josé da silva carvalho - DSpace CEU

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Tudo isto nos deixa concluir que neste tempo Rodrigo da Fonseca Magalháes era apenas um dos mais habéis instrumentos da politica Carvalho-Freire, em cujo plano as reformas da instruccáo publica se destacavam como um dos elementos essenciaes do systema que a dirigía. As palavras de Bento Pereira do Carmo, na sessáo de 27 de agosto de 1834, bem o provam: «Fallou-se outra vez em varias commissoes (lé-se na Gazeta de 29) e o sr. ministro do reino exclamou: — e a instruccáo publica sr. presidente, e a instruccáo publica!. . . Tenho immensos trabalhos promptos, incluindo os da commissáo que para esse fim se creou, e quando os apresentarei á cámara para serem tratados numa commissáo?» No dia 3 de setembro, Rodrigo da Fonseca deu parte de que se achava installada a commissáo de instruccáo publica, de que elle era secretario, e J. A. de Campos presidente; e requereu que se pedissem pelo ministerio do reino todos os trabalhos que houvesse a tal respeito. Mezes depois, era elle o ministro d'esta reparticáo, — cargo a que se elevou, pelo talento com que na cámara e na imprensa defendeu as ideas do seu partido, e pela proteccáo de Silva Carvalho. Muito insinuante e intelligentissimo, soubera conquistar a amizade d'este estadista, que tinha verdadeiro enthusiasmo pelo talento do seu protegido, e lhe era muito grato pelos serviços por elle prestados á causa e por aquelles que na vida particular com táo bom resultado empenhou para ganhar o favor do seu prestigioso protector. Já no tempo da dictadura, Silva Carvalho pedirá mais de urna vez ao Regente que consentisse a entrada de Fonseca Magalháes para o ministerio. D. Pedro, porém, que formava do carácter do pretendente a táo alta magistratura o mesmo mau conceito que publicamente corría, negou sempre o seu consentimento e — como tinha por Silva Carvalho muita estima [e o tratava com familiaridade — quando elle lhe vinha com aquelle empenho, longe de se zangar, respondia-lhe em ar de motejo, insinuando-lhe que nao se fiasse na dedicacáo do advogado do ministerio. Chegou urna vez a dizer-lhe, posto que com muito bom humor e com amizade: «Ó Carvalho! o seu amigo Rodrigo no ministerio, nao! Lá isso nao, Monsieur Facilité.'» Comtudo, a predileccáo de Silva Carvalho continuou. Mesmo annos depois, em 1847, quando Rodrigo descobrir perante o seu amigo a mais crua ingratidáo, elle, Burprehendido e magoado, perdoar-lhe-ha, contentando-se com escrever ñas suas memorias que conhecera mais um falso amigo e que recebera urna ingratidáo havia sido encarregado; e poderá ver tambem a vigorosa defesa que d'ella fiz em cortes em urna das sessoes em que fóra impugnada por Leonel da Costa, principalmente por causa da extinccáo da directoría dos estudos e formacáo do conselho superior. . . =Visconde deSeabra.» «Mogofores, 28 de dezembro de 1893. — Amigo e sr. Antonio Vianna. — Com a maior satisfacáo já pude percorrer urna parte. . . do livro (1. a vol. de «Silva Carvalho e o seu tempo»),. . nao só por conter a parte mais importante da nossa regeneracáo politica, mas por se referir especialmente ao meu muito prezado e consocio de trabalhos José da Silva Carvalho, desde o momento em que o systema constitucional foi proclamado em Portugal até que terminou a sua brilhante e gloriosa carreira. . . = Visconde de Seabra.»

de quem menos a devia esperar. Acabou de o conhecer em 1851, mas ainda lhe prestou alguns favores, e a opposicáo politica que lhe moveu foi a mais leal*. E certo, porém, que a accáo de Rodrigo, sob a vigilancia de Silva Carvalho, no ministerio de julho, só foi benéfica. Razáo tinha, pois, este estadista para o defender na seguinte carta, que escreveu para Coimbra, a um seu amigo, em novembro de 1835*: «Amigo do coracáo.—Recebi a sua carta que muito estimei por me trazer novas de um amigo que tanto prezo. «Com a mesma franqueza com que me falla, devo dizer-lhe que eu tambem nao desejo na cámara senáo homens sisudos e desinteressados, mas sisudos e desinteressados com juizo, com sabedoria e amor do trabalho, que é justamente o que nos tem faltado na cámara, geralmente fallando, e v. s.' bem o conhece. «Agora quanto ao homem em que me falla devo dizer-lhe que se eu concorri para elle ser ministro, ainda me nao arrependo, porque apresentei no ministerio uma das maiores capacidades de Portugal, e eu dou muito pelos homens de talento, nao sao elles táo bastos no nosso paiz. «Palla-se d'elle, mas eu, quando nao vejo factos especiaes e provados, nao julgo do homem: dcclamaçoes para mim nao valem nada, deixo isso para o vulgo: pode v. s.* estar certo que elle ha de defender bem as suas medidas na cámara e que as razoes que elle apresentar nao seráo vencidas. «Quanto ao pagamento da Univcrsidade, a culpa nao vae de cá, vae das circumstancias e das folhas nao virem bem processadas. «A respeito dos parochos, o Thesouro dcu-lhes sim uma quantia, e se lhes nao deu mais foi porque as folhas sao processadas em differentes secretarias na da ju8tiça, e esta necessita de esclarecimentos que devem vir dos bispados, e como vieram ellas? Querendo roubar o Thesouro ! «Agora já este negocio está regulado; falta fazer as devidas deduecóes, que nao dependem do governo. «É necessario ver as circumstancias em que nos achamos, e em que temos estado. D'onde nos vem os recursos? Do interior do reino? Nao, porque o reino ficou pobre. Das alfandegas ? Essas rendem muito, mas chega isso para pagar a estrangeiros que nos ajudaram, para sustentar o exercito, a marinha, os reformados pensionistas? Nao. «Meu amigo, acredite-me que se eu nao estivesse no ministerio (olhe que nao sou vaidoso), já muito grande desordem teria havido, causada pela fome e falta que nao é fácil de supprir. Assim façam o que quizerem, tragam quem quizerem, que o menos prejudicado nisso sou eu, que' desejo do coracáo nao só sahir do ministerio, mas até do reino, que me nao agrada nada com tal gente. «Perdoe este desabafo que eu devia ter com v. s.*, de quem sou de veras amigo do coracáo. = José da Silva Carvalho.» Em 1835, com Rodrigo no ministerio do reino, a execucáo das reformas administativas e pedagógicas estavam bem entregues. Silva Carvalho, satisfeito, confiava plenamente na extraordinaria intelligencia do seu collaborador, sem receio 1 Vide no Diario de Silva Carvalho, neste volume, as notas dos dias 15 de setembro de 1847 e 26 de outubro de 1851 ¡ bem como muitas outras sobre a Regeneracáo. * Publicada no Conimbrincense de 16 de junho de 1891, n.° 4:569.

Tudo isto nos deixa concluir que neste tempo Rodrigo <strong>da</strong> Fonseca Magalháes<br />

era apenas um dos mais habéis instrumentos <strong>da</strong> politica Carvalho-Freire, em cujo<br />

plano as reformas <strong>da</strong> instruccáo publica se destacavam como um dos elementos<br />

essenciaes do systema que a dirigía. As palavras de Bento Pereira do Carmo, na<br />

sessáo de 27 de agosto de 1834, bem o provam: «Fallou-se outra vez em varias<br />

commissoes (lé-se na Gazeta de 29) e o sr. ministro do reino exclamou: — e a<br />

instruccáo publica sr. presidente, e a instruccáo publica!. . . Tenho immensos<br />

trabalhos promptos, incluindo os <strong>da</strong> commissáo que para esse fim se creou, e<br />

quando os apresentarei á cámara para serem tratados numa commissáo?»<br />

No dia 3 de setembro, Rodrigo <strong>da</strong> Fonseca deu parte de que se achava installa<strong>da</strong><br />

a commissáo de instruccáo publica, de que elle era secretario, e J. A. de<br />

Campos presidente; e requereu que se pedissem pelo ministerio do reino todos<br />

os trabalhos que houvesse a tal respeito.<br />

Mezes depois, era elle o ministro d'esta reparticáo, — cargo a que se elevou,<br />

pelo talento com que na cámara e na imprensa defendeu as ideas do seu partido,<br />

e pela proteccáo de Silva Carvalho.<br />

Muito insinuante e intelligentissimo, soubera conquistar a amizade d'este<br />

estadista, que tinha ver<strong>da</strong>deiro enthusiasmo pelo talento do seu protegido, e lhe<br />

era muito grato pelos serviços por elle prestados á causa e por aquelles que na<br />

vi<strong>da</strong> particular com táo bom resultado empenhou para ganhar o favor do seu<br />

prestigioso protector.<br />

Já no tempo <strong>da</strong> dictadura, Silva Carvalho pedirá mais de urna vez ao Regente<br />

que consentisse a entra<strong>da</strong> de Fonseca Magalháes para o ministerio. D. Pedro,<br />

porém, que formava do carácter do pretendente a táo alta magistratura o mesmo<br />

mau conceito que publicamente corría, negou sempre o seu consentimento e —<br />

como tinha por Silva Carvalho muita estima [e o tratava com familiari<strong>da</strong>de —<br />

quando elle lhe vinha com aquelle empenho, longe de se zangar, respondia-lhe<br />

em ar de motejo, insinuando-lhe que nao se fiasse na dedicacáo do advogado<br />

do ministerio. Chegou urna vez a dizer-lhe, posto que com muito bom humor e<br />

com amizade: «Ó Carvalho! o seu amigo Rodrigo no ministerio, nao! Lá isso<br />

nao, Monsieur Facilité.'»<br />

Comtudo, a predileccáo de Silva Carvalho continuou. Mesmo annos depois,<br />

em 1847, quando Rodrigo descobrir perante o seu amigo a mais crua ingratidáo,<br />

elle, Burprehendido e magoado, perdoar-lhe-ha, contentando-se com escrever ñas<br />

suas memorias que conhecera mais um falso amigo e que recebera urna ingratidáo<br />

havia sido encarregado; e poderá ver tambem a vigorosa defesa que d'ella fiz<br />

em cortes em urna <strong>da</strong>s sessoes em que fóra impugna<strong>da</strong> por Leonel <strong>da</strong> Costa,<br />

principalmente por causa <strong>da</strong> extinccáo <strong>da</strong> directoría dos estudos e formacáo do<br />

conselho superior. . . =Visconde deSeabra.»<br />

«Mogofores, 28 de dezembro de 1893. — Amigo e sr. Antonio Vianna. — Com<br />

a maior satisfacáo já pude percorrer urna parte. . . do livro (1. a<br />

vol. de «Silva<br />

Carvalho e o seu tempo»),. . nao só por conter a parte mais importante <strong>da</strong> nossa<br />

regeneracáo politica, mas por se referir especialmente ao meu muito prezado e<br />

consocio de trabalhos José <strong>da</strong> Silva Carvalho, desde o momento em que o systema<br />

constitucional foi proclamado em Portugal até que terminou a sua brilhante e<br />

gloriosa carreira. . . = Visconde de Seabra.»

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