josé da silva carvalho - DSpace CEU
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alliança contra o ministerio da dictadura» 1 . Em julho de 1834, escreveu a Abreu e Lima, para Londres: «Emquanto a mim o que me inquieta é saber como viveremos para o anno com as nossas rendas, e como impediremos á ignorancia e á presumpcáo de nos lançarem no abysmo de uma revoluçao sanguinaria. O único meio é uma alliança do partido moderado e dos proprietarios com os menos incapazes do ministerio actual (re/ere-se ao ministerio da dictadura), e parece-me que a força das circumstancias ha de operar esta uniao» 2 . Durante a guerra civil, em setembro de 1833, como julgava a vontade do Imperador opposta á sua ambicáo de figurar, já numa outra carta ao mesmo Abreu e Lima lhe tinha dito que, depois de terminada a nossa contenda, bom seria que D. Pedro voltasse para o Brazil 3 . Nao nos admira que a ambicáo do duque assim lhe suffocasse o patriotismo, que era fraco; o que nos admira é que a tal ponto lhe offuscasse a intelligencia, que na verdade era grande! Quando em maio de 1835 a impopularidade e o descrédito do duque presidente do conselho levaram os antigos ministros da dictadura a impellil-o para fora do ministerio de 24 de setembro e a recompor a situacáo com o conde de Linhares, Palmella procurou novamente a alliança de Saldanha, o qual se tinha separado da esquerda parlamentar com uma faccáo, que os seus inimigos politicos designavam pelo termo ridicularisante de irracionalismo. Consummada a alliança no ministerio de 27 de maio, ficou em evidencia a falta de carácter político e de principios dos dois alliados. Para satisfazerem as suas ambiçoes — Saldanha abandonara o seu partido—Palmella promptificara-se a guerrear os homens de estado mais salientes do ministerio a que acabara de presidir: Estava prompto para tudo, o que quería era que o nao desprezassem ! Mendizabal lastima, ñas suas cartas de 13 de junho e de 5 e 9 de julho de 1835 4 , que a parte mais liberal do ministerio de 24 de setembro, ao sentir quanto estava sendo prejudicada no seu prestigio, pela impopularidade do duque de Palmella, nao tivesse aproveitado a tendencia de Saldanha a desligar-se da esquerda, para o catechisar e attrahir ao centro liberal moderado. Uma tal transaccáo, porém, ainda quando Saldanha, o implacavel inimigo de Silva Carvalho e de Freiré, a acceitasse, repugnava ao brío dos honrados e leaes amigos do Imperador, sequazes fiéis da sua politica. Ainda nao contava dois mezes de duracáo, e já o ministerio Saldanha comecava a afundar-se no mar da sua incapacidade. Entáo o marquez, curvando a cabeça perante a auctoridade de Silva Carvalho, implora-lhe que, para salvar a patria, valha ao governo que se vé perdido. Nenhuma occasiáo melhor do que esta se podia ter deparado ao grande estadista para confundir o seu adversario; porém, a sua generosidade e grandeza d'alma nao lh'o permittiriam. Era preciso sacrificar á patria os seus resentimentos: — cedeu, e, muito contra sua vontade, entrou de novo no ministerio, esquecendo ou pelo menos perdoando ao marquez 1 Memorias de José Liberato, pag. 367. 2 Carreira, Correspondencia, carta de Palmella, cm 5 de julho de 1834, pag. 105. 3 Carreira, Correspondencia, pag. 96. Sousa Monteiro, Historia de Portugal, tomo v, pag. 34. 4 Vejam-se na Correspondencia de Mendizabal, no fim d'este volume.
de Saldanha os esforços que empregara para o desacreditar aos olhos do Imperador e anniquilar no theatro da politica portugueza. Enthusiasta, érente, com o espirito constantemente dominado pelos principios theoricos, Silva Carvalho dedicava-se com amor á realisacáo dos seus planos; pondo de parte preocupaçoes egoístas e puramente pessoaes, os ministros eram para elle os instrumentos da mais rápida e efficaz execucáo do seu systcma. Agora, em julho de 1835, quer marcar accentuadamentc o ministerio com o cunho da sua politica. Da correspondencia d'aquelle mez, inserta neste volume, parece-nos poder inferir-se que a aspiracáo de Silva Carvalho foi organisar um ministerio de pura cor Carvalho-Freire, sob a presidencia do duque da Terceira—que formaría o laço de uniáo com a cámara alta; e com Villa Iieal nos estrangeiros — o que lhe conciliaria a Inglaterra. Era o que se podia couceber de mais hábil. Comtudo, esta combinacáo só a conseguirá mais tarde; por agora, oppoz-se-lhe a repugnancia da Rainha em acceitar Freiré, e a poderosa influencia de Saldanha e de Palmella. Em vez de um ministerio homogéneo e forte, pela unidade de convicçoes, formou-se urna fusáo menos viavel que a de 21 de setembro, por ser composto de tres cores politicas. Era urna «situaçao escochada, como a sardinha sem cabeça», dizia pittorescamente Dias de Oliveira, na correspondencia com Agostinho José Freiré. Logo que viu que nao conseguiría todo o seu intento, tratou Silva Carvalho de salvar, tanto quanto possivel, o espirito em que ia ser aproveitado o voto de confiança das cortes quando sobreveiu a crise ministerial de maio. Por isso, como as reformas projectadas dependiam essencialmente da auctoridade do ministerio do reino, exigiu que fosse confiado a um homem dos seus principios. Tendo Freiré retirado as suas pretcnçoes, perante a relutancia da Rainha em o admittir, Carvalho obteve que aquella reparticáo fosse entregue a Rodrigo da Fonseca Magalhaes. O ministerio ficou constituido em 15 de julho; a 18 firmou Fonseca Magalhaes a lei da organisaçao administrativa: o que nos faz suppor que esta reforma representava um plano amadurecido antes da crise de julho e que só esperava a occasiáo opportuna para ser posto em pratica. Vem depois, tambem pelo ministerio do reino, as leis da instrucçao publica; mas este trabalho foi feito pelo eminente publicista Antonio Luiz de Seabra, sem que o ministro nelle tivesse outra parte mais que a da referenda 1 . 1 «Mogofores, 18 de dezembro de 1893. — Ex." 0 sr. Marques Gomes. — Respondo á sua carta que acabo de receber, emquanto á primeira pergunta, a saber, que parte tive no projecto de instrucçao publica. . . de R. da Fonseca Magalhaes,— que este trabalho foi feito por mim, sem que o ministro nelle tivesse outra parte mais que a da referenda; porém, sobre este ponto, enviar-lhe-hei documentos positivos, logo que me seja possivel. . .=Visconde de Seabra.» «Mogofores, 28 de dezembro de 1893. — Meu caro sr. Marques Gomes. — ; . . . nao posso mandar-lhe de prompto alguns documentos que tenho relativos á primeira pergunta que me fez; porém, poderá v. ex.» suppril-os fácilmente recorrendo á historia dos estabelecimentos scientificos, de Silvestre Ribeiro, e exigindo na secretaria do reino copia do decreto, referendado pelo Rodrigo de Magalhaes, em que S. M. a Rainha D. Maria II me concedia urna commenda de Christo, pelo modo por que dei conta da commissáo de reforma da instruecáo publica, de que
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e anniquilar no theatro <strong>da</strong> politica portugueza.<br />
Enthusiasta, érente, com o espirito constantemente dominado pelos principios<br />
theoricos, Silva Carvalho dedicava-se com amor á realisacáo dos seus planos;<br />
pondo de parte preocupaçoes egoístas e puramente pessoaes, os ministros eram<br />
para elle os instrumentos <strong>da</strong> mais rápi<strong>da</strong> e efficaz execucáo do seu systcma. Agora,<br />
em julho de 1835, quer marcar accentua<strong>da</strong>mentc o ministerio com o cunho <strong>da</strong> sua<br />
politica. Da correspondencia d'aquelle mez, inserta neste volume, parece-nos<br />
poder inferir-se que a aspiracáo de Silva Carvalho foi organisar um ministerio de<br />
pura cor Carvalho-Freire, sob a presidencia do duque <strong>da</strong> Terceira—que formaría<br />
o laço de uniáo com a cámara alta; e com Villa Iieal nos estrangeiros — o que<br />
lhe conciliaria a Inglaterra. Era o que se podia couceber de mais hábil. Comtudo,<br />
esta combinacáo só a conseguirá mais tarde; por agora, oppoz-se-lhe a repugnancia<br />
<strong>da</strong> Rainha em acceitar Freiré, e a poderosa influencia de Sal<strong>da</strong>nha e de<br />
Palmella. Em vez de um ministerio homogéneo e forte, pela uni<strong>da</strong>de de convicçoes,<br />
formou-se urna fusáo menos viavel que a de 21 de setembro, por ser composto de<br />
tres cores politicas. Era urna «situaçao escocha<strong>da</strong>, como a sardinha sem cabeça»,<br />
dizia pittorescamente Dias de Oliveira, na correspondencia com Agostinho José<br />
Freiré.<br />
Logo que viu que nao conseguiría todo o seu intento, tratou Silva Carvalho<br />
de salvar, tanto quanto possivel, o espirito em que ia ser aproveitado o voto<br />
de confiança <strong>da</strong>s cortes quando sobreveiu a crise ministerial de maio. Por isso,<br />
como as reformas projecta<strong>da</strong>s dependiam essencialmente <strong>da</strong> auctori<strong>da</strong>de do ministerio<br />
do reino, exigiu que fosse confiado a um homem dos seus principios. Tendo<br />
Freiré retirado as suas pretcnçoes, perante a relutancia <strong>da</strong> Rainha em o admittir,<br />
Carvalho obteve que aquella reparticáo fosse entregue a Rodrigo <strong>da</strong> Fonseca<br />
Magalhaes.<br />
O ministerio ficou constituido em 15 de julho; a 18 firmou Fonseca Magalhaes<br />
a lei <strong>da</strong> organisaçao administrativa: o que nos faz suppor que esta reforma<br />
representava um plano amadurecido antes <strong>da</strong> crise de julho e que só esperava a<br />
occasiáo opportuna para ser posto em pratica.<br />
Vem depois, tambem pelo ministerio do reino, as leis <strong>da</strong> instrucçao publica;<br />
mas este trabalho foi feito pelo eminente publicista Antonio Luiz de Seabra, sem<br />
que o ministro nelle tivesse outra parte mais que a <strong>da</strong> referen<strong>da</strong> 1<br />
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«Mogofores, 18 de dezembro de 1893. — Ex." 0<br />
sr. Marques Gomes. — Respondo<br />
á sua carta que acabo de receber, emquanto á primeira pergunta, a saber,<br />
que parte tive no projecto de instrucçao publica. . . de R. <strong>da</strong> Fonseca Magalhaes,—<br />
que este trabalho foi feito por mim, sem que o ministro nelle tivesse<br />
outra parte mais que a <strong>da</strong> referen<strong>da</strong>; porém, sobre este ponto, enviar-lhe-hei<br />
documentos positivos, logo que me seja possivel. . .=Visconde de Seabra.»<br />
«Mogofores, 28 de dezembro de 1893. — Meu caro sr. Marques Gomes. — ;<br />
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nao posso man<strong>da</strong>r-lhe de prompto alguns documentos que tenho relativos á primeira<br />
pergunta que me fez; porém, poderá v. ex.» suppril-os fácilmente recorrendo<br />
á historia dos estabelecimentos scientificos, de Silvestre Ribeiro, e exigindo na<br />
secretaria do reino copia do decreto, referen<strong>da</strong>do pelo Rodrigo de Magalhaes, em<br />
que S. M. a Rainha D. Maria II me concedia urna commen<strong>da</strong> de Christo, pelo<br />
modo por que dei conta <strong>da</strong> commissáo de reforma <strong>da</strong> instruecáo publica, de que