josé da silva carvalho - DSpace CEU

«Depois de conferenciar em, o Imperador nao o deixou sair e convidou-o a
jantar» 1
.
Com a chegada de Saldanha, redobrou a actividade nos trabalhos de fortificaçao,
nos de recrutamento e em tudo de que depcndia a efficaz defesa da cidade.
Por duas vezes Bourmont investiu contra as linhas da capital e de ambas as
vezes foi valentemente repellido — a 5 e a 14 de setembro.
Nao lhe permittiu o orgulho ver por terceira vez calcados aos pés dos
soldados liberaes os louros com que a victoria o coroara em Alger. Demitte-se.
Succede-lhe outro hábil general, o escoccz Macdonell, que já vamos encontrar
dirigindo a celebre retirada do exercito realista para Santarem.
As victorias dos dias 5 e 14 de setembro nao satisfizeram o ministro da
guerra, que se impacientava e queria que o exercito liberal tomasse a offensiva;
porque, dizia elle, «nao se trata de força numérica, trata-se de arranjar a que temos
e dar um impulso ás operaçoes, que nao ha» (Doc. CCLXXIX).
«Em Ponte Ferreira tivemos 7:500!!! Em 23 de setembro 7:150!!! O
inimigo na primeira era para 14:000; na segunda, por confissao do general
Teixeira, 38:000! Irra! Irra! Irra!» (Doc. CCLXXVIH).
«Estamos exactamente como em abril e maio com o Solignac, e tudo isto
porque nao ha governo, como nao havia entao, com força bastante para influir
ñas operaçoes; apenas o houve, tudo foi bem» (Doc. CCLXXIX).
Queria a reuniáo de um conselho de guerra, em que exporia um plano de
operaçoes. «Se nao o quizcrcm seguir, procurem sua vida; pois nao quero que
as cortes me perguntem por que razáo estivemos estacionados a cavar térra e
queimar hervas!» (Doc. CCLXXVIH).
O Imperador, mais prudente, insta por que se active o recrutamento. «Temos
urna força enorme (diz ainda o ministro) e o Imperador berra com toda a gente
para a augmentar, gritando contra a molleza do recrutamento» (Doc. CCLXXIX).
Fica provado, pelo que acabamos de expor, que o governo nao tinha interesse
em prolongar a guerra, como táo erradamente se affirmou, e que a aecusacáo de
indolencia, feita contra o ministro da guerra, é egualmente falsa. E arrojo e nao
molleza o que as suas palavras revelam. Mas arrojo e nao temeridade louca. Os
acontecimentos subsequentes nol-o demonstram.
A prudencia do Imperador soube moderar o temperamento do seu ministro,
e a aecáo do governo seguiu urna direccáo táo sensata e enérgica quanto era
possivel sel-o em prescnça dos obstáculos que a cada passo lhe levantava a
opposiçao, onde figuravam, no primeiro plano, os dois marechaes do exercito e
o almirante! O marechal duque da Terceira e o almirante Napier pertenciam ao
partido aristocrático; o marechal conde de Saldanha, chefe do estado maior do
Regente, fidalgo e devoto, era, por urna anomalía patente, o chefe da opposiçao
radical!
O ministro da guerra bem sentia o perigo d'esta desgraçada situaçao: «O
Berliques (Pálmala) e companhia nao dormem. O estupido Terceira mctteu-se-lhe
na cabeça que é alguma cousa e que pode fazer opposiçao. Saldanha está por ora
bem (enganava-se o ministro), mas nao te fies nisso; o ataque feito em massa
contra o Imperador pode ter effeito» ... «Sem a força do governo nada se
conclue» (Doc. CCLXXIX).
1
D. Antonio da Costa, Historia do marechal Saldanha, pag. 339.