josé da silva carvalho - DSpace CEU

quantas sito a necessaria consequencia das guerras civis. Naturalmente
um perdao dado agora teria assignado um termo alem do qual já nao
pudesse aproveitar; e passado esse termo, ouV. M. offereceria novo
indulto (quanto mais repetido mais inútil) ou fecharía de todo a porta
á compaixao e trataría como criminosos todos os rebeldes, — o que
seria dureza que se nao compadece com os sentimentos de V. M., e
um verdadeiro erro em politica.
Por ultimo, Senhor, permitta-me V. M. que tenha a honra de
ponderar-lhe que V. M. I. e a Rainha Sua Augusta Filha sao adora­
dos pela grande maioria da naçao, votada á causa da liberdade e da
legitimidade: esta maioria ó a que tem feito e faz e está prestes
a fazer sacrificios por tao caros objectos, e a opiniao d'ella nao é
favoravel ao indulto de que se trata, digo á sua concessao no presente
momento.
O governo paga a cincoenta mil homens que teem as armas na
mito para defender a causa da Patria; as perdas e damnos causados
pela usurpaçao sSo enormes; o resarcimento d'elles é uma das espe-
ranças que mais alentam os ánimos dos fiéis portuguezes; a offerta
de uma amnistía faria murchar estas esperanças; a uniao de opinioes
a favor da causa da Rainha se abalaría muito com a necessaria des-
confiança ñas promessas do governo, e o resultado d'este e outros
inconvenientes traria ao mesmo governo pesadissima responsabüidade
para o futuro.
Nao seria assim concedendo V. M. I. essa amnistía depois da
victoria: a certeza da terniinaçao da guerra daria um prazer geral,
capaz de fazer face a toda a perda de esperança de indemnisaçoes.
A necessidade politica de tal amnistía fóra tao palpavel nessa
occasiáo, que ninguem se levantaría contra ella; e como depois de tal
successo nao haveria logar para exigir tamanhos sacrificios como ató
ahi, nao teria o governo que lutar com resistencias para proseguir na
contenda.
Portante, sem deixar de conhecer que a amnistía, como acto de
generosidade e clemencia, deve sahir das maos de V. M. I., opino que
é necessario dar-se em tempo que aproveite com certesa, e que nao
traga inconvenientes que embaracem; sobretudo, que nao venha privar
a V. M. I. do grande recurso que ella mesma ó em si, quando appli-
cada em circumstancias proprias.
Nao rejeitaria eu uma negociaçao particular, com as notabilidades
da usurpaçao, em que se fizessem condiçoes para esta amnistía, a fim
de que se assegurasse o seu resultado; o que me parece nao admis-
sivel é o concedel-a agora, franca e espontáneamente, como ató aqui
se tem feito.