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Advir 22 - Asduerj

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A A FORMA FORMATURA<br />

FORMA TURA<br />

QUE QUE NÃO NÃO ACABOU<br />

ACABOU<br />

Todo mundo levantando, batendo com o pé no chão, uma gritaria<br />

ensurdecedora: ‘O nome da turma é Luiz Paulo! Luiz Paulo! Luiz Paulo!’<br />

Landmann teria avisado: “A família de um aluno que<br />

faleceu durante o curso médico vai oferecer um presente<br />

e vai ser lida uma carta”. Indignado, um dos<br />

alunos retrucou: “Ele não faleceu, ele foi falecido!”.<br />

Apesar de visivelmente irritado, o diretor deu prosseguimento<br />

à cerimônia. Foi chamada à frente a aluna<br />

Telma Pereira, oradora da turma. O discurso escrito<br />

por ela havia sido previamente censurado. Segundo<br />

Fábio Daflon, no livro “Título provisório”, a intenção da<br />

oradora era ler o necrológio escrito pelo reitor João<br />

Lyra Filho na época do assassinato de Luiz Paulo. Para<br />

Landmann, no entanto, “o discurso deveria ter um caráter<br />

afetivo, excluindo o necrológio feito pelo reitor”.<br />

Telma, então, diante do teatro lotado, apenas simulou<br />

a leitura do texto, permanecendo em silêncio. “Ela<br />

só mexeu as páginas e não falou nada”, lembra Evelyn<br />

Eisenstein. Antes de voltar ao seu lugar afirmou: “Era<br />

isso o que poderíamos dizer”.<br />

Em resposta ao discurso não-dito Landmann anunciou:<br />

“Vamos dar início ao juramento da Turma Alberto<br />

Schwartz”. “A partir daí, tudo começou”, relata Bravo.<br />

“Todo mundo levantando, batendo com o pé no chão,<br />

uma gritaria ensurdecedora: ‘O nome da turma é Luiz<br />

Paulo! Luiz Paulo! Luiz Paulo!’”.<br />

Para interromper a manifestação, o diretor comuni-<br />

cou no microfone o fim da cerimônia. Abaixaram-se as<br />

cortinas.<br />

Repr pr presália pr esália<br />

A homenagem póstuma custou aos alunos um atraso<br />

de cerca de três meses na colação de grau. Tempo<br />

suficiente para que muitos, sem poder comprovar a<br />

formação, perdessem prazos para inscrição em concursos,<br />

vagas em residências e empregos em clínicas.<br />

“Naquele momento, nós não éramos nada. Não éramos<br />

mais nem alunos nem médicos”, define Bravo.<br />

Segundo o médico, a colação de grau passou a ser<br />

utilizada por Jayme Landmann como peça de barganha<br />

para descobrir os responsáveis pela manifestação. “Ele<br />

começou a fazer chantagens do tipo: ‘se você não disser,<br />

você não vai se formar’”. Ninguém cedeu à pressão.<br />

Em fevereiro de 1973, a turma foi dividida em grupos<br />

de dez alunos e cada grupo foi obrigado a prestar<br />

o juramento em um dia diferente, no gabinete de<br />

Landmann. Evelyn lembra que na sala, além do diretor<br />

e dos formandos, haviam sempre duas ou três figuras<br />

desconhecidas deles. “A gente não sabe até hoje se<br />

quem estava lá não era polícia, ditadura. Eles, inclusive,<br />

filmavam e fotografavam a gente”.<br />

ADVIR ADVIR Nº Nº <strong>22</strong> <strong>22</strong> • • OUTUBRO OUTUBRO DE DE 2008 2008 • • 37<br />

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