josé da silva carvalho - DSpace CEU

josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU

dspace.ceu.es
from dspace.ceu.es More from this publisher
15.04.2013 Views

o modificar. Quando mr. Villiers passou por París, teve urna longa conferencia com o duque de Broglie, em que este lbe desenvolveu um plauo de intervençao em Portugal, a combinar entre a Inglaterra, a Franca e a Hespanba, plano de que mr. Villiers pareceu nao discordar. Nao podia o duque, ja entáo, descobrir a insidia da politica do astucioso Palmerston. Mais tarde, em 12 de outubro de 1835, queixa-se nuina carta a mr. Bresson de que mr. Villiers, que tao cordeal lbe parecerá quando passou por París, dirigisse depois toda a sua acçao, em Madrid, a minar a influencia franceza, no interesse exclusivo da Inglaterra. A 29 de setembro, poucos dias depois de ter chegado a Madrid o novo ministro de Inglaterra, morreu Fernando VII. Entáo a Franca, que emquanto a successüo de Hespanba esteve duvidosa deu a mr. de Reyneval iustrucçoes para fazer pender a balança para o lado de D. Carlos,—a fim de que o tbrono do Hespanha nao deixasse de ser apanagio dos descendentes directos de Luiz XIV,— considerando agora a conservacáo do tbrono de Luiz Filippe e os interesses constitucionaes do seu governo superiores aquella razáo dynastica, apressa-se a reconbecer a legitimidade de Izabel; e com tal affectacáo o fez que bem trabiu o intuito de ganhar as suas graças e de segurar a influencia em Hespanba. E o proprio Tbiers quem nos confessa que o reconhecimento foi decidido em duas horas, depois de se ter noticia da morte do rei de Hespanba. O governo francez nao se coutentou com isto: despacbou immediatamente um enviado extraordinario a ofterecer á rainba de Hespanba o auxilio da Franca, «en la faisant juge de l'éteudue et de la nature des secours»Nao era, comtudo Luiz Filippe bomem que cumprisse tal oft'erecinieuto, sem primeiro consultar a Inglaterra. A desapprovaçao era de prever, porque o ministerio inglez e sobretudo Palmerston nao queriam, por forma ncnbuma, que a bandeira franceza reapparecesse em Hespanba. O gabinete de Paria limitou-se, pois, a mandar guarnecer a fronteira dos Pyrencus. Entretanto mr. Villiers, de accordo com o ministro de Franca, mr. de Reyneval, empregava urna ultima tentativa para convencer Zea da necessidade de apoiar o tbrono da rainba Izabel no partido constitucional e de unir a causa de Hespanba á causa portugueza. Em 15 de novembro, pelo despacho reservado n.° 115, Abreu e Lima commuuica ao seu governo que mr. Villiers rejeitara in limine as condicóes apresentadas por Zea para se decidir em favor de D. María, por ser urna d'ellas a aboliçao da Carta, ao que o ministro inglez respondeu que a Portugal, e a ninguem mais, pertencia a escolha das suas instituiçoes. Palmerston nao parava. Justamente por este tempo, o duque de Palmella aproveita a occasiao de ter que responder a urna consulta feita no Conselho de Estado, sobre negocios financeiros, para dirigir ao Regente unía representadlo, contra o systema do ministerio, em que, mima especie de profissao de fé, e em forma de conclusao, resume o seu programma: «Taes sao alguus dos maiores males que se me representan!; os remedios a parte d'elles já seriio impossiveis, a outros lentos e difliceis; mas sempre me parece que será conveniente ao menos parar no declive em que nos precipitamos, procurar inspirar confiança, e dar garantias de moderaçao dentro e fora de Portugal, ir admittindo aos empregos alguus dos portuguezes que adherirem á causa da Rainba, encarregar alguns dos mais habéis canonistas de responder á allocuçao do Pontífice, e camiuhar com a niaior prudencia na reforma Tbiers, Discours, tomo iv, discurso de 14 de Janeiro de 1837.

ecclesiastica, prover quanto antes e com urgencia á sustentaçao dos parochos e dos bispos, enviar quanto antes um negociador a Madrid, e o que mais me repugna dizer, mas que na minha consciencia já me parece quasi indispensavel, solicitar com dignidade a mediacáo da Inglaterra e da Franca para que se effectue urna suspensáo de armas, deixando ao seu arbitrio as condiçoes da reconciliacáo mediante a mais ampia amnistía, comtanto que se estipule o rcconhecimento da Rainha, que nao haja ingerencia para mudanças na corte nem no nosso governo interno t que o Senhor Infante D. Miguel se retire de Portugal. Sao estes os votos que me dicta a consciencia para livrar da ruina a nacáo, para encher de gloria a V. M. L», etc. O Imperador, porém, julgou que este programma continha aínda concessoes perigosissimas; tanto mais que, justamente por este tempo, cboviam de Londres cartas de Mendizabal, cheias de terrivcis suspeitas e proguosticos. Se boje se vé que em grande parte eram exaggerados, naquelle tempo muito devcm ter concorrido para atemorisar e indispor o governo. Verdade é que a Franca e a Inglaterra, tendo já escollado durante o mcz de outubro, a primeira a lord Howard e a segunda a mr. Mortier, para organisarcm em Lisboa definitivamente as respectivas representaçoes diplomáticas, só em fevereiro do anno seguinte se resolveram a fazel-os partir para o seu destino. Isto prova ainda urna certa perplexidade, em que Mendizabal via intençoes táo siuistras que se julgou obrigado a fretar um vapor, para com a maior brevidade as revelar ao governo de Lisboa. Na carta de 26 de novembro, enviada pelo barco de vapor James Wall,—mandado com tanta pressa, que nem acabou de carregar—, diz o nosso agente financeiro em Londres e futuro presideute do conseibo em Hespanha: «Al ministro lord Howard ha sido pospuesta su marcha, porque lord W. Russcll ha pedido quedarse un mes mas en Lisboa, en cuyo tiempo, con la asistencia del Consejo de Estado, que ha principiado sus sesiones, con la del descontento de los extranjeros y con la necesidad de poner á la cabeza del ministerio hombres que ofrezcan garantios, para evitar una intervención armada, cuenta, en dicho mes, derrivar al ministerio actual y colocar en el nuevo personas adictas á . . . Dice lord W. Russell: *Dado este paso, lo demos seguirá satisfactoriamente. El nuevo ministerio será obligado á dar una amnistia amplisima para evitar una intervención armada. El nuevo ministerio volverá por este medio á sus goces, á los que ahora no lo tienen». «El nuevo ministerio (continua Mendizabal) pondrá á la cabeza de los destinos y de las provincias hombres de su color. Las elecciones se harán, se discutirán los dos puntos de la regencia y casamiento, y la nación decidirá que... lo que convenga á los intereses europeos. Si los miguclistas no se acogen á la amnistia, la Inglaterra será llamada y una división de 6:000 hombres concluirá la cuestión. La España esta ya conforme á todo, siempre que D. Pedro se excluya, porque conoce que excluido D. Pedro lo demás vendrá por sus pasos contados.» O governo portuguez, sem compartilhar inteiramente os terrores de Mendizabal, nao cessou, ainda assim, de tomar precauçoes. Apezar de lhe parecer que a opposiçao se dirigía só aos ministros, nao estava d'isso seguro: quando lord Howard chegou, em fevereiro, e se dirigiu á Rainha, por occasiáo de apresentar as credenciaes, e nao ao Imperador, este julgou que o novo representante da Inglaterra ainda trazia instrucçoes secretas para o afastar da Regencia e desfazer o plano do casamento da Rainha com o duque de Leuchtenberg. Na verdade, alguus dados levam a crer que depois de ter cessado a guerra as instituiçoes ainda continuou contra o Regente, o qual pela sua fidelidade aos ministros era egualmente odiado pela opposicáo.

o modificar. Quando mr. Villiers passou por París, teve urna longa conferencia<br />

com o duque de Broglie, em que este lbe desenvolveu um plauo de intervençao<br />

em Portugal, a combinar entre a Inglaterra, a Franca e a Hespanba, plano de<br />

que mr. Villiers pareceu nao discor<strong>da</strong>r. Nao podia o duque, ja entáo, descobrir a<br />

insidia <strong>da</strong> politica do astucioso Palmerston. Mais tarde, em 12 de outubro de<br />

1835, queixa-se nuina carta a mr. Bresson de que mr. Villiers, que tao cordeal<br />

lbe parecerá quando passou por París, dirigisse depois to<strong>da</strong> a sua acçao, em<br />

Madrid, a minar a influencia franceza, no interesse exclusivo <strong>da</strong> Inglaterra.<br />

A 29 de setembro, poucos dias depois de ter chegado a Madrid o novo<br />

ministro de Inglaterra, morreu Fernando VII. Entáo a Franca, que emquanto a<br />

successüo de Hespanba esteve duvidosa deu a mr. de Reyneval iustrucçoes para<br />

fazer pender a balança para o lado de D. Carlos,—a fim de que o tbrono do<br />

Hespanha nao deixasse de ser apanagio dos descendentes directos de Luiz XIV,—<br />

considerando agora a conservacáo do tbrono de Luiz Filippe e os interesses<br />

constitucionaes do seu governo superiores aquella razáo dynastica, apressa-se a<br />

reconbecer a legitimi<strong>da</strong>de de Izabel; e com tal affectacáo o fez que bem trabiu o<br />

intuito de ganhar as suas graças e de segurar a influencia em Hespanba.<br />

E o proprio Tbiers quem nos confessa que o reconhecimento foi decidido em<br />

duas horas, depois de se ter noticia <strong>da</strong> morte do rei de Hespanba. O governo<br />

francez nao se coutentou com isto: despacbou immediatamente um enviado<br />

extraordinario a ofterecer á rainba de Hespanba o auxilio <strong>da</strong> Franca, «en la<br />

faisant juge de l'éteudue et de la nature des secours»Nao era, comtudo Luiz<br />

Filippe bomem que cumprisse tal oft'erecinieuto, sem primeiro consultar a<br />

Inglaterra. A desapprovaçao era de prever, porque o ministerio inglez e sobretudo<br />

Palmerston nao queriam, por forma ncnbuma, que a bandeira franceza reapparecesse<br />

em Hespanba. O gabinete de Paria limitou-se, pois, a man<strong>da</strong>r guarnecer<br />

a fronteira dos Pyrencus.<br />

Entretanto mr. Villiers, de accordo com o ministro de Franca, mr. de Reyneval,<br />

empregava urna ultima tentativa para convencer Zea <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de<br />

apoiar o tbrono <strong>da</strong> rainba Izabel no partido constitucional e de unir a causa de<br />

Hespanba á causa portugueza. Em 15 de novembro, pelo despacho reservado<br />

n.° 115, Abreu e Lima commuuica ao seu governo que mr. Villiers rejeitara in<br />

limine as condicóes apresenta<strong>da</strong>s por Zea para se decidir em favor de D. María,<br />

por ser urna d'ellas a aboliçao <strong>da</strong> Carta, ao que o ministro inglez respondeu que<br />

a Portugal, e a ninguem mais, pertencia a escolha <strong>da</strong>s suas instituiçoes. Palmerston<br />

nao parava.<br />

Justamente por este tempo, o duque de Palmella aproveita a occasiao de ter<br />

que responder a urna consulta feita no Conselho de Estado, sobre negocios financeiros,<br />

para dirigir ao Regente unía representadlo, contra o systema do ministerio,<br />

em que, mima especie de profissao de fé, e em forma de conclusao, resume o seu<br />

programma: «Taes sao alguus dos maiores males que se me representan!; os<br />

remedios a parte d'elles já seriio impossiveis, a outros lentos e difliceis; mas<br />

sempre me parece que será conveniente ao menos parar no declive em que nos<br />

precipitamos, procurar inspirar confiança, e <strong>da</strong>r garantias de moderaçao dentro e<br />

fora de Portugal, ir admittindo aos empregos alguus dos portuguezes que adherirem<br />

á causa <strong>da</strong> Rainba, encarregar alguns dos mais habéis canonistas de<br />

responder á allocuçao do Pontífice, e camiuhar com a niaior prudencia na reforma<br />

Tbiers, Discours, tomo iv, discurso de 14 de Janeiro de 1837.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!