josé da silva carvalho - DSpace CEU

DOC. CDLIII
Rascunho da resposta de Silva Carvalho ao baráo de Renduffe
Sobre o juramento da constituigao de 1838
80 de dezembro de 1837.
Meu baráo.—Bem poucas sao as cousas que me admirara neste
mundo, mas o que tu me contas certamente me pasma por ser de
quem é, pois que tenho o duque de Palmella por homem de muita
prudencia e delicado juizo; mas, emfim, aliquando bonus dormitat
Homerus. Pede-lhe por tudo quanto ha, em meu nome e dos poucos
amigos que aqui estao commigo e que o sao d'elle e do duque da
Terceira, que escreva logo para Lisboa a fim de que tal papel se nao
aprésente no Congresso, onde decerto sao cobertos de improperios
pelo José Estevinho, Santos Cruz, Leonel e outros que taes: no-
tar-lhe-háo graves contradicçBes, diráo que elles querem chamar o
povo a uma revolucáo, que elles lhe concedem sempre uma constante
soberanía, fallaráo ñas duas tentativas de novembro e julho, e no modo
como foram desfeitas, no convenio de Belem, diráo que a nacáo os
nao seguiu, que as cámaras téem felicitado o Congresso, e portanto
que elle ó nacional, assim como o que elle fizer, etc., etc.
O protesto nao se oppó*e ao juramento, porque o que nos protes­
tamos foi contra a forma por que se quería fazer a reforma da Carta,
quando ella em si continha o methodo legal de o fazer, e isto em tempo
em que apenas uma porcáo do povo armado se havia congregado para
este fim, e em que nem o mais pequeño symptoma havia de assenso
nacional; e ó tanto assim que se assentou em o redigirem antes que
chegassem as respostas das cámaras municipaes, porque se receava
que ellas adherissem seduzidas para isso, e já entáo nao haveria logar
de appellar para a nacáo. Em politica nao ha opinioes eternas: o
bem publico muitas vezes as faz mudar. O principio do governo
representativo nao está offendido — o povo é certamente a fonte de
todo o poder — quer-se que depois que o delegou, o nao conserve—
mas esse papel em que me fallas quer o contrario, porque quer que o
povo seja constantemente soberano!! Que precedente! Que perguntem
ao Talleyrand o que sao protestos, o que ó juramento e soberania
nacional, que elle lh'o dirá. O facto é que se reuniram as cámaras,
que houve duas tentativas, e na segunda entraram as maíores capa­
cidades, e que foram frustradas: logo, concluo que a presumpcáo de
que a nacáo quer esta está a favor d'elles, etc.