josé da silva carvalho - DSpace CEU

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Sua Magestade tomou todos os Sacramentos e ao meio dia faileceu. Boa Mae, boa Esposa e boa Bamba. Beijámos-lhe a máo, depois a El-Rei, depois ao Principe; fizemos os competentes autos que estáo no Diario d'esse dia e retiramos para o nosso aposento sendo 3 horas da tarde. A térra lhe seja leve. N. B. E esta a primeira vez qne um conselheiro d'estado, sendo ministro d'estado, o sr. Rodrigo da Fonseca Magalhaes, fez perder aos conselheiros urna das suas maiores prerogativas, qual era a de que os conselheiros d'estado pegassem no féretro desde o thalamo nupcial, e o trouxessem até ás escadas do paço, e ahi o entregassem a quem o conduzisse á sepultura; sempre se fez, e se alguma vez se preteriu esta ceremonia, é porque nao havia conselheiros d'estado. O marquez de Pombal nessa qualidade assim o praticou, unindo-se com os poneos que entáo havia; sirva mais este labéo ao sr. Rodrigo da Fonseca Magalhaes. No dia 19 de novembro foi o enterro de Sua Magestade a Rainha; o Conselho d'Estado que a devia levar até á porta do palacio nao foi convidado e deixaram isso aos aristócratas, culpa do ministro do reino, Rodrigo da Fonseca Magalhaes que, sendo conselheiro d'estado, oalcou aos pés esta prerogativa; nao admira a sua ignorancia ou acanhamento. 1854 Julho.—Dia 19.—Pelo ministro do reino fomos avisados para o Conselho d'Estado, para hoje ao meio dia, e quasi a essa hora hoje fomos desavisados, porque o Rei tinha ido para Cintra e nao foi prevenido 11 Dia 27. — Conselho d'Estado para se prorogarem as cortes até 3 de agosto.'.' Convieram, mas o sr. Avila fez sensatas reflexoes, mostrando que melhor seria adiarem as ditas munindo-se das leis indispensaveis e mais necessarias. En apoiei estas reflex5es e muito principalmente estando com a revolucáo de Hespanha vizinha, e disse que nlo sabia o que esperavam; a isto acudiu Rodrigo da Fonseca, e disse muito enfadado—Nao sei o que elles esperamü Parecendo-lhe que nada havia qne recear. Ao que eu retorqui—que eu fallava no interesse do governo, porque ninguem os livrava de que houvesse um deputado que lhe fizesse urna pergunta a respeito da revolucáo de Hespanha, e que d'essa resposta podiam nascer muito más consequencias. Mas o sr. Rodrigo tem muito orgulho e olha só para si; entretanto, affirmou que nao havia nem dictadura nem mais prorogacáo. Que tal!

Dezembro.—Dia 18. — O ministro da fazenda quiz ouvir ao Conselho d'Estado a sua opiniao sobre a falta de subsistencias que havia no reino; votei pela admissao de cereaes e prohibicáo de expor- taçao; assim votou o Conselho. DOC. DX Testamento de José da Silva Carvalho Em Nome da Santissima Trindade, Padre, Filho e Espirito Santo, em quem eu José da Silva Carvalho creio, e em cuja Fó protesto viver e morrer; estando em meu perfeito juizo, e de minha livre vontade, e sem constrangimento de pessoa alguma, declaro que ó este o meu testamento e minha ultima vontade. Declaro que sou natural de Villa Deanteira, freguezia de S. Joao d'Areias, districto de Vizeu, filho legitimo de José da Silva Saraiva e D. Anna María de Carvalho. Que ó minha .vontade que o meu enterro seja feito sem pompa, que sempre aborrecí, nao havendo convites especiaos para o meu funeral, sendo conduzido á inao pelos meus creados, aos quaes se dará de esmola a cada um quatro mil e oitocentos réis. Quero mais por minha alma, de meus Paes, minha mulher, e minha tia Thereza, a quem sou muito obrigado, cinco missas de esmola, cada urna de quatrocentos e oitenta réis, bem próximas ao meu fallecimento. Deixo os meus ser- vicos, prestados no cerco do Porto, ao meu querido filho Joao da Silva Carvalho. Observando que na disposiçao testamentaria com que falleceu meu saudoso irmao Jo&o da Silva Carvalho fui eu instituido herdeiro de todos os seus bens, e que por minha morte passariam para minha neta Anna, filha de meu genro e filha—Joao Antonio Vianna e D. Camilla Adelaide, sendo a referida minha neta desde logo nomeada herdeira successora do dito meu irmao, e tendo-se verificado o triste acontecimento de haver ella fallecido ha mezes, declaro que todos os bens da dita herança, de que eu sempre considerei proprietaria a dita minha neta, pertencem de propriedade aos ditos seus Paes, como seus legitimos herdeiros, e por minha morte o usofructo de todos elles se irá reunir com a propriedade para os gosarem e d'elles disporem como dos mais bens que plenamente lhes pertençam: e rogo a todos os meus herdeiros que nao ponham embaraço algum a que por esta forma se cumpra a vontade do dito meu irmáo, porque, em virtude das repe­ tidas declaraçSes que elle me fez em sua vida, por occasiáo dos arran- jos do seu testamento, sei positivamente que a intençao e sentido da

Sua Magestade tomou todos os Sacramentos e ao meio dia faileceu.<br />

Boa Mae, boa Esposa e boa Bamba. Beijámos-lhe a máo, depois a<br />

El-Rei, depois ao Principe; fizemos os competentes autos que estáo<br />

no Diario d'esse dia e retiramos para o nosso aposento sendo 3 horas<br />

<strong>da</strong> tarde.<br />

A térra lhe seja leve.<br />

N. B. E esta a primeira vez qne um conselheiro d'estado, sendo<br />

ministro d'estado, o sr. Rodrigo <strong>da</strong> Fonseca Magalhaes, fez perder aos<br />

conselheiros urna <strong>da</strong>s suas maiores prerogativas, qual era a de que os<br />

conselheiros d'estado pegassem no féretro desde o thalamo nupcial,<br />

e o trouxessem até ás esca<strong>da</strong>s do paço, e ahi o entregassem a quem o<br />

conduzisse á sepultura; sempre se fez, e se alguma vez se preteriu<br />

esta ceremonia, é porque nao havia conselheiros d'estado. O marquez<br />

de Pombal nessa quali<strong>da</strong>de assim o praticou, unindo-se com os poneos<br />

que entáo havia; sirva mais este labéo ao sr. Rodrigo <strong>da</strong> Fonseca<br />

Magalhaes.<br />

No dia 19 de novembro foi o enterro de Sua Magestade a Rainha;<br />

o Conselho d'Estado que a devia levar até á porta do palacio nao foi<br />

convi<strong>da</strong>do e deixaram isso aos aristócratas, culpa do ministro do reino,<br />

Rodrigo <strong>da</strong> Fonseca Magalhaes que, sendo conselheiro d'estado, oalcou<br />

aos pés esta prerogativa; nao admira a sua ignorancia ou acanhamento.<br />

1854<br />

Julho.—Dia 19.—Pelo ministro do reino fomos avisados para<br />

o Conselho d'Estado, para hoje ao meio dia, e quasi a essa hora hoje<br />

fomos desavisados, porque o Rei tinha ido para Cintra e nao foi prevenido<br />

11<br />

Dia 27. — Conselho d'Estado para se prorogarem as cortes até 3<br />

de agosto.'.' Convieram, mas o sr. Avila fez sensatas reflexoes, mostrando<br />

que melhor seria adiarem as ditas munindo-se <strong>da</strong>s leis indispensaveis<br />

e mais necessarias. En apoiei estas reflex5es e muito principalmente<br />

estando com a revolucáo de Hespanha vizinha, e disse que<br />

nlo sabia o que esperavam; a isto acudiu Rodrigo <strong>da</strong> Fonseca, e<br />

disse muito enfa<strong>da</strong>do—Nao sei o que elles esperamü Parecendo-lhe<br />

que na<strong>da</strong> havia qne recear. Ao que eu retorqui—que eu fallava no<br />

interesse do governo, porque ninguem os livrava de que houvesse<br />

um deputado que lhe fizesse urna pergunta a respeito <strong>da</strong> revolucáo<br />

de Hespanha, e que d'essa resposta podiam nascer muito más consequencias.<br />

Mas o sr. Rodrigo tem muito orgulho e olha só para si;<br />

entretanto, affirmou que nao havia nem dictadura nem mais prorogacáo.<br />

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