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15.04.2013 Views

mavam assim. Sua Magestade que chamasse uma pessoa de sua con- fiança para lhe encarregar tal missáo, e depois a acceitasse ou rejei- tasse conforme lhe parecesse. Depois foi chamando dos que estavam, a um por um, sendo eu o primeiro; perguntou-me quem apontava eu. Resposta: «Que nao tinha duvida emquanto ao duque da Terceira, mas quería R. da Fonseca, visconde de Algos, e o commandante da 4. a divisao Ferreira; com estes que nao tinha duvida entao de entrar, e depois pensaría no resto». Disse Sua Magestade que lhes nao agra- davam, alem de que o Ferreira fazia falta no Minho. Depois de mim, seguiu-se a fallar com Sua Magestade o Leitáo, e depois o Castro, que sahiu encarregado de formar o ministerio! Dia 27.— Castro nao arranjou nada, tendo fallado com o visconde de Algés, que se recusou; sahiu entáo presidente de conselho 4 o duque da Terceira. Fui chamado ao paco pelas 10 horas da noite: achei Leitáo, e Castro dizendo que S. M. quería formar o ministerio imme­ diatamente, porque assim lh'o tinha escripto; nos dissemós que, tendo sido nomeado o duque, devia esperar-se que elle viesse para escolher os ministros. Accommodou-se com isso. Dia 28.—Fui chamado ao paco pelo meio dia estando no Tribunal, e achei no paco—Falcao, Castro, Fronteira, Vargas, Franzini e Leitáo, e veiu depois Proença; mas nao se formou ministerio porque a essa hora chegou um boletim que annunciava a sabida de El-Rei, neste dia, de Coimbra, pelas 10 horas, marchando para Lisboa com a sua columna, e que o duque tinha partido; tinha-se no dia anterior sabido a junccáo do Porto com Saldanha!! Dia 29. — Saldanha escreveu á Rainha «que nao embainhava a sua espada emquanto nao fosse nomeado um ministerio, tirado da minoria, em que elle nao quería entrar». Rodrigo, Algés e Lavradio estavam combinados já para entrar. Ella Rainha deu carta branca ao Algos. Sabia-se que a tropa abandonara El-Rei e que Braga, Beira, etc., fraternisava com o duque de Saldanha. Dia 30.—Rodrigo esteve com a Rainha, com quem fallou larga­ mente e concluiu por annuir ao convite, pedindo-lhe que chamasse Lavradio para combinar com elle. Ella prometteu, e assim o fez; mas, como nesse dia de tarde chegasse o duque, succedeu que indo Lavradio á noite ella lhe nao fallou em ministerio, mas protestando que era muito sua amiga, etc., etc. Entendo que isto já era influencia do duque, que perde tudo em politica. Escrevi á noite ao Esmoler-mór para lhe dizer o estado da cidade, que era mau se lhe nao acudissem com um ministerio á vontade do Saldanha (para elle o dizer onde conviesse).

Maio.—Dia 1.—Fez o ministerio o duque da Terceira, assim: elle, na guerra — Proença, no reino — Franzini, na fazenda—Ferráo, na justiea—B. de Francos, na marinlia—e barao do Luz, nos negocios estrangeiros. Dios se la depare buena! Dia 2.—Nao se verificou o ministerio ácima; de tarde houve o supplemento, assim: Franzini, fazenda e justiea — B. de Francos, guerra e marinha—B. da Luz, reino e estrangeiros. Tudo interino. Saldanha nomeado presidente e do reino. Dia 3.—Reis partiu para o Porto com carta da Rainha (no dia 1.°, de noite) ao D. de Saldanha. Chegou El-Rei, incógnito, pela tarde. Fui ao paco visitar El-Rei, que muito bem me recebeu; disse-me que em breve largaria o commando em chefe, ao que respondi que fazia muito bem. Dia 4. —Tumultos acommodados pela guarda municipal com algu­ mas cutiladas no largo de S. Carlos. Dia 5.—Conselho d'Estado, onde Barreiros, ministro interino do reino, propoz ou a demissao do ministerio ou a demissao de D. Carlos, como tinha promettido a um grupo de agitadores na rúa. Todo o Conselho rejeitou urna e outra proposicáo. Franzini acceitava o voto do Conselho, Barreiros insistía, Francos dizia que se Barreiros ficasse tambem nao sahiria. Disse-lhe eu que se demorasse mais um dia na sua resolucáo. Levantou-se o Conselho. Chegou noticia trazida pelo Reis de Vasconcellos e cartas do marechal Saldanha, do Porto, as mais submissas e que faria o que a Rainha quizesse, que nao accei­ tava ser ministro do reino, mas que indicaría pessoas para o ministerio, e pedia licença para vir para Lisboa com alguma tropa, para o que fazia as suas disposiçoes. Isto acalmou a effervescencia que havia. Dia 7.—Fui ao paco. El-Rei perguntou-me se tinha visto Rodrigo ou Reis de Vasconcellos. Respondi que nao. Fallamos sobre o estado da cidade e disse que havia socego. Dia 8.— Ferráo escreveu-me que no dia seguinte ia ao Porto, que assim era conveniente, e sei que vae levar um nós-abaixo-assi- gnado por J. M. Grande, J. A. de Aguiar e outros, pedindo ao duque de Saldanha que nao venha nos vapores do governo, mas sim por térra, com tropa, porque se devia acautelar da cilada que, segundo elles e os de Setembro, receiam que se lhe arme, prendendo-o e inutili- sando assim a revolucáo!!! Sao justamente os conselhos que tinha dado o Patriota e a RevoluçSio. Havia quem pensasse qual era o pensamento d'esta gente, que contava esperal-o e entrarem com elle em grande alvoroço e promoverem a abdicaçño que é o seu desiderá­ tum. No dia 7, soube eu que Reis de Vasconcellos chegou a descon-

Maio.—Dia 1.—Fez o ministerio o duque <strong>da</strong> Terceira, assim:<br />

elle, na guerra — Proença, no reino — Franzini, na fazen<strong>da</strong>—Ferráo,<br />

na justiea—B. de Francos, na marinlia—e barao do Luz, nos negocios<br />

estrangeiros.<br />

Dios se la depare buena!<br />

Dia 2.—Nao se verificou o ministerio ácima; de tarde houve o<br />

supplemento, assim: Franzini, fazen<strong>da</strong> e justiea — B. de Francos, guerra<br />

e marinha—B. <strong>da</strong> Luz, reino e estrangeiros. Tudo interino. Sal<strong>da</strong>nha<br />

nomeado presidente e do reino.<br />

Dia 3.—Reis partiu para o Porto com carta <strong>da</strong> Rainha (no dia<br />

1.°, de noite) ao D. de Sal<strong>da</strong>nha. Chegou El-Rei, incógnito, pela tarde.<br />

Fui ao paco visitar El-Rei, que muito bem me recebeu; disse-me<br />

que em breve largaria o commando em chefe, ao que respondi que<br />

fazia muito bem.<br />

Dia 4. —Tumultos acommo<strong>da</strong>dos pela guar<strong>da</strong> municipal com algu­<br />

mas cutila<strong>da</strong>s no largo de S. Carlos.<br />

Dia 5.—Conselho d'Estado, onde Barreiros, ministro interino do<br />

reino, propoz ou a demissao do ministerio ou a demissao de D. Carlos,<br />

como tinha promettido a um grupo de agitadores na rúa. Todo o<br />

Conselho rejeitou urna e outra proposicáo. Franzini acceitava o voto<br />

do Conselho, Barreiros insistía, Francos dizia que se Barreiros ficasse<br />

tambem nao sahiria. Disse-lhe eu que se demorasse mais um dia na<br />

sua resolucáo. Levantou-se o Conselho. Chegou noticia trazi<strong>da</strong> pelo<br />

Reis de Vasconcellos e cartas do marechal Sal<strong>da</strong>nha, do Porto, as<br />

mais submissas e que faria o que a Rainha quizesse, que nao accei­<br />

tava ser ministro do reino, mas que indicaría pessoas para o ministerio,<br />

e pedia licença para vir para Lisboa com alguma tropa, para o que<br />

fazia as suas disposiçoes. Isto acalmou a effervescencia que havia.<br />

Dia 7.—Fui ao paco. El-Rei perguntou-me se tinha visto Rodrigo<br />

ou Reis de Vasconcellos. Respondi que nao. Fallamos sobre o estado<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e disse que havia socego.<br />

Dia 8.— Ferráo escreveu-me que no dia seguinte ia ao Porto,<br />

que assim era conveniente, e sei que vae levar um nós-abaixo-assi-<br />

gnado por J. M. Grande, J. A. de Aguiar e outros, pedindo ao duque<br />

de Sal<strong>da</strong>nha que nao venha nos vapores do governo, mas sim por<br />

térra, com tropa, porque se devia acautelar <strong>da</strong> cila<strong>da</strong> que, segundo<br />

elles e os de Setembro, receiam que se lhe arme, prendendo-o e inutili-<br />

sando assim a revolucáo!!! Sao justamente os conselhos que tinha<br />

<strong>da</strong>do o Patriota e a RevoluçSio. Havia quem pensasse qual era o<br />

pensamento d'esta gente, que contava esperal-o e entrarem com elle<br />

em grande alvoroço e promoverem a abdicaçño que é o seu desiderá­<br />

tum. No dia 7, soube eu que Reis de Vasconcellos chegou a descon-

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