josé da silva carvalho - DSpace CEU
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manobrado efficazmentc no Tejo, o dia 10 de outubro de 1833 poderia ter sido o do desenlace da guerra civil. Foram d'csta opiniao o duque de Palmclla 1 e o proprio Napier 1 . Eis os motivos por que julgámos arrojada, mas nao loucamente temeraria, a vontade de tomar a offensiva, expressa desde setembro de 1833 pelo ministro da guerra. Agora, tendo escapado á derrota, cntrincheirado numa cidade quasi inexpugnavel, vae o inimigo prolongar a lucta, ainda por sete mezes; o exercito liberal, que, em setembro de 1833, contava 29:416 homens, só vira a acabar a guerra, em maio de 1834, com 60:119 ! E, para que o éxito seja seguro, nao se prescindirá do auxilio, ainda que indirecto, da divisao hespanhola do general Rodil. «A boa ordem da retirada e as habéis disposiçoes do novo general rebelde (declara Freiré no seu relatorio) demonstraram a funesta necessidade do prolongamento da guerra, para nao preferir a urna victoria certa um éxito duvidoso.» No artigo de fundo do Diario do Governo do 1.° de Janeiro de 1835, lé-se: «A contingencia e desnecessidade de um combate decisivo aconselhavam antes (depois de 10 de outubro de 1833) a estrategia tardadora»... «O desastre de Alcacer do Sal (no principio de novembro) ainda veiu dar maior crédito a este prudente e cauteloso arbitrio, assentando-se desde entáo que, para o bom éxito do plano definitivo de ataque geral, nada ou quasi nada se deixaria ao acaso.» «Effectuou-se, pois, a oecupacáo de Leiria. Ao norte, se activou o augmento do exercito; para o sul partiu o baráo de Sá da Bandeira; rcforçou-se a guamicáo de Setubal e organisou-se ali urna columna movel, para chamar a attencáo do inimigo e apoiar o general que operava no Alemtejo. Receoso de perder esta ultima provincia, o inimigo destacou para ali a melhor parte das suas forças, e entáo aproveitou o duque da Terceira a opportunidadc de se tomar ao norte do reino a offensiva». O duque da Terceira partiu para o norte, no dia 1 de abril, munido de instmcçoes 3 para abrir a campanha que se julgou decisiva. De victoria em victoria, veiu em 16 de maio vibrar o golpe mortal ao inimigo, na batalha da Asseiceira. Um táo glorioso éxito justificaría os planos do governo, quando mesmo os nao explicasscm os pormenores em que vamos entrar, para que se de o devido valor ao merecimento do Regente e dos seus ministros, e se pesem as difticuldades que tiveram de vencer, dentro do seu proprio campo, levantadas pelo marechal Saldanha e pelo almirante Napier. Cada umjulgava ter concebido o melhor plano para por termo á lucta e tratava do o executar por sua alta recrcacáo. O proprio duque da Terceira bem patenteou a sua má vontade, principalmente contra o ministro da guerra, segundo alguns documentos nos levam a crer. O conde de Saldanha era o commandante mais diflicil de subordinar, por ser o chefe de um partido facciosissimo. Nao se resignou a obedecer ao governo; e por isso, desde que este reconheceu a necessidade de seguir a «estrategia tardadora», recrudesceu a calumnia, e os ministros foram com mais insistencia aecusados pelos saldanhistas de quererem prolongar a guerra e impedir, por ambicáo e espirito de partido, que Saldanha a acabasse! 1 2 3 Carreira, Correspondencia, pag. 99. Guerra da successao, tom. n, pag. 15. Soriano, 3.» epocha, tomo v, pag. 274.
A verdade, porém, é que o governo, immobilisando Saldanha e os seus soldados no Cartaxo, só tinha em vista evitar que o céreo de Santarem se enfraquecesse e ter segura a defesa do catninho da capital. Da necessidade de augmentar o recrutamento, em que o Imperador sempre insistiu (Doc. CCLXXIX), estava agora inteiramente convencido o ministro da guerra. As novas posiçoes dos dois exercitos tornavam man ifes ta a inferioridade das torcas liberaes, tanto no sul como no norte do paiz. Na impossibilidade de ordenar um combate decisivo, quiz o governo que se seguisse o systema das sortidas, com a esperança de obter sobre o inimigo victorias parciaes, difficultar-lhe o abastecimento e ao mesmo tempo augmentar os recursos do partido liberal em gente, em meios e em prestigio, que lhe ganhassem crédito e adeptos, dentro e fora do paiz. Mas, por novembro, nem para isso o exercito liberal tinha força: ao sul soffre o desastre de Alcacer do Sal: o duque da Terceira, instado por Silva Carvalho para partir para o norte, a substituir Stubbs no commando da guarniçao do Porto,—pois se attribuia á incapacidade d'este militar o man éxito das suas sortidas,-—responde que nada pode ali fazer mais do que se tinha até entáo feito, porque a força era pequeña e nao se estava no caso de arriscar tudo numa cariada, como outr'ora nos Acores, no Porto e no Algarve (Doc. CCLXXXI). Eis porque o governo accelerou os trabalhos do recrutamento do exercito, conseguindo elevar o seu contingente, no fim de dezembro, a 48:298 homens. Se já em setembro, o ministro da fazenda e os conselheiros do thesouro se assustavam com a despeza fabulosa que se fazia com 29:416 praças (doc CCLXXVH), calculc-se que prodigios de habilidade administrativa e de coragem civica se praticaram para sustentar o exercito já táo augmentado, e para, em tres ou quatro mezes mais, o elevar a 60:119 praças; e isto na posse, apenas, de urna pequeña parte do paiz. Considerem-se, sobretodo, os sacrificios de toda a especie a que a resistencia dos soldados miguelistas estava obligando a naçao. O governo bem sentía quanto esses sacrificios eram penosos; por isso, para acabar urna lucta fratricida e evitar 0 derramamento de mais sangue portuguez, decidiu-se a sollicitar terminantemente a intervencáo armada da Inglaterra. Os militares impacientaram-se. Novas accusaçoes recahiam agora sobre o governo: nao sabia dirigir a guerra; entregava-se, sem patriotismo, ñas maos traidoras da diplomacia ; era indispensavel substituir os ministros. D. Pedro resistía, porque tinha a convicçao, bem fundada, de que elles eram os únicos homens de estado capazes de levar a porto de salvamento a causa que os demagogos tinham perdido em 23 e os nobres em 28; e, com toda a decisáo, protestou que as suas ideas eram em tudo e por tudo da mesma cor política das dos seus ministros, representadas principalmente por Silva Carvalho, de quem nunca o desligariam 1 . Tenta comtudo attrahir Saldanha ao ministerio. Este esquiva-se. A opposiçao continua, sem treguas. Na verdade, havia já muito que as operacóes militares se tinham interrompido. Esta inaecáo começava a produzir muito mau effeito no publico, que nao podia conhecex os segredos diplomáticos e as razoes de estado. Um successo militar tornava-se necessario, por este motivo, bem como para acreditar a causa perante os gabinetes de que se esperava a intervencáo, e inspirar confiança aos capitalistas de quem em parte dependía a sorte da guerra. 1 Intcntou-se, pois, urna arriscada excursáo contra Leiria, por ser esta cidade Soriano, 3. a epocha, tom. v, pag. 161. Napier, tom. ir, pag. 109 e 140.
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manobrado efficazmentc no Tejo, o dia 10 de outubro de 1833 poderia ter sido<br />
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Foram d'csta opiniao o duque de Palmclla 1<br />
e o proprio Napier 1<br />
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Eis os motivos por que julgámos arroja<strong>da</strong>, mas nao loucamente temeraria, a<br />
vontade de tomar a offensiva, expressa desde setembro de 1833 pelo ministro <strong>da</strong><br />
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Agora, tendo escapado á derrota, cntrincheirado numa ci<strong>da</strong>de quasi inexpugnavel,<br />
vae o inimigo prolongar a lucta, ain<strong>da</strong> por sete mezes; o exercito liberal,<br />
que, em setembro de 1833, contava 29:416 homens, só vira a acabar a guerra, em<br />
maio de 1834, com 60:119 ! E, para que o éxito seja seguro, nao se prescindirá do<br />
auxilio, ain<strong>da</strong> que indirecto, <strong>da</strong> divisao hespanhola do general Rodil.<br />
«A boa ordem <strong>da</strong> retira<strong>da</strong> e as habéis disposiçoes do novo general rebelde<br />
(declara Freiré no seu relatorio) demonstraram a funesta necessi<strong>da</strong>de do prolongamento<br />
<strong>da</strong> guerra, para nao preferir a urna victoria certa um éxito duvidoso.»<br />
No artigo de fundo do Diario do Governo do 1.° de Janeiro de 1835, lé-se:<br />
«A contingencia e desnecessi<strong>da</strong>de de um combate decisivo aconselhavam antes<br />
(depois de 10 de outubro de 1833) a estrategia tar<strong>da</strong>dora»... «O desastre de Alcacer<br />
do Sal (no principio de novembro) ain<strong>da</strong> veiu <strong>da</strong>r maior crédito a este prudente e<br />
cauteloso arbitrio, assentando-se desde entáo que, para o bom éxito do plano<br />
definitivo de ataque geral, na<strong>da</strong> ou quasi na<strong>da</strong> se deixaria ao acaso.»<br />
«Effectuou-se, pois, a oecupacáo de Leiria. Ao norte, se activou o augmento<br />
do exercito; para o sul partiu o baráo de Sá <strong>da</strong> Bandeira; rcforçou-se a guamicáo<br />
de Setubal e organisou-se ali urna columna movel, para chamar a attencáo do<br />
inimigo e apoiar o general que operava no Alemtejo. Receoso de perder esta<br />
ultima provincia, o inimigo destacou para ali a melhor parte <strong>da</strong>s suas forças, e<br />
entáo aproveitou o duque <strong>da</strong> Terceira a opportuni<strong>da</strong>dc de se tomar ao norte do<br />
reino a offensiva».<br />
O duque <strong>da</strong> Terceira partiu para o norte, no dia 1 de abril, munido de<br />
instmcçoes 3<br />
para abrir a campanha que se julgou decisiva. De victoria em victoria,<br />
veiu em 16 de maio vibrar o golpe mortal ao inimigo, na batalha <strong>da</strong> Asseiceira.<br />
Um táo glorioso éxito justificaría os planos do governo, quando mesmo os nao<br />
explicasscm os pormenores em que vamos entrar, para que se de o devido valor<br />
ao merecimento do Regente e dos seus ministros, e se pesem as difticul<strong>da</strong>des que<br />
tiveram de vencer, dentro do seu proprio campo, levanta<strong>da</strong>s pelo marechal<br />
Sal<strong>da</strong>nha e pelo almirante Napier. Ca<strong>da</strong> umjulgava ter concebido o melhor plano<br />
para por termo á lucta e tratava do o executar por sua alta recrcacáo. O proprio<br />
duque <strong>da</strong> Terceira bem patenteou a sua má vontade, principalmente contra o<br />
ministro <strong>da</strong> guerra, segundo alguns documentos nos levam a crer.<br />
O conde de Sal<strong>da</strong>nha era o comman<strong>da</strong>nte mais diflicil de subordinar, por<br />
ser o chefe de um partido facciosissimo. Nao se resignou a obedecer ao governo;<br />
e por isso, desde que este reconheceu a necessi<strong>da</strong>de de seguir a «estrategia<br />
tar<strong>da</strong>dora», recrudesceu a calumnia, e os ministros foram com mais insistencia<br />
aecusados pelos sal<strong>da</strong>nhistas de quererem prolongar a guerra e impedir, por<br />
ambicáo e espirito de partido, que Sal<strong>da</strong>nha a acabasse!<br />
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