josé da silva carvalho - DSpace CEU

josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU

dspace.ceu.es
from dspace.ceu.es More from this publisher
15.04.2013 Views

Dada a prevencáo de lord Palmerston contra D. Pedro e o seu ministerio) de muito Ibes valen a rivalidade entre a Franca e a Inglaterra, para salvarem a causa da Rainha, em toda a sua integridade. A noticia do estabelecimento da Regencia em Lisboa, no dia 28 dejulbo, chegou a Londres a 2 de agosto, causando viva contrariedade ao principe de Talleyrand, que viu assim frustrar-se-lhe o plano da pacificaçao de Portugal pela fusáo dos dois partidos belligerantes, representada numa regencia, composta por Palmella, Terceira e Cadaval—pura fantasmagoría, só filha da ignorancia do estado dos espiritos em Portugal e da íllusao originada pelo empenho de estabelecer na Península o systema francez do partido da resistencia, esse estreito doutrinarismo que dava a prepotencia nos estados aos nobres e aos mais ricos da burguezia. Nao tinha a Inglaterra os mesmos motivos de descontentamente, e, pelo que tocaya á Hespanha, tinha mesmo interesaos oppostos, nao só pela obrigaçao em que se achava constituida de combater sempre a influencia franceza, mas pela tríplice vantagem que lhe advinha de afastar do governo o ministro Zea Bermudez, cliente da Franca, amigo da Russia e sectario da alliança continental. Ao passo, pois, que a Franca convida a Inglaterra a guerrear abertaraente as instituiçoes portuguezas e a regular de commum accordo as liberdades constitucionaes na Península, o gabinete de Londres, mais opportnnista, mais propenso a tirar partido das circumstancias do que a promovel-ss, limita-se, por agora, a pedir ao governo francez que o emitte, reconhecendo o governo de D. Maria II por urna forma tal com taes restriecóes que se lhes torne fácil urna mudança de orientaçao política, se a julgarem conveniente. No dia seguinte áquelle em que chegara a Londres a noticia do estabelecimento do governo constitucional portugués na capital, isto é, a 8 de agosto de 1833, tiveram os ministros inglezes conselho e nelle se decidiu O reconhecimento do governo de D. Maria II. Quatro dias depois remettiam-se credenciaes a lord William Russell (encarregado até entao de tratar, particularmente, em Lisboa, dos negocios da Inglaterra) e juntamente instrucçoes eventuaes para desenvolver o seu carácter de ministro extraordinario, emquanto se nao nomeasse outro embaixador e só no caso de Lisboa permanecer sob o dominio da Rainha. Note-se que lord Russell só nos fins de setembro, na vespera da chegada da Rainha, apresentou as suas credenciaes em audiencia solemne, posto que já em 15 de agosto tivesse annunciado a sua missáo. O duque de Broglie, a 15 de agosto, enviara a Talleyrand um extracto das instrucçoes dadas a Russell e que mr. Aston, encarregado dos negocios de Inglaterra na ausencia de lord Granville, lhe tinha lido por ordem de lord Palmerston: Lord "William Russell seria acreditado junto á regencia de Portugal, mas como enviado extraordinario, encarregado de urna missáo especial e provisoria. A intencáo do governo inglez era nao demorar o estabelecimento das relaçdes diplomáticas com o governo de D. Maria, mas de fazer, comtudo, considerar a organisacáo de urna missáo ordinaria e permanente, como um favor de que D. Pedro se devia tornar digno, pela sua prudencia e boa conducta. O gabinete británico fugia ao reconhecimento formal do governo da Rainha, referindo-se ao reconhecimento que se realisara em 1826 e fazia consistir o actual no simples facto de reatar as relaçoes diplomáticas. Pedia á Franca que o ünitasse *. 1 Mém. de Talleyrand, tomo v, pag. 227.

Nao obstante a má vontade do gabinete de Paris contra as instituiçoes portuguezas, a Franca, no estado de dependencia em que entao se achava perante a Inglaterra, nao podia deixar de receber a lei do gabinete de Londres, quando a importancia dos negocios o resolvesse a impor-lh'a. Foi o que succedeu em relacáo aos negocios da Peninsula, emquanto Palmerston dirigiu a politica externa do seu paiz. Já o governo francez decidirá reconhecer o governo da Rainha, accedendo ao convite do gabinete inglez, já tinha escolhido pessoa de graduacáo igual á de Russell, a quem tencionava muñir de instrucçoes do mesmo teor, quando um incidente, com que o governo francez se mostrou muito escandalisado, veiu alterar a sua resolucáo. O marquez de Louló fóra enviado a Franca para acompanhar a Rainha e a Imperatriz na sua viagem para Lisboa. Chegado a Paris, executou as ordens que recebera, sem communicar cousa algunia ao governo francez. Desejoso de se intrometter, Luiz Filippe visitou a Imperatriz, a pretexto de lhe offerecer urna fragata franceza para a transportar. Foi fríamente recebido. A Imperatriz rejeitou o offerecimento, respondendo que prefería sabir num navio portuguez e que para a acompanhar viria encontrar-se com ella, no Havre, seu irmáo o duque de Leuchtenberg. A independencia e o brio d'este procedimento, justificado pelas intrigas francezas contra seu marido, irritou summamente a corte e o governo de Franca. O despeito e a animosidade subiram de ponto com a idea de que a máo da Rainha fóra promettida a seu tio, o duque de Leuchtenberg, principe buonaparlisla. Eis o que detenninou o governo francez a alterar o seu plano de reconhecimento e a acreditar táo sómente mr. de Lurde, secretario de legacáo em missáo no Porto, para residir em Lisboa, nao como encarregado de negocios, o que indicaría urna missáo permanente, mas como encarregado dos negocios de Franca. Ao passo que a corte das Tulherias assim patenteia a sua ¡ndignacáo, que o governo chega a prohibir ao duque de Leuchtenberg a entrada em Franca e que o despeito de Broglie attinge as raias da exasperacáoo astuto Palmerston aproveita a opportunidade, para mais se approximar dos liberaes portuguezes e consequentemente dos de Hespanha. Avulta no espirito do grande estadista inglez a idea de urna tríplice alliança. Sonha o governo francez com a alliança offensiva e defensiva entre a Franca e a Inglaterra, d'onde sahiria a quadrupla alliança das naçoes occidentaes. Na relacáo que o marquez de Rezende deu á Imperatriz, em 3 de setembro, do que se passou no Foreign Office, com lord Palmerston, sobre a sabida de SS. MM., de Franca para Inglaterra, lé-se: «Le Roi (disse lord Palmerston) ayant appris tout ce qui s'était derniérement passé en France, par rapport k LL. MM., croyait que de meme que cet incident était de nature á les décider & partir ímmédiatement pour l'Angleterre, oü elles seraient sures d etre reçues avec la plus grande joie et avec tous les honneurs qui leur sont dües comme tetes couronnées, toute la conduite de S. A. le Prince Auguste de Leuchtenberg, et tres spécialemeut la lettre adressée par ce Prince a S. M. I. le Duc Regent du Portugal, en réponse á la proposition qu'Il lui avait fait de s'uuir á la jeune Reine D. Maria, était dans l'opiuion du Roi marquóes au coin de la plus grande noblesse de sentiments et de la plus grande délicatesse». Mém. de Talleyrand, tomo v, pag. 230.

Nao obstante a má vontade do gabinete de Paris contra as instituiçoes portuguezas,<br />

a Franca, no estado de dependencia em que entao se achava perante<br />

a Inglaterra, nao podia deixar de receber a lei do gabinete de Londres, quando<br />

a importancia dos negocios o resolvesse a impor-lh'a. Foi o que succedeu em<br />

relacáo aos negocios <strong>da</strong> Peninsula, emquanto Palmerston dirigiu a politica externa<br />

do seu paiz.<br />

Já o governo francez decidirá reconhecer o governo <strong>da</strong> Rainha, accedendo ao<br />

convite do gabinete inglez, já tinha escolhido pessoa de graduacáo igual á de<br />

Russell, a quem tencionava muñir de instrucçoes do mesmo teor, quando um<br />

incidente, com que o governo francez se mostrou muito escan<strong>da</strong>lisado, veiu alterar<br />

a sua resolucáo. O marquez de Louló fóra enviado a Franca para acompanhar a<br />

Rainha e a Imperatriz na sua viagem para Lisboa. Chegado a Paris, executou as<br />

ordens que recebera, sem communicar cousa algunia ao governo francez. Desejoso<br />

de se intrometter, Luiz Filippe visitou a Imperatriz, a pretexto de lhe offerecer<br />

urna fragata franceza para a transportar. Foi fríamente recebido. A Imperatriz<br />

rejeitou o offerecimento, respondendo que prefería sabir num navio portuguez e<br />

que para a acompanhar viria encontrar-se com ella, no Havre, seu irmáo o duque<br />

de Leuchtenberg. A independencia e o brio d'este procedimento, justificado pelas<br />

intrigas francezas contra seu marido, irritou summamente a corte e o governo de<br />

Franca. O despeito e a animosi<strong>da</strong>de subiram de ponto com a idea de que a máo<br />

<strong>da</strong> Rainha fóra prometti<strong>da</strong> a seu tio, o duque de Leuchtenberg, principe buonaparlisla.<br />

Eis o que detenninou o governo francez a alterar o seu plano de reconhecimento<br />

e a acreditar táo sómente mr. de Lurde, secretario de legacáo em missáo<br />

no Porto, para residir em Lisboa, nao como encarregado de negocios, o que<br />

indicaría urna missáo permanente, mas como encarregado dos negocios de Franca.<br />

Ao passo que a corte <strong>da</strong>s Tulherias assim patenteia a sua ¡ndignacáo, que o<br />

governo chega a prohibir ao duque de Leuchtenberg a entra<strong>da</strong> em Franca e que<br />

o despeito de Broglie attinge as raias <strong>da</strong> exasperacáoo astuto Palmerston<br />

aproveita a opportuni<strong>da</strong>de, para mais se approximar dos liberaes portuguezes e<br />

consequentemente dos de Hespanha.<br />

Avulta no espirito do grande estadista inglez a idea de urna tríplice alliança.<br />

Sonha o governo francez com a alliança offensiva e defensiva entre a Franca e<br />

a Inglaterra, d'onde sahiria a quadrupla alliança <strong>da</strong>s naçoes occidentaes.<br />

Na relacáo que o marquez de Rezende deu á Imperatriz, em 3 de setembro,<br />

do que se passou no Foreign Office, com lord Palmerston, sobre a sabi<strong>da</strong> de SS.<br />

MM., de Franca para Inglaterra, lé-se: «Le Roi (disse lord Palmerston) ayant<br />

appris tout ce qui s'était derniérement passé en France, par rapport k LL. MM.,<br />

croyait que de meme que cet incident était de nature á les décider & partir<br />

ímmédiatement pour l'Angleterre, oü elles seraient sures d etre reçues avec la plus<br />

grande joie et avec tous les honneurs qui leur sont dües comme tetes couronnées,<br />

toute la conduite de S. A. le Prince Auguste de Leuchtenberg, et tres spécialemeut<br />

la lettre adressée par ce Prince a S. M. I. le Duc Regent du Portugal, en<br />

réponse á la proposition qu'Il lui avait fait de s'uuir á la jeune Reine D. Maria,<br />

était <strong>da</strong>ns l'opiuion du Roi marquóes au coin de la plus grande noblesse de<br />

sentiments et de la plus grande délicatesse».<br />

Mém. de Talleyrand, tomo v, pag. 230.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!