,<br />
209 mil tinham <strong>de</strong> 5 a 9 anos, 1,7 milhão tinham <strong>de</strong> 10 a 14 anos e 3,2 milhões tinham <strong>de</strong> 15 a 17 anos.<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> fala sobre sua adolescência<br />
Assim como gran<strong>de</strong> parte dos adolescentes,<br />
principalmente os mais pobres, <strong>Freire</strong> viveu<br />
a insegurança em relação à auto-imagem,<br />
a ansieda<strong>de</strong> para ser aceito no grupo social:<br />
“Estava sendo então um adolescente inseguro,<br />
vendo-me como um corpo anguloso e<br />
feio, percebendo-me menos capaz do que os<br />
outros, fortemente incerto <strong>de</strong> minhas possibilida<strong>de</strong>s.<br />
Era muito mais mal-humorado do<br />
que apaziguado com a vida. Facilmente me<br />
eriçava. Qualquer consi<strong>de</strong>ração feita por um<br />
colega rico da classe já me parecia o chamamento<br />
à atenção <strong>de</strong> minhas fragilida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong><br />
minha insegurança.”<br />
(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Pedagogia da Autonomia. São<br />
<strong>Paulo</strong>: Paz e Terra, 1996, p. 48.)<br />
De forma autêntica e <strong>de</strong>licada, ele nos relata<br />
a sua “primeira iluminação”:<br />
“Em Jaboatão experimentei o que é a fome<br />
e compreendi a fome dos <strong>de</strong>mais. Em Jaboa-<br />
14 15<br />
EDUCAR PARA TRANSFORMAR <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />
?<br />
tão, criança ainda, converti-me em homem<br />
graças à dor e ao sofrimento que não me submergiam<br />
nas sombras da <strong>de</strong>sesperação. Em<br />
Jaboatão joguei bola com os meninos do povo.<br />
Na<strong>de</strong>i no rio e tive ‘minha primeira iluminação’:<br />
um dia contemplei uma moça <strong>de</strong>spida.<br />
Ela me olhou e se pôs a rir...”<br />
(FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Conscientização: teoria e prática da<br />
libertação. São <strong>Paulo</strong>: Cortez & Moraes, 1979, p. 9.)