josé da silva carvalho - DSpace CEU
josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU
as devidas classificaçoes. Que em cada reparticáo havia urna escripturaçao completa, por partidas dobradas, porém com tal simplicidade que nao se faria trabalho duplicado ou escusado. «Na reparticáo central havia, alem do livro geral, que resume toda a escripturaçao, aquellos livros auxiliares, que sao indispensaveis para se recolherem os resultados estatisticos que podem ser precisos; e que aquellos senhores que eram apaixonados do methodo francez, ahi o tinham em pratica no Thesouro. Que era verdade ainda existir a lei que mandava que o Tribunal do Thesouro se regulasse pelo mesmo regimentó do Conselho da Fazenda e pelas leis do extincto Erario; mas que essa lei a nao fizera elle, que era a lei de 16 de maio de 1832, n.° 22 (de Mousinho da Silveira). Que o nobre cavalheiro que acabava de fallar dissera que nao gostava do nome do edificio onde estava o Tribunal do Thesouro; no que elle ministro tambem concordava; ainda que essa casa estava hoje purificada pelo fogo, que é um dos mclhores elementos para purificar os logares empestados; pois que ha menos de tres mezes se tinham queimado defronte do palacio da extincta Inquisicáo, hoje Tribunal do Thesouro, mais de seis milhoes de cruzados em papel-moeda: o que de algum modo devia applacar a indisposiçao do illustre deputado.» 1 Silva Carvalho podia ter accrescentado que na primeira epocha constitucional, pela auctoridade de membro da Regencia, tinha firmado com a sua rubrica o decreto das cortes constituintes, publicado em 7 de abril de 1821, que extinguiu em Portugal o conselho geral do santo officio, as inquisicoes, os juizes do fisco c todas as suas dependencias. As razoes principaes allegadas no parlamento pelo ministro da fazenda, em favor do seu projecto para a venda dos bens nacionaes, figuravam no relatorio de um projecto anterior, datado de 19 de junho, a que já tivemos occasiáo de alludir (pag. 88), prometiendo entáo explicar os motivos por que ficou lettra morta. Dá-nol-os primeiramente o deputado Bettencourt — membro do Tribunal do Thesouro — no sessáo de 21 de novembro : «... voto pelo (projecto) do sr. ministro da fazenda; por quanto, reconhecendo-se no Thesouro a necessidade d'esta medida (e oxalá que entáo este plano se tivesse adoptado), nelle se trabalhou debaixo d'estas vistas, sendo corto que hoje está mais vasto; nao teve effeito, porque estando as cortes para se abrirem se deixou esta operacáo a quem melhor a pode promover e com muita sabedoria resolver». Mais tarde, na sessáo de 7 de abril das cortes ordinarias de 1835, o ministro da fazenda, expondo a historia do projecto de venda dos bens nacionaes, dirá 2 : «Parece-me que devo fallar alguma cousa do projecto: começarei desde o seu principio, para que a cámara fique intcirada dos motivos pelos quaes este projecto veiu á cámara, e porque se nao approvou antes mesmo das cortes reunidas. Logo depois da convencáo de Evora Monte, foi necessario olhar para as circumstancias do paiz, e ver de onde haviam de vir os meios para poder cobrir o seu déficit e para poder occorrer ás despesas publicas e essenciaes, e entáo lembrou o único e grande recurso que restava, que era lançar máo dos bens nacionaes, dividil-os e vendel-os, e com o seu producto satisfazer a estas despesas. Conccbeu-se este projecto, meditou-se muito e discutiu-se sobre si. 1 2 Gazeta, pag. 705 e seg. Diario da cámara dos deputados, de 1835, vol. i, pag. 754.
«Depois de ter tomado as ordens de Sua Magostado, foi approvado no Conselho de Estado, tal qual o apresentei á cámara; mas, antes da reuniáo das cortes, apresentei-o a Sua Magestade Imperial, o sempre lamentado Duque de Bragança. Sua Magestade Imperial, levado d'aquelle valor e honra, com que sempre obrava ñas suas cousas, recusou sanccional-o, por isso mesmo que no projecto vinha um artigo que fallava de indemnisaçoes para as pessoas que tinham softrido pela extincçao dos direitos do pescado, e como elle se reputava o senhor da casa de Bragança, e esta era urna d'aquellas que havia de ter cortamente maior indemnisaçao, foi por isso que recusou assignar este projecto de lei; porque receou que dissessem que elle promulgava urna lei principalmente em seu beneficio; mas mandou que o apresentasse ñas cortes, logo que houvesse urna occasiao opportuna para isso: eu assim o fia...» A occasiao para apresentar o projecto de venda dos bens nacionaes fóra julgada opportuna, pelo ministro, desde 17 de setembro de 1834. A cámara, porém, nao reconbeceu ou nao quiz reconhecer tal opportunidade. Se o projecto a que se referiu o deputado Bettencourt é o de 19 de junho, já estava «mais vasto* quando Silva Carvalho o apresentou a S. M. L, pois aquello ainda se nao referia a índemnisacáo de qualidade alguma. Contrista ter de relatar que, emquanto as paixoes políticas dos nacionaes estorvavam a acçao de Silva Carvalho, os estrangeiros comprehendiam e elogiavam o alcance e o valor scientifico dos seus planos: o celebre redactor do National, Armand Carrol, qualificou o relatorio de 4 de novembro como o documento financeiro mais importante estampado depois de Necker: «La guerre civile a disparu du Portugal le jour méme ou D. Miguel a qoitté ses rivages; des ce moment l'ordre le plus parfait n'a cessé d'y régner. Les institutions politiques et financiéres se sont améliorées avec une promptitude étonnante: d'absurdes lois ont été ou réforméea ou abrogées, et, pour la premiére fois depuis huit ans, cette malheureuse nation a respiré libre du joug du monarque protege par les tories de l'Angleterre et les puissances du Nord. «Dans la courte periodo qui s'est écoulée depuis l'établisscment du Byatéme constitutionel en Portugal, le crédit du pays s'est amélioré, au point que le prix des fonda publics a presque doublé. L'exposé des motifs par mr. de Silva Carvalho, ministre des finances, vient prouver que les hommes d'état de ce royaume ont su étudier dans l'exil les principes les plus avances de la science économique, et qu'ils s'occupent avee activité á en faire l'application á l'administration de leur pays. «La nécessité de réparer les desastres de la guerre, de servir les intéréts des emprunts contractés pour chasser l'usurpateur, et de dégrever le peuple des impóts les plus mal assis, n'a pas permis d'aligner les recettes avec les dépenses. Le budjet s'éléve á Frailes En dépense 75,295,625,472 En recette 57,468,651,318 Déficit 17,826,974,154 «Ce déficit, qui est a peu prés égal au tiers des recettes, efiraie trés-peu le ministre des finances; il annonce que pour le combler il n'aura pas recours á de nouveaux impóts: «Car, dit-il, il faut donner au pays le temps et le moyen nécessaires pour se fortifier; il faut luí donner lavieet non la lui dter». Ces paroles
- Page 82 and 83: a força que actualmente existe no
- Page 84 and 85: tomou auto para proceder contra a p
- Page 86 and 87: que os salteadores, chamados guias,
- Page 88 and 89: e esperal-os para nao termos perdas
- Page 90 and 91: elativa a negociaçoes cora D. Migu
- Page 92 and 93: DOC. CCLXXXVII Calculo da força mi
- Page 94 and 95: Escrevo a Freiré, mas tu és o the
- Page 96 and 97: abrir as communicaç
- Page 98 and 99: DOC. CCXC Memoria Silva Carvalho re
- Page 100 and 101: It appears to me that a sum less th
- Page 102 and 103: ever-to-be-lamented Majesty the Duk
- Page 105 and 106: SILVA CARVALHO (1833-1836) A SUA AG
- Page 107 and 108: applicados, os privilegios reduzido
- Page 109 and 110: conferiu-lhe a presidencia da nova
- Page 111 and 112: a nossa legislaçao antiga (que é
- Page 113 and 114: motivos a que adcante nos referirem
- Page 115 and 116: A mesma tcstomunha nos disse que on
- Page 117 and 118: denuncia-o; é agarrado e mettido n
- Page 119 and 120: Iam abrir-se as portas do parlament
- Page 121 and 122: passasse a lci das hypothecas, uma
- Page 123 and 124: Imagiiie-se quanto Silva Carvalho,
- Page 125 and 126: Na sessao de 22 de outubro, declaro
- Page 127 and 128: publica, a fim de nos livrarmos da
- Page 129 and 130: cultivar sómente os terrenos mais
- Page 131: nem previram que, pelas frequentes
- Page 135 and 136: importantes ramos da prosperidade p
- Page 137 and 138: que de presente só paga a capital
- Page 139 and 140: nal. Quanto a indemnisaçoes, julga
- Page 141 and 142: por contrato, tudo o mais fica depe
- Page 143 and 144: de Saldanha os esforços que empreg
- Page 145 and 146: de quem menos a devia esperar. Acab
- Page 147 and 148: Já mal disposta por estes boatos,
- Page 149 and 150: interpellaçao ao ministerio, cujas
- Page 151 and 152: o Mais de oito dias se passaram em
- Page 153 and 154: destruir a melhor parte do seu trab
- Page 155 and 156: «Segunda. — Que os povos estáo
- Page 157 and 158: «Os títulos de que acabo de falla
- Page 159 and 160: «Confiando ñas luzcs, e insigne p
- Page 161 and 162: cuçao, os ministros nao desconheci
- Page 163 and 164: teressados, mas sisudos e desinterc
- Page 165 and 166: O decreto de 23 de agosto de 1833 a
- Page 167 and 168: eleitos sao todos da opposicáo, te
- Page 169 and 170: que devem manter, se fazem cumplice
- Page 171 and 172: DOC. CCC Representado de Silva Carv
- Page 173 and 174: quantas sito a necessaria consequen
- Page 175 and 176: Ill. m0 Porto, 15 de malo de 1834.
- Page 177: DOC. CCCIII Facsímile do autograph
- Page 181: se 7 e-^ ? S «íJ-*-.
as devi<strong>da</strong>s classificaçoes. Que em ca<strong>da</strong> reparticáo havia urna escripturaçao completa,<br />
por parti<strong>da</strong>s dobra<strong>da</strong>s, porém com tal simplici<strong>da</strong>de que nao se faria trabalho<br />
duplicado ou escusado.<br />
«Na reparticáo central havia, alem do livro geral, que resume to<strong>da</strong> a escripturaçao,<br />
aquellos livros auxiliares, que sao indispensaveis para se recolherem os<br />
resultados estatisticos que podem ser precisos; e que aquellos senhores que eram<br />
apaixonados do methodo francez, ahi o tinham em pratica no Thesouro. Que era<br />
ver<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> existir a lei que man<strong>da</strong>va que o Tribunal do Thesouro se regulasse<br />
pelo mesmo regimentó do Conselho <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e pelas leis do extincto Erario;<br />
mas que essa lei a nao fizera elle, que era a lei de 16 de maio de 1832, n.° 22<br />
(de Mousinho <strong>da</strong> Silveira). Que o nobre cavalheiro que acabava de fallar dissera<br />
que nao gostava do nome do edificio onde estava o Tribunal do Thesouro; no que<br />
elle ministro tambem concor<strong>da</strong>va; ain<strong>da</strong> que essa casa estava hoje purifica<strong>da</strong> pelo<br />
fogo, que é um dos mclhores elementos para purificar os logares empestados;<br />
pois que ha menos de tres mezes se tinham queimado defronte do palacio <strong>da</strong><br />
extincta Inquisicáo, hoje Tribunal do Thesouro, mais de seis milhoes de cruzados<br />
em papel-moe<strong>da</strong>: o que de algum modo devia applacar a indisposiçao do illustre<br />
deputado.» 1<br />
Silva Carvalho podia ter accrescentado que na primeira epocha constitucional,<br />
pela auctori<strong>da</strong>de de membro <strong>da</strong> Regencia, tinha firmado com a sua rubrica o<br />
decreto <strong>da</strong>s cortes constituintes, publicado em 7 de abril de 1821, que extinguiu<br />
em Portugal o conselho geral do santo officio, as inquisicoes, os juizes do fisco c<br />
to<strong>da</strong>s as suas dependencias.<br />
As razoes principaes allega<strong>da</strong>s no parlamento pelo ministro <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>, em<br />
favor do seu projecto para a ven<strong>da</strong> dos bens nacionaes, figuravam no relatorio de<br />
um projecto anterior, <strong>da</strong>tado de 19 de junho, a que já tivemos occasiáo de alludir<br />
(pag. 88), prometiendo entáo explicar os motivos por que ficou lettra morta.<br />
Dá-nol-os primeiramente o deputado Bettencourt — membro do Tribunal do<br />
Thesouro — no sessáo de 21 de novembro : «... voto pelo (projecto) do sr. ministro<br />
<strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>; por quanto, reconhecendo-se no Thesouro a necessi<strong>da</strong>de d'esta medi<strong>da</strong><br />
(e oxalá que entáo este plano se tivesse adoptado), nelle se trabalhou debaixo<br />
d'estas vistas, sendo corto que hoje está mais vasto; nao teve effeito, porque<br />
estando as cortes para se abrirem se deixou esta operacáo a quem melhor a<br />
pode promover e com muita sabedoria resolver».<br />
Mais tarde, na sessáo de 7 de abril <strong>da</strong>s cortes ordinarias de 1835, o ministro<br />
<strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>, expondo a historia do projecto de ven<strong>da</strong> dos bens nacionaes, dirá 2<br />
:<br />
«Parece-me que devo fallar alguma cousa do projecto: começarei desde o seu<br />
principio, para que a cámara fique intcira<strong>da</strong> dos motivos pelos quaes este projecto<br />
veiu á cámara, e porque se nao approvou antes mesmo <strong>da</strong>s cortes reuni<strong>da</strong>s.<br />
Logo depois <strong>da</strong> convencáo de Evora Monte, foi necessario olhar para as circumstancias<br />
do paiz, e ver de onde haviam de vir os meios para poder cobrir o seu<br />
déficit e para poder occorrer ás despesas publicas e essenciaes, e entáo lembrou<br />
o único e grande recurso que restava, que era lançar máo dos bens nacionaes,<br />
dividil-os e vendel-os, e com o seu producto satisfazer a estas despesas. Conccbeu-se<br />
este projecto, meditou-se muito e discutiu-se sobre si.<br />
1<br />
2<br />
Gazeta, pag. 705 e seg.<br />
Diario <strong>da</strong> cámara dos deputados, de 1835, vol. i, pag. 754.