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Advir 22 - Asduerj

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pleto, táticas de combate. Na UEG, um grupo de estudantes<br />

constituiu um núcleo de segurança articulado<br />

a diretórios acadêmicos de outras universidades. O<br />

estudante de Ciências Biológicas, Renato Cordeiro, era<br />

o coordenador local: “Quando tínhamos passeatas na<br />

cidade, reuníamo-nos e fazíamos o planejamento. Íamos<br />

muito a Madureira, Cascadura. Saíamos de carro,<br />

estudávamos o local antes de fazer a manifestação.<br />

Tinham que ser curtas, cinco minutos era uma eternidade.<br />

A meta era panfletar, denunciar os crimes da<br />

ditadura, e sair rapidamente”, conta. O grupo também<br />

era responsável por retirar os líderes dos locais<br />

de manifestação, antes da chegada polícia.<br />

A formação política também não escapava à paixão<br />

juvenil, como avalia Valter Duarte. “A literatura na época<br />

era fragilíssima. Colocava-se uma fé muito grande em<br />

um material pobre. Deduzia-se daquilo muita autoridade,<br />

muitas certezas. As pessoas pareciam estar descobrindo<br />

o caminho correto da história, da revolução.<br />

Sem maiores questionamentos. Daí, porque houve um<br />

engajamento muito esperançoso. Só se sabia uma coisa:<br />

que não se queria o que estava ali. O que afinal<br />

não era um erro.”<br />

Na Na UEG UEG UEG, UEG onde onde onde tudo tudo aca acabou aca bou<br />

Em 1968, a Faculdade de Ciências Médicas transformou-se<br />

em referência para o movimento estudantil<br />

na Guanabara. Com a ditadura agindo firmemente contra<br />

as lideranças e núcleos mais tradicionais de organização<br />

estudantil, como o Centro Acadêmico da Faculdade<br />

de Direito da antiga Universidade do Brasil,<br />

atual UFRJ, a greve dos estudantes da FCM tornara-se<br />

a instância mais avançada de luta no Estado. Fato que<br />

não passou despercebido, também, pelos órgãos de<br />

repressão do Estado.<br />

No dia 8 de agosto de 1968, em reunião do Conselho<br />

Departamental, o então presidente do Casaf, Gilberto<br />

Hauagen comunica a realização das eleições para<br />

a nova diretoria do Centro Acadêmico e denuncia ter<br />

ficado dois dias detido, junto com dois colegas, no<br />

final de semana anterior. Motivo: a publicação em “O<br />

Plantão” - órgão oficial do Casaf – de um artigo contra<br />

as forças armadas. Uma Comissão de Inquérito fora<br />

criada no Dops para apurar o fato e exigia a revelação<br />

do autor do texto. Caso contrário, toda a diretoria do<br />

Casaf seria enquadrada na Lei de Segurança Nacional.<br />

Dois meses depois, durante o ato promovido pelo<br />

Em 1968, a Faculdade de Ciências Médicas transformou-se em<br />

referência para o movimento estudantil na Guanabara.<br />

Casaf, a polícia fere sete estudantes e mata Luiz Paulo<br />

da Cruz Nunes, um dos milhares de anônimos que deram<br />

corpo e voz àquele manifesto juvenil contra a ditadura.<br />

Sua morte trouxe junto com a dor dos seus<br />

amigos a certeza de que o sonho tinha acabado. Começava<br />

ali o grande pesadelo.<br />

Segundo Andrade, “o episódio foi utilizado (pelos<br />

radicais de direita) para convencer os setores mais<br />

moderados do regime de que era necessário endurecer.<br />

Sem sabermos, estávamos nos prestando a esse<br />

tipo de jogo político que se passava dentro da própria<br />

ditadura”, acredita. Do outro lado, afirma, “muitos optaram<br />

pela clandestinidade e, aí, já dentro das suas<br />

organizações políticas, organizaram o combate armado,<br />

como foi o caso do Salgado”.<br />

Quarenta anos depois, Valter Duarte avalia o legado<br />

daquele ano. Para ele, “1968 não é memorável<br />

pelo que se conquistou, mas pelo que representou<br />

como vontade de vida. Muita gente querendo se manifestar<br />

e existir. No final acabaram vítimas do que era<br />

mais forte, o governo , que jogou o AI-5 em cima daquilo<br />

tudo, interrompendo a história. De maneira alguma,<br />

algo que desmerecesse o que havia acontecido<br />

antes”, define.<br />

ADVIR ADVIR Nº Nº <strong>22</strong> <strong>22</strong> • • OUTUBRO OUTUBRO DE DE 2008 2008 • • 35<br />

35

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