josé da silva carvalho - DSpace CEU

tal combinacáo, nao só porque Saldanha nao podia ser ministro, nem
os outros que tiveram a parte principal na contenda passada, mas
porque nao davam garantias aos do partido contrario, e neste sen­
tido escreveu Rodrigo da Fonseca Magalhaes, o qual tambem nao
podia admittir que Saldanha recuasse para os estrangeiros, deixando
o seu posto que era na secretaria da guerra; alem de que, elle nunca
poderia ser presidente do conselho, porque presidente devia ser um
homem cuja politica desse as necessarias garantias a todos. Lembrou
Garrett para os estrangeiros; elle Rodrigo, reino; Avila, fazenda; eu,
justica. Este principio de combinaçao admittiu El-Rei. Quando Rodrigo
sahiu do paco, chamou-o o Esmoler-mór, dizendo-lhe que El-Rei tinha
a Rainha em coacçao, que era uin pateta, que estava fazendo muito
mal a este paiz!! D'onde bem inferimos que ella ainda olhava para o
conde de Thomar, e que estas ideas eram da camarilha que a cercava,
e que neste negocio só andava sincero El-Rei. Entendo que realmente
se nao pode assim com ella, e com a camarilha se nílo pode formar
um ministerio que dé garantias.
Dia 12.—Verifiquei que no dia 9 tinha a Rainha convidado o du­
que de Saldanha para formar o ministerio, o qual nos nao disse cousa
alguma, e quiz logo o barao da Luz para a marinha; Lapa ou barao
de Ourem, para a guerra; elle, nos estrangeiros; Avila, na fazenda;
e Ferrao ou Chancelleiros, na justiça. Disse a El-Rei que Fonseca
Magalhaes nao quería entrar no ministerio, e mandou chamar o barao
de Ourem. Veiu com effeito este homem e depois de estar aqui vinte
e quatro horas foi dizer ao duque de Saldanha que as tropas estavam
combinadas em logo ir Carlos Fronteira para o paco guardar a Rainha
logo que houvesse este ministerio, as tropas ficarem em quarteis e os
batalhdes de Fronteira sahirem para a rúa e fazer arruaça. Vi urna
carta de Seymour a Rodrigo da F. Magalhaes, a dizer-lhe que nao
entrasse com Saldanha; que entrasse com a sua gente, recenseamentos
emendados e batalhoes demittidos. Tive urna larga conferencia com
R. da F. Magalhaes e assentámos em que a Rainha nao andava sincera,
e que assim se nao devia encarregar de formar o ministerio caso para
isso fosse chamado; porque ainda o nao tinha sido, e só tinha con­
versas a esse respeito com El-Rei, que em verdade andava sincero,
mas opposto á Rainha. Que fosse fallar com sir H. Seymour e lhe
contasse tudo com lealdade e lhe dissesse a impossibilidade em que se
achava, e que nao convinha sujeitar-se a um revez, porque era inuti-
lisar-se, e depois desse conta a El-Rei do que se tenha passado; que
assim o pedia a lealdade com que elle tinha andado com elle. Que
pouco importava que o ministerio se recompuzesse, ou viesse urna
cámara cabralista, porque tudo afinal cedería á opiniao que se mani-