josé da silva carvalho - DSpace CEU

Dia 29 de maio. — Castro, ministro dos negocios estrangeiros, foi
a Cintra dizer á Rainha que eu e Rodrigo estavamos á testa de uma
opposicáo que os derribaría na cámara se as cortes nao fossem adiadas,
e entáo era mais conveniente demittir já o ministerio: a Rainha annuiu
ao adiamento contra sua vontade.
Memorándum da pretendida dictadura Cabralina do
anno de 1844. — Arguem-nos de que somos setembristas, e failam
com admiracáo nos homens de D. Pedro! E porque? Porque elles nao
querem a Carta rasgada, nem o despotismo embrulhado na capa da
liberdade; porque clamaram quando viram o decreto de 1.° de agosto
de 1844. Dizem que háo de pedir um bul de indemnidade. Mau sys­
tema! Nunca mais o concederei.
Na ultima sessao em que se concedeu o bul de indemnidade, se
disse que tal concessáo se fazia pela ultima vez.
Costa Cabral está unido com o ministerio de Hespanha (agosto de
1844) para fazer retrogradar a liberdade. Soube isto de certo. E foi
jurar sobre o coracáo de D. Pedro e na sua espada!
Meios de que se serviram para se tomarem absolutos.—Acabou
a revolucáo em Almeida em os fins de abril, e, quando todo o mundo
esperava que se abrissem as cámaras, onde os ministros deviam dar
conta do uso que fizeram dos poderes extraordinarios, elles, contra o
voto do Conselho d'Estado, adiaram as cámaras, para no intervallo
legislarem o que lhes fosse necessario para os seus fins.
A imprensa incommodava o ministerio, nao a podia soífrer. — Fi­
zeram (mas nao publicaram) uma lei em que criavam um tribunal
excepcional, composto dos tres presidentes dos tribunaes. Mandaram
sondar-me. Respondi que nao acceitava tal commissáo. Os juizes nao
lhe sentenciavam os implicados nos processos de liberdade de imprensa,
e na Relacáo nao lhe devam provimentos.—Veiu o decreto do 1.° de
agosto, como para abrir caminho com as transferencias, e estava pre­
parado o das aposentaçSes, mas o Tribunal Supremo de Justiça alçou
sua voz, e fez parar essa torrente que estava próximo a despenhar-se.
Reduziram-se sómente á transferencia de alguns juizes e escriváes,
para preparar o caminho para as eleiçSes; desconfiados da maioria,
querem dissolver a cámara, procurando outra que satisfaça os seus
desejos.
A linguagem do ministerio ñas suas imprensas era a mesma que
a de mr. Peyronnet antes dos dias de julho em París, que com mr.
Montbel dizia que aquelle que se nao unisse ao ministerio quebrava
com elle todas as ligaçSes, e nao tinha que esperar senáo severa
justiça. Pedia informaçSes particulares aos prefeitos, sobre os que se
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