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Escrevo a Freiré, mas tu és o thesoureiro: dize-me que me das dinheiro. Vé se o Imperador me manda mais alguma gente para se poder fazer cousa decente no Alemtejo. Escreve duas linhas e continua a ser amigo do teu verdadeiro.= B. de Sá. DOC. CCLXXXIX Carla de José Libéralo Freiré de Carvalho ao edilor do «Times» Sobre o estado político e militar de Portugal Lisboa, 22 de marco de 1834. Senhor.—Lendo muitas vezes as folhas publicas do vosso paiz, tenho visto que em algumas dos vossos contemporáneos se publicam ideas falsas sobre o estado actual politico e militar de Portugal, e me parece que de proposito se fabricam artigos para desfigurar os successos que téem occorrido. Sei que em geral se nao pode compre- hender como a questSo portugueza tenha durado tanto tempo depois que os constitucionaes se acham senhores do Porto e Lisboa e téem ganho tantas victorias sobre os seus inimigos. Mas é necessario ter estado e estar aqui ou no Porto, e ter olhado para as cousas sem prevençao e livre da influencia dos partidos, para ver a razao porque isto assim acontece. Sr. redactor: a verdade é que o governo e só o governo, que dirige os negocios de Portugal, é a causa do pouco progresso que ellas téem feito, retardando a sua marcha tanto por eífeito de medidas administrativas mal combinadas, por serem violentas ou fora de tempo, como pela desuniao politica que de proposito elle tem excitado entre os portuguezes. O que tem produzido esta desunido ó terem querido os ministros actuaos collocar D. Pedro em urna posiçao contraria á Carta Consti­ tucional; e debaixo d'este ponto de vista terem-se declarado inimigos dos que nao querem sacrificar a Carta aos interesses d'elles e aos de D. Pedro. Em consequencia d'isto, o actual ministerio se tem posto em guerra aberta com os verdadeiros liberaos, a quem elle chama Saldanhistas, e com a alta nobresa a quem procura desacreditar com o nome de aristocracia ambiciosa, que só aspira a gosar dos abusos e privilegios. Mas porque lhes move elle esta guerra? E porque tanto uns como outros respeitam sim a D. Pedro, porém respeitam

mais a Carta e nao a querem ver violada para satisfazer ambicies particulares. É isto tanto verdade, que um dos mesmos ministros, o das Jinanças, que em tempo beijava, por assim dizer, o pó que pisava o duque de Palmella e dizia que elle era o portuguez mais liberal que havia na emigraçao, hoje o accusa de aristócrata, de inimigo da Carta e de ambicionar o poder, só para o destruir; e isto sómente porque o duque nao auxiliou nem auxilia certos projectos que formou aquello mesmo ministro e que debalde elle quiz sanccionar por meio de peti- çdes e assignaturas, á maneira das que se inventaram em favor de D. Miguel*. Pelos mesmos motivos se faz a guerra aos chamados Saldanhistas e com muita maior especialidade ao marechal do exercito conde de Saldanha, fazendo com que das suas brilhantes victorias se nao tenha tirado o proveito que d'ellas podia resultar. Em prova do que acabo de dizer, mencionarei um facto últimamente acontecido ñas suas ope- raçoes militares. Foi elle auctorisado, no principio d'este anno, em virtude de um plano que havia dado, para manobrar com urna divisao do seu exercito ñas provincias do norte, emquanto outra devia ficar em frente de Santarera; dirigiu-se por conseguinte sobre Leiria, que toraou, como sabéis, e passou depois a Torres Novas e Pernes, onde deu aquelles gloriosos combates que já vos s&o bem conhecidos. Por este hábil movimento tinha o general destruido todos as forças que estavam no flanco do seu exercito de operares, e, concluida esta manobra, estava-se dispondo para marchar sobre Coimbra e d'ali 1 Este homem escrevcu ñas suas Memorias, a pag. 367: «Em quanto se teda esta conspiracáo contra o ministerio, tive occasiáo de rectificar o couceito que já fazia de um dos nossos notavcis homens d'estado, o entáo marquez de Palmella. Já disse como elle me fcstejava muito naquella epocha. Tive urna conferencia com elle em casa de Joaquim José da Costa de Macedo, hoje secretario geral da nova academia real das sciencias, c que entáo morava junto do alto de Santa Catharina, em que me disse, formaos palavras :— «Escrcva a Saldanha, e diga-lhe — que estou prompto para o servir emtudo. . . o que quero i que me nao desprezem!. . . Bem sei que nao posso nem devo agora figurar, mas o que só pretendo é que façam bom couceito de miin, porque os hci de servir lcalmente como cavalheiro que sou!» Eis aqui o que era o duque de Palmella, e o que sempre foi: nao tinha carácter político firme; havia de servir táo bem um governo republicano como um aristocrático, ou monarchico, com tanto que nelle figurasse em grau superior, e o distinguissem como elle desejava: era esta a sua ambicio; queria figurar em todos os partidos políticos; o que nao tolerava era o desprezo.» Neste trecho, ha aftirmaçoes verdadeiras, e outras verosimeis j porém, José Liberato nao parou aqui e continuou a accumular accusaçoes contra Palmella. Nao as transcrevemos, por serem infundadas e algumas d'ellas calumniosas.

Escrevo a Freiré, mas tu és o thesoureiro: dize-me que me <strong>da</strong>s<br />

dinheiro.<br />

Vé se o Imperador me man<strong>da</strong> mais alguma gente para se poder<br />

fazer cousa decente no Alemtejo.<br />

Escreve duas linhas e continua a ser amigo do teu ver<strong>da</strong>deiro.=<br />

B. de Sá.<br />

DOC. CCLXXXIX<br />

Carla de José Libéralo Freiré de Carvalho ao edilor do «Times»<br />

Sobre o estado político e militar de Portugal<br />

Lisboa, 22 de marco de 1834.<br />

Senhor.—Lendo muitas vezes as folhas publicas do vosso paiz,<br />

tenho visto que em algumas dos vossos contemporáneos se publicam<br />

ideas falsas sobre o estado actual politico e militar de Portugal,<br />

e me parece que de proposito se fabricam artigos para desfigurar os<br />

successos que téem occorrido. Sei que em geral se nao pode compre-<br />

hender como a questSo portugueza tenha durado tanto tempo depois<br />

que os constitucionaes se acham senhores do Porto e Lisboa e téem<br />

ganho tantas victorias sobre os seus inimigos. Mas é necessario ter<br />

estado e estar aqui ou no Porto, e ter olhado para as cousas sem<br />

prevençao e livre <strong>da</strong> influencia dos partidos, para ver a razao porque<br />

isto assim acontece.<br />

Sr. re<strong>da</strong>ctor: a ver<strong>da</strong>de é que o governo e só o governo, que<br />

dirige os negocios de Portugal, é a causa do pouco progresso que<br />

ellas téem feito, retar<strong>da</strong>ndo a sua marcha tanto por eífeito de medi<strong>da</strong>s<br />

administrativas mal combina<strong>da</strong>s, por serem violentas ou fora de tempo,<br />

como pela desuniao politica que de proposito elle tem excitado entre<br />

os portuguezes.<br />

O que tem produzido esta desunido ó terem querido os ministros<br />

actuaos collocar D. Pedro em urna posiçao contraria á Carta Consti­<br />

tucional; e debaixo d'este ponto de vista terem-se declarado inimigos<br />

dos que nao querem sacrificar a Carta aos interesses d'elles e aos de<br />

D. Pedro. Em consequencia d'isto, o actual ministerio se tem posto<br />

em guerra aberta com os ver<strong>da</strong>deiros liberaos, a quem elle chama<br />

Sal<strong>da</strong>nhistas, e com a alta nobresa a quem procura desacreditar com<br />

o nome de aristocracia ambiciosa, que só aspira a gosar dos abusos<br />

e privilegios. Mas porque lhes move elle esta guerra? E porque<br />

tanto uns como outros respeitam sim a D. Pedro, porém respeitam

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