josé da silva carvalho - DSpace CEU

josé da silva carvalho - DSpace CEU josé da silva carvalho - DSpace CEU

dspace.ceu.es
from dspace.ceu.es More from this publisher
15.04.2013 Views

SILVA CARVALHO (1833-1836) A SUA AGÇAO E O SEU PLANO Muito dcve Portugal á firme convicçSo e á coragem com que D. Pedro, o dictador-soldado, defendeu ñas notas diplomáticas e no campo de batalha a política de Silva Carvalho. Sao inestimaveis o brio e a independencia com que repelliu as imposiçoes ambiciosas e insolentes da Inglaterra e lhe protestou que o ministerio Carvalho-Freire, «tirado da classe mais illustrada da emigraçSo, offerecia ao mesmo tempo um justo meio termo entre a pura aristocracia, que por causas bem sabidas nao inspirava ainda á naçao bastante confiança, e os espiritos exaltados, dos quaes a mesma naçao ha muitos annos estava caucada, porque, ou fosse pela sua ambiçao quanto á política interna ou pelos seus disparatados sonhos quanto ¡i política externa, nao procuravam senáo desorganisal-a e perdel-a 1 ». Sob estas palavras vagas, nesta expressao simples da opiniáo do Regente acerca dos seus ministros, estava incluido todo um systema de ideas, alcançadas á custa do mais esforçado trabalho e de dolorosa experiencia. A historia das nossas duas primeiras epochas constitucionaes demonstrara que a sciencia dos principios abstractos do direito, das finanças e da economia politica de pouco vale sem a comprehensáo da forma positiva por que se transformaram as relaçoes sociaes nos estados cujas leis demandam reforma, e sem a boa vontade de as melhorar. Destituidos de espirito de governo, nada homens de estado, os idealistas de 1820 votaram urna constituiçao que nao era possivd, segundo a expressSo de Alexandre Herculano 2 , e irritaram contra si elementos invenciveis de reaecáo; alem de que, quasi exclusivamente preoecupados com as reformas políticas, a sua aceito foi principalmente exterior: mal tocaram no machinismo jurídico e económico da sociedade portugueza. Nao Be evidenciara menos a inefficacia do systema de reforma preconisado pelo partido dos aristócratas, antes se tornara mais frisante, porque eram muito menores as difficuldades que se lhe oppunham. Sobre a má vontade das pessoas que o formavam nSo resta a menor duvida, pois que, no periodo relativamente longo que mediou entre a reaecáb de 1823 e a usurpaçSo, nao só perderam muitas occasioes favoraveis de felicitar o povo portuguez e engrandecer a patria, mas, pela sua aecáo na cámara alta, promoveram a queda da constituicáo de 1 Vol. i, pag. 301. 2 Biographia de Mousinho da Silveira, nos Opúsculos, tomo n, pag.

SILVA CARVALHO<br />

(1833-1836)<br />

A SUA AGÇAO E O SEU PLANO<br />

Muito dcve Portugal á firme convicçSo e á coragem com que D. Pedro, o<br />

dictador-sol<strong>da</strong>do, defendeu ñas notas diplomáticas e no campo de batalha a<br />

política de Silva Carvalho. Sao inestimaveis o brio e a independencia com que<br />

repelliu as imposiçoes ambiciosas e insolentes <strong>da</strong> Inglaterra e lhe protestou que<br />

o ministerio Carvalho-Freire, «tirado <strong>da</strong> classe mais illustra<strong>da</strong> <strong>da</strong> emigraçSo,<br />

offerecia ao mesmo tempo um justo meio termo entre a pura aristocracia, que<br />

por causas bem sabi<strong>da</strong>s nao inspirava ain<strong>da</strong> á naçao bastante confiança, e os<br />

espiritos exaltados, dos quaes a mesma naçao ha muitos annos estava cauca<strong>da</strong>,<br />

porque, ou fosse pela sua ambiçao quanto á política interna ou pelos seus disparatados<br />

sonhos quanto ¡i política externa, nao procuravam senáo desorganisal-a<br />

e perdel-a 1<br />

».<br />

Sob estas palavras vagas, nesta expressao simples <strong>da</strong> opiniáo do Regente<br />

acerca dos seus ministros, estava incluido todo um systema de ideas, alcança<strong>da</strong>s<br />

á custa do mais esforçado trabalho e de dolorosa experiencia.<br />

A historia <strong>da</strong>s nossas duas primeiras epochas constitucionaes demonstrara<br />

que a sciencia dos principios abstractos do direito, <strong>da</strong>s finanças e <strong>da</strong> economia<br />

politica de pouco vale sem a comprehensáo <strong>da</strong> forma positiva por que se transformaram<br />

as relaçoes sociaes nos estados cujas leis deman<strong>da</strong>m reforma, e sem a<br />

boa vontade de as melhorar.<br />

Destituidos de espirito de governo, na<strong>da</strong> homens de estado, os idealistas de<br />

1820 votaram urna constituiçao que nao era possivd, segundo a expressSo de<br />

Alexandre Herculano 2<br />

, e irritaram contra si elementos invenciveis de reaecáo;<br />

alem de que, quasi exclusivamente preoecupados com as reformas políticas, a sua<br />

aceito foi principalmente exterior: mal tocaram no machinismo jurídico e económico<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de portugueza.<br />

Nao Be evidenciara menos a inefficacia do systema de reforma preconisado<br />

pelo partido dos aristócratas, antes se tornara mais frisante, porque eram muito<br />

menores as difficul<strong>da</strong>des que se lhe oppunham. Sobre a má vontade <strong>da</strong>s pessoas<br />

que o formavam nSo resta a menor duvi<strong>da</strong>, pois que, no periodo relativamente<br />

longo que mediou entre a reaecáb de 1823 e a usurpaçSo, nao só perderam<br />

muitas occasioes favoraveis de felicitar o povo portuguez e engrandecer a patria,<br />

mas, pela sua aecáo na cámara alta, promoveram a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> constituicáo de<br />

1 Vol. i, pag. 301.<br />

2<br />

Biographia de Mousinho <strong>da</strong> Silveira, nos Opúsculos, tomo n, pag.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!