josé da silva carvalho - DSpace CEU

josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU

dspace.ceu.es
from dspace.ceu.es More from this publisher
15.04.2013 Views

DOC. CDLVI Copia da resposta de Silva Carvalho ao duque de Palmella Sobre a petioao para se adiar o juramento da nova oonstituiçao afee una nova legislatura Londres, 18 de Janeiro de 1838. Vl. m e ex. m0 sr.—Recebi com grande satisfaçao a carta com que y. ex.* me honrou em data de 13 do corrente. Sinto qne y. ex.* tenlia sofírido, e milito desejo o inteiro restabelecimento da saude de v. ex.* Agradeço a consideraçao que v. ex. a quiz ter oommigo, e peco a v. ex. a se persuada que ainda que muito ambicione de vez em quando urna cartinha sua, a falta d'ella nao ha de em mim diminuir a sympathia, gratidao e amizade que tenho por v. ex.* O sr. Basto aqui me entregou o folheto, que v. ex.* teve a bondade de enviar-me, e que eu logo li; pois que já do negocio tinha alguma noticia. Nem eu, nem algum dos amigos com quem fallei, duvidámos um só momento da rectidSo do coraçSo, e boas intençoes de v. ex.*; assim eu pudesse dizer o mesmo das pessoas a quem a representaçao se dirigia: e por esta razao nSo gostei de ver o respeitavel nome de v. ex.* em um papel dirigido a urna corporaçao onde me parece nao haver aquella tolerancia politica tao necessaria para se discutirem os grandes objectos do Estado, e onde de presente só se juntam, com raras excepçoes, os homens de preconceitos e falsas ideas, que bem longe de attribuirem o papel aos motivos que lhe deram origem, o attríbuirSo a fins sinistros, talvez cobrindo de improperios e injurias as respeitaveis pessoas que o assignaram: e era esta lembrança a que me affligia, porque, em todo o caso, é v. ex.* a nossa bandeira, que eu nao quereria exposta ao sarcasmo d'áquelles senhores. Eu tinha pedido ao nosso amigo duque da Terceira, quando aqui appareceu um papel sobre a frustrada tentativa de julho, que nunca respondesse nem a esse nem a outro qualquer, e jamáis assignasse ou escrevesse alguma cousa a respeito de negocios de Portugal, pois que por agora só deveria ser mero espectador; e sinto que elle nao abraçasse este conselho, que era de amigo. Agora peço licença para tambem expor a minha opiniao sobre a conveniencia politica que podia resultar da apresentaçSo d'este requerimento á cámara dos deputados; e ainda que ella seja difieren te da de v. ex.*, mui confiadamente o faço, porque conheço que entre outras virtudes de v. ex.* nao falta a da tolerancia. Depois do protesto dos pares e deputados, e da manifestaçao de sentimentos que mostraram os altos funccionarios do Estado e um grande numero de auctoridades

publicas, abandonando todos a sua posiçao politica ou civil, logo depois da revolucáo de setembro, parece-me que nada mais se devia fazer; porque ñas circumstancias em que nos achavamos, tudo quanto fossem resistencias activas nao fariam senáo dar vida á revolucáo, que, a nao serem ellas, já agora teña acabado porinanicáo; e permitta-me v. ex. a que eu diga que a representacáo agora feita ao Congresso ha de ser reputada urna resistencia moral activa e extemporánea, muito mais quando nella figuram as principaes notabilidades militares, que, sendo infelizes na ultima tentativa, sahiram do paiz por urna convencáo em que reconheceram a legitimidade da gente com quem contrataram. O Congresso dirá que o facto da revolucáo de setembro ó hoje um facto completo, que o legitima e á sua obra, nao só pela paciencia e acquies- cencia do publico, mas porque, tendo-se alevantado as maiores capa­ cidades militares com força capaz de dar apoio á maioria da nacáo, se ella quizesse tomar o seu partido, nao só esta os nao seguiu, mas até foram repellidos dos muros da capital e inteiramente abandona­ dos: donde expontaneamente se infere nao só urna demonstracáo passiva, senáo já urna demonstracáo activa de publico assentimento; e isto, a meu ver, nao tem fácil resposta; e v. ex. a sabe melhor do que eu que nestas materias o complemento de accáo constitue o di­ reito. Por outra parte, toda e qualquer appellacáo para o povo, em taes occasioes, assento eu, será mui prejudicial e constituirá um terrivel precedente, que admittido urna vez, nao poderá jamáis ser recusado, ainda em diñe rentes circumstancias; e no estado presente de Portu­ gal, onde domina o punhal do assassino, o resultado seria ou a consti- tuicáo de 20 pura, ou urna ainda mais republicana. Qual seria o homem prudente que com segurança poderia explicar a sua vontade na freguezia? A ultima eleicáo da cámara de Lisboa, composta hoje dos mais exaltados, ó urna boa demonstracáo do que ácima deixo dito. Agora, no que toca á constituicáo, assento eu que nella estáo consignados os principios da Carta por que nos combatemos; e ainda que nao esteja definitivamente determinado um dos artigos principaes, e ficasse ad referendum para a seguinte legislatura, todavía entendo eu que, como esta cámara nao podia delegar o poder que lhe foi con­ fiado, prescrevendo o modo por que tal artigo devia ser constituido, a cámara que vier nao está obrigada ao preceito dado por esta, e tem a liberdade de organisar a segunda cámara como melhor entender; porque o congresso actual podia organisal-a ou deixar de a organisar, mas nunca dictar á que vier o modo de o fazer, nem tirar aos seus constituintes o direito de instruir o seu novo mandato com a forma da organisacáo que julgar mais adequada.

DOC. CDLVI<br />

Copia <strong>da</strong> resposta de Silva Carvalho ao duque de Palmella<br />

Sobre a petioao para se adiar o juramento <strong>da</strong> nova oonstituiçao<br />

afee una nova legislatura<br />

Londres, 18 de Janeiro de 1838.<br />

Vl. m<br />

e ex. m0<br />

sr.—Recebi com grande satisfaçao a carta com que<br />

y. ex.* me honrou em <strong>da</strong>ta de 13 do corrente. Sinto qne y. ex.* tenlia<br />

sofírido, e milito desejo o inteiro restabelecimento <strong>da</strong> saude de v. ex.*<br />

Agradeço a consideraçao que v. ex. a<br />

quiz ter oommigo, e peco a<br />

v. ex. a<br />

se persua<strong>da</strong> que ain<strong>da</strong> que muito ambicione de vez em quando<br />

urna cartinha sua, a falta d'ella nao ha de em mim diminuir a sympathia,<br />

grati<strong>da</strong>o e amizade que tenho por v. ex.*<br />

O sr. Basto aqui me entregou o folheto, que v. ex.* teve a bon<strong>da</strong>de<br />

de enviar-me, e que eu logo li; pois que já do negocio tinha<br />

alguma noticia. Nem eu, nem algum dos amigos com quem fallei,<br />

duvidámos um só momento <strong>da</strong> rectidSo do coraçSo, e boas intençoes<br />

de v. ex.*; assim eu pudesse dizer o mesmo <strong>da</strong>s pessoas a quem a<br />

representaçao se dirigia: e por esta razao nSo gostei de ver o respeitavel<br />

nome de v. ex.* em um papel dirigido a urna corporaçao onde<br />

me parece nao haver aquella tolerancia politica tao necessaria para<br />

se discutirem os grandes objectos do Estado, e onde de presente só<br />

se juntam, com raras excepçoes, os homens de preconceitos e falsas<br />

ideas, que bem longe de attribuirem o papel aos motivos que lhe<br />

deram origem, o attríbuirSo a fins sinistros, talvez cobrindo de improperios<br />

e injurias as respeitaveis pessoas que o assignaram: e era<br />

esta lembrança a que me affligia, porque, em todo o caso, é v. ex.* a<br />

nossa bandeira, que eu nao quereria exposta ao sarcasmo d'áquelles<br />

senhores. Eu tinha pedido ao nosso amigo duque <strong>da</strong> Terceira, quando<br />

aqui appareceu um papel sobre a frustra<strong>da</strong> tentativa de julho, que<br />

nunca respondesse nem a esse nem a outro qualquer, e jamáis assignasse<br />

ou escrevesse alguma cousa a respeito de negocios de Portugal,<br />

pois que por agora só deveria ser mero espectador; e sinto que<br />

elle nao abraçasse este conselho, que era de amigo.<br />

Agora peço licença para tambem expor a minha opiniao sobre a<br />

conveniencia politica que podia resultar <strong>da</strong> apresentaçSo d'este requerimento<br />

á cámara dos deputados; e ain<strong>da</strong> que ella seja difieren te <strong>da</strong><br />

de v. ex.*, mui confia<strong>da</strong>mente o faço, porque conheço que entre outras<br />

virtudes de v. ex.* nao falta a <strong>da</strong> tolerancia. Depois do protesto dos<br />

pares e deputados, e <strong>da</strong> manifestaçao de sentimentos que mostraram<br />

os altos funccionarios do Estado e um grande numero de auctori<strong>da</strong>des

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!