josé da silva carvalho - DSpace CEU
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Na acçao de Messines, Sá bateu-se com 1:500 homens contra 4:000 e abusou das cargas de cavallaria em terreno montanhoso. Foi por isso muito censurado pelos entendidos em assumptos militares. Tinha, pois, razáo o Imperador, quando dizia que o.baráo se andava batendo por sua conta e que nada tinha a fazer com elle. O mesmo disse de Napier, e tambem com fundadas razóos. O almirante tinha sabido do Tejo no dia 16 de marco, a soccorrer Sctubal. D'ali mandou pedir licença, no dia scguinte, para ir tomar Alcacer do Sal. O ministro da guerra, considerando no perigo de semelhante aventura, rcspoudeu-lhe com a ordem de regressar immediatamente a Lisboa. Já antes, o almirante lhe propuzera que o deixasse ir tomar os portos de Portugal; ao que Freiré replicou que nao auctorisava loucuras. Taes respostas deviam exasperar o áspero marinheiro e explicam o facciosÍ8mo da sua Guerra da successao em Portugal, livro em que censura a politica dos ministros de D. Pedro, mas muito particularmente maltrata o ministro da guerra. Nao obedeceu Napier á ordem de regressar a Lisboa e dirigiu-se para o norte, onde as suas aventuras tiveram o melhor éxito. Nunca poderiam, comtudo, ter 8Ído mandadas tentar pela ordem de um ministro, táo dependentes eram do acaso e táo arriscadas. A 24 de marco o governo nao sabia o que era feito do almirante. Assim o declara a Gazeta Official. Por este tempo já o temerario aventureiro avançara pelo Minho, de victoria em victoria, com inaudita felicidadc, por isso que elle mesmo confessa que teria sido victima do seu arrojo se por acaso o general Torres, commandante da divisáo do Porto, lhe nao acode a tempo. Eis porque D. Pedro, quando lord Howard o felicitou pelo triumpho de Napier, lhe respondeu seccamente que nada tinha com isso. E se o movimento do general Torres, em soccorro do almirante, encheu o governo de alegría,—pelas suas felizes consequencias,— nao poudc o ministro ainda assim deixar de lhe fazer sentir que a disciplina lhe ordenava que nao começasse as operaçoes antes da chegada do duque da Terceira, cujas instrucçoes iam elaboradas em vista das novas circumstancias militares, políticas c diplomáticas, que constituiam as razoes de estado, que só o governo podia conhecer e que por isso mesmo justificavam a subordinacáo de toda a auctoridade ao poder do dictador. Durante todo o mez de marco, o ministro da guerra do gabinete hespanhol combinou com o nosso plenipotenciario a forma de nos auxiliar militarmente e de perseguir D. Carlos e cérea de 1:000 homens de armas que o acompanhavam no territorio portuguez. Logo que soube que o duque da Terceira fóra cscolhido para dirigir as operacóes no norte de Portugal, ficou ancioso pela primeira entrevista do duque com o general Rodil, commandante das tropas destinadas a operar em Portugal. O general hespanhol transpoz a fronteira a 16 de abril. Avança por Almeida que se lhe entrega. Póe em fuga o pretendente hespanhol,— que vira refugiar-se em Santarem, junto de D. Miguel,—e a 23 teve a primeira entrevista com o duque da Terceira, que com elle combinou as operacóes, de forma que o sangue portuguez nao fosse derramado por armas hespanholas, e coubessem ao nosso exercito as honras do triumpho. Assim foi •, porque nada faltava na expedicáo do duque da Terceira: o valor heroico, encamava-se nelle e nos seus soldados; a alta capacidade militar estava brilhantemente representada pelo chefe do estado maior, José Jorge Loureiro. Peraute taes forças cahiu o inimigo mortalmente ferido, a 16 de maio, na batalha da Asseiceira.
Nos primeiros días de abril, com a nomcacáo de Terceira para o commando do exercito do norte, recrudesceram a inveja e o despeito de Saldanha. D. Pedro lá volta ao Cartaxo a acalmal-o e a persuadil-o! É digna dos maiores elogios a paciencia do Regente, porque representava o sacrificio, perante o interesse da patria, do seu genio naturalmente arrebatado e impetuoso. Depois da victoria da Asseiceira, chegara o momento de fazer entrar em aceáo os dois marechaes. O dictador-soldado, que tudo previa com inexcedivel zelo, corre ao Cartaxo, assume o commando em chefe e corta assim os perígos que, neste momento decisivo, a rivalidade entre Saldanha e Terceira poderia ainda, por desgraça, occasionar. Ambos querem abandonar o commando; nao o consente o Imperador: divide o exercito em dois corpos, entrega um d'elles a Saldanha, o outro a Terceira e manda-os em perseguiçao do inimigo, por caminhos differentes. Poucos dias depois, a 26 de maio, ambos os marechaes tinham egualmente a honra e a gloria de firmar as generosas concessoes da capitulacáo de Evora-Monte, dictadas pelo coraçao magnánimo de D. Pedro. Estava finda a guerra e tinha-se alcançado ao mesmo tempo um grande resultado politico, por isso que a parte mais brilhante do triumpho coubera ao duque da Terceira, um dos melhores amigos de Silva Carvalho, de entre os sequazes do partido aristocrático,—grupo poderoso, com o qual as normas do régimen parlamentar iam tornar inevitavel a fusao. Comtudo, o odio dos exaltados revoltou-se contra o perdáo concedido pelo dictador: pouco depois da victoria, urna faccáo intransigente attreveu-se a in- 8ultal-o no theatro de S. Carlos: á sahida do theatro, o populacho exasperado praticou o acto infame de atirar com lama aos vidros da carruagem que o conduzia ao paco e ousou cobrir de improperios o valente soldado que acabava de libertar o povo portuguez da crueldadc de um principe loucamente despótico, e de salvar, á força de brio e de coragem, a dignidade da nacáo portugueza, perante as exigencias insolentes da Inglaterra. O desgosto de D. Pedro foi profundo! Com o soffrimento causado por tamanha ingratidao aggravaram-se-lhe mortalmente os padecimentos: o túmulo que a docnça lhe abrirá desde muito, sellaram-no prematuramente as más paixoes dos que nao comprehenderam o seu bello espirito. Pouco tempo sobreviveu á affronta: no dia 24 de setembro, no peito do héroe, minado por urna antiga molestia e exhausto pelo csforço de portentosos feitos, cessou de bater um dos mais nobres coraçoes de portuguez que a posteridade terá a enaltecer. Os dois ministros de estado, cuja politica D. Pedro táo firmemente abracara, foram tambem victimas da ignorancia e da ingratidao do partido radical. A Agostinho José Freiré, espera-o ignominioso assassinato! A Silva Carvalho, o exilio! É horrivel! A dcscrença e a desolacáo com que semelhautes crimes affligem a alma téem felizmente a attenual-as a idea consoladora de que estes grandes homens anteviram, por certo, a justiça que a historia sempre faz, mais tarde ou mais cedo.
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Nos primeiros días de abril, com a nomcacáo de Terceira para o commando<br />
do exercito do norte, recrudesceram a inveja e o despeito de Sal<strong>da</strong>nha. D. Pedro<br />
lá volta ao Cartaxo a acalmal-o e a persuadil-o! É digna dos maiores elogios a<br />
paciencia do Regente, porque representava o sacrificio, perante o interesse <strong>da</strong><br />
patria, do seu genio naturalmente arrebatado e impetuoso. Depois <strong>da</strong> victoria <strong>da</strong><br />
Asseiceira, chegara o momento de fazer entrar em aceáo os dois marechaes. O<br />
dictador-sol<strong>da</strong>do, que tudo previa com inexcedivel zelo, corre ao Cartaxo, assume<br />
o commando em chefe e corta assim os perígos que, neste momento decisivo, a<br />
rivali<strong>da</strong>de entre Sal<strong>da</strong>nha e Terceira poderia ain<strong>da</strong>, por desgraça, occasionar.<br />
Ambos querem abandonar o commando; nao o consente o Imperador: divide<br />
o exercito em dois corpos, entrega um d'elles a Sal<strong>da</strong>nha, o outro a Terceira e<br />
man<strong>da</strong>-os em perseguiçao do inimigo, por caminhos differentes. Poucos dias<br />
depois, a 26 de maio, ambos os marechaes tinham egualmente a honra e a gloria<br />
de firmar as generosas concessoes <strong>da</strong> capitulacáo de Evora-Monte, dicta<strong>da</strong>s pelo<br />
coraçao magnánimo de D. Pedro.<br />
Estava fin<strong>da</strong> a guerra e tinha-se alcançado ao mesmo tempo um grande<br />
resultado politico, por isso que a parte mais brilhante do triumpho coubera ao<br />
duque <strong>da</strong> Terceira, um dos melhores amigos de Silva Carvalho, de entre os<br />
sequazes do partido aristocrático,—grupo poderoso, com o qual as normas do<br />
régimen parlamentar iam tornar inevitavel a fusao.<br />
Comtudo, o odio dos exaltados revoltou-se contra o perdáo concedido pelo<br />
dictador: pouco depois <strong>da</strong> victoria, urna faccáo intransigente attreveu-se a in-<br />
8ultal-o no theatro de S. Carlos: á sahi<strong>da</strong> do theatro, o populacho exasperado<br />
praticou o acto infame de atirar com lama aos vidros <strong>da</strong> carruagem que o conduzia<br />
ao paco e ousou cobrir de improperios o valente sol<strong>da</strong>do que acabava de libertar<br />
o povo portuguez <strong>da</strong> cruel<strong>da</strong>dc de um principe loucamente despótico, e de salvar,<br />
á força de brio e de coragem, a digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> nacáo portugueza, perante as<br />
exigencias insolentes <strong>da</strong> Inglaterra.<br />
O desgosto de D. Pedro foi profundo! Com o soffrimento causado por tamanha<br />
ingrati<strong>da</strong>o aggravaram-se-lhe mortalmente os padecimentos: o túmulo que a<br />
docnça lhe abrirá desde muito, sellaram-no prematuramente as más paixoes dos<br />
que nao comprehenderam o seu bello espirito.<br />
Pouco tempo sobreviveu á affronta: no dia 24 de setembro, no peito do héroe,<br />
minado por urna antiga molestia e exhausto pelo csforço de portentosos feitos,<br />
cessou de bater um dos mais nobres coraçoes de portuguez que a posteri<strong>da</strong>de<br />
terá a enaltecer.<br />
Os dois ministros de estado, cuja politica D. Pedro táo firmemente abracara,<br />
foram tambem victimas <strong>da</strong> ignorancia e <strong>da</strong> ingrati<strong>da</strong>o do partido radical. A<br />
Agostinho José Freiré, espera-o ignominioso assassinato! A Silva Carvalho, o<br />
exilio! É horrivel! A dcscrença e a desolacáo com que semelhautes crimes affligem<br />
a alma téem felizmente a attenual-as a idea consoladora de que estes grandes<br />
homens anteviram, por certo, a justiça que a historia sempre faz, mais tarde ou<br />
mais cedo.