Veja a justificativa do projeto - Zoonoses - Universidade Federal do ...
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Justificativa da proposta <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> Ângelo Vanhoni para incluir<br />
duas questões no censo IBGE de 2010: Quantos cães você tem em casa?<br />
e Quantos gatos você tem em casa?. Fatos relevantes e seu impacto em<br />
saúde pública.<br />
Alexander Welker Bion<strong>do</strong>, DVM, MSc, PhD. Professor de <strong>Zoonoses</strong> e Biologia Molecular, Depto de<br />
Medicina Veterinária, <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná, Curitiba, PR. Professor Visitante <strong>do</strong> Depto de<br />
Patobiologia, <strong>Universidade</strong> de Illinois, EUA. abion<strong>do</strong>@illinois.edu. +55 41 3350-5723.<br />
Nos últimos trinta anos, três em cada quatro <strong>do</strong>enças emergentes são<br />
transmitidas por animais (zoonoses). A convergência de pessoas, animais e meio<br />
ambiente criou uma nova dinâmica na qual a saúde de cada grupo é obrigatoriamente<br />
interligada. Os desafios associa<strong>do</strong>s com essa dinâmica são árduas, profundas e sem<br />
precedentes.<br />
Além disso, 1.461 <strong>do</strong>enças infecciosas são atualmente reconhecidas em seres<br />
humanos, com aproximadamente 60% causadas por patógenos de múltiplos hospedeiros<br />
caracteriza<strong>do</strong>s por seu movimento através <strong>do</strong> limite de espécies. Nas últimas três<br />
décadas, aproximadamente 75% das novas <strong>do</strong>enças infecciosas humanas emergentes<br />
foram zoonoses (King et al., JAVMA, 2008). Entre elas cita-se a AIDS (vírus HIV teve<br />
origem no vírus SIV de macacos), o Vírus <strong>do</strong> Oeste <strong>do</strong> Nilo, a Doença da Vaca Louca<br />
(Encefalopatia Espongiforme Bovina), a Gripe Aviária e recentemente a Gripe Suína.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, acima de tu<strong>do</strong>, conhecer, mensurar e entender a dinâmica destas<br />
populações animais pode ser crítico para entendermos o próprio futuro da saúde humana<br />
em nossos municípios, esta<strong>do</strong>s e regiões brasileiras.<br />
O número de cães e gatos constitui a base de programas de vacinação, em<br />
particular nas campanhas anuais de vacinação anti-rábica. Em to<strong>do</strong> o Brasil, em<br />
particular nas áreas endêmicas, a vacinação anti-rábica é obrigatória, e o Ministério da<br />
Saúde utiliza para sua distribuição e plano de metas, estimativas da população de cães e<br />
gatos nestas regiões (Ministério da Saúde, 2009).<br />
No entanto, as estimativas atuais no Brasil são falhas e imprecisas. Enquanto a<br />
Organização Mundial de Saúde estima uma proporção de 10 pessoas para cada cão nos<br />
países desenvolvi<strong>do</strong>s (10:1) e 7 pessoas para cada cão em países em desenvolvimento<br />
como o Brasil (7:1), censos por amostragem realiza<strong>do</strong>s em diversas partes <strong>do</strong> Brasil<br />
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mostram uma quantidade muito maior de cães, proporcionalmente, com média de<br />
apenas 4 pessoas para cada cão (Bion<strong>do</strong> et al., ISAE, Vancouver, 2006).<br />
Se pensarmos que existam em Curitiba sete pessoas para cada cão, isso significa<br />
que <strong>do</strong>s 1.851.215 habitantes (IBGE, 2009) da capital, teriamos um total de 264.459<br />
cães. Mas se utilizarmos os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nos censos por amostragem realiza<strong>do</strong>s<br />
em várias áreas da cidade nos últimos anos de 4:1, esta proporção é na realidade quase o<br />
<strong>do</strong>bro maior, ou seja 462.803 cães. Deste mo<strong>do</strong>, não surpreende que campanhas de<br />
vacinação atinjam percentuais muito próximos ou mesmo superiores a 100% de<br />
cobertura vacinal, se a base de estimativa está incorreta. Ou seja, se vacinarmos por<br />
estimativa 100% <strong>do</strong>s cães de Curitiba na proporção de cálculo 7:1, na verdade estamos<br />
vacinan<strong>do</strong> apenas 57% <strong>do</strong> total real de cães.<br />
Os cães e gatos são importantes sentinelas de <strong>do</strong>enças. A saúde destes<br />
animais reflete a exposição a que estão sujeitos seus <strong>do</strong>nos, e os riscos de <strong>do</strong>enças. Cães<br />
e gatos já são identifica<strong>do</strong>s há muito tempo como potenciais “sentinelas” de <strong>do</strong>enças<br />
humanas (Schmidt, Vet Clin North Amer, n.39, 2009). Os animais de companhia são<br />
sentinelas efetivas, pois compartilham o mesmo ambiente de seus proprietários; neste<br />
contato íntimo com membros da família não humana, eles freqüentemente comem a<br />
mesma comida, tomam a mesma água, compartilham as camas e servem como<br />
companhia de viagens, fazen<strong>do</strong> o seu risco de <strong>do</strong>enças muito similar ao <strong>do</strong>s seus <strong>do</strong>nos.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, a saúde <strong>do</strong> cão e gato é um espelho da saúde de seus <strong>do</strong>nos, ou <strong>do</strong> risco de<br />
<strong>do</strong>enças da casa em que moram.<br />
O controle de populações de cães e gatos deve ter por base da<strong>do</strong>s corretas<br />
destas populações animais em cada município da nação. A maioria das comissões<br />
municipais de saúde <strong>do</strong>s 28 municípios da região metropolitana de Curitiba incluiu o<br />
problema de controle de cães de rua em seus debates, o que parece ser uma constante<br />
em outras capitais e cidades paranaenses e brasileiras. Não se possui atualmente um<br />
estu<strong>do</strong> de perfil da população e o número per capita de cães e gatos, sua correlação com<br />
renda familiar e outros da<strong>do</strong>s sócio-econômicos. Apenas com estu<strong>do</strong> amplo e<br />
simultâneo, como o censo <strong>do</strong> IBGE 2010, poderemos ter da<strong>do</strong>s reais e comparativos de<br />
cada município, esta<strong>do</strong> e região brasileira, de mo<strong>do</strong> a controlar estas populações de<br />
maneira especifica, atenden<strong>do</strong> as necessidades de cada perfil regional.<br />
Os cães e gatos são hoje parte integrante da família brasileira. Recente<br />
estu<strong>do</strong> demonstrou que cães e gatos estão na maioria das casas em Curitiba e região<br />
metropolitana, com aumento desta população em edifícios na área urbana da cidade, o<br />
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que parece ser uma tendência nacional crescente (Bion<strong>do</strong> et al., ISAE, Vancouver,<br />
2006; Serafini et al., Zoon Publ Health, 2008). Estas populações de entes familiares<br />
“não humanos” vêm crescen<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>, muito embora seu monitoramento se<br />
baseie atualmente apenas em estimativas de correlação ten<strong>do</strong> por base a população<br />
humana, como já foi exposto acima. A dinâmica da população animal de companhia,<br />
nas próximas décadas e séculos, pode ser crucial para entendermos as inter-relações<br />
entre as pessoas e seus animais de companhia.<br />
A proposta possui amplo apoio de diversos órgãos e instituições brasileiras,<br />
incluin<strong>do</strong> o próprio Ministério da Saúde. O assunto de inclusão <strong>do</strong> número de cães e<br />
gatos no censo IBGE 2010 não é recente. Vários órgãos governamentais, instituições de<br />
pesquisa e universidades têm solicita<strong>do</strong> reiteradamente a inclusão de cães e gatos no<br />
censo nacional.<br />
Segun<strong>do</strong> a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS), o assunto já foi<br />
sugeri<strong>do</strong> no “Instrumento de Consulta para o Planejamento <strong>do</strong> Inquérito Nacional de<br />
Saúde <strong>do</strong> Ministério da Saúde”, <strong>projeto</strong> da FIOCRUZ, que conta com apoio <strong>do</strong> CNS,<br />
CONASS, CONASEMS, ABRASCO, IPEA, e que deverá ser realiza<strong>do</strong> com<br />
participação <strong>do</strong> IBGE (Dr. Eduar<strong>do</strong> Caldas, SVS/MS, comunicação pessoal - CP, 2009).<br />
Dentre vários temas, sugeriu-se a inclusão de animais <strong>do</strong>mésticos <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>s (número<br />
de cães e gatos).<br />
Embora a base <strong>do</strong>s questionários e questões a serem investigadas pelo IBGE<br />
tenha incluí<strong>do</strong> relevância, pertinência e aplicabilidade, não houve um estu<strong>do</strong> mais<br />
amplo acerca <strong>do</strong>s animais de estimação e seu impacto na saúde pública e bem estar da<br />
população brasileira. Segun<strong>do</strong> uma revisão mais ampla dentro da classe veterinária, o<br />
questionamento teria tanto ou mais impacto em saúde e bem estar da população humana<br />
<strong>do</strong> que as questões como a posse de computa<strong>do</strong>r e acesso à internet (Barretto, Rev. Clin.<br />
Vet., dez 2009).<br />
Em Curitiba e região metropolitana, a proposta obteve referen<strong>do</strong> imediato da<br />
maioria das Organizações Não Governamentais de proteção animal, incluin<strong>do</strong> SOS<br />
Bicho e PenseBicho, entre outras, em reunião realizada para se definir estratégias de<br />
controle de cães e gatos para 2010 (Karin Birckholz, PenseBicho, CP, 2009). O assunto<br />
obteve apoio de instituições e organizações de renome também em outros esta<strong>do</strong>s, como<br />
o ITEC (Dra. Rita de Cássia Garcia, ITEC, CP, 2009), <strong>Universidade</strong> de São Paulo (Dr.<br />
Fernan<strong>do</strong> Ferreira, USP, CP, 2009), <strong>Universidade</strong> Estadual Paulista (Cáris Maroni<br />
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Nunes, UNESP Araçatuba, CP, 2009) e Instituto Pasteur (Dra. Maria de Lourdes<br />
Riechmann, CP, 2009) em São Paulo.<br />
Em resumo, duas perguntas simples (com respostas numéricas de 00 a 99)<br />
poderiam ajudar a resolver estes problemas em to<strong>do</strong>s os municípios e esta<strong>do</strong>s<br />
brasileiros. Com estes duas perguntas, poderíamos avançar muito nestes assuntos,<br />
fazen<strong>do</strong> o Brasil um modelo mundial na prevenção de zoonoses e outros agravos, na<br />
dinâmica populacional e bem estar animal e na guarda responsável de cães e gatos.<br />
Quantos cães você tem em casa? __ __ Quantos gatos você tem em casa? __ __<br />
Quem é ?<br />
Angelo Carlos Vanhoni nasceu em Paranaguá no 19 de junho de 1955, foi verea<strong>do</strong>r em<br />
Curitiba (1989-1994), deputa<strong>do</strong> estadual (1995-2006) e desde 2007 é deputa<strong>do</strong> federal<br />
pelo Paraná. O Deputa<strong>do</strong> Vanhoni é bancário por profissão, sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> em Letras<br />
pela <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná.<br />
O Deputa<strong>do</strong> possui histórico de trabalho na câmara federal em <strong>projeto</strong>s de leis e ações<br />
na preservação de acervos e museus, na educação e no meio ambiente, entre outras.<br />
Recentemente visitou o Departamento de Medicina Veterinária da UFPR e sensibilizou-<br />
se com o assunto <strong>do</strong>s <strong>projeto</strong>s de extensão <strong>do</strong> departamento, que incluem controle de<br />
zoonoses, saúde pública, bem estar animal, ação social e cidadania.<br />
Censo de cães em Antonina, PR, 2009 Censo de cães em Morretes, PR, 2009<br />
Censo e vacinação de cães em Pinhais, PR, 2008 Censo de cães em Curitiba, PR, 2005<br />
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