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«Um centro na margem»: o caso do cinema português - SciELO

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<strong>«Um</strong> <strong>centro</strong> <strong>na</strong> <strong>margem»</strong>: o <strong>caso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>português</strong><br />

vincial e imperial, em direcção a uma outra definição aberta pela revolução<br />

de 1974-1975). Poderíamos explorar as possibilidades deste conjunto articula<strong>do</strong><br />

de critérios, aplican<strong>do</strong>-os igualmente a outras «situações» <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />

mas aqui vamos cingir-nos ao <strong>caso</strong> <strong>português</strong> 16 .<br />

Reflexão da questão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l: esta expressão quer dizer que, durante<br />

uma sequência particular, numa dialéctica <strong>do</strong> singular (<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l) e <strong>do</strong> universal,<br />

o <strong>cinema</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l tem, alter<strong>na</strong>damente, capacidade de interrogar segun<strong>do</strong><br />

um mo<strong>do</strong> progressista (não <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista ou folclórico) a história <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

e de apresentar esta interrogação ao mun<strong>do</strong>, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> visível, simultaneamente,<br />

o país, <strong>na</strong> sua dimensão subjectiva e auto-reflexiva (uma consciência<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l), e aquilo que, com prudência, somos tenta<strong>do</strong>s a desig<strong>na</strong>r por<br />

«escola» <strong>cinema</strong>tográfica.<br />

De Alberto Seixas Santos («Temos uma relação muito tensa com o país.<br />

Creio que nós, ence<strong>na</strong><strong>do</strong>res portugueses, em geral, e ainda mais aqueles para<br />

quem o <strong>cinema</strong> é inseparável de si mesmos, somos responsáveis por isso:<br />

para nós, o país é igualmente inseparável de nós mesmos» 17 ) a João César<br />

Monteiro (veja-se a sua divisa, «A minha divisa é e será sempre: Eu sou<br />

<strong>português</strong>. Enga<strong>na</strong>ram-me» 18 , e sobretu<strong>do</strong> o seu ciclo de filmes em que<br />

entra a perso<strong>na</strong>gem João de Deus), de Paulo Rocha (que filma, n’A Ilha <strong>do</strong>s<br />

Amores, a peregri<strong>na</strong>ção e o exílio oriental de um escrivão <strong>português</strong> que<br />

aban<strong>do</strong>nou um Portugal humilha<strong>do</strong> pelo ultimatum colonial inglês de fi<strong>na</strong>is <strong>do</strong><br />

século XIX) a Manoel de Oliveira (que revisita em Non, ou a vã glória de<br />

mandar, o mito <strong>português</strong> <strong>do</strong> sebastianismo, interrogan<strong>do</strong> toda a história<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l à luz <strong>do</strong>s seus desastres militares), de José Álvaro Morais (que<br />

afasta em O Bobo a visão romântica da fundação de Portugal para desse<br />

afastamento fazer uma alavanca para questio<strong>na</strong>r o Portugal pós-revolucionário<br />

de fi<strong>na</strong>is <strong>do</strong>s anos 70) a João Botelho (cuja obra, <strong>na</strong> sua totalidade, desde<br />

o seu primeiro filme, Conversa Acabada, ao seu próximo filme, A Mulher<br />

Que Acreditava Ser Presidente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, persegue «a física de<br />

16 Alargar este dispositivo de análise a outras <strong>cinema</strong>tografias <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is (como as que<br />

foram citadas anteriormente, a Alemanha pós-1968, o Irão contemporâneo) supõe, com<br />

efeito, para cada uma destas outras «situações» um inquérito empírico específico, ten<strong>do</strong> em<br />

conta as particularidades irredutíveis dessas situações (a censura <strong>do</strong> Ershad no Irão, depois de<br />

1979, por exemplo; este constrangimento para os cineastas iranianos parece opor-se <strong>na</strong><br />

medida exacta à abolição da censura da PIDE, a partir de 1974, para os cineastas portugueses.<br />

Ao mesmo tempo, a criação artística, como mostra o exemplo iraniano, sabe contor<strong>na</strong>r a<br />

censura, que não anula assim completamente a liberdade <strong>do</strong>s artistas). Este alargamento da<br />

análise supõe igualmente o aprofundamento da questão da formalização geral da relação entre<br />

o <strong>cinema</strong> e a <strong>na</strong>ção. Dedicamo-nos a este assunto num trabalho em curso, cuja exposição<br />

excederia o quadro deste artigo.<br />

17 Alberto Seixas Santos, entrevista com Jacques Lemière, 31 de Julho e 1 de Agosto de<br />

1993, Catalogue des 4èmes Journées de cinéma portugais, Rouen, Cineluso, Janeiro de 1994.<br />

18 João César Monteiro, auto-apresentação, extraída da sua obra, Morituri te salutant,<br />

Lisboa, & Etc, 1974.<br />

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