figuras de linguagem no discurso publicitário: análise - Unimar

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ANA CLÁUDIA MORAES JULIANO FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO PUBLICITÁRIO: ANÁLISE DE ANÚNCIOS EM REVISTAS MARÍLIA 2006

ANA CLÁUDIA MORAES JULIANO<br />

FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO PUBLICITÁRIO: ANÁLISE DE<br />

ANÚNCIOS EM REVISTAS<br />

MARÍLIA<br />

2006


ANA CLÁUDIA MORAES JULIANO<br />

FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO PUBLICITÁRIO: ANÁLISE DE<br />

ANÚNCIOS EM REVISTAS<br />

Dissertação apresentada ao Programa <strong>de</strong><br />

Mestrado em Comunicação, Linha <strong>de</strong><br />

Pesquisa: Produção e Recepção <strong>de</strong> Mídia, da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação – Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Marília, como exigência parcial para<br />

obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre em<br />

Comunicação<br />

Orientadora:<br />

Profª. Drª. Elêusis Mirian Camocardi<br />

MARÍLIA<br />

2006<br />

2


UNIVERSIDADE DE MARÍLIA<br />

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E TURISMO<br />

REITOR<br />

MÁRCIO MESQUITA SERVA<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO<br />

COORDENADORA PROFª DRAª SUELY FADUL VILLIBOR FLORY<br />

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO<br />

MÍDIA E CULTURA<br />

LINHA DE PESQUISA<br />

PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE MÍDIA<br />

ORIENTADORA<br />

PROFª DRª ELÊUSIS MIRIAN CAMOCARDI<br />

3


FOLHA DE APROVAÇÃO<br />

FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO PUBLICITÁRIO: ANÁLISE DE<br />

ANÚNCIOS EM REVISTAS<br />

Mestranda:<br />

UNIVERSIDADE DE MARÍLIA<br />

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO<br />

______________________________________<br />

Ana Cláudia Moraes Julia<strong>no</strong><br />

Banca Examinadora<br />

_______________________________________<br />

Profª. Drª. Lucilene dos Santos Gonzales<br />

_______________________________________<br />

Prof. Dr. Altamir Battoso<br />

_______________________________________<br />

Orientadora: Profª. Drª. Elêusis Mirian Camocardi<br />

Data da aprovação: _____/______/______<br />

4


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço a Deus por ter me dado saú<strong>de</strong> para seguir<br />

essa caminhada.<br />

À orientadora Dra. Elêusis Mirian Camocardi que,<br />

com paciência, incentivo, <strong>de</strong>dicação e competência<br />

tor<strong>no</strong>u possível a realização <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Aos meus pais Wei<strong>de</strong> e Ivany por acompanharem a<br />

realização <strong>de</strong>ste trabalho, sempre incentivando e<br />

colaborando para eu alcançar mais um objetivo.<br />

5


JULIANO, Ana Cláudia Moraes. Figuras <strong>de</strong> Linguagem <strong>no</strong> Discurso<br />

Publicitário: Análise <strong>de</strong> Anúncios em Revistas. 2005. 132f. Dissertação<br />

(Mestrado em Comunicação) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação, Educação e<br />

Turismo, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marília, Marília/SP.<br />

RESUMO<br />

Este trabalho tem por objetivo analisar a <strong>linguagem</strong> usada <strong>no</strong> <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong><br />

escrito, através <strong>de</strong> anúncios publicados em revistas. O texto <strong>publicitário</strong> é uma forma <strong>de</strong><br />

comunicação <strong>de</strong> massa, e preten<strong>de</strong> transmitir informações e incitar as pessoas a certos<br />

comportamentos. Com base nesta premissa, analisam-se as funções da <strong>linguagem</strong><br />

publicitária, que possui recursos próprios e são utilizadas para chamar e pren<strong>de</strong>r a<br />

atenção do leitor e fazê-lo memorizar a mensagem. Destacam-se também a importância<br />

do <strong>discurso</strong> verbal e não verbal, pois a combinação <strong>de</strong> texto verbal e ilustração torna-se<br />

cada vez mais importante para fazer com que o anúncio fique mais criativo, estruturado<br />

e racional para provocar <strong>no</strong> leitor mudanças <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong> comportamento. Abordar-<br />

se-á a i<strong>de</strong>ologia e a persuasão <strong>no</strong> <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong>, porque até certo ponto a<br />

<strong>linguagem</strong> publicitária é reflexo da i<strong>de</strong>ologia dominante dos valores em que a socieda<strong>de</strong><br />

acredita. A dissertação tratará ainda da retórica, que nasceu entre os gregos e foi se<br />

transformando em mero sinônimo <strong>de</strong> recursos embelezadores do <strong>discurso</strong>, e <strong>no</strong>s dias<br />

atuais, tem a preocupação <strong>de</strong> estudar as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> e as técnicas <strong>de</strong><br />

argumentação. Serão estudados os processos <strong>de</strong> articulação dos raciocínios textuais,<br />

como a possibilida<strong>de</strong> criada pelo uso das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> e sua classificação<br />

segundo a Retórica Geral <strong>de</strong> Jean Dubois e outros. E finalizando, analisará alguns<br />

anúncios <strong>publicitário</strong>s escritos, mostrando uma combinação do <strong>discurso</strong> verbal e não<br />

verbal, com o objetivo <strong>de</strong> tornar a mensagem publicitária criativa.<br />

Palavras-chave: Discurso verbal e não verbal; retórica; <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>.<br />

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JULIANO, Ana Cláudia Moraes. Figures of language in the advertising<br />

executive discourse: analysis of an<strong>no</strong>uncements in magazines. 2005.<br />

132f. Dissertation. (Master in Communication) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação,<br />

Educação e Turismo, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marília/SP.<br />

ABSTRACT<br />

This work aims at analysing the language used in the writing publicity discourse, through<br />

the advertisements an<strong>no</strong>unced in magazines. The publicity text is a way of<br />

communication of mass and intend to transmit information and to incite people to have<br />

certain behaviours. Based on this proposition, we analyse the functions of the publicity<br />

language, which has its own resources and it is utilized to get and call attention of the<br />

rea<strong>de</strong>r and makes him to memorize the message. We emphasize the importance of the<br />

verbal and <strong>no</strong>-verbal speech, because the combination of verbal text and illustration<br />

becomes more and more important to make the advertisement to convert itself in<br />

something more creative, organized and with reasoning to provoke changes in the<br />

rea<strong>de</strong>r’s opinions and behaviours. We will board the i<strong>de</strong>ology and the persuasion in the<br />

publicity discourse, because we can consi<strong>de</strong>r the publicity language as a reflection of the<br />

dominant i<strong>de</strong>ology of the values in which the society believes. The dissertation will treat<br />

of Rhetoric which was born among the Greeks and was transforming itself in a simple<br />

sy<strong>no</strong>nym of embellish resources of the discourse and <strong>no</strong>wadays, it has the<br />

preoccupation of studying the figures of language and its argumentation techniques. We<br />

will study the process of articulation of textual reasonings with the possibility created by<br />

the use of the figures of language and their classification according to the book General<br />

Rhetoric by Jean Dubois and other authors. And finally, we will analyse some writing<br />

publicity advertisements, showing a combination of verbal and <strong>no</strong>-verbal discourse with<br />

the objective of becoming more creative the publicity message.<br />

Keywords: Verbal and <strong>no</strong>-verbal discourse; Rhetoric, figures of language.<br />

7


Resumo<br />

Abstract<br />

SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO........................................................................... 09<br />

1 A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA................................................ 13<br />

1.1 Características.......................................................................... 14<br />

1.2 Funções da <strong>linguagem</strong>............................................................. 19<br />

1.3 Mensagens verbal e visual...................................................... 30<br />

2 IDEOLOGIA E PERSUASÃO NO DISCURSO<br />

PUBLICITÁRIO.......................................................................... 34<br />

2.1 Discurso <strong>publicitário</strong> e i<strong>de</strong>ologia............................................ 34<br />

2.2 Sig<strong>no</strong> e i<strong>de</strong>ologia...................................................................... 37<br />

2.3 Persuasão <strong>no</strong> texto <strong>publicitário</strong>.............................................. 41<br />

3 ARTE DA RETÓRICA................................................................ 44<br />

3.1 Elementos históricos: da retórica clássica à retórica<br />

mo<strong>de</strong>rna.................................................................................... 44<br />

3.2 Retórica e publicida<strong>de</strong>............................................................. 51<br />

4 TROPOS E FIGURAS DE LINGUAGEM................................... 55<br />

4.1 Conceito e história................................................................... 55<br />

4.2 Classificação............................................................................ 59<br />

4.3 Análise <strong>de</strong> anúncios <strong>publicitário</strong>s.......................................... 77<br />

CONCLUSÃO............................................................................ 127<br />

REFERÊNCIAS.......................................................................... 130<br />

8


INTRODUÇÃO<br />

O <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o braço direito da<br />

tec<strong>no</strong>logia mo<strong>de</strong>rna, por apresentar mensagens criativas, i<strong>no</strong>vadoras,<br />

inusitadas, com a utilização crescente <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos recursos tec<strong>no</strong>lógicos.<br />

Os recursos estilísticos adotados pelas mensagens publicitárias<br />

correspon<strong>de</strong>m em geral à retórica, e se propõem a examinar, <strong>de</strong>screver,<br />

perceber e avaliar atitu<strong>de</strong>s que venham a influenciar percepções <strong>de</strong><br />

sentimentos e ações empregadas através <strong>de</strong> palavras com diferentes<br />

9


co<strong>no</strong>tações.<br />

Estes recursos permitem que a publicida<strong>de</strong> cumpra sua finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> persuasão e exerça a função psicológica. A visão sociológica presume que<br />

não se dirige a ninguém em especial; a publicida<strong>de</strong> dá a cada um a ilusão <strong>de</strong><br />

que se dirige a ele individualmente e, ao mesmo tempo, o faz ter consciência<br />

<strong>de</strong> ser membro <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>.<br />

A palavra tem po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criar, <strong>de</strong>struir, <strong>de</strong> prometer e negar e a<br />

publicida<strong>de</strong> usa <strong>de</strong>sses recursos como principais instrumentos para<br />

convencer o receptor da mensagem a adquirir o produto veiculado.<br />

Antigamente, a retórica tinha a preocupação <strong>de</strong> estruturar o<br />

<strong>discurso</strong>, fazê-lo <strong>de</strong> forma convincente, elegante, com arte, com recursos<br />

embelezadores; hoje busca-se ensinar técnicas <strong>de</strong> persuasão. Este <strong>no</strong>vo<br />

papel está ligado ao estudo das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> e ao das técnicas <strong>de</strong><br />

argumentação, ou seja, estudar a organização discursiva para apreen<strong>de</strong>r os<br />

procedimentos que permitem a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista àquelas idéias<br />

que lhes são apresentadas. Os processos <strong>de</strong> articulação dos raciocínios<br />

textuais surgem como possibilida<strong>de</strong> criada pelo uso das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>.<br />

Este trabalho tem por objetivo analisar a <strong>linguagem</strong> utilizada <strong>no</strong><br />

<strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> escrito, através <strong>de</strong> anúncios publicados em revistas, com<br />

suas características, e também verificar a importância do <strong>discurso</strong> verbal e<br />

não verbal, uma vez que a combinação <strong>de</strong> texto verbal e ilustração torna-se<br />

cada vez mais importante para expressar os sentidos e provocar mudanças<br />

<strong>de</strong> opinião. Discutir-se-á a I<strong>de</strong>ologia, a persuasão e a retórica como recursos<br />

10


para expressar o pensamento dominante e os valores em que a socieda<strong>de</strong><br />

acredita, bem como a maneira como se enxerga o mundo.<br />

O primeiro capítulo abordará o estudo da <strong>linguagem</strong> publicitária,<br />

<strong>de</strong>stinada a apresentar características reais do produto e também<br />

características subjetivas do produto, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> argumentar para<br />

persuadir os indivíduos a mudarem <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s diante do que lhes é oferecido.<br />

A <strong>linguagem</strong> dos anúncios <strong>de</strong>ve ser rápida, leve, coloquial para<br />

atrair o leitor e facilitar o conhecimento da mensagem que é transmitida, fato<br />

este que será estudado nas funções da <strong>linguagem</strong>, cada uma com um<br />

anúncio exemplificativo para <strong>de</strong>monstrar alguns recursos lingüísticos usados,<br />

já que são estes que importam na realização da mensagem publicitária. A<br />

organização das funções po<strong>de</strong> torná-la mais criativa, estruturada e apelativa,<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar <strong>no</strong> leitor mudanças <strong>de</strong> opinião.<br />

No capítulo 2, observar-se-ão a i<strong>de</strong>ologia e a persuasão <strong>no</strong> <strong>discurso</strong><br />

<strong>publicitário</strong>, porque até certo ponto a <strong>linguagem</strong> publicitária é reflexo da<br />

i<strong>de</strong>ologia dominante dos valores em que a socieda<strong>de</strong> acredita.<br />

Reconhecemos que a i<strong>de</strong>ologia é um componente necessário da vida<br />

humana, pois, se não <strong>no</strong>s apegássemos a certas atitu<strong>de</strong>s e formas <strong>de</strong> pensar,<br />

<strong>no</strong>ssa consciência estaria num fluxo constante, que <strong>no</strong>s paralisaria por<br />

completo. Como recurso persuasivo, ou <strong>de</strong> convencimento, a publicida<strong>de</strong><br />

recorre a apelos verbais e visuais, com o objetivo <strong>de</strong> fazer o leitor acreditar<br />

naquilo que se propõe através <strong>de</strong> idéia básica ou tema. Esses apelos po<strong>de</strong>m<br />

vir concretizados em imagens, formas, cores, volumes, gestos, olhares,<br />

11


expressão corporal em rostos belos, em ídolos, artistas, heróis, esportistas e<br />

em ambientes sugestivos, elegantes capazes <strong>de</strong> traduzir sensualida<strong>de</strong>,<br />

charme, erotismo, beleza, esportivida<strong>de</strong> e prestígio.<br />

O capítulo 3 tratará da retórica, visto que na antiguida<strong>de</strong> o estudo da<br />

persuasão, que nasceu entre os gregos, pressupõe conhecimentos do<br />

domínio da expressão verbal com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exposição pública das<br />

idéias para justificar uma certa <strong>de</strong>mocracia. A ela competia o manejo hábil das<br />

formas <strong>de</strong> argumentação. A retórica foi se transformando em mero sinônimo<br />

<strong>de</strong> recursos embelezadores do <strong>discurso</strong>, ganhando até um certo tom<br />

pejorativo. Um pouco <strong>de</strong>ssa posição preconceituosa se <strong>de</strong>ve a certas visões<br />

teóricas, como as <strong>de</strong>senvolvidas <strong>no</strong> século XVIII e XIX, quando os estudiosos<br />

não a tratavam apenas como questão <strong>de</strong> método compositivo, e <strong>de</strong><br />

estruturação gramatical, mas buscavam com as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica o melhor<br />

enfeite, a palavra mais bela.<br />

Com o passar dos a<strong>no</strong>s, a retórica foi tendo suas funções alteradas:<br />

da preocupação com as técnicas <strong>de</strong> organização do <strong>discurso</strong> e com a<br />

persuasão, o que se irá presenciar <strong>no</strong> final do século XIX é uma vinculação da<br />

retórica com a idéia <strong>de</strong> embelezamento do texto.<br />

O <strong>no</strong>vo papel da retórica está ligado a duas questões importantes: a<br />

do estudo das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> e o das técnicas <strong>de</strong> argumentação, ou<br />

seja, estudar a organização discursiva a fim <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r os procedimentos<br />

que permitem ligar a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista àquelas idéias que lhes são<br />

apresentadas. Refere-se a processos <strong>de</strong> articulação dos raciocínios textuais,<br />

12


como a possibilida<strong>de</strong> criada pelo uso das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>, tema que será<br />

abordado <strong>no</strong> capítulo 4, sua classificação segundo a obra Retórica geral <strong>de</strong><br />

Jean Dubois e outros.<br />

O capítulo 4 ainda analisará alguns anúncios <strong>publicitário</strong>s escritos<br />

extraídos <strong>de</strong> revistas, mostrando uma combinação do <strong>discurso</strong> verbal e não<br />

verbal, com o objetivo <strong>de</strong> tornar a mensagem publicitária criativa.<br />

Este trabalho seguirá um raciocínio didático, voltado para alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />

graduação, com o objetivo <strong>de</strong> incentivá-los ao estudo das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>linguagem</strong>, tendo como classificação outras teorias existentes e portanto com<br />

<strong>no</strong>menclatura diversa da costumeira, mas que po<strong>de</strong>m ser encontradas<br />

também <strong>no</strong> <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> escrito com freqüência, como em revistas<br />

veiculadas em todo os meios <strong>de</strong> divulgação.<br />

1 A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA<br />

Para se <strong>de</strong>finir com exatidão e clareza a <strong>linguagem</strong> publicitária,<br />

torna-se necessário tecer algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> texto.<br />

Segundo Platão & Fiorin (2000, p.11-12) “o texto não é um<br />

aglomerado <strong>de</strong> frases”. Isso quer dizer que todas as frases <strong>de</strong> um texto têm<br />

significado próprio e estão relacionadas entre si: “o significado das partes<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das correlações que elas mantêm entre si”. Além disso, um peque<strong>no</strong><br />

13


texto não é parte isolada <strong>de</strong> um texto maior, a que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>no</strong>minar<br />

contexto.<br />

Enten<strong>de</strong>-se por contexto uma unida<strong>de</strong> lingüística maior on<strong>de</strong> se<br />

encaixa uma unida<strong>de</strong> lingüística me<strong>no</strong>r. Assim, a frase encaixa-se <strong>no</strong><br />

contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se <strong>no</strong> contexto do<br />

capítulo, o capítulo encaixa-se <strong>no</strong> contexto da obra toda. (2000, p.12)<br />

Concluindo com os professores e críticos acima citados, há que se<br />

observar que uma leitura bem feita <strong>de</strong>ve basear-se nas correlações que as<br />

frases mantêm num texto e que o significado <strong>de</strong>sse texto só po<strong>de</strong> ser<br />

apreendido <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto. Por isso, “uma boa leitura nunca po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r o pronunciamento contido por trás do texto, já que<br />

sempre se produz um texto para marcar posição frente a uma questão<br />

qualquer”. (2000, p.13)<br />

Mas essa correlação <strong>de</strong> significados não ocorre apenas com o texto<br />

verbal. O texto não verbal também possui estruturação interna, enca<strong>de</strong>amento<br />

<strong>de</strong> idéias, está inserido em contextos mais amplos. Na <strong>linguagem</strong> publicitária,<br />

o texto verbal assume relacionamentos com outros códigos, como a cor, a<br />

imagem, o movimento, o som.<br />

Um texto <strong>publicitário</strong> compõe-se <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> verbal e <strong>linguagem</strong><br />

não verbal, intimamente relacionadas quanto ao significado.<br />

1.1 Características<br />

14


Segundo Vestergaard & Schro<strong>de</strong>r (1988, p.14 apud GONZÁLES,<br />

2003, p.14) “o texto <strong>publicitário</strong> é uma forma <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, cujos<br />

objetivos são transmitir informação e incitar as pessoas a certos<br />

comportamentos”.<br />

O texto <strong>publicitário</strong> apresenta as seguintes características:<br />

• é uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido estruturada por sig<strong>no</strong>s lingüísticos<br />

verbais e sig<strong>no</strong>s não-verbais, como ícones, imagens, símbolos;<br />

• é uma forma <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa que se dirige a um<br />

público anônimo, <strong>de</strong>sconhecido dos anunciantes;<br />

• é uma forma <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> caráter informativo e, ao mesmo<br />

tempo, persuasivo, com finalida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ológicas – divulgar as<br />

idéias (propaganda) – e comerciais – ven<strong>de</strong>r produtos e serviços<br />

(publicida<strong>de</strong>).<br />

Os termos propaganda e publicida<strong>de</strong> são utilizados indistintamente<br />

por muitos autores e profissionais da área publicitária, bem como <strong>no</strong> dia-a-dia<br />

do mercado embora usados como sinônimos, não significam rigorosamente a<br />

mesma coisa.<br />

A palavra propaganda <strong>de</strong>riva do latim propagare, que significa<br />

reproduzir por meio <strong>de</strong> mergulhia, ou seja, enterrar o rebento <strong>de</strong> uma planta<br />

<strong>no</strong> solo. Em outras palavras, propagare quer dizer “enterrar, mergulhar,<br />

plantar” (CHAISE, 2001, p.10). Po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r como propagação <strong>de</strong><br />

princípios, teorias, doutrinas.<br />

15


Foi em Roma <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1597, que o termo propaganda foi<br />

introduzido pelo Papa Clemente VII, quando fundou a Congregação da<br />

Propaganda, com o intuito <strong>de</strong> propagar a fé católica pelo mundo.<br />

Posteriormente, em 1740, o vocábulo foi introduzido <strong>no</strong> Dicionário da<br />

Aca<strong>de</strong>mia Francesa, com o significado eclesiástico. Atualmente, a<br />

propaganda é <strong>de</strong>finida como um conjunto <strong>de</strong> técnicas com a intenção <strong>de</strong><br />

persuadir e influenciar as opiniões, e modificar as atitu<strong>de</strong>s do público receptor.<br />

A palavra publicida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> origem latina publicus, e quer dizer ato<br />

<strong>de</strong> divulgar, <strong>de</strong> tornar público. É a forma <strong>de</strong> divulgar produtos ou serviços, por<br />

meio <strong>de</strong> anúncios com o objetivo <strong>de</strong> interesse comercial.<br />

A propaganda abrange a divulgação <strong>de</strong> idéias como também a<br />

venda <strong>de</strong> produtos e serviços; a publicida<strong>de</strong> é o ato <strong>de</strong> divulgar, <strong>de</strong> tornar<br />

público. A diferença essencial entre publicida<strong>de</strong> e propaganda são os<br />

objetivos, que, na primeira, são comerciais, e, na segunda, não comerciais e<br />

sim i<strong>de</strong>ológicos.<br />

Em contrapartida, a propaganda se assemelha à publicida<strong>de</strong> ao<br />

criar, transformar ou confirmar certas opiniões, empregando meios e técnicas<br />

que lhes são comuns. Assim, é possível afirmar que a publicida<strong>de</strong> é uma<br />

<strong>de</strong>corrência da propaganda, tendo em vista que ambas exercem uma ação<br />

psicológica <strong>no</strong> público pela divulgação <strong>de</strong> mensagens.<br />

A <strong>linguagem</strong> publicitária possui como modalida<strong>de</strong> técnica um certo<br />

grau <strong>de</strong> formalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação à mensagem a ser expressa. Essa<br />

a<strong>de</strong>quação segue a <strong>no</strong>rma lingüística falada, para que o <strong>de</strong>stinatário a<br />

16


compreenda melhor, e também obe<strong>de</strong>ce às características do produto<br />

oferecido e à função persuasiva própria da publicida<strong>de</strong>.<br />

Des<strong>de</strong> o início do século XX, o <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> firmou-se pela<br />

criativida<strong>de</strong> e pela <strong>linguagem</strong> mais apurada e persuasiva, imitando o<br />

mo<strong>de</strong>lo america<strong>no</strong> das primeiras agências que chegavam ao Brasil<br />

que muito contribuíram para o aperfeiçoamento do sistema <strong>de</strong><br />

propaganda <strong>no</strong> país. Predominam <strong>no</strong>s textos <strong>publicitário</strong>s atuais,<br />

além da criativida<strong>de</strong>, a i<strong>no</strong>vação, a originalida<strong>de</strong>, a busca <strong>de</strong><br />

recursos retóricos, tanto <strong>no</strong> texto quanto na ilustração aperfeiçoada<br />

pela mo<strong>de</strong>rna tec<strong>no</strong>logia. (CAMOCARDI; FLORY, 2003,p.22)<br />

A <strong>linguagem</strong> usada pelas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s anúncios e<br />

textos comerciais sofreu gran<strong>de</strong>s modificações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios da<br />

ativida<strong>de</strong> propagandística até <strong>no</strong>ssos dias. Historicamente, essas<br />

modificações aparecem <strong>no</strong>s anúncios <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 20 com os textos <strong>de</strong><br />

hoje, e essa evolução quanto à <strong>linguagem</strong> publicitária, a partir dos textos<br />

escritos por Monteiro Lobato, para divulgar o Biotônico Fontoura como<br />

remédio eficaz. Por volta <strong>de</strong> 1900, os Estados Unidos surgiram <strong>no</strong> cenário do<br />

mundo industrial e comercial, contribuindo para mudar a mentalida<strong>de</strong> negativa<br />

da publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que anunciar é fraudar, existente ainda hoje em <strong>no</strong>sso<br />

meio, sobretudo da parte dos comerciantes sem clientela tradicional e fixa<br />

(MARTINS, 1997, p.33).<br />

No começo do século, além do cinema, aperfeiçoam-se também as<br />

gran<strong>de</strong>s revistas <strong>no</strong>rte-americanas, francesas e inglesas e mais um veículo<br />

<strong>publicitário</strong> apresenta um elemento <strong>no</strong>vo <strong>de</strong> atração psicológica: a cor.<br />

Logo após a Segunda Guerra <strong>de</strong>senvolve-se um veículo<br />

17


evolucionário: a televisão que coloca <strong>no</strong>s lares uma pessoa que quer ven<strong>de</strong>r<br />

um produto. O objetivo é atingir uma técnica em que o ven<strong>de</strong>dor ao lado do<br />

cliente <strong>de</strong>monstre o momento a<strong>de</strong>quado, o valor do produto anunciado, para<br />

que, <strong>no</strong> dia seguinte, realize a compra. A década <strong>de</strong> 50 trouxe o surgimento<br />

das escolas <strong>de</strong> comunicação e a multiplicação das agências <strong>de</strong> propaganda<br />

em todos os Estados.<br />

Com esses marcos, a <strong>linguagem</strong> publicitária transforma-se bastante,<br />

torna-se mais dinâmica e mais sintética e foge ao código formal da língua sem<br />

o abandonar totalmente, assimila o registro coloquial corrente <strong>no</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />

centros, com o objetivo <strong>de</strong> obter maior i<strong>de</strong>ntificação com o gran<strong>de</strong> público.<br />

Esses códigos lingüísticos, formal - usado <strong>no</strong> início, e o coloquial -<br />

mais aceito agora, mostrarão daqui por diante as características dos produtos,<br />

uma vez que para uns é necessária a <strong>linguagem</strong> séria e correta para valorizar<br />

a <strong>no</strong>breza, ou a espécie dos objetos, como jóias, saú<strong>de</strong>, bancos,<br />

empreendimentos. Para outros, é indispensável o uso <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> leve,<br />

rápida, coloquial, e até mesmo humorística, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que atinja os<br />

consumidores, ou o seu nível social, como é o caso <strong>de</strong> sabões, cigarros,<br />

roupas, palha <strong>de</strong> aço, cerveja. A <strong>linguagem</strong> do anúncio <strong>publicitário</strong> precisa<br />

atrair o leitor e facilitar o conhecimento da mensagem que é transmitida.<br />

A publicida<strong>de</strong> busca <strong>no</strong>vas formas <strong>no</strong>s anúncios, entre as quais se<br />

<strong>de</strong>stacam: uma <strong>no</strong>va <strong>linguagem</strong> que seja a<strong>de</strong>quada às rápidas mudanças<br />

quanto à moda, costumes, avanço <strong>no</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação e <strong>no</strong>s produtos<br />

<strong>de</strong> consumo; como exemplo: eletrônicos, eletrodomésticos. A originalida<strong>de</strong><br />

18


nas mensagens adaptadas ao ritmo acelerado da vida urbana e o gosto por<br />

tudo o que é <strong>no</strong>vo, diferente e simples, tais como as formas <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> da<br />

TV, rádios. Mudanças na abordagem das relações com o consumidor,<br />

seguindo conceitos <strong>de</strong> viver, com <strong>discurso</strong>s que consi<strong>de</strong>ram que o prazer<br />

individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida moral,<br />

assim como estes exemplos: “pensamos em você...” “seu prazer <strong>de</strong> todos os<br />

dias”. Outro estilo <strong>de</strong> <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong>, que substitui códigos antigos, as<br />

mensagens do teatro por formas mais agradáveis, mais polida e mais<br />

simpáticas, como se observa <strong>no</strong>s seguintes exemplos: “um perfume para<br />

sonhar...”, “o gosto <strong>de</strong> toda a gente será também o seu”. A promoção <strong>de</strong> um<br />

<strong>no</strong>vo consumo dirigido para o que o público quer e não o que o fabricante<br />

<strong>de</strong>seja, e sim direcionado às necessida<strong>de</strong>s psicológicas do indivíduo, às suas<br />

aspirações e aos <strong>de</strong>sejos do consumidor.<br />

Para atingir os objetivos <strong>de</strong> divulgação e assimilação <strong>de</strong> idéias e <strong>de</strong><br />

venda <strong>de</strong> produtos e serviços, a <strong>linguagem</strong> publicitária utiliza-se <strong>de</strong> funções,<br />

como po<strong>de</strong>remos verificar na seqüência do <strong>no</strong>sso trabalho.<br />

1.2 Funções da Linguagem<br />

O estudo das funções da <strong>linguagem</strong> ganha <strong>de</strong>staque <strong>no</strong> <strong>discurso</strong><br />

<strong>publicitário</strong>, pois as funções são utilizadas para chamar e pren<strong>de</strong>r a atenção<br />

do leitor e fazê-lo memorizar a mensagem. E isso se consegue, entre outros<br />

recursos, com <strong>de</strong>staque ao código lingüístico, com as técnicas que põem em<br />

19


evidência a mensagem, cujo objetivo é a venda do produto/serviço ou a<br />

disseminação das idéias.<br />

Segundo Jakobson (1995, p.123-162), seis são as funções da<br />

<strong>linguagem</strong>, mas não se quer dizer que uma função exclua outra ou outras. O<br />

que há é, a rigor, o predomínio <strong>de</strong> uma ou outra. Assim, o interesse do ato<br />

comunicativo po<strong>de</strong> estar centrado mais <strong>no</strong> remetente, <strong>no</strong> codificador, na 1ª<br />

pessoa. O emissor fala <strong>de</strong> si mesmo, dá vazão a seus sentimentos, usa o<br />

pro<strong>no</strong>me da 1ª pessoa, produz frases exclamativas, usa interjeições. A essa<br />

função dá-se o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> função emotiva ou expressiva. Há predominância<br />

<strong>de</strong>ssa <strong>linguagem</strong> em textos que revelam os emissores voltados para si<br />

mesmos, para os próprios sentimentos, expressando o seu emocional. Nota-<br />

se, por isso, a presença reiterada <strong>de</strong> verbos e pro<strong>no</strong>mes em primeira pessoa<br />

e <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> exclamação, enfatizando os aspectos emocionais da<br />

<strong>linguagem</strong> dos emissores.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> função tem forte presença na poesia lírica e, como é <strong>de</strong><br />

se esperar, não é tão comum na <strong>linguagem</strong> publicitária.<br />

Observe-se, como exemplo, o anúncio <strong>publicitário</strong> da Jovem Pan,<br />

<strong>de</strong>stinado a estudantes que possuem carteirinha que garantam benefícios<br />

culturais conquistados pela UNE e UBES e outros benefícios para eco<strong>no</strong>mizar<br />

dinheiro: “Eu tenho, Eu vou! NA FAIXA! Com a carteira do Estudante Jovem<br />

Pan UNE/UBES você vai às melhores BALADAS e SHOWS EXCLUSIVOS”<br />

(REVISTA CLÁUDIA).<br />

20


Na imagem, observamos a alegria e a satisfação <strong>de</strong> um jovem ao<br />

conseguir vantagem com <strong>de</strong>scontos, utilizando carteiras <strong>de</strong> estudante JOVEM<br />

PAN UNE/UBES. No <strong>discurso</strong> verbal, através do uso pro<strong>no</strong>minal <strong>de</strong> 1ª pessoa<br />

22


do singular, eu e dos verbos ter e ir, EU TENHO, EU VOU, o rapaz afirma<br />

possuir os objetos do anúncio <strong>publicitário</strong> e o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> usufruir das<br />

vantagens oferecidas: na compra <strong>de</strong> livros (Submari<strong>no</strong>), <strong>de</strong> doces (Mr.<br />

Pretzels), <strong>de</strong> roupas (Sibéria, Cavalera), <strong>de</strong> lanches (Baked Potato, The<br />

Fifties) viagens (Central <strong>de</strong> Intercâmbio) divertimentos (Hopi Hari), cursos <strong>de</strong><br />

idiomas (Yázigi), e até mesmo aluguel <strong>de</strong> filmes (Blokbuster), mensalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> aca<strong>de</strong>mias (Bio Ritmo Aca<strong>de</strong>mia) e visitas a motel (Studio A Motel). O<br />

emissor transmite informações sobre o que tem e o que preten<strong>de</strong> realizar.<br />

Através do slogan “EU TENHO”, EU VOU! NA FAIXA!”, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>tectar a<br />

função emotiva da <strong>linguagem</strong>. Daí a imagem refletir as emoções do olhar e do<br />

sorriso do anúncio. Linguagem verbal e visual complementam-se.<br />

O mesmo anúncio <strong>publicitário</strong> apresenta também a função apelativa<br />

ou conativa da <strong>linguagem</strong>, porque a função apelativa tem por objetivo mover o<br />

<strong>de</strong>codificador, o <strong>de</strong>stinatário do código ao consumo <strong>de</strong> mercadorias ou ao uso<br />

<strong>de</strong> serviços. Quando o ato comunicativo externa forte apelo ao receptor, ao<br />

<strong>de</strong>stinatário, ao interlocutor ou <strong>de</strong>codificador da mensagem, dizemos que<br />

predomina a função apelativa ou conativa, quando, na <strong>linguagem</strong>, há por<br />

parte do emissor o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> atuar sobre o receptor, levando-o a uma<br />

mudança <strong>de</strong> comportamento. E isso po<strong>de</strong> acontecer por meios <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m,<br />

um apelo, uma sugestão, uma súplica. Trata-se, portanto, <strong>de</strong> uma função<br />

usada para se atrair a atenção do receptor e influenciá-lo a receber a<br />

mensagem. Na função apelativa, os verbos aparecem <strong>no</strong> modo imperativo e<br />

os vocábulos são cuidadosamente escolhidos a fim <strong>de</strong> envolver o receptor:<br />

23


“Confira algumas vantagens” e são <strong>no</strong>meadas <strong>de</strong>zessete empresas que<br />

oferecem <strong>de</strong>scontos ao receptor. Nesse elenco <strong>de</strong> empresas observa-se a<br />

predominância da função referencial ou informativa.<br />

Não é difícil imaginar que na <strong>linguagem</strong> publicitária a função<br />

apelativa esteja muito presente, pois o objetivo é ven<strong>de</strong>r um bem <strong>de</strong> consumo,<br />

um produto, um serviço, ou uma idéia; é persuadir alguém, é levar alguém a<br />

um comportamento: “Beba Coca-Cola”. Ven<strong>de</strong>r um produto, atingindo, por<br />

exemplo a vaida<strong>de</strong> do leitor: “Não basta um bom shampoo para fazer a<br />

cabeça <strong>de</strong> uma mulher inteligente”; “Durma <strong>no</strong> colchão Castor”. (Revista<br />

Cláudia, <strong>de</strong>zembro 1998)<br />

A função referencial se <strong>de</strong>staca na <strong>linguagem</strong> técnica ou científica,<br />

em que os fatos estão em evidência e <strong>de</strong>vem convencer o <strong>de</strong>stinatário da<br />

mensagem e eventualmente levá-lo a agir. Emissor e receptor ficam em<br />

segundo pla<strong>no</strong>, nem há a preocupação em dar especiais efeitos estilísticos à<br />

mensagem. O verbo está preferencialmente na terceira pessoa e com muita<br />

freqüência na voz passiva, tipo <strong>de</strong> predicado que tem como sujeito o elemento<br />

que na voz ativa é o objeto direto, sendo também freqüente o uso do pro<strong>no</strong>me<br />

oblíquo se.<br />

A função referencial ou informativa, também chamada <strong>de</strong><strong>no</strong>tativa, é<br />

certamente a mais comum, porque é a mais usada <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>. Ela<br />

privilegia o contexto e evi<strong>de</strong>ncia o assunto, o objeto, os fatos, os<br />

juízos. É a <strong>linguagem</strong> da comunicação, das <strong>de</strong>scrições objetivas, das<br />

narrações convencionais, das dissertações, dos ensaios científicos,<br />

do <strong>discurso</strong> jornalístico, da correspondência oficial e comercial etc...<br />

(CAMOCARDI; FLORY, 2003, p.21)<br />

24


Observemos a propaganda seguinte:<br />

25


A referida propaganda é um exemplo da função referencial. Trata-se<br />

da publicida<strong>de</strong> do Programa do Gover<strong>no</strong> em parceria com o Banco do Brasil<br />

para financiamentos: “Márcia sempre sonhou em ter oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar.<br />

O pai <strong>de</strong> Márcia foi ao Banco do Brasil e com os recursos do PRONAF,<br />

Programa Social do Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral, fez um financiamento, aumentou a<br />

produção da sua proprieda<strong>de</strong> e, assim, teve condições <strong>de</strong> realizar o sonho da<br />

sua filha: entrar para a Faculda<strong>de</strong>, hoje, além <strong>de</strong> estudar, Márcia po<strong>de</strong> contar<br />

as vantagens da conta Universitária do Banco do Brasil para ajudar na sua<br />

formação. É assim que o Banco do Brasil está ajudando a construir um Brasil<br />

melhor.” O <strong>discurso</strong> não verbal apresenta Márcia sonhando que está<br />

freqüentando Faculda<strong>de</strong> e prestando atenção às aulas e em <strong>de</strong>staque mostra<br />

como é o Cartão do Banco do Brasil que ela obterá para receber seu<br />

financiamento, caso venha a inscrever-se nesse programa. Esta função se<br />

<strong>de</strong>staca pelo gran<strong>de</strong> teor <strong>de</strong> informação; os verbos estão na voz ativa: “O pai<br />

<strong>de</strong> Márcia foi ao Banco do Brasil...” “fez um financiamento... aumentou a<br />

produção... teve condições <strong>de</strong> realizar o sonho... Márcia po<strong>de</strong> contar...”<br />

Na função poética, a mensagem é posta em <strong>de</strong>staque. O emissor<br />

tem um cuidado especial na escolha das palavras, realçando sons que<br />

proporcionam significados diversos e empregando imagens sugestivas, a fim<br />

<strong>de</strong> expressar ou enfatizar a sua mensagem.<br />

Tome-se como exemplo o anúncio <strong>publicitário</strong> <strong>de</strong> Guttalax, cujo<br />

slogan é “A in<strong>de</strong>pendência é uma pérola”, que apresenta como recurso<br />

estilístico a metáfora in praesentia (“em presença”), na comparação<br />

26


estabelecida entre “in<strong>de</strong>pendência” e “pérola”.<br />

A preocupação com a elaboração da mensagem não é<br />

característica exclusiva dos textos literários. Para auxiliar a memorização, por<br />

exemplo, os anúncios <strong>publicitário</strong>s exploram a repetição so<strong>no</strong>ra, como<br />

acontece neste texto: “Nunca tanta gente se juntou para ajudar <strong>no</strong> seu<br />

trabalho” (SERRANA – ao lado <strong>de</strong> quem produz). A repetição dos fonemas<br />

linguo<strong>de</strong>natis /tê/ (tanta – gente – juntou – trabalho); e constritivos /gê/ (gente,<br />

juntou), que constituem <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> aliteração e as vogais nasais /û/ã/ê/ que<br />

emprestam musicalida<strong>de</strong> ao texto verbal. Encontramos a mesma exploração<br />

da <strong>linguagem</strong> com a presença marcante da função poética em propagandas<br />

políticas.<br />

É importante ressaltar que, em um mesmo texto, po<strong>de</strong>m coexistir<br />

mais <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>. Todo texto informa alguma coisa; logo, a<br />

função referencial está sempre presente. Igualmente a função poética se faz<br />

presente em textos artísticos ou literários. Assim, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da intenção do<br />

emissor ao elaborar sua mensagem, po<strong>de</strong> predominar uma ou outra função<br />

da <strong>linguagem</strong> num texto ou numa fala em que estejam sendo empregadas<br />

várias <strong>de</strong>las.<br />

Quando os enunciados procuram averiguar se o contato com o<br />

interlocutor está vivo, se o canal <strong>de</strong> comunicação está operando, fala-se em<br />

função fática.<br />

A função fática é predominante quando, num texto, emprega-se a<br />

<strong>linguagem</strong> para iniciar, prolongar, verificar, testar ou interromper a própria<br />

27


comunicação. Esta função põe o canal <strong>de</strong> comunicação em <strong>de</strong>staque,<br />

verificando se o contato entre o emissor e o receptor continua sendo mantido.<br />

Na função fática, muitas vezes, ocorrem frases vazias, sem significado, que<br />

servem apenas para manter a conversação. Exemplo: “Afinida<strong>de</strong> é o que liga<br />

Roberto à Cláudia. I<strong>no</strong>vação é o que liga os dois à CTBC. Soluções em<br />

telefonia fixa, celular, internet banda larga e data center que <strong>de</strong>ixam a<br />

comunicação simples. Para cada um falar do seu jeito. CTBC – A GENTE<br />

FALA DO SEU JEITO”.<br />

28


No texto, <strong>no</strong>ta-se o objetivo <strong>de</strong> pôr em <strong>de</strong>staque o canal <strong>de</strong><br />

comunicação, em face da forte insistência em manter evi<strong>de</strong>nte o contato entre<br />

emissor e o receptor. Por isso, dizemos que há predomínio, portanto, da<br />

função fática da <strong>linguagem</strong>.<br />

função.<br />

No <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> encontramos muitos exemplos <strong>de</strong>ssa<br />

A função metalingüística ocorre quando se discorre sobre o próprio<br />

código. É, na verda<strong>de</strong>, a própria <strong>linguagem</strong> que está em jogo. O emissor<br />

utiliza-se <strong>de</strong>la para transmitir ao receptor suas reflexões sobre ela mesma.<br />

Assim, o próprio código lingüístico é discutido e posto em <strong>de</strong>staque. Tome-se<br />

como exemplo a <strong>de</strong>finição ou conceito <strong>de</strong> um vocábulo.<br />

O texto do lingüista brasileiro Francisco da Silva Borba (apud<br />

Mesquita, 2000, p.30) comprova <strong>no</strong>ssas afirmações:<br />

(...) Se a <strong>linguagem</strong> é ativida<strong>de</strong> mental e é capaz <strong>de</strong> expressar<br />

estados mentais, logo verificamos que <strong>linguagem</strong> e pensamento se<br />

relacionam muito estreitamente. Um <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do outro para<br />

<strong>de</strong>senvolver-se em larga escala. O pensamento só é exteriorizado<br />

pela <strong>linguagem</strong>.<br />

O lingüista, ao discutir a <strong>linguagem</strong>, utilizou-se <strong>de</strong>la própria para<br />

levar o receptor às suas reflexões. Nota-se, por exemplo, o emprego da<br />

função metalingüística em um texto em prosa ou não, que discuta a criação<br />

artística em si; um programa <strong>de</strong> televisão que <strong>de</strong>bata sua função educativa;<br />

um filme que questione a própria arte cinematográfica; livros <strong>de</strong> lingüística ou<br />

29


gramática que procurem estabelecer princípios para os diversos usos <strong>de</strong><br />

<strong>linguagem</strong>. Também os dicionários são exemplos do uso da função<br />

metalingüística.<br />

Destaca-se a importância da função estética na <strong>linguagem</strong><br />

publicitária porque essa função chama a atenção para o texto, para o código.<br />

As pessoas recebem muitos estímulos através <strong>de</strong> mensagens publicitárias,<br />

pois elas <strong>de</strong>spertam e pren<strong>de</strong>m a atenção do leitor, fazendo-o memorizar a<br />

mensagem. E isso se consegue com recursos que dão <strong>de</strong>staque ao código<br />

lingüístico, e com recursos que põem em evidência a mensagem, cujo<br />

objetivo é chocar ou causar estranhamento.<br />

Causar estranhamento <strong>no</strong> leitor não é só função da metáfora ou da<br />

metonímia ou ainda da <strong>linguagem</strong> figurada em geral. Muitos outros recursos<br />

têm esse objetivo. Averiguar quais são esses recursos, <strong>de</strong>screvê-los e,<br />

analisar anúncios <strong>publicitário</strong>s nas linguagens verbal e visual são os objetivos<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

Recursos <strong>de</strong> que se serve a <strong>linguagem</strong> publicitária para sua função<br />

estética ou poética são, entre outros, as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> harmonia, como a<br />

paro<strong>no</strong>másia, a aliteração, a sinestesia, a assonância; as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong><br />

construção, como: anadiplose, trocadilho, diácope, epizeuxe, pleonasmo,<br />

hipérbato, silepse; as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> pensamento: ironia, antítese, alusão,<br />

comparação, hipérbole; os tropos: imagem, metáfora, metonímia, símbolo,<br />

etc.; aspectos sintáticos, aspectos semânticos, <strong>linguagem</strong> figurada, letras ou<br />

combinações <strong>de</strong> letras que vamos chamar <strong>de</strong> exóticas, o jogo com a palavra e<br />

30


com a frase feita (TAVARES, 1978, p.328-329).<br />

Alguns recursos lingüísticos também po<strong>de</strong>m ser usados <strong>no</strong> <strong>discurso</strong><br />

<strong>publicitário</strong> como a paro<strong>no</strong>másia, com o jogo <strong>de</strong> verbos: “ A mamãe disse para<br />

que <strong>no</strong>s amássemos e não para que <strong>no</strong>s amassemos” (Revista Cláudia,<br />

<strong>de</strong>zembro 1998, p.34) “Comparar antes <strong>de</strong> comprar”; outros recursos<br />

freqüentes em textos <strong>de</strong> propaganda e que visam dar ênfase à forma <strong>de</strong><br />

comunicação são a rima, o ritmo e as aliterações, recursos todos que visam<br />

pren<strong>de</strong>r a atenção do receptor, fazê-lo ocupar-se com a mensagem, ajudá-lo<br />

a memorizá-la e, por fim, persuadi-lo a agir.<br />

1.3 Mensagens Verbal e Visual<br />

Na <strong>no</strong>ssa cultura, a combinação <strong>de</strong> texto verbal e ilustração torna-se<br />

cada vez mais importante. De um lado temos um texto com recursos<br />

lingüísticos para o <strong>de</strong>senvolvimento do anúncio <strong>publicitário</strong> com o objetivo <strong>de</strong><br />

provocar mudanças <strong>de</strong> opinião <strong>no</strong>s leitores e por outro, linguagens não<br />

verbais que expressam sentido e utilizam também sig<strong>no</strong>s lingüísticos, com a<br />

diferença <strong>de</strong> que, na <strong>linguagem</strong> verbal, os sig<strong>no</strong>s são sons da língua<br />

(palavras), e <strong>no</strong> <strong>discurso</strong> não verbal os sig<strong>no</strong>s são explorados <strong>de</strong> forma<br />

imagética, so<strong>no</strong>ra, pela cor, pelo movimento.<br />

Quando o texto e imagem coinci<strong>de</strong>m <strong>no</strong>s veículos impressos, a<br />

relação mais freqüente entre um e outra é o que Barthes (apud<br />

31


VESTERGAARD & SCHODER, 2000, p.31) chama <strong>de</strong> ancoragem, que<br />

significa um elo entre a imagem e a situação espacial e temporal que os<br />

meios puramente visuais <strong>de</strong> expressão não permitem estabelecer. Abrange<br />

tudo o que, <strong>no</strong> texto, apóia a imagem na realida<strong>de</strong>, ajudando-<strong>no</strong>s a interpretá-<br />

la. O texto também seleciona uma entre várias interpretações possíveis da<br />

imagem, razão pela qual se po<strong>de</strong> dizer que, enquanto uma imagem em si<br />

mesma é sempre neutra, se tiver título ou legenda nunca o será.<br />

Nesta função <strong>de</strong> ancoragem, o papel da <strong>linguagem</strong> é substituir a<br />

imagem ou completar seu sentido, elucidar em nível <strong>de</strong><strong>no</strong>tativo e co<strong>no</strong>tativo 1<br />

e agir como orientadora da significação. Na imagem, estão subentendidos<br />

seus significantes, uma re<strong>de</strong> flutuante <strong>de</strong> significados 2 dos quais o leitor<br />

escolhe uns e rejeita outros, orientado pelo texto lingüístico que a acompanha.<br />

Segundo Barthes (1971), a <strong>linguagem</strong> tem o papel <strong>de</strong> sustentar a<br />

mensagem visando i<strong>de</strong>ntificar os elementos da percepção <strong>de</strong><strong>no</strong>tativa icônica 3<br />

e evitar erros <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação trazidos pelas várias leituras possíveis.<br />

O que importa na realização da mensagem publicitária é a<br />

organização <strong>de</strong> processos para torná-la criativa, estruturada e com raciocínio<br />

1 De<strong>no</strong>tação: “é a relação existente entre o pla<strong>no</strong> da expressão e o pla<strong>no</strong> do conteúdo. Desse modo, significado<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>no</strong>tativo é aquele conceito que um certo significante evoca <strong>no</strong> receptor. Em outras palavras, é o conceito ao<br />

qual <strong>no</strong>s remete um certo significante”. (PLATÃO & FIORIN, 2000, p.113)<br />

Co<strong>no</strong>tação: “Um termo ou uma palavra, além do seu significado <strong>de</strong><strong>no</strong>tativo, po<strong>de</strong> vir acrescido <strong>de</strong> outros<br />

significados paralelos, po<strong>de</strong> vir carregado <strong>de</strong> impressões, valores afetivos, negativos e positivos. Assim, sobre<br />

um sig<strong>no</strong> lingüístico, dotado <strong>de</strong> um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> expressão e um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> conteúdo, po<strong>de</strong>-se construir outro pla<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> conteúdo constituído <strong>de</strong> valores sociais, <strong>de</strong> impressões e reações psíquicas que um sig<strong>no</strong> <strong>de</strong>sperta. Esses<br />

valores sobrepostos ao sig<strong>no</strong> constituem aquilo que <strong>de</strong><strong>no</strong>minamos <strong>de</strong> sentido co<strong>no</strong>tativo e esse acréscimo <strong>de</strong><br />

um <strong>no</strong>vo conteúdo constitui a co<strong>no</strong>tação”. (PLATÃO & FIORIN, 2000, p.114)<br />

2 Significado é o efeito direto realmente produzido <strong>no</strong> intérprete pelo sig<strong>no</strong>; é aquilo que é concretamente<br />

experimentado em cada ato <strong>de</strong> interpretação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo portanto do intérprete e da condição do ato e sendo<br />

diferente <strong>de</strong> outra interpretação. Significante, parte fônica, ou imagem acústica <strong>de</strong> um fonema ou seqüência <strong>de</strong><br />

fonemas provido <strong>de</strong> significação. (COELHO NETTO, 2001, p.72)<br />

3 Ícone é um sig<strong>no</strong> cuja conexão com o objeto repousa num certo tipo <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>. (VESTERGAARD &<br />

SCHRODER, 2000, p.35)<br />

32


para provocar <strong>no</strong> leitor mudanças <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong> sentimentos, a fim <strong>de</strong><br />

convencê-lo a assumir <strong>de</strong>terminados comportamentos sobre um produto ou<br />

serviço.<br />

Erros são corrigidos, palavras são substituídas e termos<br />

<strong>de</strong>snecessários são retirados <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> elaboração do texto com o<br />

objetivo <strong>de</strong> realizá-lo com características próprias da publicida<strong>de</strong>, pelo fato <strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>stinado a controlar o comportamento, direcionar e sugerir <strong>de</strong>cisões. Na<br />

organização da mensagem publicitária importa sobretudo o que é oferecido e<br />

como é oferecido, é o conteúdo e a expressão da mensagem (MARTINS,<br />

1997, p.39).<br />

O pla<strong>no</strong> do conteúdo é o relato <strong>de</strong> fatos que <strong>de</strong>monstram a idéia<br />

central ou tema. A disposição do enunciado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da criativida<strong>de</strong><br />

do redator e <strong>de</strong>ve constituir a estrutura interna do texto formada por<br />

segmentos que convergem em seqüências lógicas para o tema ou<br />

núcleo. O pla<strong>no</strong> da expressão é a forma, ou texto significante. A<br />

expressão é o texto perceptível revelador <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> que<br />

utiliza os sig<strong>no</strong>s lingüísticos como instrumental, <strong>no</strong>s três níveis, o dos<br />

sons ou fonemas; o das apalavras; o das frases ou construções.<br />

(MARTINS, 1997, p.39)<br />

O conteúdo é formado por elementos que se referem às<br />

características objetivas e reais do produto-objeto do anúncio, a seus valores<br />

racionais e concretos, como os valores dirigidos às faculda<strong>de</strong>s psíquicas dos<br />

receptores. E também os processos argumentativos e os juízos que acionam,<br />

como instrumentos, os campos da significação e da expressão das idéias.<br />

Essas partes do conteúdo apresentam-se em conjunto para explicar,<br />

comprovar e complementar o tema, compondo o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> significação. Esta<br />

33


significação é reforçada por co<strong>no</strong>tações e recursos utilizados pelo redator,<br />

alcançando as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> e transformações <strong>de</strong>vidas, para transmitir<br />

idéias.<br />

Quanto ao pla<strong>no</strong> da expressão, utilizam-se elementos que<br />

constituem a forma expressiva, e que resi<strong>de</strong>m <strong>no</strong>s campos da morfologia e da<br />

sintaxe. A forma criativa aproveita os recursos lingüísticos para aprimorar a<br />

expressão do pensamento tais como: rimas, paro<strong>no</strong>másia, ritmo e outros<br />

recursos estilísticos e estéticos.<br />

Depois <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações sobre as mensagens verbal e visual,<br />

ressaltamos que outra intenção <strong>de</strong>ste trabalho é verificar qual é o lugar das<br />

<strong>de</strong>terminações i<strong>de</strong>ológicas neste complexo fenôme<strong>no</strong> que é a <strong>linguagem</strong>,<br />

analisar como a <strong>linguagem</strong> veicula a i<strong>de</strong>ologia, mostrar o que é o i<strong>de</strong>ologizado<br />

na <strong>linguagem</strong>; estes são os objetivos do próximo capítulo.<br />

34


2 IDEOLOGIA E PERSUASÃO NO DISCURSO PUBLICITÁRIO<br />

2.1 Discurso Publicitário e I<strong>de</strong>ologia<br />

Os aspectos que po<strong>de</strong>m interessar ao estudo do <strong>discurso</strong><br />

<strong>publicitário</strong> são o jurídico, o ético e o sociológico. Como aspecto sociológico,<br />

<strong>de</strong>staca-se a i<strong>de</strong>ologia ou os valores que ganham ênfase <strong>no</strong> <strong>discurso</strong><br />

<strong>publicitário</strong>, por seu reflexo sobre a <strong>linguagem</strong>. Aspectos éticos são, por<br />

exemplo, os que levaram à suspensão, pelo CONAR (Conselho Nacional <strong>de</strong><br />

Auto-Regulamentação Publicitária), <strong>de</strong> anúncios <strong>publicitário</strong>s das indústrias <strong>de</strong><br />

bebidas, cigarros, roupas, entre outros. Como exemplo, temos uma campanha<br />

publicitária da conhecida marca <strong>de</strong> roupas “BENETON”, exibida em vários<br />

países, que foi objeto <strong>de</strong> ação cautelar movida pelo Ministério Público <strong>de</strong> São<br />

Paulo, objetivando a sustação <strong>de</strong> sua veiculação. A peça publicitária mostrava<br />

a fotografia <strong>de</strong> um paciente <strong>de</strong> AIDS <strong>no</strong> exato momento <strong>de</strong> sua morte.<br />

A <strong>linguagem</strong> publicitária é, até certo ponto, reflexo e expressão da<br />

i<strong>de</strong>ologia dominante dos valores em que se acredita; ela manifesta a maneira<br />

<strong>de</strong> ver o mundo <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> em certo espaço da história. Segundo o<br />

Dicionário da Língua Portuguesa, <strong>de</strong> Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holanda Ferreira,<br />

i<strong>de</strong>ologia é<br />

[...] pensamento teórico que preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se sobre seus<br />

próprios princípios abstratos, mas que, na realida<strong>de</strong>, é a expressão<br />

<strong>de</strong> fatos, principalmente sociais e econômicos, que são levados em<br />

conta ou não são expressamente reconhecidos como <strong>de</strong>terminantes<br />

35


daqueles pensamento. (1986, p.913)<br />

No Dicionário Houaiss <strong>de</strong> Língua Portuguesa (2001, p.1565),<br />

i<strong>de</strong>ologia po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como<br />

[...] sistema <strong>de</strong> idéias (crenças, tradições, princípios e mitos)<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, sustentadas por um grupo social <strong>de</strong> qualquer<br />

natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />

os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes<br />

morais, religiosos, políticos ou econômicos // p.ext. conjunto <strong>de</strong><br />

convicções filosóficas, sociais, políticas, etc., <strong>de</strong> um indivíduo ou<br />

grupo <strong>de</strong> indivíduos.<br />

Como não existe conhecimento neutro, uma vez que todo<br />

conhecimento encontra-se comprometido com interesses sociais, po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>duzir que i<strong>de</strong>ologia, por ser um sistema <strong>de</strong> idéias <strong>de</strong> um indivíduo ou grupo<br />

social, é visão <strong>de</strong> mundo. É, pois, o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um indivíduo, <strong>de</strong> uma<br />

classe social, <strong>de</strong> uma empresa ou <strong>de</strong> uma instituição a respeito da realida<strong>de</strong>.<br />

É a maneira como uma classe or<strong>de</strong>na, justifica e explica a or<strong>de</strong>m social.<br />

Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir, portanto, que há tantas visões <strong>de</strong> mundo quantas foram as<br />

classes sociais.<br />

Esses valores aceitos pela socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstrados através <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> idéias que servem para justificar e explicar a or<strong>de</strong>m social, as<br />

condições <strong>de</strong> vida do homem e as relações que ele mantém com os outros<br />

homens, é o que se chama i<strong>de</strong>ologia.<br />

A i<strong>de</strong>ologia pertence ao domínio do senso comum e, por sua vez, o<br />

conceito do senso comum <strong>no</strong>s permite alcançar a essência da i<strong>de</strong>ologia como<br />

aquilo que é, ao mesmo tempo, visível para todos e invisível por seu caráter<br />

36


óbvio, como <strong>no</strong> exemplo <strong>de</strong> anúncios <strong>publicitário</strong>s que possuem a figura da<br />

mãe, em que a reação reflete na crença inata <strong>de</strong> que os laços entre mãe e<br />

filho são tão fortes que nada po<strong>de</strong> rompê-los e que a diferença entre amor<br />

mater<strong>no</strong> e amor pater<strong>no</strong> não é <strong>de</strong> grau, mas <strong>de</strong> gênero. Em <strong>no</strong>ssa socieda<strong>de</strong>,<br />

a i<strong>de</strong>ologia do amor mater<strong>no</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como o esteio da estrutura<br />

da família tradicional e do acesso ao amor-próprio da mulher eco<strong>no</strong>micamente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Em <strong>no</strong>ssos dias, alguns homens encararão os sagrados laços<br />

mater<strong>no</strong>s como uma prerrogativa feminina que gostariam <strong>de</strong> compartilhar.<br />

Em resumo, reconhecemos que a i<strong>de</strong>ologia é um componente<br />

necessário da vida humana, pois se não <strong>no</strong>s apegássemos a certas atitu<strong>de</strong>s<br />

fundamentais e formas <strong>de</strong> pensar, <strong>no</strong>ssa consciência estaria num fluxo<br />

constante, que <strong>no</strong>s paralisaria por completo. Devemos lembrar que até<br />

mesmo os <strong>no</strong>ssos valores fundamentais são produto do conhecimento<br />

huma<strong>no</strong> e dos processos culturais e, como tal, estão sujeitos a mudanças.<br />

Po<strong>de</strong>mos afirmar que o conhecimento está ligado ao interesse social e<br />

portanto à visão que cada um tem do mundo, o seu ponto <strong>de</strong> vista.<br />

Uma formação i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong>ver ser entendida como a visão <strong>de</strong><br />

mundo <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada classe social, isto é, um conjunto <strong>de</strong><br />

representações, <strong>de</strong> idéias que revelam a compreensão que uma<br />

dada classe tem do mundo. A cada formação i<strong>de</strong>ológica correspon<strong>de</strong><br />

uma formação discursiva, pois não existem idéias fora dos quadros<br />

da <strong>linguagem</strong>. (CAMOCARDI; FLORY, 2003,p.64)<br />

O estudo da i<strong>de</strong>ologia está ligado com os do sig<strong>no</strong>, portanto, esta<br />

questão será tratada <strong>no</strong> item seguinte, uma vez que entre eles há uma<br />

37


elação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência que será <strong>de</strong>scrita.<br />

2.2 Sig<strong>no</strong> e I<strong>de</strong>ologia<br />

Não é possível afastar o estudo da i<strong>de</strong>ologia e o estudo dos sig<strong>no</strong>s,<br />

pois a questão do sig<strong>no</strong> se prolonga na questão das i<strong>de</strong>ologias, há entre<br />

ambos uma relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência tal que <strong>no</strong>s levaria a crer que só é<br />

possível o estudo dos valores e idéias contidas <strong>no</strong>s <strong>discurso</strong>s atentando para<br />

a natureza dos sig<strong>no</strong>s que os constroem. Assim sendo, os recursos retóricos<br />

que entram na organização <strong>de</strong> um texto não seriam meros recursos formais,<br />

jogos visando <strong>de</strong>ixar a frase com mais palavras bonitas; ao contrário, o modo<br />

<strong>de</strong> dispor o sig<strong>no</strong>, a escolha <strong>de</strong> um ou outro recurso lingüístico, revelaria<br />

múltiplos comprometimentos <strong>de</strong> cunho i<strong>de</strong>ológico.<br />

A relação entre sig<strong>no</strong> e i<strong>de</strong>ologia ocorre <strong>no</strong>s dizeres <strong>de</strong> Bakhtin<br />

(apud CITELLI, 2002, p.27):<br />

Um produto i<strong>de</strong>ológico faz parte <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> (natural ou social)<br />

como todo corpo físico, instrumento <strong>de</strong> produção ou produto <strong>de</strong><br />

consumo; mas, ao contrário <strong>de</strong>stes, ele também reflete e refrata uma<br />

outra realida<strong>de</strong>, que lhe é exterior. Tudo que é i<strong>de</strong>ológico possui um<br />

significado e remete a algo situado fora <strong>de</strong> si mesmo. Em outros<br />

termos, tudo que é i<strong>de</strong>ológico é um sig<strong>no</strong>. Sem sig<strong>no</strong>s não existe<br />

i<strong>de</strong>ologia.<br />

Observemos o seguinte exemplo: uma pomba é uma ave, e outro<br />

significado não extraímos senão <strong>de</strong> uma ave, contudo, a mesma ave posta<br />

em outro contexto, em outra situação po<strong>de</strong> produzir idéias ou valores que<br />

estão situados fora <strong>de</strong> si mesmos, refletindo e refratando outra realida<strong>de</strong>, será<br />

38


convertida em sig<strong>no</strong>. A pomba como símbolo da paz, ganha dimensão<br />

i<strong>de</strong>ológica. A i<strong>de</strong>ologia transitou através dos sig<strong>no</strong>s. Tal fato po<strong>de</strong> ser<br />

observado <strong>no</strong> exemplo do anúncio <strong>publicitário</strong> da LG com o seguinte <strong>discurso</strong><br />

verbal: “SUA MÃE JÁ SEGUROU MUITAS BARRAS. MAS NENHUMA IGUAL<br />

A ESTA”. No <strong>discurso</strong> não verbal aparece a mãe com uma barra <strong>de</strong> ouro na<br />

mão e o filho com os cabelos espetados, tatuagem, <strong>de</strong>monstrando ser uma<br />

pessoa fora dos padrões tidos como <strong>no</strong>rmais. Então o sentido <strong>de</strong> “BARRAS”<br />

seria o <strong>de</strong> ajudar em momentos difíceis ocasionados por ações <strong>de</strong>saprováveis<br />

ou ruins praticados pelo filho, mas observando a imagem <strong>no</strong>tamos que é<br />

simplesmente o sentido literal da palavra barras <strong>de</strong> ouro.<br />

39


Conforme já havíamos <strong>de</strong>stacado em relação ao sig<strong>no</strong> “pomba”, <strong>no</strong><br />

anúncio da LG, também a i<strong>de</strong>ologia transitou através dos sig<strong>no</strong>s. Há alguns<br />

exemplos <strong>de</strong> instrumentos, ou até mesmo produtos <strong>de</strong> consumo, que<br />

per<strong>de</strong>ram seu sentido inicial para se transformarem em sig<strong>no</strong>s, ou seja,<br />

passaram a funcionar como veículos <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias, como o<br />

pão e o vinho para os cristãos; a balança para a justiça, a maçã para o<br />

pecado.<br />

O sig<strong>no</strong> nasce e se <strong>de</strong>senvolve em contato com as organizações<br />

40


sociais, por isso só po<strong>de</strong> ser pensado socialmente, contextualmente. Dessa<br />

forma, cria-se uma relação estreita entre a formação da consciência individual<br />

e o universo dos sig<strong>no</strong>s; só po<strong>de</strong>mos pensar a formação da consciência<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um prisma concreto, <strong>de</strong>rivado, <strong>no</strong> embate entre os sig<strong>no</strong>s.<br />

As palavras nascem neutras, mais ou me<strong>no</strong>s como estão em estado<br />

<strong>de</strong> dicionário, porém ao se contextualizarem, passam a expandir valores,<br />

conceitos, pré-conceitos. Vivemos em contato com outros homens, mediados<br />

pelas palavras, que irão <strong>no</strong>s informar e formar; as palavras serão por nós<br />

absorvidas, transformadas e reproduzidas, criando um circuito <strong>de</strong> formação e<br />

reformulação <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas consciências. As palavras, <strong>no</strong> contexto, per<strong>de</strong>m sua<br />

neutralida<strong>de</strong> e passam a indicar aquilo a que chamamos propriamente <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ologias; numa síntese: o sig<strong>no</strong> forma a consciência que por seu tur<strong>no</strong> se<br />

expressa i<strong>de</strong>ologicamente.<br />

Para se verificar a construção do <strong>discurso</strong> persuasivo, é necessário<br />

reconhecer a organização e a natureza dos sig<strong>no</strong>s lingüísticos, pois é a inter-<br />

relação dos sig<strong>no</strong>s que produz a frase, o período, o texto. Po<strong>de</strong>-se afirmar,<br />

segundo Ferdinan<strong>de</strong> Saussure, que:<br />

O significante é o aspecto concreto do sig<strong>no</strong>, é a sua realida<strong>de</strong><br />

material, ou imagem acústica. O que constitui o significante é o<br />

conjunto so<strong>no</strong>ro, fônico que torna o sig<strong>no</strong> audível ou legível. O<br />

significado é o aspecto imaterial, conceitual do sig<strong>no</strong> e que remete a<br />

<strong>de</strong>terminada representação mental evocada pelo significante.<br />

(SAUSSURE, 1973, p.26)<br />

Tomemos como exemplo, a palavra cabeça tem por significante um<br />

41


aspecto concreto; conjunto so<strong>no</strong>ro, C A B E Ç A; como significado, o aspecto<br />

conceitual, imagem mental; aspecto abstrato. O significante engloba aspectos<br />

constitutivos <strong>de</strong> uma mesma unida<strong>de</strong>. Ao anunciarmos a palavra cabeça, o<br />

fazemos relacionando conjunto so<strong>no</strong>ro e imagem mental. Dizemos,<br />

conseqüentemente, que a palavra cabeça possui uma significação. Na frase:<br />

“A cabeça é um órgão do corpo huma<strong>no</strong>”, a cabeça já produz uma<br />

significação, um sentido; ou se quisermos, representa mentalmente aquilo que<br />

a forma lingüística está evocando. A significação é, portanto, uma espécie <strong>de</strong><br />

produto final da relação existente entre o significado e o significante.<br />

Segundo Ullman (apud CITELLI, 2002) os objetos só se relacionam<br />

com os <strong>no</strong>mes através do sentido e, visto que “as palavras estão sempre em<br />

lugar das coisas e não nas coisas”, po<strong>de</strong>-se assegurar que a palavra<br />

apresenta, como um <strong>de</strong> seus aspectos básicos, um caráter simbólico.<br />

Além da i<strong>de</strong>ologia, também a persuasão é um fator importante que<br />

será tratado <strong>no</strong> tópico seguinte, pois leva o consumidor a se convencer com o<br />

objetivo <strong>de</strong> adquirir o produto ou o serviço.<br />

2.3 Persuasão <strong>no</strong> Texto Publicitário<br />

Na opinião <strong>de</strong> Vestergaard & Schro<strong>de</strong>r (2000), a publicida<strong>de</strong><br />

constitui uma maneira pública <strong>de</strong> comunicação verbal e não verbal e <strong>no</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>ssa função ela tem <strong>de</strong> operar como <strong>discurso</strong> informativo e<br />

<strong>discurso</strong> persuasivo, tendo como principais funções a referencial e a<br />

42


apelativa. Como <strong>discurso</strong> informativo, a publicida<strong>de</strong> cumpre sua principal<br />

finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir significação; para tanto, lança mão <strong>de</strong> variados<br />

recursos, tanto visuais, quanto verbais e so<strong>no</strong>ros. Com recursos visuais, ela<br />

apresenta o produto ou sua imagem, <strong>de</strong>staca ou enfatiza o produto com jogo<br />

<strong>de</strong> cores, formas, volumes. Com os recursos lingüísticos, a significação<br />

advém <strong>de</strong> textos – slogans e inscrições – que <strong>de</strong>monstram os resultados e<br />

benefícios do produto, <strong>de</strong>screvem suas características e atributos.<br />

Como <strong>discurso</strong> persuasivo, ou <strong>de</strong> convencimento, a publicida<strong>de</strong><br />

recorre a apelos verbais ou visuais que objetivam fazer acreditar naquilo a<br />

que se propõe através da idéia básica ou tema. Estes apelos po<strong>de</strong>m vir<br />

concretizados em imagens, formas, cores, volumes, gestos, olhares,<br />

expressão corporal em rostos belos, ou partes do corpo, em ídolos, artistas,<br />

heróis, esportistas e em ambientes sugestivos, elegantes, capazes <strong>de</strong> traduzir<br />

sensualida<strong>de</strong>, charme, erotismo, beleza, po<strong>de</strong>r, esportivida<strong>de</strong> e prestígio. A<br />

publicida<strong>de</strong> recorre também a recursos apelativos <strong>de</strong> natureza lingüística e<br />

lógica, como <strong>de</strong>poimentos testemunhais, ou citações, argumentos racionais<br />

baseados em dados concretos, <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> causa/efeito irrefutáveis e<br />

elementos expressivos e emotivos, como as <strong>figuras</strong> estilísticas.<br />

A persuasão publicitária po<strong>de</strong> acontecer também pela predisposição<br />

do consumidor em aceitar a mensagem. Para tanto, po<strong>de</strong>rá criar clima<br />

fantasioso em que é apresentado o produto como sedutor, como<br />

proporcionador <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida, ambiente dos sonhos, capaz <strong>de</strong> envolver e<br />

excitar o consumidor, provocar satisfação <strong>de</strong> prazer pela posse e uso do<br />

43


produto, ou por elogios. Também através <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> positiva, que promove<br />

o prazer, a alegria, a saú<strong>de</strong>, a beleza. Portanto, as finalida<strong>de</strong>s da mensagem<br />

publicitária são: informar sobre algum produto ou serviço, persuadir para<br />

mover as pessoas a tomarem <strong>de</strong>cisões e fazer agir, adquirir o produto ou<br />

serviço. Por outro lado também, po<strong>de</strong>-se produzir um anúncio rompedor <strong>de</strong><br />

certas <strong>no</strong>rmas preestabelecidas, causando um forte impacto <strong>no</strong> receptor<br />

através <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> estranhamento, situações incômodas, que levam,<br />

muitas vezes, à indagação ou à pura indignação. Particularmente em um<br />

momento em que se opera uma certa re<strong>de</strong>mocratização da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira é possível à publicida<strong>de</strong> mexer com temas tabus, como o do<br />

homossexualismo, do complexo <strong>de</strong> Édipo, temas esses que provocam<br />

incômodo em boa parte dos receptores e talvez por isso mesmo consigam se<br />

afirmar persuasivamente.<br />

O texto <strong>publicitário</strong> nasce <strong>de</strong> raciocínios, i<strong>de</strong>ologia e argumentação<br />

e da alquimia verbal e não verbal advinda do conjunto <strong>de</strong> efeitos retóricos da<br />

<strong>linguagem</strong>. Observe-se o anúncio seguinte divulgado em televisão e revistas:<br />

“Nove entre <strong>de</strong>z estrelas do cinema usam LUX”.<br />

O slogan apresenta um raciocínio lógico, em forma <strong>de</strong> silogismo,<br />

com premissa me<strong>no</strong>r e conclusão implícita, mas que po<strong>de</strong>m ser facilmente<br />

<strong>de</strong>duzidas da premissa maior e como <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica apresenta a<br />

comparação implícita e a hipérbole. No exemplo em apreço, o anúncio do<br />

sabonete LUX procura persuadir a leitora a comprar o produto para se tornar<br />

também “uma estrela”.<br />

44


Encerradas <strong>no</strong>ssas observações sobre a persuasão <strong>no</strong> texto<br />

<strong>publicitário</strong>, passaremos, <strong>no</strong> próximo capítulo, a traçar um pa<strong>no</strong>rama da<br />

retórica e trataremos da sua importância para a publicida<strong>de</strong>.<br />

3 ARTE DA RETÓRICA<br />

3.1 Elementos Históricos: da Retórica Clássica à Retórica Mo<strong>de</strong>rna<br />

Conforme Citelli (2002), o estudo da persuasão pressupõe<br />

45


conhecimento sobre o <strong>discurso</strong> praticado na Antigüida<strong>de</strong> Clássica, pois o<br />

domínio da expressão verbal nasceu entre os gregos, brotando da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exposição pública das idéias para justificar uma certa<br />

<strong>de</strong>mocracia. Ao orador grego competia o manejo das formas <strong>de</strong><br />

argumentação, originando-se daí toda a tradição dos tribu<strong>no</strong>s e dos sofistas<br />

que, em praças públicas, tribunais ou foros, intentavam inflamar multidões,<br />

buscando alterar pontos <strong>de</strong> vista e mudar conceitos pré-formados.<br />

Demóstenes, Quintilia<strong>no</strong>, Górgias foram alguns dos <strong>no</strong>mes que se<br />

celebrizaram pela habilida<strong>de</strong> com que encaminhavam suas lógicas<br />

interpretativas.<br />

Uma vez que na Grécia clássica havia a preocupação com a<br />

estruturação do <strong>discurso</strong>, as escolas criaram disciplinas que melhor<br />

ensinassem as artes <strong>de</strong> domínio das palavras como a eloqüência, a<br />

gramática, a retórica, atestando algumas das evidências do conjunto <strong>de</strong><br />

preocupações que marcaram a relação dos gregos com o <strong>discurso</strong>. A questão<br />

não era só <strong>de</strong> falar corretamente, mas também <strong>de</strong> fazê-lo <strong>de</strong> forma<br />

convincente, elegante, unindo arte e espírito, bem ao gosto da cultura<br />

clássica. A disciplina que cuidava <strong>de</strong> buscar tal harmonia era a retórica.<br />

A retórica foi se transformando em mero sinônimo <strong>de</strong> recursos<br />

embelezadores do <strong>discurso</strong>, ganhando até um certo tom pejorativo. Um pouco<br />

<strong>de</strong>ssa posição preconceituosa se <strong>de</strong>ve a certas visões teóricas, como as<br />

<strong>de</strong>senvolvidas <strong>no</strong> século XVIII e XIX, quando os estudiosos não a tratavam<br />

apenas como questão <strong>de</strong> método compositivo e <strong>de</strong> estruturação gramatical,<br />

46


mas buscavam com as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica o melhor enfeite, a palavra mais<br />

bela, a expressão inusitada, que são as marcas do i<strong>de</strong>ário estético dos<br />

parnasia<strong>no</strong>s.<br />

Até alguns a<strong>no</strong>s atrás, quem afirmasse que a Retórica iria tornar-se<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>vo uma disciplina, teria causado riso, pois estava morta, como reflexão e<br />

como prática. Aparece hoje, não só como ciência <strong>de</strong> futuro, mas também<br />

como uma ciência da moda, <strong>no</strong>s limites do estruturalismo, da <strong>no</strong>va crítica e da<br />

semiologia.<br />

Na França, a retórica como reflexão, e mesmo como prática, se<br />

sustentou por muito tempo, <strong>de</strong> maneira especial por aqueles que tinham maior<br />

interesse em <strong>de</strong>fendê-la, como os escritores, gramáticos e filósofos. Em 1836,<br />

o jornal <strong>de</strong> L’Instruction Publique <strong>no</strong>tava que, “sem a proteção dos<br />

regulamentos universitários, a retórica na França estaria hoje morta” (DUBOIS<br />

et.al., 1974, p.15). Graças a esse apoio oficial, o último a<strong>no</strong> dos colégios<br />

conservou uma disciplina cuja razão <strong>de</strong> ser era cada vez mais obscuramente<br />

compreendida (CITELLI, 2002, p.74).<br />

Com esse renascimento da Retórica na França, encontra-se a<br />

influência do lingüística Roman Jakobson, e mais particularmente a<br />

publicação feita por Nicolas Ruwet, em 1963, <strong>de</strong> uma tradução <strong>de</strong> Essais <strong>de</strong><br />

Linguistique générale <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se salienta o estudo fundamental sobre a<br />

metáfora e a metonímia; que alcançou êxito.<br />

Segundo Dubois et.al. (1974) havia <strong>no</strong>s retóricos clássicos uma fúria<br />

na atribuição <strong>de</strong> <strong>no</strong>mes às modificações das palavras e construções, modo <strong>de</strong><br />

47


se engran<strong>de</strong>cerem e justificarem, multiplicando os objetos do saber, fato esse<br />

que contribuiu para o manifesto <strong>de</strong>clínio da retórica. É importante lembrar que<br />

a própria retórica esteve longe <strong>de</strong> constituir uma disciplina coerente,<br />

sobretudo <strong>no</strong> período clássico francês (séculos XVII e XVIII), <strong>no</strong> qual <strong>de</strong> um<br />

tratado a outro, verificam-se, quanto ao próprio objeto, mais divergências do<br />

que muitos admitem. Em todo caso, seria falsa a imagem histórica da arte da<br />

eloqüência se seu objeto fosse reduzido à teoria da elocução, e mais falsa<br />

ainda, se reduzido à simples <strong>de</strong>finição dos tropos e <strong>figuras</strong>.<br />

A ciência dos tropos não abrange todo o campo da retórica, entre os<br />

antigos, assim como entre os mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s. A finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarada da retórica é a<br />

<strong>de</strong> ensinar técnicas <strong>de</strong> persuasão. A idéia <strong>de</strong> argumento e a <strong>de</strong> auditório são<br />

nesse caso essenciais. A ligação com a dialética, <strong>no</strong> sentido do termo antes<br />

<strong>de</strong> Hegel, é <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, que Aristóteles começa por verificar sua real<br />

confusão.<br />

Pela própria natureza do estado grego, era imperativo para certas<br />

camadas sociais dominar as regras da boa argumentação e o exercício do<br />

po<strong>de</strong>r; era ao mesmo tempo uma ciência e uma arte, louvados como instância<br />

<strong>de</strong> extrema sabedoria. Daí surgem as primeiras sistematizações e reflexões<br />

acerca da <strong>linguagem</strong>. Os pensadores gregos, Sócrates e Platão, escreveram<br />

sobre o assunto, porém é com Aristóteles que o <strong>discurso</strong> será dissecado em<br />

sua estrutura e funcionamento.<br />

De acordo com Citelli (2002), na Macedônia (384-322 a.C.) surgiu<br />

uma obra que permanece até hoje como um dos manuais clássicos para<br />

48


quem <strong>de</strong>seja estudar certas questões vinculadas aos processos compositivos<br />

dos textos: Arte Retórica, <strong>de</strong> Aristóteles. Esta obra po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma<br />

espécie <strong>de</strong> síntese das visões que se acumulavam em tor<strong>no</strong> dos estudos<br />

retóricos, assim como um guia dos modos <strong>de</strong> se construir um texto<br />

persuasivo. A Retórica é composta dos livros I, II, III, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m ler,<br />

trazidos para a <strong>linguagem</strong> <strong>de</strong> hoje, elementos <strong>de</strong> gramática, lógica, filosofia da<br />

<strong>linguagem</strong> e estilística, para ficarmos em alguns dos temas que <strong>no</strong>s dizem<br />

respeito. Para <strong>no</strong>s aproximarmos da estrutura <strong>de</strong> Arte Retórica, convém<br />

observar o roteiro fornecido por Jean Voilquin e Jean Capelle:<br />

O livro I contém quinze capítulos. Após ter mostrado, <strong>no</strong>s capítulos I<br />

e III, as relações entre retórica e dialética é <strong>de</strong>finido a retórica,<br />

Aristóteles, que censura seus precessores por haverem estudado<br />

principalmente as provas alheias à arte, consagra os capítulos III a<br />

XIV, inclusive, ao estudo das provas técnicas; às provas<br />

extratécnicas: leis, <strong>de</strong>poimentos das testemunhas, contratos,<br />

<strong>de</strong>clarações obtidas sob tortura, juramentos, atribuirá apenas o<br />

capítulo XV do livro I a XVII, estuda Aristóteles as provas morais e<br />

subjetivas, para retomar, <strong>no</strong>s capítulos XVII a XXVI, o exame das<br />

provas lógicas. O livro III é <strong>de</strong>dicado ao estudo da forma.<br />

(VOILQUIN; CAPELLE apud CITELLI, 2002, p.9)<br />

Resumindo ainda mais esse roteiro, chegamos à conclusão <strong>de</strong> que<br />

estamos diante <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas e regras que visa saber o que é,<br />

como se faz e qual o significado dos procedimentos persuasivos. Aristóteles<br />

não <strong>de</strong>sejava confundir, como muitos <strong>de</strong> seus contemporâneos, retórica e<br />

persuasão. A retórica para Aristóteles tem algo <strong>de</strong> ciência, ou seja, é um<br />

corpus com <strong>de</strong>terminado objeto e um método verificativo dos passos<br />

seguidos. Por isso, a retórica, não sendo persuasão, po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> gerar<br />

49


a persuasão, levando o estudioso a <strong>de</strong>scobrir, pela <strong>análise</strong>, o que é<br />

importante, próprio e necessário para convencer ou persuadir. “É uma espécie<br />

<strong>de</strong> código dos códigos, estando acima do compromisso estritamente<br />

persuasivo, pois abarca todas as formas discursivas.” (CAMOCARDI; FLORY,<br />

2003,p.53)<br />

Ou como afirma Aristóteles:<br />

Assentamos que a retórica é a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver teoricamente o que,<br />

em cada caso, po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> gerar a persuasão. Nenhuma outra<br />

arte possui esta função, porque as <strong>de</strong>mais artes têm, sobre o objeto<br />

que lhes é próprio, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instruir e <strong>de</strong> persuadir; por<br />

exemplo, a medicina, sobre o que interessa à saú<strong>de</strong> e à doença; a<br />

geometria, sobre as variações das gran<strong>de</strong>zas; a aritmética, sobre o<br />

número, e o mesmo acontece com as outras artes e ciências. Mas a<br />

Retórica parece ser capaz <strong>de</strong>, por assim dizer, <strong>no</strong> concernente a<br />

uma dada questão, <strong>de</strong>scobrir o que é próprio para persuadir. Por<br />

isso, dizemos que ela não aplica suas regras a um gênero próprio e<br />

<strong>de</strong>terminado. (VOILQUIN; CAPELE apud CITELLI, 2002, p.10)<br />

A retórica não é consi<strong>de</strong>rada ética, por não entrar <strong>no</strong> mérito daquilo<br />

que está sendo dito, mas sim, <strong>no</strong> como aquilo está sendo dito, o que implica o<br />

domínio do processo, <strong>de</strong> formas, instâncias, modos <strong>de</strong> argumentar.<br />

A obra Arte Retórica e Arte Poética apresenta regras que são<br />

aplicadas <strong>no</strong>s <strong>discurso</strong>s persuasivos, e um dos mecanismos é o que fixa a<br />

estrutura do texto em quatro instâncias seqüenciais e integradas: o exórdio é<br />

o começo do <strong>discurso</strong>, po<strong>de</strong>ndo ser um conselho, um elogio, conforme o<br />

gênero do <strong>discurso</strong> em pauta. É também <strong>de</strong><strong>no</strong>minado <strong>de</strong> introdução. A<br />

narração é o assunto, on<strong>de</strong> os fatos são mencionados, é propriamente a<br />

argumentação. As provas são os elementos sustentadores e comprobatórios<br />

50


da argumentação. A quarta instância é a peroração, isto é, a conclusão, que é<br />

a última oportunida<strong>de</strong> para pren<strong>de</strong>r a atenção do receptor.<br />

Quando se colocam relações entre retórica e persuasão, não há<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se verificar até on<strong>de</strong> o ato <strong>de</strong> convencer constitui verda<strong>de</strong>;<br />

persuadir é sinônimo <strong>de</strong> submeter, por isso possui um lado autoritário, pois<br />

quem persua<strong>de</strong> leva outra pessoa a aceitar uma idéia. É possível que o<br />

persuasor não esteja usando <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> algo que se aproxime<br />

do que pareça ser verda<strong>de</strong> ou com uma certa verossimilhança. Como <strong>no</strong><br />

exemplo <strong>de</strong> um outdoor que apresenta um panetone <strong>de</strong> natal, todo apetitoso,<br />

com formas redondas e cheio <strong>de</strong> frutas, pedindo para ser <strong>de</strong>vorado. Ninguém<br />

consi<strong>de</strong>ra que o panetone a ser <strong>de</strong>gustado em casa tenha a mesma forma<br />

daquele que está <strong>no</strong> cartaz, mas não conclui ser uma mentira; o que ocorre,<br />

ao olharmos para o outdoor, é que ficamos convencidos pela imagem.<br />

Portanto o que estamos vendo não é verda<strong>de</strong>iro, é verossímil e <strong>no</strong>s convence<br />

enquanto lógica interna do próprio cartaz. Portanto, verossímil é o que se<br />

constitui em verda<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> sua própria lógica, com isso a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

construir a existência <strong>de</strong> argumentos, provas, perorações, exórdios, conforme<br />

certas proposições já formuladas por Aristóteles. Persuadir não é só sinônimo<br />

<strong>de</strong> convencer, mas <strong>de</strong> organizar o <strong>discurso</strong> que resulta como verda<strong>de</strong>iro para<br />

o receptor.<br />

Com o passar dos a<strong>no</strong>s, a retórica foi tendo suas funções alteradas.<br />

Da preocupação com as técnicas <strong>de</strong> organização do <strong>discurso</strong> e com a<br />

persuasão, o que se irá presenciar <strong>no</strong> final do século XIX é a vinculação da<br />

51


etórica com a idéia <strong>de</strong> embelezamento do texto. Cabia à retórica fornecer<br />

recursos visando produzir mecanismos <strong>de</strong> expressão que tornassem o texto<br />

mais bonito. O uso <strong>de</strong> <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> encobriam, muitas vezes, as<br />

idéias ineficientes. Esse fato levou à idéia, que ainda persiste, <strong>de</strong> retórica ser<br />

sinônimo <strong>de</strong> enfeite do estilo e vazio das idéias. Comprova-se esse fato com<br />

os <strong>discurso</strong>s dos advogados, em suas petições, ou aqueles <strong>discurso</strong>s <strong>de</strong><br />

campanhas políticas, <strong>de</strong> <strong>discurso</strong>s <strong>de</strong> formaturas.<br />

Mas os estudos da Retórica receberam tratamento i<strong>no</strong>vador quando<br />

relacionados à poética, em obras <strong>de</strong>senvolvidas por Jean Dubois e o grupo <strong>de</strong><br />

Liège (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Liège – França).<br />

Busca-se com a retórica afastar a preocupação <strong>de</strong> a tudo dar <strong>no</strong>mes<br />

e encontrar questões como as provenientes da teoria das <strong>figuras</strong>. Os<br />

conceitos formulados por Aristóteles reencontram espaço para uma reflexão<br />

mais arejada e me<strong>no</strong>s contaminada por tendências que marcaram a história<br />

da retórica.<br />

Este <strong>no</strong>vo papel está ligado a duas questões importantes: o do<br />

estudo das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> e o das técnicas <strong>de</strong> argumentação, ou seja,<br />

estudar a organização discursiva a fim <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r os procedimentos que<br />

permitem ligar a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista àquelas idéias que lhes são<br />

apresentadas. Refere-se a processos <strong>de</strong> articulação dos raciocínios textuais,<br />

como a possibilida<strong>de</strong> criada pelo uso das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>, tema este que<br />

<strong>de</strong>ve ser abordado <strong>no</strong> próximo capítulo.<br />

52


3.2 Retórica e Publicida<strong>de</strong><br />

Os princípios da retórica têm hoje seu principal campo <strong>de</strong> aplicação<br />

e revestimento <strong>no</strong>s textos <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, pois ao se enten<strong>de</strong>r a retórica como<br />

a arte <strong>de</strong> persuadir, <strong>de</strong> convencer e <strong>de</strong> levar à ação por meio da palavra, é<br />

fácil ver que é esse também o papel da <strong>linguagem</strong> <strong>no</strong> anúncio <strong>publicitário</strong>.<br />

A <strong>linguagem</strong> publicitária se distingue, por outro lado, como a<br />

literária, pela criativida<strong>de</strong>, pela busca <strong>de</strong> recursos expressivos que chamem a<br />

atenção do leitor, que o façam parar e ler ou escutar a mensagem que lhe é<br />

dirigida, nem que para isso se infrinjam as <strong>no</strong>rmas da <strong>linguagem</strong> padrão ou se<br />

passe por cima das convenções da gramática <strong>no</strong>rmativa tradicional e, em<br />

certo sentido, da competência lingüística abstrata geralmente aceita.<br />

O <strong>de</strong>stinatário da mensagem publicitária, o comunicatário,<br />

principalmente o urba<strong>no</strong>, vive num universo saturado <strong>de</strong> estímulos, que o<br />

mesmo, nem que se disponha a isso, não consegue dar atenção e assimilar<br />

todas as mensagens que lhe chegam via rádio, televisão, jornal, revistas,<br />

outdoors. A <strong>linguagem</strong> publicitária enfrenta o maior dos <strong>de</strong>safios, o <strong>de</strong><br />

pren<strong>de</strong>r, como primeira tarefa, a atenção <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>stinatário.<br />

Tendo conseguido que o comunicatário se ocupe com <strong>de</strong>terminado<br />

texto, convencê-lo ou levá-lo, em conseqüência, à ação, possivelmente é<br />

tarefa ou <strong>de</strong>safio me<strong>no</strong>r, uma vez que pren<strong>de</strong>r a atenção do leitor ou ouvinte<br />

parece ser o <strong>de</strong>bate maior. Se o leitor não parar para ler a mensagem, esse<br />

fato inviabiliza a sedução e a ação. A criativida<strong>de</strong> do <strong>publicitário</strong> está em<br />

53


uscar incessantes meios estilísticos que façam com que o leitor ou ouvinte<br />

preste atenção ao seu texto, chocando-o até se for necessário.<br />

A publicida<strong>de</strong> usa alguns esquemas básicos a fim <strong>de</strong> obter o<br />

convencimento dos receptores tais como: o uso <strong>de</strong> estereótipos; substituição<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>mes (eufemismo); criação <strong>de</strong> inimigos; apelo à autorida<strong>de</strong> e afirmação e<br />

repetição. Veja-se, como exemplo, o anúncio <strong>publicitário</strong> da NIVEA, com a<br />

imagem <strong>de</strong> Gisele Bündchen, mo<strong>de</strong>lo bem sucedida, que sempre está<br />

viajando e na mala tem todos os produtos da nívea como: “NIVEA body”;<br />

“NIVEA soft”; ”NIVEA visage”; ”NIVEA hand”; “NIVEA creme”; “NIVEA sun” e<br />

“NIVEA <strong>de</strong>sodorant”. E <strong>no</strong> cartão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação da mala vem a promoção:<br />

“Compre NIVEA e concorra a 60 viagens para torcer pelo Brasil na<br />

Alemanha”.<br />

54


No anúncio dos produtos NIVEA <strong>de</strong>staca-se o emprego da função<br />

conativa ou apelativa, enfatizado pela utilização <strong>de</strong> verbos <strong>no</strong> imperativo:<br />

“compre”, “concorra”, “cadastre-se”, “envie”, “guar<strong>de</strong>”, “consulte”.<br />

55


Além disso, as compradoras dos produtos NIVEA po<strong>de</strong>m ganhar<br />

prêmios e “ter a beleza <strong>de</strong> Gisele Bündchen”. O anúncio procura seduzir as<br />

mulheres, seu alvo principal, e convencê-las a adquirir os produtos da Marca<br />

NIVEA pelo emprego da função conativa ou apelativa.<br />

As <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> têm papel importante para preencher o<br />

objeto básico da publicida<strong>de</strong>: o <strong>de</strong> provocar, através da elaboração da<br />

mensagem, o estranhamento do leitor, através <strong>de</strong> <strong>discurso</strong>s informativo e<br />

persuasivo, e a partir daí, fazer com que ele se interesse pelo texto e,<br />

conseqüentemente, pelo que é propagado.<br />

As <strong>figuras</strong>, ou translações, cumprem a função <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finir um<br />

<strong>de</strong>terminado campo <strong>de</strong> informação, criando efeitos <strong>no</strong>vos e que sejam<br />

capazes <strong>de</strong> atrair a atenção do receptor. São expressões figurativas que<br />

conseguem quebrar a significação própria e esperada daquele campo <strong>de</strong><br />

palavras.<br />

As <strong>figuras</strong> mais usadas são a metáfora e a metonímia, consi<strong>de</strong>radas<br />

por Jakobson como espécie <strong>de</strong> matrizes presentes, ora com dominância <strong>de</strong><br />

uma, ora com a da outra, na imensa maioria dos textos.<br />

As palavras organizadas <strong>de</strong> forma diferenciada, constituem os<br />

tropos ou <strong>figuras</strong>, que vêm sendo estudados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigüida<strong>de</strong> clássica até<br />

os tempos atuais. O renascer dos estudos retóricos trouxe <strong>no</strong>vos enfoques e<br />

esquemas classificatórios, como o <strong>de</strong> Dubois que será estudado <strong>no</strong> próximo<br />

capítulo, juntamente com a <strong>análise</strong> <strong>de</strong> alguns exemplos <strong>de</strong> <strong>discurso</strong>s<br />

<strong>publicitário</strong>s.<br />

56


4 TROPOS E FIGURAS DE LINGUAGEM<br />

4.1 Conceito e História<br />

Figuras são as palavras tomadas <strong>no</strong> seu sentido próprio e <strong>de</strong><br />

maneira expressiva quanto ao som, à estrutura, função e or<strong>de</strong>m, e ao sentido.<br />

Tropos são as palavras tomadas em outro sentido, o figurado. Nos tempos<br />

atuais, o renascer dos estudos retóricos trouxe <strong>no</strong>vos enfoques e esquemas<br />

classificatórios, <strong>de</strong>stacando-se os do grupo <strong>de</strong> Dubois e Liège.<br />

As <strong>figuras</strong> e os tropos até praticamente o século XIX faziam parte da<br />

retórica, disciplina cujo âmbito era muito complexo e extenso. Aristóteles na<br />

Poética, Cícero <strong>no</strong> De Oratore, Quintilia<strong>no</strong> em Institutio Oratória, <strong>de</strong>ntre<br />

outros, cuidaram do assunto com especial interesse, e Quintilia<strong>no</strong> chegou a<br />

estabelecer o sistema tradicional e fixo.<br />

A reação esperada <strong>no</strong> século XIX coinci<strong>de</strong> com o eclodir da estética<br />

romântica, que se consubstanciava na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma e inspiração,<br />

favorecendo os processos <strong>de</strong> ampla pesquisa e re<strong>no</strong>vação. As <strong>figuras</strong><br />

consi<strong>de</strong>radas como ador<strong>no</strong>s voluntários mereceram <strong>de</strong> artistas e estudiosos<br />

franca repulsa como se fossem meros artifícios que tornavam falsas as<br />

pretensas obras <strong>de</strong> arte.<br />

No passado, principalmente <strong>no</strong> cultismo barroco e na poesia<br />

parnasiana, o brilho ou valor literário assentava-se tão somente <strong>no</strong> uso dos<br />

57


chamados ador<strong>no</strong>s, e as <strong>análise</strong>s e críticas concentravam-se em apontar a<br />

presença <strong>de</strong> tais elementos.<br />

Atualmente não se permitem excessos, pois a mo<strong>de</strong>rna estilística<br />

veio substituir a retórica, não para aboli-la <strong>de</strong> vez, como quiseram alguns<br />

radicais, mas para colocá-la em seu <strong>de</strong>vido lugar, aproveitando aquilo que <strong>de</strong><br />

útil legou à sistemática da teoria literária, atualizando-lhe e arejando-lhe os<br />

métodos.<br />

Se a retórica é a estilística dos antigos, como afirmam Vossler,<br />

Kayser, Leo Spitzer e outros, seu campo <strong>de</strong>limitou-se à elocução e ao<br />

emprego expressivo da palavra articulada, tendo assumido para muitos<br />

espíritos mal informados uma significação <strong>de</strong>preciativa.<br />

Para Hênio Último da Cunha Tavares (1978, p.324), o emprego das<br />

<strong>figuras</strong> e dos tropos não admitem regras, pelo fato <strong>de</strong> serem inerentes ao<br />

próprio pensamento. Admiti-las seria não só um absurdo, como também a<br />

tentativa vã <strong>de</strong> se erguer uma barreira ao ato <strong>de</strong> pensar ou sentir. Na<br />

<strong>linguagem</strong> erudita e na <strong>linguagem</strong> espontânea e coloquial observamos a<br />

atuação constante das <strong>figuras</strong> e dos tropos. Hoje nem percebemos que o uso<br />

<strong>de</strong> um número <strong>de</strong> expressões e construções diariamente presentes em<br />

<strong>no</strong>ssas conversas constituem <strong>figuras</strong> ou tropos. O emprego reiterado<br />

estereotipou-as, apagando a consciência do fenôme<strong>no</strong>, como exemplo em<br />

associações por analogia, quando chamamos alguém <strong>de</strong> homem bala, a idéia<br />

da pressa ou velocida<strong>de</strong> é que <strong>no</strong>s suscitou o termo bala, sem <strong>no</strong>s<br />

preocuparmos em saber se estamos perpetrando um tropo, a metáfora.<br />

58


Segundo o teórico supracitado os retóricos nada inventaram, nada<br />

criaram que não o tivesse criado o povo em sua <strong>linguagem</strong>; o que fizeram foi<br />

apenas sistematizar e or<strong>de</strong>nar os diversos aspectos que configuram o modo<br />

<strong>de</strong> expressar a <strong>no</strong>ssa emoção e o <strong>no</strong>sso pensamento.<br />

As <strong>figuras</strong> e os tropos contribuem para a constituição <strong>de</strong> uma obra<br />

poética em cada caso isolado e em sua medida.<br />

Com a interpretação <strong>de</strong> ‘ornato’ em geral pouco se diz, e, mais<br />

freqüentemente ainda, uma tal interpretação é errada. Mas se as<br />

<strong>figuras</strong> assim são colocadas em outras relações, isto é, se já não são<br />

explicadas ao orador e ao poeta <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> como <strong>de</strong>viam ser<br />

usadas conscientemente, para melhoramento do seu ‘<strong>discurso</strong>’, mas<br />

se, interpretadas como fenôme<strong>no</strong>s basilares lingüísticos, interessam<br />

ao lingüista e investigador do estilo; então surge também aqui um<br />

sentimento <strong>de</strong> gratidão para com os antigos que tão magníficas<br />

bases souberam criar. (TAVARES, 1978, p.326)<br />

Em toda ciência a necessida<strong>de</strong> termi<strong>no</strong>lógica é uma imposição, pois<br />

é indispensável o conhecimento das <strong>figuras</strong> e dos tropos para comunicarmos<br />

o conteúdo <strong>de</strong> toda uma tradição cultural. As <strong>figuras</strong> e os tropos <strong>de</strong>vem ser<br />

investigados nas <strong>análise</strong>s literárias, sob o ponto <strong>de</strong> vista hermenêutico, pois<br />

representam <strong>no</strong> estilo do autor não um ador<strong>no</strong> ou artifício rebuscado para<br />

exemplificação <strong>de</strong> tais fenôme<strong>no</strong>s, mas sim fruto da intuição criadora do<br />

artista, que possui originalida<strong>de</strong> e vigor, a sua individualida<strong>de</strong> expressional.<br />

Quanto à mensagem publicitária, os recursos estilísticos<br />

correspon<strong>de</strong>m em geral à retórica, tipo <strong>de</strong> <strong>discurso</strong> voltado para examinar,<br />

<strong>de</strong>screver, perceber e avaliar atos e eventos que venham influenciar<br />

percepções, sentimentos, atitu<strong>de</strong>s e ações, com palavras empregadas <strong>de</strong><br />

59


forma diferente do uso comum, do uso literal. Usar recursos retóricos é usar a<br />

comunicação para <strong>de</strong>finir a realida<strong>de</strong> do modo como se <strong>de</strong>seja que ela seja<br />

vista.<br />

A <strong>de</strong>finição da realida<strong>de</strong> sob certos ângulos favorece tanto o<br />

interesse do emissor como do <strong>de</strong>stinatário ou receptor, na medida em que<br />

contribui para a convergência <strong>de</strong> interesses do influenciador (enunciador) com<br />

os do influenciado (receptor). O anunciante <strong>de</strong> um produto <strong>de</strong> consumo está<br />

interessado em obter lucros, ven<strong>de</strong>ndo seu estoque e suas <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s. O<br />

comprador em potencial, por sua vez, sempre estará interessado em alguma<br />

aquisição sob a forma <strong>de</strong> conforto, alívio, segurança ou prazer. Por isso<br />

receber a mensagem <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, será permeável ao consumo.<br />

As <strong>figuras</strong> do <strong>discurso</strong>, como formas persuasivas ou apologéticas,<br />

<strong>de</strong>sempenham um importante papel na elaboração da mensagem publicitária.<br />

São usados os tropos convencionais, ou <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>, e tropos não<br />

convencionais ou que se tornaram convencionais por estarem presentes na<br />

comunicação.<br />

O emprego <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> figurada não admite regras porque as<br />

<strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> são inerentes ao próprio pensamento. Não se po<strong>de</strong>m<br />

erguer barreiras ao ato <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> sentir. Tanto na <strong>linguagem</strong> culta e<br />

formal, como na <strong>linguagem</strong> coloquial e prosaica observamos a atuação<br />

constante das <strong>figuras</strong> e dos tropos, <strong>no</strong>menclatura usada por Hênio Tavares.<br />

Hoje nem percebemos que o uso <strong>de</strong> inúmeras expressões e<br />

construções diariamente presentes em <strong>no</strong>ssas conversas, em manchetes <strong>de</strong><br />

60


jornais, em anúncios <strong>publicitário</strong>s, são <strong>de</strong>svios lingüísticos. O emprego<br />

reiterado da <strong>linguagem</strong> figurada estereotipou-a, apagando a consciência do<br />

fenôme<strong>no</strong>. Por exemplo, quando atribuímos a alguém o epíteto <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro, já<br />

temos agregado ao <strong>no</strong>sso espírito a idéia <strong>de</strong> mansidão. E nem <strong>no</strong>s<br />

apercebemos <strong>de</strong> que estamos criando um tropo: metáfora. O mesmo<br />

acontece quando consi<strong>de</strong>ramos uma pessoa esperta, inteligente, culta como<br />

cabeça – Você é cabeça! (metáfora) ou Você é o máximo! (hipérbole).<br />

Os retóricos clássicos e mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s bem como a estilística<br />

contemporânea não inventaram nem criaram nada que já não tivesse sido<br />

falado ou criado pelo povo na sua <strong>linguagem</strong>, como bem observa Hênio<br />

Tavares.<br />

4.2 Classificação<br />

Em toda ciência há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecerem termi<strong>no</strong>logias<br />

para caracterizar fenôme<strong>no</strong>s ou processos. Por isso, <strong>no</strong>s estudos lingüísticos<br />

é indispensável o conhecimento da <strong>linguagem</strong> figurada, não como ador<strong>no</strong> ou<br />

artifício <strong>de</strong> estilo, mas como objeto <strong>de</strong> investigação e <strong>análise</strong> da intuição<br />

criadora <strong>de</strong> um artista enquanto marcas <strong>de</strong> uma individualida<strong>de</strong> expressional.<br />

Baseando-se na imagem visual (fa<strong>no</strong>péia), na carga musical<br />

(melopéia) e <strong>no</strong> efeito lógico (logopéia), Hênio Tavares apresenta uma<br />

classificação geral diferenciando os <strong>de</strong>svios ou rupturas do código lingüístico<br />

em <strong>figuras</strong> e tropos.<br />

61


Os teóricos do Grupo <strong>de</strong> Liège (J. Dubois, F. E<strong>de</strong>line, J.M.<br />

Klimkenberg, P. Minguet, F. Pire e H. Tri<strong>no</strong>n), na obra Retórica Geral (1974),<br />

partindo da termi<strong>no</strong>logia proposta por B. Pottier e J. Greimas, consi<strong>de</strong>ram a<br />

palavra ou lexema 4 como uma coleção <strong>de</strong> semas (traços significativos<br />

mínimos), dos quais uns são nucleares e outros contextuais, isto é, uns<br />

representam <strong>de</strong>svios em palavras e outros são modificações <strong>de</strong> sentido em<br />

contexto. O todo é um semema 5 (frases, orações, períodos, parágrafos que<br />

organizam um contexto). É justamente a manipulação dos semas que produz<br />

as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica ou metáboles 6 .<br />

Nas metáboles gramaticais (metaplasmos, metataxes) e nas<br />

metáboles lógicas (metassememas e metalogismos) são possíveis dois tipos<br />

<strong>de</strong> operação: a supressão ou o acréscimo <strong>de</strong> semas ou partes. O <strong>de</strong>svio da<br />

<strong>no</strong>rma é percebido pelo leitor através da marca, isto é, da alteração na taxa<br />

<strong>de</strong> redundância da mensagem. Mas esse <strong>de</strong>svio 7 po<strong>de</strong> ser diminuído graças à<br />

presença <strong>de</strong> um invariante, que é a parte não modificada ou base da figura<br />

que não sofreu efeitos retóricos e que, por isso, conserva seu grau zero, e<br />

uma relação sistemática que a liga à convenção lingüística (SAMPAIO, 1978,<br />

p.2-3).<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa concepção <strong>de</strong> figura, temos também a obra <strong>de</strong> Jean<br />

Cohen – Estrutuctura <strong>de</strong>l Lenguaje Poético – para quem “a figura é um conflito<br />

entre sintagma e paradigma” (1970, p.112). Segundo esse teórico, a<br />

4 Lexema: unida<strong>de</strong> lexical, cujo conjunto vai formar o léxico da língua.<br />

5 Semema: reunião <strong>de</strong> semas <strong>de</strong> um lexema.<br />

6 Metáboles: <strong>de</strong>signação das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica, segundo o Grupo <strong>de</strong> Liège.<br />

7 Desvio: alteração <strong>no</strong> grau zero da mensagem.<br />

62


<strong>linguagem</strong> possui duas funções: intelectual ou cognitiva (<strong>de</strong><strong>no</strong>tação) e afetiva<br />

ou emotiva (co<strong>no</strong>tação). Tanto a <strong>de</strong><strong>no</strong>tação quanto a co<strong>no</strong>tação têm o mesmo<br />

referente e a oposição <strong>de</strong>las se opera <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> psicológico, pois a <strong>de</strong><strong>no</strong>tação<br />

suscita <strong>no</strong> <strong>de</strong>stinatário da mensagem uma resposta cognitiva, enquanto a<br />

co<strong>no</strong>tação provoca uma resposta emotiva. A diferença não está <strong>no</strong> sentido da<br />

mensagem, mas <strong>no</strong> efeito que ela causa <strong>no</strong> receptor.<br />

Para o Grupo <strong>de</strong> Liège, as metáboles gramaticais (as que sofrem<br />

alteração <strong>no</strong> código, <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da expressão) sobre a morfologia levam o <strong>no</strong>me<br />

<strong>de</strong> metaplasmos, quando as mudanças se dão sobre a sintaxe <strong>de</strong><strong>no</strong>minam-se<br />

metataxes. As metáboles lógicas (as que sofrem <strong>de</strong>svios <strong>no</strong> referente, <strong>no</strong><br />

pla<strong>no</strong> do conteúdo) sobre a semântica chamam-se metassememas e sobre a<br />

lógica, metalogismos. Observe-se o quadro a seguir:<br />

63


S<br />

U<br />

B<br />

S<br />

T<br />

A<br />

N<br />

C<br />

I<br />

A<br />

I<br />

S<br />

R<br />

E<br />

L<br />

A<br />

C<br />

I<br />

O<br />

N<br />

A<br />

I<br />

S<br />

METÁBOLES<br />

GRAMATICAIS (CÓDIGO) LÓGICAS (REFERENTE)<br />

EXPRESSÃO CONTEÚDO<br />

A. METAPLASMOS B. METATAXES C. METASSEMEMAS D. METALOGISMOS<br />

OPERAÇÕES SOBRE A MORFOLOGIA SOBRE A SINTAXE SOBRE A SEMÂNTICA SOBRE A LÓGICA<br />

I. Supressão<br />

1.1 Parcial<br />

1.2 Completa<br />

II. Adjunção<br />

2.1 Simples<br />

2.2 Repetitiva<br />

III. Supressão-Adjunção<br />

3.1 Parcial<br />

3.2 Completa<br />

3.3 Negativa<br />

IV. Permutação<br />

4.1 Qualquer<br />

4.2 Por Inversão<br />

Aférese, apócope, síncope,<br />

sinérese<br />

Deleção, embranquecime<strong>no</strong><br />

Prótese, diérese, afixação,<br />

epêntese, palavra-valise<br />

Duplicação, insistência, rimas,<br />

aliteração, assonância,<br />

paro<strong>no</strong>másia<br />

Linguagem infantil, substituição <strong>de</strong><br />

afixos trocadilho<br />

Si<strong>no</strong>nímia, arcaísmo, neologismo,<br />

empréstimo<br />

Contrepet, anagrama, metátese<br />

Palíndromo, verlen<br />

Crase<br />

Elipse, zeugma, assín<strong>de</strong>to,<br />

parataxe<br />

Parêntese, concatenação,<br />

expletivação, enumeração<br />

Repetição, polissín<strong>de</strong>to,<br />

métrica, simetria<br />

Silepse, anacoluto<br />

Mudança <strong>de</strong> classe<br />

quiasma<br />

-----------------<br />

Tmese, hipérbato<br />

Inversão<br />

Sinédoque e anto<strong>no</strong>másia<br />

generalizantes, comparação<br />

metáfora in praesentia.<br />

Assemia<br />

Sinédoque e anto<strong>no</strong>másia<br />

particularizantes, arquilexia<br />

---------------------<br />

Metáfora in absentia<br />

Metonímia<br />

Oxímoro<br />

---------------------<br />

Litotes I<br />

Reticências,<br />

suspensão, silêncio<br />

Hipérbole, silêncio<br />

hiperbólico<br />

Repetição, pleonasmo,<br />

antítese<br />

Eufemismo<br />

64<br />

Alegoria, parábola,<br />

fábula<br />

Ironia, paradoxo,<br />

antífrase, litotes 2<br />

Inversão lógica,<br />

inversão cro<strong>no</strong>lógica


Fonte: Dubois et al. Retórica geral.<br />

65<br />

62


Ao estudarmos a Retórica Geral e o “quadro geral das metáboles ou<br />

<strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica” (1974, p.71) encontramos muita dificulda<strong>de</strong> em distribuir e<br />

analisar os anúncios <strong>publicitário</strong>s selecionados nas revistas sob essa<br />

perspectiva.<br />

Procuramos, pois, uma classificação mais genérica e simplificada,<br />

ao mesmo tempo que apropriada com os objetivos propostos neste trabalho,<br />

que são o <strong>de</strong> analisar as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica em anúncios <strong>publicitário</strong>s, <strong>no</strong>s<br />

pla<strong>no</strong>s da expressão verbal e não verbal e <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> conteúdo, <strong>de</strong> forma<br />

didática para aplicação prática em sala <strong>de</strong> aula.<br />

Por isso, optamos pelo quadro geral das <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> retórica do<br />

Grupo <strong>de</strong> Liège, associado às conceituações <strong>de</strong> Hênio Tavares.<br />

Conforme explicita Dante Tringalli, em Introdução à Retórica (1988),<br />

as <strong>figuras</strong> são modificações da <strong>linguagem</strong>, ou metáboles (grego: repetição da<br />

mesma idéia, conceito, sentido, significado, por meio <strong>de</strong> palavras, expressões<br />

ou frases diferentes), seja <strong>no</strong> vocábulo (metaplasmos, metassemema), seja<br />

na frase (metataxe, metalogismo), e tanto <strong>no</strong> nível da expressão, como do<br />

conteúdo, ou acrescentando alguma coisa (adjunção: “levantar” – “alevantar”),<br />

ou subtraindo (supressão: “ainda” – “inda”), ou repetindo (repetição: “Deus –<br />

Deus”) ou permutando (permutação: “da vida pela estrada”), tendo como<br />

objetivo conseguir efeito artístico; em outros termos, “para obter efeito poético<br />

ou retórico ou estilístico da <strong>linguagem</strong>.” (1984, p.99)<br />

Em tópicos anteriores afirmamos que as <strong>figuras</strong> são consi<strong>de</strong>radas<br />

63


<strong>de</strong>svios da <strong>no</strong>rma lingüística corrente, <strong>de</strong> um modo <strong>no</strong>rmal e comum <strong>de</strong> dizer,<br />

ou seja, “É um modo diferente <strong>de</strong> dizer”, segundo Dante Tringalli, crítico que<br />

<strong>no</strong>s obriga a refletir sobre o que se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r por <strong>no</strong>rma. Se tomarmos a<br />

<strong>linguagem</strong> corrente, cotidiana e utilitária como <strong>no</strong>rma, as <strong>figuras</strong> não lhe são<br />

<strong>de</strong>svios porque nesse nível <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> aparecem muitas.<br />

Se adotarmos a <strong>linguagem</strong> científica e culta como <strong>no</strong>rma, embora<br />

nela se <strong>de</strong>va evitar o uso <strong>de</strong> <strong>figuras</strong>, verificamos que não se consegue<br />

eliminá-las totalmente. “Em todo caso, embora não chegue a ser um grau<br />

zero, a <strong>linguagem</strong> figurada serve <strong>de</strong> padrão.” (RIFFATTERE, apud<br />

TRINGALLI, 1984, p.100)<br />

Existe um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> <strong>figuras</strong> e sempre os teóricos<br />

enfrentaram o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> classificá-las. Concordamos com Dante Trigalli<br />

quando consi<strong>de</strong>ra que “sem dúvida nenhuma, (...) a Retórica Geral 8 se saiu<br />

muito bem apresentando uma proposta <strong>de</strong> classificação bastante aceitável”,<br />

que adaptaremos ao <strong>no</strong>sso estudo.<br />

Os retóricos do Grupo <strong>de</strong> Liège se valem dos seguintes critérios: ou<br />

a figura se verifica <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da expressão ou do conteúdo, ou <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da<br />

palavra ou da frase e essas modificações operam ou por acréscimo, ou por<br />

subtração, ou por permuta.<br />

quadro:<br />

De acordo com a combinação <strong>de</strong>sses critérios obtém-se o seguinte<br />

8 Retórica Geral – é uma Retórica que reduz a Retórica às <strong>figuras</strong>. (...) Chama-se Geral porque <strong>de</strong>fine a “função<br />

poética da <strong>linguagem</strong>” pelo uso <strong>de</strong> <strong>figuras</strong>. A função poética da <strong>linguagem</strong> é o mesmo que função artística da<br />

<strong>linguagem</strong>; é o que acontece quando a <strong>linguagem</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser utilitária, um simples meio <strong>de</strong> comunicação e se<br />

converte em fim em si mesma. (TRINGALLI, 1984, p.98)<br />

64


EXPRESSÃO CONTEÚDO<br />

vocábulo metaplasmos metassemema<br />

frase metataxe metalogismo<br />

O domínio dos metaplasmos 9 compreen<strong>de</strong> todas as <strong>figuras</strong> que<br />

modificam o aspecto gráfico ou so<strong>no</strong>ro do vocábulo. Também se chamam<br />

<strong>figuras</strong> fo<strong>no</strong>lógicas, <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> dicção, <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> harmonia. As metataxes 10<br />

compreen<strong>de</strong>m todas as <strong>figuras</strong> que mexem com a estrutura da frase, como,<br />

por exemplo, as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> inversão da or<strong>de</strong>m das palavras na frase.<br />

Chamando-se tradicionalmente <strong>figuras</strong> gramaticais, <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> construção.<br />

No domínio dos metassememas 11 encontram-se todas as <strong>figuras</strong><br />

que modificam o conteúdo do vocábulo, mudando a sua significação. Também<br />

se chama <strong>figuras</strong> semânticas ou tropos.<br />

O domínio dos metalogismos 12 compreen<strong>de</strong> todas as <strong>figuras</strong> que<br />

alteram o valor lógico da frase, mudam a semântica da frase. São conhecidas<br />

também como <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> pensamento.<br />

Em síntese, as <strong>figuras</strong> se realizam ou <strong>no</strong> nível fo<strong>no</strong>lógico-gráfico, ou<br />

<strong>no</strong> nível gramatical (morfologia e sintaxe) ou <strong>no</strong> nível semântico do vocábulo<br />

ou da frase.<br />

Uma relação completa das <strong>figuras</strong> po<strong>de</strong> ser encontrada em H.<br />

Morier – Dictionnaire <strong>de</strong> poétique et <strong>de</strong> rhétorique (Paris: PUF, 1975), em P.<br />

9 Metaplasmos: gr. meta: alteração + plasmos = grafia, so<strong>no</strong>rida<strong>de</strong>, som.<br />

10 Metataxes: gr. meta = alteração + táxis = estrutura, construção.<br />

11 Metassememas: gr.meta = alteração + semema = conteúdo do vocábulo, significação.<br />

12 Metalogismos: gr.meta = alteração + logos = pensamento, idéia.<br />

65


Fontanier – Les figures du discours (Paris: Flammarion, 1968) e H. Tavares –<br />

Teoria Literária (Belo Horizonte: Bernardo Alavarez, 1978), mas optamos pelo<br />

elenco apresentado pela Retórica Geral.<br />

Nos anúncios <strong>publicitário</strong>s selecionados para a <strong>no</strong>ssa pesquisa,<br />

po<strong>de</strong>mos ilustrar o domínio dos metaplasmos com as seguintes <strong>figuras</strong>:<br />

Aliteração: repetição <strong>de</strong> um mesmo fonema com o objetivo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stacar <strong>de</strong>terminado som ou para imprimir ritmo à frase (DUBOIS et.al.,<br />

1974).<br />

“Carrinho que tem tudo a ver com carinho.”<br />

Nesse anúncio dos produtos GALZERANO observa-se a aliteração<br />

dos fonemas /kê/ /rê/ /tê/ /dê/ e das nasais, que, além da musicalida<strong>de</strong><br />

imprimem ritmo à frase.<br />

Nesse slogan aparece também a rima, que “não é nada mais que a<br />

recorrência sistemática <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s fônicas equivalentes” (DUBOIS et al.,<br />

1974, p.81), como <strong>no</strong>s vocábulos carrinho... carinho.<br />

Trocadilho: “arranjo hábil <strong>de</strong> palavras semelhantes <strong>no</strong> som e cuja<br />

seqüência propicia equívocos <strong>de</strong> sentidos dúbios, principalmente visando<br />

fazer humor ou graça.” (TAVARES, 1978, p.366)<br />

O anúncio <strong>publicitário</strong> da BRASTEMP, que possui como slogan:<br />

“Gela<strong>de</strong>ira só tem <strong>de</strong> dois tipos: a <strong>no</strong>va era e a já era”, apresenta um<br />

trocadilho <strong>de</strong> forma antitética: “a <strong>no</strong>va era e já-era”.<br />

No domínio das metataxes encontramos o quiasma, que, segundo<br />

66


Dubois e outros (1974, p.119) “<strong>de</strong>signa tradicionalmente uma simetria em<br />

cruz, que po<strong>de</strong> valer tanto para o sentido quanto para a gramática”.<br />

O anúncio <strong>de</strong> SHAMPOO OX, apresenta como slogan:<br />

“Pense bem antes<br />

<strong>de</strong> escolher o que<br />

vai usar na cabeça.<br />

Mesmo porque<br />

É ela que pensa”<br />

A simetria pense/pensa é uma disposição cruzada dos elementos<br />

que compõem o sintagma, há, portanto, um meio quiasma.<br />

Observam-se também <strong>no</strong> mesmo anúncio as repetições <strong>de</strong> palavras<br />

na fórmula do produto, para <strong>de</strong>monstrar o dobro <strong>de</strong> ativos naturais: Plants +<br />

Plants; Shitake/Shitake; Macela do Campo/Macela; Aloe Vera/Aloe; Ginkco<br />

Biloba/Ginkco. Para enfatizar a qualida<strong>de</strong> do produto, tornando-o <strong>de</strong> nível<br />

internacional, a repetição ocorre em forma <strong>de</strong> bilingüismo: com complexo<br />

ativo <strong>de</strong> plantas – with plants active extracts complex.<br />

Nos anúncios <strong>publicitário</strong>s do produto <strong>de</strong> limpeza VEJA e da<br />

BRASTEMP ocorrem repetições, como: “Se você não larga da vassoura, ou é<br />

bruxa, ou não usa Veja” e “Gela<strong>de</strong>ira agora só tem <strong>de</strong> dois tipos: a <strong>no</strong>va era e<br />

a já era”.<br />

67


No domínio dos metassememas encontramos a figura do<br />

metassemema que substitui um semema por outro, isto é, modifica os<br />

conjuntos <strong>de</strong> semas do grau zero. Segundo a Retórica Geral, “o<br />

metassemema (ou tropo) por exemplo, dá um sentido <strong>no</strong>vo, se não mais puro,<br />

às palavras da família.” (DUBOIS et.al. 1974, p.57)<br />

O domínio dos metassememas abrange em geral o que<br />

tradicionalmente se chama <strong>de</strong> tropos, isto é, especialmente a metáfora, figura<br />

central <strong>de</strong> qualquer retórica, a metonímia e a sinédoque.<br />

Em tópico anterior <strong>de</strong>ste trabalho, <strong>de</strong>finiu-se o metassemema como<br />

a figura que substitui uma semema por outro. Uma vez que o semema se<br />

manifesta sempre através <strong>de</strong> uma palavra, as <strong>figuras</strong> classificadas como<br />

metassememas frequentemente foram <strong>de</strong>finidas como aquelas on<strong>de</strong> se<br />

“substitui uma palavra por outra” (DUBOIS et.al. 1974, p.132).<br />

A metáfora, por exemplo, segundo consi<strong>de</strong>rações do grupo <strong>de</strong><br />

Liége, “não é propriamente uma substituição <strong>de</strong> sentido, mas uma<br />

modificação do conteúdo semântico <strong>de</strong> um termo” (DUBOIS et.al. 1974,<br />

p.151). Essa modificação resulta da conjunção <strong>de</strong> duas operações <strong>de</strong> base:<br />

adição e supressão <strong>de</strong> semas. Noutros termos, po<strong>de</strong>-se dizer que a metáfora<br />

é uma operação mista porque é o produto <strong>de</strong> duas sinédoques; é a<br />

intersecção entre dois termos, porção comum ao mosaico <strong>de</strong> suas partes:<br />

68


“Metáfora quer dizer, em grego, transporte, tanto que, na Grécia,<br />

<strong>no</strong>s caminhões <strong>de</strong> transporte, se lê: ‘metafora’ “ (TRINGALI, 1984, p.108).<br />

Veja-se o exemplo: “<strong>no</strong> inver<strong>no</strong> da vida...” – a palavra inver<strong>no</strong> tem, como<br />

sentido próprio o significado <strong>de</strong> uma estação do a<strong>no</strong>. Quando se lhe atribui o<br />

significado <strong>de</strong> uma fase da vida humana, por alguma semelhança, há o<br />

transporte da palavra inver<strong>no</strong> do sentido natural <strong>de</strong> estação do a<strong>no</strong> para a<br />

velhice. Assim, inver<strong>no</strong> significa: a) estação do a<strong>no</strong>; b) velhice (metáfora).<br />

Através da Teoría <strong>de</strong> la expresión poética, <strong>de</strong> Carlos Bousoño<br />

(1952) aprendia-se que a metáfora passava por um mecanismo <strong>de</strong> formação,<br />

<strong>de</strong> tal forma que era consi<strong>de</strong>rado o último estágio da trajetória <strong>de</strong>scrita pela<br />

comparação; e quatro são as etapas que o processo percorre até chegar ao<br />

tropo: comparação, imagem, metáfora impura e metáfora. Atualmente, com os<br />

mais recentes estudos <strong>de</strong> teoria literária, retórica e estilística, não se leva em<br />

consi<strong>de</strong>ração tal processo, porém, acreditamos na sua valida<strong>de</strong> como<br />

instrumento didático-pedagógico. No primeiro caso estão presentes os dois<br />

termos da comparação (o real, ou semelhante; o irreal, ou assemelhado), cuja<br />

ligação é estabelecida pelos instrumentos gramaticais competentes – como;<br />

qual; tal como; assim como, etc.:<br />

Os <strong>de</strong>ntes (elemento real) são como pérolas (elemento irreal).<br />

A imagem surge quando a fusão entre os dois elementos (ambos<br />

ainda expressos) é tão íntima que dispensa os elementos lógicos da<br />

69


comparação:<br />

“Os <strong>de</strong>ntes são pérolas.”<br />

Numa terceira etapa teríamos o que se chamava metáfora impura e<br />

que, na Retórica Geral se <strong>de</strong><strong>no</strong>mina metáfora in praesentia, ou seja, quando<br />

só o elemento irreal está expresso, mas ficam vestígios do elemento real.<br />

real).<br />

“As pérolas (elemento irreal) <strong>de</strong> sua boca” (vestígios do elemento<br />

Finalmente, na quarta etapa, o elemento irreal substitui o elemento<br />

real e a metáfora in absentia se apresenta: “Suas pérolas” (na acepção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntes).<br />

Nos anúncios <strong>publicitário</strong>s selecionados há presença <strong>de</strong><br />

comparação <strong>no</strong> título do produto NATURETTI: “Na vida <strong>de</strong> uma mulher<br />

dinâmica como você...” e do título do produto VEJA: “Se você não larga da<br />

vassoura, ou é bruxa ou não usa Veja.” Aparece imagem <strong>no</strong> slogan do<br />

produto GUTTALAX: “A in<strong>de</strong>pendência é uma pérola.”<br />

Para muitos teóricos e estudiosos da retórica, a imagem também<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada metáfora in praesentia. Observe-se o título da carne<br />

NELORE NATURAL, dos frigoríficos MARFRIF e INDEPENDÊNCIA, que se<br />

utiliza da foto <strong>de</strong> uma celebrida<strong>de</strong> do mundo esportivo – o nadador Fernando<br />

Scherer – para o seu anúncio <strong>publicitário</strong>:<br />

“Ele é um peixe.<br />

70


E pelo jeito que come carne <strong>de</strong>ve ser um tubarão”<br />

Segundo Dubois et.al. (1974, p.159), há metáfora “in praesentia<br />

quando se apresenta uma forma gramatical que introduz relação <strong>de</strong><br />

comparação, <strong>de</strong> equivalência, <strong>de</strong> similitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou relações<br />

<strong>de</strong>rivadas”.<br />

Outro exemplo <strong>de</strong> metafora in praesentia po<strong>de</strong>mos encontrar <strong>no</strong><br />

anúncio do esmalte IMPALA, cujo título, em frase <strong>no</strong>minal – “Da cor da sua<br />

ousadia” – associa a cor vermelha a uma ação ou sentimento.<br />

BOTICÁRIO:<br />

Observem-se as metáforas in praesentia <strong>no</strong> título dos produtos <strong>de</strong> O<br />

“A história sempre se repete.<br />

Todo chapeuzinho vermelho<br />

Que se preze, um belo dia<br />

Coloca o lobo mau na coleira”.<br />

Chapeuzinho vermelho e lobo mau apresentam relações se<br />

similarida<strong>de</strong> com mulher jovem e frágil e homem forte, vigoroso, recordando<br />

os contos <strong>de</strong> fadas.<br />

Também se constata metáfora in praesentia <strong>no</strong> título do produto<br />

“NOVO LUX Firmassage”: Me<strong>no</strong>s é mais”. Associando a <strong>linguagem</strong> verbal<br />

com a não verbal, verifica-se a relação <strong>de</strong> me<strong>no</strong>s roupa com mais qualida<strong>de</strong> e<br />

firmeza da pele e do ego, com o uso do produto. No anúncio do produto<br />

SUNDOWN GOLD observa-se a metáfora in praesentia formada a partir da<br />

71


intersecção <strong>de</strong> duas sinédoques. Atente-se ao slogan: “Ajuda a manter a<br />

beleza das praias brasileiras”. No <strong>discurso</strong> verbal verifica-se que a palavra<br />

beleza refere-se às mulheres que mantêm a pele bronzeada como a areia do<br />

mar. Não só há sinédoque da parte (beleza = homens e mulheres<br />

bronzeados) pelo (natureza), como há metáfora in praesentia, com vestígios<br />

do elemento real (pele bronzeada).<br />

Na metonímia, uma palavra é substituída por outra, muda <strong>de</strong><br />

significado, não por semelhança, mas porque há entre ambas uma relação <strong>de</strong><br />

contigüida<strong>de</strong>. Há uma relação <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência externa, uma<br />

correspondência causal, uma relação <strong>de</strong> causa e efeito.<br />

Também a sinédoque se baseia na relação <strong>de</strong> contigüida<strong>de</strong>, mas<br />

contrariamente à metonímia, na sinédoque há <strong>de</strong>pendência interna, inclusão,<br />

conexão.<br />

sinédoque.<br />

Observemos, <strong>no</strong> quadro abaixo, as espécies <strong>de</strong> metonímia e<br />

METONÍMIA SINÉDOQUE<br />

- Metonímia <strong>de</strong> causa e efeito:<br />

“Viver do trabalho”. Não se vive do<br />

trabalho, mas do seu resultado, do salário<br />

que permite comprar os alimentos.<br />

72<br />

- A parte em lugar do todo:<br />

“As velas singravam as ondas”. Quer<br />

dizer: O barco singrava o mar. A palavra<br />

vela (parte do navio) está sendo usada <strong>no</strong>


- Metonímia da matéria e objeto:<br />

“Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido”. O sema ferro está <strong>no</strong> lugar <strong>de</strong><br />

espada; usa-se a matéria <strong>de</strong> que é feito<br />

em vez do objeto.<br />

Obs.: Fontanier, em Les figures du<br />

discours (1968, p.126) classifica esse tipo<br />

<strong>de</strong> metonímia entre as sinédoques.<br />

- Metonímia do continente e conteúdo:<br />

“Beber um copo <strong>de</strong> vinho”. Bebe-se<br />

apenas o vinho (conteúdo).<br />

- Metonímia do concreto e abstrato:<br />

“A juventu<strong>de</strong> é inconstante” (= os jovens).<br />

- Metonímia <strong>de</strong> autor e obra, inventor e<br />

invento:<br />

“Ler Camões” (= ler a obra <strong>de</strong> Camões)<br />

“Tenho um Ford” (= marca <strong>de</strong> carro que<br />

<strong>de</strong>rivou do <strong>no</strong>me do fabricante)<br />

- Metonímia <strong>de</strong> lugar e produto do lugar:<br />

“Beber um champanhe” (Champanhe =<br />

lugar/vinho (produto)<br />

“Beber um Ma<strong>de</strong>ira” (Ma<strong>de</strong>ira =<br />

lugar/vinho (produto)<br />

“Beber um cálice <strong>de</strong> Porto” (Porto = lugar<br />

on<strong>de</strong> se fabricam vinhos (= produto)<br />

lugar <strong>de</strong> navio (todo), por isso, vela (parte)<br />

significa navio (todo) porque há uma<br />

relação <strong>de</strong> inclusão (a vela se inclui <strong>no</strong><br />

navio). A essa espécie <strong>de</strong> sinédoque dáse<br />

o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> sinédoque generalizante.<br />

(TRINGALI, 1984, p.109)<br />

- O todo (geral) em lugar das partes<br />

(particular):<br />

“Os mortais” (= os homens). Observe-se<br />

que quando chamamos os homens <strong>de</strong><br />

mortais não estamos incluindo os animais<br />

e outros seres vivos. É um tipo <strong>de</strong><br />

sinédoque particularizante.<br />

- Sinédoque <strong>de</strong> espécie e gênero:<br />

“Pôr o animal na sombra” animal (gênero)<br />

= cavalo (espécie)<br />

“Comer o pão <strong>de</strong> cada dia” pão (espécie)<br />

= comida (gênero)<br />

- Sinédoque do singular e plural:<br />

“O inglês é pontual” inglês (singular) =<br />

ingleses (plural)<br />

“O pobre sempre morre na miséria” pobre<br />

(singular) = pobres (plural)<br />

Recordando, em síntese, as <strong>figuras</strong> do domínio dos metassememas,<br />

temos que a metáfora se baseia na semelhança e, portanto, nas relações <strong>de</strong><br />

similarida<strong>de</strong>, enquanto a metonímia e a sinédoque se baseiam nas relações<br />

<strong>de</strong> contigüida<strong>de</strong>.<br />

73


Nos anúncios por nós selecionados, po<strong>de</strong>mos encontrar o<br />

metassemema sinédoque generalizante na publicida<strong>de</strong> do SHAMPOO SEDA,<br />

cujo título é “Seu cabelo merece um lugar ao sol”. Na leitura da <strong>linguagem</strong> não<br />

verbal observa-se a presença <strong>de</strong> duas jovens na praia tomando banho <strong>de</strong> sol,<br />

com os cabelos soltos, expostos ao sol e ao vento. Por isso consi<strong>de</strong>ramos<br />

essa sinédoque como aquela que se caracteriza pela substituição da parte<br />

pelo todo, <strong>no</strong> caso em questão, o cabelo pelo corpo huma<strong>no</strong>.<br />

Na coleta <strong>de</strong> anúncios <strong>publicitário</strong>s encontramos o metassemema<br />

metonímia tanto <strong>no</strong> <strong>discurso</strong> verbal quanto <strong>no</strong> não-verbal.<br />

Recordando os conceitos, lembremos, com o Grupo <strong>de</strong> Liége, que<br />

“os metalogismos (...) são procedimentos, operações, ma<strong>no</strong>bras que po<strong>de</strong>m<br />

repetir uma operação metassemêmica e po<strong>de</strong>m também, se bem que me<strong>no</strong>s<br />

frequentemente, passar por metassememas” (DUBOIS et.al. 1974, p.180).<br />

Seja o metalogismo puro ou associado a um metassemema, ele po<strong>de</strong><br />

modificar <strong>no</strong>ssa visão das coisas, mas não altera o léxico, porque manifesta-<br />

se num estado <strong>de</strong> língua que não sofre modificações (DUBOIS et.al. 1974).<br />

No domínio dos metalogismos (ou <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> pensamento)<br />

encontramos, <strong>no</strong>s anúncios selecionados, a antítese, a ironia e a hipérbole.<br />

Diz-se que há antítese na relação <strong>de</strong> idéias contrárias, como <strong>no</strong>s<br />

títulos do produto NATURETTI:<br />

“Na vida <strong>de</strong> uma mulher dinâmica como você<br />

não tem lugar para intesti<strong>no</strong> preguiçoso”.<br />

74


e<br />

“Você já é muito ocupada para ter trabalho com o seu intesti<strong>no</strong>”.<br />

Nos dois exemplos há oposição semântica entre dinamismo e<br />

inércia – “mulher dinâmica x intesti<strong>no</strong> preguiçoso” e “muito ocupada x trabalho<br />

com o seu intesti<strong>no</strong>” – duas forças antagônicas, cujo equilíbrio po<strong>de</strong>rá ser<br />

restaurado com o uso do produto veiculado <strong>no</strong>s anúncios.<br />

Observe-se o título do SEBRAE/SP: “Para quem é peque<strong>no</strong> mas<br />

sonha gran<strong>de</strong>”, em que aparece a antítese peque<strong>no</strong>/gran<strong>de</strong>.<br />

O título da gela<strong>de</strong>ira BRASTEMP também encerra uma antítese:<br />

“Gela<strong>de</strong>ira agora só tem <strong>de</strong> dois tipos: a <strong>no</strong>va era e a já era”. A oposição se<br />

dá entre os termos <strong>no</strong>va era e já era, ao mesmo tempo que ocorre, em já era,<br />

a figura da ironia.<br />

O metalogismo ironia aparece também <strong>no</strong> slogan do produto VEJA:<br />

“Se você não larga<br />

da vassoura,<br />

ou é bruxa<br />

ou não usa Veja”.<br />

Segundo Tringali (1984, p.112), “Faz-se ironia quando se diz o<br />

contrário do que se pensa ou sente, mas <strong>de</strong>ixando enten<strong>de</strong>r isso. O caráter<br />

um tanto agressivo se revela pela possível etimologia da palavra, isto é, ira!”.<br />

A hipérbole consiste <strong>no</strong> exagero expressivo e por adjunção as<br />

75


coisas aumentam-se, isto é, modificam-se os semas intensivos. O silêncio,<br />

por exemplo, po<strong>de</strong> ser hiperbólico cada vez que representa o que se po<strong>de</strong><br />

dizer a mais.<br />

Exemplifica-se na obra Retórica Geral, que, diante <strong>de</strong> certos<br />

espetáculos ou sob o impacto <strong>de</strong> forte emoção, um elocutor que subitamente<br />

faz silêncio, ou um autor cujo <strong>discurso</strong> termina com reticências, dizem mais do<br />

que o espetáculo ou a emoção, e fazem crer que não pensam mais nada a<br />

respeito, quando, em realida<strong>de</strong>, pensam muito mais (DUBOIS et.al. 1974,<br />

p.189).<br />

No <strong>discurso</strong> verbal <strong>de</strong> anúncios <strong>publicitário</strong>s não encontramos o<br />

silêncio hiperbólico, mas um exemplo <strong>de</strong> hipérbole em que aparece o exagero<br />

expressivo. É o caso do título da carne NELORE NATURAL:<br />

“Ele é um peixe.<br />

E pelo jeito que come carne <strong>de</strong>ve ser um tubarão”.<br />

O referido exagero é caracterizado pelo fato <strong>de</strong> uma pessoa<br />

qualquer ficar com uma fome <strong>de</strong>scomunal diante do sabor e da qualida<strong>de</strong><br />

nutritiva da carne <strong>de</strong> gado Nelore.<br />

Nesta parte do trabalho preten<strong>de</strong>mos dividir o comentário <strong>de</strong> forma<br />

estrutural, o <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> para melhor apreendê-lo. Partimos da<br />

verificação <strong>de</strong> que o anúncio <strong>publicitário</strong> possui uma dimensão lingüística<br />

(verbal) e uma dimensão extra-lingüística (não verbal).<br />

Temos conhecimento <strong>de</strong> que o valor específico <strong>de</strong> um anúncio<br />

76


<strong>publicitário</strong> não resi<strong>de</strong> tão-somente em técnicas estilísticas ou retórico-<br />

lingüísticas que funcionam <strong>no</strong> nível dos vocábulos e das frases, mas <strong>de</strong><br />

numerosos outros elementos que entram em jogo num contexto amplo e que<br />

é consi<strong>de</strong>rado, pelos teóricos do Grupo <strong>de</strong> Liège, como ethos – “nós o<br />

<strong>de</strong>finimos como um estado afetivo provocado <strong>no</strong> receptor por uma mensagem<br />

particular e cuja qualida<strong>de</strong> específica varia em função <strong>de</strong> um certo número <strong>de</strong><br />

paramentos”. (DUBOIS et.al. 1974, p.204)<br />

Para levar a cabo <strong>no</strong>sso propósito, resta <strong>de</strong>screver e analisar os<br />

anúncios <strong>publicitário</strong>s <strong>no</strong> macro-contexto do <strong>discurso</strong> verbal e não-verbal.<br />

4.3 Análise <strong>de</strong> Anúncios Publicitários<br />

A publicida<strong>de</strong> é um tipo <strong>de</strong> comunicação <strong>no</strong> qual as mensagens são<br />

formadas através <strong>de</strong> imagens, texto e composição, usando-se co<strong>no</strong>tações<br />

culturais, icônicas e lingüísticas.<br />

O <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> apresenta características lingüísticas<br />

específicas que contribuem para a constituição dos textos, possibilitando o<br />

acesso à informação através <strong>de</strong> uma estreita relação entre o não verbal e o<br />

verbal, ou entre o icônico e o verbal. O texto <strong>publicitário</strong> nasce da intersecção<br />

<strong>de</strong> múltiplos fatores psicológicos, sociais e econômicos, por isso é o<br />

testemunho <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo e conduz a uma representação da<br />

cultura a que pertence. É nesse contexto que certos valores, mitos, idéias são<br />

77


impostos na organização da mensagem, (COSTA, 1995, p.31).<br />

Não se po<strong>de</strong> afirmar que exista uma língua própria da publicida<strong>de</strong>, e<br />

sim “<strong>de</strong>terminadas habilida<strong>de</strong>s e técnicas lingüísticas em uso <strong>no</strong>s anúncios e<br />

<strong>no</strong>s textos da propaganda rotulados <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> publicitária” (MARTINS,<br />

1997, p.33).<br />

A mensagem publicitária faz uso, não só <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> efeitos<br />

retóricos (aos quais não faltam as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>, já <strong>de</strong>stacadas<br />

anteriormente), mas também <strong>de</strong> estratégias persuasivas, ressaltando-se<br />

sobretudo, os usos dos itens lexicais. Essa mensagem e as relações frasais<br />

<strong>no</strong> <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> também apresentam jogos <strong>de</strong> palavras, imagens,<br />

cores, que incitam o receptor a participar <strong>de</strong> um universo lúdico. Sua função<br />

primordial é tentar ven<strong>de</strong>r o produto, informando sobre suas características<br />

básicas, exaltando as suas qualida<strong>de</strong>s através <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> persuasão<br />

e sedução.<br />

Observem-se os anúncios <strong>publicitário</strong>s que seguem, cuja <strong>análise</strong><br />

será efetuada logo após a sua apresentação.<br />

78


A começar pelo título, pela <strong>no</strong>meação da marca do produto: OX,<br />

79


observa-se que é um empréstimo da língua inglesa, por adoção (OX = boi <strong>de</strong><br />

corte), é possível que a utilização <strong>de</strong>sse empréstimo lingüístico ocorra por<br />

analogia com os produtos naturais que servem <strong>de</strong> alimentação aos bovi<strong>no</strong>s<br />

(PLANTS e PLANTS).<br />

O título do anúncio apresenta em <strong>discurso</strong> <strong>de</strong>clarativo com verbos<br />

<strong>no</strong> modo imperativo (pense), <strong>no</strong> infinitivo (escolher) e <strong>no</strong> tempo presente do<br />

indicativo (pensa), recursos lingüísticos freqüentemente utilizados na<br />

publicida<strong>de</strong> com o objetivo <strong>de</strong> persuadir o consumidor a respeito do produto<br />

anunciado, já que expressam or<strong>de</strong>m e referem-se à realida<strong>de</strong> atual.<br />

Em nível <strong>de</strong> <strong>discurso</strong> verbal, constatamos o processo retórico <strong>de</strong><br />

quiasmo (assemelhando-se ao <strong>no</strong>me do produto ou marca), expressam or<strong>de</strong>m<br />

e realida<strong>de</strong> e a repetição enfática dos vocábulos que qualificam o shampoo<br />

“Plants + Plants” (empréstimo por adoção) e que justificam o dobro <strong>de</strong> ativos,<br />

quer dizer um produto com ação completa <strong>de</strong> restauração dos cabelos, da raiz<br />

às pontas.<br />

Também se observa o hibridismo na construção repetitiva dos<br />

atributos do shampoo “com complexo ativo <strong>de</strong> plantas “with plants active<br />

extracts complex”, “cabelos danificados/Shampoo for damaged hair”, 8 fl oz/<br />

240 ml.” A utilização da língua inglesa vem enfatizar as qualida<strong>de</strong>s do<br />

produto, ou seja, ele é <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> internacional. O slogan é simples frase<br />

<strong>de</strong>clarativa: “Faz a diferença”.<br />

O texto localizado à margem direita baixa da<br />

imagem não verbal, é formado por suas orações <strong>no</strong>minais: “Nova linha OX<br />

80


Plants + Plants/Agora com o dobro <strong>de</strong> ativos”, em que se <strong>de</strong>stacam os<br />

atributos do produto, através da reiteração vocabular.<br />

No <strong>discurso</strong> não verbal há que se <strong>de</strong>stacar a cor azul, que indica<br />

profundida<strong>de</strong> ao mesmo tempo que se relaciona com o <strong>de</strong>senho em forma <strong>de</strong><br />

“S”, semelhante a um fio <strong>de</strong> cabelo, para enfatizar a profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação do<br />

produto próprio para cabelos danificados e com o dobro <strong>de</strong> ativos.<br />

Ao <strong>de</strong>sdobrar in natura os componentes essenciais da fórmula do<br />

shampoo, enfatiza-se a confiabilida<strong>de</strong> do produto exibido em recipientes<br />

transparentes, <strong>no</strong> intuito <strong>de</strong> o consumidor saber o que está consumindo.<br />

Convém observar também o ludismo na ilustração <strong>de</strong> copo, vidros e tubos<br />

com acoplamento das formas triangular invertida, com o objetivo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrar a eficácia do produto em dobro, da raiz à ponta <strong>de</strong> cada fio <strong>de</strong><br />

cabelo.<br />

Nos textos ou <strong>discurso</strong>s verbais o emissor (locutor) é effacé ou<br />

oculto <strong>no</strong> ato <strong>de</strong>locutivo (modalida<strong>de</strong> enunciativa em que o locutor e o<br />

interlocutor estão ausentes) e a coesão é seqüencial (mo<strong>de</strong> d’enchainement)<br />

por conseqüência <strong>no</strong> primeiro corpo do texto e coesão referencial exofórica<br />

(fora do texto), como bem explicam Nelly M. <strong>de</strong> Carvalho e M. Nilda <strong>de</strong> M.<br />

Pessoa (1996, p.82).<br />

O próximo anúncio a ser estudado trata <strong>de</strong> um produto indicado<br />

para “resolver” os problemas intestinais da mulher. Vejamos a propaganda:<br />

81


A <strong>no</strong>meação do produto dá-se em forma <strong>de</strong> empréstimo lingüístico<br />

82


por adoção (italia<strong>no</strong> – naturetti = natureza). O slogan do produto é constituído<br />

por duas frases <strong>no</strong>minais, num processo <strong>de</strong> justaposição: “Naturetti. Conforto<br />

<strong>no</strong> seu ritmo”.<br />

O título: “Você já é muito ocupada para ter trabalho com o seu<br />

intesti<strong>no</strong>” revela a presença <strong>de</strong> um interlocutor virtual (<strong>de</strong>stinatário, receptor)<br />

ou possível consumidor do sexo femini<strong>no</strong> – Você – i<strong>de</strong>ntificado pela imagem<br />

visual feminina e pelo adjetivo ocupada.<br />

O período que estrutura o título é organizado por duas orações: a<br />

principal – “Você já é muito ocupada” – e a subordinada adverbial final “para<br />

ter trabalho com o seu intesti<strong>no</strong>”. Esse tipo <strong>de</strong> período po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

não tenso porque não traduz suspense na informação. (CARVALHO,<br />

PESSOA, 1996, p.76)<br />

Quanto ao modo <strong>de</strong> organização discursiva, o título é <strong>de</strong>clarativo,<br />

porque através <strong>de</strong>le se enuncia alguma coisa, mas com argumentação<br />

aprofundada e ao mesmo tempo, é um título opositivo em termos retóricos,<br />

porque apresenta antítese: “mulher dinâmica X intesti<strong>no</strong> preguiçoso”. Repare-<br />

se, também, na sutileza do <strong>discurso</strong> em que os significados antitéticos mais<br />

parecem um trocadilho com palavras que enfatizam muito mais o dinamismo<br />

da vida da mulher mo<strong>de</strong>rna, do que o problema intestinal que se reduzirá a<br />

sua insignificância, graças à eficácia do produto anunciado.<br />

O corpo do texto, à margem esquerda, abaixo do título, é formado<br />

<strong>de</strong> períodos hipotáticos “agora você po<strong>de</strong> prever a hora” (oração principal) “<strong>de</strong><br />

ir ao banheiro” (oração subordinada substantiva completiva <strong>no</strong>minal);<br />

83


“Naturetti combina princípios vegetais” (oração principal) “que atuam<br />

estimulando a função intestinal <strong>de</strong> um jeito suave e gradual” (oração<br />

subordinada adjetiva restritiva).<br />

“Basta um comprimido ou (basta) uma colher <strong>de</strong> chá diariamente”<br />

(orações simples) “para o seu intesti<strong>no</strong> funcionar sem surpresas”.<br />

O slogan é uma frase <strong>no</strong>minal: “Conforto <strong>no</strong> seu ritmo”.<br />

No <strong>discurso</strong> não verbal observam-se as cores claras, que<br />

<strong>de</strong>monstram suavida<strong>de</strong> e beleza, com a predominância da cor ver<strong>de</strong>, que<br />

remete, por analogia, à composição <strong>de</strong> elementos naturais <strong>no</strong> produto<br />

anunciado.<br />

Repare-se, também, <strong>no</strong> movimento corporal da mulher, que parece<br />

simular uma antítese entre a posição das pernas contraídas contra o ventre<br />

(como quando estamos com dor) em contraste com a expressão facial<br />

(sorriso) <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> alívio provocado pelo efeito do produto.<br />

A seguir, apresentamos uma variação do anúncio do produto<br />

Naturetti que acabamos <strong>de</strong> analisar. Observamos o referido anúncio:<br />

84


O anúncio <strong>publicitário</strong> do laboratório AVENTIS com o produto<br />

85


NATURETTI, para regular o intesti<strong>no</strong>, apresenta o título: “Na vida <strong>de</strong> uma<br />

mulher dinâmica como você não tem lugar para intesti<strong>no</strong> preguiçoso.” Este<br />

título traz uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> positivida<strong>de</strong> ao leitor, com resultado agradável,<br />

porque o produto po<strong>de</strong> ajudar a melhorar seu intesti<strong>no</strong> preguiçoso e seguir<br />

com sua vida dinâmica.<br />

Na elaboração do título, o <strong>publicitário</strong> criativo recorre a <strong>no</strong>rmas da<br />

estilística, <strong>de</strong> artifícios para provocar o leitor a comprar o produto, recursos<br />

estes relacionados às <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>, como o caso da antítese, em que<br />

o <strong>discurso</strong> apresenta duas situações diferentes: dinâmica e preguiçoso, ou<br />

seja, termos opostos, o que caracteriza o <strong>discurso</strong> antitético.<br />

O corpo do texto: “Agora você po<strong>de</strong> prever a hora <strong>de</strong> ir ao banheiro.<br />

Naturetti combina princípios vegetais que atuam estimulando a função<br />

intestinal <strong>de</strong> um jeito suave e gradual. Basta um comprimido ou uma colher <strong>de</strong><br />

chá diariamente para o seu intesti<strong>no</strong> funcionar sem surpresas.” Há um<br />

conteúdo informativo ao anunciar que a fórmula combina princípios vegetais e<br />

que estes atuam estimulando a função intestinal <strong>de</strong> um jeito suave e gradual.<br />

É nesta parte do texto que a leitora toma a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> adquirir o produto e o<br />

<strong>publicitário</strong> usa verbos que <strong>de</strong>monstram claramente a ação do produto como:<br />

po<strong>de</strong> prever; combina; atuam; basta e funcionar, exaltando a eficácia do<br />

produto. O texto apresenta argumentação com força persuasiva, levando a<br />

leitora a se convencer sobre a utilida<strong>de</strong> do produto.<br />

O slogan – “Naturetti: Conforto <strong>no</strong> seu ritmo” – é marcado por uma<br />

frase curta, mas que remete à idéia central da mensagem: “mulher dinâmica<br />

86


como você”. O slogan tem por objetivo atrair a atenção da consumidora<br />

quanto ao produto e também complementa o título do anúncio.<br />

A fórmula do produto observada na embalagem contém produtos<br />

naturais como: “Cássia Fistula”; “Senna Alexandrina Miller” “Tamarindus<br />

Indica”; “Coriandrum Salivum” e “Hyeyrrhisa Globa”, <strong>de</strong>ixando também visível<br />

à leitora a figura <strong>de</strong> uma mulher saudável, feliz, sem problemas intestinais,<br />

perto do corpo do texto para confirmar a argumentação textual.<br />

Nas cores usadas há predominância da cor ver<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>monstrar<br />

o uso <strong>de</strong> ervas naturais, extraídas apenas da natureza, sem composição<br />

alopática; segundo Kandinsky (1991, p.107) a profundida<strong>de</strong> do ver<strong>de</strong> dá uma<br />

impressão <strong>de</strong> repouso e <strong>de</strong> contentamento consigo mesmo.<br />

A imagem apresenta uma mulher sentada em um sofá com as<br />

pernas cruzadas, <strong>de</strong>monstrando sensação <strong>de</strong> leveza e alegria. O sofá<br />

aparece suspenso <strong>no</strong> ar, também atribuindo sensação <strong>de</strong> leveza e <strong>de</strong> alívio.<br />

Tanto o <strong>discurso</strong> verbal quanto o <strong>discurso</strong> não verbal apresentam uma<br />

mensagem positiva para as mulheres que fizerem uso <strong>de</strong>sse produto.<br />

Na seqüência <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso trabalho, vamos estudar outra publicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um produto laxativo – o Guttalax.<br />

87


O vocábulo GUTTALAX possui a formação léxica por hibridismo:<br />

88


“GUTTA” (latim = gota) + “LAX” (abreviatura <strong>de</strong> laxante), ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação<br />

sufixal.<br />

O título do anúncio <strong>publicitário</strong> da GUTTALAX Pérolas: “A<br />

in<strong>de</strong>pendência é uma pérola” utiliza-se <strong>de</strong> uma figura <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong><br />

metafórica, ou metáfora in praesentia, ao comparar a in<strong>de</strong>pendência com a<br />

pérola, uma forma gramatical que introduz relação <strong>de</strong> comparação, <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Como é prática comum na <strong>linguagem</strong> publicitária, o título chama a<br />

atenção pela duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido. Quando se diz “a in<strong>de</strong>pendência é uma<br />

pérola”, po<strong>de</strong>-se estar referindo ao valor material das pérolas, representando<br />

a in<strong>de</strong>pendência financeira. Po<strong>de</strong>-se ainda relacionar o valor da<br />

in<strong>de</strong>pendência à preciosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma pérola. Mas essa leitura é possível fora<br />

do contexto verbal e não verbal. “A pérola representa o princípio Yin: ela é o<br />

símbolo essencial da feminilida<strong>de</strong> criativa”, conforme afirma Gheerbrant<br />

(1991, p.711). A semelhança entre a pérola (<strong>de</strong>ntro da concha) e o feto<br />

(<strong>de</strong>ntro do ventre mater<strong>no</strong>) lhe confere proprieda<strong>de</strong>s genésicas e obstétricas e<br />

<strong>de</strong>las <strong>de</strong>rivam todas as proprieda<strong>de</strong>s mágicas, medicinais, e até funerárias. A<br />

título <strong>de</strong> exemplo, na Índia ela é recomendada contra hemorragias, icterícia,<br />

loucura, envenenamento, doença dos olhos, tísica, prisão <strong>de</strong> ventre, etc... “Na<br />

Europa, ela era utilizada na medicina para tratar a melancolia, a epilepsia, a<br />

<strong>de</strong>mência....” (GHEERBRANT, 1991, p.711)<br />

O slogan: “GUTTALAX Pérolas. Eficaz como você quer. Delicado<br />

como você gosta”, usa a repetição <strong>de</strong> palavras, “como você” para convencer a<br />

consumidora sobre a “eficácia” e “<strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za” <strong>de</strong> um produto que a liberte da<br />

89


prisão <strong>de</strong> ventre sem cólicas. Os verbos “querer” e “gostar” indicando volição<br />

e sensação reforçam a função apelativa da mensagem, buscando convencer<br />

a consumidora.<br />

O texto é explicativo: “ Guttalax é um laxante que combate a prisão<br />

<strong>de</strong> ventre” e a utilização dos adjetivos do slogan: “Delica<strong>de</strong>za do organismo<br />

femini<strong>no</strong>”, e logo abaixo: “Além <strong>de</strong> tudo, discreto como toda mulher gosta <strong>de</strong><br />

ser”, compara a mulher discreta com o produto.<br />

Observa-se também <strong>no</strong> <strong>discurso</strong> não verbal, uma moça vestindo<br />

calça com a cor pérola e uma mini-blusa preta com bolinhas brancas, <strong>de</strong><br />

forma coerente com o título: jovem, livre, <strong>de</strong>spojada, <strong>de</strong>scalça e com ar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scontração. A sensação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência também está presente nas<br />

pérolas que aparecem tenuamente ao fundo, parecendo bolhas <strong>de</strong> sabão,<br />

livres, voando.<br />

O próximo anúncio selecionado por nós é o da Gela<strong>de</strong>ira Brastemp.<br />

Vejamos a imagem e o <strong>discurso</strong> verbal nele presentes:<br />

90


A marca BRASTEMP, por força <strong>de</strong> sua publicida<strong>de</strong>, adquiriu sentido<br />

metafórico <strong>de</strong> algo excepcional, na <strong>linguagem</strong> popular, como, por exemplo,<br />

“sua <strong>no</strong>ta na escola não é nenhuma BRASTEMP”. E por isso há uma<br />

associação <strong>de</strong> sentidos quando se trata dos produtos BRASTEMP como<br />

eletrodomésticos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte ligados ao fator térmico, como gela<strong>de</strong>ira,<br />

fogão, freezer, por exemplo.<br />

No título <strong>de</strong>ste anúncio <strong>publicitário</strong> <strong>de</strong> gela<strong>de</strong>ira da marca<br />

BRASTEMP – “Gela<strong>de</strong>ira agora só tem <strong>de</strong> dois tipos: a <strong>no</strong>va era e a já-era” –<br />

o recurso lingüístico usado é a antítese: “a <strong>no</strong>va era” versus a “já-era”, o <strong>no</strong>vo<br />

e o antigo, palavras contrárias para persuadir o consumidor a adquirir um<br />

produto <strong>no</strong>vo, revolucionário, incomparável aos concorrentes, além também<br />

do trocadilho: <strong>no</strong>va era e já-era e da repetição <strong>de</strong> termos era.....era. A<br />

<strong>linguagem</strong> coloquial já-era indica fora <strong>de</strong> uso, velha, ultrapassada.<br />

O slogan: “Nova linha <strong>de</strong> Refrigeradores Brastemp. Uma revolução<br />

que não tem comparação” reforça as idéias expostas <strong>no</strong> título, completando-o.<br />

O corpo do texto apresenta uma mo<strong>de</strong>rníssima gela<strong>de</strong>ira “6th<br />

sense”, que “regula automaticamente a temperatura, preservando os<br />

alimentos frescos por mais tempo. Dispenser <strong>de</strong> água com trava: água<br />

sempre gelada, com o máximo <strong>de</strong> aproveitamento da porta: é só colocar o<br />

copo e se servir. Ar frio adicional: um sistema que permite refrigerar as<br />

bebidas na meta<strong>de</strong> do tempo.” O texto informa todas as mudanças que houve<br />

na <strong>no</strong>va gela<strong>de</strong>ira e a revolução operada <strong>no</strong>s <strong>de</strong>talhes para persuadir o leitor<br />

e ven<strong>de</strong>r o produto, apresentando-o em estrutura sinedóquica (partes pelo<br />

92


todo) com todas as características e vantagens que possui.<br />

Na ilustração predomina a cor azul que segundo Chevalier e<br />

Gheerbrant (1991, p.107) é a mais profunda e imaterial das cores, como um<br />

vazio acumulado, puro e frio. Por isso, o azul é consi<strong>de</strong>rado a mais fria das<br />

cores e, em seu valor absoluto, a mais pura. Imaterial em si mesma é uma cor<br />

que <strong>de</strong>smaterializa tudo o que <strong>de</strong>la se impregna. O azul é o domínio <strong>de</strong> um<br />

clima <strong>de</strong> irrealida<strong>de</strong> ou super-realida<strong>de</strong> – resolvendo em si mesmo as<br />

contradições e alternâncias – tal como a do dia e da <strong>no</strong>ite – que dão ritmo à<br />

vida humana.<br />

Frieza, pureza, imaterialida<strong>de</strong>, clima <strong>de</strong> alternância e <strong>de</strong> irrealida<strong>de</strong><br />

são características que muito bem po<strong>de</strong>m ser aplicadas à <strong>no</strong>va linha <strong>de</strong><br />

gela<strong>de</strong>iras da Brastemp, pois interrelacionam-se os <strong>discurso</strong>s verbal e não<br />

verbal do produto cuja marca é 6th sense: temperatura baixa; dispenser <strong>de</strong><br />

água gelada; ar frio adicional, ou seja, tanto o produto parece estar além<br />

daqueles que existem <strong>no</strong> mercado porque pertencem à linha “6th sense”,<br />

quanto procura insinuar que os compradores <strong>de</strong>vem apelar para o seu “sexto<br />

sentido” e adquirir o produto ofertado.<br />

Dando prosseguimento ao <strong>no</strong>sso trabalho, iremos analisar um<br />

anúncio que procura convencer o leitor a comprar a carne da marca “Nelore<br />

Natural”.<br />

93


Esse anúncio da NELORE NATURAL utiliza-se <strong>de</strong> uma celebrida<strong>de</strong><br />

do mundo esportivo na modalida<strong>de</strong> natação – Fernando Scherer – o Xuxa,<br />

como mo<strong>de</strong>lo.<br />

O título: “Ele é um peixe. E pelo jeito que come carne <strong>de</strong>ve ser um<br />

tubarão”, é formado por três orações. A primeira – Ele é um peixe – é uma<br />

oração absoluta que apresentam um predicativo do sujeito ou um período<br />

simples que apresenta um sujeito e um predicativo do sujeito, que exerce em<br />

si uma metáfora in praesentia ou uma imagem, segundo classificação<br />

tradicional. A segunda - “E pelo jeito <strong>de</strong>ver ser um tubarão” – é uma oração<br />

coor<strong>de</strong>nada aditiva que carrega em si uma hipérbole. É uma oração<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outra – que come carne – que atribui uma qualida<strong>de</strong> àquela<br />

que é consi<strong>de</strong>rado um peixe, sendo, pois, uma oração adjetiva restritiva. Por<br />

ser um peixe e comer muita carne, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um tubarão.<br />

O recurso lingüístico da atribuição da imagem peixe e tubarão a um<br />

exímio nadador, além <strong>de</strong> construir uma metáfora é a configuração <strong>de</strong> um<br />

exagero (tubarão) para persuadir o consumidor.<br />

O corpo do texto apresenta todas as qualida<strong>de</strong>s do produto Nelore<br />

Natural, através <strong>de</strong> argumentos racionais: “carne nutritiva, saudável, e muito<br />

mais saborosa.” As causas da qualida<strong>de</strong> do produto são salientadas através<br />

do ambiente em que os bovi<strong>no</strong>s vivem e dos alimentos que ingerem. “Os<br />

animais são criados em harmonia com a natureza e alimentados com capim e<br />

sal mineral.” O campo semântico do nadador comparado a peixe e tubarão<br />

também é salientado com os vocábulos água e piscina. O mo<strong>de</strong>lo e produto<br />

95


equivalem-se em recor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>; fusão do texto verbal e não verbal.<br />

Fazendo-se a <strong>análise</strong> dos <strong>discurso</strong>s verbal e não verbal, fica patente<br />

a intenção do anúncio <strong>de</strong> convencer o consumidor a comprar o produto Nelore<br />

Natural que, <strong>de</strong> acordo com as informações nele contidas, parece ser mais<br />

saudável e nutritivo, que os similares existentes <strong>no</strong> mercado e ainda<br />

proporcionam saú<strong>de</strong>, beleza e felicida<strong>de</strong> a quem o consumir.<br />

96


Geralmente, somos bombar<strong>de</strong>ados por campanhas publicitárias que<br />

buscam ven<strong>de</strong>r produtos para cabelos, especificamente xampus, razão pela<br />

qual selecionamos um anúncio cujo produto em <strong>de</strong>staque é o “Sampoo Seda”:<br />

97


O produto da marca SEDA faz uma publicida<strong>de</strong> com duas moças<br />

com cabelos compridos e lisos expostos ao sol do verão, sem proteção,<br />

sorrindo, com as pernas cruzadas e <strong>no</strong>s pés um chapéu. O título do anúncio<br />

“Seu cabelo merece um lugar ao sol” é uma construção verbal com recurso<br />

metonímico, porque não são apenas os cabelos que se encontram expostos<br />

ao sol, mas as duas jovens <strong>de</strong> corpo inteiro, com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar<br />

que as jovens po<strong>de</strong>m tomar sol <strong>no</strong>s cabelos, pois estão protegidas com o<br />

shampoo SEDA VERÃO.<br />

O slogan “Novo seda verão intenso” é breve, mas apresenta<br />

informações necessárias, o produto <strong>no</strong>vo da marca Seda usado <strong>no</strong> verão<br />

intenso; é preciso por usar termos apropriados, sem subterfúgios. O corpo do<br />

texto: “Agora com sol Action UV. Proteção total para seus cabelos” serve-se<br />

do empréstimo lingüístico action (ação) indicando a proteção <strong>de</strong> raios ultra<br />

violeta para os seus cabelos. A proteção total envolve não só a ação contra a<br />

formação <strong>de</strong> pontas duplas como contra a quebra dos fios.<br />

As cores nesse anúncio também são importantes para marcar o<br />

clima <strong>de</strong> verão, azul da cor do céu, e para a publicida<strong>de</strong> do produto: azul (mar<br />

e céu), areia (praia e fundo do título) e amarelo sobre o azul para a<br />

embalagem dos produtos. Além disso, aparece a imagem <strong>de</strong> um painel <strong>de</strong><br />

quarto <strong>de</strong> adolescente, on<strong>de</strong>, geralmente, <strong>de</strong>ixam-se fixadas as recordações<br />

significativas <strong>de</strong> bons momentos vividos (fotos, objetos, bilhetes, postais). Em<br />

um lugar na praia, os pés, justamente posicionados na altura da cabeça, para<br />

chamar a atenção dos cabelos, foco <strong>de</strong> interesse do produto.<br />

98


Dessa maneira, o anúncio sugere que a compra dos xampus Seda<br />

<strong>de</strong>ixarão os cabelos da mulher que os compra como os das duas moças que<br />

aparecem retratadas na parte superior da propaganda.<br />

99


Num país como o <strong>no</strong>sso, <strong>no</strong> qual há sol praticamente o a<strong>no</strong> todo, há<br />

produtos que ajudam o consumidor a conseguir mais facilmente uma pele<br />

bronzeada. Nesse sentido, observe-se o anúncio do produto “Sundown Gold”<br />

da Johnson & Johnson:<br />

100


A marca SUNDOWN GOLD é um empréstimo lingüístico da língua<br />

inglesa, que significa pôr-do-sol e ouro. Ao mesmo tempo em que o uso do<br />

estrangeirismo atribui um certo status ao produto, diferenciando-o dos seus<br />

concorrentes, a marca SUNDOWN GOLD remete à imagem da cor dourado-<br />

bronzeada da pele <strong>de</strong> quem consome o produto para se expor aos raios <strong>de</strong><br />

sol.<br />

O título: “Aju<strong>de</strong> a manter a beleza das praias brasileiras” é injuntivo<br />

porque através <strong>de</strong>le dá-se uma or<strong>de</strong>m ao receptor, com o verbo ajudar <strong>no</strong><br />

modo imperativo. Na construção do título observa-se o uso da metáfora in<br />

absentia, uma vez que o substantivo a beleza substitui completamente o<br />

elemento real mulher/homem, com quem estabelece relações <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>.<br />

Na coesão esafórica (entre o verbal e o não verbal) observa-se também a<br />

limpeza da areia dourada (que constitui beleza também) e o jogo <strong>de</strong> cores<br />

bronze e ouro nas embalagens dos produtos.<br />

O corpo do texto é formado pelo campo semântico referente a<br />

verão, praia e beleza brasileiros: calor, gingado, corpo dourado, beleza do<br />

verão brasileiro e, <strong>no</strong> meio do texto <strong>de</strong>stacam-se a composição e as<br />

qualida<strong>de</strong>s do produto que auxiliam na obtenção <strong>de</strong>ssa beleza: “corpo<br />

dourado com Sundown Gold. Uma linha completa <strong>de</strong> bronzeadores que têm<br />

betacarote<strong>no</strong>, vitaminas E e FPS para garantir um bronzeado bonito,<br />

saudável, intenso e duradouro. Mostre na própria pele a beleza do verão<br />

brasileiro”.<br />

O emissor effacé (apagado) envia a mensagem ao consumidor ou<br />

101


eceptor que gosta <strong>de</strong> se apresentar com a pele bronzeada para aumentar a<br />

beleza das praias brasileiras.<br />

O slogan “SUNDOWN GOLD. PEGUE ESSA COR” apresenta<br />

caráter persuasivo, com o verbo pegar <strong>no</strong> modo imperativo, e por<br />

contigüida<strong>de</strong> entre a marca do produto e a beleza da mulher brasileira <strong>de</strong> pele<br />

bronzeada, o recurso retórico utilizado é o metonímico: “essa cor” (=<br />

SUNDOWN GOLD).<br />

Observe-se que o produto como a própria marca <strong>de</strong>fine, por<br />

analogia, refere-se à pele bronzeada, que é um dos <strong>de</strong>staques da beleza<br />

brasileira <strong>no</strong> verão.<br />

No prosseguimento <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso trabalho, escolhemos para <strong>análise</strong><br />

uma propaganda dos produtos para cabelos da linha Lifetex, da empresa<br />

Wella.<br />

102


103


Na apresentação <strong>de</strong> produtos da linha LIFETEX, a WELLA <strong>de</strong>staca,<br />

nesse anúncio <strong>publicitário</strong>, a nutrição capilar: “LIFETEX nutri-care”. O título é<br />

formado por uma frase <strong>no</strong>minal – “Nutrição capilar” – que já <strong>de</strong>fine a finalida<strong>de</strong><br />

do produto e por uma oração adjetiva restritiva reduzida <strong>de</strong> particípio: “Servida<br />

<strong>no</strong>s melhores salões <strong>de</strong> beleza” – que atribui qualida<strong>de</strong> superior aos locais<br />

que <strong>de</strong>têm a exclusivida<strong>de</strong> do produto. O verbo servir está empregado em<br />

sentido metafórico, associando-se, por analogia, à imagem do produto<br />

disposto num prato raso, com escova e pente <strong>de</strong> cada lado (como se fosse<br />

uma refeição). Dessa forma, por similarida<strong>de</strong> a uma refeição nutritiva,<br />

anuncia-se o produto, cujo texto enumera a composição e as qualida<strong>de</strong>s: “Os<br />

produtos da linha Lifetex contêm o rico complexo Nutri-Care (empréstimo da<br />

língua inglesa, que significa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrição) com vitaminas,<br />

minerais, micro elementos e extratos <strong>de</strong> frutas que nutre e reconstrói seus<br />

cabelos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para fora”, apresenta argumentos racionais que apelam<br />

para fornecer dados que comprovem a eficiência do produto, informando a<br />

sua fórmula, suas características e vantagens, através <strong>de</strong> verbos como<br />

contêm, nutre e reconstrói, atribuindo uma ação que produz resultado e repete<br />

sempre a idéia <strong>de</strong> nutrição.<br />

Na mensagem esquerda do anúncio, na parte <strong>de</strong> baixo, aparece a<br />

ilustração composta pela linha completa do produto e, para mostrar a sua<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nível internacional e o status <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>le se utiliza, em inglês<br />

surge uma frase que revela a incontestável superiorida<strong>de</strong> da marca e da linha:<br />

Beautiful hair needs an expert (cabelo bonito necessita <strong>de</strong> especialista).<br />

104


A figura da mulher <strong>de</strong> cabelos negros serve apenas como<br />

complementação da <strong>linguagem</strong> verbal e não verbal.<br />

No slogan: “Lifetex Nutri-Care: Nutrição i<strong>de</strong>al para um cabelo bonito<br />

e saudável” são utilizados os adjetivos que atribuem o efeito <strong>de</strong>sejado aos<br />

cabelos tratados com o produto. Essa é uma técnica <strong>de</strong> persuasão.<br />

O próximo anúncio a ser estudado também apela para a persuasão<br />

na tentativa <strong>de</strong> convencer o leitor a utilizar os serviços do SEBRAE.<br />

105


106


O SEBRAE SP lança um anúncio <strong>publicitário</strong> para incentivar<br />

pessoas a transformarem um negócio informal em pequenas empresas,<br />

divulgando-o através do título: “Para quem é peque<strong>no</strong>, mas sonha gran<strong>de</strong>”,<br />

que tem, como principal função, atrair a atenção pela apresentação da<br />

mensagem, com letras gran<strong>de</strong>s e azuis, tendo como fundo a cor cinza;<br />

provocando o interesse pelo seu conteúdo. O título se caracteriza por conter<br />

palavras-chaves que são informativas e conduz o leitor a uma <strong>de</strong>cisão por<br />

meio <strong>de</strong> argumentações, que parece ser lógica. As palavras usadas que<br />

pren<strong>de</strong>m a atenção do leitor são: peque<strong>no</strong> e gran<strong>de</strong>, utilizando uma figura <strong>de</strong><br />

<strong>linguagem</strong> <strong>de</strong><strong>no</strong>minada antítese, que tem como objetivo realçar uma idéia<br />

usando palavras <strong>de</strong> sentido opostos. O título é um período composto por<br />

coor<strong>de</strong>nação, com o objetivo <strong>de</strong> afirmar as idéias <strong>de</strong> modo claro, sem<br />

interrupção quanto ao sentido.<br />

O corpo do texto: “Você po<strong>de</strong> ter um negócio informal. Ou apenas<br />

uma idéia. Po<strong>de</strong> parecer pouco, mas é só disso que você precisa para mudar<br />

a vida. O SEBRAE-SP existe para ajudar a transformar seu gran<strong>de</strong> sonho<br />

numa pequena empresa. Presente em todo o Estado, ele está ao lado dos<br />

empresários <strong>de</strong> peque<strong>no</strong>s negócios em tudo, orientando e ajudando a criação<br />

até a gestão. Informações, capacitação, consultoria e eventos <strong>de</strong> negócio. O<br />

SEBRAE-SP indica todos os passos para você chegar aon<strong>de</strong> sempre sonhou.<br />

Procure uma unida<strong>de</strong> perto <strong>de</strong> você e dê um <strong>no</strong>vo rumo à sua vida. SEBRAE-<br />

SP. Sua empresa po<strong>de</strong> ser pequena, mas seus sonhos não”, é puramente<br />

informativo e estrutura-se em três partes distintas: a introdução, em que se<br />

107


apresenta o serviço com dados e propósito da mensagem: “Você po<strong>de</strong> ter um<br />

negócio informal... precisa mudar sua vida”. A venda do serviço, suas<br />

características: “O SEBRAE existe para ajudar a transformar seu sonho numa<br />

pequena empresa... Procure uma unida<strong>de</strong> perto <strong>de</strong> você e dê um <strong>no</strong>vo rumo à<br />

sua vida.” E a terceira parte, a volta ao início da mensagem: “SEBRAE-SP.<br />

Sua empresa po<strong>de</strong> ser pequena, mas seus sonhos não”, há um <strong>discurso</strong><br />

elíptico, “seus sonhos não são peque<strong>no</strong>s, e sim gran<strong>de</strong>s”, voltando à<br />

mensagem do título.<br />

O slogan é o mesmo do título: “Para quem é peque<strong>no</strong>, mas sonha<br />

gran<strong>de</strong>.” E logo abaixo os telefones para contato, fazendo parte também do<br />

slogan.<br />

No <strong>discurso</strong> não verbal observa-se uma moça vestida <strong>de</strong> azul e com<br />

um avental, com uma fita métrica nas mãos para mostrar que o trabalho é a<br />

principal venda <strong>de</strong>sse anúncio e está sorrindo por encontrar <strong>no</strong> SEBRAE-SP,<br />

o lugar on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> tornar uma empresária.<br />

Em face da avalanche <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> limpeza que existem <strong>no</strong><br />

mercado, os <strong>publicitário</strong>s, para garantir a atenção e aquisição dos produtos<br />

que anunciam, precisam ser cada vez mais inventivos e criativos, como se<br />

<strong>no</strong>ta <strong>no</strong> anúncio dos produtos <strong>de</strong> limpeza “Veja”, reproduzido na próxima<br />

página.<br />

108


109


O produto VEJA para limpeza traz em seu anúncio <strong>publicitário</strong> o<br />

título colocado na porta <strong>de</strong> uma gela<strong>de</strong>ira pregado por um imã em formato <strong>de</strong><br />

abelha. O título: “Se você não larga da vassoura, ou é bruxa, ou não usa<br />

VEJA”, chama a atenção do receptor para o <strong>no</strong>me do produto VEJA com o<br />

sentido <strong>de</strong> olhe. O título faz uma comparação: “Se você não larga da<br />

vassoura, ou é bruxa, ou não usa Veja”, um recurso metafórico, em que a<br />

comparação é feita através <strong>de</strong> uma forma gramatical <strong>de</strong> equivalência, <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: “você...é bruxa ou não usa Veja”, este recurso é <strong>de</strong><strong>no</strong>minado na<br />

Retórica Geral (1974) como metáfora in praesentia.<br />

O título é formado por três orações, uma oração subordinada<br />

condicional: “Se você não larga da vassoura”, e outras duas orações<br />

coor<strong>de</strong>nadas sindéticas alternativas: “ou é bruxa, ou não usa Veja”. No próprio<br />

título é mencionado o <strong>no</strong>me do produto: Veja, uma característica que, além <strong>de</strong><br />

apresentar a marca, ou a i<strong>de</strong>ntificação do produto, o vocábulo VEJA ainda<br />

apresenta vários sentidos: é o <strong>no</strong>me do produto <strong>de</strong> limpeza que revela a<br />

verda<strong>de</strong>ira cor dos objetos limpos <strong>de</strong> poeira ou gordura; é uma função<br />

apelativa para que se olhe a limpeza após o uso do produto e também se <strong>no</strong>te<br />

o bilhete que indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição do produto. Além disso,<br />

sinaliza que, tal como a abelha que sai da colméia à procura <strong>de</strong> pólen e<br />

<strong>de</strong>pois a ela retorna para fabricar o mel, a sujeira vai embora com o uso do<br />

produto, mas sempre volta.<br />

O slogan: A sujeira vai e volta, usa a antítese, termos contrários<br />

para caracterizar a sujeira. A repetição do termo não <strong>no</strong> título: “não larga da<br />

110


vassoura...não usa Veja”, embora se apresente como forma negativa, revela-<br />

se com significado positivo: “Use Veja e largue a vassoura.<br />

Este anúncio chama a atenção por se tratar <strong>de</strong> um título seletivo<br />

com abrangência a <strong>de</strong>terminado segmento <strong>de</strong> clientela, a mulher, dona <strong>de</strong><br />

casa, pelo fato <strong>de</strong> usar a gela<strong>de</strong>ira como instrumento <strong>de</strong> uso diário, e pela<br />

responsabilida<strong>de</strong> que lhe cabe na limpeza do espaço on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>.<br />

Atente-se, a seguir, para as cores fortes e a beleza presentes <strong>no</strong><br />

anúncio do esmalte Impala.<br />

111


112


O anúncio <strong>publicitário</strong> do esmalte Impala apresenta-se com o<br />

predomínio da cor vermelha, tanto <strong>no</strong> fundo como nas roupas que a moça<br />

está usando, bem como <strong>no</strong> batom e <strong>no</strong> esmalte, co<strong>no</strong>tando erotismo e<br />

sensualida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s movimentos. O título: “Da cor da sua ousadia” é uma frase<br />

<strong>no</strong>minal, em que se utilizam dois substantivos: cor e ousadia, sugerindo a<br />

valentia, a paixão, o <strong>de</strong>stemor. Ousadia conforme o Dicionário Aurélio da<br />

Língua Portuguesa significa: “ação <strong>de</strong> quem não tem medo <strong>de</strong> enfrentar<br />

situações e obstáculos, <strong>de</strong> quem se sente forte, seguro, <strong>de</strong> quem tem<br />

confiança em si.” (FERREIRA, 1986, p.1239). Mas a cor é uma atribuição<br />

subjetiva, conforme o Dicionário <strong>de</strong> Símbolos (1991, p.994), “o vermelho é<br />

universalmente consi<strong>de</strong>rado como o símbolo fundamental do princípio <strong>de</strong> vida,<br />

com sua força, seu po<strong>de</strong>r e seu brilho”.<br />

A cor predominante <strong>no</strong> anúncio <strong>publicitário</strong> é o vermelho escuro<br />

que, segundo o Dicionário <strong>de</strong> Símbolos (1991, p.945) “é <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, fêmea,<br />

secreto e, em última <strong>análise</strong>, centrípeto; representa não a expressão, mas o<br />

mistério da vida”. Associada aos vocábulos ousadia, a cor vermelha que<br />

envolve toda mulher é a cor da sedução, da provocação, do convite, dos<br />

instintos passionais, das pulsões sexuais, da libido, do coração.<br />

O <strong>discurso</strong> lingüístico utilizado é o metafórico, pois há similarida<strong>de</strong><br />

entre a significação da palavra ousadia e a imagem <strong>de</strong> cor vermelha.<br />

O <strong>de</strong>staque para a tampa do esmalte na cor branca, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> ressaltar a marca e o tipo do esmalte: a marca Impala e o tipo: “esmalte<br />

cremoso“ ALLURE 428. ALLURE palavra da Língua Inglesa que significa<br />

113


atração, feitiço, sedução.<br />

produto.<br />

O slogan IMPALA Cosméticos é breve e remete ao <strong>no</strong>me do<br />

A imagem da mulher com a boca aberta, a cor vermelha <strong>no</strong>s lábios,<br />

nas unhas, <strong>no</strong> vidro <strong>de</strong> esmalte e ao fundo da foto sugerem a sensualida<strong>de</strong> e<br />

a beleza que toda mulher po<strong>de</strong>rá adquirir se utilizar os esmaltes da marca<br />

Impala.<br />

114


Um outro produto que sem sombra <strong>de</strong> dúvida liga-se ao universo<br />

femini<strong>no</strong> é o sabonete. Como conseqüência <strong>de</strong>sse fato, as mulheres são o<br />

alvo das campanhas <strong>de</strong> venda <strong>de</strong>sses produtos, conforme se po<strong>de</strong> <strong>no</strong>tar na<br />

exposição do sabonete Lux Firmassage:<br />

A LUX lança um <strong>no</strong>vo sabonete, o LUX FIRMASSAGE, em que o<br />

<strong>discurso</strong> não verbal ocupa a maior parte da página mostrando o formato do<br />

sabonete com protuberâncias massageadoras e na cor ver<strong>de</strong>, provavelmente,<br />

com ervas, porque há pigmentações mais escuras, <strong>de</strong>ixando enten<strong>de</strong>r a<br />

mistura. No lado esquerdo, um vestido longo, que, sem o uso <strong>de</strong> palavras,<br />

<strong>de</strong>ixa subentendido que as mulheres que não usam esse sabonete, não<br />

po<strong>de</strong>m mostrar o corpo, têm que cobri-lo. Ao lado direito aparece um vestido<br />

115


em curto, indicando que, ao usar o sabonete, o corpo po<strong>de</strong> ser mostrado,<br />

sem preocupação.<br />

O título também é muito significativo: “me<strong>no</strong>s é mais.<br />

Principalmente, quando o assunto é roupa”, e complementa o <strong>discurso</strong> não<br />

verbal. A figura <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong> usada é a antítese pautada <strong>no</strong>s advérbios<br />

me<strong>no</strong>s e mais e não verbal, quando se contrapõem um vestido curto e outro<br />

longo. A segunda parte explica o que é me<strong>no</strong>s e o que é mais: “quando o<br />

assunto é roupa”.<br />

O corpo do texto encerra <strong>de</strong>clarações afirmativas: “Novo Lux<br />

Firmassage. Um sabonete que massageia o seu corpo, <strong>de</strong>ixando uma<br />

sensação <strong>de</strong> firmeza na sua pele e <strong>no</strong> seu ego. Sinta-se Lux.” O vocábulo Lux<br />

é um empréstimo da língua latina que significa luz, clarida<strong>de</strong>, e Firmassage,<br />

uma justaposição da Língua Inglesa: firm, firme, sólido e massage,<br />

massagear. O adjetivo <strong>no</strong>vo aparece <strong>no</strong> início do texto para i<strong>de</strong>ntificar a<br />

<strong>no</strong>vida<strong>de</strong>, o último lançamento da Lux.<br />

A última frase do texto é plurissignificativa, pois através <strong>de</strong> sua<br />

forma imperativa convida a receptora a consumir o produto para: a) <strong>de</strong>ixar-se<br />

envolver pelo seu po<strong>de</strong>r massageador; b) sentir-se lumi<strong>no</strong>sa e com sensação<br />

<strong>de</strong> firmeza <strong>no</strong> corpo; c) sentir-se tranqüila e refrescante.<br />

A cor ver<strong>de</strong> é a que predomina como fundo e <strong>no</strong> produto. Conforme<br />

explicações do Dicionário <strong>de</strong> Símbolos, o ver<strong>de</strong> é o mediador entre o calor do<br />

vermelho infernal e o frio do azul celeste, entre o alto e o baixo, ambos<br />

absolutos e inacessíveis. É uma cor que tranqüiliza, refresca, humaniza. É a<br />

116


cor do rei<strong>no</strong> vegetal, é o <strong>de</strong>spertar da vida natural, é a cor da água, da<br />

esperança, da força, da longevida<strong>de</strong> e da “imortalida<strong>de</strong> universalmente<br />

simbolizada pelos ramos ver<strong>de</strong>s” (1991, p.939). A cor preta dos vestidos não<br />

simboliza luto, mas traje a rigor, <strong>de</strong> cetim brilhante. Na antítese entre curto e<br />

longo, a supremacia é atribuída ao vestido curto para que a suavida<strong>de</strong> do<br />

corpo seja revelada.<br />

Não há slogan nesse anúncio, parece estar representado pela<br />

embalagem do produto com <strong>de</strong>staque para “Novo LUX Firmassage.”<br />

Neste anúncio, assim como <strong>no</strong> <strong>de</strong> O Boticário há uma gran<strong>de</strong><br />

relação entre o <strong>discurso</strong> verbal e o não verbal para compreensão da<br />

mensagem publicitária, como veremos em seguida.<br />

117


Ultimamente O BOTICÁRIO tem elaborado seus anúncios<br />

<strong>publicitário</strong>s utilizando-se <strong>de</strong> personagens <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> fadas. O anúncio em<br />

estudo remete à história fantasiada do Chapeuzinho Vermelho, em que a<br />

menina <strong>de</strong>sobediente e ingênua é ludibriada pelo lobo mau, metáfora da<br />

ingenuida<strong>de</strong> e da astúcia, respectivamente: do bem e do mal.<br />

No título do anúncio já se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> a inversão dos acontecimentos<br />

<strong>no</strong> mundo real, embora com a primeira frase o emissor effacé (apagado) tente<br />

ludibriar o receptor <strong>de</strong>clarando que “A história sempre se repete”. Porém, nas<br />

outras afirmações do corpo do texto, verifica-se não só a inversão da<br />

historinha, mas a plurissignificação textual.<br />

118


“Todo chapeuzinho vermelho que se preze, um belo dia, coloca o<br />

lobo mau na coleira”. Por chapeuzinho vermelho po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se toda<br />

mulher que usa produtos <strong>de</strong> O BOTICÁRIO, sendo, portanto, uma construção<br />

metafórica. Além disso, como a mo<strong>de</strong>lo está vestida com capa e capuz<br />

vermelho-claro, a simbologia <strong>de</strong>ssa cor, segundo o Dicionário <strong>de</strong> Símbolos<br />

(1991, p.944) leva-<strong>no</strong>s a inferir a sua força centrífuga, <strong>de</strong> atração, que incita à<br />

ação, com força imensa e irredutível.<br />

Por essa ação sedutora a chapeuzinho vermelho é capaz <strong>de</strong> atrair e<br />

pren<strong>de</strong>r o lobo mau.<br />

Além da construção antitética “chapeuzinho vermelho X lobo mau”,<br />

há que se observar a construção metafórica <strong>de</strong> “coloca o lobo mau na coleira”,<br />

que significa <strong>de</strong>ixar-se pren<strong>de</strong>r por amor (o homem <strong>de</strong>ixa-se seduzir pela<br />

mulher que usa produtos <strong>de</strong> O BOTICÁRIO).<br />

Este anúncio <strong>publicitário</strong> que chama a atenção porque apela à<br />

fantasia, à criança que habita em cada um <strong>de</strong> nós, à força da sedução, e<br />

persua<strong>de</strong> o consumidor não só pela beleza da imagem não verbal, como pela<br />

originalida<strong>de</strong> criativa do <strong>discurso</strong> verbal.<br />

O anúncio que segue também recorre ao universo infantil para a<br />

venda <strong>de</strong> um produto específico: um carrinho <strong>de</strong> bebê. É claro que neste<br />

último, as intenções dos realizadores do anúncio são diferentes, porque eles<br />

preten<strong>de</strong>m que os pais comprem o produto anunciado para os filhos.<br />

119


O anúncio <strong>de</strong> carrinhos <strong>de</strong> bebê da empresa GALZERANO traz<br />

como título: “O carrinho que tem tudo a ver com carinho.” O uso das palavras<br />

carrinho e carinho rimam entre si e ainda há ritmo, aliteração, e assonância<br />

por repetição <strong>de</strong> fonemas consonantais e vocálicos, e ainda são palavras<br />

parônimas com o objetivo <strong>de</strong> imprimir ritmo e musicalida<strong>de</strong>, levando o leitor a<br />

memorizar mais facilmente a mensagem.<br />

O texto “A Galzera<strong>no</strong> é exatamente como você: apaixonadíssima<br />

pelo seu nenê. Afinal, são 49 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong>dicação e um cuidado todo<br />

especial na hora <strong>de</strong> produzir uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos da mais alta<br />

qualida<strong>de</strong>, como a linha completa <strong>de</strong> carrinhos, andadores, berços, cercados<br />

120


e banheiras. E o melhor <strong>de</strong> tudo: com os laços afetivos, todas as garantias e a<br />

agilida<strong>de</strong> <strong>no</strong> atendimento que só mesmo uma empresa 100% nacional po<strong>de</strong><br />

oferecer. É por isso que o carrinho Galzera<strong>no</strong> tem muito a ver com carinho”.<br />

Apresenta um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> adjetivos para qualificar tanto o produto<br />

quanto a empresa. Inicia-se com uma comparação: “A Galzera<strong>no</strong> é<br />

exatamente como você: apaixonadíssima pelo seu nenê”. Logo em seguida<br />

revela tanto a varieda<strong>de</strong> quanto as qualida<strong>de</strong>s dos produtos, apresentando-os<br />

<strong>no</strong>minalmente. Na última parte volta ao início do título.<br />

O uso do diminutivo tanto <strong>no</strong> título como <strong>no</strong> final do texto <strong>de</strong><strong>no</strong>ta<br />

afetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstrado também através do <strong>discurso</strong> não verbal<br />

representado por um nenê sentado em uma das ca<strong>de</strong>iras que a empresa<br />

fabrica, tendo logo abaixo outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> produtos.<br />

O slogan “Galzera<strong>no</strong> o lugar do seu bebê” faz referência aos<br />

produtos da marca, que é um <strong>no</strong>me próprio, <strong>de</strong> origem italiana e também<br />

enfatiza que o objetivo principal dos produtos Galzera<strong>no</strong> é o bem-estar <strong>de</strong><br />

todo bebê.<br />

Nosso penúltimo anúncio selecionado para <strong>análise</strong> <strong>de</strong>staca um<br />

calçado bastante popular e muito conhecido do público brasileiro por meio da<br />

mídia impressa e televisiva. Observe-se o anúncio mencionado:<br />

121


O anúncio da marca Conga é curioso pelo título que apresenta,<br />

fazendo o leitor pensar, <strong>de</strong>spertando curiosida<strong>de</strong> para se enten<strong>de</strong>r o que<br />

122


menciona, conforme Gonzáles (2003) ocorre a <strong>de</strong>smontagem da fórmula. O<br />

título “Para entrar <strong>no</strong> mundo da moda, pise em quem faz sucesso” apresenta<br />

um sentido ambíguo em que o verbo pisar po<strong>de</strong> indicar “passar ou andar por<br />

cima <strong>de</strong>”, além <strong>de</strong> o pro<strong>no</strong>me relativo quem indicar pessoa(s) (FERREIRA,<br />

1986, p.1339). Essa ambigüida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>sfeita quando se constata que o verbo<br />

pisar, embora seja polissêmico, está sendo usado <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> caminhar,<br />

andar e especificamente, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> usar um calçado da marca Conga.<br />

Os verbos: entrar, <strong>no</strong> infinitivo; pise, <strong>no</strong> imperativo e faz, <strong>no</strong><br />

presente, representam, primeiramente, uma condição, em seguida, uma<br />

or<strong>de</strong>m e por último o resultado.<br />

O slogan, logo <strong>no</strong> início do anúncio: “CONGA Tá <strong>no</strong> pé, tá na<br />

moda”, mostra a simplificação do verbo estar por ta, em <strong>linguagem</strong> coloquial,<br />

popular, justamente para dar ritmo e memorizá-lo, utilizando a repetição <strong>de</strong><br />

palavras.<br />

O fundo do anúncio é brando e o conga é azul para <strong>de</strong>stacá-lo,<br />

visualizar melhor, assim como também são as cores do slogan, CONGA, um<br />

calçado que, <strong>de</strong> acordo com as imagens verbal e não verbal, permite a<br />

qualquer um estar na moda e fazer sucesso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o use <strong>no</strong> seu dia-a-<br />

dia.<br />

É inegável a importância que a tec<strong>no</strong>logia assumiu para o ser<br />

huma<strong>no</strong>, particularmente nas últimas décadas, conforme se po<strong>de</strong> comprovar<br />

<strong>no</strong> anúncio reproduzido mais adiante.<br />

123


124


A MICROSOFT anuncia seu produto através <strong>de</strong> um <strong>discurso</strong> não<br />

verbal bem criativo, relacionando-o ao <strong>discurso</strong> verbal. No título: “A era do<br />

Estou fora do escritório e não estou conectado já era”, aparecem várias<br />

<strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>: a repetição <strong>de</strong> termos era...era, estou...estou;<br />

trocadilho: “a era do...já era”, usando uma <strong>linguagem</strong> figurada para <strong>de</strong><strong>no</strong>tar o<br />

<strong>no</strong>vo e o velho. O que está <strong>de</strong>stacado em negrito e ainda entre aspas<br />

“ESTOU FORA DO ESCRITÓRIO E NÃO ESTOU CONECTADO”, indica que<br />

o interlocutor vive um passado longínquo, pré-histórico. O <strong>discurso</strong> verbal está<br />

intimamente relacionado com o <strong>discurso</strong> não verbal: um homem <strong>de</strong> ter<strong>no</strong> e<br />

gravata, mas com a cabeça <strong>de</strong> um di<strong>no</strong>ssauro sentado em uma poltrona com<br />

um copo na mão e uma bolsa ao seu lado <strong>no</strong> chão, para dar maior coerência<br />

à relação verbal e não verbal. Há hibridismo na construção da figura humana,<br />

meta<strong>de</strong> homem e com cabeça (e cérebro) <strong>de</strong> di<strong>no</strong>ssauro.<br />

O texto do anúncio é o seguinte: “A forma como trabalhamos evoluiu<br />

e o Microsoft Office acompanhou essa evolução. Hoje, os telefones celulares<br />

e o acesso a e-mails via Web já não são suficientes. Você precisa estar<br />

conectado a qualquer hora e em qualquer lugar. Com o Office 2003 e através<br />

<strong>de</strong> um dispositivo móvel baseado em Windows, como um SmartPhone, você<br />

po<strong>de</strong> acessar os seus dados mesmo estando fora <strong>de</strong> seu ambiente <strong>de</strong><br />

trabalho”. É constituído com o auxílio <strong>de</strong> muitos empréstimos lingüísticos da<br />

língua inglesa e hibridismos, tais como: Microsoft, por exemplo, é uma<br />

adaptação fonética <strong>de</strong> micro (que é abreviatura <strong>de</strong> microcomputador) e soft<br />

(que quer dizer macio, flexível, liso); Office, função, cargo; Web, série;<br />

125


SmartPhone, telefone ativo, dinâmico; Windows, janela; e-mails, en<strong>de</strong>reço<br />

virtual.<br />

O texto tem o propósito <strong>de</strong> acen<strong>de</strong>r a curiosida<strong>de</strong> do leitor em saber<br />

qual é o produto que está sendo anunciado, qual é a idéia principal, por isso<br />

usa <strong>de</strong> frases curtas, tornando a leitura mais fácil.<br />

O receptor precisa dominar um repertório mínimo sobre o assunto,<br />

caso contrário não vai enten<strong>de</strong>r a mensagem e muito me<strong>no</strong>s se sentirá<br />

persuadido a adquirir um produto que em nada lhe interessa. O texto utiliza do<br />

recurso metonímico ao apresentar a evolução da Microsoft com telefones<br />

celulares, acesso a e-mail via Web, mesmo estando fora do escritório, através<br />

<strong>de</strong> um conectivo móvel baseado em Windows, como em SmartPhone.<br />

O slogan “Seu potencial. Nossa inspiração. MICROSOFT” é<br />

formado por frases <strong>no</strong>minais com o uso <strong>de</strong> dois pro<strong>no</strong>mes possessivos: seu,<br />

com o sentido <strong>de</strong> você consumidor do produto; e <strong>no</strong>ssa, a tec<strong>no</strong>logia dos<br />

produtos <strong>de</strong> última geração.<br />

Assim, o anúncio insiste na idéia <strong>de</strong> que para não se tornar um<br />

di<strong>no</strong>ssauro, isto é, alguém ultrapassado, retrógrado, o leitor <strong>de</strong>ve adquirir o<br />

produto Microsoft para estar atualizado, “antenado” com as informações e as<br />

mudanças que ocorrem a todo momento <strong>no</strong> mundo.<br />

126


CONCLUSÃO<br />

A publicida<strong>de</strong> é a arte <strong>de</strong> conquistar com ilustrações, palavras e<br />

nada melhor que o anúncio bem escrito para executar esta tarefa. Utiliza-se<br />

fundamentalmente da palavra como canal condutor das informações para<br />

chegar aos receptores. Estes, por sua vez, <strong>de</strong>verão <strong>de</strong>codificá-los <strong>de</strong> acordo<br />

com suas experiências.<br />

O <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong> tem <strong>no</strong>s princípios da retórica seu campo <strong>de</strong><br />

criativida<strong>de</strong> e persuasão, uma vez que é a arte <strong>de</strong> convencer e <strong>de</strong> levar à<br />

ação por meio da palavra e este é o principal papel da <strong>linguagem</strong> da<br />

publicida<strong>de</strong>. A <strong>linguagem</strong> possui <strong>de</strong>terminados recursos e técnicas lingüísticas<br />

próprias do <strong>discurso</strong> <strong>publicitário</strong>, tornando-a mais dinâmica e sintética e foge<br />

ao código formal da língua, sem abandoná-lo totalmente, e também assimila o<br />

registro coloquial, com o objetivo <strong>de</strong> obter maior i<strong>de</strong>ntificação com o gran<strong>de</strong><br />

público, como se po<strong>de</strong> observar <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho.<br />

Os anúncios <strong>publicitário</strong>s buscam <strong>no</strong>vas formas para se<br />

<strong>de</strong>stacarem, utilizando uma <strong>linguagem</strong> a<strong>de</strong>quada às rápidas mudanças<br />

quanto à moda, costumes, avanços <strong>no</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação e <strong>no</strong>s<br />

produtos <strong>de</strong> consumo. Como exemplo, citem-se os eletrodomésticos e<br />

aparelhos eletrônicos. As mensagens <strong>de</strong>vem ter originalida<strong>de</strong> para se<br />

adaptarem ao ritmo acelerado da vida urbana e ao gosto por tudo o que é<br />

<strong>no</strong>vo, diferente e simples.<br />

127


Destacaram-se neste estudo as funções da <strong>linguagem</strong>, sendo que a<br />

função apelativa aparece com mais freqüência, pois tem por objetivo<br />

persuadir alguém e ven<strong>de</strong>r um bem <strong>de</strong> consumo, um produto, um serviço, ou<br />

uma idéia, agindo como um ato comunicativo que externa forte apelo ao<br />

receptor, ao <strong>de</strong>stinatário.<br />

Com as <strong>figuras</strong> <strong>de</strong> <strong>linguagem</strong>, constatou-se também que exercem<br />

influência <strong>no</strong>s textos <strong>publicitário</strong>s, aparecendo algumas com maior freqüência,<br />

como <strong>no</strong> caso das metáforas, antíteses, metonímias, hipérboles. Estas <strong>figuras</strong><br />

cumprem a função <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finir um <strong>de</strong>terminado campo <strong>de</strong> informação, criando<br />

efeitos <strong>no</strong>vos e que sejam capazes <strong>de</strong> atrair a atenção do receptor. São<br />

expressões figurativas que conseguem quebrar a significação própria e<br />

esperada daquele campo <strong>de</strong> palavras.<br />

Observou-se que a combinação <strong>de</strong> texto verbal e ilustração torna-se<br />

cada vez mais importante, porque <strong>de</strong> um lado temos um texto com recursos<br />

lingüísticos para o <strong>de</strong>senvolvimento do anúncio <strong>publicitário</strong> com o objetivo <strong>de</strong><br />

provocar mudanças <strong>de</strong> opinião <strong>no</strong>s leitores e por outro, linguagens não<br />

verbais que expressam sentidos e utilizam também sig<strong>no</strong>s lingüísticos, com a<br />

diferença <strong>de</strong> que na <strong>linguagem</strong> verbal os sig<strong>no</strong>s são palavras; e <strong>no</strong> <strong>discurso</strong><br />

não verbal os sig<strong>no</strong>s são explorados <strong>de</strong> forma imagética, so<strong>no</strong>ra, pela cor,<br />

pelo movimento, por pessoas belas, por artistas.<br />

Enfim, concluímos que a publicida<strong>de</strong> exerce papel importante na<br />

ativida<strong>de</strong> comercial e está voltada aos procedimentos <strong>de</strong> comunicação,<br />

usando da arte da retórica como meio <strong>de</strong> persuadir, convencer o consumidor<br />

128


a adquirir bens ou serviços, usando <strong>de</strong> meios lingüísticos, tanto verbal como<br />

não verbal para atrair a atenção do consumidor, do <strong>de</strong>stinatário e o faz <strong>de</strong><br />

maneira criativa, original, dando vivacida<strong>de</strong> à mensagem publicitária. Não<br />

po<strong>de</strong>mos afirmar que exista uma <strong>linguagem</strong> própria da publicida<strong>de</strong>, mas<br />

alguns recursos verbais e imagéticos que atribuem ao produto ou serviço<br />

características que operam como <strong>discurso</strong> apelativo e persuasivo.<br />

129


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