josé da silva carvalho - DSpace CEU

josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU

dspace.ceu.es
from dspace.ceu.es More from this publisher
15.04.2013 Views

perante lord Palmerston; pensou, com toda a razao, que Talleyrand nao acceitaria urna posicáo tao subalterna para o paiz que represcntava, e que lord Palmerston seria obrigado a fazer alguma conccssáo, de que resultarla entrar a Franca como parte contratante, sem comtudo se lhe permittir urna accáo independente na Península, mas sim subordinada á vontade das outras potencias. Foi o que definitivamente ficou assente no artigo 4.° do tratado, com grande satisfacáo dos hespanhoes, que temiam e odiavam os soldados francezes. Luiz Filippe nao tinha a menor vontade de empregar um só soldado que fosse, alem dos Pyrineus, por isso Talleyrand se contentou com a redacçao definitiva do artigo 4.° do tratado, que, sem obrigar a Franca a urna accáo effectiva, e deixando-a, pelo contrario, afastada do campo da guerra, a fazia apparecer, perante os gabinetes da Europa, a par da Inglaterra e unida a ella por um tratado. Era o que ¡mportava. Pelo seu lado, Palmerston gabou-se da finura com que os artigos do tratado tiuham sido redigidos, persuadido de que conseguirá mystificar a Franca: «Jai été fort occupé, depuis le 4 de ce mois (se assim foi, pertence-lhe a prioridade da idea do tratado, e nao a Miraflores) á élaborer ma quadruple alliance (note-se— ma quadruple) entre l'Angleterre, la France, l'Espagne et le Portugal, pour arrivcr á l'expulsion de Carlos et de Miguel... Je Tai emporté au conseil par un coup de maiu, en leur enlevant le temps de faire des objectious. Je n'ai pas été aussi heureux avcc le vieux Talley fsic) et le gouvernemeut français, car ils ont fait des objections en quantité; mais ees objectious portaient toutes sur la forme dans laquelle je leur tenia proposé de se joiudre á nous. En définitive, j'ai réussi á satisfaire leur amour-propre en leur donnaut parmi nous la place qu'ils paraissaient désirer. Je regarde ceci córame un graud coup. D'abord cela decidera l'aftaire du Portugal et servirá un peu aussi á arranger celles d'Espagne. Mais, ce qui est d'une importauce permanente et genérale c'est que cela établit entre les Etats constitutionnels de l'Occident une quadruple alliance qui servirá de grand contre-poids á la Sainte-Alliance de l'Orient. . .» Nao será assim. Dentro em pouco, a Franca, caucada da má fé com lord Palmerston procedia, procurará na Austria, ainda que em váo, urna alliada mais sincera. A aniraosidade da Inglaterra augmentará com a nova política de Luiz Filippe, e a separacáo entre as duas grandes potencias occidentaes accentuarse-ha. Se a Inglaterra, a Franca e a Hespanha nao tiraram, afinal, do tratado, a utilidade com que contavam, foi elle para Portugal indubitavelmente vantajosissimo. Prevendo Sarmentó que o seu effeito seria, como de facto foi, a conclusáo immediata da questáo portugueza, promptificou-se a assignal-o com os outros plenipotenciarios, no dia 22 de abril; mas, ainda que os seus artigos se nao oppunham ao espirito das instrucçoes que recebera, como lhe faltassem os plenos poderes para assignar um tal documento, só se resolveu a firmal-o condicionalmente — sub spe rali. O tratado chegou a Madrid a 3, e a Lisboa a 5 de maio, vindo cortar as negociaçoes para a convencáo directa entre a Hespanha e Portugal. llatificaram-no os dois governos da Península, e o de Portugal nao só approvou mas elogiou muito a deliberacáo de Sarmentó. No dia em que chegou otratado foi-lhe expedido o seguiute despacho: 1 Mém. de Talleyrand, tom. v, pag. 389.

«Teudo Bido retardado por causa do mau tempo o barco de vapor County of Pembrole, só bontem á noite recebi o officio reservado de v. s. 1 , sob o n.° 15, com a data de 2 de abril, e o tratado junto, concluido entre as cortes de Portugal, Hespanba, Franca e Inglaterra, com o protesto apresentado por v. s.» relativamente ao titulo de infante dado ao sr. D. Miguel, o que tudo parcceu muito bcm a S. M. I. Por maior que seja comtudo o desejo de enviar quanto antes a v. s. 1 a ratificaran do mesmo tratado, como ha formalidades importantes a preencher, sendo de todas a mais essencial o ouvir a opiniáo do conselho d'estado, torna-se absolutamente impraticavel empregar em tudo menos de oito dias, e só entáo podcrá partir o coronel De Gaut com a ratificacáo formal; mas para que se nao siga inconvenientes d'esta inevitavel demora, S. M. I. me auctorisa para dizer a v. s.* que pode declarar oficialmente, aos ministros das potencias signatarias do tratado, que elle será approvado e ratificado em todas as suas partes e que nesta hypothese se podem dar as disposiçoes para o levar a effeito. «Tenho a satisfacáo de assegurar a v. s." que tanto S. M. I. como o governo em geral teem em consideraçao os motivos por que v. s.* se determinou a assignar o mesmo tratado, sem para isso ter recebido cxpressamente os plenos-poderes, e S. M. I. me cncarrcga de louvar o zelo e intelligencia com que v. s.* concluiu esta negociacáo, salvando a independencia e diguidade nacional, para o fim de manter e assegurar a estabilidade do tbrono da Rainba e a prompta restauraçao do socego e trauquilidade d'este Reino.» Miraflores, como sabemos, já se contentava com o apoio moral da Inglaterra, no caso d'ella nao poder intervir pelas armas. No tratado, a pouco mais annuiu o gabinete inglez obrigando-se a prestar-nos auxilio naval (art. 3.°). A Franca, prometteu a sua cooperaçao, quando lhe fosse requisitada (art. 4.°). Para que se nao pude8sc zombar dos compromissos contrahidos pelas duas grandes potencias signatarias do tratado, pondo em evidencia quanto tinham de platónico, desejou o ministro de Hespanba que desembarcassem algumas forças inglezas em Portugal, mais com a idea de produzir effeito do que para entrarem em operaçoes. Christovam Pedro de Moraes Sarmentó, que já recebera as ordens de evitar a intervencáo armada, fácilmente conseguiu demovel-o d'aquella idea, ponderandolhe que com o auxilio da Hespanba era inevitavel a derrota dos infantes, e que muito mais brilbante seria e muito mais lisongeiro para o brio peninsular que a lucta se terminasse sem auxilio de estranhos. Este era o grande empenbo dos portuguezes e dos bespanhoes, e tanto que, emquanto em Londres se discutem planos de amnistía e se trocam ratificaçoes, os governos de Portugal e de Hespanha impeliem para a frente os seus generaos, que, de victoria em victoria, forçam por fim o partido miguelista a render-se e a aeccitar, em 26 de maio, a concessSo de Evora Monte, que poz termo á lucta e deu a amnistía aos vencidos. A energia e independencia dos ministros de D. Pedro,—que ñas suas medidas patrióticas iam cortando a direito, importando-Ibes pouco que ellas ferissem os interesscs inglezes, contanto que fossem justas e concorressem para a prosperidade nacional,—e a intençao evidente de escapar ás exigencias estrangeiras e de dispensar o seu auxilio, revelada na rapidez dos movimentos militares e na impaciencia com que o ministro da guerra os accelerava,—causavam a exasperacáo do governo inglez, que volta á carga com as suas diatribes contra os ministros portuguezes. Porém ellcs nao affrouxaram: nao conheciam o medo, e á gratidáo nao se julgavam obrigados. A 20 de maio, dizia Freiré ao nosso ministro em Madrid que o governo inglez se mostrou muito indignado por causa do decreto de 18 de Abril que egualou os direitos de entrada, porque feria os privilegios inglezes;

perante lord Palmerston; pensou, com to<strong>da</strong> a razao, que Talleyrand nao acceitaria<br />

urna posicáo tao subalterna para o paiz que represcntava, e que lord<br />

Palmerston seria obrigado a fazer alguma conccssáo, de que resultarla entrar<br />

a Franca como parte contratante, sem comtudo se lhe permittir urna accáo independente<br />

na Península, mas sim subordina<strong>da</strong> á vontade <strong>da</strong>s outras potencias.<br />

Foi o que definitivamente ficou assente no artigo 4.° do tratado, com grande<br />

satisfacáo dos hespanhoes, que temiam e odiavam os sol<strong>da</strong>dos francezes.<br />

Luiz Filippe nao tinha a menor vontade de empregar um só sol<strong>da</strong>do que fosse,<br />

alem dos Pyrineus, por isso Talleyrand se contentou com a re<strong>da</strong>cçao definitiva<br />

do artigo 4.° do tratado, que, sem obrigar a Franca a urna accáo effectiva, e<br />

deixando-a, pelo contrario, afasta<strong>da</strong> do campo <strong>da</strong> guerra, a fazia apparecer, perante<br />

os gabinetes <strong>da</strong> Europa, a par <strong>da</strong> Inglaterra e uni<strong>da</strong> a ella por um tratado. Era<br />

o que ¡mportava.<br />

Pelo seu lado, Palmerston gabou-se <strong>da</strong> finura com que os artigos do tratado<br />

tiuham sido redigidos, persuadido de que conseguirá mystificar a Franca: «Jai<br />

été fort occupé, depuis le 4 de ce mois (se assim foi, pertence-lhe a priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

idea do tratado, e nao a Miraflores) á élaborer ma quadruple alliance (note-se—<br />

ma quadruple) entre l'Angleterre, la France, l'Espagne et le Portugal, pour<br />

arrivcr á l'expulsion de Carlos et de Miguel... Je Tai emporté au conseil par<br />

un coup de maiu, en leur enlevant le temps de faire des objectious. Je n'ai pas<br />

été aussi heureux avcc le vieux Talley fsic) et le gouvernemeut français, car ils<br />

ont fait des objections en quantité; mais ees objectious portaient toutes sur la<br />

forme <strong>da</strong>ns laquelle je leur tenia proposé de se joiudre á nous. En définitive, j'ai<br />

réussi á satisfaire leur amour-propre en leur donnaut parmi nous la place qu'ils<br />

paraissaient désirer. Je regarde ceci córame un graud coup. D'abord cela<br />

decidera l'aftaire du Portugal et servirá un peu aussi á arranger celles d'Espagne.<br />

Mais, ce qui est d'une importauce permanente et genérale c'est que cela établit<br />

entre les Etats constitutionnels de l'Occident une quadruple alliance qui servirá<br />

de grand contre-poids á la Sainte-Alliance de l'Orient. . .»<br />

Nao será assim. Dentro em pouco, a Franca, cauca<strong>da</strong> <strong>da</strong> má fé com lord Palmerston<br />

procedia, procurará na Austria, ain<strong>da</strong> que em váo, urna allia<strong>da</strong> mais<br />

sincera. A aniraosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Inglaterra augmentará com a nova política de Luiz<br />

Filippe, e a separacáo entre as duas grandes potencias occidentaes accentuarse-ha.<br />

Se a Inglaterra, a Franca e a Hespanha nao tiraram, afinal, do tratado, a<br />

utili<strong>da</strong>de com que contavam, foi elle para Portugal indubitavelmente vantajosissimo.<br />

Prevendo Sarmentó que o seu effeito seria, como de facto foi, a conclusáo<br />

immediata <strong>da</strong> questáo portugueza, promptificou-se a assignal-o com os outros<br />

plenipotenciarios, no dia 22 de abril; mas, ain<strong>da</strong> que os seus artigos se nao<br />

oppunham ao espirito <strong>da</strong>s instrucçoes que recebera, como lhe faltassem os plenos<br />

poderes para assignar um tal documento, só se resolveu a firmal-o condicionalmente<br />

— sub spe rali.<br />

O tratado chegou a Madrid a 3, e a Lisboa a 5 de maio, vindo cortar as<br />

negociaçoes para a convencáo directa entre a Hespanha e Portugal.<br />

llatificaram-no os dois governos <strong>da</strong> Península, e o de Portugal nao só approvou<br />

mas elogiou muito a deliberacáo de Sarmentó. No dia em que chegou otratado<br />

foi-lhe expedido o seguiute despacho:<br />

1<br />

Mém. de Talleyrand, tom. v, pag. 389.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!