josé da silva carvalho - DSpace CEU

josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU

dspace.ceu.es
from dspace.ceu.es More from this publisher
15.04.2013 Views

Outubro.—Dia 1.—Estive no centro eleitoral onde o marquez da Fronteira vinha do reino com a commissáo de nos perguntar se apoiariamos ao ministerio a arrematacáo das Sete Casas, pois que elle fora ter cora os ministros dizer-lhes que isso nos transtornaria a eleiçSo, ficando os empregados dependentes do Kio Tinto, que era um dos arrematantes. Dissemos-lhe que nao nos intromettiamos nisso, porque nao queríamos sobre nos tomar essa responsabilidade, e que assim lhes fosse dizer com o arcebispo de Mitylene. Fallou-se em frouxidáo e incerteza no plano do ministerio, e disse o marquez que se a Rainha nomeasse Rodrigo, eu, Simas e José Anto­ nio María de Sousa, que elle apoiaria esse ministerio, mas que se nomeasse Loureiro e conde de Lavradio, que fazia urna revoluçao, para o que tinha espadas e gente propria; que aquelle ministerio devia ser presidido pelo duque de Saldanha. O duque de Saldanha disse que por caso nenhum entraría no ministerio, e que se a Rainha o chamasse lhe diría que encommendasse isso ao duque da Terceira; o qual ali presente disse que o forraava sem difficuldade, chamando logo os Cabraes!!! Pareceu-me que o faria, porque elle tem certa tendencia para elles, e o talento nao é grande. Dia 2.—Encontrei no reino o duque de Saldanha, e, fallando no negocio das Sete Casas, disse elle particularmente que aquelle negocio fora hontem levado ao centro eleitoral, porque se queria urna crise ministerial, promovida pelo Simas, e por isso que elle logo o repellira. Confessou-me que tinha receio do marquez de Fronteira!! Dia 9.— Teve logar hoje a reuniao monstro do conde de Thomar na rúa dos Mouros, presidida por elle, secretarios Vargas e Lacerda, oradores Albano e Laborim; fez a sua falla contra o ministerio, poli- tica ingleza e associaçSo do Arco do Bandeira. Disse que se nao queria annullar, que queria e havia de ser poder, e só nao aspiraría a isso se aquella assembléa o nao apoiasse, e que provocava urna explicaçao: todos apoiaram, dizendo alguns que o desejavam quanto antes. A reuniao comprehenderia 600 pessoas, a maior parte empre­ gados públicos. Sahiu acompanhado de toda esta gente entre Ferru- gento e Lucotte. O duque da Terceira esteve em casa do irm&o José na vespera, seis horas fechado com elle. Dia 14. —Visitou-me o duque de Saldanha, disse que a Rainha estava decidida a nao admittir o conde de Thomar, e que intimaram ao duque da Terceira que, sendo seu creado, elle nao devia ir a casa do conde de Thomar, porque ella nao queria nada com elle e que nunca mais havia de ser ministro; ao que o duque lhe respondeu que se elle tivesse maioria na cámara de certo ella p nao podia evitar. Sua Mages-

tade retorquiu que o ministerio havia de ser tirado da maioria, mas que essa nao era de um só homem, e que mais fácil seria chamar Leo­ nel do que o conde de Thomar: que tomara dizer isto de sobre um pulpito ou no Terreiro do Paco. Pedi-lhe que nao desamparasse a Rainha. Dia 22. — Conselho d'Estado para nomeacáo de pares do reino — Fonseca Magalháes, Chancelleiros, Leitáo, Sousa Azevedo, M. de Castro, Arrochella. Nao foi o duque de Palmella por nao ter por escripto a resposta á resignacáo que tinha feito do logar: ouvi que a tivera nesse dia á noite. Fomos com El-Rei e governo cumprimentar a Rainha de Inglaterra a bordo da ñau Hoto. Dia 24. — Sahiu o duque de Palmella para a Madeira; mandou-me recados pelo Rodrigo, e que por nao ter tempo se nao despedia pes- soalmente. Dia 30.—Fallei com Saldanha sobre o estado do paiz; disse que El-Rei e Rainha estavam no melhor sentido, mas rodeados de cabra- listas que lhe diziam que só o Cabral era capaz de por isto a direito!! E que Proenca e Leitáo lhe diziam que nao havia senáo cartistas e progres8Ístas!! Incluindo nos primeiros os Cabraes. Novembro.—Dia 2. — Disse-me o Occulto que havia idóa de aconselhar a Sua Magestade chamar Dietz, porque sendo El-Rei uma criança, só aquelle homem o podia bem aconselhar—plano de Cabraes!!! Dia 4. — Fui ao paco com R. da Fonseca; fallamos sos com El-Rei, que em verdade teve comnosco a maior abertura e franqueza que podiamos ambicionar. Abriu o seu coracáo e pensamento, mostrando na cautela com que fallava, para nao ser ouvido fora, a plena con- fiança que tinha em nossas pessoas, e o quanto desconfiava de tudo o que o rodeava. Pediu a Rodrigo que voltasse no outro dia, e perguntou se tomaría parte na administracáo logo que a Rainha se levantasse, porquanto a actual tinha pedido a sua demissáo, e tinha-lhe sido dada, ficando só com o expediente. Classificou os ministros como elles mereciam, duque da Terceira e Fronteira, e todos os de casa; disse que a Rainha pensava como elle. Que tinha convidado o Saldanha para tomar conta (do ministerio'?), o que nos approvámos ; e esperava que no dia seguinte lhe desse urna resposta, e que instaría com elle para commandar a divisao; que por ora se nao demittia do commando em chefe, reser- vava isso para a nova administracáo se lhe fizesse conta. Dia 11. — El-Rei nao estava satisfeito com o comportamento do D. de Saldanha que entendía ser ministro dos negocios estrangeiros; da guerra, o baráo de Ourem; marinha, o baráo da Luz; fazenda, Avila; reino, Rodrigo; Chancelleiros, justiça. Seymour nao podia approvar

Outubro.—Dia 1.—Estive no centro eleitoral onde o marquez<br />

<strong>da</strong> Fronteira vinha do reino com a commissáo de nos perguntar se<br />

apoiariamos ao ministerio a arrematacáo <strong>da</strong>s Sete Casas, pois que<br />

elle fora ter cora os ministros dizer-lhes que isso nos transtornaria a<br />

eleiçSo, ficando os empregados dependentes do Kio Tinto, que era um<br />

dos arrematantes. Dissemos-lhe que nao nos intromettiamos nisso,<br />

porque nao queríamos sobre nos tomar essa responsabili<strong>da</strong>de, e que<br />

assim lhes fosse dizer com o arcebispo de Mitylene.<br />

Fallou-se em frouxidáo e incerteza no plano do ministerio, e disse<br />

o marquez que se a Rainha nomeasse Rodrigo, eu, Simas e José Anto­<br />

nio María de Sousa, que elle apoiaria esse ministerio, mas que se<br />

nomeasse Loureiro e conde de Lavradio, que fazia urna revoluçao,<br />

para o que tinha espa<strong>da</strong>s e gente propria; que aquelle ministerio devia<br />

ser presidido pelo duque de Sal<strong>da</strong>nha. O duque de Sal<strong>da</strong>nha disse que<br />

por caso nenhum entraría no ministerio, e que se a Rainha o chamasse<br />

lhe diría que encommen<strong>da</strong>sse isso ao duque <strong>da</strong> Terceira; o qual ali<br />

presente disse que o forraava sem difficul<strong>da</strong>de, chamando logo os<br />

Cabraes!!!<br />

Pareceu-me que o faria, porque elle tem certa tendencia para<br />

elles, e o talento nao é grande.<br />

Dia 2.—Encontrei no reino o duque de Sal<strong>da</strong>nha, e, fallando no<br />

negocio <strong>da</strong>s Sete Casas, disse elle particularmente que aquelle negocio<br />

fora hontem levado ao centro eleitoral, porque se queria urna crise<br />

ministerial, promovi<strong>da</strong> pelo Simas, e por isso que elle logo o repellira.<br />

Confessou-me que tinha receio do marquez de Fronteira!!<br />

Dia 9.— Teve logar hoje a reuniao monstro do conde de Thomar<br />

na rúa dos Mouros, presidi<strong>da</strong> por elle, secretarios Vargas e Lacer<strong>da</strong>,<br />

oradores Albano e Laborim; fez a sua falla contra o ministerio, poli-<br />

tica ingleza e associaçSo do Arco do Bandeira. Disse que se nao<br />

queria annullar, que queria e havia de ser poder, e só nao aspiraría<br />

a isso se aquella assembléa o nao apoiasse, e que provocava urna<br />

explicaçao: todos apoiaram, dizendo alguns que o desejavam quanto<br />

antes. A reuniao comprehenderia 600 pessoas, a maior parte empre­<br />

gados públicos. Sahiu acompanhado de to<strong>da</strong> esta gente entre Ferru-<br />

gento e Lucotte. O duque <strong>da</strong> Terceira esteve em casa do irm&o José<br />

na vespera, seis horas fechado com elle.<br />

Dia 14. —Visitou-me o duque de Sal<strong>da</strong>nha, disse que a Rainha<br />

estava decidi<strong>da</strong> a nao admittir o conde de Thomar, e que intimaram<br />

ao duque <strong>da</strong> Terceira que, sendo seu creado, elle nao devia ir a casa<br />

do conde de Thomar, porque ella nao queria na<strong>da</strong> com elle e que nunca<br />

mais havia de ser ministro; ao que o duque lhe respondeu que se elle<br />

tivesse maioria na cámara de certo ella p nao podia evitar. Sua Mages-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!