josé da silva carvalho - DSpace CEU

josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU

dspace.ceu.es
from dspace.ceu.es More from this publisher
15.04.2013 Views

e quer mcttcr mcdo a Sarmentó, «mas o governo está disposto a responder com a maior euergia» . . . «Elles quando viraiu a questáo a decidir-se vieram com o tratado em favor do mais forte». E admiravel de vigor e patriotismo a resposta ao offieio em que Moraes Sarmentó se queixa das insolencias de lord Grey e de lord Palmerston: «O offieio de v. s.», n.° 18 reservado, causou a S. M. I. o duque de Bragança, Regente, e ao seu ministerio, nao pequeña e^tranheza pela singularidade do comportamento que tiveram com v. s.* os ministros de S. M. 13., no dia 7 do corrente, convidando um a v. 8.* para lhe ouvir invectivas destemperadas e gratuitas, contra o governo de S. M., e aproveitando outro a occasiáo mais impropria e indecente, um levee de S. M. B., para carregar a v. s.* das mesmas exprobaçoes, sem causa apparente legitima ou justificada para tamanho desabrimento. . . e nao havendo motivo para lord Palmerston e os outros ministros estigmatisarem o governo de S. M. F. de ingrato e hostil para com o de S. M. B., ajuntando ameaeas de retaliacáo, sem todavia nem um d'elles produzir factos positivos em que se fuudasse nem direitos que tivesse para queixar-se de nos, e, observando mais que os ditos ministros possuidos da paixao com que fallavam nem sequer davam a v. s.* logar para explicar nem rebater as suas accusaçoes, ordena o mesmo Augusto Senhor que, se v. s.* em alguma occasiáo futura de conferencias ou conversas com os ministros inglezes lhes perceber disposiçocs para reuovarem semelhantes scenas, trate de por termo á couversacáo pelo modo mais prompto que for possivel, dizendo que nao pode ouvir ataques contra o seu governo sem lhe ser pennittido replicar, e que aecusaçoes táo graves, como sao as de iugratidáo do governo portuguez e animo hostil contra o de S. M. B., só poderáo ser attendidas por v. s. a se lhes forem communicadas por escripto de modo qi.«j as possa transmittir ao seu governo para elle as tomar na devida eonsideracáo. «Nao devo deixar de alludir aqui á declaracáo dos principios políticos d'esse gabinete, que fez a v. s.* lord Grey; porque 6 d'ella que se pode colligir a verdadeira causa da sanha do ministerio» Esse governo tiuha sem duvida concebido a nosso respeito esperancas que teme se lhe nao realisem. Declarou lord Grey a v. s. J que o governo inglez nao faz a guerra nem sacrificios de especie alguma por este ou aquelle soberano, este ou aquclle ramo de dynastia; mas sómente a favor d'aquelle cujas relaçoes lhe forem mais proveitosas. Muito mal parece que durante a existencia dos tratados de amizade, alliança c garantía com este paiz, cujas estipulaçoes estáo continuamente a ser invocadas pelos inglezes, declare o primeiro ministro británico estes principios a v. s.*! Nos, porém, muito bem o sabíamos, os temos observado e visto praticar; mas faça-nos o governo inglez tambem a justiça de se persuadir que os portuguezes que ha tanto tempo téem aventurado a sua vida e os seus bens para restituir a liberdade á sua patria e o throuo legitimo á legitima soberana, nunca trabalharam para derrubar o usurpador portuguez com a idea de sujeitar o seu paiz ás vistas interessadas de alguma nacáo estraugeira. Fará v. s.* d'estas observaçoes o uso conveniente.» Peraute o brio e o valor de coraeoes táo portuguezes, que triste figura nao fez o utilitarismo británico?!. . . Já no offieio n.° 43, de 18 de maio, A. J. Freiré se queixava de que desde 1807 Portugal tivesse sido constantemente explorado por estranhos, condemnava o tratado de 1810 e mostrava-se disposto a nao deixar que a sua patria continuasse a ser assim ludibriada!

Na verdade, devia ser grande o despeito de lord Palmerston ao ver que a independencia do governo portuguez e a precipitado com que se succediam as victorias militares lhe nao consentiam que se intromettesse nos negocios internos de Portugal; mas, ao mesmo tempo, um táo grandioso e brilhante espectáculo e a coragem dos héroes que nelle figuravam nao podia deixar de lhe inspirar admiracáo c, até certo ponto, cssa especie de política sentimental, de que Talleyrand se queixava. Quatro dias depois de finda a lucta em Portugal, ainda o nosso ministro em Londres remettia ao governo um projecto de amnistia e concessoes, redigido de accordo com lord Palmerston e os outros plenipotenciarios. Sarniento pedia que as approvassem, «senáo estamos outravez no principio da mesma discussáo». Teve o ministro dos negocios estrangeiros a satisfacáo enorme de lhe poder responder «que o governo de Sua Magestade nao assentiria a neuhuma d'ellas, quando mesmo ainda fosse tempo, porque nao reconhece a nenhum governo estrangeiro direito de ingerir-se em medidas de tal natureza, que sao de política interna e iudependente de cada estado; nem o tratado de 22 de abril dá esse direito ás tres potencias, porque, se nelle houvesse urna palavra que tendesse a semelhante fim, S. M. I. o nao ratificava. A observacáo de lord Palmerston de que o rochedo em que D. Miguel naufragou foi o nao querer conceder a amnistia tambem nao tem logar nenhum, porque D. Miguel recusou sempre concedel-a e S. M. I. concedeu-a antes de ninguem lh'a pedir e nunca se recusou. Ñas coudiçoes de semelhantes actos devem necessariamente influir consideraçocs de justiça, de politica e de geuerosidade ou humanidade, e, na amnistia concedida, tanto se deixou S. M. I. influir pelos generosos e humanos seutimentos do seu coracáo, que postergou a politica e tornou impopular a amnistia, ao ponto de se escandalisarem gerahncnte os povos com ella e de perder o governo momentáneamente na estimacáo d'elles». «Felizmente a grande lucta está acabada e sobre as medidas e arranjos tendentes aquelle ñm primario já nao tem logar discussáo alguma. A maior difüculdade que actualmente experimenta o governo é em fazer observar pelos povos a reprovada amnistia, e só um governo táo firme nos seus principios e táo acreditado entre a parte sa da nacáo podia publicar o decreto tal qual foi redigido, sem occasionar urna anarehia horrorosa c devastadora.» Pouco tempo depois C. P. de Moraes Sarniento officiava de Londres que lord Howard exprimirá com satisfacáo a lord Palmerston a boa harmonia e intelligcncia em que se achava com Agostiuho José Freiré e José da Silva Carvalho, em quem encontrava a melhor disposicáo possivel para attender a todas as suas proposiçoes. Accrescenta Sarniento: «Eu nao pude deixar de testemunhar a mylord toda a miuha satisfacáo e tambem em ar de graça lhe disse—II vaut mieux tard que jamáis, e que aquillo que agora acontecía teria tido logar desde o principio, se lord Howard se nao tivesse deixado guiar por pessoas que se serviam da sua auctoridade e influencia para fins particulares e nao de bem publico. Mas cmfím, disse eu, é melhor que se esqueca todo o passado e olhar com gosto para o presente e para o futuro». Em 18 de agosto de 1834, os plenipotenciarios Sarmentó, Miraflores. Talleyrand e Palmerston firmaram os artigos addicionaes ao tratado da quadrupla alliança. Sobre este acto, escreveu Silva Carvalho, n'uma das suas memorias: 1 1 Doc. CCLXXV, pag. 37.

Na ver<strong>da</strong>de, devia ser grande o despeito de lord Palmerston ao ver que a<br />

independencia do governo portuguez e a precipitado com que se succediam as<br />

victorias militares lhe nao consentiam que se intromettesse nos negocios internos<br />

de Portugal; mas, ao mesmo tempo, um táo grandioso e brilhante espectáculo e<br />

a coragem dos héroes que nelle figuravam nao podia deixar de lhe inspirar<br />

admiracáo c, até certo ponto, cssa especie de política sentimental, de que Talleyrand<br />

se queixava.<br />

Quatro dias depois de fin<strong>da</strong> a lucta em Portugal, ain<strong>da</strong> o nosso ministro em<br />

Londres remettia ao governo um projecto de amnistia e concessoes, redigido de<br />

accordo com lord Palmerston e os outros plenipotenciarios. Sarniento pedia que<br />

as approvassem, «senáo estamos outravez no principio <strong>da</strong> mesma discussáo».<br />

Teve o ministro dos negocios estrangeiros a satisfacáo enorme de lhe poder<br />

responder «que o governo de Sua Magestade nao assentiria a neuhuma d'ellas,<br />

quando mesmo ain<strong>da</strong> fosse tempo, porque nao reconhece a nenhum governo<br />

estrangeiro direito de ingerir-se em medi<strong>da</strong>s de tal natureza, que sao de política<br />

interna e iudependente de ca<strong>da</strong> estado; nem o tratado de 22 de abril dá esse<br />

direito ás tres potencias, porque, se nelle houvesse urna palavra que tendesse a<br />

semelhante fim, S. M. I. o nao ratificava. A observacáo de lord Palmerston de que<br />

o rochedo em que D. Miguel naufragou foi o nao querer conceder a amnistia<br />

tambem nao tem logar nenhum, porque D. Miguel recusou sempre concedel-a e<br />

S. M. I. concedeu-a antes de ninguem lh'a pedir e nunca se recusou. Ñas coudiçoes<br />

de semelhantes actos devem necessariamente influir consideraçocs de justiça, de<br />

politica e de geuerosi<strong>da</strong>de ou humani<strong>da</strong>de, e, na amnistia concedi<strong>da</strong>, tanto se<br />

deixou S. M. I. influir pelos generosos e humanos seutimentos do seu coracáo, que<br />

postergou a politica e tornou impopular a amnistia, ao ponto de se escan<strong>da</strong>lisarem<br />

gerahncnte os povos com ella e de perder o governo momentáneamente na estimacáo<br />

d'elles».<br />

«Felizmente a grande lucta está acaba<strong>da</strong> e sobre as medi<strong>da</strong>s e arranjos<br />

tendentes aquelle ñm primario já nao tem logar discussáo alguma. A maior<br />

difücul<strong>da</strong>de que actualmente experimenta o governo é em fazer observar pelos<br />

povos a reprova<strong>da</strong> amnistia, e só um governo táo firme nos seus principios e táo<br />

acreditado entre a parte sa <strong>da</strong> nacáo podia publicar o decreto tal qual foi redigido,<br />

sem occasionar urna anarehia horrorosa c devastadora.»<br />

Pouco tempo depois C. P. de Moraes Sarniento officiava de Londres que lord<br />

Howard exprimirá com satisfacáo a lord Palmerston a boa harmonia e intelligcncia<br />

em que se achava com Agostiuho José Freiré e José <strong>da</strong> Silva Carvalho, em quem<br />

encontrava a melhor disposicáo possivel para attender a to<strong>da</strong>s as suas proposiçoes.<br />

Accrescenta Sarniento: «Eu nao pude deixar de testemunhar a mylord to<strong>da</strong> a<br />

miuha satisfacáo e tambem em ar de graça lhe disse—II vaut mieux tard que<br />

jamáis, e que aquillo que agora acontecía teria tido logar desde o principio, se<br />

lord Howard se nao tivesse deixado guiar por pessoas que se serviam <strong>da</strong> sua<br />

auctori<strong>da</strong>de e influencia para fins particulares e nao de bem publico. Mas cmfím,<br />

disse eu, é melhor que se esqueca todo o passado e olhar com gosto para o<br />

presente e para o futuro».<br />

Em 18 de agosto de 1834, os plenipotenciarios Sarmentó, Miraflores. Talleyrand<br />

e Palmerston firmaram os artigos addicionaes ao tratado <strong>da</strong> quadrupla alliança.<br />

Sobre este acto, escreveu Silva Carvalho, n'uma <strong>da</strong>s suas memorias: 1<br />

1<br />

Doc. CCLXXV, pag. 37.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!