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Tadeusz Kantor - Cooperativa Paulista de Teatro

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uma publicação da cooperativa paulista <strong>de</strong> teatro ano 8 nº 35 jul/ago/set 2005<br />

1


2<br />

4 SERVIÇOS<br />

5 PALAVRA DA COOPERATIVA<br />

A Hora da Cultura – Manifesto<br />

6 POLÍTICA CULTURAL<br />

Políticas <strong>de</strong> Estado Para a Cultura em Compasso <strong>de</strong> Espera<br />

Ney Piacentini<br />

Mobilização Permanente<br />

Renata <strong>de</strong> Albuquerque<br />

Sobre o Fundo<br />

12 TADEUZ KANTOR<br />

O Trabalho <strong>de</strong> <strong>Kantor</strong><br />

Michal Kobialka<br />

Manifesto O <strong>Teatro</strong> da Morte<br />

<strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong><br />

26 ENTREVISTA<br />

SESC Aposta no Valor da Cultura<br />

Com Danilo Santos Miranda<br />

31 REPORTAGEM<br />

Arte no Quintal<br />

Renata <strong>de</strong> Albuquerque<br />

32 COOPERATIVA EM NOTÍCIAS


EXPEDIENTE<br />

Apresentação <strong>de</strong> Camarim<br />

Camarim<br />

O teatro, como é <strong>de</strong> sua natureza, resiste ao arquivo e ao<br />

museu.<br />

Assim, as páginas <strong>de</strong> Camarim pautam-se pelo<br />

movimento, sofrem seus avanços e refluxos e, como a cena,<br />

<strong>de</strong>nunciam o nível <strong>de</strong> consciência que temos <strong>de</strong> nosso trabalho<br />

em seu momento atual, flagrando os vínculos que lhe<br />

conferem relevância.<br />

Se o momento é <strong>de</strong> organização e luta, radicalização <strong>de</strong><br />

um processo cujos contornos se <strong>de</strong>finem pelo confronto<br />

direto com a pasmaceira institucional e a norma da<br />

acomodação, as páginas <strong>de</strong> nossa revista reclamam também<br />

seu momento <strong>de</strong> reflexão e elaboração <strong>de</strong>ssa experiência,<br />

abrindo-se para além da perplexida<strong>de</strong> e da paralisia,<br />

esposando o que há <strong>de</strong> mais radical nas tentativas <strong>de</strong><br />

superação <strong>de</strong> nossas condições atuais <strong>de</strong> produção e criação –<br />

condições não apenas da arte, mas <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong> cada<br />

vez mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e sua sociabilida<strong>de</strong> rarefeita.<br />

Camarim, portanto, quer abarcar toda a cena, e além da<br />

cena. A autonomia <strong>de</strong> suas páginas reflete a autonomia <strong>de</strong><br />

nosso teatro, e essa é a condição <strong>de</strong> sua existência.<br />

Camarim é uma publicação da <strong>Cooperativa</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> – Ano 8 – Número 35 – Julho/<br />

Agosto/Setembro 2005 Editor: Editor: José Fernando Peixoto <strong>de</strong> Azevedo Jornalista Jornalista Responsável:<br />

Responsável:<br />

Responsável:<br />

Renata <strong>de</strong> Albuquerque (Mtb 30.228/SP) Conselho Conselho Editorial: Editorial: Ney Piacentini (Diretoria)<br />

Diagramação: Diagramação: Pedro Penafiel Impressão: Impressão: Hanabi Foto Foto <strong>de</strong> <strong>de</strong> Capa: Capa: A Classe Morta, (Manequins<br />

<strong>de</strong> Crianças), <strong>de</strong> <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong>, 1975 Tiragem: Tiragem: 3000 exemplares Distribuição Gratuita<br />

Praça Roosevelt, 82 Consolação CEP 01303-020 São Paulo SP<br />

Telefone: (11) 3258-7457 Fax: (11) 3151-5655 camarim@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br<br />

3


serviços<br />

Nova se<strong>de</strong><br />

◗ A SEDE PRÓPRIA DA COOPERATIVA já é uma realida<strong>de</strong>. Depois<br />

<strong>de</strong> meses <strong>de</strong> procura, o novo en<strong>de</strong>reço da CPT já está confirmado:<br />

Praça Dom José Gaspar, 30 – 4º andar. As reformas no<br />

local já estão sendo feitas e, em breve, a mudança será anunciada.<br />

Fique atento!<br />

4<br />

Carlos Biaggiolli, Alexandre Terreri,<br />

Roberto Rosa, Cenne Gotts (da nova<br />

diretoria) e Luiz Amorim, ex-presi<strong>de</strong>nte da<br />

<strong>Cooperativa</strong> (ao centro), durante posse da<br />

nova diretoria no prédio da nova se<strong>de</strong><br />

Atualização cadastral<br />

◗ A COOPERATIVA está promovendo uma atualização no cadastro<br />

dos cooperados, para facilitar o atendimento. Por isso, não <strong>de</strong>ixe<br />

<strong>de</strong> entrar em contato com a Thaís, no telefone 3258-7457, ramal<br />

204 para informar dados como seu e-mail, en<strong>de</strong>reço e telefone.<br />

Biblioteca da CPT<br />

◗ A NOVA SEDE DA CPT vai contar com uma biblioteca, para que<br />

os cooperados possam realizar consultas a livros e outras publicações<br />

relacionadas a teatro. Por isso, se você quiser doar algum<br />

material para fazer parte do novo acervo, entre em contato com a<br />

Mayra. São aceitos livros sobre artes cênicas, revistas, textos teatrais<br />

e publicações em geral.


A hora da cultura<br />

MANIFESTO<br />

◗ HÁ DOIS ANOS o Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio<br />

Lula da Silva foi eleito portador e representante<br />

da esperança e dos sonhos dos milhões<br />

<strong>de</strong> cidadãs e cidadãos brasileiros que acreditavam<br />

ter chegado a hora <strong>de</strong> verem concretizadas<br />

as lutas empreendidas pela socieda<strong>de</strong><br />

civil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos da ditadura militar, por<br />

uma socieda<strong>de</strong> justa e <strong>de</strong>mocrática. Papel<br />

importante e singular teve a área cultural e,<br />

em particular, o <strong>Teatro</strong> nas lutas sócio-políticas<br />

pela <strong>de</strong>mocratização.<br />

Hoje assistimos, estarrecidos, à incompreensão<br />

por parte dos responsáveis e gestores executivos<br />

da Política e do Orçamento Público, que<br />

tratam a área cultural como se nenhuma importância<br />

tivesse para a Socieda<strong>de</strong>. A exemplo<br />

das políticas gestadas em governos anteriores,<br />

os trabalhadores e trabalhadoras da cultura ainda<br />

são vistos como criadores <strong>de</strong> Mercadorias.<br />

Continuamos entregues às regras injustas e discricionárias<br />

do Mercado. Continuam a imperar<br />

os guichês que, em sua tradição secular, favorecem<br />

apenas aqueles que têm acesso ao po<strong>de</strong>r e<br />

aos que administram a “coisa” pública. A censura<br />

política, outrora responsável pela tutela e<br />

pela <strong>de</strong>finição do que era ou não cultura, tornou-se<br />

obsoleta diante da censura econômica<br />

existente e exercida através das Leis <strong>de</strong> Incentivos,<br />

que proliferam pelo país. A conseqüência<br />

mais visível é a permanência do recorte <strong>de</strong> classe,<br />

que <strong>de</strong>fine o verda<strong>de</strong>iro apartheid cultural<br />

em que vivemos, e que divi<strong>de</strong> a socieda<strong>de</strong> entre<br />

os brasileiros e brasileiras que po<strong>de</strong>m usufruir<br />

da produção artística e aqueles – ampla maioria<br />

– que não o po<strong>de</strong>m.<br />

Quando são agitadas as ban<strong>de</strong>iras das reivindicações<br />

populares do DIREITO À CULTU-<br />

RA, nos acenam com as promessas <strong>de</strong> um porvir.<br />

No entanto, exercendo o ofício da arte, sabemos<br />

não haver futuro se não trabalharmos<br />

CONVOCAÇÃO<br />

O texto <strong>de</strong>sse manifesto circula em todo país, seguido <strong>de</strong> um abaixoassinado<br />

reivindicando o imediato <strong>de</strong>scongelamento e o aumento para<br />

2% do orçamento da União para Cultura. Grupos e artistas <strong>de</strong>vem<br />

retirar cópia na se<strong>de</strong> da <strong>Cooperativa</strong>. Maiores informações 3258-7457.<br />

com a matéria presente. Por isso, tendo exercido<br />

a paciência e a compreensão que nos exigiu<br />

o tempo histórico, é chegada a hora <strong>de</strong> virmos a<br />

público expor à socieda<strong>de</strong> o <strong>de</strong>scaso com a área<br />

cultural e, em particular, com as Artes Cênicas.<br />

Para reverter este quadro exigimos:<br />

✔ Lançamento e execução imediata dos editais<br />

para os programas “Myriam Muniz” e<br />

“Klaus Viana” <strong>de</strong> fomento às Artes Cênicas,<br />

já articulados pela Funarte.<br />

✔ Implementação e manutenção <strong>de</strong> ações públicas<br />

que possam reverter a crise pela qual atravessam<br />

as Artes Cênicas, com programas <strong>de</strong> fomento<br />

à criação, fruição e circulação, para além<br />

da perspectiva mercadológica, e que se <strong>de</strong>stinem<br />

ao usufruto da maioria da população brasileira.<br />

✔ Abertura do Fundo Nacional <strong>de</strong> Cultura,<br />

<strong>de</strong> forma transparente e <strong>de</strong>mocrática, propiciando<br />

o acesso da socieda<strong>de</strong> civil ao FNC.<br />

✔ Estímulo às Políticas Públicas para a área<br />

cultural que permitam <strong>de</strong> fato o acesso universal<br />

<strong>de</strong> todos aqueles que criam o “bem simbólico”<br />

nacional, e não apenas da elite que<br />

vem se beneficiando das ações pontuais e<br />

discriminatórias do Estado.<br />

✔ Neste sentido: reformulação das Leis <strong>de</strong><br />

Incentivo para que cumpram o fim <strong>de</strong>terminado<br />

para o qual foram criadas.<br />

✔ Democratização do acesso aos mecanismos<br />

<strong>de</strong> apoio e patrocínio das ESTATAIS e<br />

estímulo à criação <strong>de</strong> editais com comissões<br />

públicas e compartilhadas <strong>de</strong> julgamento, por<br />

mérito, dos projetos.<br />

✔ Concretização das ações em discussão no<br />

Ministério da Cultura, com o envolvimento<br />

do Congresso Nacional, transformando-as em<br />

Leis que regulamentem a ação governamental<br />

no âmbito da União, do Estado e dos Municípios,<br />

tendo em consi<strong>de</strong>ração a diversida<strong>de</strong><br />

e pluralida<strong>de</strong> da realida-<br />

<strong>de</strong> brasileira.<br />

✔ Ampliação e aplicação<br />

real do orçamento do Ministério<br />

da Cultura, que possa<br />

aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas do país.<br />

5<br />

palavra da cooperativa


política cultural<br />

Políticas <strong>de</strong> Estado para a cultura<br />

em compasso <strong>de</strong> espera<br />

A nova diretoria da <strong>Cooperativa</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> tomou posse em<br />

maio. Leia a seguir o discurso <strong>de</strong> posse do novo presi<strong>de</strong>nte, em<br />

que faz uma análise do atual panorama da política cultural<br />

6<br />

“Não apenas a rotinização da cultura,<br />

mas a tentativa consciente <strong>de</strong> arrancá-la<br />

dos grupos privilegiados para transformála<br />

em fator <strong>de</strong> humanização da maioria,<br />

através <strong>de</strong> instituições planejadas”.<br />

Antonio Candido, no prefácio <strong>de</strong><br />

Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> por ele mesmo, <strong>de</strong><br />

Paulo Duarte<br />

◗ A ANOTAÇÃO DE ANTONIO CANDIDO a respeito<br />

do projeto <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> à frente<br />

do Departamento <strong>de</strong> Cultura na São Paulo<br />

dos anos 30 permanece como indicativo<br />

<strong>de</strong> uma tarefa insuperada. Nesta síntese<br />

exemplar, Candido aponta as idéias mestras<br />

<strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> gestão que alinhava a um só<br />

tempo a clara posição política e a visada estratégica<br />

que ainda hoje o Estado insiste em<br />

ignorar. Setenta anos <strong>de</strong>pois, Governo fe<strong>de</strong>ral,<br />

Estados e Municípios assumem francamente<br />

o lavar as mãos diante da tarefa constitucional<br />

<strong>de</strong> tratar os bens culturais, sua criação,<br />

fruição e difusão como direito da socieda<strong>de</strong><br />

inteira. A arte, a formação artística<br />

e a participação na discussão do pensamento<br />

permanecem como latifúndios<br />

simbólicos exclusivos das elites.<br />

A exemplo do processo social brasileiro<br />

visto integralmente, o momento<br />

atual só confirma, no campo da<br />

produção artística, os enormes<br />

contrastes criados com a mer-<br />

cantilização que se<br />

esten<strong>de</strong> por todas<br />

as áreas do fazer.<br />

No caso específico<br />

das políticas <strong>de</strong> in-<br />

Chico Cabreira<br />

transfere o cargo a<br />

Ney Piacentini, na<br />

cerimônia <strong>de</strong> posse<br />

da nova diretoria<br />

cremento à criação, sofisticou-se e legitimouse<br />

a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> um instrumento<br />

jurídico que legaliza a transferência dos<br />

<strong>de</strong>veres do Estado para a iniciativa privada.<br />

As Leis <strong>de</strong> Incentivo, cujo mo<strong>de</strong>lo é a Lei<br />

Sarney, criada em meados dos anos 80, multiplicam<br />

nas diversas legislações regionais<br />

Brasil a<strong>de</strong>ntro um paradigma que não só perpetua<br />

a injustiça no uso do dinheiro público<br />

como normaliza certa visão elitista e privilegiada<br />

do que seja a cultura.<br />

O que se po<strong>de</strong> ver com a maior clareza é o<br />

<strong>de</strong>svio, <strong>de</strong>vidamente legitimado, do recurso


público, para ativida<strong>de</strong>s quase sempre <strong>de</strong><br />

apelo midiático e <strong>de</strong> promoção das marcas<br />

empresariais. Essa dinâmica só tem reforçado<br />

o verda<strong>de</strong>iro apartheid entre os que po<strong>de</strong>m<br />

vivenciar – como criadores ou fruidores<br />

– os bens artísticos e culturais e os que<br />

permanecem, como sempre estiveram, à<br />

margem do processo da invenção e do investimento<br />

nas potencialida<strong>de</strong>s criativas.<br />

O governo Lula, rendido ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>scrito<br />

acima, anuncia que a captação <strong>de</strong> recursos<br />

via Lei Rouanet cresceu em 2004 cer-<br />

ca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z por cento em comparação com o<br />

ano anterior. Não interessa discutir o mo<strong>de</strong>lo,<br />

apenas apontar os resultados. Por outro<br />

lado o governo fe<strong>de</strong>ral, na mais acertada<br />

intenção <strong>de</strong> criar canais mistos <strong>de</strong> discussão,<br />

convoca fóruns e seminários, cria<br />

as câmaras setoriais para organizar e <strong>de</strong>bater<br />

<strong>de</strong>mandas. Mas a macro-política cuida<br />

<strong>de</strong> inutilizar estas ações. É que na paralela<br />

o Minc trabalha com a perspectiva <strong>de</strong> acomodar-se<br />

ao contingenciamento <strong>de</strong> recursos<br />

do já minguadíssimo orçamento.<br />

Na esfera estadual o problema se acentua.<br />

Até o momento, a Secretaria <strong>de</strong> Estado da<br />

Cultura não lançou nenhum programa público<br />

para a área teatral, contentando-se em<br />

manter apenas dois projetos dirigidos ao teatro<br />

não profissional. Para emoldurar o quadro<br />

já lastimável a Secretaria vem criando<br />

contratos com Organizações Sociais para a<br />

gerência dos teatros do Estado. Como nos<br />

melhores exemplos da administração privada,<br />

a escolha dos parceiros não passou por<br />

editais ou concorrência – o que até po<strong>de</strong> ser<br />

permitido por Lei, mas <strong>de</strong>nuncia uma política<br />

centralizadora e anti-<strong>de</strong>mocrática na condução<br />

da coisa pública. Enquanto a socieda<strong>de</strong><br />

civil luta pela implantação do Fundo Estadual<br />

<strong>de</strong> Cultura, elaborado e discutido por<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe <strong>de</strong> todo o Estado,<br />

a Secretaria continua apoiando-se em<br />

um ou outro evento, sem a organicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um projeto, necessário e até aqui inexistente,<br />

que <strong>de</strong>fina uma verda<strong>de</strong>ira política cultural.<br />

A esta altura ações ainda muito isoladas,<br />

estruturadas em programas como a Lei <strong>de</strong><br />

Fomento ao <strong>Teatro</strong> para a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo,<br />

criam paradigmas alternativos <strong>de</strong> incremento<br />

à produção. Devolvem ao po<strong>de</strong>r público<br />

a responsabilida<strong>de</strong> por mediar as relações,<br />

assimilam o fenômeno dos coletivos <strong>de</strong><br />

trabalho e da pesquisa como foco <strong>de</strong> investimento,<br />

<strong>de</strong>mocratizam as instâncias <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

e oportunizam o acesso da população à<br />

matéria artística. Aos olhos da nova gestão<br />

municipal o programa soou como um escândalo,<br />

a ponto <strong>de</strong> ser colocado, ilegalmente,<br />

em suspensão, para agora ser inseguramente<br />

retomado, sob a pressão dos artistas.<br />

O fato é que se em geral qualquer plano<br />

<strong>de</strong> ação precisa eleger priorida<strong>de</strong>s, em um<br />

país com <strong>de</strong>mandas sócio-culturais tão extraordinárias<br />

como o Brasil a priorida<strong>de</strong> é<br />

uma exigência. No teatro ou em outras áreas<br />

da expressão artística e cultural o Estado<br />

tem que assumir com firmeza aquela tarefa<br />

civilizatória <strong>de</strong> rotinizar a cultura na<br />

perspectiva da justiça social. Planejar ações<br />

para <strong>de</strong>sconcentrar privilégios e disseminar<br />

as oportunida<strong>de</strong>s que vão <strong>de</strong>finir, por fim, a<br />

<strong>de</strong>mocratização verda<strong>de</strong>ira da arte. Por enquanto<br />

avançamos <strong>de</strong>vagar e permanecemos<br />

quase em compasso <strong>de</strong> espera.<br />

Ney Piacentini é ator da Companhia do<br />

Latão, presi<strong>de</strong>nte da <strong>Cooperativa</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong>, vice-presi<strong>de</strong>nte do Conselho<br />

Municipal <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> São Paulo e<br />

representante paulista na Câmara Setorial <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong> do Ministério da Cultura<br />

7


política cultural<br />

Mobilização Permanente<br />

A luta continua face à in<strong>de</strong>finição do governo<br />

Por Renata <strong>de</strong> Albuquerque<br />

◗ MAIS UMA VEZ, no último dia 21 <strong>de</strong> junho,<br />

artistas <strong>de</strong> diversas áreas estiveram reunidos<br />

na Assembléia na expectativa <strong>de</strong> votação<br />

do Projeto <strong>de</strong> Lei para o Fundo Estadual<br />

<strong>de</strong> Arte e Cultura. A votação não ocorreu.<br />

Por conta <strong>de</strong> um indicativo do Secretário<br />

<strong>de</strong> Cultura do Estado, João Batista <strong>de</strong><br />

8<br />

Andra<strong>de</strong>, adiou-se a votação, no esforço <strong>de</strong><br />

mais um acordo. Em resposta à mobilização,<br />

os artistas saíram com a promessa <strong>de</strong> que na<br />

semana seguinte, dia 28, o Secretário, em<br />

audiência na Assembléia, apresentaria proposta<br />

<strong>de</strong> lei do governo – um misto <strong>de</strong> lei <strong>de</strong><br />

incentivo e fundo público, ainda in<strong>de</strong>finido.<br />

Até o início <strong>de</strong> junho, parecia possível<br />

ver um horizonte mais claro para o pro-<br />

Ocupação artística do Plenário da Assembléia Legislativa do Estado <strong>de</strong> São Paulo, em 11 <strong>de</strong> abril


jeto do Fundo Estadual <strong>de</strong> Arte e Cultura.<br />

Em 11 <strong>de</strong> abril, o plenário da Assembléia<br />

Legislativa do Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

ficou lotado por causa da “Ocupação Cultural”<br />

feita pela “classe” artística, que homenageou<br />

Danilo Miranda, José Renato<br />

e Raul Cortês. Na ocasião, estavam presentes<br />

representantes <strong>de</strong> 42 municípios<br />

paulistas, <strong>de</strong>monstrando que a aprovação<br />

do Fundo não é uma <strong>de</strong>manda apenas da<br />

capital, mas que é apoiada por diversas<br />

esferas do Po<strong>de</strong>r Público. Afinal, o projeto<br />

do Fundo é suprapartidário, foi assinado<br />

por 67 <strong>de</strong>putados, incluindo li<strong>de</strong>ranças<br />

da Assembléia, e contempla todas as<br />

áreas artísticas.<br />

Uma amostra <strong>de</strong> que a preocupação vai<br />

além dos limites da capital paulista são as<br />

Audiências Públicas que começaram a ser<br />

feitas em maio, em diversas cida<strong>de</strong>s do interior<br />

do Estado. As prefeituras das cida<strong>de</strong>s<br />

convidam e membros da Comissão Pró-<br />

Fundo vão até os locais, discutir o projeto<br />

e falar sobre ele com o po<strong>de</strong>r público e com<br />

outras pessoas que têm interesse no assunto.<br />

Bauru, Campinas e São Carlos são<br />

exemplos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s que abriram suas portas<br />

para essa discussão. “A idéia é conscientizar<br />

a respeito do Fundo, que vai servir<br />

a todos”, afirma Alexandre Terreri, membro<br />

da Comissão Pró-Fundo, presi<strong>de</strong>nte do<br />

Cepetij e segundo tesoureiro da <strong>Cooperativa</strong><br />

<strong>Paulista</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>. “O Fundo vai promover<br />

uma <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> recursos,<br />

que serão <strong>de</strong>stinados ao interior”, completa<br />

Luiz Carlos Moreira, também membro<br />

da Comissão Pró-Fundo.<br />

Outro indício <strong>de</strong> que a situação era favorável<br />

era que o Presi<strong>de</strong>nte da Assembléia,<br />

<strong>de</strong>putado Rodrigo Garcia (PFL-SP), recebeu<br />

representantes da Comissão e comprometeu-se<br />

a colocar o projeto em votação.<br />

“Basta o governador não vetar”, ressaltou<br />

Terreri na ocasião.<br />

Um novo Secretário <strong>de</strong> Cultura do Estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo, o cineasta João Batista <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, assumiu o cargo, e acreditava-se<br />

que ele fosse favorável ao Fundo e que pu<strong>de</strong>sse<br />

auxiliar para que o projeto fosse aprovado.<br />

“Não sou porta-voz <strong>de</strong> ninguém, mas<br />

pelo que conheço do novo secretário, acredito<br />

que temos um interlocutor honesto e<br />

lúcido, que vai <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o mesmo que nós”,<br />

afirmou Moreira na ocasião.<br />

Apesar dos indícios <strong>de</strong> boas notícias,<br />

já o primeiro prazo para que a votação<br />

acontecesse, no mês <strong>de</strong> maio, foi adiado.<br />

A data foi prorrogada para junho. E,<br />

em Junho, diante das manobras internas<br />

à Assembléia e sua bancada ligada ao<br />

executivo, mais uma vez viu-se o adiamento<br />

da votação e a evidência <strong>de</strong> que<br />

é cada vez mais urgente a discussão sobre<br />

o que seja um programa público realmente<br />

distinto <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong>sse ou<br />

daquele governo.<br />

9


política cultural<br />

Leia a seguir um texto, contendo as<br />

linhas gerais do projeto <strong>de</strong> lei<br />

apresentado pelas diversas entida<strong>de</strong>s.<br />

SOBRE O FUNDO<br />

A exemplo da lei <strong>de</strong> Fomento ao <strong>Teatro</strong>, votada<br />

na Câmara Municipal <strong>de</strong> São Paulo, tratase<br />

<strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> lei apresentado à Assembléia<br />

Legislativa, para todo o Estado, por intermédio<br />

<strong>de</strong> 67 <strong>de</strong>putados <strong>de</strong> todos os partidos.<br />

O Fundo se articula com uma proposta<br />

<strong>de</strong> organizar a política pública <strong>de</strong> arte e<br />

cultura sobre três colunas:<br />

1) Projetos <strong>de</strong> governo.<br />

2) Programas públicos estabelecidos em<br />

lei, como as leis <strong>de</strong> incentivo ou o Programa<br />

Municipal <strong>de</strong> Fomento ao <strong>Teatro</strong>.<br />

3) Fundos municipais, estaduais e fe<strong>de</strong>ral.<br />

Em complemento aos programas, o Fundo<br />

surge como uma base <strong>de</strong> sustentação<br />

mais abrangente, mais aberta e flexível,<br />

voltado para todas as áreas e sempre com<br />

recursos para aqueles que criam e produzem,<br />

sem intermediários.<br />

I. SOBRE OS RECURSOS<br />

O FUNDO <strong>de</strong>verá ter um pouco mais <strong>de</strong><br />

100 milhões <strong>de</strong> reais consignados no orçamento<br />

da Secretaria <strong>de</strong> Estado da Cultura,<br />

corrigidos anualmente (o artigo 2 fala em<br />

8.700.000 UFESPs). Há outras fontes <strong>de</strong><br />

recursos no artigo 3.<br />

II. PARA ONDE VAI O DINHEIRO<br />

DO FUNDO<br />

O FUNDO <strong>de</strong>stina recursos para a pesquisa,<br />

criação e circulação <strong>de</strong> obras e ativida<strong>de</strong>s<br />

artísticas e/ou culturais através <strong>de</strong>:<br />

a) Projetos <strong>de</strong> artistas e produtores culturais,<br />

pessoas físicas ou jurídicas, com ou<br />

sem fins lucrativos, que ficam com 81%<br />

dos recursos.<br />

b) Incentivo às Prefeituras para investir<br />

em cultura através <strong>de</strong> programas públicos<br />

municipais, estabelecidos através <strong>de</strong> leis que<br />

também se <strong>de</strong>stinam a artistas e produtores<br />

locais, que po<strong>de</strong>m ficar com até 10% dos<br />

recursos do FUNDO.<br />

c) Ações estratégicas, que po<strong>de</strong>m ser projetos<br />

da socieda<strong>de</strong>, programas públicos, ações<br />

10<br />

ou projetos <strong>de</strong> governos municipais, estadual<br />

ou fe<strong>de</strong>ral, da administração direta ou indireta,<br />

que ficam com 07% dos recursos.<br />

d) Os 2% restantes vão para a própria<br />

administração e manutenção do FUNDO.<br />

SOBRE OS PROJETOS<br />

Os interessados <strong>de</strong>vem se inscrever através<br />

<strong>de</strong> editais públicos, em janeiro e julho<br />

<strong>de</strong> cada ano (cada interessado concorre<br />

com os outros interessados da sua Região<br />

Administrativa, área e edital). Assim, os<br />

editais serão criados (ou repetidos) duas<br />

vezes por ano. Quem cria os editais é o<br />

CONSELHO DE ARTE E CULTURA DO<br />

FUNDO (ver mais à frente). Quem julga<br />

são COMISSÕES JULGADORAS (ver<br />

mais à frente). Haverá editais para as áreas<br />

abaixo, com a seguinte distribuição dos 81%<br />

dos recursos do FUNDO:<br />

1. Artes Visuais: 8%;<br />

2. Áudio-visual: 20%;<br />

3. Circo: 6%;<br />

4. Cultura Popular: 8%;<br />

5. Dança: 6%;<br />

6. Literatura: 8%;<br />

7. Música: 11%;<br />

8. Hip-Hop: 3%;<br />

9. <strong>Teatro</strong>: 11%.<br />

Esse dinheiro será distribuído para todas<br />

as Regiões Administrativas do Estado <strong>de</strong><br />

forma proporcional à quantida<strong>de</strong> da população<br />

em cada uma. Se o dinheiro <strong>de</strong> uma<br />

área não for usado por uma região, será alocado<br />

para a mesma área <strong>de</strong> outra região.<br />

O FUNDO prevê alternativas para projetos<br />

que não se encaixam, especificamente,<br />

em uma área e para projetos que envolvam<br />

mais <strong>de</strong> uma área.<br />

SOBRE O INCENTIVO ÀS<br />

PREFEITURAS<br />

O FUNDO po<strong>de</strong> aplicar, anualmente, até<br />

10% <strong>de</strong> seus recursos em parcerias entre o<br />

Estado e as Prefeituras. Para receber apoio financeiro,<br />

o Município também tem que investir<br />

em artistas e produtores locais através<br />

<strong>de</strong> editais ou semelhantes, estabelecidos em<br />

programas públicos criados por lei, além <strong>de</strong><br />

criar um Conselho Municipal <strong>de</strong> Cultura.


Quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> sobre esses recursos é o<br />

CONSELHO DE ARTE E CULTURA DO<br />

FUNDO (a cada semestre). Não havendo<br />

interesse das Prefeituras, ou por <strong>de</strong>cisão do<br />

CONSELHO, essa verba vai, no todo ou<br />

parcialmente, para os editais <strong>de</strong> projetos ou<br />

para as ações estratégicas.<br />

SOBRE AS AÇÕES<br />

ESTRATÉGICAS<br />

Anualmente, 07% dos<br />

recursos do FUNDO vão<br />

para ações estratégicas,<br />

que também serão <strong>de</strong>finidas<br />

e <strong>de</strong>cididas pelo<br />

CONSELHO em função<br />

do início e do meio<br />

do ano.<br />

É um dinheiro que<br />

po<strong>de</strong> ser aplicado em<br />

projetos do governo<br />

(municipal, estadual,<br />

fe<strong>de</strong>ral, administração<br />

direta ou indireta), em<br />

projetos da socieda<strong>de</strong>,<br />

editais ou ações que o<br />

próprio CONSE-<br />

LHO criar.<br />

Trata-se <strong>de</strong> alocar recursos em uma ou<br />

mais áreas, regiões ou propostas consi<strong>de</strong>radas<br />

fundamentais ou emergenciais em cada<br />

momento.<br />

III. AS DECISÕES FUNDAMENTAIS<br />

Todas as <strong>de</strong>cisões são tomadas pelo CON-<br />

SELHO DE ARTE E CULTURA DO<br />

FUNDO, on<strong>de</strong> o Governo tem maioria. O<br />

CONSELHO é formado por:<br />

1) Secretário <strong>de</strong> Estado da Cultura ou seu<br />

representante, que é o Presi<strong>de</strong>nte e tem o<br />

voto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempate.<br />

2) 9 membros indicados pelo Secretário.<br />

3) 9 membros eleitos por entida<strong>de</strong>s.<br />

Cada membro indicado pelo Secretário<br />

tem que ser pessoa <strong>de</strong> notório saber em uma<br />

das áreas e o mesmo vale para os membros<br />

eleitos pelas entida<strong>de</strong>s.<br />

Cada entida<strong>de</strong> representativa, <strong>de</strong> caráter<br />

regional, estadual ou nacional, com<br />

se<strong>de</strong> ou seccional no Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

há mais <strong>de</strong> três anos na data da indicação,<br />

po<strong>de</strong> indicar um nome para cada área que<br />

representar. Todas as entida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> todas<br />

as áreas, po<strong>de</strong>m votar em até dois nomes<br />

indicados para cada área. O nome mais<br />

votado por área e que tenha, pelo menos,<br />

os votos <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> mais uma <strong>de</strong> todas as<br />

entida<strong>de</strong>s que votaram, vai para o CON-<br />

SELHO junto com<br />

os representantes<br />

do Secretário.<br />

IV. AS COMIS-<br />

SÕES JULGADO-<br />

RAS DOS EDI-<br />

TAIS<br />

Cada edital terá<br />

uma COMISSÃO<br />

JULGADORA composta<br />

<strong>de</strong> cinco membros<br />

<strong>de</strong> notório saber<br />

na área:<br />

1) 03 membros nomeados<br />

pelo Secretário<br />

<strong>de</strong> Estado da Cultura,<br />

que indicará, <strong>de</strong>ntre<br />

eles, o Presi<strong>de</strong>nte, que só<br />

terá direito ao voto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempate.<br />

2) 02 membros eleitos a partir <strong>de</strong> indicação<br />

<strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s.<br />

As entida<strong>de</strong>s representativas na área, <strong>de</strong><br />

caráter regional, estadual ou nacional, com<br />

se<strong>de</strong> ou seccional no Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

há mais <strong>de</strong> três anos na data da indicação,<br />

po<strong>de</strong>rão indicar até quatro nomes para a<br />

COMISSÃO.<br />

Os interessados inscritos no edital votam<br />

em até dois nomes das listas indicadas pelas<br />

entida<strong>de</strong>s. O nome mais votado vai para<br />

a COMISSÃO junto com os representantes<br />

do Secretário.<br />

TANTO PARA O CONSELHO<br />

COMO PARA AS COMISSÕES:<br />

Em caso <strong>de</strong> vacância, não havendo indicação<br />

<strong>de</strong> entida<strong>de</strong>, em caso <strong>de</strong> empate ou<br />

na falta <strong>de</strong> nome que obtenha o apoio das<br />

entida<strong>de</strong>s, cabe ao Secretário <strong>de</strong>cidir e escolher<br />

o nome que ocupará a vaga.<br />

11


ta<strong>de</strong>usz kantor<br />

O trabalho <strong>de</strong> <strong>Kantor</strong><br />

12<br />

<strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong> (1915-1990)<br />

<strong>Kantor</strong> em cena no espetáculo<br />

Wielopole-Wielopole, 1980


Por Michal Kobialka<br />

Tradução <strong>de</strong> Jorge Will<br />

◗ TADEUSZ KANTOR, artista plástico polonês,<br />

teórico e diretor teatral, fundador (com<br />

Maria Jarema) da companhia teatral CRI-<br />

COT 2 (1955), nasceu em Wielopole, Polônia.<br />

Foi educado em Tarnóvia e Cracóvia.<br />

Quando estudou pintura e cenografia na<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Belas Artes <strong>de</strong> Cracóvia (1933<br />

-1939), <strong>Kantor</strong> conheceu o simbolismo, o<br />

construtivismo e Bauhaus. Em 1938, ele<br />

fundou o <strong>Teatro</strong> Ephemeric (Mecânico),<br />

on<strong>de</strong> apresentou A Morte <strong>de</strong> Tintagiles <strong>de</strong><br />

Maurice Materlinck. Em 1942, com um<br />

grupo <strong>de</strong> pintores jovens, <strong>Kantor</strong> organizou<br />

o <strong>Teatro</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, clan<strong>de</strong>stino e<br />

experimental, durante a ocupação nazista,<br />

on<strong>de</strong> ele dirigiu Balladyna <strong>de</strong> Juliusz Slowacki<br />

(1942) e O Retorno <strong>de</strong> Ulisses <strong>de</strong> Stanislow<br />

Wyspianski. Como citado por <strong>Kantor</strong><br />

em sua “Lição 1” <strong>de</strong> As Lições Milanesas,<br />

esta produção foi fundamental para a<br />

elaboração dos seus conceitos sobre espaço<br />

autônomo <strong>de</strong> performance, objeto pobre,<br />

ator-objeto, e “realida<strong>de</strong> da vida” (“realida<strong>de</strong><br />

do mais baixo calão”):<br />

1944. CRACÓVIA. TEATRO CLANDESTINO. O RE-<br />

TORNO DE ULISSES DO SÍTIO DE ESTALINGRADO.<br />

O abstracionismo, que existiu na Polônia<br />

até o inicio da II Guerra Mundial, <strong>de</strong>sapareceu<br />

no período do genocídio em<br />

massa. [...]<br />

A arte per<strong>de</strong>u seu po<strong>de</strong>r.<br />

A re-produção estética per<strong>de</strong>u seu po<strong>de</strong>r.<br />

O ódio <strong>de</strong> um ser humano apoiado por outras<br />

bestas humanas amaldiçoou a A R T E.<br />

Só tínhamos força para agarrar o que estava<br />

mais próximo,<br />

O OBJETO REAL<br />

e chamá-lo <strong>de</strong> obra <strong>de</strong> arte!<br />

No entanto, era um objeto P O B R E, incapaz<br />

<strong>de</strong> realizar qualquer função na vida real,<br />

um objeto a ser <strong>de</strong>scartado.<br />

Um objeto que foi <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> uma função<br />

vital que o salvaria.<br />

Um objeto <strong>de</strong>spojado, sem função,<br />

a r t í s t i c o! [...]<br />

Uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> cozinha …<br />

Um objeto, que foi esvaziado <strong>de</strong> qualquer<br />

função vital, veio à tona pela primeira vez<br />

na história.<br />

Este objeto era vazio.<br />

Tinha que justificar sua existência a si<br />

mesmo e não às coisas que o cercavam e<br />

lhe eram estranhas.<br />

[E o fazendo, o objeto] revelava sua própria<br />

existência.<br />

E quando sua função era imposta a ele, essa<br />

ação era vista como se isso tivesse acontecido<br />

pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento da criação.<br />

Em O Retorno <strong>de</strong> Ulisses, Penélope, sentada<br />

em uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> cozinha, representou o<br />

ato <strong>de</strong> estar “sentada” como um ato humano<br />

acontecendo pela primeira vez. O objeto<br />

[físico] adquiriu sua função histórica, filosófica<br />

e a r t í s t i c a ! 1<br />

Os experimentos <strong>de</strong> 1944 e 1963 fecham<br />

o período no qual <strong>Kantor</strong> questiona as convenções<br />

<strong>de</strong> criação ou exibição artística vigentes,<br />

e, <strong>de</strong>vido à experiência da II Guerra<br />

Mundial, modifica a função <strong>de</strong> uma vanguarda<br />

artística numa socieda<strong>de</strong>.<br />

Estes experimentos colocam em xeque as<br />

narrativas históricas oficiais que encontram<br />

um modo efetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar o questionamento<br />

<strong>de</strong> Adorno sobre o que significa representar<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Auschwitz. Assim, por<br />

exemplo, em O Retorno <strong>de</strong> Ulisses, em 1944,<br />

“Ulisses se recusa categoricamente a ser apenas<br />

uma imagem, uma representação. [...]<br />

em tempos <strong>de</strong> loucura gerada pelos homens,<br />

em tempos <strong>de</strong> guerra, a morte e suas trupes<br />

tenebrosas, que se recusaram a ser impedidas<br />

pelos sentidos humanos e racionais, iniciando<br />

e confundindo-se com a esfera da<br />

vida” 2 . A emoção do drama e seu caráter<br />

mitológico foram atirados e fundidos com a<br />

vida contemporânea. A peça foi representada<br />

não em um teatro, mas sim em uma sala<br />

que “estava <strong>de</strong>struída. Havia guerra e havia<br />

milhares <strong>de</strong> salas assim. Todas se pareciam:<br />

tijolos sem reboco por trás <strong>de</strong> uma camada<br />

<strong>de</strong> tinta, gesso caindo do teto, piso faltando<br />

tacos, pacotes abandonados cobertos <strong>de</strong> poeira,<br />

entulho espalhado por todos os lados,<br />

pranchas remanescentes <strong>de</strong> um convés <strong>de</strong><br />

navio foram dispensadas ao horizonte <strong>de</strong>ssa<br />

<strong>de</strong>coração, um tambor <strong>de</strong> revólver apoiado<br />

num monte <strong>de</strong> pedaços <strong>de</strong> ferro, um megafone<br />

militar pendurado por um cabo <strong>de</strong> aço<br />

enferrujado. A figura inclinada <strong>de</strong> um soldado<br />

com capacete usando um sobretudo<br />

surrado [<strong>de</strong> um soldado alemão] em pé con-<br />

13


ta<strong>de</strong>usz kantor<br />

tra a pare<strong>de</strong>. Nesse dia, seis <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1944,<br />

ele se tornou parte <strong>de</strong>ssa sala” 3 . Em 1963, os<br />

objetos exibidos tornaram irrelevante qualquer<br />

tentativa classificatória <strong>de</strong> localizá-los<br />

no espaço ou seqüência temporal sistematizando-os<br />

em uma unificadora totalida<strong>de</strong>. Ao<br />

contrário, os objetos rearticularam suas funções<br />

nas relações, que aconteceram aci<strong>de</strong>ntalmente,<br />

e que não po<strong>de</strong>riam ser previstas<br />

por nenhuma norma – “a ditadura da utilida<strong>de</strong>”<br />

é vencida; o objeto que estava <strong>de</strong>spido<br />

da segurança da sua estrutura original a<br />

que pertence, “começa uma discreta relação<br />

possível com seus semelhantes” 4 .<br />

Para conseguir isso, <strong>Kantor</strong> explora o processo<br />

<strong>de</strong> incorporação na ativida<strong>de</strong> artística<br />

<strong>de</strong> objetos encontrados, ou seja, os objetos,<br />

os eventos e o ambiente. Esta realida<strong>de</strong><br />

não subjugada à mo<strong>de</strong>lagem artística ou<br />

necessida<strong>de</strong>s formais. Não funciona como<br />

mo<strong>de</strong>lo, que existe anterior à obra <strong>de</strong> arte,<br />

e, conseqüentemente, não correspon<strong>de</strong> a<br />

nenhuma convenção <strong>de</strong> representação.<br />

Conforme <strong>Kantor</strong> observou:<br />

Realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> apenas ser<br />

“u s a d a”<br />

“Usada” é o único termo apropriado<br />

fazer uso da realida<strong>de</strong><br />

na a r t e<br />

significa<br />

uma apropriação da realida<strong>de</strong>. [...]<br />

Durante esse processo<br />

a realida<strong>de</strong><br />

t r a n s g r i d e<br />

sua própria b a r r e i r a<br />

e caminha na direção do<br />

“i m p o s s í v e l”<br />

A realida<strong>de</strong> apropriada contem em si mesma<br />

objetos reais<br />

situações<br />

e um ambiente <strong>de</strong>scrito<br />

pelo tempo e lugar.<br />

Suas r e a ç õ e s entre si,<br />

as i n t e r c o n e x õ e s entres eles<br />

a apropriação g e s t u a l<br />

do (como se, encantando a realida<strong>de</strong>)<br />

r i t u a l<br />

são substituídos<br />

pelo processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem<br />

que está fora <strong>de</strong> questão aqui 5 .<br />

A estratégia da apropriação da realida<strong>de</strong><br />

significa o processo <strong>de</strong> arrancar os objetos da<br />

realida<strong>de</strong> para explorar sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ob-<br />

14<br />

jeto no meio on<strong>de</strong> eles adquiriram suas funções<br />

na relação com outros elementos colocados<br />

nesse espaço 6 . Portanto, os objetos são<br />

<strong>de</strong>scaracterizados e não conceituais no enten<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> Adorno sobre os princípios que regem<br />

as obras <strong>de</strong> arte autônomas 7 . O foco está em<br />

suas estruturas inerentes, ao invés <strong>de</strong> na totalida<strong>de</strong><br />

dos efeitos; num processo manual <strong>de</strong><br />

significação, ao invés da soberania visual do<br />

olhar produzindo a imagem representacional<br />

num espaço clássico, tridimensional; nos processos<br />

não-representativo, não-ilustrativo, e<br />

não-figurativo, nos quais o olhar não <strong>de</strong>sempenha<br />

uma função visual <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação, mas<br />

segue as relações que organizam seus campos<br />

<strong>de</strong> percepção; no irrepresentável na representação<br />

em si mesma; naquilo que “recusa o<br />

consolo das formas corretas, recusa o consenso<br />

do gosto permitindo uma experiência comum<br />

<strong>de</strong> nostalgia pelo impossível, e questiona<br />

novas apresentações.” 8 .<br />

Levando em consi<strong>de</strong>ração a importância<br />

e a direção das transformações na arte em<br />

geral no século XX e no Dadaísmo, Surrealismo,<br />

Abstracionismo, Arte Informal em<br />

particular, <strong>Kantor</strong> enfatizou sua partida<br />

pelas formas geométricas ou abstratas, que<br />

tinham que eliminar ou transcen<strong>de</strong>r os dois<br />

eventos históricos, como a I e II Guerras<br />

Mundiais, co-modificação das artes, em direção<br />

à realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradada ou à realida<strong>de</strong><br />

do mais baixo calão, <strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> seus aspectos<br />

marcantes pelos eventos da guerra.<br />

A realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradada ou a “realida<strong>de</strong> do<br />

mais baixo calão” não funciona como uma<br />

estratégia artística, mas sim como uma indução<br />

tática, que permitirá ao artista ser<br />

“surpreendido, aci<strong>de</strong>ntalmente ou <strong>de</strong> forma<br />

inesperada, pela esfera <strong>de</strong>sconhecida e<br />

ignorada da realida<strong>de</strong> que intervem na<br />

arte.” 9 . Na produção <strong>de</strong> <strong>Kantor</strong> <strong>de</strong> O Polvo<br />

(1956) <strong>de</strong> Stanislaw Ignacy Witkiewicz<br />

(Wtkacy’s), ambiente, objeto e atores foram<br />

engajados num processo complexo <strong>de</strong><br />

constituição <strong>de</strong> formações espaciais diversas<br />

criando choques, escândalos e tensões<br />

com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbloquear a imaginação<br />

e esmagar a casca empregnável do drama.<br />

Isto quer dizer, ambientes, objetos e<br />

atores, e mais seus atributos, não ilustra


vam, interpretavam ou teciam comentários<br />

sobre o drama, mais que isso, eles criaram<br />

um sistema <strong>de</strong> relações para <strong>de</strong>preciar<br />

o valor da realida<strong>de</strong> por explorar seu aspecto<br />

cotidiano <strong>de</strong>sconhecido, escondido.<br />

Esta exploração foi diferente em momentos<br />

distintos nos anos 60. No “<strong>Teatro</strong> Informal”(1961),<br />

<strong>Kantor</strong> explorou a matéria<br />

[um aspecto <strong>de</strong>sconhecido da REALIDA-<br />

DE ou do seu estado elementar], que não<br />

precisa obe<strong>de</strong>cer as leis da realida<strong>de</strong>,<br />

está sempre mudando e fluindo;<br />

escapa da escravidão das <strong>de</strong>finições racionais,<br />

faz todas as tentativas para comprimi-lo em<br />

uma forma sólida ridícula, <strong>de</strong>snecessária e vã;<br />

é <strong>de</strong>struidora perene <strong>de</strong> todas as formas,<br />

e nada mais que uma manifestação,<br />

é acessível apenas pelas<br />

forças <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição,<br />

por vonta<strong>de</strong> e risco da COINCIDÊNCIA,<br />

e por uma ação rápida e violenta 10 .<br />

No “<strong>Teatro</strong> Zero” (1963) <strong>Kantor</strong> lidou<br />

com objetos marginalizados e emoções para<br />

<strong>de</strong>smembrar o <strong>de</strong>senvolvimento da trama<br />

lógica, construindo cenas por referência<br />

textual para revelar a individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

ator <strong>de</strong>scartando a ilusão:<br />

A técnica tradicional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver trama<br />

fez uso da vida humana como um trampolim<br />

para se impulsionar em direção ao<br />

reino das paixões crescentes e intensas<br />

do heroísmo, do conflito<br />

e das reações violentas. Quando<br />

surgiu pela primeira vez, essa<br />

idéia <strong>de</strong> “crescer” significou a<br />

expansão trágica do homem, ou<br />

uma batalha heróica para transcen<strong>de</strong>r<br />

as dimensões humanas e<br />

seus <strong>de</strong>stinos. Com o passar do<br />

tempo, se transformou em um mero show,<br />

exigindo potentes elementos <strong>de</strong> espetáculo<br />

e a aceitação da ilusão violenta e irresponsável<br />

– figuras convincentes e uma procriação<br />

impensada <strong>de</strong> formas 11 .<br />

No “<strong>Teatro</strong> do Happening” (1967), <strong>Kantor</strong><br />

<strong>de</strong>u atenção à verda<strong>de</strong> cotidiana e sua<br />

potencialida<strong>de</strong> para ser objeto não-conceitual<br />

médio ou “objeto-encontrado”, objeto<br />

“que fora encontrado: um objeto cuja estrutura<br />

[era] <strong>de</strong>nsa e sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> [era]<br />

<strong>de</strong>lineada por sua própria ficção, ilusão, e<br />

dimensão físico-psicológica” 12 . Fazendo uso<br />

<strong>de</strong> objetos pobres, matéria, objetos marginalizados,<br />

objetos <strong>de</strong>teriorados, que são<br />

colocados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estrutura aberta<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> fluida, dinâmica, <strong>Kantor</strong> modificou<br />

um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cultura ou ativida<strong>de</strong><br />

artística baseado na restrição, negação,<br />

transformação da imagem/objeto. Os<br />

experimentos teatrais <strong>de</strong> <strong>Kantor</strong>, que, no<br />

período <strong>de</strong> 1965 até 1969, tomaram forma<br />

<strong>de</strong> Happenings, mais adiante <strong>de</strong>senvolveram<br />

estes conceitos 13 .<br />

O manifesto “O <strong>Teatro</strong> da Morte”(1975)<br />

significou uma mudança nas pesquisas <strong>de</strong><br />

<strong>Kantor</strong>. As produções, que seguiram, exploraram<br />

as noções <strong>de</strong> memória, história, mito,<br />

criação artística, e a função do artista como<br />

cronista do século XX: A Classe Morta<br />

(1975: a exploração <strong>de</strong> memórias acontecia<br />

num espaço ante uma barreira intransponível);<br />

Wielopole, Wielopole (1980: introdução<br />

da idéia <strong>de</strong> espaço da memória); Que<br />

Morram os Artistas (1985: introdução à teoria<br />

<strong>de</strong> negativos que modificaram a noção<br />

<strong>de</strong> espaço da memória–agora, era <strong>de</strong>nominado<br />

<strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> memória, ou seja, um lugar<br />

on<strong>de</strong> lembranças são sobrepostas umas<br />

às outras); Aqui Não Volto Mais (1988: introdução<br />

da idéia <strong>de</strong> pousada da memória,<br />

que existia além dos confins<br />

do tempo e espaço, on<strong>de</strong><br />

<strong>Kantor</strong> encontrou suas próprias<br />

criações passadas); e<br />

Hoje é Meu Aniversário<br />

(1990: exploração do ultrapassar<br />

o limiar entre o<br />

mundo da Ilusão e o mundo da<br />

Desenho <strong>de</strong> <strong>Kantor</strong> para “A gaiola e a mulher”;<br />

“Sofia na gaiola”, foto acima.<br />

15


ta<strong>de</strong>usz kantor<br />

Realida<strong>de</strong>, que provocou a <strong>de</strong>sintegração<br />

da própria ilusão) 14 .<br />

As experiências teatrais <strong>de</strong> <strong>Kantor</strong> e sua<br />

versão oficial e não-oficial da história do<br />

século XX são testemunhas <strong>de</strong> sua crença<br />

<strong>de</strong> que o teatro é uma resposta para a<br />

realida<strong>de</strong>, ao invés <strong>de</strong> representação da<br />

realida<strong>de</strong>. Mais importante, como ele observou,<br />

<strong>Teatro</strong> “é uma ativida<strong>de</strong> que<br />

acontece se a vida é levada ás últimas<br />

conseqüências, on<strong>de</strong> todas as categorias<br />

e concepções per<strong>de</strong>m seus significados e<br />

direitos <strong>de</strong> existir; on<strong>de</strong> loucura, febre,<br />

histeria e alucinações são o último estágio<br />

da vida diante da chegada da TRUPE<br />

DA MORTE e do ESPLÊNDIDO ESPE-<br />

TÁCULO da morte” 15 .<br />

Michal Kobialka é tradutor e ensaísta, é<br />

professor do Departamento <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> e<br />

Dança da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minnesota/EUA.<br />

16<br />

Desenho e foto da “Máquina<br />

Fotográfica-metralhadora”, do<br />

espetáculo Wielopole-Wielopole, 1980<br />

Fontes Adicionais<br />

A Journey Through Other Spaces: Essays and<br />

Manifestos: 1944-1990, editado, traduzido e<br />

com análise crítica do teatro <strong>de</strong> <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong><br />

por Michal Kobialka (Berkeley, 1993)<br />

Ein Reisen<strong>de</strong>r, ed. Piotr Nawrocki and Peter Kamphel<br />

(Nürnberg, 1988)<br />

Hommage á <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong>, ed. Krzysztof Pleœ-


niarowicz (Cracóvia, 1999)<br />

<strong>Kantor</strong>, l’artiste á la fin du XXé siécle, ed. Georges<br />

Banu (Paris, 1990)<br />

Dennis Bablet, <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong> (Paris, 1983)<br />

Wiesaw Borowski, <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong>, (Warszawa, 1982)<br />

Krzysztof Pleœniarowicz, The Dead Memory<br />

Machine: <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong>’s Theatre of Death<br />

(Londres, 2000)<br />

Notas<br />

1 <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong>, “Milano Lessons: Lesson 1,”<br />

A Journey Through Other Spaces: Essays and<br />

Manifestos, 1944-1990, translated and with<br />

the critical commentary by Michal Kobialka<br />

(Berkeley: University of California Press,<br />

1993), 211-12.<br />

2 A Journey, 274.<br />

3 A Journey, 272.<br />

4 Walter Benjamin cited in Douglas Crimp,<br />

“This is not a Museum of Art,” Marcel Broodthaers<br />

(Minneapolis: Walker Art Center,<br />

1989), 72.<br />

5 A Journey, 96-7.<br />

6 In 1963, <strong>Kantor</strong> presents the Popular Exhibition,<br />

also known as the Anti-Exhibition, at Galeria<br />

Krzysztofory in Kraków. It comprised of<br />

the objects, which were usually removed to the<br />

margins of the creative activity, glossed over<br />

by the traditional conventions, and discar<strong>de</strong>d<br />

as irrelevant. “It was an inventory [of facts,<br />

theatrical objects, drawings, sketches, prescrip-<br />

Espetáculo Hoje é meu aniversário (1990)<br />

tions, letters, stamps, tram and bus tickets, etc.]<br />

without any chronology, hierarchy, and locality.<br />

I found myself in the middle of all that, without<br />

a role of my own” (<strong>Kantor</strong>, “Zero,”<br />

Ambala¿e (Warszawa: Galeria Foksal, 1976),<br />

21). The objects, like laundry pieces, were hanging<br />

clipped to the ropes running through the<br />

vaulted space of the Gallery (A Journey, 23-5).<br />

7 Theodor Adorno, “Commitment,” The Essential<br />

Frankfurt School Rea<strong>de</strong>r, eds. Andrew Arato<br />

and Eike Gebhardt (Oxford: Basil Blackwell,<br />

1978), 317.<br />

8 Jean-François Lyotard, The Postmo<strong>de</strong>rn Explained,<br />

trans. Don Barry, Berna<strong>de</strong>tte Maher, Julian<br />

Pefanis, Virginia Spate, and Morgan Thomas<br />

(Minneapolis: University of Minnesota<br />

Press, 1993), 15.<br />

9 Wiesaw Borowski, <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong> (Warszawa:<br />

Wydawnictwa Artystyczne i Filmowe, 1982), 76.<br />

10 A Journey, 51.<br />

11 A Journey, 59.<br />

12 A Journey, 85.<br />

13 In: “<strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong>’s Happenings: Reality,<br />

Mediality, and History,” Theatre Survey 43, 1<br />

(May 2002): 59-79.<br />

14 In: A Journey, Part 2, “The Quest for the Self/<br />

Other: A Critical Study of <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong>’s<br />

Theatre” for a <strong>de</strong>tailed discussion of the concept<br />

of memory in <strong>Kantor</strong>’s production from<br />

the period between 1975 and 1990.<br />

15 A Journey, 149.<br />

17


ta<strong>de</strong>usz kantor<br />

MANIFESTO O<br />

MORTE<br />

De <strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong><br />

Tradução <strong>de</strong> Roberto Mallet<br />

◗ 1. Craig afirma: a marionete <strong>de</strong>ve retornar;<br />

o ator vivo <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>saparecer. O homem,<br />

criado pela natureza, é uma ingerência<br />

estranha na estrutura abstrata <strong>de</strong> uma<br />

obra <strong>de</strong> arte.<br />

De acordo com Gordon Craig, em algum lugar<br />

às margens do Ganges, duas mulheres invadiram<br />

o templo da Divina Marionete, que<br />

conservava com vigilância o segredo do verda<strong>de</strong>iro<br />

TEATRO. Essas duas mulheres tinham<br />

inveja <strong>de</strong>sse SER perfeito e almejavam seu PA-<br />

PEL, que era iluminar o espírito dos homens<br />

pelo sentimento sagrado da existência <strong>de</strong> Deus;<br />

elas almejavam sua GLÓRIA. Apropriaramse<br />

<strong>de</strong> seus movimentos e <strong>de</strong> seus gestos, <strong>de</strong> suas<br />

vestimentas maravilhosas, e, pelo recurso <strong>de</strong> uma<br />

medíocre paródia, admiraram-se satisfazendo os<br />

gostos vulgares da plebe. Quando enfim elas fizeram<br />

construir um templo à imagem do outro,<br />

o teatro mo<strong>de</strong>rno – o que conhecemos muito<br />

bem e que ainda permanece – havia nascido: a<br />

ruidosa Instituição <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública. Ao<br />

mesmo tempo que ela, surgiu o ATOR. Em<br />

apoio à sua tese Craig invoca a opinião <strong>de</strong> Eleonora<br />

Duse: “Para salvar o teatro, é preciso <strong>de</strong>struí-lo;<br />

é preciso que todos os comediantes e todas<br />

as comediantes morram <strong>de</strong> peste... são eles<br />

que levantam obstáculos à arte...”<br />

◗ 2. Teoria <strong>de</strong> Craig: o homem-ator suplanta<br />

a marionete e toma seu lugar, causando<br />

assim o <strong>de</strong>clínio do teatro. Há algo <strong>de</strong> imponente<br />

na atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> utopista quando<br />

ele afirma: “Exijo com toda a serieda<strong>de</strong> o retorno<br />

do conceito da supermarionete ao teatro...<br />

e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ela reapareça, as pessoas po-<br />

18<br />

<strong>de</strong>rão novamente venerar a felicida<strong>de</strong> da existência<br />

e ren<strong>de</strong>r uma divina e alegre homenagem<br />

à MORTE.”<br />

De acordo com a estética SIMBOLISTA,<br />

Craig consi<strong>de</strong>rava o homem submetido a<br />

paixões diversas, a emoções incontroláveis<br />

e, por conseguinte, casuais como um elemento<br />

absolutamente estranho à natureza<br />

homogênea e à estrutura <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong><br />

arte, como um elemento <strong>de</strong>struidor do seu<br />

caráter fundamental: a coesão. Craig – assim<br />

como os simbolistas cujo programa, em<br />

seu tempo, teve um <strong>de</strong>senvolvimento notável<br />

– tinha atrás <strong>de</strong> si os fenômenos isolados<br />

mais extraordinários que, no século<br />

XIX, anunciavam uma época nova assim<br />

como uma arte nova: Heinrich von Kleist,<br />

Ernst Theodor Hoffmann, Edgar Allan<br />

Poe... Cem anos antes, e por razões idênticas<br />

às <strong>de</strong> Craig, Kleist tinha exigido que o<br />

ator fosse substituído por uma marionete,<br />

pensando que o organismo humano, submetido<br />

às leis da NATUREZA, constituía<br />

uma ingerência estranha na ficção artística<br />

nascida <strong>de</strong> uma construção do intelecto. As<br />

outras censuras <strong>de</strong> Kleist faziam-se sobre<br />

os limites das possibilida<strong>de</strong>s físicas do homem<br />

e ele <strong>de</strong>nunciava além disso o papel<br />

nefasto do controle permanente da consciência,<br />

incompatível com os conceitos <strong>de</strong><br />

encantamento e <strong>de</strong> beleza.<br />

◗ 3. Da mística romântica dos manequins<br />

e das criações artificiais do homem do século<br />

XIV ao racionalismo abstrato do século<br />

XX.<br />

Ao longo do caminho que se pensava seguro<br />

e que foi tomado ao homem do Século<br />

das luzes e do racionalismo, eis que avan


TEATRO DA<br />

Espetáculo A Classe Morta (1975) com a mulher/<br />

homem na janela<br />

çam, saindo repentinamente das trevas, sempre<br />

mais numerosos, os SÓSIAS, os MA-<br />

NEQUINS, os AUTÔMATOS, os<br />

HOMÚNCULOS – criações artificiais que<br />

são várias injúrias às criações próprias da<br />

NATUREZA e que carregam em si todo o<br />

menosprezo, todos os sonhos da humanida<strong>de</strong>,<br />

a morte, o horror e o terror. Assiste-se<br />

ao aparecimento da fé nas forças misteriosas<br />

do MOVIMENTO MECÂNICO, ao nascimento<br />

<strong>de</strong> uma paixão maníaca <strong>de</strong> inventar<br />

um MECANISMO que sobrepujasse em<br />

perfeição, em implacabilida<strong>de</strong>, o tão vulnerável<br />

organismo humano. A tudo isto em um<br />

clima <strong>de</strong> satanismo, no limite do charlatanismo,<br />

das práticas ilegais, da magia, do crime,<br />

do pesa<strong>de</strong>lo. É a CIÊNCIA-FICÇÃO<br />

da época, na qual um cérebro humano <strong>de</strong>moníaco<br />

criava o HOMEM ARTIFICIAL.<br />

Isto significava simultaneamente uma crise<br />

<strong>de</strong> confiança súbita em relação à NATURE-<br />

ZA e a esses domínios da ativida<strong>de</strong> dos homens<br />

que lhe estão intimamente associados.<br />

Paradoxalmente, é <strong>de</strong>ssas tentativas românticas<br />

e diabólicas ao ponto <strong>de</strong> negar à<br />

natureza seu direito à criação que nasce e<br />

se <strong>de</strong>senvolve o movimento RACIONA-<br />

LISTA ou mesmo MATERIALISTA – sempre<br />

mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e sempre mais perigosamente<br />

distanciado da NATUREZA –<br />

a corrida para um “MUNDO SEM OBJE-<br />

TO”, para o CONSTRUTIVISMO, o<br />

FUNCIONALISMO, o MAQUINISMO, a<br />

ABSTRAÇÃO e, finalmente, o VISUA-<br />

LISMO PURISTA que reconhece simplesmente<br />

a “presença física” <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong><br />

arte. Esta hipótese arriscada que ten<strong>de</strong> a<br />

estabelecer a gênese pouco gloriosa do século<br />

do cientismo e da técnica engaja apenas<br />

minha própria consciência e serve unicamente<br />

à minha satisfação pessoal.<br />

◗ 4. O dadaísmo, introduzindo a “realida<strong>de</strong><br />

já pronta” (os elementos da vida), <strong>de</strong>struiu<br />

os conceitos <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

coerência da uma obra <strong>de</strong> arte postulados<br />

pelo simbolismo, a Arte nova e por Craig<br />

Mas retornemos à marionete <strong>de</strong> Craig. Sua<br />

idéia <strong>de</strong> substituir um ator vivo por um manequim,<br />

por uma criação artificial e mecânica,<br />

em nome da conservação perfeita da<br />

homogeneida<strong>de</strong> e da coerência da obra <strong>de</strong><br />

arte, não tem mais sentido hoje. Experiências<br />

ulteriores que <strong>de</strong>struíram a homogeneida<strong>de</strong><br />

da estrutura <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> arte introduziram<br />

nela elementos ESTRANHOS,<br />

através <strong>de</strong> colagens e <strong>de</strong> montagens; a aceitação<br />

da realida<strong>de</strong> “já pronta”; o pleno reconhecimento<br />

do acaso; a localização da<br />

obra <strong>de</strong> arte na estreita fronteira entre RE-<br />

ALIDADE DA VIDA e FICÇÃO ARTÍS-<br />

TICA – tudo isto tornou negligenciáveis os<br />

escrúpulos do início <strong>de</strong> nosso século, do período<br />

do simbolismo e do “Art nouveau”. A<br />

alternativa “arte autônoma <strong>de</strong> estrutura cerebral<br />

ou perigo <strong>de</strong> naturalismo” <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

ser a única possibilida<strong>de</strong>.<br />

19


ta<strong>de</strong>usz kantor<br />

Espetáculo<br />

Wielopole-<br />

Wielopole<br />

(1980) com a<br />

maquina<br />

fotográfica/<br />

metralhadora<br />

Se o teatro, em seus momentos <strong>de</strong> fraqueza,<br />

sucumbiu ao organismo humano<br />

vivo e a suas leis, é porque aceitou, automática<br />

e logicamente, esta forma <strong>de</strong> imitação<br />

da vida que constituem sua representação<br />

e sua re-criação.<br />

Ao contrário, nos momentos em que o<br />

teatro era suficientemente forte e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

para permitir-se libertar-se dos constrangimentos<br />

da vida e do homem, produzia<br />

os equivalentes artificiais da vida que,<br />

sujeitando-se à abstração do espaço e do<br />

tempo, eram ainda mais vivos e mais aptos<br />

a atingir a absoluta coesão.<br />

Em nossos dias essa alternativa na escolha<br />

per<strong>de</strong>u tanto seu significado quanto seu<br />

caráter exclusivo. Pois criou-se uma nova<br />

situação no domínio da arte e existem novos<br />

quadros <strong>de</strong> expressão.<br />

O surgimento do conceito <strong>de</strong> REALIDA-<br />

DE “JÁ PRONTA” retirada do contexto da<br />

existência tornou possíveis sua ANEXAÇÃO,<br />

sua INTEGRAÇÃO na obra <strong>de</strong> arte através<br />

da DECISÃO, do GESTO e do RITUAL. E<br />

isto é presentemente muito mais fascinante e<br />

mais po<strong>de</strong>rosamente inserido no real que<br />

qualquer entida<strong>de</strong> abstrata ou artificialmente<br />

elaborada, ou que esse mundo surrealista<br />

do “MARAVILHOSO” <strong>de</strong> André Breton.<br />

Happenings, “eventos” e “instalações” reabilitaram<br />

impetuosamente regiões inteiras da<br />

20<br />

REALIDADE até então <strong>de</strong>sprezadas, <strong>de</strong>sembaraçando-as<br />

do peso <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>stinações terra<br />

a terra. Esse DESLOCAMENTO da realida<strong>de</strong><br />

pragmática – essa “suspensão” para fora<br />

das fronteiras da prática cotidiana – puseram<br />

em movimento a imaginação dos homens<br />

muito mais profundamente que a realida<strong>de</strong><br />

surrealista do sonho onírico.<br />

Foi isto que finalmente fez <strong>de</strong>saparecer<br />

toda importância aos temores <strong>de</strong> ver o homem<br />

e sua vida interferir no plano da arte.<br />

◗ 5. Da “realida<strong>de</strong> imediata” do happening<br />

à <strong>de</strong>smaterialização dos elementos da obra<br />

<strong>de</strong> arte.<br />

Portanto, como toda fascinação, também<br />

esta tornou-se, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> certo tempo, CON-<br />

VENÇÃO pura – universalmente, tolamente,<br />

vulgarmente utilizada. Essas manipulações<br />

quase rituais da realida<strong>de</strong>, ligadas à contestação<br />

do ESTADO ARTÍSTICO e do<br />

LIGAR reservado à arte, começaram, pouco<br />

a pouco, a tomar um sentido e um significado<br />

diferentes. A PRESENÇA material,<br />

física do objeto e o TEMPO PRESENTE no<br />

qual po<strong>de</strong>m figurar unicamente a ativida<strong>de</strong><br />

e a ação aparentemente atingiram seus limites<br />

e tornaram-se um entrave. ULTRAPAS-<br />

SÁ-las significava privar essas relações <strong>de</strong> sua<br />

IMPORTÂNCIA material e funcional, ou<br />

seja, <strong>de</strong> sua possível APREENSÃO.


(Dado que se trata aqui <strong>de</strong> um período<br />

muito<br />

recente, ainda não terminado, fluido, as<br />

consi<strong>de</strong>rações seguintes referem-se e ligam-se<br />

a<br />

minhas próprias ativida<strong>de</strong>s criativas.)<br />

O objeto (A Ca<strong>de</strong>ira, Oslo, 1970) tornavase<br />

vazio, <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong> enca<strong>de</strong>amentos,<br />

<strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> referência, <strong>de</strong> sinais<br />

<strong>de</strong> uma intercomunicação voluntária, <strong>de</strong> sua<br />

mensagem; ele estava orientado para nenhum<br />

lugar e tornava-se um engodo. Situações e<br />

ações permaneciam encerradas em seu próprio<br />

CIRCUITO, ENIGMÁTICAS (O <strong>Teatro</strong><br />

impossível, 1973). Em minha manifestação<br />

intitulada Cambriolage (Furto) <strong>de</strong>u-se uma<br />

INVASÃO ilegítima sobre o terreno em que<br />

a realida<strong>de</strong> tangível encontrava seus prolongamentos<br />

INVISÍVEIS. Cada vez mais distintamente<br />

se precisa o papel do PENSA-<br />

MENTO, da MEMÓRIA e do TEMPO.<br />

◗ 6. Recusa da ortodoxia do conceptualismo<br />

e da “vanguarda oficial das massas”.<br />

Impõe-se a mim cada vez com mais força<br />

a convicção <strong>de</strong> que o conceito <strong>de</strong> VIDA<br />

não po<strong>de</strong> ser reintroduzido em arte senão<br />

pela AUSÊNCIA DE VIDA no sentido<br />

convencional (ainda Craig e os simbolistas).<br />

Esse processo <strong>de</strong> DESMATERIALI-<br />

ZAÇÃO instalou-se em minha ativida<strong>de</strong><br />

criativa, evitando-se entretanto toda a panóplia<br />

ortodoxa da lingüística e do conceptualismo.<br />

É certo que essa escolha foi em<br />

parte influenciada pelo gigantesco engarrafamento<br />

que emporcalhou esse caminho<br />

agora oficial e que constitui, infelizmente,<br />

o último trecho da gran<strong>de</strong> estrada DADA-<br />

ÍSTA coberta <strong>de</strong> cartazes com seus slogans<br />

ARTE TOTAL, TUDO É ARTE, TODO<br />

MUNDO É ARTISTA, A ARTE ESTÁ<br />

NA VOSSA CABEÇA etc.<br />

Eu não gosto dos engarrafamentos. Em<br />

1973 escrevi o esboço <strong>de</strong> um novo manifesto,<br />

que leva em conta essa falsa situação.<br />

Eis o seu começo:<br />

“Depois <strong>de</strong> Verdun, do Cabaret Voltaire e<br />

da Privada <strong>de</strong> Marcel Duchamp, quando o<br />

“fato artístico” foi encoberto pelo estrondo<br />

da Gorda Bertha, a DECISÃO tornou-se a<br />

única oportunida<strong>de</strong> que resta ao homem <strong>de</strong><br />

ousar qualquer coisa recentemente ou ainda<br />

hoje inconcebível. Ela tem sido há muito tempo<br />

o estimulante primeiro da criação, uma<br />

condição e uma <strong>de</strong>finição da arte. Nestes últimos<br />

tempos milhares <strong>de</strong> indivíduos medíocres<br />

tomam, sem escrúpulos nem reticências<br />

<strong>de</strong> nenhuma espécie, <strong>de</strong>cisões. A <strong>de</strong>cisão tornou-se<br />

um fato banal e convencional. O que<br />

era um caminho perigoso tornou-se agora<br />

uma auto-estrada cômoda – segurança e sinalização<br />

hipermelhoradas. Guias, manuais,<br />

placas <strong>de</strong> sinalização, cartazes, centros, corporações<br />

artísticas – eis o que garante a perfeita<br />

criação artística. Somos testemunhas <strong>de</strong><br />

um LEVANTE EM MASSA <strong>de</strong> comandos<br />

<strong>de</strong> artistas, <strong>de</strong> combatentes <strong>de</strong> rua, <strong>de</strong> artistas<br />

<strong>de</strong> choque, <strong>de</strong> artistas operários, <strong>de</strong> escrevinhadores,<br />

<strong>de</strong> caixeiros viajantes, <strong>de</strong> saltimbancos,<br />

<strong>de</strong> chefes <strong>de</strong> escritórios e <strong>de</strong> agências.<br />

Nesta auto-estrada já oficial, o tráfico, que<br />

ameaça afogar-nos sob uma onda <strong>de</strong> garatujas<br />

insignificantes e <strong>de</strong> pretensos coups <strong>de</strong><br />

théâtre, vai crescendo a cada dia. É preciso<br />

abandoná-la o quanto antes. Mas isto não é<br />

tão fácil! Ainda mais que está no seu apogeu<br />

– cega e avalizada pelo altíssimo prestígio do<br />

INTELECTO, recobrindo tanto os sábios<br />

quanto os tolos – a ONIPRESENTE VAN-<br />

GUARDA...”<br />

◗ 7. Sobre os caminhos secundários da vanguarda<br />

oficial. Os MANEQUINS fazem sua<br />

aparição.<br />

Minha recusa obstinada em não aceitar<br />

as soluções do conceptualismo, embora elas<br />

me parecessem a única saída para o caminho<br />

encetado, conduziu-me a colocar, tentando<br />

circunscrevê-los, os acontecimentos<br />

relatados acima e que marcaram a última<br />

fase <strong>de</strong> minha ativida<strong>de</strong> criativa sobre caminhos<br />

secundários suscetíveis <strong>de</strong> me oferecer<br />

maiores oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembocar<br />

no DESCONHECIDO!<br />

Uma tal situação, mais que qualquer outra,<br />

<strong>de</strong>u-me confiança. Todo período novo,<br />

sempre, começa por tentativas sem gran<strong>de</strong> significação,<br />

pouco notáveis, como que em surdina,<br />

não tendo gran<strong>de</strong> coisas em comum com<br />

o caminho já traçado; tentativas privadas,<br />

21


ta<strong>de</strong>usz kantor<br />

íntimas, eu diria mesmo pouco<br />

confessáveis. Obscuras<br />

em todo caso. E difíceis! Tais<br />

são os momentos mais fascinantes<br />

e mais carregados <strong>de</strong><br />

sentido da criação artística.<br />

E subitamente me senti<br />

interessado pela natureza<br />

dos MANEQUINS. O manequim<br />

em minha encenação<br />

<strong>de</strong> La Poule d’eau, <strong>de</strong><br />

Witkacy (1967) e os manequins<br />

em Les Cordonniers<br />

(Os Sapateiros), <strong>de</strong> Witkacy<br />

(1970) tinham um papel<br />

bem específico; constituíam<br />

uma espécie <strong>de</strong> prolongamento<br />

imaterial, alguma<br />

coisa como um ÓRGÃO<br />

COMPLEMENTAR do<br />

ator que era seu “proprietário”.<br />

Quanto aos que utilizei<br />

em gran<strong>de</strong> número na<br />

encenação da Balladyna, <strong>de</strong><br />

Slowacki, eles constituíam<br />

os DUPLOS das personagens<br />

vivas, como se fossem<br />

dotados <strong>de</strong> uma CONSCI-<br />

ÊNCIA superior, atingida “<strong>de</strong>pois da consumação<br />

<strong>de</strong> sua própria vida”. Esses manequins<br />

já estavam visivelmente marcados<br />

com o selo da MORTE.<br />

◗ 8. O manequim como manifestação da<br />

“realida<strong>de</strong>” mais trivial. Como um procedimento<br />

<strong>de</strong> transcendência, um objeto vazio,<br />

um engodo, uma mensagem <strong>de</strong> morte,<br />

um mo<strong>de</strong>lo para o ator.<br />

O manequim que utilizei em 1967 no teatro<br />

Cricot 2 (La Poule d’eau) foi, <strong>de</strong>pois d’O<br />

Peregrino Eterno e das Embalagens Humanas,<br />

o próximo dos meus personagens a entrar<br />

<strong>de</strong> maneira absolutamente natural em minha<br />

Coleção como outro fenômeno a apoiar<br />

esta convicção ancorada em mim há muito<br />

tempo <strong>de</strong> que somente a realida<strong>de</strong> mais trivial,<br />

os objetos mais mo<strong>de</strong>stos e os mais <strong>de</strong>sprezados<br />

são capazes <strong>de</strong> revelar em uma obra <strong>de</strong><br />

arte seu caráter específico <strong>de</strong> objeto.<br />

Manequins e figuras <strong>de</strong> cera sempre exis-<br />

22<br />

Espetáculo Hoje é meu aniversário (1990)<br />

tiram, mas como que mantidos à distância<br />

à margem da cultura aceita, nas bancas dos<br />

mercados, nas barracas duvidosas dos andarilhos,<br />

longe dos esplêndidos templos da<br />

arte, vistos como curiosida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sprezíveis,<br />

boas apenas para abastecer o gosto da ralé.<br />

Mas por esta razão são eles – muito mais<br />

que as acadêmicas peças <strong>de</strong> museu – que<br />

po<strong>de</strong>m, no tempo <strong>de</strong> um breve olhar, levantar<br />

uma ponta do véu.<br />

Os manequins têm também um odor <strong>de</strong><br />

pecado – <strong>de</strong> transgressão <strong>de</strong>lituosa. A existência<br />

<strong>de</strong>ssas criaturas configuradas à imagem<br />

do homem <strong>de</strong> uma forma quase sacrílega<br />

e quase clan<strong>de</strong>stina, fruto <strong>de</strong> procedimentos<br />

heréticos, traz a marca <strong>de</strong>sse lado obscuro,<br />

noturno, sedicioso da trajetória humana,<br />

o cunho do crime e dos estigmas da morte<br />

enquanto fonte <strong>de</strong> conhecimento. A impressão<br />

confusa, inexplicada, <strong>de</strong> que é pelo<br />

artifício <strong>de</strong> uma criatura com falaciosos aspectos<br />

da vida, mas privada <strong>de</strong> consciência


e <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, que a morte e o nada transmitem<br />

sua inquietante mensagem – é isto que<br />

causa em nós esse sentimento <strong>de</strong> transgressão,<br />

ao mesmo tempo recusa e atração. Inclusão<br />

no in<strong>de</strong>x e fascinação.<br />

O ato <strong>de</strong> acusação esgotou todos os argumentos.<br />

O primeiro a prestar as costas aos<br />

ataques foi o próprio mecanismo <strong>de</strong>ssa ação,<br />

consi<strong>de</strong>rada levianamente como um fim em<br />

si mesma e <strong>de</strong>pois relegada entre as formas<br />

medíocres da criação artística, no mesmo<br />

saco que a imitação, a ilusão enganosa <strong>de</strong>stinada<br />

a abusar do espectador como os truques<br />

do manipulador <strong>de</strong> feira, a utilização<br />

<strong>de</strong> ingênuos artifícios que escapam aos conceitos<br />

da estética, o uso fraudulento das aparências,<br />

as práticas <strong>de</strong> charlatão. E ainda por<br />

cima acrescentaram-se ao processo as acusações<br />

<strong>de</strong> uma filosofia que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Platão e<br />

com freqüência ainda hoje em dia, <strong>de</strong>signa<br />

como finalida<strong>de</strong> da arte revelar o Ser e sua<br />

espiritualida<strong>de</strong> ao invés <strong>de</strong> patinhar na con-<br />

creção material do mundo, nessa trapaça das<br />

aparências, que representam o mais baixo<br />

nível da existência.<br />

Não acho que um MANEQUIM (ou uma<br />

FIGURA DE CERA) possa substituir, como<br />

queriam Kleist e Craig, o ATOR VIVO. Isto<br />

seria fácil e excessivamente ingênuo. Esforço-me<br />

por <strong>de</strong>terminar os motivos e a <strong>de</strong>stinação<br />

<strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong> insólita surgida inopinadamente<br />

em meus pensamentos e em minhas<br />

idéias. Sua aparição concorda com esta convicção<br />

cada vez mais forte em mim <strong>de</strong> que a<br />

vida não po<strong>de</strong> ser exprimida em arte senão<br />

pela falta <strong>de</strong> vida e pelo recurso à morte, através<br />

das aparências, da vacuida<strong>de</strong>, da ausência<br />

<strong>de</strong> qualquer mensagem. Em meu teatro<br />

um manequim <strong>de</strong>ve tornar-se um MODELO<br />

que encarna e transmite um profundo sentimento<br />

da morte e da condição dos mortos –<br />

um mo<strong>de</strong>lo para o ATOR VIVO.<br />

◗ 9. Minha interpretação da situação <strong>de</strong>scrita<br />

por Craig. A aparição do ator vivo,<br />

momento revolucionário. A <strong>de</strong>scoberta da<br />

imagem do homem.<br />

Busco minhas consi<strong>de</strong>rações nas origens<br />

do teatro; mas elas aplicam-se <strong>de</strong> fato ao<br />

conjunto da arte atual. Po<strong>de</strong>-se muito bem<br />

pensar que a <strong>de</strong>scrição, imaginada por Craig,<br />

das circunstâncias nas quais surgiu o ator, e<br />

que traz em si mesma uma análise terrivelmente<br />

acusadora, <strong>de</strong>veria servir a seu autor<br />

<strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> partida para suas idéias concernentes<br />

à “SUPER-MARIONETE”. Embora<br />

eu seja um admirador do soberbo <strong>de</strong>sprezo<br />

professado por Craig e <strong>de</strong> suas diatribes apaixonadas<br />

– sobretudo quando estamos confrontados<br />

com o total <strong>de</strong>clínio do teatro contemporâneo<br />

– <strong>de</strong>vo entretanto, ao mesmo<br />

tempo que faço minha a primeira parte <strong>de</strong><br />

seu credo, na qual ele nega ao teatro institucional<br />

qualquer razão <strong>de</strong> existir no plano da<br />

arte, tomar outra posição frente às bem conhecidas<br />

soluções a que chegou a respeito<br />

do ator. Pois o momento em que um ATOR<br />

surgiu pela primeira vez perante uma PLA-<br />

TÉIA (para empregar o vocabulário atual)<br />

parece-me ser, bem ao contrário, um momento<br />

revolucionário e <strong>de</strong> vanguarda. Vou<br />

mesmo tentar compor e fazer “entrar na his-<br />

23


ta<strong>de</strong>usz kantor<br />

tória” uma imagem oposta, na qual os acontecimentos<br />

terão uma significação inversa.<br />

Eis que do círculo comum dos costumes<br />

e dos ritos religiosos, das cerimônias e das<br />

ativida<strong>de</strong>s lúdicas sai ALGUÉM, tendo tomado<br />

a <strong>de</strong>cisão temerária <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar-se da<br />

comunida<strong>de</strong> cultural. Não era movido nem<br />

pelo orgulho (como em Craig) nem pelo<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> atrair sobre si a atenção <strong>de</strong> todos.<br />

Solução excessivamente simples. Eu o vejo<br />

antes como um rebel<strong>de</strong>, um objetor, um<br />

herético, livre e trágico, por ter ousado permanecer<br />

só com sua sorte e seu <strong>de</strong>stino. E<br />

se acrescentamos “com seu PAPEL”, teremos<br />

diante <strong>de</strong> nós o ATOR. A revolta aconteceu<br />

sobre o terreno da arte. Este acontecimento,<br />

ou antes esta manifestação, provavelmente<br />

provocou uma gran<strong>de</strong> perturbação<br />

nos espíritos e suscitou opiniões contraditórias.<br />

Com toda certeza este ATO foi<br />

julgado como uma traição às antigas tradições<br />

e às práticas do culto; viu-se nele uma<br />

manifestação <strong>de</strong> orgulho profano, <strong>de</strong> ateísmo,<br />

<strong>de</strong> perigosas tendências subversivas;<br />

aos gritos falou-se em escândalo, em amoralida<strong>de</strong>,<br />

em in<strong>de</strong>cência; olhou-se o homem<br />

com <strong>de</strong>sprezo como a um bufão grosseiro,<br />

um cabotino, um exibicionista, um <strong>de</strong>pravado.<br />

O próprio ator, relegado para fora da<br />

socieda<strong>de</strong>, terá feito tanto inimigos cruéis<br />

quanto fanáticos admiradores. Opróbrio e<br />

glória conjugados.<br />

Seria um formalismo ridículo e superficial<br />

querer explicar esse ato <strong>de</strong> RUPTURA através<br />

do egoísmo, do apetite <strong>de</strong> glória ou <strong>de</strong><br />

uma queda inata para o exibicionismo. Deve<br />

ter sido uma questão mais consi<strong>de</strong>rável, uma<br />

COMUNICAÇÃO <strong>de</strong> importância capital.<br />

Tentemos imaginar esta situação fascinante:<br />

FACE àqueles que tinham permanecido<br />

<strong>de</strong>ste lado, um HOMEM postou-se EXA-<br />

TAMENTE semelhante a cada um <strong>de</strong>les e<br />

24<br />

entretanto (em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma “operação”<br />

misteriosa e admirável) infinitamente<br />

DISTANTE, terrivelmente ESTRANGEI-<br />

RO, como que habitado pela morte, separado<br />

<strong>de</strong>les por uma BARREIRA que por ser<br />

invisível não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser apavorante e<br />

inconcebível, assim como o sentido verda<strong>de</strong>iro<br />

e a HONRA não po<strong>de</strong>m nos ser revelados<br />

senão pelo SONHO.<br />

E é assim que sob a luz <strong>de</strong>slumbrante <strong>de</strong><br />

um clarão eles percebem subitamente a<br />

IMAGEM DO HOMEM, aguda, tragicamente<br />

clownesca, como se o vissem pela<br />

PRIMEIRA VEZ, como se acabassem <strong>de</strong><br />

ver a SI MESMOS. Este foi seguramente<br />

um conhecimento que se po<strong>de</strong>ria qualificar<br />

<strong>de</strong> metafísico.<br />

Essa imagem viva do HOMEM saindo das<br />

trevas, levando sua trajetória adiante, constituía<br />

um MANIFESTO, irradiante, <strong>de</strong> sua<br />

nova CONDIÇÃO HUMANA, somente<br />

HUMANA, com sua RESPONSABILIDA-<br />

DE e sua CONSCIÊNCIA trágica, avaliando<br />

seu DESTINO com uma escala implacável<br />

e <strong>de</strong>finitiva, a escala da MORTE.<br />

Foi dos espaços da MORTE que veio esse<br />

MANIFESTO revelador que provocou no<br />

público (utilizemos um termo atual) esse conhecimento<br />

metafísico. Os instrumentos e<br />

a arte <strong>de</strong>sse homem, o ATOR (para empregar<br />

ainda nosso próprio vocabulário), ligavam-se<br />

também à MORTE, a sua trágica<br />

e horrífica beleza.<br />

Devemos dar à relação ESPECTADOR/<br />

ATOR sua significação essencial. Devemos<br />

fazer renascer esse impacto original do instante<br />

em que um homem (ator) surgiu pela<br />

primeira vez perante outros homens (espectadores),<br />

exatamente semelhante a cada um<br />

<strong>de</strong> nós e entretanto infinitamente estrangeiro,<br />

além <strong>de</strong>ssa barreira que não po<strong>de</strong> ser<br />

ultrapassada.<br />

SERVIÇO<br />

<strong>Ta<strong>de</strong>usz</strong> <strong>Kantor</strong><br />

No <strong>Teatro</strong> Fábrica. Projeção dos cinco espetáculos do <strong>Teatro</strong> da Morte, seguidos <strong>de</strong><br />

conferências <strong>de</strong> Michal Kobialka. Curadoria: Márcia <strong>de</strong> Barros<br />

<strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> junho a 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2005, às 19h30<br />

Rua da Consolação, 1623 • www.fabricasaopaulo.com.br


◗ 10. Recapitulação<br />

Embora se possa levantar suspeitas, e mesmo<br />

acusar-nos <strong>de</strong> nutrir escrúpulos fora <strong>de</strong> propósito<br />

expulsaremos nossos preconceitos e nossos medos inatos<br />

e, a fim <strong>de</strong> melhor <strong>de</strong>finir a imagem<br />

no interesse <strong>de</strong> eventuais conclusões<br />

assentaremos as balizas <strong>de</strong>ssa fronteira<br />

que tem um nome:<br />

A CONDIÇÃO DA MORTE<br />

porque ele constitui o ponto <strong>de</strong> referência mais avançado<br />

que jamais foi ameaçado por nenhum conformismo<br />

da CONDIÇÃO DO ARTISTA E DA ARTE<br />

...essa relação particular<br />

<strong>de</strong>sorientadora e sedutora a um só tempo<br />

entre os vivos e os mortos<br />

que, há pouco, quando eles ainda estavam vivos<br />

não dava nenhum lugar<br />

a inesperados espetáculos<br />

a inúteis divisões, à <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />

Eles não eram diferentes<br />

e não tomavam gran<strong>de</strong>s ares<br />

e em razão <strong>de</strong>sta característica aparentemente banal<br />

mas, como veremos, muito importante<br />

eles eram simplesmente, normalmente, respeitosamente<br />

não perceptíveis<br />

E eis que agora, subitamente<br />

do outro lado, perante nós<br />

eles <strong>de</strong>spertam a surpresa<br />

como se nós os víssemos pela primeira vez<br />

expostos em exibição, em uma cerimônia ambígua:<br />

honrados e rejeitados a um só tempo<br />

irremediavelmente outros<br />

e infinitamente estrangeiros, e ainda:<br />

<strong>de</strong>sprovidos, <strong>de</strong> alguma forma, <strong>de</strong> toda significação<br />

não sendo mais levados em conta<br />

sem a menor esperança <strong>de</strong> ocupar um lugar<br />

inteiramente à parte das texturas <strong>de</strong> nossa vida<br />

que não são acessíveis, familiares, inteligíveis<br />

senão para nós mesmos<br />

mas para eles <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> sentido<br />

Se estamos <strong>de</strong> acordo em que o traço dominante<br />

dos homens vivos<br />

é sua aptidão e sua facilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estabelecer entre si múltiplas relações vitais<br />

é somente perante os mortos<br />

que surge em nós<br />

a tomada <strong>de</strong> consciência súbita e surpreen<strong>de</strong>nte<br />

que essa característica essencial dos vivos<br />

torna-se possível<br />

por sua falta total <strong>de</strong> diferenças<br />

por sua banalida<strong>de</strong>, por sua i<strong>de</strong>ntificação universal<br />

que <strong>de</strong>strói impiedosamente<br />

toda ilusão diferente ou contrária<br />

por sua qualida<strong>de</strong> comum, aprovada<br />

sempre em vigor<br />

<strong>de</strong> permanecer indiscerníveis<br />

Somente os mortos se tornam<br />

perceptíveis (para os vivos)<br />

obtendo assim, por este alto preço<br />

seu estatuto próprio<br />

sua singularida<strong>de</strong><br />

sua SILHUETA radiosa<br />

quase como no circo.<br />

<strong>Kantor</strong>, 1975<br />

In “Le Théâtre <strong>de</strong> la Mort”. Editions L’Age d’Homme, Lausanne, 1977, p. 215-224.<br />

Desenho <strong>de</strong> <strong>Kantor</strong> para o Leito-máquina da morte<br />

25


entrevista<br />

Divulgação<br />

SESC aposta no valor da cultura<br />

Em entrevista à revista Camarim, Danilo Santos <strong>de</strong> Miranda afirma<br />

que o SESC privilegia <strong>de</strong>bate, discussão e difusão <strong>de</strong> cultura<br />

26<br />

◗ DANILO SANTOS DE<br />

MIRANDA tem formação<br />

em filosofia, ciências<br />

sociais e administração.<br />

Des<strong>de</strong> 1984 é diretor do<br />

SESC <strong>de</strong> São Paulo,<br />

período em que ampliou a<br />

atuação cultural da<br />

entida<strong>de</strong>, afirmando ali<br />

projetos como o CPT<br />

Centro <strong>de</strong> Pesquisa Teatral.<br />

Durante sua gestão foram<br />

incentivadas pesquisas <strong>de</strong><br />

novas linguagens nas artes<br />

cênicas, artes plásticas, em<br />

música, dança e ví<strong>de</strong>o arte.<br />

Nesse período, também<br />

foram trazidos ao SESC<br />

grupos artísticos,<br />

intelectuais, diretores,<br />

músicos, coreógrafos e<br />

ví<strong>de</strong>omakers, fazendo da<br />

instituição um dos mais<br />

importantes centros<br />

difusores <strong>de</strong> cultura para a<br />

população <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Miranda conce<strong>de</strong>u à<br />

Revista Camarim uma<br />

entrevista, na qual fala<br />

sobre a importância da<br />

cultura e <strong>de</strong> como o SESC<br />

trata essa questão.


Revista Camarim: Na origem do “serviço<br />

social” há uma discussão sobre a relação<br />

trabalho e tempo livre. Nesse campo, lazer e<br />

cultura ganham mesmo estatuto, e talvez o<br />

SESC seja expressão disso. O senhor po<strong>de</strong>ria<br />

nos falar um pouco sobre o modo como essas<br />

questões <strong>de</strong>terminam o funcionamento do<br />

SESC e seus projetos?<br />

Danilo Santos Miranda: A cultura po<strong>de</strong><br />

transformar as pessoas, tornando-as melhores,<br />

mais solidárias, mais participativas, mais<br />

críticas. Capazes <strong>de</strong> sonhar e <strong>de</strong> romper limites.<br />

A cultura subverte o cotidiano e nos<br />

lança - prazerosa e espontaneamente –, ao<br />

conflito. O tempo livre é potencialmente<br />

rico para isso, pois estamos <strong>de</strong>simpedidos<br />

<strong>de</strong> qualquer obrigação, seja junto à escola<br />

ou ao trabalho. É o momento<br />

da experimentação e da<br />

<strong>de</strong>scoberta. Entretanto, não<br />

<strong>de</strong>vemos “instrumentalizar”<br />

o tempo livre, ou tratar as<br />

ações culturais didaticamente.<br />

Utilizar as formas <strong>de</strong><br />

expressão cultural como ferramenta<br />

a serviço <strong>de</strong>ste ou<br />

aquele projeto <strong>de</strong> transformação<br />

social é agir contra a<br />

natureza da própria cultura,<br />

que em si encerra multiplicida<strong>de</strong>,<br />

originalida<strong>de</strong> e<br />

diversida<strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong> ques-<br />

tão é proporcionar flui<strong>de</strong>z à cultura, enfrentando<br />

a panacéia e a mesmice do que ten<strong>de</strong><br />

a reduzir a realida<strong>de</strong> a poucos referenciais,<br />

a parcas perspectivas.<br />

RC: Há certa crítica que vê no trabalho do<br />

SESC uma faceta da vida totalmente administrada<br />

do trabalhador, em que seu tempo livre<br />

seria totalmente regrado pela i<strong>de</strong>ologia do “bem<br />

estar” para o trabalho. Como o senhor a vê?<br />

DSM: As relações entre o trabalho e o<br />

lazer são discutidas largamente em teóricos<br />

como o francês Joffre Dumazedier ou o italiano<br />

Domenico <strong>de</strong> Masi. Ambos <strong>de</strong>stacam a<br />

importância do tempo livre para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das pessoas. Mas não falam em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento profissional como o principal<br />

benefício, porque essas teorias não atri-<br />

“ Utilizar as formas <strong>de</strong><br />

expressão cultural como<br />

ferramenta a serviço<br />

<strong>de</strong>ste ou aquele projeto<br />

<strong>de</strong> transformação social é<br />

agir contra a natureza da<br />

própria cultura, que em si<br />

encerra multiplicida<strong>de</strong>,<br />

originalida<strong>de</strong> e<br />

diversida<strong>de</strong> ”<br />

buem ao tempo livre um caráter funcionalista,<br />

ferramental. A utilização criativa do<br />

tempo livre, quando as pessoas estão <strong>de</strong>sobrigadas<br />

<strong>de</strong> suas tarefas rotineiras e obrigatórias,<br />

ten<strong>de</strong> a aprimorá-las em múltiplas dimensões:<br />

na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação, na elevação<br />

da auto-estima, no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da criativida<strong>de</strong> e do pensamento, na melhoria<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida com a prática <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s físicas e esportivas. Isso as torna<br />

melhores como pessoas e, melhores, serão<br />

mais críticas e, mais criativas, mais participativas.<br />

Disso se beneficiam, <strong>de</strong> forma direta,<br />

como conseqüência natural, as relações<br />

na família, na comunida<strong>de</strong> e no trabalho. Isso<br />

ocorre, portanto, <strong>de</strong> forma natural, e nunca<br />

a partir <strong>de</strong> um projeto que instrumentaliza o<br />

uso do tempo livre para obter<br />

este ou aquele resultado<br />

mais imediato. Uma outra<br />

questão na relação entre trabalho<br />

e tempo livre, é que<br />

nem sempre as pessoas estão<br />

preparadas para usufruir o<br />

momento <strong>de</strong> lazer. O filósofo<br />

alemão Dietmar Kamper<br />

certa vez comentou sobre o<br />

“ritmo <strong>de</strong>smedido do trabalho”,<br />

ou seja, as pessoas,<br />

mesmo fora <strong>de</strong> sua rotina<br />

profissional, não conseguem<br />

pensar diferente, agir diferente,<br />

sentir diferente. Agem em situações<br />

<strong>de</strong> lazer tal qual nas situações <strong>de</strong> trabalho:<br />

criam regras, medidas e padrões, competem<br />

e <strong>de</strong>nigrem a dimensão prazerosa e <strong>de</strong>scompromissada<br />

dos relacionamentos e das ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> seu lazer.<br />

RC: Tais questões implicariam o reconhecimento<br />

<strong>de</strong> um certo “caráter público” no trabalho<br />

do SESC? Em que medida isso se daria?<br />

DSM: Não há qualquer aproximação <strong>de</strong><br />

caráter público, quando nos referimos à forma<br />

<strong>de</strong> custeio e administração do SESC,<br />

que é uma instituição <strong>de</strong> caráter privado,<br />

ainda que sem fins lucrativos. O SESC aten<strong>de</strong><br />

a um público prioritário, que é o trabalhador<br />

na área <strong>de</strong> comércio e serviços e seus<br />

familiares. Esse público prioritário usufrui<br />

27


entrevista<br />

uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s com exclusivida<strong>de</strong><br />

ou vantagens especiais. Assim, do ponto <strong>de</strong><br />

vista <strong>de</strong> administração e custeio, o SESC<br />

não possui caráter público. Entretanto, po<strong>de</strong>mos<br />

afirmar o caráter público do SESC<br />

na medida em que muitas <strong>de</strong> suas ações se<br />

esten<strong>de</strong>m a toda a comunida<strong>de</strong>, seja no<br />

atendimento direto, seja por programas que<br />

aqui são criados e <strong>de</strong>pois reproduzidos por<br />

outras empresas, instituições e organizações.<br />

Cursos, seminários e congressos promovidos<br />

pelo SESC difun<strong>de</strong>m conhecimentos<br />

e técnicas pertinentes à nossa área <strong>de</strong><br />

atuação. Essa é uma forma <strong>de</strong> promover<br />

intercâmbio permanente com a socieda<strong>de</strong>.<br />

O SESC não segrega públicos. Na área <strong>de</strong><br />

expressão artística, os espetáculos são acessíveis<br />

a toda a população e, além disso, são<br />

inúmeros os projetos <strong>de</strong>senvolvidos para<br />

toda a comunida<strong>de</strong>.<br />

RC: A escolha por manter, no caso do teatro,<br />

um “Centro <strong>de</strong> Pesquisa” faz irradiar, como<br />

o senhor mesmo já chegou a afirmar em textos<br />

<strong>de</strong> programas (como o que abre o programa<br />

do The Wooster Group), questões “por toda<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida pelo SESC com o teatro”.<br />

É evi<strong>de</strong>nte o trabalho do SESC nessa direção.<br />

A idéia <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong><br />

pesquisa <strong>de</strong> cunho permanente ganha novos<br />

fóruns em São Paulo com a Lei <strong>de</strong> Fomento.<br />

Cia. Théâtre du Ra<strong>de</strong>au (França), em Coda (2005)<br />

28<br />

No caso do SESC, como funciona esse trabalho<br />

<strong>de</strong> manutenção (quanto ao CPT)? Como<br />

se <strong>de</strong>terminam os critérios <strong>de</strong> sua manutenção?<br />

Existe uma verba <strong>de</strong>stinada ao trabalho e<br />

à manutenção dos artistas? Existe um mo<strong>de</strong>lo<br />

seguido ou elaborado? Existem outros “Centros<br />

<strong>de</strong> Pesquisa” no país?<br />

DSM: No final da década <strong>de</strong> 1970, o <strong>Teatro</strong><br />

SESC Anchieta exibiu os espetáculos<br />

Macunaíma e Nelson Rodrigues – O Eterno<br />

Retorno, dirigidos por Antunes Filho, que<br />

<strong>de</strong>senvolvia um método <strong>de</strong> trabalho inovador.<br />

Essa é a gênese do Centro <strong>de</strong> Pesquisa<br />

Teatral do SESC que foi criado em 1982,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> aprimorar a pesquisa sobre<br />

a arte dramática com vistas à realida<strong>de</strong><br />

brasileira. O método implementado por<br />

Antunes tem um fundamento teórico que<br />

alia física quântica, psicologia, correntes<br />

filosóficas orientais e obras primas do cinema,<br />

das artes plásticas e da literatura. Seu<br />

método se aplica especialmente ao estudo<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento dos recursos da voz.<br />

Antunes costuma dizer que ele não forma<br />

atores, forma cidadãos. E isso coaduna perfeitamente<br />

com tudo o que o SESC faz. O<br />

CPT, quanto à manutenção, está integrado<br />

entre os vários programas <strong>de</strong>senvolvidos<br />

pelo SESC. O Antunes é um funcionário<br />

do SESC. É o primeiro a chegar diariamente<br />

e, antes disso, aproveita para praticar<br />

ativida<strong>de</strong>s físicas nas salas <strong>de</strong> ginástica do<br />

SESC Consolação. Quanto a outros centros<br />

<strong>de</strong> pesquisa, é importante ressaltar que<br />

alguns grupos <strong>de</strong> teatro mantém seus núcleos<br />

<strong>de</strong> estudo.<br />

RC: Como então se situa o SESC em relação<br />

ao teatro na Cida<strong>de</strong>?<br />

DSM: São Paulo conta com excelentes<br />

teatros, que adotam padrões <strong>de</strong> programação<br />

semelhantes ou diversos ao padrão que<br />

o SESC tem. Mas existe uma diferença fundamental.<br />

É preciso consi<strong>de</strong>rar que o SESC<br />

é um centro difusor <strong>de</strong> cultura e, assim, é<br />

também um centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, <strong>de</strong> aquisição<br />

e difusão <strong>de</strong> conhecimentos, <strong>de</strong> exaltação<br />

ao saber. Para o SESC, é importante<br />

sublinhar tendências, valorizar a experimentação<br />

e romper paradigmas. Por isso,


nomes como Grotowski, Peter Brook, Isabelle<br />

Huppert, Suzuki, Therzopoulos, F.<br />

Tanguy, Michel Dydim, Andreas Kriegenbuer<br />

estiveram presentes nos palcos do<br />

SESC. La Fura Del Baus, da Espanha; Thêatre<br />

<strong>de</strong> Buffes du Nord, da França e Thalia<br />

Theater, da Alemanha, também vieram ao<br />

Brasil. Entre os brasileiros, praticamente<br />

todos os diretores i<strong>de</strong>ntificados a novas propostas<br />

e pesquisas passaram pelo SESC.<br />

RC: Trata-se <strong>de</strong> um esforço <strong>de</strong> difusão?<br />

DSM: A <strong>de</strong>mocratização do acesso aos<br />

bens culturais é um dos objetivos do SESC.<br />

Não tratamos a cultura como algo acessório<br />

ou mera opção <strong>de</strong> entretenimento em<br />

oposição aos infortúnios do cotidiano. O<br />

projeto que implementamos no SESC consi<strong>de</strong>ra<br />

a capacida<strong>de</strong> transformadora da cultura,<br />

ou seja, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

o pensamento crítico, emancipar a criativida<strong>de</strong>,<br />

promover a solidarieda<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> participação social. O SESC São Paulo<br />

possui uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> nove teatros na capital,<br />

com cerca <strong>de</strong> 4 mil lugares, e <strong>de</strong> oito no<br />

Interior e Litoral, com cerca <strong>de</strong> 2100 lugares.<br />

Além disso, algumas apresentações são<br />

feitas em espaços alternativos. Esse número<br />

é expressivo e, certamente, o maior número<br />

<strong>de</strong> salas vinculadas a uma única instituição,<br />

mas o que importa realmente, além<br />

da quantida<strong>de</strong>, é saber que sua programação<br />

é harmônica e está orientada por um<br />

projeto <strong>de</strong> ação cultural.<br />

RC: Está implicado aí um projeto <strong>de</strong> “formação<br />

<strong>de</strong> público”?<br />

DSM: O SESC forma públicos ao promover<br />

o que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> alfabetização<br />

cultural, sem adotar cartilhas,<br />

armar tutelas ou erguer protecionismos.<br />

Como centro cultural, o SESC não promove<br />

apenas o encontro <strong>de</strong> diferentes formas<br />

<strong>de</strong> expressão, contemplando a diversida<strong>de</strong><br />

e a multiplicida<strong>de</strong> próprias ao universo cultural.<br />

O SESC também reúne públicos diversos,<br />

<strong>de</strong> variadas faixas etárias e <strong>de</strong> diferentes<br />

níveis socioeconômicos. Somente<br />

neste mês <strong>de</strong> junho, o SESC exibe mais <strong>de</strong><br />

40 espetáculos para adultos e crianças. O<br />

Wooster Group (EUA), em Frank Dell’s The<br />

Temptation of St. Antony (1995)<br />

Centro <strong>de</strong> Pesquisa Teatral do SESC, criado<br />

em 1982, dirigido por Antunes Filho,<br />

figura hoje na história do teatro brasileiro<br />

pelas idéias que ali fortificam e pelos atores<br />

que ali se formam. Além do CPT, são freqüentes<br />

os seminários, as palestras, os cursos<br />

e os workshops, além da publicação <strong>de</strong><br />

livros e relatos. Em São José do Rio Preto,<br />

no interior paulista, a Prefeitura <strong>de</strong>senvolve<br />

um festival <strong>de</strong> teatro que, há cerca <strong>de</strong><br />

cinco anos passou a contar com a parceria<br />

do SESC. O festival tornou-se assim internacional<br />

e, além da exibir espetáculos, tornou-se<br />

um importante evento <strong>de</strong> intercâmbio<br />

e aprimoramento.<br />

RC: O que é levado em conta na seleção<br />

dos trabalhos veiculados pelo SESC?<br />

DSM: O cotidiano ten<strong>de</strong> à rotina, o pensamento<br />

à normatização. O medo diante do<br />

<strong>de</strong>sconhecido nos leva ao conformismo, o<br />

29


entrevista<br />

olhar simplório e vago contempla apenas o<br />

que é óbvio e imediato. A arte, se refletir<br />

isso, for conivente ou cúmplice <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>,<br />

o <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser. A cultura cumpre o<br />

papel <strong>de</strong> transgressão e rompimento com<br />

essa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>formada e <strong>de</strong>formante.<br />

Mas faz isso com um compromisso ético: o<br />

da elevação dos sentimentos, do enaltecimento<br />

dos valores que edificam as pessoas<br />

e aprimoram as relações entre elas. A transgressão<br />

sem esse componente ético nos leva<br />

ao bizarro e ao sensacionalismo – coisas que<br />

têm circulado intensamente, em especial,<br />

na cultura <strong>de</strong> massas.<br />

RC: E o público?<br />

DSM: A primeira constatação é que o público<br />

confia na programação dos teatros do<br />

SESC, i<strong>de</strong>ntificando-a como uma programação<br />

<strong>de</strong> referência. O SESC, <strong>de</strong> uma forma<br />

geral, tem uma imagem muito positiva junto<br />

à opinião pública. É tido como o espaço da<br />

excelência, do respeito e valorização das pessoas.<br />

Depois disso, vem a crítica especializada.<br />

A maioria dos espetáculos é sempre indicada,<br />

bem referenciada e premiada, seja pela<br />

qualida<strong>de</strong> das montagens, pela importância<br />

dos textos apresentados ou pelas propostas<br />

que são <strong>de</strong>senvolvidas.<br />

RC: Então, o que faz<br />

a especificida<strong>de</strong> do<br />

SESC?<br />

DSM: O SESC não<br />

é uma casa <strong>de</strong> espetáculos.<br />

É um centro <strong>de</strong><br />

estudos, pesquisas e<br />

discussão, mas essa não<br />

é a diferença essencial,<br />

pois outros centros culturais<br />

<strong>de</strong> São Paulo<br />

também atuam com essas<br />

características agregadas.<br />

As diferenças essenciais<br />

se explicam a<br />

partir da própria gênese<br />

do SESC. Esta é uma<br />

instituição <strong>de</strong> capital<br />

privado, mantida pelo<br />

empresariado do co-<br />

30<br />

Attis Theatre (Grécia), em Persas (1994)<br />

Ban’Yu Inryoku (Japão), em Suna Zôo do Deserto (1995)<br />

mércio e serviços e que não se relaciona,<br />

em hipótese alguma, a ações <strong>de</strong> marketing<br />

cultural ou promoção institucional. Trata-se<br />

<strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

social e cultural que, para sua realização,<br />

se vale <strong>de</strong> diversas linguagens e formas <strong>de</strong><br />

expressão, como o turismo, a expressão física<br />

e esportiva, a expressão artística, a relação<br />

com o meio ambiente e outras. Além<br />

da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas, os centros culturais<br />

e <strong>de</strong>sportivos do<br />

SESC se caracterizam<br />

também pela diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> públicos, seja<br />

quanto à faixa etária,<br />

seja quanto ao nível sócio-econômico.<br />

Essa<br />

diversida<strong>de</strong> e complexida<strong>de</strong><br />

influenciam a<br />

forma como nos relacionamos<br />

com teatro. O<br />

público no SESC, por<br />

exemplo, po<strong>de</strong> apreciar<br />

uma boa apresentação<br />

e, se quiser, <strong>de</strong>senvolver<br />

habilida<strong>de</strong>s próprias<br />

em oficinas ou<br />

cursos, que se <strong>de</strong>stinam<br />

tanto aos mais leigos<br />

quanto àqueles que<br />

formam tendências e<br />

criam propostas.


Maura Carvalho<br />

Arte no quintal<br />

Momento <strong>de</strong> apuração dos votos após improvisação.<br />

Por Renata <strong>de</strong> Albuquerque<br />

◗ COMO O PRÓPRIO NOME já <strong>de</strong>nuncia, há<br />

cerca <strong>de</strong> quatro anos a Companhia do<br />

Quintal escolheu essa área aberta como<br />

palco. O grupo tem, atualmente, 11 integrantes.<br />

Todos já trabalhavam com o universo<br />

dos palhaços antes <strong>de</strong> chegar à Companhia<br />

– são artistas que vieram <strong>de</strong> grupos<br />

como Sarau do Charles e Doutores da Alegria,<br />

por exemplo.<br />

Eles se uniram na Companhia<br />

do Quintal para pesquisar<br />

a linguagem <strong>de</strong> palhaços<br />

e improvisação. O espetáculo<br />

que resultou <strong>de</strong>ssa pesquisa,<br />

Jogando no Quintal – Jogo<br />

<strong>de</strong> Improvisação <strong>de</strong> Palhaços,<br />

surgiu há cerca <strong>de</strong> três anos,<br />

sempre apresentado em quitais<br />

que foram crescendo<br />

conforme aumentava o pú-<br />

blico. Hoje, a Companhia se apresenta em um<br />

quintal <strong>de</strong> uma escola pública on<strong>de</strong> cabem<br />

400 pessoas, no Butantã (SP).<br />

A escolha <strong>de</strong> manter uma relação mais direta<br />

com o público, segundo Marcio Ballas,<br />

integrante da Companhia, foi importante na<br />

medida em que o palhaço precisa compartilhar<br />

as sensações e emoções com o público.<br />

“O palhaço, mais que outros personagens,<br />

po<strong>de</strong> assumir publicamente um erro. E o<br />

Os “atletas” do espetáculo Jogando<br />

no Quintal<br />

Grupo pesquisa linguagem <strong>de</strong><br />

palhaços e improvisação<br />

público torna-se cúmplice não só do êxito<br />

(da improvisação), mas do fracasso”, diz.<br />

O espetáculo consiste em um jogo no qual<br />

dois times <strong>de</strong> três palhaços cada, mediados<br />

por um juiz, jogam uma bola que contém um<br />

tema escolhido pelo público, sobre o qual<br />

improvisam. Assim, a interação do público é<br />

gran<strong>de</strong>: vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escolha do tema até a torcida<br />

por um dos times, passando pela votação<br />

sobre qual dos times se saiu melhor naquela<br />

improvisação. “Cada<br />

apresentação é um espetácu-<br />

Renato Rebizzi<br />

lo novo; o jogo muda”, diz<br />

Ballas, referindo-se à gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variantes que<br />

permeiam a ativida<strong>de</strong>.<br />

A concepção do espetáculo<br />

é <strong>de</strong> Marcio Ballas e César<br />

Gouvêa, mas a direção é coletiva,<br />

“resultado <strong>de</strong> uma<br />

pesquisa <strong>de</strong> grupo”, como salienta<br />

o primeiro. Um grupo<br />

que, apesar <strong>de</strong> apresentar-se apenas no primeiro<br />

final <strong>de</strong> semana que cada mês, ensaia<br />

três vezes por semana, para manter-se afiado<br />

na improvisação e aprofundar a pesquisa.<br />

JOGANDO NO QUINTAL – JOGO DE<br />

IMPROVISAÇÃO DE PALHAÇOS. Primeiro final <strong>de</strong><br />

semana <strong>de</strong> cada mês (sextas, sábados e domingos).<br />

EMEF Desembargador Amorim Lima– Rua Prof Vicente<br />

Peixoto, 50 – Butantã. Preço: R$15,00. Informações:<br />

(11) 3672-1553 ou www.jogandonoquintal.com.br<br />

31<br />

reportagem


cooperativa em notícias<br />

Luiz Fernando Marques<br />

Novos projetos da Farândola Troupe<br />

Atores do grupo se apresentam na rua com o<br />

Farambulante ao fundo<br />

◗ A FARÂNDOLA TROUPE acaba <strong>de</strong> fechar<br />

uma parceria com a Eletropaulo. A empresa<br />

vai ce<strong>de</strong>r espaço e estrutura para o grupo,<br />

a partir <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> comodato que,<br />

a princípio, não está ligado a nenhuma lei<br />

<strong>de</strong> incentivo. Será cedida sala <strong>de</strong> ensaio,<br />

França revê Hysteria<br />

◗ O GRUPO XIX esteve, entre abril e junho, na<br />

França, on<strong>de</strong> apresentou o espetáculo Hysteria.<br />

O grupo já havia apresentado o espetáculo<br />

em Paris no ano <strong>de</strong> 2003, mas <strong>de</strong>sta vez a turnê<br />

passou por Arles, Gap, Lyon, Auxerre, Aubusson,<br />

Malakoff/Paris, Romans e Petit Quevilly/Rouen,<br />

em um total <strong>de</strong> 26 apresentações<br />

bilíngües (parte do espetáculo é apresentada<br />

em francês e parte em português). A turnê fez<br />

parte das comemorações do Ano do Brasil na<br />

França e foi organizada pelo grupo em conjunto<br />

com Gilbert Langlois, diretor do Festival <strong>de</strong><br />

Pierrefonds, on<strong>de</strong> o grupo se apresentou pela<br />

primeira vez há dois anos.<br />

Da esquerda<br />

para a direita:<br />

Juliana<br />

Sanches,<br />

Janaína Leite,<br />

Sara<br />

Antunes,<br />

Gisela Millás e Evelyn Klein em cena <strong>de</strong> Hysteria<br />

32<br />

Divulgação<br />

espaço no almoxarifado e um escritório para<br />

que todas as ativida<strong>de</strong>s do grupo sejam <strong>de</strong>senvolvidas<br />

ali, sem que isso implique interferência<br />

da empresa no trabalho da Farândola.<br />

Ou seja: a in<strong>de</strong>pendência do trabalho<br />

será mantida e as apresentações continuarão<br />

a acontecer na rua.<br />

Outro projeto é a turnê da Farândola pelo<br />

interior <strong>de</strong> São Paulo, chamado Projeto Circular.<br />

O micro-ônibus da companhia, batizado<br />

<strong>de</strong> Farambulante, <strong>de</strong>ve rodar por cerca<br />

<strong>de</strong> 15 cida<strong>de</strong>s durante o mês <strong>de</strong> junho,<br />

apresentando dois espetáculos diferentes:<br />

Que Palhaçada e Julio e A<strong>de</strong>raldo – Um dia<br />

na Vida <strong>de</strong> dois Sobreviventes. Algumas cida<strong>de</strong>s<br />

já estão confirmadas, como Sertãozinho,<br />

Jaboticabal, Matão e Monte Alto; outras<br />

serão incluídas no roteiro durante a<br />

passagem do grupo.<br />

Caixa <strong>de</strong> Imagens na<br />

Europa<br />

◗ O GRUPO<br />

CAIXA DE<br />

IMAGENS se<br />

apresenta na<br />

França e na<br />

Rússia nos<br />

próximos meses.<br />

Fazendo<br />

parte da programação<br />

da<br />

Funarte, o<br />

Emília cultiva tulipas no<br />

espetáculo Ainda Luzia<br />

grupo apresenta o espetáculo O Fotógrafo<br />

no Carreau, <strong>de</strong>ntro das comemorações<br />

do Ano do Brasil na França, em junho.<br />

Logo <strong>de</strong>pois, entre 2 e 12 <strong>de</strong> julho, o grupo<br />

estará em Moscou (Rússia). Ali faz a<br />

abertura da Estação Brasil, <strong>de</strong>ntro do<br />

Tchecov Festival, e permanece durante<br />

todo o festival, apresentando os espetáculos<br />

O Fotógrafo, Por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Otelo e<br />

Ainda Luzia, que na Rússia recebe o nome<br />

<strong>de</strong> A Luz <strong>de</strong> Lorca.<br />

Berenice Farina da Rosa


Portugal<br />

◗ NO DIA 3 DE<br />

MAIO a Fraternal<br />

Cia. <strong>de</strong> Artes<br />

e Malas Artes<br />

apresentou<br />

no <strong>Teatro</strong> Acadêmico<br />

Gil Vicente,<br />

em Coimbra(Portugal),<br />

o espetáculo<br />

Auto da<br />

Paixão e da Alegria.<br />

O convite<br />

para a apresentação<br />

partiu do<br />

GEFAC – Grupo<br />

<strong>de</strong> Etnogra- Aiman Hammoud e Mirtes Nogueira<br />

fia e Folclore da no espetáculo Auto da Paixão e da<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Alegria<br />

Coimbra –, que promoveu o 11º Encontro da Jornada<br />

da Cultura Popular, que teve como tema a<br />

discussão do sagrado e do profano. A Fraternal<br />

também participou <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates e mesas <strong>de</strong> discussão<br />

a respeito do tema.<br />

Itália recebe Kafka<br />

◗ O GRUPO TEATRO CÁUSTICO/Núcleo Tubo <strong>de</strong><br />

Ensaio fez a pré-estréia do espetáculo A Construção,<br />

<strong>de</strong> Franz Kafka, no <strong>Teatro</strong> Hop Altrove, em<br />

Gênova (Itália). As apresentações do espetáculo<br />

aconteceram no final<br />

<strong>de</strong> maio. Em junho, o<br />

grupo continua na Itália,<br />

realizando apresentações<br />

nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Luggo e Dozza, a convite<br />

da Associazione<br />

Teatrale Emilia Romagna.<br />

Fábio Zerloti O sagrado e o profano em<br />

O ator Wilson Julião<br />

em cena, no espetáculo<br />

A Construção<br />

Arnaldo Pereira<br />

Núcleo<br />

Bartolomeu leva<br />

espetáculo<br />

reformulado à<br />

Espanha<br />

Cena do espetáculo, em que o<br />

personagem Segismundo é libertado e<br />

assume a revolução, entoando: “Ouve<br />

o que a rua propõe, entra na<br />

celebração, a cultura como espada pra<br />

vencer a opressão”<br />

◗ O NÚCLEO BARTOLOMEU <strong>de</strong><br />

Depoimentos foi à Espanha entre<br />

1 e 11 <strong>de</strong> março, on<strong>de</strong> apresentou<br />

o espetáculo Acor<strong>de</strong>i que<br />

sonhava em Madri, Alcalá <strong>de</strong> Henares<br />

e Valladolid. Para essas<br />

apresentações o espetáculo sofreu<br />

algumas alterações, como a<br />

introdução <strong>de</strong> falas em diversos<br />

idiomas, como o espanhol e o<br />

francês. Além disso, na cena da<br />

revolução, uma gran<strong>de</strong> mudança<br />

aconteceu: retirou-se a alusão<br />

a armas e foi incorporada à cena<br />

uma coreografia, que representa<br />

uma proposta artística e pacífica<br />

<strong>de</strong> revolução. O resultado foi tão<br />

positivo que essa modificação<br />

agora passa a fazer parte do espetáculo<br />

em <strong>de</strong>finitivo.<br />

33<br />

Divulgação


cooperativa em notícias<br />

CEFAC abre inscrições<br />

◗ O CEFAC (Centro <strong>de</strong> Formação Profissional<br />

em Artes Circenses), uma iniciativa sem<br />

fins lucrativos que surgiu há um ano e meio<br />

da parceria entre o Galpão do Circo e a<br />

Central do Circo, está com as inscrições<br />

abertas para o processo seletivo <strong>de</strong> sua terceira<br />

turma.<br />

O curso, profissionalizante, é prático,<br />

com aulas diárias <strong>de</strong> teatro, dança, preparação<br />

física, técnica aérea, técnica <strong>de</strong> manipulação,<br />

técnica <strong>de</strong> equilíbrio e técnica<br />

acrobática. São quatro níveis que po<strong>de</strong>m<br />

ser concluídos em cerca <strong>de</strong> cinco anos se o<br />

34<br />

A revista Camarim cumprimenta os<br />

cooperados vencedores da 17ª edição do<br />

prêmio Shell, referente ao ano <strong>de</strong> 2004. Veja<br />

a seguir a lista do cooperados vencedores:<br />

Autor: Newton Moreno, por Agreste<br />

Direção: Cristiane Paoli-Quito,<br />

por Al<strong>de</strong>otas<br />

Ator: Luiz Damasceno,<br />

por Mercador <strong>de</strong> Veneza<br />

Divulgação<br />

Alunos em aula no CEFAC<br />

aluno já tiver experiência prévia.<br />

Para mais informações, consulte o link que<br />

está na página www.galpaodocirco.com.br, ou<br />

por telefone: (11) 3812-1676 e 3815-6147.<br />

Cooperados são <strong>de</strong>staque no Prêmio Coca-Cola/FEMSA<br />

◗ A DIVULGAÇÃO do resultado do Prêmio<br />

Coca-Cola Femsa no <strong>Teatro</strong>, a única premiação<br />

cultural voltada exclusivamente<br />

para o teatro infantil, aconteceu em abril,<br />

em São Paulo. Profissionais e espetáculos<br />

ligados à <strong>Cooperativa</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong><br />

foram os gran<strong>de</strong>s vencedores da premiação.<br />

Veja a lista dos premiados:<br />

Autor: As Meninas do Conto (As<br />

Velhas Fian<strong>de</strong>iras)<br />

Diretor: Cris Lozano (Caixa Mágica)<br />

Cenografia: Carlos Palma (20.000<br />

Léguas Submarinas – Ufa!)<br />

Ator: Guto Togniazollo (Caixa Mágica)<br />

Atriz: Bia Seidl (O Mistério do<br />

Fantasma Apavorado)<br />

Cooperados no Prêmio Shell<br />

Cenário: Ilo Krugli, por Bodas <strong>de</strong> Sangue<br />

Música: Wan<strong>de</strong>rley Martins, Caíque<br />

Botkay e João Poletto, por Bodas <strong>de</strong><br />

Sangue<br />

Categoria especial: Cia. Livre, pelo<br />

projeto Arena conta Arena 50 anos<br />

Homenagem: José Renato, pela<br />

contribuição constante ao teatro<br />

brasileiro<br />

Figurino: Marco Lima (Os Direitos da<br />

Criança)<br />

Iluminação: Fernando Anhê (Pedro e o<br />

Lobo)<br />

Revelação: Andréa Dupré (atriz, por A<br />

Matéria dos Sonhos)<br />

Trilha Sonora: As Meninas do Conto<br />

com Guilherme Maximiano e Girlei<br />

Miranda (As Velhas Fian<strong>de</strong>iras)<br />

Categoria Especial: Zôo-Ilógico, pelo<br />

teatro <strong>de</strong> animação <strong>de</strong> objetos<br />

Produção: Cia. Delas <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> e Mira<br />

Haar (Cabine do Destino)<br />

Melhor Espetáculo <strong>de</strong> 2004: As<br />

Velhas Fian<strong>de</strong>iras (As meninas do<br />

Conto)


DIRETORIA:<br />

Presi<strong>de</strong>nte Ney Piacentini<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte Cenne Gotts<br />

Secretário Roberto Rosa<br />

Segundo Secretário Fernanda Rapisarda<br />

Tesoureiro Aiman Hammoud<br />

Segundo Tesoureiro Alexandre Terreri<br />

Vogal Carlos Biaggiolli<br />

(diretoria@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

CONSELHO FISCAL:<br />

Paulo Del Castro Rosy Farias<br />

Amazyles Almeida Beth Rizzo<br />

Carlos Colabone Emília Rinaldi<br />

CONSELHO CONSULTIVO:<br />

Bebê <strong>de</strong> Soares Fátima Ribeiro<br />

Patrícia Barros Pedro Pires<br />

Petrônio Nascimento Sérgio Santiago<br />

Graça Berman<br />

NO FRONT:<br />

Administração Darcio Ranção Ricca (adm@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Secretária da Diretoria Mayra Rizzo Vieira (central@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Financeiro Joyce Maria dos Santos (joyce@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Luana Kavanji (financeiro@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Wladimir dos Santos Baptista (wladimir@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

José Davi Souza Rafael<br />

Contas a receber Vânia Longuinho <strong>de</strong> Souza (vania@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Faturas Rosana <strong>de</strong> Oliveira Maciel (fatura@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Fiscal Mara Regina (mara@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Gestão <strong>de</strong> Cooperados Eliana Albieri da Silva (eliana@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Banco <strong>de</strong> Dados e Cadastro Thaís Albieri (thais@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Atendimento Rodrigo Correa Braz (financeiro2@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Fábia Fernanda Pinez<br />

Ricardo Pereira Barroso<br />

Auxiliar jurídico Thiago Fusco (juridico@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Webmaster Demerson Silva Campos (webmaster@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

Recepcionista Dayane Aparecida dos Santos<br />

Office-boy Diego Geraldo Nunes<br />

Faxineira Maria das Montanhas<br />

Contabilida<strong>de</strong> Contabs Assessoria Empresarial<br />

Andréia<br />

Paula Romano<br />

(contabilida<strong>de</strong>@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

DEPARTAMENTO JURÍDICO:<br />

Advogados Martha Macruz <strong>de</strong> Sá<br />

Álvaro Paez Junqueira<br />

(juridico@cooperativa<strong>de</strong>teatro.com.br)<br />

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