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PV2D-07-54 <strong>Língua</strong><br />
<strong>Portuguesa</strong> 5<br />
Capítulo 1<br />
Modernismo<br />
01. Cesgranrio-RJ<br />
Ao longo da literatura brasileira, percebe-se, de forma<br />
recorrente, a tematização da paisagem/realidade local.<br />
Tendo em vista a produção literária do século XX, assinale<br />
a opção em que a tendência indicada para cada<br />
período apresentado a seguir esteja incorreta.<br />
a) Na fase pré-modernista, no ínicio do século, uma<br />
literatura frívola, com atmosfera Belle Époque, convive<br />
com outra, voltada para problemas regionais.<br />
b) Na primeira fase do Modernismo, há o registro da<br />
vida das grandes cidades, com destaque para São<br />
Paulo, por infl uência do grupo paulista.<br />
c) No período do Neo-Simbolismo de 1930, acentua-se<br />
a observação da realidade externa, em<br />
detrimento da interna.<br />
d) Nos anos 1940, o amadurecimento da renovação<br />
temática e a busca de naturalidade da linguagem<br />
fi ccional dão nova feição ao regionalismo.<br />
e) Na década de 1970, nota-se uma pluralidade de<br />
tendências, indo desde a alegoria e o fantástico<br />
ao ultra-realismo e à literatura-verdade (romancereportagem,<br />
por exemplo).<br />
0 2. UEL-PR<br />
Assinale a alternativa incorreta sobre o Pré-Modernismo.<br />
a) Não se caracterizou como uma escola literária<br />
com princípios estéticos bem delimitados, mas<br />
como um período de prefi guração das inovações<br />
temáticas e lingüísticas do Modernismo.<br />
b) Algumas correntes de vanguarda do início do<br />
século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exerceram<br />
grande infl uência sobre nossos escritores<br />
pré-modernistas, sobretudo na poesia.<br />
c) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes<br />
signifi cativos da literatura pré-modernista produzida<br />
nos primeiros anos do século XX, pois problematizam<br />
a realidade cultural e social do Brasil.<br />
d) Euclides da Cunha, com a obra Os sertões, ultrapassa<br />
o relato meramente documental da batalha<br />
de Canudos para fi xar-se em problemas humanos<br />
e revelar a face trágica da nação brasileira.<br />
e) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além<br />
da crítica social, a crítica ao academicismo e à<br />
linguagem empolada e vazia dos parnasianos,<br />
traço que revela a postura moderna do escritor.<br />
0 3. UFPE<br />
Nas duas primeiras décadas do século XX, surgiu, no<br />
Brasil, o Pré-Modernismo. Sobre esse tema, analise<br />
as proposições a seguir.<br />
( ) Foi um movimento com ideário estético rígido,<br />
com linguagem altamente formal e cuja temática<br />
dominante era a defesa do regime republicano<br />
recém-instalado (1889).<br />
( ) Surgiu num período em que, em termos gerais,<br />
predominava a estética parnasiana na poesia,<br />
com sua valorização do mundo greco-latino e a<br />
concepção de literatura como elaboração formal.<br />
( ) Nesta época, início do século XX, foi contemporâneo<br />
de alguns simbolistas remanescentes, que<br />
sonhavam com sensações inefáveis, distantes da<br />
realidade.<br />
( ) Contrastando com os simbolistas e parnasianos,<br />
Euclides da Cunha escreveu Os sertões, documento<br />
amargurado e realista, sobre a guerra de<br />
Canudos, da qual participou como enviado do<br />
jornal O Estado de S. Paulo. Descreveu, numa<br />
mescla de romance e ensaio científico, uma<br />
epopéia às avessas, que foi publicada em 1902.<br />
( ) Lima Barreto, outro autor da época, tem como principal<br />
obra: Triste fi m de Policarpo Quaresma. Em<br />
seu livro, abandonou o mundo helênico, perfeito e<br />
imaginário, descrevendo a tristeza dos subúrbios<br />
e revelando preocupação com fatos históricos e<br />
costumes sociais. Seu estilo era semelhante ao<br />
de Machado de Assis, pelo refi namento lingüístico,<br />
pela forma trabalhada, limpa e perfeita.<br />
0 4. UFAL<br />
Assinale como verdadeiras ou falsas as afi rmações<br />
sobre nossa literatura no Pré-Modernismo.<br />
( ) Com Os sertões, Euclides da Cunha retomou<br />
a tradição do romance regionalista romântico,<br />
reabrindo este caminho para Graciliano Ramos e<br />
Guimarães Rosa.<br />
( ) Antes de se realizar como um extraordinário poeta<br />
moderno, Manuel Bandeira escreveu versos de<br />
gosto parnasiano e simbolista, dentro do gosto<br />
estético que predominava nas duas primeiras<br />
décadas do nosso século.<br />
( ) A poesia do período pré-modernista não tem nada<br />
de propriamente revolucionário, mas há que se<br />
destacar a originalíssima concepção de poesia<br />
que está no livro Eu, de Augusto dos Anjos.<br />
( ) A prosa de Lima Barreto destaca-se, nesse período,<br />
por satirizar o nacionalismo, o ofi cialismo da<br />
literatura e a concepção de arte pela arte, além<br />
de aproximar o leitor de situações típicas dos<br />
subúrbios do Rio de Janeiro.<br />
( ) Monteiro Lobato deve ser reconhecido como autêntico<br />
modernista, sobretudo no que se referia<br />
às suas concepções no campo das artes plásticas,<br />
mais do que como pré-modernista.<br />
177
05. UFRJ<br />
Fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma<br />
Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte<br />
anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora<br />
o amor comum, palrador e vazio; fora um sentimento<br />
sério, grave e absorvente. (...) o que o patriotismo o<br />
fez pensar, foi num conhecimento inteiro de Brasil.<br />
(...) Não se sabia bem onde nascera, mas não fora<br />
decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul,<br />
nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele<br />
qualquer regionalismo: Quaresma era antes de tudo<br />
brasileiro.<br />
Barreto, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.<br />
São Paulo: Scipione, 1997.<br />
Este fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma<br />
ilustra uma das características mais marcantes do<br />
Pré-Modernismo, que é o:<br />
a) desejo de compreender a complexa realidade<br />
nacional.<br />
b) nacionalismo ufanista e exagerado, herdado do<br />
Romantismo.<br />
c) resgate de padrões estéticos e metafísicos do<br />
Simbolismo.<br />
d) nacionalismo utópico e exagerado, herdado do<br />
Parnasianismo.<br />
e) subjetivismo poético, tão bem representado pelo<br />
protagonista.<br />
06.<br />
Os textos a seguir são fragmentos da obra Os sertões,<br />
de Euclides da Cunha. Leia-os e responda à questão<br />
abaixo.<br />
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Três, 1984.<br />
Texto I<br />
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais<br />
exaustiva que a de uma estepe nua.<br />
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de<br />
um horizonte largo e a perspectiva das planuras<br />
francas.<br />
Texto II<br />
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem<br />
o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos<br />
do litoral.<br />
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de<br />
vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável,<br />
o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações<br />
atléticas.<br />
(...)Este contraste impõe-se ao mais leve exame.<br />
Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores<br />
da vida sertaneja — caracterizado sempre pela intercadência<br />
impressionadora entre extremos impulsos e<br />
apatias longas.<br />
Texto III<br />
Decididamente era indispensável que a campanha<br />
de Canudos tivesse um objetivo superior à<br />
função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um<br />
178<br />
povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a<br />
combater, em guerra mais demorada e digna. Toda<br />
aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro,<br />
se não se aproveitassem os caminhos abertos à<br />
artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e<br />
persistente, visando trazer para o nosso tempo e<br />
incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas<br />
retardatários.<br />
É possível perceber que o relato de Euclides da Cunha<br />
revela influências científicas da época e, ao mesmo<br />
tempo, o desejo de chegar à verdade dos fatos.<br />
a) Destaque do texto II um trecho que comprove as<br />
influências de teorias raciais existentes no início<br />
do século XX.<br />
b) É possível afirmar que a divisão da obra em três<br />
partes prende-se às teorias naturalistas de análise<br />
comportamental? Explique.<br />
c) O autor não aceita a versão do Exército brasileiro<br />
de que Canudos era um foco monarquista. Desse<br />
modo, na visão do autor, quais são as causas<br />
desse fenômeno social?<br />
07. PUC-RS<br />
Numerar a segunda coluna de acordo com a primeira,<br />
relacionando as idéias, as expressões, os autores e<br />
as obras ao que se convencionou denominar de Pré-<br />
Modernismo e Geração de 22.<br />
1. Pré-Modernismo<br />
2. Geração de 22<br />
( ) Oswald de Andrade<br />
( ) Lima Barreto<br />
( ) Mário de Andrade<br />
( ) Os Sertões<br />
( ) fragmentação da narrativa<br />
( ) ruptura com a tradição<br />
( ) ecletismo<br />
( ) irreverência<br />
A seqüência correta, de cima para baixo, é a da<br />
alternativa<br />
a) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1 – 2<br />
b) 2 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2<br />
c) 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 2 – 2<br />
d) 1 – 1 – 1 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2<br />
e) 1 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 1<br />
08. Mackenzie-SP<br />
Caso raro: fazendo uma poesia formalmente trabalhada,<br />
elaborada em linguagem cientificista-naturalista,<br />
atingiu uma popularidade acima das expectativas, em<br />
função de seu pessimismo, sua angústia em face de<br />
problemas pessoais e das incertezas do novo século<br />
que despontava.<br />
O autor a que se refere o trecho acima é considerado<br />
um:<br />
a) romântico.<br />
b) pré-modernista.<br />
c) modernista.<br />
d) barroco.<br />
e) parnasiano.
PV2D-07-54<br />
09. UFC-CE<br />
Sobre a produção literária de Lima Barreto, tem fundamento<br />
afirmar:<br />
01. Recordações do escrivão Isaías Caminha, Vida e<br />
morte de M. J. Gonzaga de Sá e Clara dos Anjos<br />
são romances do autor.<br />
02. O cotidiano da então capital brasileira constitui um<br />
dos núcleos de sua produção literária.<br />
04. Seus escritos abordam a politicagem, a irracionalidade<br />
administrativa, o preconceito, a marginalidade<br />
e a análise das aparências sociais.<br />
08. Seu processo ficcional interpreta os costumes da<br />
alta burguesia carioca, esfera social a que o autor<br />
se limitou e que tomou como sua.<br />
16. Uma perspectiva aberta pelo escritor foi a de trazer,<br />
para a literatura brasileira, a vida suburbana, com<br />
seus vícios, pequenos funcionários, militares e<br />
moleques.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
<strong>10</strong>. Ufla-MG<br />
Uma atitude comum caracteriza a postura literária de<br />
autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto,<br />
Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha.<br />
Pode ser ela definida como:<br />
a) a necessidade de superar, em termos de um programa<br />
definido, as estéticas romântica e realista.<br />
b) a pretensão de dar um caráter definitivamente<br />
brasileiro à nossa literatura, que julgavam por<br />
demais europeizada.<br />
c) a necessidade de fazer crítica social, já que o<br />
Realismo havia sido ineficaz nessa matéria.<br />
d) aproveitamento estético do que havia de melhor na<br />
herança literária brasileira, desde suas primeiras<br />
manifestações.<br />
e) a preocupação com o estudo e com a observação<br />
da realidade brasileira.<br />
11.<br />
Assinale a alternativa incorreta em relação ao Pré-<br />
Modernismo.<br />
a) Ruptura com o academicismo literário, sendo<br />
exemplo a linguagem de Augusto dos Anjos, repleta<br />
de palavras não-poéticas.<br />
b) Na prosa, negação do Brasil literário herdado do<br />
Romantismo e do Parnasianismo, com a denúncia<br />
da realidade brasileira.<br />
c) As obras de Euclides da Cunha e Lima Barreto<br />
tematizavam os problemas vividos pelo sertanejo<br />
nordestino.<br />
d) Apresentação de tipos humanos marginalizados,<br />
como o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários<br />
públicos, os mulatos.<br />
e) Ligação explícita com os fatos políticos, econômicos<br />
e sociais da época, como se observa em Lima<br />
Barreto, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha.<br />
12.<br />
A novidade é que o Brasil não é só litoral<br />
é muito mais, é muito mais que qualquer zona sul<br />
tem gente boa espalhada por esse Brasil<br />
que vai fazer desse lugar um bom país<br />
Uma notícia tá chegando lá do interior<br />
não deu no rádio, no jornal ou na televisão<br />
ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil<br />
não vai fazer desse lugar um bom país<br />
Milton Nascimento & Fernando Brant<br />
Leia a letra da canção acima e a seguir responda ao<br />
que se pede.<br />
a) Qual é o tema da canção?<br />
b) Relacione-o com a temática do Pré-Modernismo.<br />
13. UFC-CE<br />
Relacione as obras listadas com os autores pré-modernistas,<br />
a seguir.<br />
Obras: Urupês, Canaã, O quinze, Clara dos anjos, Eu<br />
e outras poesias, À margem da história<br />
a) Graça Aranha<br />
b) Lima Barreto<br />
c) Monteiro Lobato<br />
d) Euclides da Cunha<br />
Textos para as questões de 14 a 16.<br />
Texto 1<br />
Padre Anselmo olhou com tristeza as mulheres<br />
ajoelhadas à sua frente. Ia começar a missa e sentia-se<br />
extremamente cansado. Onde aquela piedade com que<br />
celebrava nos seus tempos de jovem sacerdote, preocupado<br />
com a salvação das almas? As coisas haviam<br />
mudado. Discutiam-se os novos ritos, as novas fórmulas.<br />
(...) Sentia-se tímido, vencido, olhando para os fiéis,<br />
pronunciando palavras na língua que falava em casa, na<br />
rua. A mesma língua dos bêbados, dos vagabundos, das<br />
meretrizes. De todos. Benzeu-se instintivamente:<br />
– Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo.<br />
Amém.<br />
BEZERRA, João Clímaco. A vinha dos esquecidos.<br />
Fortaleza: UFC, 2005. pp.32-33.<br />
Texto 2<br />
Dissertar sobre uma literatura estrangeira supõe,<br />
entre muitas, o conhecimento de duas coisas primordiais:<br />
idéias gerais sobre literatura e compreensão<br />
fácil do idioma desse povo estrangeiro. Eu cheguei a<br />
entender perfeitamente a língua da Bruzundanga, isto<br />
é, a língua falada pela gente instruída e a escrita por<br />
muitos escritores que julguei excelentes; mas aquela<br />
em que escreviam os literatos importantes, solenes,<br />
respeitados, nunca consegui entender, porque redigem<br />
eles as suas obras, ou antes, os seus livros, em outra<br />
muito diferente da usual, outra essa que consideram<br />
como sendo a verdadeira, a lídima, justificando isso por<br />
ter feição antiga de dois séculos ou três. Quanto mais<br />
incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que a<br />
escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.<br />
BARRETO, Lima. Os bruzundangas. Fortaleza: UFC, 2004. p.7.<br />
14. UFC-CE<br />
Em ambos os textos há restrições:<br />
a) à lingua literária.<br />
b) aos usos da língua.<br />
c) à renovação da língua.<br />
d) aos idiomas estrangeiros.<br />
e) à falta de comunicação.<br />
179
15. UFC-CE<br />
Tanto o protagonista do texto 1, quanto o cronista do<br />
texto 2:<br />
a) formulam opiniões.<br />
b) seguem o consenso.<br />
c) aceitam os costumes.<br />
d) contestam a oratória.<br />
e) dissertam sobre normas.<br />
16. UFC-CE<br />
De acordo com o cronista, no texto 2, o bom escritor<br />
deve:<br />
a) publicar livros em grande quantidade.<br />
b) conhecer obras sobre assuntos variados.<br />
c) gozar de notoriedade nacional.<br />
d) escrever de forma inteligível.<br />
e) usar linguagem antiga.<br />
Texto para as questões 17 e 18.<br />
Os representantes do atraso e do progresso<br />
aparecem como faces da mesma moeda em Os<br />
sertões e em outro livro da época, O bota-abaixo, de<br />
José Vieira. Euclides traça o perfil do Conselheiro no<br />
parágrafo “Como se faz um monstro”: “E surgia na<br />
Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até<br />
aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada;<br />
olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito<br />
azul de brim americano”; Vieira parece retomá-lo na<br />
caracterização do prefeito Pereira Passos: “Ali estava<br />
ele – o monstro. Trajava um simples paletó azul, calça<br />
de listras, chapéu de feltro. Alto, a barba branca espontada,<br />
as sobrancelhas espessas sombreando-lhe<br />
os olhos pequenos.”<br />
Sem se ocupar da população despejada, a reforma<br />
de Pereira Passos tornou sistemático um processo que<br />
deve o nome à campanha de Canudos: a favelização.<br />
Os veteranos da guerra, ao se reinstalar no Rio de<br />
Janeiro, deram ao morro da Providência o nome do<br />
seu local de acampamento nos sertões: o morro da<br />
Favela, também mencionado por Euclides como o<br />
lugar de onde um capuchinho amaldiçoou Conselheiro,<br />
abrindo caminho para a invasão.<br />
180<br />
Ricardo Oiticica, Nossa História. “Euclides incrível.”<br />
17. PUCCamp-SP<br />
Se de fato, como supõe o texto, José Vieira valeu-se<br />
de uma descrição do Conselheiro, feita por Euclides<br />
da Cunha, para, a partir dela, criar a de Pereira Passos,<br />
pode-se afirmar que Vieira explorou o recurso<br />
estilístico da:<br />
a) antítese.<br />
b) metáfora.<br />
c) ambigüidade.<br />
d) paródia.<br />
e) sinonímia.<br />
18. PUCCamp-SP<br />
A frase “Os representantes do atraso e do progresso<br />
aparecem como faces da mesma moeda” indica que,<br />
para Euclides da Cunha, são antagônicas e complementares<br />
as ações dos:<br />
a) jagunços e as dos fanáticos.<br />
b) cangaceiros e as do governo.<br />
c) sertanejos revoltosos e as do poder da República.<br />
d) soldados amotinados e as dos oficiais do Exército.<br />
e) retirantes e as dos proprietários.<br />
19.<br />
Com relação à linguagem, o que caracteriza a obra<br />
de Lima Barreto?<br />
20. UFSC<br />
Texto I<br />
Do alto tinham aguardado o socorro, o do exército<br />
encantado, e no alto voava o instrumento da morte.<br />
Entre o vôo espantado dos urubus, inclinavam-se as<br />
asas do aparelho que Setembrino de Carvalho tinha<br />
mandado para localizar redutos.O avião ia e vinha,<br />
subia, baixava, girava. Ria-se das pedradas, dos tiros,<br />
dos insultos. Navegava acima das espadas eriçadas e<br />
do fogo dos fuzis, um poder que tinha saído das mãos<br />
dos homens para aniquilar os homens.<br />
SCHÜLER, Donaldo. Império caboclo. 2. ed. Florianópolis: EdUFSC;<br />
Porto Alegre: Movimento, 2004, pp. 2<strong>10</strong>-211.<br />
Texto II<br />
Não lhes bastavam seis mil mannlichers e seis<br />
mil sabres; e o golpear de doze mil braços, e o acalcanhar<br />
de doze mil coturnos; e seis mil revólveres; e<br />
vinte canhões, e milhares de granadas, e milhares de<br />
schrapnells, e os degolamentos, e os incêndios, e a<br />
fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias<br />
de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas;<br />
e o quadro indefinível dos templos derrocados; e, por<br />
fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares<br />
abatidos, dos santos em pedaços – sob a impassibilidade<br />
dos céus tranqüilos e claros – a queda de<br />
um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença<br />
consoladora e forte...<br />
Impunham-se outras medidas. Ao adversário irresignável<br />
as forças máximas da natureza, engenhadas<br />
à destruição e aos estragos. Tinha-as, previdentes.<br />
Havia-se prefigurado aquele epílogo assombroso do<br />
drama. Um tenente, ajudante-de-ordens do comandante<br />
geral, fez conduzir do acampamento dezenas<br />
de bombas de dinamite. Era justo; era absolutamente<br />
imprescindível. Os sertanejos invertiam toda a psicologia<br />
da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os<br />
a fome, empedernia-os a derrota.<br />
CUNHA, Euclides da. Os sertões.<br />
São Paulo: Martin Claret, 2003, pp. 520-521.<br />
Com base no texto e na obra de Euclides da Cunha,<br />
assinale a(s) proposição(ões) correta(s).<br />
01. O texto é exemplo de como o sertanejo é descrito<br />
também em outras passagens do livro Os sertões e<br />
confirma a consagrada frase de Euclides da Cunha:<br />
O sertanejo é antes de tudo um forte.<br />
02. A narrativa de Euclides da Cunha propõe uma<br />
antítese entre a força física ou material do exército<br />
e a força do sertanejo, adaptado às condições de<br />
seu lugar e amparado pela crença religiosa.
PV2D-07-54<br />
04. Quando afirma que “Impunham-se outras medidas”<br />
(Texto II), pois todo aquele arsenal não lhes bastava,<br />
o narrador quer dizer que os soldados apelaram para<br />
os “céus tranqüilos e claros” (Texto II).<br />
08. Há dois planos opostos que descrevem os dois<br />
lados desiguais da luta em Canudos. De um<br />
lado, o exército de São Sebastião e, de outro, os<br />
sertanejos com suas ruínas, na ciscalhagem das<br />
imagens rotas e em pedaços.<br />
16. A construção do texto por meio de paradoxos como<br />
“enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome,<br />
empedernia-os a derrota” (Texto II) confirma uma das<br />
características da obra: a presença de elementos contrastantes<br />
como resultado de idéias antagônicas.<br />
32. A correta “psicologia da guerra” (Texto II), aplicada<br />
pelo exército, não foi suficiente para a tomada de<br />
Canudos, já que os sertanejos a invertiam.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
21. Mackenzie-SP<br />
Sobre Os sertões, é incorreto afirmar que:<br />
a) o autor, militar em sua origem, desaprova a causa<br />
dos sertanejos.<br />
b) apresenta certa dificuldade em termos de enquadramento<br />
em um único gênero literário.<br />
c) sua linguagem tende ao solene, com vocabulário<br />
erudito e tom grandiloqüente.<br />
d) origina-se de reportagens para O Estado de S.<br />
Paulo, nas quais o autor expõe fatos relacionados<br />
à Guerra de Canudos.<br />
e) Euclides da Cunha segue um esquema determinista<br />
na estrutura das três partes da obra.<br />
22. PUC-RS<br />
Em marcha para Canudos<br />
Foi nestas condições desfavoráveis que partiram<br />
a 12 de janeiro de 1897.<br />
Tomaram pela Estrada de Cambaio.<br />
É a mais curta e a mais acidentada. Ilude a princípio,<br />
perlongando o vale de Cariacá, numa cinta de<br />
terrenos férteis sombreados de cerradões que prefiguram<br />
verdadeiras matas.<br />
Transcorridos alguns quilômetros, porém, acidenta-se;<br />
perturba-se em trilhas pedregosas e torna-se<br />
menos praticável à medida que se avizinha do sopé<br />
da serra do Acaru.<br />
(...)<br />
Tinha meio caminho andado. As estradas pioravam<br />
crivadas de veredas, serpeando em morros, alçandose<br />
em rampas caindo em grotões, desabrigadas, sem<br />
sombras...<br />
(...)<br />
Entretando era imprescindível a máxima celeridade.<br />
Tornava-se suspeita a paragem: restos de fogueira<br />
à margem do caminho e vivendas incendiadas, davam<br />
sinais do inimigo.<br />
Todas as afirmativas que seguem estão associadas ao<br />
trecho selecionado de Os sertões, em que os homens<br />
se dirigem para o local do embate, exceto:<br />
a) Atenção e rapidez são necessárias numa trajetória<br />
que leva os viajantes a uma experiência belicosa.<br />
b) A presença do inimigo é percebida pelos rastros<br />
de sua passagem ainda recente.<br />
c) Os obstáculos que se apresentam prenunciam os<br />
trágicos eventos que ocorrerão.<br />
d) Pelo assunto do trecho, é possível inferir que se<br />
trata de um episódio constante na segunda parte<br />
da obra.<br />
e) A estrada referida perturba a avaliação inicial do<br />
viajante dada a riqueza natural da área.<br />
23. UEL-PR<br />
Inspirado no determinismo mais rígido, em moda<br />
no seu tempo, o autor procura mostrar que aqueles<br />
sertanejos não eram culpados como criminosos, mas<br />
que foram produto inevitável de um conjunto de fatores<br />
geográficos, raciais e históricos. Nada mais natural que<br />
se unissem em torno de seu profeta e por ele morressem,<br />
defendendo casa a casa o estranho arraial.<br />
O trecho anterior está se referindo à obra que consagrou:<br />
a) Olavo Bilac. d) Augusto dos Anjos.<br />
b) Euclides da Cunha. e) Raul Pompéia.<br />
c) Lima Barreto.<br />
24. PUC-RS<br />
... E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos<br />
crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face<br />
escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro<br />
de um hábito azul de brim americano; abordoado ao<br />
clássico bastão em que se apóia o passo tardo dos<br />
peregrinos.<br />
É desconhecida a sua existência durante tão longo<br />
período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos<br />
últimos dias da campanha, disse-me algo a respeito,<br />
mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores<br />
característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernambuco,<br />
um ou dous anos depois da partida do Crato.<br />
A viagem de Euclides da Cunha à região de Canudos,<br />
onde ocorre a revolta dos seguidores de Antônio<br />
Conselheiro:<br />
a) ratifica sua posição em relação aos fanáticos rebeldes,<br />
expressa em seu artigo A nossa vendéia.<br />
b) impulsiona-o a produzir Os sertões, baseando-se<br />
somente no que realmente pôde presenciar.<br />
c) demove-o da concepção determinista vigente na<br />
época, que concebe o homem como um cruzamento<br />
de condicionamentos.<br />
d) retifica a opinião vigente, passando a considerar<br />
a revolta como resultante do atraso da nação.<br />
e) influencia a prosa do autor, antes impregnada de<br />
cientificismo e reacionarismo.<br />
25. UFRGS-RS<br />
Considere as seguintes afirmações sobre Os sertões,<br />
de Euclides da Cunha.<br />
I. Nas duas primeiras partes do livro, o autor descreve,<br />
respectivamente, o homem e o meio ambiente<br />
que constituíam o sertão baiano, valendo-se, para<br />
tanto, das teorias científicas desenvolvidas na<br />
época.<br />
II. Ao descrever os sertanejos, o autor idealiza suas<br />
qualidades morais e físicas e conclui que seu<br />
heroísmo era resultado da fé nos ensinamentos<br />
religiosos do líder Antônio Conselheiro.<br />
181
III. O autor descreve, na terceira parte do livro, as<br />
várias etapas da Guerra de Canudos e denuncia o<br />
massacre dos sertanejos pelas tropas do exército<br />
brasileiro, revelando a miséria e o subdesenvolvimento<br />
da região.<br />
Quais estão corretas?<br />
a) Apenas I<br />
b) Apenas II<br />
c) Apenas III<br />
d) Apenas I e III<br />
e) I, II e III<br />
26. Mackenzie-SP<br />
“Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três<br />
pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem o<br />
equilíbrio, inútil, portanto, meter a quarta, que ainda<br />
o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a<br />
natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares<br />
sobre os quais se sentam?”<br />
O trecho acima é claramente representativo da obra de:<br />
a) Lima Barreto.<br />
b) Augusto dos Anjos.<br />
c) Euclides da Cunha.<br />
d) Aluísio Azevedo.<br />
e) Monteiro Lobato.<br />
27. UFRGS-RS<br />
Livro posto entre _____________________, Os sertões<br />
assinalam um fim e um começo: o fim do imperialismo<br />
literário, o começo ____________________<br />
aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade<br />
brasieleira (no caso, as contradições contidas na diferença<br />
de cultura entre _____________________).<br />
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade.<br />
São Paulo: Companhia Editora Nacional, s.d. p. 133.<br />
Assinale a alternativa que preenche corretamente as<br />
lacunas do texto acima.<br />
a) a literatura e a sociologia naturalista – da associação<br />
onírica e simbolista – as regiões litorâneas e<br />
o interior<br />
b) a literatura e o panfleto pró-monárquico – da<br />
análise científica – a região nordeste e o sul industrializado<br />
c) a literatura e a sociologia naturalista – da análise<br />
científica – as regiões litorâneas e o interior.<br />
d) a literatura e o panfleto pró-monárquico – da associação<br />
onírica e simbolista – a região nordeste<br />
e o sul industrializado<br />
e) a literatura e a sociologia naturalista – da associação<br />
onírica e simbolista – a região nordeste e o sul<br />
industrializado<br />
28. Mackenzie-SP<br />
... E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos<br />
até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada;<br />
olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito<br />
azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão<br />
em que se apóia o passo tardo dos peregrinos.<br />
É desconhecida a sua existência durante tão longo<br />
período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos<br />
últimos dias da campanha, disse-me algo a respeito,<br />
mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores<br />
182<br />
característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernambuco,<br />
um ou dous anos depois da partida do Crato.<br />
Com relação à obra de que se extraiu o fragmento<br />
acima, é incorreto afirmar que:<br />
a) apresenta cenário e paisagem idealizados, por se<br />
tratar de um texto de cunho romântico.<br />
b) trata da campanha de Canudos e dos contrastes<br />
entre o Brasil à beira do Atlântico e um outro, do<br />
sertão nordestino.<br />
c) denuncia o extermínio de milhares de pessoas no<br />
interior baiano pelo exército nacional.<br />
d) contém uma visão de mundo determinista, influenciada<br />
pelas idéias de Hypolite Taine.<br />
e) constrói um grande painel do sertão nordestino,<br />
dividindo-se em três partes – A terra, O homem,<br />
A luta.<br />
29. UFRGS-RS<br />
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações<br />
abaixo sobre a obra Os sertões, de Euclides<br />
da Cunha.<br />
( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o<br />
requinte da linguagem, a intenção científica e o<br />
propósito jornalístico.<br />
( ) A obra euclideana insere-se numa tradição da<br />
literatura brasileira que tematiza o povoamento<br />
do sertão, iniciada ainda no Romantismo com<br />
Bernardo Guimarães.<br />
( ) Euclides da Cunha escreveu Os sertões com base<br />
nas reportagens que realizou como correspondente<br />
do jornal O Estado de S. Paulo.<br />
( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia<br />
criada pelo imaginário do autor.<br />
( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de<br />
Euclides da Cunha, faz parte dos movimentos de<br />
protesto surgidos logo após a proclamação da<br />
Independência do Brasil.<br />
a) V – F – V – F – F<br />
b) V – V – V – F – F<br />
c) F – F – V – V – F<br />
d) F – V – F – F – V<br />
e) V – V – F – F – F<br />
30. UFRGS-RS<br />
Leia o trecho abaixo de Os sertões, de Euclides da<br />
Cunha.<br />
Daquela data ao termo da campanha a tropa iria<br />
viver em permante alarma.<br />
(...)<br />
A tática invariável do jagunço expunha-se temerosa<br />
naquele resistir às recuadas, restribando-se* em todos<br />
os acidentes da terra protetora. Era a luta da sucuri<br />
flexuosa* com o touro pujante. Laçada a presa, distendia<br />
os anéis; permitia-lhe a exaustão do movimento<br />
livre e a fadiga da carreira solta; depois se constringia<br />
repuxando-o, maneando-o nas roscas contráteis, para<br />
relaxá-las de novo, deixando-o mais uma vez se esgotar<br />
no escarvar*, amarradas, o chão; e novamente o atrair,<br />
retrátil, arrastando-o - até ao exaurir completo...<br />
*restribar – estar firme, estar escorado.<br />
*flexuoso – sinuoso, torcido, tortuoso.<br />
*escarvar – cavar superficialmente.
PV2D-07-54<br />
Assinale a alternativa incorreta em relação ao trecho.<br />
a) O jagunço, ao aproveitar-se dos “acidentes da terra<br />
protetora”, conseguia superar-se e confrontar-se<br />
com o inimigo, trazendo-lhe novas dificuldades.<br />
b) O “touro pujante”, apesar de sua força, na ilusão<br />
do movimento livre, acaba se exaurindo.<br />
c) No confronto, a “sucuri flexuosa” vence, pois usa<br />
os recursos de que dispõe.<br />
d) No trecho, a imagem da luta entre a “sucuri flexuosa”<br />
e o “touro pujante” é uma metáfora da luta<br />
entre jagunços e expedicionários.<br />
e) A “sucuri flexuosa” e o “touro pujante” estão em<br />
constante confronto sem que haja um vencedor.<br />
31. UFSM-RS<br />
(...) esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais<br />
surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso.<br />
Naquela organização combalida operam-se, em segundos,<br />
transmutações completas. Basta o aparecimento<br />
de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das<br />
energias adormecidas. O homem transfigura-se.<br />
Assinale a frase que, retirada de Os sertões, sintetiza<br />
o trecho citado.<br />
a) “é o homem permanentemente fatigado”<br />
b) “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”<br />
c) “a raça forte não destrói a fraca pelas armas,<br />
esmaga-a pela civilização”<br />
d) “Reflete a preguiça invencível (...) em tudo”<br />
e) “a sua religião é como ele – mestiça”<br />
32.<br />
A seguir você lerá um fragmento de Os sertões de<br />
Euclides da Cunha.<br />
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais<br />
exaustiva que a de uma estepe nua.<br />
Nesta, ao menos, o viajante tem um desafogo<br />
de um horizonte largo e a perspectiva das planuras<br />
francas.<br />
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o<br />
olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente<br />
e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes,<br />
com o espinho, com os gravetos estalados em<br />
lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas,<br />
imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de<br />
galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados,<br />
apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos<br />
pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de<br />
tortura, da flora agonizante...<br />
Com base no texto anterior, como se caracteriza a<br />
natureza onde vive o sertanejo?<br />
33. PUC-RS<br />
A tropa chegou exausta a Uauá no dia 19, depois<br />
de uma travessia penosíssima.<br />
Este arraial – duas ruas desembocando numa<br />
praça irregular – é o ponto mais animado daquele<br />
trecho do sertão. Como a maior parte dos vilarejos<br />
pomposamente gravados nos nossos mapas, é uma<br />
espécie de transição entre maloca e aldeia. (...)<br />
Entrou pela rua em continuação à estrada e fez<br />
alto no largo. Foi um sucesso. Entre curiosos e tímidos,<br />
os habitantes atentavam para os soldados – poentos,<br />
mal firmes na formatura, tendo aos ombros as espin-<br />
gardas cujas baionetas fulguravam – como se vissem<br />
um exército brilhante.<br />
Ensarilhadas as armas, a força acantonou.<br />
Fez-se em torno um círculo de vigilância: postaram-<br />
se sentinelas à saída dos quatro caminhos e<br />
nomeou-se o pessoal das rondas.<br />
Feito praça de guerra, o vilarejo obscuro era,<br />
entretanto, uma escala transitória.<br />
I. A referência ao registro cartográfico do lugar sugere<br />
contradição em relação à verdadeira dimensão<br />
da área.<br />
II. O povo recebe a tropa com reverência e admiração.<br />
III. Os soldados reagem com indiferença à manifestação<br />
popular.<br />
IV. Os soldados retornam ao lar após ferrenha batalha.<br />
Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente<br />
estão corretas<br />
a) I e II<br />
b) I e III<br />
c) II e III<br />
d) II e IV<br />
34.<br />
Fechemos este livro.<br />
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a<br />
História, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado<br />
palmo a palmo, na precisão integral do termo,<br />
caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus<br />
últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro<br />
apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança,<br />
na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil<br />
soldados.<br />
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos<br />
momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página,<br />
imaginamo-la sempre profundamente emocionante e<br />
trágica, mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.<br />
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima.<br />
No alto, a par de uma perspectiva maior, a<br />
vertigem...<br />
Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro<br />
a narrativa de pormenores em que se amostrassem<br />
mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios<br />
lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...<br />
Este trecho pertence à parte final da obra Os sertões.<br />
a) Qual o nome dessa parte?<br />
b) Transcreva a frase que comprova a admiração do<br />
autor por Canudos.<br />
c) Transcreva o trecho que aponta para o descontrole<br />
emocional dos soldados diante de tanta resistência.<br />
d) Por que o autor crê que o futuro não acreditaria<br />
em sua obra?<br />
35.<br />
Leia atentamente o seguinte trecho de Os sertões.<br />
O calor úmido das paragens amazonenses, por exemplo,<br />
deprime e exaure. Modela organizações tolhiças em<br />
que toda a atividade cede ao permanente desequilíbrio<br />
entre as energias impulsivas das funções periféricas<br />
fortemente excitadas e a apatia das funções centrais:<br />
inteligências marasmáticas, adormidas sob o explodir das<br />
183
paixões; enervações periclitantes, em que pese à acuidade<br />
dos sentidos, e mal reparadas ou refeitas pelo sangue<br />
empobrecido nas hematoses incompletas...<br />
Daí todas as idiossincrasias de uma fisiologia<br />
excepcional: o pulmão que se reduz, pela deficiência<br />
da função, e é substituído, na eliminação obrigatória<br />
do carbono, pelo fígado, sobre o qual desce pesadamente<br />
a sobrecarga da vida: organizações combalidas<br />
pela alternativa persistente de exaltações impulsivas e<br />
apatias enervadoras, sem a vibratilidade, sem o tônus<br />
muscular enérgico dos temperamentos robustos e<br />
sangüíneos. A seleção natural, em tal meio, opera-se<br />
à custa de compromissos graves com as funções centrais,<br />
do cérebro, numa progressão inversa prejudicialíssima<br />
entre o desenvolvimento intelectual e o físico,<br />
firmando inexoravelmente as vitórias das expansões<br />
instintivas e visando ao ideal de uma adaptação que<br />
tem, como conseqüências únicas, a máxima energia<br />
orgânica, a mínima fortaleza moral. A aclimação traduz<br />
uma evolução regressiva. O tipo deperece num esvaecimento<br />
contínuo, que se lhe transmite à descendência<br />
até a extinção total.<br />
Os sertões, parte II, cap. I<br />
a) Qual o princípio científico que serve de fundamento<br />
para este trecho de Os sertões?<br />
b) Como a influência desse princípio aparece no<br />
texto?<br />
c) Essa influência nos permite tomar como ponto<br />
de partida das concepções estéticas do livro um<br />
determinado estilo literário. Qual?<br />
36.<br />
Descrevendo aspectos da natureza do sertão da Bahia,<br />
diz Euclides da Cunha:<br />
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais<br />
exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos,<br />
o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a<br />
perspectiva das planuras francas.<br />
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o<br />
olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente<br />
e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes,<br />
com o espinho, com os gravetos estalados em<br />
lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas,<br />
imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de<br />
galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados,<br />
apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos<br />
pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de<br />
tortura, da flora agonizante...<br />
Os sertões, Parte I, cap. IV.<br />
A partir da leitura do texto, responda: qual o papel<br />
desempenhado pela natureza em Os sertões?<br />
37. UFC-CE<br />
As passagens abaixo foram extraídas de Os sertões.<br />
Escreva nos parênteses J (jagunço) ou M (militar),<br />
para identificar a personagem referida em cada uma<br />
delas.<br />
( ) Tinha o fetichismo das determinações escritas.<br />
Não as interpretava, não as criticava: cumpriaas.<br />
( ) Pelos caminhos fora passavam pequenos grupos<br />
ruidosos, carregando armas ou ferramentas de<br />
trabalho, cantando.<br />
184<br />
( ) Torturavam-nos alucinações cruéis. A deiscência<br />
das vagens das catingueiras, abrindo-se com estalidos<br />
secos e fortes, soava-lhes feito percussão<br />
de gatilhos ou estalos de espoleta, dando a ilusão<br />
de súbitas descargas(...).<br />
Texto para as questões 38 e 39.<br />
De fato, ele estava escrevendo ou mais particularmente:<br />
traduzia para o clássico um grande artigo<br />
sobre “Ferimentos por armas de fogo”. O seu último<br />
truque intelectual era este clássico. Buscava nisto<br />
uma distinção, uma separação intelectual desses<br />
meninos por aí que escrevem contos e romances<br />
nos jornais. Ele, um sábio, e sobretudo um doutor:<br />
não podia escrever da mesma forma que eles. A sua<br />
sabedoria superior e o seu título ‘acadêmico’ não podiam<br />
usar da mesma língua, dos mesmos modismos,<br />
da mesma sintaxe que esses poetastros e literatos.<br />
Veio-lhe então a idéia do clássico. O processo era<br />
simples: escrevia do modo comum, com as palavras e<br />
o jeito de hoje, em seguida invertia as orações, picava<br />
o período com vírgulas e substituía incomodar por<br />
molestar, ao redor por derredor, isto por esto, quão<br />
grande ou tão grande por quamanho, sarapintava<br />
tudo de ao invés, empós, e assim obtinha o seu estilo<br />
clássico que começava a causar admiração aos seus<br />
pares e ao público em geral.<br />
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.<br />
1. ed. São Paulo: Klick, 1997, p. 185.<br />
38.<br />
Identifique a alternativa que apresenta um ideal estético<br />
presente na obra de Lima Barreto e que está<br />
presente no texto anterior.<br />
a) Influência e corrente literária realista, refletida nas<br />
preocupações artísticas.<br />
b) Uso de linguagem espontânea e natural e crítica a<br />
autores que procuram escrever de maneira muito<br />
rebuscada.<br />
c) Crítica à posição negativa do brasileiro médio em<br />
relação ao colonizador europeu.<br />
d) Denúncia irônica contra o preconceito social, que<br />
levava representantes e autores burgueses a<br />
sofisticarem a linguagem para se distinguirem do<br />
povo.<br />
e) Crítica contra a burocracia, formada por pessoas<br />
sem consistência moral ou profissional, que usavam<br />
linguagem artificial.<br />
39.<br />
Ao caracterizar, no fragmento anterior, o personagem<br />
Armando Borges, médico ambicioso e desonesto, que,<br />
por se sentir superior às pessoas, por causa do seu<br />
diploma e do seu anel de doutor, usava uma linguagem<br />
difícil e rebuscada em seus artigos, Lima Barreto<br />
critica autores do:<br />
a) Romantismo.<br />
b) Barroco.<br />
c) Parnasianismo.<br />
d) Modernismo.<br />
e) Classicismo.
PV2D-07-54<br />
40.<br />
Assinale a única declaração que fundamenta a representação<br />
do jagunço na passagem em destaque.<br />
O jagunço começou a aparecer como um ente à parte,<br />
teratológico e monstruoso, meio homem e meio trasgo;<br />
violando as leis biológicas (...)<br />
( ) O porte físico do jagunço contraria o aprimoramento<br />
evolutivo da espécie.<br />
( ) O jagunço herdou os traços psicológicos comuns<br />
aos nordestinos.<br />
( ) As deformidades do jagunço se devem às influências<br />
do meio ambiente.<br />
41. UFC-CE<br />
Avalie as declarações e transcreva, nas linhas abaixo,<br />
as duas corretas sobre Os sertões.<br />
I. Nascem da reportagem “A terra”, à qual se anexou<br />
“A luta”.<br />
II. Adotam estilo de oratória religiosa, quando descrevem<br />
as crenças dos jagunços.<br />
III. Focalizam episódios heróicos de viagem e guerra,<br />
a exemplo das construções épicas.<br />
IV. Desenvolvem considerações de ordem científica,<br />
dando à narrativa um perfil de tese.<br />
Quais são as declarações corretas?<br />
42. UFC-CE<br />
Ainda com relação à questão anterior, justifique a sua<br />
escolha.<br />
43. Fuvest-SP<br />
No decênio de 1930, houve uma renovação do romance<br />
brasileiro de tema regional, que passou de descritivo<br />
e sentimental a crítico e realista.<br />
a) Lembre um romance que pode exemplificar essa<br />
renovação. Justifique sua escolha com elementos<br />
desse romance.<br />
b) A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, está na<br />
gênese dessa transformação. Por quê?<br />
44. FGV-SP<br />
Completando a tática perigosa do sertanejo, era<br />
temeroso porque não resitia. Não opunha a rijeza de<br />
um tijolo à percussão e arrebentamento das granadas,<br />
que se amorteciam sem explodirem, furandolhe<br />
uma vez só dezenas de teto. Não fazia titubear<br />
a mais reduzida secção assaltante, que poderia<br />
investi-lo, por qualquer lado, depois de transposto<br />
o rio. Atraía os assaltos; e atraía irreprimivelmente<br />
o ímpeto das cargas violentas, porque a arremetida<br />
dos invasores, embriagados por vislumbres de vitória<br />
e disseminando-se, divididos pelas suas vielas em<br />
torcicolos, lhe era o recurso tremendo de uma defesa<br />
supreendedora. Na história sombria das cidades<br />
batidas, o humílimo vilarejo ia surgir como um traço<br />
de trágica originalidade. Intacto – era fragílimo; jeito<br />
de escombros – formidável.<br />
Euclides da Cunha, Os sertões.<br />
O fragmento acima aponta algumas das caracteríticas<br />
de Canudos. A leitura atenta desse texto nos permite<br />
concluir que ele trata de:<br />
a) uma vila fortificada, planejada para não permitir o<br />
acesso e as investidas dos agressores.<br />
b) uma ilha, pois era contornada pelo rio.<br />
c) um vilarejo humilde, que não oferecia resistência<br />
à entrada dos invasores.<br />
d) um local onde ocorriam muitos roubos e assaltos.<br />
e) um refúgio de soldados assaltados.<br />
45. FGV-SP<br />
Ainda de acordo com o texto da questão anterior:<br />
a) a ausência de resistência, característica marcante<br />
do conjunto de habitações, era coerente com a<br />
tática do sertanejo.<br />
b) o fato de um tijolo ser rijo não se opunha, em<br />
Canudos, ao arrebentamento das granadas.<br />
c) os assaltantes, sabedores de riquezas escondidas,<br />
eram atraídos pela vila.<br />
d) as explosões de granadas furavam de uma só vez<br />
dezenas de tetos.<br />
e) o sertanejo é perigoso e traiçoeiro.<br />
46. Mackenzie-SP<br />
Sobre Lima Barreto, é incorreto afirmar que:<br />
a) sua linguagem afasta-se dos modelos “bem-comportados”<br />
da literatura do final do século XIX.<br />
b) Seus personagens são, muitas vezes, representantes<br />
das camadas menos favorecidas da<br />
sociedade.<br />
c) é estudado como pré-modernista, pois se posiciona<br />
de forma crítica diante de um Brasil considerado<br />
velho em suas instituições.<br />
d) apresenta, em sua obra, aspectos característicos<br />
dos subúrbios do Rio de Janeiro<br />
e) crítica a sociedade burguesa de uma forma ríspida,<br />
agressiva, sem qualquer manifestação de humor,<br />
sátira ou ironia.<br />
Textos para as questões de 47 a 49.<br />
Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E<br />
que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda<br />
ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la<br />
e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a<br />
sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade<br />
nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava<br />
na velhice, como ela o recompensava, como ela o<br />
premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o<br />
que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida?<br />
Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo<br />
esse lado da existência que parece fugir um pouco à<br />
sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara,<br />
ele não experimentara.<br />
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe<br />
absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidade.<br />
Que lhe importavam os rios? Eram grandes?<br />
Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a<br />
felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em<br />
nada... O importante é que ele tivesse sido feliz.<br />
Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do<br />
folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava<br />
disso tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhuma!<br />
Nenhuma!<br />
Lima Barreto<br />
185
47. PUC-SP<br />
A obra de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma:<br />
a) é romântica e exemplifica as palavras de Antonio<br />
Candido, já que seu protagonista se comporta<br />
como um romântico.<br />
b) não é romântica e contraria as palavras de Antonio<br />
Candido, à medida que as atitudes do protagonista<br />
vão se revestindo de heroísmo romântico.<br />
c) não é romântica e contradiz as palavras de Antonio<br />
Candido, tendo em vista que o protagonista acaba<br />
por se submeter a uma visão antinacionalista e,<br />
portanto, anti-romântica.<br />
d) é romântica e ratifica as palavras de Antonio Candido,<br />
porque o orgulho patriótico-romântico do protagonista<br />
encontra lugar de ação no decorrer da narrativa.<br />
e) opõe-se ao Romantismo e não retrata as palavras<br />
de Antonio Candido, pois ironiza as posturas nacionalistas<br />
românticas através do protagonista.<br />
48. PUC-SP<br />
O título da obra de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo<br />
Quaresma, antecipa ao leitor sobre o protagonista:<br />
a) a indiferença com que passou a lidar com a pátria.<br />
b) o fim de vida em um hospício no qual o enclausularam.<br />
c) a sua morte terrivel motivada pela loucura.<br />
d) o seu final dramático determinado pela sua trajetória<br />
de vida.<br />
e) a sua trajetória de vida reveladora de um destino<br />
trágico.<br />
49. PUC-SP<br />
O trecho anterior pertence ao romance Triste fim de<br />
Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Da personagem<br />
que dá título ao romance, podemos afirmar que:<br />
a) foi um nacionalista extremado, mas nunca estudou<br />
com afinco as coisas brasileiras.<br />
b) perpetrou seu suicídio, porque se sentia decepcionado<br />
com a realidade brasileira.<br />
c) defendeu os valores nacionais, brigou por eles a<br />
vida toda e foi condenado à morte justamente pelos<br />
valores que defendia.<br />
d) foi considerado traidor da pátria, porque participou<br />
da conspiração contra Floriano Peixoto.<br />
e) era um louco, e, por isso, não foi levado a sério<br />
pelas pessoas que o cercavam.<br />
50.<br />
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia<br />
e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe<br />
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem<br />
... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o<br />
nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante<br />
é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das<br />
suas coisas de tupi, do folklore, das suas tentativas<br />
agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma<br />
satisfação? Nenhuma! Nenhuma!<br />
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 11 ed.<br />
São Paulo, Àtica, 1993. p. 175.<br />
186<br />
Justifique com elementos do texto a afirmação de<br />
que o Major Quaresma tinha um forte sentimento<br />
nacionalista.<br />
51.<br />
O que determina a vida do protagonista Policarpo<br />
Quaresma, da obra de Lima Barreto é:<br />
a) o excessivo valor do material.<br />
b) o gosto pelo trabalho.<br />
c) a aversão à vilania.<br />
d) o apego à religião.<br />
e) a postura ufanista.<br />
52.<br />
Só não compõe a personalidade de Policarpo Quaresma:<br />
a) desvairismo. d) disciplina.<br />
b) falsidade. e) ufanismo.<br />
c) generosidade.<br />
53. PUC-MG<br />
Sobre a obra Triste fim de Policarpo Quaresma, é<br />
incorreto afirmar que:<br />
a) mantém em seqüência o plano ideológico romântico,<br />
tratado humoristicamente.<br />
b) reflete a tendência da época pré-modernista de<br />
inconformismo e renovação.<br />
c) expõe um cenário urbano, com tipos peculiares do<br />
cotidiano.<br />
d) indica ruptura no plano estético, pois apresenta<br />
linguagem inovadora.<br />
e) retrata a postura do autor de observador da realidade.<br />
54. PUC-MG<br />
Assinale o aspecto que se refere à obra Triste fim de<br />
Policarpo Quaresma.<br />
a) Linguagem rebuscada<br />
b) Criticidade<br />
c) Distanciamento da realidade<br />
d) Determinismo<br />
e) Visão idealizada do mundo<br />
55. UERJ<br />
Recordações do escrivão Isaías Caminha<br />
A minha situação no Rio estava garantida. Obteria<br />
um emprego. Um dia pelos outros iria às aulas, e todo<br />
o fim de ano, durante seis, faria os exames, ao fim dos<br />
quais seria doutor!<br />
Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do<br />
meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premente,<br />
cruciante e onímodo1 de minha cor ... Nas dobras<br />
do pergaminho da carta, traria presa a consideração<br />
de toda a gente. Seguro do respeito à minha majestade<br />
de homem, andaria com ela mais firme pela vida em<br />
fora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia<br />
falar, dizer bem alto os pensamentos que se estorciam2<br />
no meu cérebro.<br />
O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida,<br />
oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria<br />
mascarado, disfarçado.
PV2D-07-54<br />
Ah! Doutor! Doutor!... Era mágico o título, tinha<br />
poderes e alcances múltiplos, vários polifórmicos... Era<br />
um pallium3 , era alguma cousa como clâmide4 sagrada,<br />
tecida com um fio tênue e quase imponderável, mas<br />
a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os<br />
exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da<br />
chuva afastar-se-iam transidas5 do meu corpo, não se<br />
animariam a tocar-me nas roupas, no calçado sequer.<br />
O invisível distribuidor de raios solares escolheria os<br />
mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os<br />
inexoráveis6, com o comum dos homens que não é<br />
doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca<br />
e cartola, inflado7 e grosso, como um sapo-entanha<br />
antes de ferir a martelada à beira do brejo; andar assim<br />
pelas ruas, pelas praças, pelas estradas, pelas salas,<br />
recebendo cumprimentos: Doutor, como passou?<br />
Como está, doutor? Era sobre-humano!...<br />
BARRETO, Lima. in: VASCONCELOS, Eliane (org).<br />
Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001<br />
1 de todos os modos, irrestrito<br />
2 agitavam<br />
3 manto, capa<br />
4 manto<br />
5 assustadas<br />
6 inflexíveis<br />
7 vaidoso<br />
O entusiasmo do personagem com o sonho de obter<br />
título de doutor é construído por um discurso em primeira<br />
pessoa marcadamente emotivo.<br />
Essa emotividade do discurso do personagem é realçada<br />
pelo uso de recursos, tais como:<br />
a) estilo indireto e formas de negação.<br />
b) registro informal e perguntas retóricas.<br />
c) discurso repetitivo e inversões sintáticas.<br />
d) pontuação exclamativa e expressões interjeitivas.<br />
56. Fuvest-SP<br />
De acordo com certa tradição literária, Lima Barreto é<br />
considerado autor “pré-modernista”.<br />
a) Por que o classificam assim?<br />
b) Citar pelo menos uma obra desse autor.<br />
57. Fuvest-SP<br />
O seu último truque intelectual era este do clássico.<br />
(...) O processo era simples: escrevia de modo comum,<br />
com as palavras e o jeito de hoje, em seguida invertia<br />
as orações, picava o período com vírgulas e substituía<br />
incomodar por molestar, ao redor por derredor, isto<br />
por esto, quão grande ou tão grande por quamanho,<br />
sarapintava tudo de ao invés, empós, e assim obtinha<br />
o seu estilo clássico que começava a causar geral.<br />
a) O fato de Armando Borges escrever em “estilo<br />
clássico” reforça a caracterização da personagem.<br />
Por quê? Justifique sua resposta.<br />
b) De que maneira esse “estilo clássico” se contrapõe<br />
à linguagem do romance Triste fim de Policarpo<br />
Quaresma?<br />
58. UFV-MG<br />
Por qual razão o narrador de Triste fim de Policarpo<br />
Quaresma chega à conclusão de que “a pátria que [ o<br />
protagonista ] quisera ter era um mito”?<br />
59. UFPR<br />
E era agora que ele [Policarpo Quaresma] chegava<br />
a essa conclusão, depois de ter sofrido a miséria da<br />
cidade e o emasculamento da repartição pública, durante<br />
tanto tempo! Chegara tarde, mas não a ponto de<br />
que não pudesse antes da morte, travar conhecimento<br />
com a doce vida campestre e a feracidade das terras<br />
brasileiras. (...)<br />
E ele viu então diante dos seus olhos as laranjeiras,<br />
em flor, olentes, muito brancas, a se enfileirar pelas<br />
encostas das colinas, como teorias de noivas; os abacateiros,<br />
de tronco rugosos a sopesar com esforço os<br />
grandes pomos verdes; as jabuticabas negras a estalar<br />
dos caules rijos; os abacaxis coroados que nem reis,<br />
recebendo a unção quente do sol; as abobreiras a se<br />
arrastarem com flores carnudas, cheias de pólen; as<br />
melancias de um verde tão fixo que parecia pintado;<br />
os pêssegos veludosos, as jacas monstruosas, os<br />
jambos, as mangas capitosas;...<br />
A respeito do romance Triste fim Policarpo Quaresma,<br />
de Lima Barreto, do qual foi transcrito o trecho anterior,<br />
é correto afirmar:<br />
( ) narrador e protagonista, elementos que se fundem<br />
ao longo do romance, concluem que as melhores<br />
alternativas para a construção de um projeto nacional<br />
estariam no ambiente interiorano e numa<br />
economia de base agrícola.<br />
( ) o mesmo patriotismo exaltado que conduzira<br />
Quaresma às suas experiências no campo é responsável,<br />
mais adiante, pelo abandono abrupto de<br />
seus projetos rurais.<br />
( ) esse trecho integra a segunda parte do romance,<br />
que corresponde à empreitada do protagonista<br />
no campo, antecedida pelo malogro reformista<br />
experimentado na seção inicial e seguida por seu<br />
“triste fim” nos desdobramentos de seu retorno ao<br />
Rio de Janeiro.<br />
( ) o preciosismo vocabular e a acumulação descritiva<br />
que marcam o parágrafo final do trecho citado são<br />
reveladores das influências paranasianas que<br />
marcam o estilo de Lima Barreto.<br />
( ) a técnica do romance confessional, em que a<br />
narrativa é construída através da rememoração<br />
de experiências do próprio protagonista, pode ser<br />
assinalada como uma das inovações desta obra<br />
de Lima Barreto, procedimento que só voltaria a<br />
ser exercitado em nossa literatura pelos autores<br />
modernistas.<br />
60. UFSC<br />
Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário<br />
público, certo de que a língua portuguesa é emprestada<br />
ao Brasil; certo também de que, por esse<br />
fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo nos<br />
5 campos das letras, se vêem na humilhante contingência<br />
de sofrer continuamente censura áspera<br />
dos proprietários da língua; sabendo, além, que,<br />
dentro do nosso país, os autores e os escritores,<br />
com especialidade os gramáticos, não se enten-<br />
<strong>10</strong><br />
dem no tocante à correção gramatical, vendo-se,<br />
diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais<br />
profundos estudiosos do nosso idioma - usando do<br />
direito que lhe confere a Constituição, vem pedir<br />
que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani,<br />
187
15 como língua oficial e nacional do povo brasileiro.<br />
(... )<br />
Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani,<br />
língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a<br />
que o polissintetismo dámúltiplas feições de rique-<br />
20 za, é a única capaz de traduzir as nossas belezas,<br />
de pôr-nos em relação com a nossa natureza<br />
e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos<br />
vocais e cerebrais, por ser criação de povos que<br />
aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores<br />
25 de organização fisiológica e psicológica para que<br />
tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis<br />
controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil<br />
adaptação de uma língua de outra região à nossa<br />
organização cerebral e ao nosso aparelho vocal<br />
30 – controvérsias que tanto empecem o progresso<br />
de nossa cultura literária, científica e filosófica.<br />
Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá<br />
encontrar meios para realizar semelhante medida<br />
e cônscio de que a Câmara e o Senado pesarão<br />
35<br />
o seu alcance e utilidade.<br />
P. e E. deferimento<br />
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.<br />
23. ed. São Paulo: Ática, 2001, p. 52-53.<br />
Sobre o texto e a obra à qual ele pertence, é verdadeiro<br />
afirmar que:<br />
01. a preocupação de Quaresma com a linguagem<br />
oral do povo brasileiro, em destaque a do caboclo,<br />
será retomada – a partir do Modernismo – pelos<br />
estudiosos da língua e da literatura do Brasil.<br />
02. um dos principais argumentos do requerente em<br />
favor do tupi-guarani se fundamenta no fato de a<br />
língua portuguesa ser emprestada ao Brasil.<br />
04. Quaresma pensava nos seus Brasis: naquele que<br />
sonhara e naquele das injustiças sociais; o álcool<br />
foi a grande válvula de escape para ele.<br />
08. em usando do direito que lhe confere a Constituição<br />
(linhas 12 e 13), o pronome destacado faz<br />
referência a povo brasileiro, substituindo, assim,<br />
um nome mencionado posteriormente no texto.<br />
16. as palavras correção (linha <strong>10</strong>), criação (linha 23),<br />
organização (linha 25) e adaptação (linha 28) são<br />
nomes abstratos derivados de verbos.<br />
32. em a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance<br />
e utilidade (linhas 34 e 35), o pronome possessivo<br />
refere-se ao termo medida.<br />
61.<br />
Abordando alguns aspectos da obra de Lima Barreto,<br />
o professor Antonio Candido afirmou:<br />
Para Lima Barreto, a literatura devia ter alguns<br />
requisitos indispensáveis. Antes de mais nada, ser<br />
sincera, isto é, transmitir diretamente o sentimento e<br />
as idéias do escritor, da maneira mais clara e simples<br />
possível. Devia também dar destaque aos problemas<br />
humanos em geral e aos sociais em particular, focalizando<br />
os que são fermento de drama, desajustamento,<br />
incompreensão. Isso, porque, no seu modo de<br />
entender, ela tem a missão de contribuir para libertar<br />
o homem e melhorar a sua convivência.<br />
Antonio Candido. A educação pela noite e outros ensaios<br />
188<br />
Justificam as palavras do crítico as circunstâncias da<br />
obra de Lima Barreto citadas a seguir.<br />
a) Sua condição de moço rico e sua vivência das mazelas<br />
da sociedade, através da observação atenta<br />
dos acontecimentos cotidianos que marcaram a<br />
vida paulistana no início do século XX.<br />
b) A denúncia do preconceito racial e dos privilégios<br />
concedidos aos que aparentavam alguma cultura, sem<br />
possuí-la profundamente, fatos intimamente ligados à<br />
vida do próprio escritor, que era mulato e pobre.<br />
c) O retrato fiel da realidade aristocrática do Rio<br />
de Janeiro do início do século XX e os hábitos<br />
mundanos da alta burguesia, ambiente bastante<br />
freqüentado pelo escritor, que foi um conhecido<br />
cronista social da época.<br />
d) A tendência do escritor ao se referir a fatos diretamente<br />
relacionados à sua infância, passada junto<br />
aos escravos da fazenda do avô, e o registro cotidiano<br />
dos acontecimentos históricos de seu tempo,<br />
como as referências à Segunda Guerra Mundial.<br />
e) O hábito de fazer anotações em um diário e a pressão<br />
junto aos editores para que o colocassem à<br />
venda, tornando públicas informações importantes<br />
para a compreensão do funcionamento da política<br />
de urbanização carioca do final do século XIX.<br />
62. Unicamp-SP<br />
O trecho a seguir, escolhido por Lima Barreto como<br />
epígrafe para introduzir sua obra, Triste fim de Policarpo<br />
Quaresma, comenta o confronto entre o ideal e o real:<br />
O grande inconveniente da vida real e o que a torna<br />
insuportável ao homem superior é que, se transportamos<br />
para ela os princípios do ideal, as qualidades<br />
passam a ser defeitos, de tal modo que, na maioria<br />
das vezes, o homem íntegro não consegue se sair tão<br />
bem quanto aquele que tem por estímulo o egoísmo<br />
ou a rotina vulgar.<br />
Renanm Marc-Aurele<br />
a) Cite dois espisódios do livro em que o comportamento<br />
idealista de Policarpo é ridicularizado por<br />
outras personagens.<br />
b) Considerando-se a epígrafe citada, como pode ser<br />
analisada a trajetória de Policarpo Quaresma?<br />
63.<br />
Ao lado uma árvore única,<br />
uma quixabeira alta,<br />
sobranceando a vegetação franzina,<br />
o sol<br />
poente desatava, longe,<br />
a sua sombra pelo chão,<br />
e protegido por ele<br />
— braços largamente abertos,<br />
face volvida para os céus, —<br />
um soldado descansava.<br />
Descansava... havia três meses.<br />
Morrera no assalto de 18 de julho.<br />
A coronha da Mannlicher estrondada,<br />
o cinturão e o boné jogados a uma banda,<br />
e a farda em tiras, diziam que sucumbira<br />
em luta corpo a corpo com adversário possante.
PV2D-07-54<br />
Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada<br />
que lhe sulcara a fronte,<br />
manchada de uma escara preta.<br />
O destino que o removera do lar, desprotegido<br />
deixara-o ali há três meses<br />
— braços largamente abertos,<br />
rosto voltado para os céus —<br />
para os sóis ardentes,<br />
para os luares claros,<br />
para as estrelas fulgurantes...<br />
Erthos A. de Souza e Luciano Diniz,<br />
“Poema desentranhado de Os Sertões”<br />
O texto acima é um exercício poético em que um trecho<br />
da obra Os sertões foi transformado em poesia, com<br />
o simples rearranjo de suas palavras na página. Que<br />
elementos contidos na obra de Euclides da Cunha<br />
permitiram essa mudança?<br />
64. UEL-PR<br />
Sobre o romance Recordações do Escrivão Isaías<br />
Caminha, de Lima Barreto, é correto afirmar:<br />
a) É uma obra memorialista, cujo narrador-personagem,<br />
Isaías Caminha, já idoso e desacreditado,<br />
decide relatar, de modo saudosista, os momentos<br />
de glória de sua carreira jornalística no jornal O<br />
Globo, durante sua juventude.<br />
b) Constitui, juntamente com o romance Triste Fim de<br />
Policarpo Quaresma, do mesmo autor, uma obra<br />
de análise social, cujo tema principal é a crítica ao<br />
sistema político do início do século XX, pautado<br />
na corrupção e no empreguismo.<br />
c) É, ao lado de Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
e de Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade,<br />
uma das principais obras do Modernismo<br />
brasileiro da década de 1920, adotando muitas das<br />
inovações estéticas propostas pelos modernistas,<br />
como a desestruturação do enredo, a linguagem<br />
coloquial e a aproximação entre prosa e poesia.<br />
d) Pode ser considerado uma obra neonaturalista,<br />
pois a conduta do protagonista Isaías Caminha<br />
transforma-se radicalmente a partir do momento<br />
em que ele passa a viver dentro do mundo jornalístico,<br />
já que, de rapaz tímido e sério, vindo do<br />
interior, transforma-se em um homem interesseiro<br />
e sem escrúpulos, cujo objetivo maior é obter<br />
espaço dentro da imprensa carioca.<br />
e) É uma obra que, através do relato memorialista do<br />
narrador-personagem, expõe, de forma realista e<br />
crítica, a existência, no Rio de Janeiro do início do<br />
século XX, de uma sociedade classista e preconceituosa,<br />
alimentada por uma imprensa bajuladora<br />
e de conveniência, igualmente medíocre.<br />
65. UFOP-MG<br />
Triste fim de Policarpo Quaresma é, freqüentemente,<br />
considerado um romance pré-modernista no sentido<br />
em que revela um esforço para penetrar a fundo na<br />
realidade brasileira, esforço esse que será um dos<br />
pilares da revolução modernista de 1922.<br />
Você concorda com essa afirmação? Se concordar,<br />
discuta os aspectos do romance em que esse esforço<br />
pode ser percebido. Se não concordar, justifique sua<br />
resposta.<br />
66. Unicamp-SP<br />
– O Quaresma está doido.<br />
– Mas... o quê? Quem foi que te disse?<br />
– Aquele homem do violão. Já está na casa de<br />
saúde...<br />
– Eu logo vi, disse Albernaz, aquele requerimento<br />
era de doido.<br />
– Mas não é só, general, acrescentou Genelício.<br />
Fez um ofício em tupi e mandou ao ministro.<br />
O diálogo acima, travado entre Genelício e Albernaz,<br />
menciona personagens e episódios importantes do<br />
romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima<br />
Barreto. Em função dele, responda às questões<br />
abaixo.<br />
a) Quem é o homem do violão?<br />
b) Por que Genelício o chama assim?<br />
c) Com relação ao mesmo texto, responda: a que<br />
requerimento se refere Albernaz para justificar sua<br />
opinião sobre a saúde mental de Policarpo?<br />
67. UFSC<br />
Texto 1<br />
Tendo surpreendido na casa de Rosalina, em plena<br />
orgia, o terrível diretor, vexei-o.<br />
(...)<br />
Percebi que o espantava muito o dizer-lhe que<br />
tivera mãe, que nascera num ambiente familiar e que<br />
me educara. Isso, para ele, era extraordinário. O que<br />
me parecia extraordinário nas minhas aventuras, ele<br />
achava natural; mas ter eu mãe que me ensinasse a<br />
comer com o garfo, isso era excepcional. Só atinei<br />
com esse seu íntimo pensamento mais tarde. Para<br />
ele, como para toda a gente mais ou menos letrada do<br />
Brasil, os homens e as mulheres do meu nascimento<br />
são todos iguais, mais iguais ainda que os cães de suas<br />
chácaras. Os homens são uns malandros, planistas,<br />
parlapatões quando aprendem alguma coisa, fósforos<br />
dos politicões; as mulheres (a noção aí é mais simples)<br />
são naturalmente fêmeas.<br />
Lima Barreto. Recordações do escrivão Isaías Caminha.<br />
<strong>10</strong>ª ed. São Paulo: Ática, 2001. pp.157-158.<br />
Texto 2<br />
O que a senhora deseja, minha amiga, é chegar<br />
já ao capítulo do amor, ou dos amores, que é o seu<br />
interesse particular nos livros. Daí a habilidade da<br />
pergunta, como se dissesse: ‘Olhe que o senhor ainda<br />
nos não mostrou a dama ou damas que têm de ser<br />
amadas ou pleiteadas por estes dois jovens inimigos.<br />
Já estou cansada de saber que os rapazes não se<br />
dão ou se dão mal; é a segunda ou a terceira vez<br />
que assisto às blandícias da mãe ou aos seus ralhos<br />
amigos. Vamos depressa ao amor, às duas, se não é<br />
uma só a pessoa...<br />
Francamente, eu não gosto de gente que venha<br />
adivinhando e compondo um livro que está sendo escrito<br />
com método. A insistência da leitora em falar de<br />
uma só mulher chega a ser impertinente. Suponha que<br />
eles deveras gostem de uma só pessoa; não parecerá<br />
que eu conto o que a leitora me lembrou, quando a<br />
verdade é que eu apenas escrevo o que sucedeu e<br />
pode ser confirmado por dezenas de testemunhas?<br />
Não, senhora minha, não pus a pena na mão, à espreita<br />
do que me viessem sugerindo. Se quer compor<br />
o livro, aqui tem a pena, aqui tem papel, aqui tem um<br />
189
admirador; mas, se quer ler somente, deixe-se estar<br />
quieta, vá de linha em linha; dou-lhe que boceje entre<br />
dois capítulos, mas espere o resto, tenha confiança no<br />
relator destas aventuras.<br />
Machado de Assis, J.M. Esaú e Jacó. 12ª ed.<br />
São Paulo: Ática, 2001. pp.58-59.<br />
Considerando os textos, as obras das quais foram<br />
extraídos, e seus autores, assinale V (verdadeiro) ou<br />
F (falso) nas proposições adiante.<br />
( ) Recordações do escrivão Isaías Caminha, obra da<br />
qual foi extraído o texto 1, critica a imprensa brasileira<br />
dos primeiros anos da República e denuncia a<br />
hipocrisia da sociedade de então. O romance Esaú<br />
e Jacó, ao qual pertence o texto 2, aborda, irônica<br />
e criticamente, os acontecimentos históricos da<br />
transição do Império para a República.<br />
( ) São comuns a Lima Barreto e Machado de Assis: a<br />
citação de episódios da história geral e nacional, de<br />
personagens conhecidos da literatura universal e<br />
a menção de autores brasileiros e estrangeiros.<br />
( ) No texto I, percebe-se que Lima Barreto ironiza a<br />
discriminação social e racial que sofriam os que,<br />
como ele, eram mulatos. Já no texto 2, Machado<br />
de Assis ironiza a leitora formada dentro da concepção<br />
romântica.<br />
( ) O texto 2 marca o estilo realista de Machado de Assis,<br />
com sua provocação constante ao leitor, para<br />
que este participe do que está sendo escrito.<br />
( ) O romance Esaú e Jacó possui uma série de<br />
referências bíblicas, seja através dos nomes dos<br />
personagens, seja por citações diretas de passagens<br />
da Bíblia.<br />
( ) Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima<br />
Barreto, caracteriza-se como uma obra de ambiência<br />
urbana do Romantismo, movimento literário<br />
de transição, em que se iniciaram as tendências e<br />
os temas que se firmariam no Modernismo.<br />
68. PUC-SP<br />
A literatura do Pré-Modernismo brasileiro, nas obras de<br />
Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato,<br />
caracteriza-se pela:<br />
a) descrição e romantização da sociedade rural.<br />
b) interpretação e polêmica voltadas para a problemática<br />
social.<br />
c) análise e idealização da sociedade urbana.<br />
d) restauração e mitificação da temática histórica.<br />
e) reconstrução e fabulação da sociedade indígena.<br />
69.<br />
Contrariando os seus contemporâneos, procurou nas<br />
classes populares e no desmascaramento da vida<br />
cotidiana da pequena burguesia a matéria dos seus<br />
romances e contos. Isso, aliado ao sarcasmo com o qual<br />
ironizava os políticos e literatos da época, fez com que<br />
fosse pouco apreciado no seu tempo. Seu desprezo ao<br />
artificialismo e à retórica parnasiana levou-o a escrever<br />
numa linguagem simples, algumas vezes até desleixada,<br />
o que lhe valeu muitas críticas. Porém, deixou-nos<br />
um valioso registro do Rio de Janeiro da sua época.<br />
A que autor do Pré-Modernismo se refere o texto<br />
anterior? Cite uma obra desse autor.<br />
190<br />
70. PUC-RS<br />
Autores como ________, ________ e ________,<br />
contemporâneos de Euclides da Cunha, apresentaram<br />
novas facetas da realidade brasileira, produzindo,<br />
respectivamente, romances que discutem temas tais<br />
como: a imigração alemã, os costumes urbanos e o<br />
universo rural.<br />
a) Simões Lopes Neto, Raul Pompéia e Lima Barreto<br />
b) Graça Aranha, Lima Barreto e Monteiro Lobato<br />
c) Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha<br />
d) Raul Pompéia, Guimarães Rosa e Monteiro Lobato<br />
e) Graça Aranha, Raul Pompéia e Guimarães Rosa<br />
71. UFV-MG<br />
Leia o texto.<br />
Este novo período, que incluímos cronologicamente<br />
entre 1900 e 1920, é o que chamamos de [...]<br />
eclético […] porque tudo o que vai entre o Simbolismo<br />
e o Modernismo se caracteriza, acima de tudo, por<br />
não poder ser resumido numa escola dominante e, ao<br />
contrário, compreender a coexistência dos simbolistas,<br />
realistas e parnasianos, até mesmo os da geração<br />
que, em 1920, iriam desencadear o Modernismo. Foi<br />
o Pré-Modernismo.<br />
Alceu Amoroso Lima<br />
De acordo com o texto de Alceu Amoroso Lima, o<br />
período eclético se caracteriza:<br />
a) pela existência antagônica de diferentes e diversas<br />
orientações estilísticas.<br />
b) por certas experiências literárias preparatórias da<br />
revolução pré-modernista.<br />
c) pelo predomínio de traços simbolistas, realistas e<br />
parnasianos sobre os pré-modernos.<br />
d) por ser uma fase de transição, muito confusa, cujo<br />
apogeu é o Simbolismo.<br />
e) pela combinação de elementos heterogêneos e<br />
experiências literárias que desaguariam no Modernismo.<br />
Texto para as questões de 72 a 76.<br />
Quando Pedro I lança aos ecos o seu grito<br />
histórico e o país desperta esturvinhado à crise de<br />
uma mudança de dono, o cabloco ergue-se, espia e<br />
acocora-se, de novo.<br />
Pelo 13 de maio, mal esvoaça o florido decreto da<br />
Princesa e o negro exausto larga num uf! o cabo da enxada,<br />
o caboclo olha, coça a cabeça, imagina e deixa que<br />
do velho mundo venha quem nele pegue de novo.<br />
A 15 de novembro troca-se um trono vitalício<br />
pela cadeira quadrienal. O país bestifica-se ante<br />
o inopinado da mudança. O caboclo não dá pela<br />
coisa.<br />
Vem Floriano: estouram as granadas de<br />
Custódio;Gumercindo bate às portas de Roma; Incitatus<br />
derranca o país. O caboclo continua de cócoras,<br />
a madorrar...<br />
Nada o desperta. Nenhuma ferretoada o põe de<br />
pé. Social, como individualmente, em todos os atos da<br />
vida, Jeca antes de agir, acocora-se.<br />
Monteiro Lobato
PV2D-07-54<br />
72. FAAP-SP<br />
É nesta crônica que Monteiro Lobato fotografa a<br />
imagem do caipira, apresentado como uma “raça intermediária”,<br />
que perdeu o primitivismo do índio sem,<br />
no entanto, adquirir a força do colonizador. A crônica<br />
foi extraída do livro:<br />
a) Negrinha<br />
b) O Macaco que se fez Homem<br />
c) Urupês<br />
d) O Presidente Negro<br />
e) O escândalo do Petróleo<br />
73. FAAP-SP<br />
O texto fala de fatos históricos, respectivamente:<br />
a) Monarquia – Lei do Ventre Livre – Eleição de<br />
Floriano<br />
b) Regência – Tráfego Negro – Posse de Floriano<br />
c) Maioridade – Libertação dos Escravos – Posse de<br />
Floriano<br />
d) Parlamentarismo – Libertação dos Escravos – Presidencialismo<br />
e) Independência – Libertação dos Escravos – República<br />
74. FAAP-SP<br />
Jeca Tatu de Monteiro inspirou um cantor brasileiro<br />
a compor:<br />
Jeca Total: Jeca total deve ser Jeca Tatu presente,<br />
passado, representante da gente do Senado. Estamos<br />
falando de:<br />
a) Chico Buarque d) Roberto Carlos<br />
b) Caetano Veloso e) Milton Nascimento<br />
c) Gilberto Gil<br />
75. FAAP-SP<br />
A crítica é unânime em classificar o escritor Monteiro<br />
Lobato ligado ao movimento:<br />
a) pré-modernista d) dadaísta<br />
b) surrealista e) cubista<br />
c) futurista<br />
76. FAAP-SP<br />
Sobre Monteiro Lobato não procede a seguinte afirmação:<br />
a) Nasceu em Taubaté e morreu em São Paulo. Advogado,<br />
promotor Público. Fundou a Companhia de<br />
Petróleos do Brasil<br />
b) Inovador quando defende a arte de Anita Malfatti<br />
em famoso artigo publicado pelo Estado: Paranóia<br />
ou Mistificação<br />
c) Avançado quando satiriza o purismo da linguagem<br />
no conto também famoso: O Colocador de Pronomes<br />
d) Promoveu campanhas nacionais em favor do ferro<br />
e petróleo: Preso pelo governo Vargas em 1941,<br />
exila-se na Argentina.<br />
e) Crítico veemente do sistema agrícola brasileiro na<br />
figura de Jeca Tatu, símbolo da miséria e do atraso<br />
a que foram relegados nossos caipiras<br />
77. UFOP-MG<br />
Leia com atenção o seguinte texto:<br />
Como uma cascavel que se enroscava,<br />
A cidade dos lázaros dormia...<br />
Somente, na metrópole vazia,<br />
Minha cabeça autônoma pensava!<br />
Mordia-me a obsessão má de que havia,<br />
Sob os meus pés, na terra onde eu pisava,<br />
Um fígado doente que sangrava<br />
E uma garganta de órfã que gemia!<br />
Tentava compreender com as conceptivas<br />
Funções do encéfalo as substâncias vivas<br />
Que nem Spencer, nem Haechel compreenderam...<br />
E via em mim, coberto de desgraças,<br />
O resultado de bilhões de raças<br />
Que há muitos anos desapareceram!<br />
ANJOS, Augusto dos. Eu: poesias.<br />
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998, p.61.<br />
Assinale a alternativa incorreta.<br />
a) É possível observar, na construção desse texto,<br />
uma tal concentração no conteúdo que faz com<br />
que a forma fique bastante negligenciada.<br />
b) Observa-se uma tendência bastante forte para a<br />
exploração de temas mórbidos e patológicos, como<br />
nos demais poemas de Augusto dos Anjos.<br />
c) Apresenta o poema um pendor para a representação<br />
de um cientificismo, mesmo que o impulso<br />
lírico seja uma constante presença.<br />
d) Faz-se notar um pessimismo que, na sua exacerbação,<br />
acaba caminhando para um quase total<br />
aniquilamento.<br />
e) Justificando a obra a que pertence, há, no poema,<br />
um individualismo bem nítido.<br />
78. UFRGS-RS<br />
É correto afirmar que Augusto dos Anjos foi o poeta<br />
do:<br />
a) pessimismo aliado à ciência que acusava a degradação<br />
humana mediante associações e comparações<br />
com processos químicos e biológicos.<br />
b) cientificismo triunfante que, aliado à idéia de progresso,<br />
marcou boa parte da lírica contemporânea<br />
aos primeiros anos da República.<br />
c) pessimismo acusatório que denunciou o latifúndio<br />
e a política oligárquica, reproduzindo nas poesias<br />
as preocupações e temas de Lima Barreto.<br />
d) esteticismo que depurava a forma de seus sonetos<br />
à perfeição, sem jamais fazer concessões a temas<br />
considerados prosaicos ou de mau gosto.<br />
e) cientificismo militante disposto a abranger temas<br />
como o cálculo algébrico, a crítica literária e<br />
arquitetura para retirar o caráter subjetivo da<br />
poesia.<br />
79. PUC-RS<br />
Associar a “Consciência Humana” à imagem de um<br />
“morcego”, assim como fazer poesia sobre o “verme”,<br />
ou afirmar que o homem, por viver “entre as feras”,<br />
também sente a necessidade “de ser fera” são algumas<br />
das imagens poéticas de _________. Apesar das<br />
críticas contundentes de que foi alvo, o poeta, muito<br />
distante da obsessão _________ pela forma, ou da<br />
191
sugestão das imagens _________, já revelava, a seu<br />
tempo, elementos de modernidade.<br />
a) Cruz e Souza - simbolista - parnasianas<br />
b) Augusto dos Anjos - parnasiana - simbolistas<br />
c) Alphonsus Guimaraens - parnasiana - realistas<br />
d) Cruz e Souza - romântica - parnasianas<br />
e) Augusto dos Anjos - simbolista - parnasianas<br />
80. UFOP-MG<br />
A respeito de Eu, de Augusto dos Anjos, é correto<br />
dizer que:<br />
a) sendo uma obra eminentemente barroca, representa<br />
com perfeição as dualidades céu/terra,<br />
pecado/graça, treva/luz.<br />
b) sendo uma obra eminentemente romântica, apresenta<br />
um subjetivismo exacerbado, que extrapola<br />
todos os limites.<br />
c) sendo uma obra eminentemente parnasiana, prima<br />
pela perfeição formal, desprezando quaisquer<br />
outras preocupações.<br />
d) sendo uma obra eminentemente simbolista, usa e<br />
abusa dos meios tons que tanto caracterizam essa<br />
poesia nefelibata.<br />
e) sendo uma obra de difícil classificação, reserva,<br />
mesmo assim, um lugar de destaque na poesia<br />
brasileira como um caso à parte.<br />
81. UFOP-MG<br />
Psicolgia de um vencido<br />
Eu, filho do carbono e do amoníaco,<br />
Monstro de escuridão e rutilância,<br />
Sofro, desde a epigênese da infância,<br />
A influência má dos signos do zodíaco.<br />
Profundissimamente hipocondríaco,<br />
Este ambiente me causa repugnância...<br />
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia<br />
Que se escapa da boca de um cardíaco.<br />
Já o verme – este operário das ruínas<br />
Que o sangue podre das carnificinas<br />
Come e à vida em geral declara guerra,<br />
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,<br />
E há de deixar-me apenas os cabelos,<br />
Na frialdade inorgânica da terra!<br />
Augusto dos Anjos<br />
A angústia diante da vida, a imagem da decomposição<br />
da carne e a linguagem exótica – alguns dos elementos<br />
caracterizadores da poesia de Augusto dos Anjos<br />
– estão presentes no poema. Exemplifique cada um<br />
deles com elementos do poema.<br />
82. PUC-MG<br />
Todas as afirmativas sobre a obra Urupês estão corretas,<br />
exceto:<br />
a) Em Velha praga, impera a perspectiva do proprietário<br />
rural que denuncia a causa das queimadas<br />
que trazem problemas às suas terras.<br />
b) Velha praga e Urupês podem ser considerados<br />
artigos jornalísticos que estabelecem entre si uma<br />
relação temática.<br />
192<br />
c) Contos como A colcha de retalhos ou O comprador<br />
de fazendas ilustram a temática da decadência no<br />
meio rural, viés crítico da obra de Lobato.<br />
d) Bucólica e Bocatorta destoam do restante dos textos<br />
da obra por serem contos de ambientação urbana.<br />
83. UFSM-RS<br />
Analise as afirmações a seguir.<br />
I. Sua poesia explora o cientificismo e a preocupação<br />
filosófica, apresentando imagens repulsivas, inspiradas<br />
na morte e na decomposição da matéria.<br />
II. Possui obra que focaliza casos e costumes da<br />
vida baiana, contemplando tópicos, como os rituais<br />
afros de Salvador e os dramas próprios das<br />
plantações de cacau do sertão.<br />
Assinale a alternativa que identifica, pela ordem, os autores<br />
que se relacionam com as afirmações apresentadas.<br />
a) I. Aluísio Azevedo; II. Guimarães Rosa<br />
b) I. Ferreira Gullar; II. Josué Guimarães<br />
c) Raul Pompéia; II. Euclides da Cunha<br />
d) I. Álvares de Azevedo; II. Graciliano Ramos<br />
e) I. Augusto dos Anjos; II. Jorge Amado<br />
84. UFV-MG<br />
No prefácio da primeira edição de Urupês, diz Monteiro<br />
Lobato:<br />
E aqui aproveito o lance para implorar perdão ao<br />
pobre Jeca. Eu ignorava que eras assim, meu Tatu,<br />
por motivo de doença. Hoje é com piedade infinita<br />
que te encara quem, naquele tempo, só via em ti um<br />
mamparreiro de marca. Perdoas?<br />
A partir deste fragmento, considerando o contexto<br />
do artigo Urupês e a trajetória intelectual de Lobato,<br />
responda:<br />
a) O que significa mamparreiro, termo corrente no<br />
norte do Brasil?<br />
b) O que Lobato descobre em relação à natureza<br />
física e mental do cabloco brasileiro, assim como<br />
à sua condição histórica e política, que lhe permite<br />
fazer esta auto-crítica ainda em 1918?<br />
Texto para as questões 85 e 86.<br />
Noite em João Pessoa<br />
1 A noite de ontem, ostentando uma cenografia muito<br />
lúgubre, nos deu a Justiça, na Paraíba do Norte,<br />
havia aberto falência.<br />
2 Afigurou-se-nos, então, que nosso aerópago<br />
forense, tornar-se-ia d’ora em diante um núcleo<br />
tristíssimo de bacharéis escaveirados com a faculdade<br />
prosódica obstruída por uma alalia incurável,<br />
arrastando desconsoladamente pela sala das<br />
audiências as fósseis togas hipotecadas.<br />
3 O largo da Catedral de N. S. das Neves, oferecia<br />
sem nenhum exagero, uma perspectiva inteiramente<br />
desalentadora.<br />
4 A iluminação elétrica, de um efeito intensivo péssimo,<br />
iluminava com reflexos mortiços toda aquela<br />
decadência sintomática que bem equivalia à justiça<br />
mundial agonizante, festejando com alguns círios<br />
e com o Cinema Halley a véspera de sua desintegração<br />
absoluta.
PV2D-07-54<br />
5 Pouquíssimos circunstantes.<br />
6 Alguns, exibindo hiatos de desilusão mal contida, regressavam<br />
aos lares, com o atabalhoamento nervoso<br />
e a diminuição concomitante da verticalidade dorsal<br />
de quem está sendo vaiado publicamente (...)<br />
7 Ah! certamente, a noite da Justiça, com sua treva<br />
e os “films” magríssimos de seu cinema plebeu,<br />
foi apenas o prelúdio incoerente e mal definido<br />
dos deslumbramentos futuros que as outras noites<br />
hão de trazer, como uma compensação muito<br />
carinhosa, ao nosso espírito decepcionado.<br />
Trecho da crônica inédita de Augusto dos Anjos.<br />
Jornal O Globo, 04/09/04.<br />
85. Cesgranrio-RJ<br />
Em relação ao texto, só não foi intenção do autor<br />
mostrar:<br />
a) a decadência da justiça no panorama mundial.<br />
b) a inoperância da iluminação elétrica.<br />
c) a esperança no futuro, apesar das decepções.<br />
d) o desinteresse pelas sessões de justiça, através<br />
do número reduzido de assistentes.<br />
e) a identificação entre o aspecto soturno da noite e<br />
a prostração dos bacharéis.<br />
86. Cesgranrio-RJ<br />
No 6 o parágrafo do texto, percebe-se a degradação<br />
física e moral dos bacharéis, que é motivada por:<br />
a) problemas físicos que atacam os nervos.<br />
b) desilusão amorosa contida.<br />
c) decepção profissional sofrida.<br />
d) sacrifício da volta ao lar.<br />
e) arqueamento da coluna pelo excesso de trabalho.<br />
87. Mackenzie-SP<br />
Budismo moderno<br />
Tome, Dr., esta tesoura, e... corte<br />
Minha singularíssima pessoa.<br />
Que importa a mim que a bicharia roa<br />
Todo o meu coração, depois da morte?!<br />
Ah! Um urubu pousou em minha sorte!<br />
Também, das diatomáceas da lagoa<br />
A criptógama cápsula se esbroa<br />
Ao contato de bronca destra forte!<br />
Dissolva-se, portanto, minha vida,<br />
Igualmente a uma célula caída<br />
Na aberração de um óvulo infecundo;<br />
Mas o agregado abstrato das saudades<br />
Fique batendo nas perpétuas grades<br />
Do último verso que eu fizer no mundo!<br />
Augusto dos Anjos<br />
Assinale a alternativa que não se aplica ao soneto<br />
anterior.<br />
a) As três primeiras estrofes expressam uma idéia de<br />
fim, enquanto veiculam o desânimo e o ceticismo.<br />
b) A última estrofe concretiza uma idéia de continuidade,<br />
enquanto veicula o sonho, ou a criação, que<br />
perpetua o criador.<br />
c) A oração coordenada sindética adversativa, que<br />
constitui o verso 12, aponta para uma contrariedade<br />
de idéias, ou seja, matéria vs. espírito.<br />
d) O cientificismo é o doador da sensação de continuidade,<br />
que salta de uma estrofe para o título e<br />
vice-versa.<br />
e) “Fique batendo” expressa, pela continuidade temporal,<br />
uma ação incessante e ininterrupta, que se<br />
opõe à idéia de fim.<br />
88. UFRGS-RS<br />
Versos íntimos<br />
Vês! Ninguém assistiu ao formidável<br />
Enterro de tua última quimera.<br />
Somente a Ingratidão - esta pantera -<br />
Foi tua companheira inseparável!<br />
Acostuma-te à lama que te espera!<br />
O Homem, que, nesta terra miserável,<br />
Mora, entre feras, sente inevitável<br />
Necessidade de também ser fera.<br />
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!<br />
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,<br />
A mão que afaga é a mesma que apedreja.<br />
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,<br />
Apedreja essa mão vil que te afaga,<br />
Escarra nessa boca que te beija!<br />
Augusto dos Anjos<br />
Considere as seguintes afirmações em relação ao<br />
poema de Augusto dos Anjos<br />
I. O poema comenta sarcasticamente o fim da vida<br />
e contradiz os ideais de solidariedade humana.<br />
II. Os versos demonstram que os animais são os principais<br />
responsáveis pela violência sobre a terra.<br />
III. O poeta serviu-se da imagem do fósforo para<br />
transmitir ao eleito uma mensagem de luz e de<br />
esperança.<br />
Quais estão corretas?<br />
a) Apenas I d) Apenas I e III<br />
b) Apenas II e) I, II e III<br />
c) Apenas I e II<br />
89. ENEM<br />
Narizinho correu os olhos pela assistência. Não<br />
podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque<br />
e flores na lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas,<br />
verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina -<br />
achando que era exagero usarem coletes tão apertados.<br />
Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos<br />
que as borboletas de toucados de gaze tinham com o<br />
pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados<br />
para não morderem. E canários cantando, e beija-flores<br />
beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos<br />
caranguejando, tudo que é pequenino e não morde,<br />
pequeninando e não mordendo.<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho.<br />
São Paulo: Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série de verbos no<br />
gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente<br />
fantástico descrito. Expressões como “camaronando”,<br />
“caranguejando” e “pequeninando e não mordendo”<br />
criam, principalmente, efeitos de<br />
a) esvaziamento de sentido.<br />
b) monotonia do ambiente.<br />
c) estaticidade dos animais.<br />
d) interrupção dos movimentos.<br />
e) dinamicidade do cenário.<br />
193
90. UFU-MG<br />
Nos primeiros parágrafos de Urupês, Monteiro Lobato<br />
posiciona-se em relação às principais tendências da<br />
literatura brasileira.<br />
Assinale a alternativa em que a posição de Lobato é<br />
apresentada incorretamente.<br />
a) Assim como os modernistas, Lobato critica a visão<br />
idealizada que os românticos tinham do índio; para<br />
ele, o romantismo brasileiro havia sido mera imitação<br />
da escola francesa, tendo apenas adaptado<br />
ao cenário dos tópicos as idéias de Rousseau.<br />
b) Para Lobato, o realismo naturalista irá acertar o tom<br />
da literatura brasileira, fugindo à caricatura para<br />
revelar outras deficiências do cabloco nacional,<br />
cuja índole ele investiga com apoio da ciência evolucionista;<br />
por isto, o naturalismo projeta-se como<br />
a literatura do futuro, por associar ao cientificismo<br />
alta dosagem de qualidade poética.<br />
c) A fraqueza moral e muscular do selvagem brasileiro<br />
– que Lobato julgava capaz de “moquear a<br />
linda menina” Ceci “num bom brasileiro”, em vez de<br />
amá-la perdidamente, como fez Peri – corresponde<br />
à mesma visão que Mário de Andrade adota na<br />
construção do herói Macunaíma.<br />
d) Para Lobato, a substituição do selvagem pelo<br />
cabloco como tipo brasileiro, no período pré-modernista,<br />
dando a este atributos de integridade<br />
moral, repete o mesmo equívoco de idealização<br />
que marcou o indianismo romântico.<br />
91. PUC-SP<br />
Estradas de rodagem<br />
Comparados os países com veículos, veremos<br />
que os Estados Unidos são uma locomotiva elétrica;<br />
a Argentina um automóvel; o México uma carroça; e<br />
o Brasil um carro de boi.<br />
O primeiro desses países voa; o segundo corre a<br />
50 km por hora; o terceiro apesar das revoluções tira<br />
<strong>10</strong> léguas por dia; nós...<br />
Nós vivemos atolados seis meses do ano, enquanto<br />
dura a estação das águas, e nos outros 6 meses<br />
caminhamos à razão de 2 léguas por dia. A colossal<br />
produção agrícola e industrial dos americanos voa<br />
para os mercados com a velocidade média de <strong>10</strong>0 km<br />
por hora. Os trigos e carnes argentinas afluem para<br />
os portos em autos e locomotivas que uns 50 km por<br />
hora, na certa, desenvolvem.<br />
As fibras do México saem por carroças e se um general<br />
revolucionário não as pilha em caminho, chegam<br />
a salvo com relativa presteza. O nosso café, porém, o<br />
nosso milho, o nosso feijão e a farinha entram no carro<br />
de boi, o carreiro despede-se da família, o fazendeiro<br />
coça a cabeça e, até um dia! Ninguém sabe se chegará,<br />
ou como chegará. Às vezes pensa o patrão que o veículo<br />
já está de volta, quando vê chegar o carreiro.<br />
– Então? Foi bem de viagem?<br />
O carreiro dá uma risadinha.<br />
– Não vê que o carro atolou ali no Iriguaçu e..<br />
– E o quê?<br />
– ... e está atolado! Vim buscar mais dez juntas de<br />
bois para tirar ele.<br />
E lá seguem bois, homens, o diabo para desatolar<br />
o carro.<br />
Enquanto isso, chove, a farinha embolora, a rapadura<br />
derrete, o feijão caruncha, o milho grela; só o<br />
café resiste e ainda aumenta o peso.<br />
LOBATO, M. Obras Completas, 14ª ed.<br />
São Paulo, Brasiliense, 1972, v. 8, p.74<br />
194<br />
Monteiro Lobato foi um escritor que, quanto ao uso da<br />
língua, sempre questionou a obediência aos padrões<br />
rígidos da gramática e às normas herdadas de Portugal.<br />
No texto, há momentos em que ele não segue as regras<br />
de uso da vírgula previstas pela Gramática Normativa.<br />
Assim, observe os fragmentos a seguir:<br />
I. As fibras do México saem por carroças e se um<br />
general revolucionário não as pilha em caminho,<br />
chegam a salvo com presteza.<br />
II. Às vezes, pensa o patrão que o veículo já está de<br />
volta, quando vê chegar o carreiro.<br />
III. O primeiro destes países voa; o segundo corre a<br />
50 km por hora; o terceiro apesar das revoluções<br />
tira <strong>10</strong> léguas por dia.<br />
Quanto ao uso da vírgula, em relação às regras da<br />
Gramática Normativa, nesses fragmentos:<br />
a) I e II estão corretos.<br />
b) II e III estão corretos.<br />
c) I e III estão corretos.<br />
d) apenas II está correto.<br />
e) apenas I está correto.<br />
92.<br />
A contradição moderno-antimodernista leva-o a uma<br />
crítica injusta e violenta à pintura de Anita Malfatti,<br />
fato cultural mais importante antes da Semana de<br />
Arte Moderna.<br />
Assinale a alternativa que apresenta o autor pré-modernista<br />
a que se refere o texto anterior.<br />
a) Augusto dos Anjos d) Euclides da Cunha<br />
b) Lima Barreto e) Machado de Assis<br />
c) Monteiro Lobato<br />
93.<br />
Que atitude comum caracteriza a postura literária de<br />
autores pré-modernistas como Lima Barreto, Graça<br />
Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha?<br />
94. UEM-PR<br />
Leia o poema a seguir e assinale a(s) alternativa(s)<br />
correta(s).<br />
Ricordanza della mia gioventù (*)<br />
A minha ama-de-leite Guilhermina<br />
Furtava as moedas que o Doutor me dava.<br />
Sinhá-Mocinha, minha mãe, ralhava...<br />
Via naquilo a minha própria ruína!<br />
Minha ama, então, hipócrita, afetava<br />
Susceptibilidades de menina:<br />
“– Não, não fora ela!” – E maldizia a sina,<br />
Que ela absolutamente não furtava.<br />
Vejo, entretanto, agora, em minha cama,<br />
Que a mim somente cabe o furto feito...<br />
Tu só furtaste a moeda, o ouro que brilha...<br />
Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,<br />
Eu furtei mais, porque furtei o peito<br />
Que dava leite para a tua filha!<br />
Augusto dos Anjos<br />
(*) Lembrança da minha juventude
PV2D-07-54<br />
( ) O narrador desse texto se lembra da juventude<br />
com saudades, fazendo uma brincadeira com a<br />
ama-de-leite. Essa saudade é típica do gênero<br />
lírico, assim como o são os temas amorosos e<br />
a contemplação da natureza.<br />
( ) Esse soneto é bastante característico de Augusto<br />
dos Anjos, com seu contraste entre os<br />
valores efêmeros (“o ouro que brilha”) e os<br />
eternos (o leite materno, simbolizando o amor<br />
e os cuidados de mãe), sua amarga decepção<br />
com as falhas humanas e sua linguagem cheia<br />
de preciosismos.<br />
( ) O soneto tem fortes relações com a vida de<br />
Augusto dos Anjos: mulato, pobre, talentoso,<br />
não pôde avançar em sua carreira no funcionalismo<br />
público por não possuir amigos influentes<br />
e por recusar-se a dedicar seus sonetos aos<br />
poderosos; tais eram os motivos do seu tom<br />
crítico, amargo, retratando a realidade corrupta<br />
e medíocre do Brasil, especialmente do Rio de<br />
Janeiro. Em razão disso, no poema, faz menções<br />
irônicas ao Doutor, à Sinha-Mocinha, ao<br />
ouro corruptor e à hipocrisia.<br />
( ) O eu lírico desse texto é bastante típico de Augusto<br />
dos Anjos, com sua atitude de desgosto e<br />
de desilusão perante os fatos da vida. Contudo,<br />
esse soneto não é dos mais típicos de sua obra,<br />
uma vez que sua temática sugere um proble-<br />
Capítulo 2<br />
95. UFU-MG<br />
Faça a correspondência das expressões estilísticas<br />
com as gerações modernistas e assinale a alternativa<br />
que contém a correspondência correta.<br />
I. Abominação do passado<br />
II. Tentativa de demolição<br />
III. Valorização do inconsciente<br />
IV. Uso intenso de estrangeirismo<br />
V. Aliança de signos verbais e econômicos<br />
( ) Concretismo<br />
( ) Surrealismo<br />
( ) Dadaísmo<br />
( ) Antropofagia<br />
( ) Futurismo<br />
a) V, III, II, I, IV<br />
b) V, II, III, I, IV<br />
c) V, III, II, IV, I<br />
d) IV, I, II, III, V<br />
e) V, III, IV, II, I<br />
96. UFPA<br />
As idéias de Marinetti influenciaram muito os nossos<br />
autores. Dele, os escritores brasileiros seguiram:<br />
a) a exacerbação do nacional e a sintaxe tradicional.<br />
b) a paixão pela metáfora intelectualista e rebuscada,<br />
e pelas frases de efeito.<br />
c) a negação do passado e o uso de palavras em<br />
liberdade.<br />
ma social, a exploração da ama, que deixa de<br />
alimentar a própria filha para dar o leite a outra<br />
criança.<br />
( ) O soneto pode ter relações com a vida de Augusto<br />
dos Anjos, filho de uma família de antigos<br />
senhores de engenho na Paraíba. Mas isso<br />
não “explica” seu sentido, que é mais o de uma<br />
grande ironia: a ama, que furtava e mentia, é<br />
posta sob outra luz, através da memória, quando<br />
o menino fala de uma culpa que não pode ser<br />
encarada como individual (o menino “furtar”<br />
o leite), mas coletiva (a situação social que<br />
obrigava a mulher a ganhar a vida vendendo<br />
o próprio leite).<br />
( ) O narrador faz uso de alguns elementos de época<br />
que estão fora de uso hoje: a) a ama-de-leite,<br />
geralmente descendente de escravos, amamentava<br />
os filhos de pais ricos; b) a crença de que o<br />
leite ajudava a formar o caráter da criança, por<br />
isso a mãe do garoto via no furto a “ruína” do<br />
filho; c) a menção à sina, que significa “destino”,<br />
remete a “tirar a sina”, crença de que alguns<br />
indivíduos com poderes divinatórios poderiam<br />
prever com exatidão o destino das crianças; d) a<br />
figura da escrava petulante, espertalhona, capaz<br />
de furtos e de pequenas malandragens.<br />
d) o conceito de felicidade na vida em contato com a<br />
natureza, e a fé na razão e na ciência.<br />
e) o gosto pelo psicologismo na ficção e a supervalorização<br />
da natureza.<br />
97. Unibero-SP<br />
Analise a tela de Hans Arp aqui reproduzida. Tratase<br />
de uma colagem, e sua técnica de composição,<br />
segundo o pintor, foi a de “picar papéis e deixá-los<br />
cair espontaneamente sobre um fundo colorido”. Essa<br />
técnica pode ser interpretada como:<br />
Samira Yousseff Campedelli, Literatura, História & Texto 3, p. 65.<br />
a) própria do cubismo.<br />
b) típica do surrealismo.<br />
c) futurista.<br />
d) expressionista.<br />
e) um procedimento dadaísta.<br />
195
98. PUC-SP<br />
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela<br />
minha aldeia,<br />
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que<br />
corre pela minha aldeia<br />
Porque o Tejo não é o rio que corre pela<br />
minha aldeia.<br />
196<br />
O Tejo tem grandes navios<br />
E navega nele ainda,<br />
Para aqueles que vêem em tudo o<br />
que lá não está,<br />
A memória das naus.<br />
O Tejo desce de Espanha<br />
E o Tejo entra no mar em Portugal.<br />
Toda a gente sabe isso.<br />
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia<br />
E para onde ele vai<br />
E donde ele vem.<br />
E por isso, porque pertence a menos gente,<br />
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.<br />
Pelo Tejo vai-se para o mundo.<br />
Para além do Tejo há a América<br />
E a fortuna daqueles que a encontram.<br />
Ninguém nunca pensou no que há para além<br />
Do rio da minha aldeia.<br />
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.<br />
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.<br />
O poema acima, do heterônimo de Fernando Pessoa,<br />
Alberto Caeiro, integra o livro O guardador de rebanhos.<br />
Indique a alternativa que nega a adequada<br />
leitura do poema em questão.<br />
a) O elemento fundamental do poema é a busca da<br />
objetividade, sintetizada no verso: “Quem está ao<br />
pé dele está só ao pé dele”.<br />
b) O poema propõe um contraste a partir do mesmo<br />
motivo e opõe um sentido geral a um sentido<br />
particular.<br />
c) O texto sugere um conceito de beleza que implica<br />
proximidade e posse e, por isso, valoriza o que é<br />
humilde, ignorado e despretensioso.<br />
d) O rio que provoca a real sensação de se estar à<br />
beira de um rio é o Tejo, que guarda a “memória<br />
das naus”, marca do passado grandioso do país.<br />
e) O poema se fundamenta numa argumentação<br />
dialética em que o conjunto das justificativas deixa<br />
clara a posição do poeta.<br />
99. UFV-MG<br />
Considere o poema.<br />
Botafogo<br />
Desfilam algas, sereias, peixes e galeras<br />
E legiões de homens desde a pré-história<br />
Diante do Pão de Açúcar impassível.<br />
Um aeroplano bica a pedra amorosamente<br />
A filha do português debruçou-se à janela<br />
Os anúncios luminosos lêem seu busto<br />
A enseada encerrou-se num arranha-céu.<br />
Murilo Mendes<br />
Assinale a alternativa verdadeira.<br />
a) Por liberar imagens do inconsciente, livres da razão<br />
consciente, “Botafogo” pode ser classificado como<br />
poema surrealista.<br />
b) É um poema irreverente, provocador, inspirado no<br />
Dadaísmo.<br />
c) O estilo metafórico de nomeação fugidia e imediata<br />
da realidade torna o poema representativo da<br />
proposta Pau-Brasil.<br />
d) Trata-se de um poema futurista, pois celebra as<br />
delícias da velocidade e da energia mecânica.<br />
e) É um poema cubista, porque explora as formas<br />
geométricas e os diversos ângulos dos objetos<br />
descritos.<br />
<strong>10</strong>0.<br />
Eia! eia! eia!<br />
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!<br />
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do<br />
Inconsciente!<br />
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!<br />
Eia todo o passado dentro do presente!<br />
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!<br />
Eia! eia! eia!<br />
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!<br />
Eia! eia! eia! eia!-hô-ô-ô!<br />
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio,<br />
engenho-me.<br />
Engatam-me em todos os comboios.<br />
Içam-me em todos os cais.<br />
Giro dentro das hélices de todos os navios.<br />
Eia! eia-hô eia!<br />
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!<br />
Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa –<br />
fragmento de Ode Triunfal<br />
Relacione o excerto anterior com uma das vanguardas<br />
artísticas européias.<br />
<strong>10</strong>1.<br />
Leia o Poema tirado de uma notícia de jornal, de Manuel<br />
Bandeira.<br />
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no<br />
morro da Babilônia num barracão sem número.<br />
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro<br />
Bebeu<br />
Cantou<br />
Dançou<br />
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu<br />
afogado.<br />
Podemos filiar esse poema a qual tendência vanguardista?<br />
a) cubismo d) dadaísmo<br />
b) futurismo e) impressionismo<br />
c) surrealismo<br />
<strong>10</strong>2. UFSCar-SP<br />
Uma outra frase famosa de Fernando Pessoa (Tudo<br />
vale a pena se a alma não é pequena) encontra-se<br />
no trecho a seguir, retirado do poema Mar Português,<br />
pertencente ao livro Mensagem:
PV2D-07-54<br />
Valeu a pena? Tudo vale a pena<br />
Se a alma não é pequena.<br />
Quem quer passar além do Bojador<br />
Tem que passar além da dor.<br />
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,<br />
Mas nele é que espelhou o céu.<br />
Fernando Pessoa. Obra poética, p. 82.<br />
a) De que trata essa obra de Fernando Pessoa?<br />
b) Explique o sentido de pequena, no segundo verso.<br />
<strong>10</strong>3.<br />
Receita para fazer um poema dadaísta<br />
Pegue um jornal.<br />
Pegue a tesoura.<br />
Escolha no jornal um artigo do tamanho<br />
que você deseja dar a seu poema.<br />
Recorte o artigo.<br />
Recorte em seguida com atenção<br />
algumas palavras que formam esse artigo<br />
e meta-as num saco.<br />
Agite suavemente.<br />
Tire em seguida cada pedaço um após<br />
o outro.<br />
Copie conscienciosamente na ordem em<br />
que elas são tiradas do saco.<br />
O poema se parecerá com você.<br />
E ei-lo um escritor infinitamente<br />
original e de uma sensibilidade graciosa,<br />
ainda que incompreendido do público.<br />
Tristan Tzara<br />
a) O poeta dadaísta seguia algum tipo de regra?<br />
b) Contraste essa proposta com os procedimentos<br />
das estéticas clássicas.<br />
<strong>10</strong>4.<br />
Dessa forma, a Semana, em vez de um início, foi um<br />
coroamento. A árvore vinha florescendo para dar o<br />
fruto. Já a idéia estava sazonada. De modo que a concretização<br />
só dependia de circunstâncias favoráveis<br />
para desabrochar. Isso ocorreu em 1922.<br />
Afrânio Coutinho<br />
Marque a única opção que não pode ser inferida a<br />
partir da leitura do trecho acima, considerando a Semana<br />
da Arte Moderna.<br />
a) A Semana marcou o início oficial do Modernismo,<br />
mas ela também é conseqüência de fatos literários<br />
ou não.<br />
b) A Semana aconteceu no momento certo, nem<br />
antes nem depois.<br />
c) Alguns fatos sociais, históricos e artísticos fizeram<br />
com que a realização da Semana viesse a ser algo<br />
natural e necessário.<br />
d) Sem a realização da Semana, jamais eclodiria o<br />
movimento modernista.<br />
e) A semana simbolizou, também, a comemoração<br />
do centenário da Independência brasileira.<br />
<strong>10</strong>5. ITA-SP<br />
Leia o texto a seguir.<br />
Propunha a destruição do passado e a incorporação<br />
dos aspectos dinâmicos da realidade (exaltação<br />
da velocidade e da máquina). O líder desse movimento<br />
foi o italiano Marinetti.<br />
A que movimento artístico de vanguarda europeu,<br />
que influenciou o Modernismo brasileiro, refere-se a<br />
afirmação anterior?<br />
<strong>10</strong>6. Mackenzie-SP<br />
No início do século XX, várias tendências estéticas surgiram<br />
na Europa e influenciaram o Modernismo brasileiro.<br />
Não faz parte delas o:<br />
a) dadaísmo. d) cubismo.<br />
b) expressionismo. e) determinismo.<br />
c) futurismo.<br />
<strong>10</strong>7. UEL-PR<br />
Compare o poema narrativo de Jorge de Lima, O grande<br />
desastre aéreo de ontem, com o quadro Guernica,<br />
de Pablo Picasso.<br />
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma<br />
flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista,<br />
em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com<br />
sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e<br />
pernas de dançarinas arremessadas na explosão.<br />
Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor.<br />
Vejo a nadadora belíssima, no seu último<br />
salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.<br />
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como<br />
se dançassem ainda. (...) Ó amigos, o paralítico vem<br />
com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente,<br />
vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as<br />
nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que<br />
Deus é o arrebol.<br />
LIMA, Jorge de. Poesia. Nossos Clássicos 26.<br />
Rio de Janeiro: Agir, 1963. p. 64-65.<br />
arrebol: vermelhidão do pôr-do-sol.<br />
Assinale a alternativa correta:<br />
a) Tanto o poeta quanto o pintor acalentam esperanças<br />
ingênuas quanto à superação das tragédias<br />
do cotidiano no mundo moderno.<br />
b) Ambos os artistas revelam conformismo diante<br />
dos acontecimentos trágicos, representados pelo<br />
desastre aéreo e pela guerra.<br />
c) A quebra das figuras no quadro e a enumeração<br />
rápida das figuras no poema evidenciam uma opção<br />
estética que se pauta pela harmonia figurativa<br />
na pintura e pela linearidade discursiva no texto<br />
literário.<br />
d) Em ambas as obras os artistas abdicam de uma<br />
ótica subjetiva, apresentando de maneira racional<br />
e neutra as tragédias do mundo moderno.<br />
e) Cada uma das duas obras retrata, com linguagem<br />
distinta, o assombro dos artistas diante de realidades<br />
trágicas do mundo moderno.<br />
197
<strong>10</strong>8. UFU-MG<br />
Leia os excertos seguintes e indique a alternativa<br />
incorreta.<br />
Algazarra<br />
A fala dos bichos<br />
é comprida e fácil<br />
miados soltos<br />
na campina;<br />
águias<br />
hidráulicas<br />
nas pontes;<br />
na cozinha<br />
a hidra espia<br />
medrosas as cabeças;<br />
enguias engolem<br />
sete redes<br />
saturam de lombrigas<br />
o pomar;<br />
(...)<br />
Ana Cristina Cesar, 26 poetas de hoje<br />
Bucólica<br />
Agora vamos correr o pomar antigo<br />
Bicos aéreos de patos selvagens<br />
Tetas verdes entre folhas<br />
E uma passarinhada nos vaia;<br />
(...)<br />
Oswald de Andrade, Pau-Brasil<br />
a) Os textos possuem características vanguardistas, uma<br />
vez que criam situações e espaços surreais, compondo<br />
um pomar em que os encanamentos se transformam<br />
em lombrigas e as frutas em tetas verdes.<br />
b) Embora modernos, esses poemas são representantes<br />
do Arcadismo, porque ambos trabalham<br />
com elementos da natureza, colocando o homem<br />
em contato direto com ela. Tal procedimento é<br />
verificável em toda a literatura ocidental.<br />
c) No poema de Ana Cristina Cesar, a Algazarra do<br />
título, que está ligada a uma grande fantasia, estabelece-se<br />
a partir dos versos águias/hidráulicas<br />
e se estende até o último verso.<br />
d) A Algazarra também pode ser verificada nos jogos<br />
sonoros das palavras, que geram ambigüidade de<br />
sentido, como na palavra águias, que pode ser<br />
águas, e no verso enguias engolem, em que engolem<br />
repercute nas primeiras letras de enguias.<br />
<strong>10</strong>9. Unifesp (modificado)<br />
Ode Triunfal<br />
198<br />
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas<br />
[da fábrica<br />
Tenho febre e escrevo.<br />
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza<br />
[disto,<br />
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos<br />
[antigos.<br />
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!<br />
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!<br />
Em fúria fora e dentro de mim,<br />
Por todos os meus nervos dissecados fora,<br />
Por todas as papilas fora de tudo com que eu<br />
[sinto!<br />
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,<br />
De vos ouvir demasiadamente de perto,<br />
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com<br />
[um excesso<br />
De expressão de todas as minhas sensações,<br />
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!<br />
Em febre e olhando os motores como a uma<br />
[Natureza tropical —<br />
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e<br />
[força —<br />
Canto, e canto o presente, e também o passado<br />
[e o futuro.<br />
Porque o presente é todo o passado e todo o<br />
[futuro<br />
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das<br />
[luzes elétricas<br />
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio<br />
[e Platão,<br />
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez<br />
[cinqüenta,<br />
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do<br />
[Ésquilo do século cem,<br />
Andam por estas correias de transmissão e por<br />
[estes êmbolos e por estes volantes,<br />
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,<br />
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo<br />
[numa só carícia à alma.<br />
Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, Obra Poética<br />
Em Ode Triunfal, escrita no momento aflitivo de 1914,<br />
parece que o transe dos tempos modernos, representado<br />
pelas máquinas em fúria, mistura-se com o transe<br />
febril do eu-poemático. Cria-se um ambiente em que,<br />
talvez na dimensão do sonho (ou do pesadelo), o tempo<br />
e o espaço parecem dissolvidos, ou situados numa região<br />
mítica. Nessa dimensão surrealista, Platão e Virgílio<br />
residem dentro das máquinas; há, nelas, pedaços de<br />
Alexandre Magno, “do século talvez cinqüenta”, além de<br />
Ésquilo, do “século cem”. Tal embaralhamento temporal<br />
de figuras históricas já se enunciara nos versos<br />
a) “À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da<br />
fábrica / Tenho febre e escrevo.”<br />
b) “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! / Forte<br />
espasmo retido dos maquinismos em fúria!”<br />
c) “De expressão de todas as minhas sensações, / Com<br />
um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”<br />
d) “Canto, e canto o presente, e também o passado<br />
e o futuro, / Porque o presente é todo o passado<br />
e todo o futuro.”<br />
e) “De vos ouvir demasiadamente de perto, / E arde-me<br />
a cabeça de vos querer cantar com um excesso.”<br />
1<strong>10</strong>. ENEM<br />
Tarsila do Amaral, Operários.
PV2D-07-54<br />
Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que<br />
lhes assegura identidade peculiar, são iguais enquanto<br />
frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das<br />
indústrias se alçam verticalmente. No mais, em todo<br />
o quadro, rostos colados um ao lado do outro, em<br />
pirâmide que tende a se prolongar infinitamente, como<br />
mercadoria que se acumula, pelo quadro afora.<br />
Nádia Gotlib. Tarsila do Amaral, a modernista.<br />
O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema<br />
que também se encontra nos versos transcritos em:<br />
a) “Pensem nas meninas / Cegas inexatas / Pensem nas<br />
mulheres / Rotas alteradas.” (Vinícius de Moraes)<br />
b) “Somos muitos severinos / iguais em tudo e na<br />
sina: / a de abrandar estas pedras / suando-se<br />
muito em cima.” (João Cabral de Melo Neto)<br />
c) “O funcionário público / não cabe no poema / com<br />
seu salário de fome / sua vida fechada em arquivos.”<br />
(Ferreira Gullar)<br />
d) “Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso<br />
querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos<br />
os / sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)<br />
e) “Os inocentes do Leblon / Não viram o navio entrar<br />
(...) / Os inocentes, definitivamente inocentes tudo<br />
ignoravam, / mas a areia é quente, e há um óleo<br />
suave / que eles passam pelas costas, e aquecem.”<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
111.<br />
O poeta é um fingidor.<br />
Finge tão completamente<br />
Que chega a fingir que é dor<br />
A dor que deveras sente.<br />
E os que lêem o que escreve,<br />
Na dor lida sentem bem,<br />
Não as duas que ele teve,<br />
Mas só a que eles não têm.<br />
E assim nas calhas de roda<br />
Gira, a entreter a razão,<br />
Esse comboio de corda<br />
Que se chama coração.<br />
Fernando Pessoa<br />
Relativamente a esse poema de Fernando Pessoa,<br />
indique a observação que não condiz com o conteúdo<br />
do texto.<br />
a) O tema predominante é o jogo que se estabelece<br />
entre autor e leitor, tendo a obra de arte como<br />
campo de atuação.<br />
b) O autor indica a matéria de que se faz sua obra,<br />
além de demonstrar conhecimento sobre reações<br />
do leitor.<br />
c) O sofrimento inerente à condição humana é matéria-prima<br />
importante para a produção poética,<br />
mas ele nunca é revelado de forma integralmente<br />
verdadeira.<br />
d) O prazer do leitor está na identificação de alguma<br />
dor no poeta que ele, leitor, não sente.<br />
e) A sensibilidade do poeta faz dele um ser confuso,<br />
pois seu coração gira para ignorar a razão (“Gira,<br />
a entreter a razão”).<br />
112. Fuvest-SP<br />
Do programa estético da Geração Orpheu constava a:<br />
a) restauração dos temas clássicos.<br />
b) vinculação da obra de arte ao quadro social.<br />
c) instalação das vanguardas futuristas.<br />
d) originalidade em Arte.<br />
e) implantação do movimento surrealista.<br />
113.<br />
O primeiro órgão de divulgação das idéias modernistas<br />
em Portugal e um dos mais importantes foi a<br />
revista _________________, lançada em 1915, tendo<br />
Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro como seus<br />
colaboradores mais atuantes.<br />
Fundada em 1927, a revista _________________<br />
propunha uma revitalização da arte, dentro do espírito<br />
da geração modernista anterior, incentivando a originalidade<br />
e a criatividade. Alguns de seus participantes<br />
foram José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho<br />
da Fonseca.<br />
Reivindicando uma atitude mais objetiva e crítica<br />
na análise de problemas sociais, o movimento chamado<br />
_________________, nas décadas de 30 e<br />
40, propunha uma literatura de compromisso com a<br />
problemática social.<br />
Preencha as lacunas com os nomes das gerações modernistas<br />
em Portugal e marque a seqüência correta.<br />
a) Orpheu – Presença – Neo-Realismo.<br />
b) Presença – Surrealista – Orpheu.<br />
c) Orpheu – Neo-realista – Presença.<br />
d) Surrealista – Orpheu – Presença.<br />
e) Orpheu – Neo-realista – Surrealista.<br />
114. Mackenzie-SP<br />
D. Sebastião, rei de Portugal<br />
Louco, sim, louco, porque quis grandeza<br />
Qual a sorte não dá.<br />
Não soube em mim minha certeza:<br />
Por isso onde o areal está<br />
Ficou meu ser que houve, não o que há.<br />
Minha loucura, outros que me a tomem<br />
Com o que nela ia.<br />
Sem a loucura que é o homem<br />
Mais que a besta sadia,<br />
Cadáver adiado que procria?<br />
Os versos acima encaixam-se na obra de:<br />
a) Alberto Caeiro. d) Camões.<br />
b) Ricardo Reis. e) Bocage.<br />
c) Fernando Pessoa.<br />
115.<br />
Leia o poema a seguir:<br />
Mar portuguez<br />
Ó mar salgado, quanto do teu sal<br />
São lágrimas de Portugal!<br />
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,<br />
Quantos filhos em vão rezaram!<br />
Quantas noivas ficaram por casar<br />
Para que fosses nosso, ó mar!<br />
Valeu a pena? Tudo vale a pena<br />
Se a alma não é pequena.<br />
Quem quer passar além do Bojador<br />
199
200<br />
Tem que passar além da dor.<br />
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,<br />
Mas nele é que espelhou o céu.<br />
PESSOA, Fernando. Obra poética.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 82.<br />
O poema acima transcrito faz parte da obra de Fernando<br />
Pessoa.<br />
Assinale a alternativa que o define, interpreta ou analisa<br />
incorretamente.<br />
a) O texto inicia-se com uma apóstrofe.<br />
b) As marcas estilísticas permitiriam atribuí-lo também<br />
ao heterônimo Alberto Caeiro.<br />
c) A ortografia arcaica é um elemento vinculador<br />
do poema à temática saudosista relacionada ao<br />
passado imperial português.<br />
d) Nos versos “Por te cruzarmos, quantas mães<br />
choraram,” e “Para que fosses nosso, ó mar!”, os<br />
vocábulos destacados não estabelecem a mesma<br />
relação semântica.<br />
e) É possível estabelecer uma relação entre o poema<br />
acima e o episódio do “Velho do Restelo”, de Os<br />
lusíadas.<br />
116. Fuvest-SP<br />
I. O poeta é um fingidor.<br />
Finge tão completamente<br />
Que chega a fingir que é dor<br />
A dor que deveras sente.<br />
II. Sonho que sou um cavaleiro andante<br />
Por desertos, por sóis, por noite escura,<br />
Paladino do amor, busco anelante<br />
O palácio encantado da Ventura!<br />
As estrofes acima são, respectivamente, dos poetas:<br />
a) Fernando Pessoa e Barbosa du Bocage.<br />
b) Cesário Verde e Luís de Camões.<br />
c) Guerra Junqueiro e Antero de Quental.<br />
d) Sá-Carneiro e Luís de Camões.<br />
e) Fernando Pessoa e Antero de Quental.<br />
117. Vunesp<br />
Leia as estrofes seguintes e assinale a alternativa<br />
incorreta.<br />
Mas um velho, de aspeito venerando,<br />
Que ficava nas praias, entre a gente,<br />
Postos em nós os olhos, meneando<br />
Três vezes a cabeça, descontente,<br />
A voz pesada um pouco alevantando,<br />
Que nós no mar ouvimos claramente,<br />
C’um saber só de experiência feito<br />
Tais palavras tirou do experto peito:<br />
Ó glória de mandar, ó vã cobiça<br />
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!<br />
Ó fraudulento gosto, que se atiça<br />
Com a aura popular, que honra se chama!<br />
Que castigo tamanho e que justiça<br />
Fazes no peito vão que muito te ama!<br />
Que mortes, que perigos, que tormentas,<br />
Que crueldades neles experimentas!<br />
Os lusíadas, Camões<br />
Ó mar salgado, quanto do teu sal<br />
São lágrimas de Portugal!<br />
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,<br />
Quantos filhos em vão rezaram!<br />
Quantas noivas ficaram por casar<br />
Para que fosses nosso, ó mar!<br />
Valeu a pena? Tudo vale a pena<br />
Se a alma não é pequena.<br />
Quem quer passar além do Bojador<br />
Tem que passar além da dor.<br />
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,<br />
Mas nele é que espelhou o céu.<br />
Mar português, Fernando Pessoa<br />
a) Através do tema tratado nas estrofes citadas, podemos<br />
dizer que pertencem a dois grandes poemas<br />
épicos da literatura portuguesa: Os Lusíadas e<br />
Mensagem.<br />
b) Nessas estrofes, os dois poemas relacionam-se ao<br />
mencionarem aspectos negativos das expedições<br />
portuguesas.<br />
c) No poema de Camões, todas as estrofes apresentam<br />
oito versos em decassílabos heróicos; no poema<br />
de Pessoa não há a mesma regularidade.<br />
d) Uma das estrofes d’Os lusíadas revela a fala do<br />
Velho do Restelo criticando os sentimentos de<br />
glória e cobiça na empresa portuguesa.<br />
e) Os dois poemas não podem ser relacionados porque,<br />
além de um ser épico e o outro lírico, um pertence<br />
ao Renascimento e o outro ao Modernismo.<br />
118. Mackenzie-SP<br />
O poeta ligado ao sentimento nacionalista que tomou<br />
conta de Portugal em meio às crises do primeiro período<br />
republicano, responsável por Mensagem, obra que<br />
retomou a formação de sua pátria, a identificação com<br />
o mar, o sonho de um império grande e forte foi:<br />
a) Alberto Caeiro.<br />
b) Ricardo Reis.<br />
c) Mário de Sá-Carneiro.<br />
d) Fernando Pessoa ele-mesmo.<br />
e) Álvaro de Campos.<br />
119. Mackenzie-SP<br />
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.<br />
Deus quis que a terra fosse toda uma,<br />
Que o mar unisse, já não separasse.<br />
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.<br />
E a orla branca foi de ilha em continente,<br />
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,<br />
E viu-se a terra inteira, de repente,<br />
Surgir, redonda, do azul profundo.<br />
Quem te sagrou creou-te portuguez.<br />
Do mar e nós em ti nos deu signal.<br />
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.<br />
Senhor, falta cumprir-se Portugal!<br />
O texto faz parte:<br />
a) de um poema de Bocage, pois evidencia os<br />
aspectos pré-românticos, que são a principal<br />
característica de sua obra poética.<br />
b) de Mensagem, de Fernando Pessoa, que, com tom<br />
visionário e nacionalista, refere-se às grandes navegações<br />
e à recuperação do passado português.
PV2D-07-54<br />
c) do Cancioneiro geral, de Garcia de Rezende, em<br />
que se encontra boa parte da produção poética<br />
medieval portuguesa.<br />
d) de Os lusíadas, de Luís de Camões, obra que<br />
enaltece o povo português e seus extraordinários<br />
feitos marítimos.<br />
e) de um auto vicentino, o qual critica a sociedade<br />
portuguesa de sua época, em tom pessimista e<br />
desiludido.<br />
120. Vunesp<br />
Leia o fragmento textual de Fernando Pessoa e assinale<br />
a alternativa correta.<br />
A obra de arte, fundamentalmente, consiste numa<br />
interpretação objetivada duma impressão subjetiva.<br />
Difere, assim, da ciência, que é uma interpretação<br />
subjetiva de uma impressão objetiva, e da filosofia,<br />
que é, ou procura ser, uma interpretação objetivada<br />
de uma impressão objetiva. A ciência procura as leis<br />
particulares das cousas – isto é, aquelas leis que regem<br />
os assuntos ou objetivos que pertencem àquele tipo<br />
de cousas que se estão observando. A ciência é uma<br />
subjetivação, porque é uma conclusão que se tira de<br />
determinado número de fenômenos. A ciência é uma<br />
cousa real e, dentro dos seus limites, certa, porque<br />
é uma subjetivação de uma impressão objetiva, e é,<br />
assim, um equilíbrio.<br />
PESSOA, F. Trecho de “A obra de arte.<br />
Critérios a que obedece”. In: Obras em prosa.<br />
a) A subjetividade impressiva do artista é resultante<br />
de uma interpretação objetiva que conduz à obra<br />
de arte.<br />
b) Muitas vezes, a ciência busca leis particulares das<br />
coisas e, por isso, as torna subjetivas, valendo<br />
como verdadeiras.<br />
c) Ao caráter ilusório da arte contrapõe-se a realidade<br />
da ciência e nisso, segundo o texto, reside o<br />
equilíbrio das coisas.<br />
d) A arte obedece a três critérios fundamentais:<br />
impressão, interpretação e busca de objetividade;<br />
enquanto a ciência obedece aos seguintes:<br />
seleção, observação e análise dos fenômenos.<br />
e) Os limites do método científico não interferem no<br />
caráter real da ciência que é sempre certa, equilibrada<br />
e reveladora da subjetividade das coisas e<br />
dos seres.<br />
Texto para as questões 121 e 122.<br />
Texto 1<br />
Isto<br />
Dizem que finjo ou minto<br />
tudo que escrevo. Não.<br />
Eu simplesmente sinto<br />
Com a imaginação.<br />
Não uso o coração.<br />
Fernando Pessoa<br />
Texto 2<br />
E o trabalho, este nosso trabalho de escrever?<br />
Meu Deus, como às vezes chega a ser sórdido! Aquele<br />
riscar, aquela grosseria do texto primitivo, aquele tatear<br />
atrás da palavra desejada e, ainda pior, da combinação<br />
de palavras desejadas. A gaucherie do que sai escrito<br />
– tanta beleza que a gente sonhou, depois de posta<br />
no papel como ficou inexpressiva, barata e normal! Já<br />
dizia tão bem o velho Bilac: “a palavra pesada abafa a<br />
idéia leve!” – e não é mesmo?<br />
Rachel de Queiroz<br />
Vocabulário:<br />
gaucherie: falta de jeito. Do francês gauche: esquerdo,<br />
canhoto.<br />
121.<br />
Qual o assunto comum aos dois textos?<br />
122.<br />
Que sensação predomina no texto 2?<br />
Texto para as questões de 123 a 125.<br />
O poema a seguir pertence ao Cancioneiro de Fernando<br />
Pessoa.<br />
1 Ah, quanta vez, na hora suave<br />
2 Em que me esqueço,<br />
3 Vejo passar um vôo de ave<br />
4 E me entristeço!<br />
5 Por que é ligeiro, leve, certo<br />
6 No ar de amavio*?<br />
7 Por que vai sob o céu aberto<br />
8 Sem um desvio?<br />
9 Por que ter asas simboliza<br />
<strong>10</strong> A liberdade<br />
11 Que a vida nega e a alma precisa?<br />
12 Sei que me invade<br />
13 Um horror de me ter que cobre<br />
14 Como uma cheia<br />
15 Meu coração, e entorna sobre<br />
16 Minh’alma alheia<br />
17 Um desejo, não de ser ave,<br />
18 Mas de poder<br />
19 Ter não sei quê do vôo suave<br />
20 Dentro em meu ser.<br />
* Amavio: feitiço, encanto<br />
Fernando Pessoa, Obra poética.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 138.<br />
123. Unicamp-SP<br />
Identifique o recurso lingüístico que representa a ave<br />
tanto no plano sonoro quanto no imagético.<br />
124. Unicamp-SP<br />
Que relação o eu lírico estabelece entre a tristeza e<br />
a liberdade?<br />
125. Unicamp-SP<br />
Interprete o fato de que as três interrogações (do verso<br />
5 ao 11) são respondidas, a partir do verso 12, em uma<br />
única e longa frase.<br />
126. Mackenzie-SP<br />
Nunca a alheia vontade, inda que grata,<br />
Cumpras por própria. Manda no que fazes,<br />
Nem de ti mesmo servo.<br />
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.<br />
Teu íntimo destino involuntário<br />
Cumpre alto. Sê teu filho.<br />
Fernando Pessoa<br />
201
Assinale a alternativa correta.<br />
a) A métrica desses versos tem o papel de ajudar a<br />
construir o significado de desestabilização emocional<br />
subjacente a todo o poema.<br />
b) “A alheia vontade”, sujeito sintático de “nunca<br />
cumpras”, aponta para o que deve ser evitado na<br />
busca da própria soberania.<br />
c) A relação “eu/tu” estabelece-se num tom de orientação<br />
construído pela predominância dos verbos<br />
no imperativo.<br />
d) A organização do poema em versos decassílabos e<br />
hexassílabos constrói um ritmo irregular, impróprio<br />
para veicular verdades acabadas.<br />
e) Os dois últimos versos questionam a fatalidade e subvertem<br />
o individualismo proposto desde o início.<br />
127. UFJF-MG<br />
Uma estrofe famosa do poema Autopsicografia, de<br />
Fernando Pessoa, é:<br />
O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que<br />
chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.<br />
A partir dela e pensando na obra do poeta como um<br />
todo, é correto afirmar que:<br />
a) Fernando Pessoa, com a proposta do fingimento<br />
poético, rompe com o confessionalismo romântico.<br />
b) somente Álvaro de Campos pode ser representante<br />
do fingimento poético, pois é um poeta futurista.<br />
c) o fingimento poético não está presente na obra de Alberto<br />
Caeiro, pois ele é um pastor simples e sincero.<br />
d) a única parte da obra pessoana que escapa do<br />
fingimento são os poemas de Fernando Pessoa<br />
ele-mesmo.<br />
e) Ricardo Reis, como poeta clássico, não pode ser<br />
estudado pelo fingimento modernista.<br />
128. UFRGS-RS<br />
Assinale a alternativa incorreta em relação ao processo<br />
heteronímico de Fernando Pessoa.<br />
a) Alberto Caeiro, poeta de pouca cultura literária e<br />
científica, dá muito valor às coisas concretas e<br />
recusa a metafísica.<br />
b) Ricardo Reis é poeta da temática e linguagem<br />
clássicas, sendo sua obra repleta de temas como<br />
o paganismo, destino e a morte.<br />
c) Álvaro de Campos é o poeta da temática futurista,<br />
vive a euforia, mas também a melancolia da<br />
modernidade.<br />
d) Fernando Pessoa traz em sua poesia a temática da dor,<br />
do ceticismo, do idealismo, da melancolia e do tédio.<br />
e) Bernardo Soares, o semi-heterônimo, é, a exemplo<br />
de Ricardo Reis, um poeta neoclássico preocupado<br />
com a brevidade da vida.<br />
129. Vunesp<br />
Pobre velha música!<br />
Não sei por que agrado,<br />
Enche-se de lágrimas<br />
Meu olhar parado.<br />
Recordo outro ouvir-te.<br />
202<br />
Não sei se te ouvi<br />
Nessa minha infância<br />
Que me lembra em ti.<br />
Com que ânsia tão raiva<br />
Quero aquele outrora!<br />
E eu era feliz? Não sei:<br />
Fui-o outrora agora.<br />
PESSOA, Fernando. Cancioneiro.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976, pp. 140-141.<br />
Assinale a alternativa incorreta a respeito do poema<br />
transcrito.<br />
a) Depreende-se da leitura do poema um conflito<br />
intenso do autor, que não consegue entender se é<br />
feliz ou não mediante as lágrimas que lhe brotam<br />
aos olhos.<br />
b) No texto, a presença da “música” atua como interlocutor<br />
do eu lírico para a construção do poema,<br />
em que o tempo cronológico cede lugar ao tempo<br />
interior.<br />
c) Pobre velha música! de Fernando Pessoa, do<br />
Modernismo português, faz parte da expressão<br />
poética que se consolidou no início do segundo<br />
decênio do século XX.<br />
d) Ainda sobre o poema, é possível dizer que a consciência<br />
do tempo e da própria vivência permite ao<br />
eu lírico resgatar seu passado distante.<br />
e) O jogo temporal, marcado sobretudo por advérbios<br />
e tempos verbais, encontra sua síntese no paradoxo<br />
do último verso do poema.<br />
130.<br />
Psicografia<br />
Também eu saio à revelia<br />
e procuro uma síntese nas demoras<br />
cato obsessões com fria têmpera e digo<br />
do coração: não soube e digo<br />
da palavra: não digo (não posso ainda acreditar<br />
na vida) e demito o verso como quem acena<br />
e vivo como quem despede a raiva de ter visto<br />
Ana Cristina Cesar<br />
Autopsicografia<br />
O poeta é um fingidor.<br />
Finge tão completamente<br />
Que chega a fingir que é dor<br />
A dor que deveras sente.<br />
E os que lêem o que escreve,<br />
Na dor lida sentem bem,<br />
Não as duas que ele teve,<br />
Mas só as que eles não têm.<br />
E assim nas calhas de roda<br />
Gira, a entreter a razão,<br />
Esse comboio de corda<br />
Que se chama o coração.<br />
Fernando Pessoa<br />
Vocabulário:<br />
comboio: trem de ferro.<br />
calhas de roda: trilhos sobre os quais corre o trem de ferro.<br />
Na segunda estrofe do poema de Fernando Pessoa,<br />
há um jogo de sentido estabelecido entre os pronomes<br />
ele e eles.<br />
a) A quem se refere cada um desses pronomes?<br />
b) Como se pode entender a dor, referida nesta<br />
estrofe, em relação a ele e eles?
PV2D-07-54<br />
131. Unifap<br />
Assinale somente a alternativa incorreta.<br />
Na obra de Fernando Pessoa:<br />
a) o jogo heteronímico resulta de o homem ver-se<br />
dentro da sua diversidade.<br />
b) o universo heteronímico é formado preferentemente<br />
por três figuras (Ricardo Reis, Álvaro de Campos<br />
e Alberto Caeiro), autores de obras individuais<br />
c) há muitos versos tristes e contidos, expressando<br />
dor fina e sutil, lamento, quase gemido.<br />
d) heteronímia e pseudonímia têm o mesmo valor.<br />
e) os três mais importantes heterônimos têm vida,<br />
história e poética individuais.<br />
132.<br />
Leia os versos a seguir:<br />
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...<br />
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é.<br />
Mas porque a amo, e amo-a por isso,<br />
Porque quem ama nunca sabe o que ama<br />
Nem porque ama, nem o que é amar...<br />
A qual heterônimo de Fernando Pessoa refere-se<br />
esses versos? Justifique sua resposta.<br />
133. Fuvest-SP<br />
O Poeta é um fingidor.<br />
Fernando Pessoa<br />
Qual a relação entre o verso anterior e Poesias, de<br />
Álvaro de Campos, Poemas, de Alberto Caeiro, e Odes,<br />
de Ricardo Reis?<br />
134. Faenquil-SP<br />
Uma das características marcantes de Alberto Caeiro é:<br />
a) o cuidado do poeta na representação crítica da realidade<br />
concreta, sem simbolismos ou idealizações.<br />
b) o uso constante da tópica clássica do carpe diem,<br />
ou seja, aproveitar cada dia com serenidade e<br />
sabedoria.<br />
c) a ênfase na subjetividade do sujeito lírico e o interesse<br />
de expressar suas emoções mais íntimas.<br />
d) a visão de mundo instintiva, espontânea, construída no<br />
contato direto com a natureza e com as sensações.<br />
e) o uso de uma linguagem altamente sofisticada marcada<br />
pelas sinestesias e pela expressão subjetiva<br />
do amor.<br />
135. PUC-SP<br />
O que nós vemos das coisas são as coisas.<br />
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse<br />
outra?<br />
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos<br />
Se ver e ouvir são ver e ouvir?<br />
O essencial é saber ver,<br />
Saber ver sem estar a pensar,<br />
Saber ver quando se vê<br />
E nem pensar quando se vê,<br />
Nem ver quando se pensa.<br />
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma<br />
vestida!),<br />
Isso exige um estudo profundo,<br />
Uma aprendizagem de desaprender<br />
E uma seqüestração na liberdade daquele<br />
convento<br />
De que os poetas dizem que as estrelas são as<br />
freiras eternas<br />
E as flores, as penitentes convictas de um só dia,<br />
Mas onde afinal as estrelas não são senão<br />
estrelas<br />
Nem as flores senão flores,<br />
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e<br />
flores.<br />
O poema anterior, de Alberto Caeiro, propõe:<br />
a) desvalorizar o ver e o ouvir.<br />
b) minimizar o valor do ver e do ouvir.<br />
c) conciliar o pensar e o ver.<br />
d) abolir o pensar para apenas ver e ouvir.<br />
e) fugir da linguagem real / denotativa dos poetas.<br />
136. FVG-SP<br />
Este poema integra a obra poética de Fernando Pessoa.<br />
Seu autor é um homem simples, que viveu em<br />
contato com a natureza; é o poeta do real sensível.<br />
Para ele, as coisas são como são, pois pensa com os<br />
sentidos. Pode-se dizer que, assim, manifesta uma<br />
forma de pensar apenas diferente e não uma ausência<br />
de reflexão. É autor os versos:<br />
(...)<br />
Que pensará isto de aquilo?<br />
Nada pensa nada.<br />
Terá a terra consciência das pedras e plantas<br />
que tem?<br />
Se ela a tiver, que a tenha...<br />
Que me importa isso a mim?<br />
Se eu pensasse nessas coisas,<br />
Deixaria de ver as árvores e as plantas<br />
E deixava de ver a Terra,<br />
Para ver só os meus pensamentos ...<br />
Entristecia e ficava às escuras.<br />
E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.<br />
Trata-se de:<br />
a) Alberto Caeiro.<br />
b) Ricardo Reis.<br />
c) Bernardo Soares.<br />
d) Fernando Pessoa, ele mesmo.<br />
e) Álvaro de Campos.<br />
137. UFSCar-SP<br />
O luar através dos altos ramos,<br />
Dizem os poetas todos que ele é mais<br />
Que o luar através dos altos ramos.<br />
Mas para mim, que não sei o que penso,<br />
O que o luar através dos altos ramos<br />
É, além de ser<br />
O luar através dos altos ramos,<br />
É não ser mais<br />
Que o luar através dos altos ramos.<br />
Fernado Pessoa, Obra Poética.<br />
As bolas de sabão que esta criança<br />
Se entretém a largar de uma palhinha<br />
São translucidamente uma filosofia toda.<br />
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,<br />
Amigas dos olhos como as cousas,<br />
São aquilo que são<br />
203
204<br />
Com uma precisão redondinha e aérea,<br />
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,<br />
Pretende que elas são mais do que parecem ser.<br />
(…)<br />
Fernando Pessoa, Obra Poética.<br />
Ambos os poemas são atribuídos a Alberto Caeiro, um<br />
dos heterônimos de Fernando Pessoa.<br />
a) O que caracteriza esse heterônimo?<br />
b) O que há de comum nesses dois poemas em<br />
termos de estilo? Justifique sua resposta.<br />
138. Fuvest-SP<br />
Noite de S. João para além do muro do meu quintal.<br />
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.<br />
Porque há S. João onde o festejam.<br />
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na<br />
noite,<br />
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.<br />
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.<br />
Alberto Caeiro, Poesia.<br />
Considerando-se esse poema no contexto das tendências<br />
dominantes da poesia de Caeiro, pode-se afirmar<br />
que, o afastamento da festa de São João é vivido pelo<br />
eu lírico como:<br />
a) oportunidade de manifestar seu desapreço pelas<br />
festividades que mesclam indevidamente o sagrado<br />
e o profano.<br />
140. ENEM<br />
b) ânsia de integração em uma sociedade que o rejeita<br />
por causa de sua excentricidade e estranheza.<br />
c) uma ocasião de criticar a persistência de costumes<br />
tradicionais, remanescentes no Portugal do<br />
Modernismo.<br />
d) frustração, uma vez que não experimenta as emoções<br />
profundas nem as reflexões filosóficas que<br />
tanto aprecia.<br />
e) reconhecimento de que só tem realidade efetiva<br />
o que corresponde à experiência dos próprios<br />
sentidos.<br />
139. Fuvest-SP<br />
Leia o seguinte poema de Alberto Caeiro:<br />
Ponham na minha sepultura<br />
Aqui jaz, sem cruz,<br />
Alberto Caeiro<br />
Que foi buscar os deuses...<br />
Se os deuses vivem ou não isso é convosco.<br />
A mim deixei que me recebessem.<br />
a) Identifique, no poema, a modalidade religiosa<br />
que o poeta rejeita e aquela com que tem maior<br />
afinidade. Explique sucintamente.<br />
b) Relacione a referência a “deuses” (plural), no<br />
poema, com o seguinte verso, extraído de outro<br />
poema de Alberto Caeiro:<br />
A natureza é partes sem um todo.<br />
Folha de S. Paulo<br />
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no<br />
Universo...<br />
Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer<br />
Porque sou do tamanho do que vejo<br />
E não do tamanho da minha altura...<br />
Alberto Caeiro<br />
A tira “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com<br />
linguagens diferentes, uma mesma idéia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada,<br />
essencialmente:<br />
a) pelo alcance de cada cultura. d) pela idade do observador.<br />
b) pela capacidade visual do observador. e) pela altura do ponto de observação.<br />
c) pelo senso de humor de cada um.<br />
141. PUC-SP<br />
Sou um guardador de rebanhos.<br />
O rebanho é os meus pensamentos<br />
E os meus pensamentos são todos sensações.<br />
Penso com os olhos e com os ouvidos<br />
E com as mãos e os pés<br />
E com o nariz e a boca.<br />
Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la<br />
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.<br />
Por isso quando num dia de calor<br />
Me sinto triste de gozá-lo tanto,<br />
E me deito ao comprido na erva,<br />
E fecho os olhos quentes,<br />
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,<br />
Sei a verdade e sou feliz.<br />
Alberto Caeiro
PV2D-07-54<br />
No poema, de Alberto Caeiro:<br />
a) a visão de mundo não se confunde com a sensação<br />
de mundo.<br />
b) a atividade mental é muito lúcida e extremamente<br />
racional.<br />
c) o conhecimento da natureza e do mundo é obtido<br />
por meio dos sentidos.<br />
d) o entendimento da realidade resulta do exagerado<br />
racionalismo do eu-lírico.<br />
e) os termos “rebanho” e “pensamentos” se distanciam<br />
por força da metáfora.<br />
142. PUC-SP<br />
Aquela senhora tem um piano<br />
Que é agradável mas não é o correr dos rios<br />
Nem o murmúrio que as árvores fazem...<br />
Para que é preciso ter um piano?<br />
O melhor é ter ouvidos<br />
E amar a Natureza.<br />
Alberto Caeiro<br />
Sobre o poema anterior, de Alberto Caeiro, é incorreto<br />
dizer que:<br />
a) compara constrastivamente um símbolo de cultura<br />
e a própria natureza.<br />
b) revela a opção do poeta pelo mundo natural, pois<br />
os sons da natureza são superiormente mais<br />
agradáveis.<br />
c) deixa clara a concepção de que a natureza é o<br />
maior dado do objetivismo absoluto.<br />
d) reforça a idéia de que a natureza e as produções<br />
humanas estão sempre impregnadas de história<br />
e sugestões metafísicas.<br />
e) nega que o som do piano seja desagradável mas<br />
considera-o inferior aos sons dos rios e das árvores.<br />
143. PUC-SP<br />
Considerando os poemas de O Guardador de Rebanhos,<br />
que integram a obra poética de Alberto Caeiro,<br />
é correto afirmar que nela:<br />
a) o entendimento do mundo e a interpretação da<br />
realidade resultam do extremo racionalismo do<br />
eu-lírico.<br />
b) a sensação do mundo e a radical opção pela<br />
natureza se fazem presentes aí mais claramente,<br />
ao mesmo tempo que se dá a negação radical das<br />
metafísicas e das transcendências.<br />
c) o conhecimento direto das coisas e do mundo<br />
advém fundamentalmente da razão e mostra-se<br />
desvinculado da sensação.<br />
d) o conceito de paganismo define-se por uma postura<br />
anticristã e pela negação do conhecimento do<br />
mundo sensível.<br />
e) o contato com a natureza e o conceito direto das<br />
coisas impedem a existência de uma lógica igual<br />
à da ordem natural.<br />
144. Unifap<br />
“Nasceu em Tavira, em 15 de outubro de 1890, e,<br />
segundo seu próprio criador, ‘é alto, magro e um<br />
pouco tendente a curvar-se’. Estudou engenharia<br />
naval na Escócia. Sua linguagem poética é rica, solta<br />
e coloquial. Expressa-se com desenvoltura, em frases<br />
curtas, tensas, rápidas e irônicas, pontilhadas por<br />
praguejamento e termos de baixo calão.”<br />
Trata-se de:<br />
a) Alberto Caeiro.<br />
b) Antônio Nobre.<br />
c) Ricardo Reis.<br />
d) Álvaro de Campos.<br />
e) Pessoa ortônimo.<br />
145. Unicamp-SP<br />
Cruz na porta da tabacaria!<br />
Quem morreu? O próprio Alves? Dou<br />
Ao diabo o bem estar que trazia.<br />
Desde ontem a cidade mudou.<br />
Quem era? Ora, era quem eu via.<br />
Todos os dias o via. Estou<br />
Agora sem essa monotonia.<br />
Desde ontem a cidade mudou.<br />
Ele era o dono da tabacaria.<br />
Um ponto de referência de quem sou.<br />
Eu passava ali de noite e de dia.<br />
Desde ontem a cidade mudou.<br />
Meu coração tem pouca alegria,<br />
E isto diz que é morte aquilo onde estou.<br />
Horror fechado da tabacaria!<br />
Desde ontem a cidade mudou.<br />
Mas ao menos a ele alguém o via.<br />
Ele era fixo, eu, o que vou.<br />
Se morrer, não falto, ninguém diria:<br />
Desde ontem a cidade mudou.<br />
Álvaro de Campos, Poesias<br />
a) Identifique duas marcas formais que, no poema,<br />
contribuem para criar a idéia de monotonia.<br />
b) Do ponto de vista do eu lírico, que fato quebra essa<br />
monotonia?<br />
c) Qual a conseqüência, para o eu lírico, da quebra<br />
dessa monotonia? Justifique sua resposta.<br />
146. Vunesp<br />
Leia com atenção:<br />
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!<br />
Ser completo como uma máquina!<br />
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!<br />
Poder ao menos penetrar-se fisicamente de tudo isto,<br />
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me<br />
[passento<br />
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões<br />
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!<br />
Fraternidade com todas as dinâmicas!<br />
Promíscua fúria de ser parte-agente<br />
Do rodar férreo e cosmopolita<br />
Dos comboios estrênuos.<br />
Da faina transportadora-de-cargas dos navios.<br />
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,<br />
Do tumulto disciplinado das fábricas,<br />
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias<br />
[de transmissão!<br />
205
O texto anteriormente transcrito pertence ao poema de<br />
Álvaro de Campos Ode triunfal. Álvaro de Campos é,<br />
como se sabe, um heterônimo de Fernando Pessoa,<br />
e a Ode triunfal constitui-se como um dos poucos<br />
textos do efêmero futurismo na literatura portuguesa.<br />
No entanto, a Ode triunfal torna-se muito importante,<br />
na medida em que nela se reflete o Manifesto do Futurismo,<br />
de Marinetti. Assim sendo, responda: quais<br />
os segmentos do trecho transcrito da Ode triunfal que<br />
justificam chamarmos-lhe um poema futurista?<br />
Texto para as questões de 147 a 149.<br />
A questão baseia-se em fragmentos de três autores<br />
portugueses.<br />
Auto da Lusitânia<br />
Estão em cena os personagens Todo o Mundo (um<br />
rico mercador) e Ninguém (um homem vestido como<br />
pobre). Além deles, participam da cena dois diabos,<br />
Berzebu e Dinato, que escutam os diálogos dos primeiros,<br />
comentando-os, e anotando-os.<br />
Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá?<br />
Todo o Mundo: Busco honra muito grande.<br />
Ninguém: E eu em virtude, que Deus mande que tope<br />
co ela já.<br />
Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude: Escreve<br />
aí, a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ninguém<br />
busca virtude.<br />
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro mor bem<br />
qu’esse?<br />
Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo<br />
quanto eu fizesse.<br />
Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa<br />
que errasse.<br />
Berzebu para Dinato: Escreve mais.<br />
Dinato: Que tens sabido?<br />
Berzebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo<br />
ser louvado, e Ninguém ser repreendido.<br />
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo<br />
meu?<br />
Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma dê.<br />
Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.<br />
Berzebu para Dinato: Escreve lá outra sorte.<br />
Dinato: Que sorte?<br />
Berzebu: Muito garrida:<br />
Todo o Mundo busca a vida,<br />
E Ninguém conhece a morte.<br />
Antologia do Teatro de Gil Vicente<br />
Os Maias<br />
Eça de Queirós – 1845-1900<br />
– E que somos nós? – exclamou Ega. – Que temos nós<br />
sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos:<br />
isto é, indivíduos inferiores que se governam na<br />
vida pelo sentimento, e não pela razão…<br />
Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram<br />
mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, não<br />
se desviando nunca dela, torturando-se para se manter<br />
na sua linha inflexível, secos, hirtos, lógicos, sem<br />
emoção até o fim…<br />
– Creio que não – disse o Ega. – Por fora, à vista, são<br />
desconsoladores. E por dentro, para eles mesmos, são<br />
talvez desconsolados. O que prova que neste lindo<br />
mundo ou tem de ser insensato ou sem sabor…<br />
– Resumo: não vale a pena viver…<br />
206<br />
– Depende inteiramente do estômago! – atalhou Ega.<br />
Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a<br />
sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira<br />
da experiência e que agora o governava. Era o<br />
fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear…<br />
Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento.<br />
Tudo aceitar, o que vem e o que foge,<br />
com a tranqüilidade com que se acolhem as naturais<br />
mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta<br />
placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada<br />
que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo<br />
até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo<br />
não ter apetites. E, mais que tudo, não ter<br />
contrariedades.<br />
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente<br />
se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da<br />
inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um<br />
passo para alcançar coisa alguma na Terra – porque<br />
tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes,<br />
em desilusão e poeira.<br />
Eça de Queirós, Os Maias.<br />
Ode triunfal<br />
Álvaro de Campos<br />
(heterônimo de Fernando Pessoa – 1888-1935)<br />
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica<br />
Tenho febre e escrevo.<br />
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,<br />
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.<br />
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!<br />
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!<br />
Em fúria fora e dentro de mim.<br />
Por todos os meus nervos dissecados fora,<br />
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!<br />
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,<br />
De vos ouvir demasiadamente de perto,<br />
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso<br />
De expressão de todas as minhas sensações,<br />
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!<br />
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza<br />
[tropical –<br />
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –<br />
Canto, e canto o presente, e também o passado e o<br />
[futuro,<br />
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro<br />
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes<br />
[elétricas<br />
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio<br />
[e Platão,<br />
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez<br />
[cinqüenta,<br />
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do<br />
[Ésquilo doséculo cem,<br />
Andam por estas correias de transmissão e por estes<br />
[êmbolos e por estes volantes,<br />
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,<br />
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só<br />
[carícia à alma.<br />
Fernando Pessoa, Obra poética.<br />
147. Unifesp<br />
Os textos apresentados, pertencentes a períodos diferentes<br />
da história social e literária portuguesa, têm, em<br />
comum, o enfoque das relações do ser humano diante<br />
da realidade. Respectivamente, representam:
PV2D-07-54<br />
a) visão satírica da existência e do comportamento humano;<br />
visão desencantada e pessimista do indivíduo na<br />
sociedade; visão perplexa, eufórica, ao mesmo tempo<br />
agônica, do indivíduo diante dos tempos modernos.<br />
b) visão eufórica do comportamento humano; visão<br />
derrotista do passado; visão agônica do futuro,<br />
pelo poeta.<br />
c) visão complacente do diabo sobre a sociedade<br />
portuguesa; visão derrotista do passado; visão<br />
alegórica da inutilidade do poeta diante das conquistas<br />
tecnológicas.<br />
d) visão sarcástica que os homens fazem de si, na<br />
época do trovadorismo português; visão fantasiosa<br />
da existência; visão perplexa, mas eufórica, do<br />
poeta diante da eletricidade e das máquinas.<br />
e) visão positiva da existência e do relacionamento<br />
humano; visão objetiva da sociedade romântica;<br />
visão hesitante do mundo moderno.<br />
148. Unifesp<br />
A ironia, ou uma expressão irônica, consiste em, intencionalmente,<br />
dizer o contrário do que as palavras<br />
significam, no sentido literal, denotativo. Lendo-se<br />
o fragmento de Gil Vicente, percebe-se que o autor<br />
ironiza a sociedade:<br />
a) no nome dado a Berzebu que, no Novo Testamento,<br />
significa o “príncipe dos demônios”.<br />
b) no comportamento humilde do personagem Todo<br />
o Mundo.<br />
c) na dissimulação contida nos nomes dos personagens<br />
e suas caracterizações: Todo o Mundo (um<br />
rico mercador) e Ninguém (um homem vestido<br />
como pobre).<br />
d) no pedido que Berzebu faz a Dinato: “Escreve lá<br />
outra sorte.”<br />
e) no comportamento obstinado do personagem<br />
Ninguém.<br />
149. Unifesp<br />
Em Ode triunfal, escrita no momento aflitivo de 1914,<br />
parece que o transe dos tempos modernos, representado<br />
pelas máquinas em fúria, mistura-se com o<br />
transe febril do eu poemático. Cria-se um ambiente em<br />
que, talvez na dimensão do sonho (ou do pesadelo),<br />
o tempo e o espaço parecem dissolvidos, ou situados<br />
numa região mítica. Nessa dimensão surrealista,<br />
Platão e Virgílio residem dentro das máquinas; há,<br />
nelas, pedaços de Alexandre Magno, do século talvez<br />
cinqüenta, além de Ésquilo, do século cem. Tal<br />
embaralhamento temporal de figuras históricas já se<br />
enunciara nos versos:<br />
a) “À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da<br />
fábrica / Tenho febre e escrevo.”<br />
b) “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! / Forte<br />
espasmo retido dos maquinismos em fúria!”<br />
c) “De expressão de todas as minhas sensações, /<br />
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”<br />
d) “Canto, e canto o presente, e também o passado<br />
e o futuro, / Porque o presente é todo o passado<br />
e todo o futuro.”<br />
e) “De vos ouvir demasiadamente de perto, / E arde-me<br />
a cabeça de vos querer cantar com um excesso.”<br />
150.<br />
O meu olhar é nítido como um girassol.<br />
Tenho o costume de andar pelas estradas<br />
Olhando para a direita e para a esquerda,<br />
E de vez em quando olhando para trás...<br />
E o que vejo a cada momento<br />
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,<br />
E eu sei dar por isso muito bem...<br />
Sei ter o pasmo essencial<br />
Que tem uma criança se, ao nascer,<br />
Reparasse que nascera deveras...<br />
Sinto-me nascido a cada momento<br />
Para a eterna novidade do Mundo...<br />
Fernando Pessoa<br />
Com base na leitura do texto de Fernando Pessoa,<br />
assinale a afirmação correta.<br />
a) O fragmento de Fernando Pessoa demonstra o<br />
fingimento dele, que consiste num processo de<br />
despersonalização do poeta, tão acentuado a<br />
ponto de a crítica, comumente, não ser capaz de<br />
definir com precisão a autoria de poesias suas.<br />
b) Nesse fragmento, há um nítido exemplo de<br />
sensacionismo, atitude artística que consiste na<br />
percepção intensa da realidade, o autor ao se<br />
perceber como indivíduo. Esse caráter é típico do<br />
heterônimo pessoano Alberto Caeiro.<br />
c) O eu lírico, ao dizer que sabe “ter o pasmo essencial”,<br />
faz clara referência a sua capacidade<br />
dissimuladora.<br />
d) Com alusões a “pasmo essencial” e a nascer “a<br />
cada momento”, o poeta refere-se a todo amanhecer,<br />
quando ele se reencontra com a vida.<br />
e) Afirmando reparar “que nascera deveras”, o eu<br />
lírico sente-se o único capaz de admirar verdadeiramente<br />
o que é a vida e o único a ter constante<br />
envolvimento com o mundo físico.<br />
151.<br />
Identifique nos textos seguintes os principais heterônimos<br />
de Fernando Pessoa.<br />
a) Amo-vos a todos, como uma fera<br />
Amo-vos carnivoramente,<br />
Pervertidamente e enroscado a minha vista<br />
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,<br />
Ó coisas todas modernas,<br />
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima<br />
Do sistema imediato do Universo!<br />
Nova revelação metálica e dinâmica de Deus!<br />
b) O meu olhar azul como o céu<br />
É calmo como a água ao sol.<br />
É assim, azul e calmo,<br />
Porque não interroga nem se espanta...<br />
c) Vem sentar-se comigo, Lídia, à beira do rio.<br />
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos<br />
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas<br />
152. Mackenzie-SP<br />
Tão cedo passa tudo quanto passa!<br />
Morre tão jovem ante os deuses quanto<br />
Morre! Tudo é tão pouco!<br />
207
208<br />
Nada se sabe, tudo se imagina.<br />
Circunda-te de rosas, ama, bebe<br />
E cala. O mais é nada.<br />
Ricardo Reis<br />
I. Os verbos no presente do indicativo dos quatro<br />
primeiros versos expressam uma avaliação ampla<br />
de grandes verdades de todos os tempos.<br />
II. Os sujeitos sintáticos das orações dos quatro primeiros<br />
versos, tudo e nada, reforçam a amplitude<br />
dos significados das idéias.<br />
III. A efemeridade da vida junta-se à ilusão do conhecimento<br />
e da erudição no quarto verso.<br />
IV. Os dois últimos versos contradizem a idéia inicial<br />
de desapego e de desencanto, já que propõem a<br />
ligação com a beleza das rosas, com o calor do<br />
afeto, com a alegria da bebida e com o silêncio da<br />
satisfação.<br />
Das afirmações sobre o poema, dizemos que:<br />
a) todas estão corretas.<br />
b) nenhuma está correta.<br />
c) apenas a I e a II estão corretas.<br />
d) apenas a III está incorreta.<br />
e) apenas a IV está incorreta.<br />
153.<br />
Não queiras, Lídia, edificar no espaço<br />
Que figuras futuro, ou prometer-te<br />
Amanhã. Cumpre-se hoje, não esperando.<br />
Tu mesma és tua vida.<br />
Não te destines, que não és futura.<br />
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,<br />
E ela de novo enchida, não te a sorte<br />
Interpõe o abismo?<br />
Nesta ode, de Ricardo Reis, podemos perceber<br />
influências de um estilo da literatura portuguesa.<br />
Trata-se do:<br />
a) Romantismo, que está presente na referência<br />
sentimental à figura da mulher amada (“Lídia”), a<br />
quem o poeta se dirige diretamente, em um sinal<br />
de subjetividade e intimidade.<br />
b) Arcadismo, que se evidencia na temática da<br />
passagem do tempo, aliada à idéia de um aproveitamento<br />
do momento presente, em uma clara<br />
alusão à tópica do carpe diem.<br />
c) Barroco, que aparece principalmente no plano da<br />
linguagem, repleta de figuras de linguagem e de<br />
sinuosidade, mas que também se manifesta no<br />
plano temático, através da idéia da morte (“abismo”).<br />
d) Neoclassicismo, em função da forma como se<br />
manifesta a crença do poeta no futuro, expressa<br />
de maneira racional e objetiva, em uma franca<br />
adesão ao otimismo típico dessa escola.<br />
e) Arcadismo, o que se pode perceber pela tentativa<br />
de recuperação de um passado feliz, assumido<br />
como a “idade de ouro” perdida para a agitação<br />
da vida moderna.<br />
154. Faenquil-SP<br />
Ricardo Reis difere dos demais heterônimos de Fernando<br />
Pessoa, principalmente por:<br />
a) buscar o equilíbrio através da razão e do desprendimento.<br />
b) sua personalidade oprimida pelos avanços tecnológicos.<br />
c) negar a existência da fatalidade, valorizando o livre<br />
arbítrio.<br />
d) ser o mais passional, valorizando as sensações<br />
ao extremo<br />
e) pregar que a ignorância é o caminho mais curto<br />
para a felicidade.<br />
155. Unifesp<br />
Considere as seguintes informações sobre o heterônimo<br />
Alberto Caeiro, do poeta Fernando Pessoa,<br />
extraídas de Literatura <strong>Portuguesa</strong> – da Idade Média<br />
a Fernando Pessoa, de José de Nicola.<br />
Para [ele], as coisas são como são. (...) Por isso mesmo,<br />
seu mundo é o mundo do real-sensível (ou real-objetivo),<br />
é tudo aquilo que existe e que percebemos através dos<br />
sentidos. (...) ele ‘pensa’ com os sentidos.<br />
Os versos que ilustram o heterônimo apresentado são:<br />
a) Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus<br />
pensamentos / E os meus pensamentos são todos<br />
sensações. / Penso com os olhos e com os ouvidos /<br />
E com as mãos e os pés / E com o nariz e a boca.<br />
b) Amemo-nos tranqüilamente, pensando que podíamos,<br />
/ Se quiséssemos, trocar beijos e braços e<br />
carícias, / Mas que mais vale estarmos sentados ao<br />
pé um do outro / Ouvindo correr o rio e vendo-o.<br />
c) Não matou outros deuses / O triste deus cristão. /<br />
Cristo é um deus a mais, / Talvez um que faltava.<br />
d) Dizem que finjo ou minto. / Tudo que escrevo. Não.<br />
/ Eu simplesmente sinto / Com a imaginação. / Não<br />
uso o coração.<br />
e) Já disse: sou lúcido. / Nada de estéticas com<br />
coração: sou lúcido. / Merda! Sou lúcido...<br />
156. Efoa-MG<br />
Passou a diligência pela estrada, e foi-se;<br />
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.<br />
Assim é a ação humana pelo mundo fora.<br />
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;<br />
E o sol é sempre pontual todos os dias.<br />
O trecho acima é de um poema de Alberto Caeiro.<br />
Sobre este nome da literatura portuguesa, é correto<br />
dizer que:<br />
a) é um pseudônimo de Eugênio de Castro, poeta<br />
simbolista.<br />
b) é um heterônimo de Fernando Pessoa, poeta<br />
modernista.<br />
c) é um pseudônimo de Cesário Verde, poeta realista.<br />
d) é um poeta parnasiano, autor de Horas mortas.<br />
e) é um poeta realista, autor de Sinal dos tempos.<br />
157. Fuvest-SP<br />
Aquela senhora tem um piano<br />
Que é agradável mas não é o correr dos rios<br />
Nem o murmúrio que as árvores fazem...<br />
Por que é preciso ter um piano?<br />
O melhor é ter ouvidos<br />
E amar a Natureza.<br />
a) Qual a opinião do poeta em relação ao piano?<br />
b) Que simboliza o piano no poema?
PV2D-07-54<br />
158. Unicamp-SP<br />
O poema Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro, de<br />
José Paulo Paes, remete-nos ao Poema X do Guardador<br />
de rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de<br />
Fernando Pessoa). Leia atentamente os dois poemas,<br />
transcritos a seguir, e identifique no poema de Alberto<br />
Caeiro as falas que, segundo o poema de José Paulo<br />
Paes, poderiam ser atribuídas a Pessoa e Caeiro,<br />
respectivamente. Justifique sua resposta.<br />
Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro<br />
Pessoa – a chuva me deixa triste...<br />
Caeiro – a mim me deixa molhado.<br />
Poema X<br />
Olá, guardador de rebanhos,<br />
Aí à beira da estrada,<br />
Que te diz o vento que passa?<br />
Que é vento, e que passa,<br />
E que já passou antes,<br />
E que passará depois,<br />
E a ti, que te diz?<br />
Muita cousa mais do que isso,<br />
Falam-me de muitas outras cousas.<br />
De memórias e de saudades<br />
E de cousas que nunca foram.<br />
Nunca ouviste passar o vento.<br />
O vento só fala do vento.<br />
O que lhe ouviste foi mentira,<br />
E a mentira está em ti.<br />
159.<br />
José Paulo Paes<br />
Texto I<br />
Não dormimos essa noite e, de madrugada, trepamos<br />
às portas das Academias, dos Museus, das Bibliotecas<br />
e das Universidades para escrever com o carvão<br />
heróico das fábricas esta dedicatória (...):<br />
Capítulo 3<br />
160. Unisa-SP<br />
Pode-se dizer que:<br />
a) a Semana de Arte Moderna foi o ponto de encontro<br />
de modernistas que vinham se manifestando<br />
isoladamente, antes de 1922.<br />
b) as primeiras manifestações modernistas no Brasil<br />
começaram a aparecer a partir da Semana de Arte<br />
Moderna.<br />
c) o Modernismo no Brasil continua as experiências<br />
e renovações propostas pelo Simbolismo.<br />
d) o Modernismo no Brasil reage às manifestações<br />
literárias do Simbolismo.<br />
e) os participantes da Semana de Arte Moderna formaram<br />
um grupo coeso e único até 1928, quando<br />
aparece o grupo regionalista do Nordeste.<br />
Ao terramoto<br />
Seu único aliado<br />
Os futuristas dedicam<br />
Estas ruínas de Roma e de Atenas<br />
Naquele dia as velhas muralhas sábias foram sacudidas<br />
pelo nosso grito inesperado:<br />
Ai de quem se deixar agarrar pelo demônio da<br />
admiração! Ai de quem admira e imita o passado!<br />
Ai de quem vende o seu gênio!<br />
Texto II<br />
Marinetti, acadêmico<br />
Lá chegam todos, lá chegam todos...<br />
Qualquer diz, salvo venda, chego eu também...<br />
Se nascem, afinal, todos para isso...<br />
Não tenho remédio senão morrer antes,<br />
Não tenho remédio senão escalar o Grande Muro...<br />
Se fico cá, prendem-me para ser social...<br />
Lá chegam todos, porque nasceram para isso,<br />
E só se chega ao Isso para que se nasceu...<br />
Lá chegam todos...<br />
Marinetti, acadêmico...<br />
As Musas vingaram-se com focos elétricos, meu velho,<br />
Puseram-te por fim na ribalta da cave velha,<br />
E a tua dinâmica, sempre um bocado italiana, f-f-f-ff-f-f-f-...<br />
O texto I foi escrito por Filipo Marinetti, fundador do<br />
futurismo, na década de 19<strong>10</strong>. Em 1929, Álvaro de<br />
Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) dedicoulhe<br />
o poema transcrito no texto II.<br />
a) Qual atitude de Marinetti que inspirou o poema de<br />
Álvaro de Campos?<br />
b) Qual a posição de Álvaro de Campos diante dessa<br />
atitude de Marinetti?<br />
c) Como o texto I auxilia a compreensão dessa posição<br />
de Álvaro de Campos?<br />
161. UEL-PR<br />
As reações negativas do público à Semana de Arte<br />
Moderna refletem:<br />
a) a fixação do espírito brasileiro no propósito de<br />
menosprezo das criações nacionalistas.<br />
b) a possibilidade do futuro fracasso do Modernismo<br />
como movimento estético literário.<br />
c) a aversão dos autores em se comunicar com<br />
o público presente no Teatro Municipal de São<br />
Paulo.<br />
d) a preferência pelas manifestações artísticas já<br />
cristalizadas nas linhas do academicismo.<br />
e) o pouco amadurecimento dos autores para propostas<br />
de vanguarda.<br />
209
162. PUC-RS<br />
Todas as afirmativas a seguir relacionam-se ao Modernismo<br />
na sua primeira fase, exceto:<br />
a) Os movimentos de vanguarda europeus, a brutalidade<br />
da Primeira Guerra Mundial, dentre outros<br />
fatores, favoreceram a busca por uma estética<br />
desvinculada de quaisquer dogmatismos.<br />
b) No Brasil, os movimentos primitivistas foram uma<br />
resposta à busca da expressão nacional.<br />
c) A conjunção entre primitivismo do folclore e universo<br />
urbano foi uma possibilidade modernista.<br />
d) As inovações de ordem temática e formal permitiram<br />
a delimitação clara entre prosa e poesia<br />
modernistas.<br />
e) A paródia aos textos e estilos consagrados da literatura<br />
brasileira é uma das possibilidades modernistas.<br />
163.<br />
Tome o texto de Manuel Bandeira como referência<br />
para a questão a seguir.<br />
Andorinha<br />
Andorinha lá fora está dizendo:<br />
– “Passei o dia à toa, à toa!”<br />
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!<br />
Passei a vida à toa, à toa...<br />
A comparação sugerida pelo autor com a andorinha<br />
reflete:<br />
a) o desespero e a angústia diante da morte.<br />
b) o flagelo e a dor diante da catástrofe da vida de<br />
ambos.<br />
c) a angústia diante do sentimento de inutilidade do<br />
autor.<br />
d) a alegria de poder estar vivo e saber que a vida<br />
teve algum sentido.<br />
e) o desespero diante de uma vida de sofrimento e<br />
fadiga do autor.<br />
164. FCC-SP<br />
Participou da Semana de Arte Moderna, em São<br />
Paulo, unindo-se aos representantes das letras e das<br />
artes plásticas para fazer a renovação da música no<br />
Brasil. Musicou diversos poemas brasileiros modernos,<br />
inclusive de Manuel Bandeira. A base de sua música<br />
é o folclore nacional e em sua vasta obra prevalecem<br />
obras-primas universalmente reconhecidas, como a<br />
suíte O descobrimento do Brasil.<br />
O texto acima refere-se a:<br />
a) Francisco Mignone.<br />
b) Ary Barroso.<br />
c) Villa-Lobos.<br />
d) Camargo Guarnieri.<br />
e) Alberto Nepomuceno.<br />
165. FEI-SP<br />
Assinalar a alternativa incorreta, quanto aos princípios<br />
básicos divulgados pelos participantes da Semana de<br />
Arte Moderna.<br />
a) Desejo de expressão livre e a tendência para<br />
transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do<br />
academismo, a emoção e a realidade do país.<br />
2<strong>10</strong><br />
b) Rejeição dos padrões portugueses, buscando<br />
uma expressão mais coloquial, próxima do falar<br />
brasileiro.<br />
c) Combate a tudo que indicasse o status quo, o<br />
conhecido.<br />
d) Manutenção da temática simbolista e parnasiana.<br />
e) Valorização do prosaico e do humor, que, em todas<br />
as suas gamas, lavou e purificou a atmosfera<br />
sobrecarregada pelos acadêmicos.<br />
166. UEL-PR<br />
Assinale a alternativa em que melhor se caracteriza a<br />
Semana de Arte Moderna.<br />
a) Constituiu marco histórico-literário, ponto de partida<br />
para profundas modificações na arte brasileira.<br />
b) Foi um movimento artístico ocorrido no Rio de<br />
Janeiro, como conseqüência direta do conflito<br />
mundial de 1914-1918.<br />
c) Foi um movimento literário que contou com vinte<br />
e dois artistas, daí o nome “Semana de 22”.<br />
d) Foi um marco histórico-literário, porque se constituiu<br />
num movimento isento de influências estrangeiras.<br />
e) Introduziu um movimento literário brasileiro,<br />
embora sempre baseado em modelos estéticos<br />
portugueses.<br />
167.<br />
A Semana de Arte Moderna representou, no panorama<br />
cultural da época:<br />
a) a ruptura total com o passado artístico mais recente,<br />
no qual nada permitia prevê-lo, daí a comoção<br />
que causou.<br />
b) o resultado da condensação de aspirações vagas,<br />
ainda informes até então, mas perceptíveis nas<br />
preferências do público em geral.<br />
c) a congregação de tendências que, sob formas<br />
várias e nas várias artes, vinham se delineando<br />
desde a década anterior.<br />
d) a reação aos ataques que os últimos parnasianos<br />
dirigiam contra a obra incipiente dos primeiros<br />
modernistas.<br />
e) a decorrência da reelaboração de recursos estilísticos<br />
presentes tanto na poesia parnasiana como<br />
na simbolista.<br />
168. UFPE<br />
Enfunando os papos,<br />
Saem da penumbra,<br />
Aos pulos, os sapos.<br />
A luz os deslumbra.<br />
Em ronco que aterra<br />
Berra o sapo-boi:<br />
– Meu pai foi à guerra!<br />
– Não foi! – Foi! – Não foi!<br />
O sapo-tanoeiro,<br />
Parnasiano aguado,<br />
Diz – Meu cancioneiro<br />
É bem martelado.
PV2D-07-54<br />
Vede como primo<br />
Em comer os hiatos!<br />
Que arte! E nunca rimo<br />
Os termos cognatos.<br />
(...)<br />
Manuel Bandeira. Os sapos<br />
Leia o poema acima e analise as proposições inferidas<br />
do mesmo.<br />
1. Faz parte da fase parnasiana do poeta e exalta o<br />
movimento no qual se iniciou.<br />
2. A preocupação dos parnasianos com detalhes<br />
formais sem valor estético está afirmada na quarta<br />
estrofe.<br />
3. A segunda estrofe procura repetir, com linguagem<br />
onomatopaica, o coaxar dos sapos, comparando-o<br />
à poesia parnasiana.<br />
4. Os versos transformam os sapos em símbolo da<br />
natureza brasileira.<br />
5. O poema marca o início da Semana de Arte<br />
Moderna e por isso faz a apologia do Movimento<br />
Modernista.<br />
169. UFTM-MG<br />
A literatura das duas primeiras décadas do século XX<br />
pode ser chamada “eclética” porque:<br />
a) convivem, na época, diversas correntes estéticas.<br />
b) estavam vivos os melhores poetas parnasianos.<br />
c) há o domínio da prosa sobre a poesia.<br />
d) amadurecem as idéias que preparam o Modernismo.<br />
e) a prosa se volta para a problemática das regiões<br />
brasileiras.<br />
170. Unifran-SP<br />
O Modernismo no Brasil revolucionou as normas<br />
literárias, perdurando por várias décadas. Assinale a<br />
alternativa que apresenta declarações concernentes<br />
a esse movimento.<br />
a) Na primeira fase do movimento, surgiram grandes<br />
poetas, mas destaca-se especialmente o chamado<br />
“Romance Revolucionário” ou “Romance Modernista”.<br />
b) Oswald de Andrade, escritor e poeta paulista, foi<br />
um dos autores mais marcantes da segunda fase.<br />
Seu texto foi dos mais inovadores e corrosivos da<br />
estética regionalista.<br />
c) A primeira fase do movimento foi marcada pela<br />
desintegração da linguagem tradicional devido<br />
à busca da expressão regional e à adoção das<br />
conquistas de vanguarda.<br />
d) Apesar das inovações, esse movimento prendeuse<br />
à concepção tradicional de literatura, esquecendo<br />
a história da atualidade e fixando-se em valores<br />
do passado.<br />
e) Esse movimento foi iniciado com a Semana de Arte<br />
Moderna em 1922, englobando várias artes: literatura,<br />
música, pintura e escultura. O pólo principal<br />
foi o Rio de Janeiro, na época, já um florescente<br />
parque industrial.<br />
171. ESPM-SP<br />
“Antes fanhoso que sem nariz” – essa frase utilizada<br />
por Macunaíma para consolar Jiguê, após o banho<br />
encantado, corresponde:<br />
a) a um ditado popular, significando para os parnasianos<br />
grande contribuição à linguagem literária.<br />
b) a uma expressão recorrente ao longo da literatura,<br />
sendo normal sua utilização em qualquer escola<br />
literária.<br />
c) a uma expressão idiomática, refletindo uma antiga<br />
linguagem culta ou padrão, justificando assim sua<br />
utilização e aplicação na literatura.<br />
d) a um dito popular, revelando a intenção do autor<br />
em aproximar da literatura a linguagem prosaica.<br />
e) a uma gíria de época, estabelecendo um código<br />
secreto para um grupo social restrito (no caso, os<br />
índios da tribo Tapanhumas).<br />
172. Mackenzie-SP<br />
De leve<br />
Feminista sábado domingo segunda terça quarta<br />
quinta e na sexta lobiswoman<br />
Ledusha<br />
Considere os seguintes traços estilísticos.<br />
I. Forma sintética associada a uma sintaxe que<br />
privilegia a frase nominal.<br />
II. Aproveitamento de linguagem popular e de trocadilho.<br />
III. Temática social tratada de forma irreverente.<br />
Assinale:<br />
a) se apenas I estiver presente no texto.<br />
b) se apenas II estiver presente no texto.<br />
c) se apenas III estiver presente no texto.<br />
d) se apenas II e III estiverem presentes no texto.<br />
e) se I, II e III estiverem presentes no texto.<br />
173. UFRGS-RS<br />
(...)<br />
O sapo-tanoeiro<br />
Parnasiano aguado,<br />
Diz: – ‘Meu cancioneiro<br />
É bem martelado…’<br />
(...)<br />
O poema Os sapos, de Manuel Bandeira, pertence ao<br />
primeiro momento do Modernismo brasileiro, em que<br />
ocorreu uma tomada de posição contra:<br />
a) a expressão de sentimentos, o culto de temas clássicos,<br />
a atitude impessoal e erudita do poeta.<br />
b) a interferência emocional do poeta, a linguagem<br />
classicizante, as rimas ricas.<br />
c) o culto de rimas ricas, o metro perfeito, a expressão<br />
classicizante.<br />
d) a ênfase oratória, as atitudes sentimentais, a<br />
poesia pessoal.<br />
e) a poesia de expressão pessoal, a linguagem menos<br />
rigorosa, a ausência de rimas.<br />
Texto para as questões 174 e 175.<br />
A propósito da exposição de Malfatti.<br />
Há duas espécies de artistas. Uma composta<br />
dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência<br />
disso fazem arte pura, guardando os eternos<br />
ritmos da vida (...). A outra espécie é formada pelos<br />
211
que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na<br />
à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de<br />
escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da<br />
cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo<br />
de todos os períodos de decadência: são frutos<br />
de fins de estação, bichados ao nascedouro.<br />
(...) Se víssemos na Sra. Malfatti apenas uma “moça<br />
que pinta”, como há centenas por aí, sem denunciar centelha<br />
de talento, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos<br />
meia dúzia desses adjetivos “bombons”, que a crítica<br />
açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças.<br />
174.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) O advérbio cá (linha 7) aponta para um espaço próximo<br />
de quem está falando – espaço onde também surgem<br />
furúnculos da cultura excessiva (linhas 7 e 8).<br />
b) A oposição pureza / impureza está implícita apenas<br />
no primeiro período do primeiro parágrafo.<br />
176. UFF-RJ<br />
Texto I<br />
212<br />
c) No segundo parágrafo, a crítica de arte feita na<br />
época é avaliada com mágoa e ressentimento.<br />
d) No segundo parágrafo, confirma-se o talento de<br />
Malfatti, então relacionado à arte pura.<br />
e) A expressão adjetivos “bombons” (linha 14) afasta<br />
qualquer crítica negativa em relação à Malfatti.<br />
175.<br />
Assinale a alternativa incorreta.<br />
a) O verbo haver (linha 1) empregado impessoalmente<br />
reforça o caráter universal das afirmações.<br />
b) Na linha 6, estrábica, adjunto adnominal de sugestão,<br />
enfatiza a avaliação pejorativa.<br />
c) Na linha 7, escolas rebeldes ilustra a visão de<br />
decadência da arte.<br />
d) Com crítica açucarada (linhas 14 e 15) o autor<br />
caracteriza seu próprio texto.<br />
e) O normal é apresentado como desejável; o anormal,<br />
repudiável.
PV2D-07-54<br />
Texto II<br />
O Globo, 30/05/2003<br />
Algumas temáticas e estéticas de escolas literárias (a presença da natureza, o “eu lírico”, a idealização, o<br />
humor, a desconstrução lingüística, o cultivo da forma) podem ser retomadas sob um novo modo de dizer – de<br />
forma crítica, irônica, caricatural...<br />
Justifique, exemplificando com material dos textos, um possível entendimento de uma releitura do Romantismo e/ou<br />
do Parnasianismo em Hagar, o Horrível (texto I) e de uma releitura do Modernismo em Radical chic (texto II).<br />
177. UEL-PR<br />
Assistimos então a um afastamento de Tarsila da estrutura cubista. A direção que a seduz agora é o surrealismo,<br />
mas não necessariamente a escola. [...] Ocorre na obra de Tarsila uma libertação quase anarquista do inconsciente.<br />
É a fase em que a artista alcança uma expressão solta e livre, onde o político fica menos explícito.<br />
JUSTINO, Maria José. O banquete canibal. Curitiba: Editora da UFPR, 2002, p. 84.<br />
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que pertencem à fase descrita no<br />
texto apenas as imagens:<br />
a) I e III.<br />
b) I e IV.<br />
c) II e III.<br />
d) I, II e IV.<br />
e) II, III e IV.<br />
213
178. UFPE<br />
“Liberdade, ainda que à tardinha” é parte de uma peça<br />
publicitária que utiliza a paródia de uma frase histórica.<br />
Esse recurso, além de outros que valorizavam a<br />
liberdade de expressão, tiveram ampla divulgação com<br />
o Modernismo. Identifique alguns desses recursos,<br />
relacionado-os aos textos numerados a seguir.<br />
1. Beba coca cola<br />
Babe cola<br />
Beba coca<br />
Beba cola caco<br />
Caco cola<br />
Cloaca<br />
2. Para dizerem milho dizem mio<br />
Para melhor dizem mió<br />
Para pior dizem pió<br />
Para telhado dizem teiado<br />
E vão fazendo telhados.<br />
3. (...) Minha terra tem palmares<br />
Onde gorjeia o mar<br />
Os passarinhos daqui<br />
Não cantam como os de lá<br />
(...)<br />
4. Dentaduras duplas<br />
Inda não sou bem velho<br />
Para merecer-vos...<br />
Há que contentar-me<br />
Com uma ponte móvel<br />
e esparsas coroas. (...)<br />
5. o mercado negro o racionamento, as montanhas de<br />
metal velho o italiano assassinado na praça João<br />
Lisboa o cheiro de pólvora dos canhões alemães...<br />
( ) paródia<br />
( ) valorização da linguagem coloquial e popular.<br />
( ) incorporação de elementos prosaicos e vulgares<br />
como temas poéticos.<br />
( ) enumeração caótica de palavras em períodos sem<br />
nexo aparente.<br />
( ) ordenação não-linear do poema, com valorização<br />
dos efeitos visuais e sonoros.<br />
A seqüência correta é:<br />
a) 3, 2, 4, 5, 1 d) 3, 1, 2, 5, 4<br />
b) 2, 4, 5, 1, 3 e) 1, 2, 3, 4, 5<br />
c) 3, 4, 1, 5, 2<br />
179. UFPE<br />
A Semana de Arte Moderna de 22 teve como idealizadores<br />
e realizadores dois paulistas com igual sobrenome<br />
e sem nenhum parentesco. Oswald e Mário<br />
de Andrade. Sobre a Semana de Arte Moderna de 22,<br />
podemos afirmar:<br />
( ) A Semana de Arte Moderna foi realizada sob o<br />
domínio das doutrinas européias mal assimiladas<br />
e significou, apesar disso, o atestado de óbito da<br />
arte dominante.<br />
( ) Faltou aos modernistas de 22 maior empenho social<br />
e, maior compromisso com a angústia do tempo,<br />
pois eles colocaram a renovação estética acima<br />
da renovação do espírito.<br />
214<br />
( ) O engajamento político está entre as linhas básicas<br />
do projeto modernista de 22, assim como a desintegração<br />
das linguagens tradicionais, a adoção das<br />
conquistas de vanguarda e a busca da identidade<br />
nacional.<br />
( ) Oswald de Andrade escreveu os textos mais corrosivos<br />
da estética modernista, como Memórias<br />
sentimentais de João Miramar, Serafim Ponte<br />
Grande e Macunaíma.<br />
( ) Mário de Andrade, um talento plural, publicou,<br />
em 1922, Paulicéia Desvairada (“São Paulo,<br />
comoção da minha vida!”), obra que marcou seu<br />
amadurecimento como poeta/escritor, seguida dos<br />
livros de poesia Losango Cáqui e Clã do Jabuti e<br />
de obras de ficção, entre as quais, Amar, verbo<br />
intransitivo.<br />
180.<br />
Leia o poema abaixo e, a seguir, responda às questões.<br />
Vício na fala<br />
Para dizerem milho dizem mio<br />
Para melhor dizem mió<br />
Para pior pió<br />
Para telha dizem teia<br />
Para telhado dizem teiado<br />
E vão fazendo telhados<br />
Oswald de Andrade<br />
a) Pode-se dizer que há metalinguagem no poema<br />
acima?<br />
b) Indique duas características que comprovem que<br />
o texto é do Modernismo.<br />
181. UCP-PR<br />
Baseando-se no trecho a seguir, responda às questões<br />
obedecendo ao código.<br />
Trem de ferro<br />
Café com pão<br />
Café com pão<br />
Café com pão<br />
Virge Maria que foi isto maquinista?<br />
Manuel Bandeira<br />
I. A significação do texto provém da sugestão sonora.<br />
II. O poeta utiliza expressões da fala popular brasileira.<br />
III. A temática e a estrutura do poema contrariam o<br />
programa poético do Modernismo.<br />
a) Se I, II e III forem corretas.<br />
b) Se I e II forem corretas e III incorreta.<br />
c) Se I, II e III forem incorretas.<br />
d) Se I for incorreta e II e III corretas.<br />
e) Se I e II forem incorretas e apenas III correta.<br />
182. UFPE (modificado)<br />
Escreva nos parênteses a letra (V) se a afirmativa for<br />
verdadeira e (F) se for falsa.<br />
A 29 de Janeiro de 1922, O Estado de S. Paulo<br />
noticiava:<br />
Por iniciativa do festejado escritor, Sr. Graça Aranha,<br />
haverá em São Paulo uma Semana de Arte Moderna,<br />
em que tomarão parte os artistas que, em nosso meio,<br />
representam as mais modernas correntes artísticas.
PV2D-07-54<br />
( ) O Primitivismo nacionalista da Antropologia e do<br />
Verde-Amarelismo foi a primeira diversificação, em<br />
correntes, do Modernismo.<br />
( ) Logo após a Semana de que fala o texto, nas<br />
revistas do movimento (Klaxon e Estética) começaram-se<br />
a vislumbrar as primeiras tendências dos<br />
autores de então.<br />
( ) Oswald de Andrade e Raul Bopp pretenderam um<br />
retorno às raízes primitivas, autênticas e selvagens<br />
de nossa nacionalidade. Seu lema era Tupy or not<br />
Tupy, that is the question.<br />
( ) Menotti del Pichia e Plínio Salgado focalizaram as<br />
fontes nacionalistas, na valorização da raça, do<br />
sangue e dos heróis nacionais.<br />
( ) A Semana reuniu jovens modernistas numa exposição<br />
de arte literária, plástica, musical e de dança,<br />
mas não pode ser considerada como início oficial<br />
do Modernismo brasileiro.<br />
183. UFBA<br />
O Modernismo apresenta três momentos diversos,<br />
exemplificados nos textos A, B e C.<br />
Texto A<br />
“Um gatinho faz pipi.<br />
Com gestos de garçon de restaurant-Palace<br />
Encobre cuidadosamente a mijadinha.<br />
Sai vibrando com elegância a patinha direita:<br />
– É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.”<br />
Texto B<br />
“O inventor das máquinas que mudam a vida da terra<br />
trabalha na bruta sala de cimento armado.<br />
Tantos dínamos, êmbolos, cilindros mexem naquela<br />
cabeça<br />
que ele não escuta o barulho macio<br />
das almas penadas<br />
esbarrando no móveis.”<br />
Texto C<br />
“Na paisagem do rio<br />
difícil é saber<br />
onde começa o rio;<br />
onde a lama<br />
começa do rio;<br />
onde a terra<br />
começa da lama;<br />
onde o homem,<br />
onde a pele<br />
começa da lama;<br />
onde começa o homem<br />
naquele homem.”<br />
Há correspondência entre as características apresentadas<br />
e o texto indicado em:<br />
01. Cosmovisão e universalismo; linguagem conotativa<br />
sensorial. (Texto A)<br />
02. Atitude crítica frente ao capitalismo; atenção para<br />
os paradoxos do mundo. (Texto B)<br />
04. Preocupação com o destino do homem; apuro<br />
formal. (Texto C)<br />
08. Antiacademicismo; irreverência. (Texto A)<br />
16. Valorização do cotidiano; uso da descrição detalhada.<br />
(Texto B)<br />
32. Ironia; valorização do eu lírico. (Texto C)<br />
Some os números dos itens corretos<br />
184. Cesgranrio-RJ<br />
Cobra Norato<br />
Um dia<br />
eu hei de morar nas terras do Sem-fim<br />
Vou andando caminhando caminhando<br />
Me misturo no ventre do mato mordendo raízes<br />
Depois<br />
faço puçanga de flor de tajá de lagoa<br />
e mando chamar a Cobra Norato<br />
– Quero contar-te uma história<br />
Vamos passear naquelas ilhas decotadas?<br />
Faz de conta que há luar<br />
A noite chega mansinho<br />
Estrelas conversam em voz baixa<br />
Brinco então de amarrar uma fita no pescoço<br />
e estrangulo a Cobra.<br />
Agora sim<br />
me enfio nessa pele elástica<br />
e saio a correr o mundo<br />
Vou visitar a rainha Luzia<br />
Quero me casar com sua filha<br />
- Então tem que apagar os olhos primeiro<br />
O sono escorregou nas pálpebras pesadas<br />
Um chão de lama rouba a força dos meus pés<br />
Raul Bopp, Cobra Norato e outros poemas.<br />
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1973, pp. 5-6<br />
Na minha terra, no bulir do mato,<br />
A juriti suspira:<br />
E como o arrulo dos gentis amores,<br />
São os meus cantos de secretas dores<br />
No chorar da lira.<br />
De tarde a pomba vem me gemer sentida<br />
À beira do caminho;<br />
– Talvez perdida na floresta ingente<br />
A triste geme nessa voz plangente<br />
Saudades do seu ninho.<br />
Trecho de Juriti, de Casimiro de Abreu.<br />
O Modernismo incorporou várias conquistas da poética<br />
romântica. Confrontando o poema de Raul Bopp ao de<br />
Casimiro de Abreu, assinale a opção em que o traço<br />
apontado não revela tal influência:<br />
a) Busca de fontes populares da cultura brasileira.<br />
b) Visão ingênua, próxima da ótica da infância.<br />
c) Realce dado à fantasia e às emoções.<br />
d) Individualismo exacerbado, com ênfase na primeira<br />
pessoa gramatical.<br />
e) Maior liberdade formal frente às normas da poética<br />
clássica.<br />
215
185. Unirio-RJ<br />
2ª- Ladainha<br />
(Fragmento)<br />
Por que o raciocínio,<br />
Os músculos, os ossos?<br />
A automação, ócio dourado,<br />
O cérebro eletrônico, o músculo<br />
Mecânico<br />
mais fáceis que um sorriso.<br />
Por que o coração?<br />
O de metal não tornará o homem<br />
Mais cordial,<br />
Dando-lhe um ritmo extracorporal?<br />
Cassiano Ricardo<br />
O texto, quanto ao sentido, só não:<br />
a) valoriza o sentimento em detrimento da mecanização.<br />
b) enfatiza a supremacia da máquina.<br />
c) questiona os valores no mundo moderno.<br />
d) critica a importância dada à máquina.<br />
e) ironiza a condição humana.<br />
186. UFF-RJ<br />
Assinale o fragmento que representa uma avaliação<br />
modernista de personagem literário romântico.<br />
a) O sangue português, em poderoso rio, deverá<br />
absorver os pequenos confluentes das raças índia<br />
e etiópica. (Carlos Frederico Ph. de Martius)<br />
b) Seria injusto, entretanto, considerar os índios como<br />
depravados; eles não têm nenhuma idéia moral<br />
dos direitos e dos deveres. (Rugendas)<br />
c) A piedade, a minguarem outros argumentos de maior<br />
valia, deverá ao menos inclinar a imaginação dos<br />
poetas para os povos que primeiro beberam os ares<br />
destas regiões, consorciando na literatura os que a<br />
fatalidade da história divorciou. (Machado de Assis)<br />
d) Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. O<br />
índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt.<br />
Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons<br />
sentimentos portugueses. (Oswald de Andrade)<br />
e) O protagonista, o mulato Raimundo, ignora a<br />
própria cor e a condição de filho de escrava: não<br />
consegue entender as reservas que lhe faz a alta<br />
sociedade de São Luís, a ele que voltara doutor<br />
da Europa. (Alfredo Bosi)<br />
187. Cesgranrio-RJ<br />
Ao longo da literatura brasileira, percebe-se, de forma<br />
recorrente, a tematização da paisagem/realidade<br />
local.<br />
Tendo em vista a produção literária do século XX, assinale<br />
a opção em que a tendência indicada para cada<br />
período apresentado a seguir não esteja correta.<br />
a) Na fase pré-modernista, no ínicio do século, uma<br />
literatura frívola, com atmosfera Belle Époque,<br />
convive com outra, voltada para problemas regionais.<br />
b) Na primeira fase do Modernismo, há o registro da<br />
vida das grandes cidades, com destaque para São<br />
Paulo, por influência do grupo paulista.<br />
216<br />
c) No período do Neo-Simbolismo de 1930, acentua-se<br />
a observação da realidade externa, em<br />
detrimento da interna.<br />
d) Nos anos 1940, o amadurecimento da renovação<br />
temática e a busca de naturalidade da linguagem<br />
ficcional dão nova feição ao regionalismo.<br />
e) Na década de 1970, nota-se uma pluralidade de<br />
tendências, indo desde a alegoria e o fantástico<br />
ao ultra-realismo e à literatura-verdade (romancereportagem,<br />
por exemplo).<br />
188. UFV-MG<br />
Fazendo um paralelo entre Romantismo e Modernismo,<br />
assinale a alternativa falsa.<br />
a) Autores românticos e modernistas expressam a<br />
realidade por meio dos sentimentos, enfatizando<br />
a idealização da natureza brasileira.<br />
b) Autores românticos como José de Alencar e alguns<br />
modernistas denominados verde-amarelistas,<br />
como Cassiano Ricardo, preocupados com a identidade<br />
cultural brasileira, procuram criar a imagem<br />
de uma raça brasileira heróica.<br />
c) Escritores românticos e modernistas demonstram<br />
consciência da necessidade de se criar uma literatura<br />
que traduzia a realidade brasileira.<br />
d) Escritores românticos e modernistas utilizam o<br />
indianismo como elemento definidor da nacionalidade<br />
brasileira.<br />
e) Românticos e modernistas reaproveitam lendas e<br />
mitos da cultura popular brasileiro.<br />
189. PUC-MG<br />
“Meu coração estrala...<br />
Que imagem sem verdade,<br />
... Porém não tive idéia de mentir...<br />
Foram os nervos, a alma?<br />
Que quer dizer estralo!<br />
Nem ao menos sou padre Vieira...<br />
Ôh dicionário pequitito!...“<br />
O texto anterior vincula-se ao estilo de época Modernismo<br />
porque:<br />
a) apresenta um eu-lírico sentimental.<br />
b) mostra despreocupação com a linguagem formal.<br />
c) discute aspectos revolucionários.<br />
d) convida o leitor a questionar-se.<br />
e) brinca com os sentimentos do leitor.<br />
190. UEL-PR<br />
Na primeira fase do Modernismo no Brasil:<br />
a) impuseram-se os nomes pioneiros de Monteiro<br />
Lobato, Euclides da Cunha e Coelho Neto.<br />
b) Firmou-se uma nova tendência do romance regionalista,<br />
com Graciliano Ramos e José Lins do Rego.<br />
c) propuseram-se idéias e obras revolucionárias,<br />
como Macunaíma e Memórias sentimentais de<br />
João Miramar.<br />
d) promoveu-se o surgimento de ficcionistas renovadores,<br />
mas em nada foi afetada a linguagem dos<br />
poetas.<br />
e) propicionou-se a renovação da literatura, não<br />
ocorrendo o mesmo com a música e a pintura.
PV2D-07-54<br />
191. UFSM-RS<br />
Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações<br />
obreiras, idealismo, motores, chaminé de<br />
fábricas, sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte!<br />
O trecho reflete características vanguardistas que<br />
foram reproduzidas por um período da literatura brasileira.<br />
Assinale a alternativa que associa corretamente<br />
o período e a vanguarda em questão.<br />
a) Parnasianismo – Expressionismo<br />
b) Simbolismo – Decadentismo<br />
c) Modernismo – Dadaísmo<br />
d) Modernismo – Futurismo<br />
e) Simbolismo – Surrealismo<br />
192. Unirio-RJ<br />
Em relação ao Modernismo, podemos afirmar que, em<br />
sua primeira fase, há:<br />
a) maior aproximação entre a língua falada e a escrita,<br />
valorizando-se literariamente o nível coloquial.<br />
b) pouca atenção ao valor estético da linguagem,<br />
privilegiando o desenvolvimento da pesquisa<br />
formal.<br />
c) grande liberdade de criação, mas expressão pobre.<br />
d) reconquista do verso livre.<br />
e) ausência de inspiração nacionalista.<br />
193. Unitau-SP<br />
O Romantismo está para o Modernismo, assim<br />
como:<br />
a) Senhora está para A Carne.<br />
b) Inocência está para A escrava Isaura.<br />
c) Inocência está para Macunaíma.<br />
d) A Moreninha está para O Cortiço.<br />
e) Quincas Borba está para Macunaíma.<br />
194. ITA-SP<br />
Não há temas poéticos. Não há épocas poéticas. O que<br />
realmente existe é o subconsciente enviando à inteligência<br />
telegramas e mais telegramas (...) A inspiração<br />
parece um telegrama cifrado, que a atividade inconsciente<br />
envia à atividade consciente, que o traduz.<br />
Esse trecho, de importante ensaio de _______, revela<br />
nítida semelhança com as propostas de um dos movimentos<br />
de vanguarda europeu, ________.<br />
a) Oswald de Andrade – o futurismo<br />
b) Graça Aranha – o cubismo<br />
c) Haroldo de Campos – o concretismo<br />
d) Mário de Andrade – o surrealismo<br />
e) Décio Pignatari – a poesia Práxis<br />
195. Mackenzie-SP<br />
I. “Está fundado o desvairismo.“<br />
II. “Tupi or not Tupi, that is the question.“<br />
III. “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.“<br />
Os períodos acima expressam idéias próprias da<br />
primeira geração modernista.<br />
Seus autores são, respectivamente:<br />
a) Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Mário de<br />
Andrade.<br />
b) Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Cassiano<br />
Ricardo.<br />
c) Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel<br />
Bandeira.<br />
d) Raul Bopp, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.<br />
e) Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Mário de<br />
Andrade.<br />
196. Mackenzie-SP<br />
I. Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou<br />
apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela,<br />
embalado pelos prazeres; no cárcere, como no<br />
palácio; na paz, como sobre o campo da batalha,<br />
se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecerse<br />
de sua missão, e acha sempre o segredo de<br />
encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração,<br />
e elevar o pensamento nasasas da harmonia até<br />
as idéias arquétipas.<br />
II. Por isso, corre, por servir-me,<br />
Sobre o papel<br />
A pena, como em prata firme<br />
Corre o cinzel.<br />
Corre; desenha, enfeita a imagem,<br />
A idéia veste:<br />
Cinge-lhe o corpo a ampla roupagem<br />
Azul-Celeste<br />
Torce, aprimora, alteia, lima<br />
A frase; e, enfim,<br />
No verso de ouro engasta a rima,<br />
Como um rubim.<br />
III. Estou farto do lirismo comedido<br />
Do lirismo bem comportado<br />
Do lirismo funcionário público com livro de ponto<br />
expediente protocolo e manifestações de apreço<br />
ao Sr. diretor.<br />
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no<br />
dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.<br />
Os trechos anteriores expõem idéias defendidas por<br />
diferentes movimentos literários. Aponte a alternativa<br />
em que aparecem, respectivamente, os nomes dos<br />
mesmos.<br />
a) Arcadismo – Parnasianismo – Romantismo<br />
b) Romantismo – Parnasianismo – Modernismo<br />
c) Barroco - Romantismo – Parnasianismo<br />
d) Romantismo – Arcadismo – Modernismo<br />
e) Parnasianismo – Barroco – Romantismo<br />
197. Mackenzie-SP<br />
No início do século XX, várias tendências estéticas<br />
surgiram na Europa e influenciaram o Modernismo<br />
brasileiro.<br />
Não faz parte delas o:<br />
a) dadaísmo. d) cubismo.<br />
b) expressionismo. e) determinismo.<br />
c) futurismo.<br />
217
198. Mackenzie-SP<br />
I. Minha terra tem palmares,<br />
Onde gorjeia o mar<br />
Os passarinhos daqui<br />
Não cantam como os de lá.<br />
II. Quando o português chegou<br />
Debaixo duma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português<br />
III. Não bebo pinga<br />
Não bebo nada<br />
Bebo sereno da noite<br />
Orvaio da madrugada!<br />
Sobre os três trechos, afirma-se que pertencem a um<br />
mesmo poeta brasileiro:<br />
a) da primeira geração modernista, que denuncia<br />
satiricamente mazelas brasileiras.<br />
b) que brinca com experimentos lingüísticos e é<br />
receptivo às vanguardas européias.<br />
c) que utiliza uma língua coloquial solta, com objetivos<br />
satíricos.<br />
d) que subverte a ideologia da seriedade, como está<br />
demonstrado desde a paródia do texto I.<br />
e) autor do Manifesto Antropófago, cuja frase – Contra<br />
as elites vegetais. Em comunicação com o solo<br />
– contradiz os valores veiculados por esses mesmos<br />
textos.<br />
199. UEL-PR<br />
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei<br />
do Antropófago.<br />
O fragmento acima é um dos muitos que compõem um<br />
importante manifesto modernista, no qual:<br />
a) Oswald de Andrade proclama a supremacia criativa<br />
do nosso primitivismo sobre a cultura européia.<br />
b) Monteiro Lobato reage violentamente contra uma<br />
exposição de quadros de Anita Malfatti.<br />
c) Mário de Andrade busca definir aspectos técnicos<br />
da nova estética.<br />
d) Cassiano Ricardo assinala sua adesão ao nacionalismo<br />
de características ufanistas.<br />
e) Manuel Bandeira abandona o estilo neo-simbolista<br />
e proclama seu lirismo coloquial.<br />
200. UFV-MG<br />
O Modernismo brasileiro eclodiu com a Semana de<br />
Arte Moderna, em 1922. Sobre o movimento, somente<br />
podemos afirmar que:<br />
a) os artistas brasileiros queriam formalizar uma<br />
grande manifestação para consagrar os ideais<br />
clássicos, expressos através do Parnasianismo.<br />
b) a intelectualidade brasileira, de fato, já estava<br />
tomando rumos diversos daqueles presentes no<br />
século XIX, porém a tendência da poesia era a de<br />
permanecer melancólica e saudosista.<br />
218<br />
c) seria um acontecimento de cunho eminentemente<br />
nacionalista, sem nenhuma ligação com tendências<br />
ou movimentos que não fossem integralmente<br />
gerados no Brasil.<br />
d) a Semana ratificaria as premissas do direito à pesquisa<br />
estética, disseminada em tantas expressões<br />
(literatura, música, pintura, escultura) quantas<br />
fossem as dos participantes do movimento.<br />
e) teria como figuras de proa os nomes de Victor<br />
Brecheret, Anita Malfatti, Oswald de Andrade e<br />
Rui Barbosa.<br />
201. UFRGS-RS<br />
Assinale a alternativa incorreta.<br />
a) Oswald de Andrade, autor do Manifesto Antropófago,<br />
de 1928, compôs também o Manifesto da<br />
Poesia Pau-Brasil, que discute concepções sobre a<br />
linguagem poética, a modernização e a cor local.<br />
b) Mário de Andrade dedicou-se à renovação da ficção<br />
e da poesia, escrevendo também manifestos,<br />
prefácios e livros sobre o Brasil, a respeito dos<br />
mais variados assuntos.<br />
c) As propostas do Modernismo, receptivas às diferentes<br />
linguagens artísticas, pretenderam discutir<br />
os padrões estéticos e culturais brasileiros.<br />
d) O Modernismo, embora aberto à linguagem<br />
coloquial, não se opôs aos padrões poéticos e<br />
narrativos já consagrados desde o Romantismo.<br />
e) Os poetas das diferentes tendências do Modernismo<br />
contribuíram para a inovação formal e<br />
temática da poesia brasileira, que posteriormente<br />
se aproximou da canção popular.<br />
202. Vunesp<br />
Quais destes fragmentos resumem propostas do Modernismo<br />
brasileiro?<br />
I. “A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e<br />
neológica. A contribuição milionária de todos os<br />
erros. Como somos.”<br />
II. “Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria,<br />
afilhado de Catarina de Médicis e genro de D.<br />
Antônio de Mariz.”<br />
III. “A pena é um pincel.”<br />
“Eu limo sonetos engenhosos e frios”.<br />
IV. “Nomear um objeto significa suprimir as três quartas<br />
partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer<br />
de adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.”<br />
V. “A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão<br />
e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino,<br />
são fatos estéticos.”<br />
a) I, III e IV. d) I, II e V.<br />
b) II, III e IV. e) II, IV e V.<br />
c) I, II e III.<br />
203. Vunesp<br />
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.<br />
Filosoficamente.<br />
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos<br />
os individualismos, de todos os coletivismos. De todas<br />
as religiões. De todos os tratados de paz.<br />
Tupi, or not tupi, that is the question.<br />
Fragmento do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade
PV2D-07-54<br />
Analisando as idéias contidas nesses fragmentos,<br />
assinale a única alternativa que julgar incorreta.<br />
a) O Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade<br />
articula-se ao movimento antropófago do Modernismo<br />
brasileiro, cuja expressão máxima se deu<br />
em Macunaíma, de Mário de Andrade.<br />
b) Em Tupi or not tupi, that is the question, está implícita<br />
a crítica ao espírito de nacionalidade, falseado<br />
pelo estrangeirismo exacerbado entre nós, até os<br />
adventos do Modernismo.<br />
c) Ainda nos fragmentos citados, deve-se entender<br />
não a aversão à cultura européia, mas a dialética<br />
de conjunção das raízes nacionais à cultura européia.<br />
d) A leitura dos três fragmentos acaba por desvendar<br />
a crítica à cultura brasileira, que não estaria muito<br />
distante do primitivismo antropofágico.<br />
e) O Manifesto Antropófago propõe a mobilidade<br />
cultural advinda da mobilidade do pensamento e<br />
dos valores do homem em sociedade.<br />
204. UFG-GO<br />
Nos contos “Vestida de preto”, “O peru de natal”;<br />
“Frederico Paciência” e “Tempo da camisolinha”, do<br />
livro Contos novos, de Mário de Andrade, o aspecto<br />
nuclear que os aproxima é:<br />
a) o recurso à introspecção.<br />
b) a temática da religiosidade.<br />
c) o tempo da vida escolar.<br />
d) a ação de ritmo linear.<br />
e) o apelo à evasão.<br />
205. Udesc<br />
Leia atentamente os textos a seguir.<br />
I. Quando será que tantas almas duras<br />
Em tudo, já libertas, já lavadas<br />
Nas águas imortais, iluminadas<br />
Do sol do amor, hão de ficar bem puras?<br />
Quando será que as límpidas frescuras<br />
Dos claros rios de ondas estreladas<br />
Dos céus do bem, hão de deixar clareadas<br />
Almas vis, almas vãs, almas escuras?<br />
Cruz e Souza. Poesias Completas. São Paulo: Ediouro, s/d, p. 93.<br />
II. Não acredito em bicho maligno mas besouro,<br />
não sei não. Olhe o que sucedeu com a Rosa...<br />
Dezoito anos. E não sabia que os tinha. Ninguém<br />
reparara nisso. Nem dona Carlotinha, nem dona<br />
Ana, entretanto já velhuscas e solteironas, ambas<br />
quarenta e muito. Rosa viera pra companhia delas<br />
aos sete anos quando lhe morreu a mãe. Morreu<br />
ou deu a filha que é a mesma coisa que morrer.<br />
Os melhores contos de Mário de Andrade. São Paulo: Global, 1988<br />
Em relação aos fragmentos apresentados, assinale<br />
com V as proposições verdadeiras e com F as falsas.<br />
( ) Por suas características estilísticas, os versos de<br />
Cruz e Sousa pertencem ao Simbolismo e o texto<br />
de Mário de Andrade, ao Modernismo.<br />
( ) O Simbolismo brasileiro apresenta conteúdo<br />
carregado de mistério, misticismo, sonoridade e<br />
espiritualidade.<br />
( ) No Simbolismo, o lirismo é altamente objetivo,<br />
apresentando cunho político-social.<br />
( ) Os textos do Modernismo apresentam, além de linguagem<br />
cotidiana e dinâmica, frases despojadas.<br />
A alternativa que apresenta a seqüência correta, de cima<br />
para baixo, é:<br />
a) V, F, F, V d) F, F, V, V<br />
b) V, V, F, F e) V, F, V, V<br />
c) V, V, F, V<br />
206. Vunesp<br />
Relâmpago<br />
O onça pintada saltou tronco acima que nem um<br />
relâmpago de rabo comprido e cabeça amarela:<br />
Zás!<br />
Mas sua flecha ainda mais rápida que o relâmpago<br />
fez rolar ali mesmo<br />
aquele matinal gatão elétrico e bigodudo<br />
que ficou estendido no chão feito um fruto de cor<br />
que tivesse caído de uma árvore!<br />
in RICARDO, Cassiano. Martim Cererê, 6ª ed.<br />
São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1938.<br />
O livro Martim Cererê (1928) é um dos mais representativos<br />
da fase nacionalista, verdeamarelista,<br />
de Cassiano Ricardo. Em cada poema dessa obra<br />
encontramos, explícita ou implicitamente, a presença<br />
de temas e formas populares, bem como alusões a<br />
fatos da nacionalidade.<br />
Com base na leitura de Relâmpago, aponte:<br />
a) a presença implícita de um elemento básico na<br />
formação étnica brasileira;<br />
b) dois vocábulos ou expressões que retratem o falar<br />
cotidiano brasileiro.<br />
207. Vunesp<br />
Com base no poema Relâmpago, da questão anterior,<br />
aponte duas características da literatura modernista<br />
brasileira.<br />
208. Unicamp-SP<br />
Doze anos<br />
Ai, que saudade que eu tenho<br />
Dos meus doze anos<br />
Que saudade ingrata<br />
Dar banda por aí<br />
Fazendo grandes planos<br />
E chutando lata<br />
Trocando figurinha<br />
Matando passarinho<br />
Colecionando minhoca<br />
Jogando muito botão<br />
Rodopiando pião<br />
Fazendo troca-troca<br />
Ai, que saudades que eu tenho<br />
Duma travessura<br />
O futebol de rua<br />
Sair pulando muro<br />
Olhando fechadura<br />
E vendo mulher nua<br />
Comendo fruta do pé<br />
Chico Buarque<br />
219
Chupando picolé<br />
Pé-de-moleque, paçoca<br />
E disputando troféu<br />
Guerra de pipa no céu<br />
Concurso de piroca<br />
a) Doze anos, de Chico Buarque de Hollanda, dialoga<br />
com outra poesia, muito conhecida, que desde há<br />
muito faz parte da memória nacional. Que poesia<br />
é essa e quem é seu autor?<br />
b) Pelos recursos formais utilizados e pelas situações<br />
evocadas, Doze anos pode ser enquadrado na<br />
estética inaugurada pelo Modernismo. Aponte,<br />
no texto, pelo menos duas dessas características<br />
formais e duas dessas situações.<br />
c) Transcreva e explique um par de versos que sintetize<br />
as contradições da adolescência.<br />
Texto para as questões 209 e 2<strong>10</strong>.<br />
Sala de espera<br />
(Ah, os rostos sentados<br />
numa sala de espera.<br />
Um Diário Oficial sobre a mesa.<br />
Uma jarra com flores.<br />
A xícara de café, que o contínuo<br />
vem, amável, servir aos que esperam a audiência<br />
marcada.<br />
Os retratos em cor, na parede,<br />
dos homens ilustres<br />
que exerceram, já em remotas épocas,<br />
o manso ofício<br />
de fazer esperar com esperança.<br />
E uma resposta, que será sempre a mesma: só<br />
amanhã.<br />
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre<br />
adiados<br />
e sentados<br />
numa sala de espera.)<br />
Mas eu prefiro é a rua.<br />
A rua em seu sentido usual de “lá fora”.<br />
Em seu oceano que é ter bocas e pés<br />
para exigir e para caminhar.<br />
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo.<br />
Rua do homem como deve ser:<br />
transeunte, republicano, universal.<br />
Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros<br />
do que de si mesmo.<br />
Rua da procissão, do comício,<br />
do desastre, do enterro.<br />
Rua da reivindicação social, onde mora<br />
o Acontecimento.<br />
A rua! uma aula de esperança ao ar livre.<br />
RICARDO, Cassiano. Antologia poética.<br />
Rio de Janeiro: Editora do Autor,1964<br />
209. UERJ<br />
Sentados<br />
Numa sala de espera.<br />
O emprego repetido dessa cena no início e no término<br />
da caracterização da sala de espera contribui para a<br />
construção do sentido do texto porque:<br />
a) reforça a idéia de confinamento oposta à liberdade<br />
da rua.<br />
220<br />
b) confirma uma alternância entre o espaço individual<br />
e o coletivo.<br />
c) sugere atitudes banais reproduzidas em diversos<br />
espaços públicos.<br />
d) expressa uma perspectiva de mudança ligada ao<br />
movimento social.<br />
2<strong>10</strong>. UERJ<br />
O poema é divisível em dois segmentos cujos temas<br />
são a sala e a rua.<br />
Considerando o sentido geral do texto, o contraste<br />
entre esses ambientes é definido por:<br />
a) elite x povo<br />
b) ordem x caos<br />
c) passado x futuro<br />
d) passividade x participação<br />
211. UFAM<br />
Um dos principais nomes do Modernismo brasileiro,<br />
Mário de Andrade estreou em poesia em 1917, com um<br />
livro de feição tradicional intitulado _____________.<br />
Porém, em 1922, no ano mesmo da Semana de Arte<br />
Moderna, deu um grande salto qualitativo com os<br />
versos de _____________, livro que causou grande<br />
impacto sobre seus contemporâneos.<br />
a) Lira paulistana – Paulicéia desvairada<br />
b) Remate de males – Lira paulistana<br />
c) Há uma gota de sangue em cada poema – Paulicéia<br />
desvairada<br />
d) Remate de males – Paulicéia desvairada<br />
e) Há uma gota de sangue em cada poema – Lira<br />
paulistana<br />
212. UFS-SE<br />
De Mário de Andrade pode-se dizer que:<br />
a) escreveu, além de poesia, ficção e ensaio, várias<br />
peças de teatro.<br />
b) é autor de Memórias sentimentais de João Miramar,<br />
eloqüente realização de seu talento de<br />
prosador.<br />
c) se interessou pela poesia concretista, da qual foi<br />
um dos principais representantes.<br />
d) soube conjugar uma vida de intensa criação literária<br />
com o estudo apaixonado da música.<br />
e) usou na sua obra em geral a simbologia da mensagem<br />
bíblica.<br />
213. Fatec-SP<br />
A respeito de Mário de Andrade, é correto afirmar-se que:<br />
a) foi um dos principais representantes da primeira fase<br />
do Modernismo, conhecida como fase heróica, nos<br />
anos 1940, mas sua produção supera essas primeiras<br />
tendências que atacam o academicismo.<br />
b) uma de suas mais marcantes preocupações estilísticas<br />
consiste em transpor, para o literário, o ritmo,<br />
o léxico e a síntese coloquiais, o que é possível<br />
observar em obras como Os contos de Belazarte<br />
e Macunaíma, por exemplo.<br />
c) sua obra, marcadamente poética, apresenta também<br />
crônicas, como se observa em Flor nacional, mas ressente-se<br />
da ausência de uma produção contística.
PV2D-07-54<br />
d) Macunaíma – O herói sem nenhum caráter é a<br />
sua obra mais conhecida e nela se evidencia uma<br />
temática que não reaparece no conjunto de sua<br />
produção: a busca da identidade nacional.<br />
e) de Paulicéia desvairada a Amar, verbo intransitivo,<br />
suas obras poéticas consideradas maduras, é<br />
possível localizar uma preocupação temática que<br />
se mantém: o poeta que afirma despedaçamento,<br />
como se verifica em seu verso: Eu sou trezentos.<br />
214. Mackenzie-SP<br />
Assinale a afirmação correta sobre Mário de Andrade.<br />
a) Inovou a poesia brasileira, buscando uma expressão<br />
objetiva para a idealização do passado nacional.<br />
b) Influenciado pelos futuristas, fragmentou o verso<br />
com o uso de frases nominais, evitando o uso de<br />
qualquer recurso poético tradicional.<br />
c) Em consonância com ideais modernistas, seu<br />
repertório temático contemplou, em especial, a<br />
questão da identidade nacional.<br />
d) Apesar de assumidamente modernista, não conseguiu<br />
superar a tendência à subjetividade, de forte<br />
tradição parnasiana.<br />
e) Avesso ao uso de neologismos e construções inusitadas,<br />
rejeitou as inovações da vanguarda européia.<br />
215. UEL-PR<br />
Diz Mário de Andrade: Geralmente os poetas modernistas<br />
escrevem poemas curtos.<br />
Isso se deve ao fato de que o poema curto, para os<br />
modernistas, é:<br />
a) decorrente da depressão que domina o poeta<br />
moderno, por força das realidades hostis que vive<br />
e que lhe roubam a faculdade de expressão.<br />
b) conseqüência de uma época caótica, fragmentária,<br />
sobre cujo estado de coisas nada há para ser feito.<br />
c) originária da confessada falta de inspiração e mesmo<br />
da má vontade dos modernistas da primeira<br />
geração em face da poesia.<br />
d) uma forma deliberada de ironizar os longos textos<br />
poéticos, que se tornaram moda literária a partir<br />
do Romantismo.<br />
e) resultado inevitável da época: decorrente da própria<br />
velocidade da vida moderna.<br />
Texto para as questões 216 e 217.<br />
O trovador<br />
Sentimentos em mim do asperamente<br />
dos homens das primeiras eras...<br />
As primaveras de sarcasmo<br />
intermitentemente no meu coração<br />
[arlequinal ...<br />
Intermitentemente ...<br />
Outras vezes é um doente, um frio<br />
na minha alma doente como um longo som<br />
[redondo ...<br />
Cantabona! Cantabona!<br />
Dlorom ...<br />
Sou um tupi tangendo um alaúde!<br />
Mário de Andrade<br />
Obs. – alaúde: instrumento de cordas, com larga<br />
difusão na Europa, da Idade Média ao Barroco.<br />
216. Mackenzie-SP<br />
Assinale a afirmativa correta.<br />
a) Ao revelar seus sentimentos nos dois primeiros<br />
versos, o eu lírico identifica-se com os trovadores<br />
medievais.<br />
b) Na segunda estrofe, o eu lírico manifesta seu modo<br />
de ser sarcástico.<br />
c) O eu lírico critica o temperamento do homem<br />
brasileiro, caracterizando-o como primitivo.<br />
d) Identificando-se com um tupi, o eu lírico condena<br />
a miscigenação que caracterizou a formação do<br />
povo brasileiro.<br />
e) A imagem do último verso comprova o modo de<br />
ser contraditório do eu lírico.<br />
217. Mackenzie-SP<br />
Assinale a afirmativa correta.<br />
a) A linguagem inovadora dos versos, utilizada para<br />
a expressão de temática bucólica, produz efeito<br />
irônico.<br />
b) Trata-se de um texto lírico, composto de acordo<br />
com os padrões estéticos regulares que sempre<br />
caracterizaram a poesia brasileira.<br />
c) Com seu tom confessional e emotivo, o texto exemplifica<br />
o lirismo romântico de temática indianista.<br />
d) Sua linguagem prosaica e coloquial recupera a eloqüência<br />
típica dos poemas de temática ufanista.<br />
e) O poema, composto de versos livres e brancos,<br />
explora recursos de efeito musical, como aliteração<br />
e assonância.<br />
Texto para as questões 218 e 219.<br />
Duas horas da manhã. Vejo esta cena.<br />
No leito grande, entre bordados, dormem marido<br />
e mulher. As brisas nobres de Higienópolis entram<br />
pelas venezianas, servilmente aplacando os calores<br />
de verão.<br />
Dona Laura, livre o colo das colchas, ressona boca<br />
aberta, apoiando a cabeça no braço erguido. Braço<br />
largo, achatado, nu. A trança negra flui pelas barrancas<br />
moles do travesseiro, cascateia no álveo dos lençóis.<br />
Concavamente recurvada, a esposa toda se apoia<br />
no esposo dos pés ao braço erguido. Sousa Costa<br />
completamente oculto pelas cobertas, enrodilhado, se<br />
aninha na concavidade feita pelo corpo da mulher, e<br />
ronca. O ronco inda acentuar a paz compacta.<br />
Estes dois seres tão unidos, tão apoiados um no outro,<br />
tão Báucis e Filamão, creio que são felizes. Perfeitamente.<br />
Não tem raciocínio que invalide a minha firme<br />
crença na felicidade destes dois cidadãos da república.<br />
Aristóteles ... me parece que na Política afirma serem<br />
felizes os homens pela quantidade de razão e virtude<br />
possuídas e na medida em que, por estas, regram a<br />
norma do viver ... Estes cônjugues são virtuosos e<br />
justos. Perfeitamente. Sousa Costa se mexe. Tira um<br />
pouco, pra fora das cobertas, algumas ramagens do<br />
bigode. Apoia melhor a cara no sovaco gorducho da<br />
esposa. Dona Laura suspira. Se agita um pouco. E se<br />
apoia inda mais no honrado esposo e senhor. Pouco a<br />
pouco Sousa Costa recomeça a roncar. O ronco inda<br />
acentua a paz compacta. Perfeitamente.<br />
Mário de Andrade. Amar, verbo intransitivo. São Paulo, Ática, p. 83.<br />
221
218. UnB-DF<br />
Na questão a seguir assinale os números dos itens<br />
corretos.<br />
A partir da leitura compreensiva do texto ou contextos,<br />
julgue os itens seguintes .<br />
1. Na circunstância descrita nesse fragmento de<br />
Amar, verbo intransitivo, as eventuais divergências<br />
comportamentais, políticas e ideológicas individuais<br />
são anuladas.<br />
2. Uma das características desse texto é o erotismo.<br />
3. Evidencia-se, ao longo do texto, o tratamento<br />
igualitário atribuido por Mário de Andrade tanto<br />
ao homem quanto à mulher: os dois são vistos de<br />
forma simultaneamente lírica e jocosa.<br />
4. Considerando o seguinte fragmento de Mulheres<br />
de Atenas, de Chico Buarque, é correto afirmar que<br />
Mário de Andrade e Chico Buarque compartiham<br />
da mesma ideologia, no que se refere às relações<br />
conjugais.<br />
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de<br />
Atenas:<br />
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de<br />
Atenas<br />
Elas não têm gosto ou vontade<br />
Nem defeito nem qualidade Têm medo apenas<br />
Não têm sonhos, só têm presságios<br />
O seu homem, mares, naufrágios<br />
Lindas sirenas<br />
Morenas<br />
(...)<br />
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de<br />
Atenas<br />
Secam por seus maridos, orgulho e raça de<br />
Atenas<br />
219. UnB-DF<br />
Acerca da periodização literária, e a partir da estrutura<br />
discursiva do texto, julgue os itens a seguir.<br />
1. Mário de Andrade, assim como Guimarães Rosa,<br />
pertence à primeira fase do Modernismo brasileiro.<br />
2. Em nenhuma passagem do texto, há a presença<br />
de comentários pessoais do narrador.<br />
3. Os pontos de vista usado no texto é do narrador<br />
onisciente.<br />
4. Em “Aristóteles ... me parece que na Política afirma<br />
serem felizes os homens pela quantidade de razão<br />
e virtude possuídas e na medida em que, por estas,<br />
regras a norma do viver ...”, tem-se um exemplo<br />
de discurso indireto<br />
220. PUC-PR<br />
Mário de Andrade é considerado o mestre dos escritores<br />
modernistas por sua atuação crítica e pela<br />
variedade de gêneros textuais que escreveu e que se<br />
transformaram em exemplos da escrita literária desse<br />
período estético.<br />
Assinale a alternativa que contém a afirmação correta<br />
sobre sua obra:<br />
222<br />
a) Macunaína é uma colagem de mitos amazônicos<br />
e narrativas urbanas, e estilos narrativos diversificados.<br />
b) Amar verbo intransitivo é o mais completo exemplo<br />
da prosa sentimental modernista, exaltada e<br />
idealizadora.<br />
c) Paulicéia desvairada é obra patriótica, de forte<br />
cunho nacionalista e uma concepção irracionalista<br />
da existência.<br />
d) Contos Novos é uma coletânea de narrativas que<br />
combinam a narrativa enraizadamente colonial e<br />
a vanguarda européia e experimental.<br />
e) Sua obra de crítica literária, representada por<br />
O empalhador de passarinho, tem forte origem<br />
teórica européia, sobretudo a italiana.<br />
221. ENEM<br />
Precisa-se nacionais sem nacionalismo, (...)<br />
movidos pelo presente, mas estalando naquele cio<br />
racial que só as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no sentimento, bastante<br />
força na peitaria, bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito<br />
no anúncio vistoso de cores desesperadas pintado<br />
sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas.”<br />
Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES,<br />
Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e caminhos.<br />
São Paulo: Duas Cidades, 1972<br />
No trecho anterior, Mário de Andrade dá forma a um<br />
dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a<br />
feição de uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem popular<br />
identificada pela (o):<br />
a) escolha de palavras como cio, peitaria, vergonha.<br />
b) emprego da pontuação.<br />
c) repetição do adjetivo bastante.<br />
d) concordância empregada em assim está escrito.<br />
e) escolha de construção do tipo precisa-se gentes.<br />
222. FEI-SP<br />
Assinalar a alternativa que preenche corretamente as<br />
lacunas do seguinte fragmento:<br />
“Com _____, romance publicado em _____, _____,<br />
aprofunda suas intenções reformadoras, e apresenta<br />
para a literatura um romance absoluto e frio. O intuito<br />
é analisar o sistema familiar burguês, enraizado em<br />
preconceitos morais e conveções sociais.”<br />
a) Amar, Verbo Intransitivo – 1927 – Mário de Andrade<br />
b) Serafim Ponte Grande – 1933 – Oswald de Andrade<br />
c) Menino de Engenho – 1930 – José Lins do Rego<br />
d) Clarissa – 1930 – Érico Veríssimo<br />
e) Caetés – 1933 – Graciliano Ramos<br />
223. Fuvest-SP<br />
I. A manobra psicológica do narrador protagonista<br />
mostra que as lembranças obsessivas perdem a<br />
força, quando o seu culto as eleva a uma respeitosa<br />
distância.<br />
II. A paisagem paulistana é percorrida pelo olhar<br />
ingênuo de quem busca reconhecimento e esbarra<br />
no oficialismo autoritário.
PV2D-07-54<br />
As afirmações I e II referem-se, respectivamente,<br />
aos seguintes contos de Mário de Andrade (Contos<br />
novos):<br />
a) Vestida de Preto e Primeiro de maio<br />
b) Peru de natal e Frederico Paciência<br />
c) O ladrão e Frederico Paciência<br />
d) Peru de natal e Primeiro de maio<br />
e) Vestida de preto e O ladrão<br />
224. Fuvest-SP<br />
Se em ambos os contos a dominação social é tema de<br />
primeiro plano, cabe, no entanto, fazer uma distinção:<br />
em um deles, ela é direta, e aparece sob a forma do<br />
capricho e do arbítrio patronais; já em outro, ela é mais<br />
moderna - torna-se indireta e anônima.<br />
A distinção realizada nesta afirmação refere-se,<br />
respectivamente, aos seguintes contos de Mário de<br />
Andrade (Contos novos):<br />
a) Nelson e O poço.<br />
b) O ladrão e O poço.<br />
c) O ladrão e Nelson.<br />
d) O poço e Primeiro de maio.<br />
e) Primeiro de maio e O ladrão.<br />
225. Mackenzie-SP<br />
Moça linda bem tratada,<br />
Três séculos de família,<br />
Burra como uma porta:<br />
Um amor<br />
Grã-fino do despudor,<br />
Esporte, ignorância e sexo,<br />
Burro como uma porta:<br />
Um coió<br />
Mulher gordaça, filó<br />
De ouro por todos os poros<br />
Burra como uma porta:<br />
Paciência<br />
Plutocrata sem consiência,<br />
Nada porta, terremoto<br />
Que a porta do pobre arromba:<br />
Uma bomba!<br />
O texto acima é claramente representativo:<br />
a) das tendências contemporâneas modernistas.<br />
b) da primeira geração modernista.<br />
c) da segunda geração modernista.<br />
d) do parnasianismo.<br />
e) do dadaísmo.<br />
226. Mackenzie-SP<br />
E vivemos uns oito anos, até perto de 1930, na maior orgia<br />
intelectual que a história artística do país registra.<br />
Mário de Andrade<br />
Assinale a alternativa na qual aparece um fato cultural<br />
que não se encaixa no período mencionado acima.<br />
a) A exposição de trabalhos de Anita Malfatti, criticada<br />
por Monteiro Lobato.<br />
b) O Manifesto Pau-Brasil.<br />
c) As duas “dentições” da Revista de antropofagia.<br />
d) O Verde-Amarelismo.<br />
e) A revista klaxon.<br />
227. PUCCamp-SP<br />
As afirmações a seguir são do escritor Mário de Andrade,<br />
e referem-se a obras suas:<br />
I. Evidentemente não tenho a pretensão de que meu<br />
livro sirva para estudos científicos e folclore. Fantasiei<br />
quando queria e sobretudo quando carecia para que<br />
a invenção permanecesse arte e não documentação<br />
seca de estudo. Basta ver a macumba carioca desgeograficada<br />
com cuidado, com elementos dos candomblés<br />
baianos e das pangelanças paraenses.<br />
II. Carlos carece de espelho e tem vergonha de se<br />
olhar nele, falo eu no meu jogo de imagens, depois<br />
qualquer ação desonesta. Por isso se conversa<br />
honesto para poder olhar no espelho. A honestidade<br />
dele é uma secreção biológica. Pentear sem<br />
espelho na frente faz o repartido sair torto e isso<br />
deixa os cabelos doendo. Na própria página em que<br />
“inventei” o crescimento de Carlos, inculco visivelmente<br />
que ele vai ser honesto na vida por causa<br />
das reações fisiológicas. Porém não me conservei<br />
apenas nesse naturalismo que repudio, não.<br />
III. Estou na segunda parte, já escrevi 50 páginas e<br />
ainda não escrevi a primeira cena na parte que<br />
é Chico Antônio na fazenda acalmando os bois<br />
irritados com a morte dum novilho. A não ser algumas<br />
análises psicológicas mais fundas, o resto<br />
é descrição da realidade tal como é, só pra que a<br />
realidade atual fique descrita e se grave.<br />
Mário de Andrade fala de Amar, verbo intransitivo:<br />
a) em I, II e III.<br />
b) apenas em II e III.<br />
c) apenas em I e II.<br />
d) apenas em II.<br />
e) apenas em I.<br />
228. UFRJ<br />
De manhã<br />
O hábito de estar aqui agora<br />
aos poucos substitui a compulsão<br />
de ser o tempo todo alguém ou algo.<br />
Um belo dia – por algum motivo<br />
é sempre dia claro nesses casos –<br />
você abre a janela, ou abre um pote<br />
de pêssegos em calda, ou mesmo um livro<br />
que nunca há de ser lido até o fim<br />
e então a idéia irrompe, clara e nítida:<br />
É necessário? Não. Será possível?<br />
De modo algum. Ao menos dá prazer?<br />
Será prazer essa exigência cega<br />
a latejar na mente o tempo todo?<br />
Então por quê?<br />
E neste exato instante<br />
você por fim entende, e refestela-se<br />
a valer nessa poltrona, a mais cômoda<br />
da casa, e pensa sem rancor:<br />
Perdi o dia, mas ganhei o mundo.<br />
(Mesmo que seja por trinta segundos.)<br />
BRITO, Paulo Henriques. As três epifanias – III. In: BRITO, P.<br />
H.Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 72-73<br />
223
As conquistas do Modernismo repercutem na literatura<br />
até os dias atuais. Identifique dois recursos formais<br />
valorizados pela linguagem modernista e associe-os<br />
à experiência representada no texto anterior.<br />
229. UEL-PR<br />
Considere as seguintes afirmações sobre a produção<br />
literária de Mário de Andrade:<br />
I. Na década de 1920, marco de sua ficção está<br />
nessa “rapsódia” em que busca demostrar não<br />
o “caráter do homem brasileiro”, mas o aspecto<br />
pluralista de nossa cultura, representada pelo mais<br />
estranho dos “heróis”.<br />
II. Sua poesia chegou a servir, de certo modo, como<br />
exemplificação de seus ideais estéticos: veja-se a<br />
íntima relação entre o Prefácio interessantíssimo<br />
e os poemas de Paulicéia desvairada.<br />
III. É enorme o interesse pela cultura popular, e não<br />
apenas pelas manifestações artísticas desta: é na<br />
linguagem das ruas que vai buscar as bases de<br />
uma verdadeira “gramática brasileira”.<br />
Está correto o que vem afirmado em<br />
a) I, apenas. d) II e III apenas.<br />
b) I e II apenas. e) I, II e III.<br />
c) I e III apenas.<br />
230. UEL-PR<br />
A frase a seguir assume especial significado no conto<br />
O peru de Natal, de Mário de Andrade: Morreu meu<br />
pai, sentimos muito, etc. Sobre essa frase, é correto<br />
afirmar:<br />
a) É carregada do sentimentalismo típico de Mário<br />
de Andrade, que destoa da obra de outros autores<br />
modernistas.<br />
b) É representativa do estado de espírito e do estilo<br />
predominantes no conto e na dicção do narrador,<br />
caracterizado pela consternação e pela economia<br />
de palavras.<br />
c) É um recurso que prepara a substituição da narração<br />
do luto pela narração da alegria e do prazer<br />
na ceia de Natal.<br />
d) É uma ironia, porque a esposa e os filhos eram<br />
muito infelizes e não gostavam do homem que<br />
morreu, nem sequer lamentando sua morte.<br />
e) É uma ironia porque o filho, narrador-personagem,<br />
detestava o pai, chegando mesmo a difamá-lo<br />
perante os familiares na ceia de Natal.<br />
231. UFPR<br />
Sobre Contos Novos, de Mário de Andrade, é correto<br />
afirmar:<br />
01. O personagem Juca, narrando em mais de um<br />
conto diferentes acontecimentos e fases de sua<br />
vida, permite que o leitor testemunhe a construção<br />
de uma personalidade, dos desvaneios infantis às<br />
amizades e amores.<br />
02. A presença de um mesmo personagem em mais<br />
de um conto do livro de Mário de Andadre tem a<br />
mesma função que tem a recorrência de personagens<br />
nos contos de Em busca de Curitiba Perdida,<br />
de Dalton Trevisan.<br />
224<br />
04. Um traço comum entre os textos de Contos Novos<br />
é a revelação de aspectos mais delicados da vida,<br />
sentimentos normalmente solapados pela rotina<br />
ou por certa hostilidade ou formalidade presentes<br />
nas relações sociais<br />
08. Em alguns dos contos do livro, como O Poço e<br />
Primeiro de Maio, as relações de trabalho são<br />
representadas de forma a colocar em evidência as<br />
desigualdades e injustiças impostas pelo poder.<br />
16. A linguagem convencional na qual são escritos<br />
estes contos da maturidade de Mário de Andrade<br />
indica que ele se afastara bastante das propostas<br />
do Modernismo e assumira a preferência por uma<br />
literatura clássica, a mesma que anos antes ele<br />
havia combatido com tanto entusiasmo.<br />
32. Em Tempo da Camisolinha, o narrador adulto lembrase<br />
de si mesmo quando criança, criando uma convivência<br />
das vozes do menino e do adulto que amplifica<br />
a compreensão das diferenças sociais e individuais<br />
e mostra que a sensibilidade infantil também pode<br />
perceber “o infinito dos sofrimentos humanos”.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
Texto para as questões de 232 a 238.<br />
Texto I<br />
O poeta come amendoim<br />
Noites pesadas de cheiros e calores amontados...<br />
Foi o sol que por todo o sítio imenso do Brasil<br />
Andou marcando de moreno os brasileiros.<br />
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...<br />
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas<br />
[dos mulatos...<br />
Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos.<br />
Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.<br />
Só o murmurejo dos cr’em-deus-padre irmanava os<br />
[homens de meu país...<br />
Duma feita os canhamboras perceberam que não<br />
tinha mais escravos, por causa disso muita virgemdo-rosário<br />
se perdeu...<br />
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta<br />
[República temporã.<br />
A gente inda não sabia governar...<br />
Progredir, progredimos um tiquinho<br />
Que o progresso também é uma fatalidade...<br />
Será o que Nosso Senhor quiser!...<br />
Estou com desejos de desastres...<br />
Com desejos de Amazonas e dos ventos muriçocas<br />
Se encostando na canjera dos batentes...<br />
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...<br />
Tenho desejo de gemer e de morrer...<br />
Brasil...<br />
mastigado na gostosura quente do amendoim...<br />
falado numa língua curumim<br />
De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...<br />
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...<br />
Molham meus beiços que dão beijos alastrados<br />
E depois semitoam em malícia as rezas bem nascidas...<br />
Brasil amado não porque seja minha pátria,<br />
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde<br />
Deus der...<br />
Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço<br />
[aventuroso,
PV2D-07-54<br />
O gosto dos meus descansos,<br />
O balanço das minhas cantigas, amores e danças.<br />
Brasil que eu sou porque é minha expressão muito<br />
[engraçada,<br />
Porque é o meu sentimento pachorrento,<br />
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer<br />
[e de dormir.<br />
Mário de Andrade. Poesias completas.<br />
São Paulo : Martins, 1996. pp.<strong>10</strong>9-1<strong>10</strong><br />
Texto II<br />
A política é a arte de gerir o Estado, segundo<br />
princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou<br />
tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de<br />
explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui<br />
a política uma função, ou conjunto das funções do<br />
organismo nacional: é o exercício normal das forças<br />
de uma nação consciente e senhora de si mesma. A<br />
politicalha, pelo contrário, é o envenamento crônico<br />
dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de<br />
parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países<br />
moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos<br />
de moralidade estragada.<br />
Rui Barbosa. Texto reproduzido em ROSSIGNOLI, Walter.<br />
Português: teoria e prática. 2a ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 19<br />
232. Cesgranrio-RJ<br />
Neste poema de Mário de Andrade, que pertence ao<br />
seu livro Clã do Jabuti (1927), o autor exprime um ponto<br />
de vista sentimental bastante particular sobre o Brasil.<br />
Esse ponto de vista deve ser definido como:<br />
a) uma fé inabalável no futuro do país.<br />
b) uma visão realista das grandezas nacionais.<br />
c) um nacionalismo desprovido de efusões patrióticas.<br />
d) um patriotismo de fundo saudosista.<br />
e) uma nova espécie de ufanismo.<br />
233. Cesgranrio-RJ<br />
A maneira como o poeta se refere ao passado políticosocial<br />
da nação (Texto I, v. 5-12) nos leva a concluir<br />
que:<br />
a) o Brasil de outrora e o do presente são muito<br />
constrastantes.<br />
b) a nação brasileira foi tratada com muita reverência<br />
pelo autor.<br />
c) o poeta atribui grande importância ao período<br />
imperial.<br />
d) existe um desencanto geral pelo fracasso político<br />
de nossos governos.<br />
e) não há nostalgia na evocação desse passado.<br />
234. Cesgranrio-RJ<br />
A característica do estilo modernista ausente no<br />
texto I é:<br />
a) a ruptura com as convenções literárias.<br />
b) expressão do dinamismo da realidade urbana<br />
moderna.<br />
c) valorização da fala brasileira.<br />
d) presença da visão irônica.<br />
e) emprego do verso livre.<br />
235. Cesgranrio-RJ<br />
O poema de Mário de Andrade apresenta semelhanças<br />
notáveis com o romance de Manuel Antônio de<br />
Almeida, Memórias de um sargento de milícias, uma<br />
das obras mais originais de nosso romantismo literário.<br />
Essas semelhanças correspondem a:<br />
a) abordagem satírica de nosso sistema monárquico /<br />
forte conteúdo religioso.<br />
b) desprezo pelo folclore nacional / presença de<br />
heróis excepcionais.<br />
c) sentimentalismo exacerbado / ênfase nas descrições<br />
da paisagem brasileira.<br />
d) abrasileiramento da expressão literária / visão<br />
desmistificadora da realidade do país.<br />
e) crítica ao indianismo romântico / idealização do<br />
comportamento amoroso.<br />
236. Cesgranrio-RJ<br />
Apesar de suas diferenças de natureza histórico-literária,<br />
é possível constatar um traço de identidade entre o<br />
texto de Mário de Andrade e o de Rui Barbosa. Esse<br />
elemento corresponde à:<br />
a) constatação da riqueza de nossa cultura.<br />
b) negação do fervor patriótico.<br />
c) visão sátirica da corrupção política<br />
d) riqueza de expressão de valor antiético.<br />
e) ênfase na função crítico-social da literatura.<br />
237. Cesgranrio-RJ<br />
A opção que não apresenta nenhuma correspondência<br />
com o conteúdo do texto I é:<br />
a) A politicalha é denunciada como uma patologia da<br />
vida nacional.<br />
b) entende-se politicalha como sinônimo de política<br />
partidária.<br />
c) destacam-se definições que sublinham a natureza<br />
ética e social da política.<br />
d) atribui-se uma conotação particular ao substantivo<br />
parasita.<br />
e) o autor estabelece oposição entre o verdadeiro<br />
sentido da política e o seu falso sentido.<br />
238. Cesgranrio-RJ<br />
Do ponto de vista do uso da língua, o texto II de Rui<br />
Barbosa diverge do texto I por apresentar:<br />
a) preferência marcada por brasileirismos na seleção<br />
vocabular.<br />
b) quebras na organização sintática dos períodos.<br />
c) falta de uma pontuação rigorosa e clara.<br />
d) menor aproximação com a fala corrente do homem<br />
brasileiro.<br />
e) presença de desvios em relação à norma culta.<br />
Textos para as questões de 239 a 241.<br />
São Paulo <strong>10</strong> de Novembro, 1924<br />
Meu caro Carlos Drummond<br />
(...) Eu sempre gostei muito de viver, de maneira<br />
que nenhuma manifestação da vida me é indiferente.<br />
Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto<br />
da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto entusiasmo<br />
e carinho no escrever um dístico que vai figurar<br />
225
nas paredes dum bailarico e morrer no lixo depois como<br />
um romance a que darei a impassível eternidade da<br />
impressão. Eu acho, Drummond, pensando bem, que<br />
o que falta pra certos moços de tendência modernista<br />
brasileiros é isso: gostarem de verdade da vida. Como<br />
não atinaram com o verdadeiro jeito de gostar da vida,<br />
cansam-se, ficam tristes ou então fingem alegria o que<br />
ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu<br />
não posso compreender um homem de gabinete e<br />
vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem<br />
um pouco de gabinete demais. Meu Deus! se eu estivesse<br />
nessas terras admiráveis em que vocês vivem,<br />
com que gosto, com que religião eu caminharia sempre<br />
pelo mesmo caminho (não há mesmo caminho pros<br />
amantes da Terra) em longas caminhadas! Que diabo!<br />
estudar é bom e eu também estudo. Mas depois do<br />
estudo do livro e do gozo do livro, ou antes vem o<br />
estudo e gozo da ação corporal. (...) E então parar e<br />
puxar conversa com gente chamada baixa e ignorante!<br />
Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se<br />
não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a<br />
sentir e não com a inteligência e a erudição livresca.<br />
Eles é que conservam o espírito religioso da vida e<br />
fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de<br />
religião. Eu conto no meu “Carnaval carioca” um fato<br />
a que assisti em plena Avenida Rio Branco. Uns negros<br />
dançando o samba. Mas havia uma negra moça<br />
que dançava melhor que os outros. Os jeitos eram os<br />
mesmos, mesma habilidade, mesma sensualidade,<br />
mas ela era melhor. Só porque os outros faziam aquilo<br />
um pouco decorado, maquinizado, olhando o povo<br />
em volta deles, um automóvel que passava. Ela, não.<br />
Dançava com religião. Não olhava pra lado nenhum.<br />
Vivia a dança. E era sublime. Este é um caso em que<br />
tenho pensado muitas vezes. Aquela negra me ensinou<br />
o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não<br />
me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade.<br />
ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a<br />
Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982<br />
Inúmeros são os casos de troca de correspondência<br />
entre artistas, escritores, músicos, cineastas,<br />
teatrólogos e homens comuns em nossa tradição literária.<br />
Mário de Andrade, por exemplo, foi talvez o maior<br />
de nossos missivistas. Escreveu e recebeu cartas<br />
de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade,<br />
Tarsila do Amaral, Câmara Cascudo, Pedro Nava,<br />
Fernando Sabino, só para citar alguns. O conjunto de<br />
sua correspondência não só nos ajuda a conhecer o<br />
seu pensamento, seus valores e sua própria vida, como<br />
também entender boa parte da história e da cultura<br />
brasileira do século XX.<br />
DINIZ, Júlio. Cartas: narrativas do eu e do mundo<br />
In Leituras compartilhadas - cartas. Fascículo especial 2, ano 4.<br />
Rio de Janeiro: Leia Brasil / Petrobrás, 2004, p.<strong>10</strong>.<br />
239. PUC-RJ<br />
A partir da leitura do trecho da carta de Mário a Drummond<br />
e do comentário acima, responda ao seguinte<br />
item:<br />
Mário de Andrade, ao comentar um trecho de seu<br />
poema Carnaval Carioca, demonstra encanto por<br />
uma moça que, segundo ele, dançava com religião.<br />
Explique, com suas palavras, o que seria, na visão do<br />
autor, dançar com religião.<br />
226<br />
240. PUC-RJ<br />
a) Percebe-se na carta, uma crítica direta a uma certa<br />
postura elitista em relação à arte e à vida de grande<br />
parte da intelectualidade brasileira da época. Retire do<br />
texto duas passagens que comprovam tal afirmação.<br />
b) Comente, com suas próprias palavras, a visão<br />
que Mário de Andrade possui das manifestações<br />
estéticas oriundas do povo.<br />
241. PUC-RJ<br />
Retirado do contexto, o trecho não há mesmo caminho<br />
pros amantes da Terra pode ser interpretado de duas<br />
maneiras distintas, considerando-se diferentes acepções<br />
atribuídas à palavra mesmo.<br />
a) Quais são as interpretações possíveis?<br />
b) Qual é interpretação mais adequada à carta de<br />
Mário de Andrade? Justifique a sua resposta.<br />
242. Fuvest-SP<br />
Em “O poço”, de Contos novos, as personagens<br />
principais são de carne e osso, mas o silencioso<br />
protagonista do conto é mesmo aquele poder que<br />
vem de muito longe, do nosso passado colonial e das<br />
relações escravistas, aqui encarnado no autoritarismo<br />
caprichoso e arbitrário que se arroga todos os direitos,<br />
que se impõe ao absolutamente fraco e submisso — e<br />
que chega a se desnortear diante da dignidade custosa<br />
de um gesto de rebeldia.<br />
a) Destaque do texto, estritamente, uma expressão<br />
que se refira a cada uma das personagens:<br />
Albino (irmão mais novo),<br />
José (irmão mais velho),<br />
Joaquim Prestes.<br />
b) Além de sua forte presença material, o poço que<br />
está no centro deste conto pode ser tomado como<br />
um símbolo expressivo.<br />
Procede a afirmação acima? Justifique sua resposta.<br />
243. Unicamp-SP<br />
Foi lá no fundo do jardim campear banco escondido. Já<br />
passavam negras disponíveis por ali. E o 35 teve uma<br />
idéia muito não pensada, recusada, de que ele também<br />
estava uma espécie de negra disponível, assim.<br />
a) No conto Primeiro de Maio, de Mário de Andrade,<br />
o personagem central quer comemorar o feriado,<br />
mas seus passos o levam para a Estação da Luz.<br />
Explique por quê.<br />
b) Como se explica sua identificação com “uma negra<br />
disponível”?<br />
244. UFSM-RS<br />
A respeito da obra de Mário de Andrade, assinale verdadeira<br />
(V) ou falsa (F) em cada afirmação a seguir.<br />
( ) Paulicéia desvairada, livro de poemas, abre-se<br />
com um prefácio interessantíssimo em que o poeta<br />
declara ter fundado o desvairismo.<br />
( ) Macunaíma, através da figura loura e esbelta do<br />
herói, propõe a louvação da colonização européia,<br />
graças à qual se afirmou a nação brasileira.<br />
( ) Amar, verbo intransitivo, apresenta um enredo que<br />
se caracteriza por desmascarar a hipocrisia e o<br />
convencionalismo da burguesia paulistana.
PV2D-07-54<br />
A sequência correta é<br />
a) V - V - F<br />
b) V - F - V.<br />
c) F - F - V<br />
d) F - V - F<br />
e) V - F - F<br />
245.<br />
Sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, é<br />
incorreto afirmar que:<br />
a) segue os padrões estabelecidos pelo romance<br />
brasileiro inaugurado pela geração realista-naturalista,<br />
obedecendo rigorosamente aos conceitos<br />
da verossimilhança.<br />
b) é uma rapsódia, em que o autor mistura mitos e<br />
lendas do folclore brasileiro.<br />
c) o índio brasileiro é mostrado de forma totalmente<br />
oposta àquela do Romantismo.<br />
d) o personagem principal vem a São Paulo à procura<br />
de determinado objeto que ele havia perdido.<br />
e) em relação aos modelos tradicionais, é um antiherói,<br />
pois não assume as características próprias<br />
dos mesmos.<br />
246. UFV-MG<br />
Leia as seguintes afirmações a respeito da estrutura<br />
narrativa de Macunaíma, de Mário de Andrade:<br />
I. O autor modernista reúne, ludicamente, nessa<br />
obra de ficção, um farto material representativo<br />
da cultura nacional, como o folclore, os mitos,<br />
a religiosidade, a linguagem, unindo a realidade<br />
à fantasia e trazendo à tona questões sobre a<br />
identidade cultural brasileira.<br />
II. O narrador, em Macunaíma, apresenta ironicamente<br />
o perfil do “herói da nossa gente”, utilizando-se de<br />
uma colagem de lendas indígenas, contadas de formas<br />
variadas, unindo diferentes estilos narrativos.<br />
III. Mário de Andrade faz dessa obra uma epopéia<br />
dos feitos do herói Macunaíma, em estilo ufanista<br />
e idealizador do personagem, dando ênfase ao<br />
caráter nacionalista proposto na primeira fase do<br />
Modernismo brasileiro.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Apenas a afirmativa I é verdadeira.<br />
b) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.<br />
c) Apenas a afirmativa II é verdadeira.<br />
d) Apenas a afirmativa III é verdadeira.<br />
e) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.<br />
247.<br />
Com relação à obra Macunaíma, podemos afirmar que:<br />
a) o tom crítico e amargo da obra a distancia das<br />
vanguardas artísticas européias.<br />
b) o beletrismo parnasiano da época é satirizado no<br />
capítulo “Carta pras Icamiabas”.<br />
c) quando Macunaíma vem a São Paulo, há uma<br />
espécie de inversão dos relatos quinhentistas da<br />
Literatura Informativa, já que agora é o índio que<br />
vai apresentar sua civilização para a cidade.<br />
d) o herói sem nenhum caráter é um tratamento utilizado<br />
para alertar o leitor de que Macunaíma não<br />
é um modelo e, portanto, pouco tem a transmitir<br />
para sua geração.<br />
e) Ci se vinga de Macunaíma, pois ele brincara com<br />
uma portuguesa e não cumprira seu compromisso<br />
com as filhas da Sol.<br />
248. PUC-SP<br />
O título da obra Macunaíma é especificado com Herói<br />
sem nenhum caráter. A alternativa que não é verdadeira<br />
em relação à especificação é:<br />
a) o caráter do herói é ele não ter caráter definido.<br />
b) o protagonista assume várias esferas de ação, daí<br />
ser simultaneamente herói e anti-herói.<br />
c) a fragilidade de caráter do protagonista faz com<br />
que este perca, no decorrer da obra, sua característica<br />
de herói.<br />
d) o herói se configura com suas qualidades paradoxais,<br />
ele é ao mesmo tempo preguiçoso e esperto,<br />
irreverente e simpático, valente e covarde.<br />
e) o caráter do herói é contraditório, pois ele se caracteriza<br />
como um “sonso-sabido.”<br />
249. UFV-MG<br />
Dentre as alternativas que se seguem, assinale aquela<br />
que transmite informações incorretas a respeito de<br />
Macunaíma, o personagem central da obra modernista<br />
homônima.<br />
a) Macunaíma é o “herói sem nenhum caráter” por<br />
não possuir uma identidade única: nasce índionegro<br />
e, após banhar-se em águas encantadas,<br />
fica branco, louro, de olhos azuis.<br />
b) Macunaíma configura-se como um ser múltiplo,<br />
condensando diferentes características como a<br />
bondade, a maldade, a vaidade e, sobretudo, a<br />
ingenuidade infantil.<br />
c) O personagem marioandradino é aventureiro,<br />
individualista e, não tendo aptidão para o trabalho,<br />
prefere sempre a vida fácil, como a descoberta de<br />
dinheiro enterrado.<br />
d) Macunaíma é o expoente máximo do sincretismo<br />
religioso brasileiro, professando simultaneamente<br />
o catolicismo, o espiritismo e a macumba, misturados<br />
ainda aos rituais e crenças indígenas.<br />
e) Em busca da muiraquitã, Macunaíma percorre<br />
todo o território brasileiro e os diferentes países<br />
da Europa, tornando-se, assim, um herói sem<br />
fronteiras e sem pátria.<br />
250. Uniube-MG<br />
Em relação à obra Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
assinale a alternativa incorreta.<br />
a) A obra de Mário de Andrade revela a situação de<br />
desterro do brasileiro em sua própria terra. É neste<br />
sentido que o herói não tem caráter: Macunaíma<br />
não encontra sua identidade como parte de um<br />
projeto coletivo. Seu fracasso, radicalmente<br />
pessimista, mostra que a literatura modernista<br />
apresentava uma visão crítica da nossa história.<br />
227
) Macunaíma traz em si atributos de herói, por constituir-se<br />
como um ser fantástico, entre humano e<br />
mítico. O personagem reúne traços diferenciados,<br />
sofre mudanças extraordinárias, apresenta dupla<br />
configuração, não se assemelhando a nenhum<br />
indivíduo empírico, como os que conhecemos na<br />
vida real.<br />
c) Macunaíma é um herói, porque vai em busca<br />
de um bem essencial, enfrenta perigos, vence<br />
obstáculos, ainda que, no fim, saia derrotado. O<br />
triste exílio cósmico, que encerra a narrativa, faz<br />
de Macunaíma um herói trágico. E, se não fosse<br />
a dimensão cômica, que igualmente compõe a<br />
narrativa, a leitura da obra seria extremamente<br />
sofrida.<br />
d) Nesta obra, Mário de Andrade retoma o mito do<br />
bom selvagem. Macunaíma é um herói romântico,<br />
cuja mente selvagem, pura e inocente não abriga<br />
segundas intenções. No ambiente paradisíaco<br />
da Amazônia, seu comportamento não conhece<br />
interdições: livre da obrigação do trabalho, pode<br />
usufruir a “divina preguiça” que rege a vida na tribo<br />
tapanhumas.<br />
251. UFV-MG<br />
Leia com atenção o fragmento abaixo, extraído do<br />
poema Marabá, de Gonçalves Dias.<br />
Eu vivo sozinha; ninguém me procura!<br />
Acaso feitura<br />
Não sou de Tupá?<br />
Algum dentre os homens de mim não se esconde,<br />
– “Tu és,”, me responde,<br />
“Tu és Marabá!”<br />
Meus olhos são garços, são cor de safiras,<br />
Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;<br />
Imitam as nuvens de um céu anilado,<br />
As cores imitam das vagas do mar!<br />
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:<br />
– “Teus olhos são garços”,<br />
Responde anojado; “mas és Marabá”:<br />
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes”,<br />
“Uns olhos fulgentes”,<br />
“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”<br />
[...]<br />
DIAS, Gonçalves. Poemas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. pp. 86-87.<br />
Vocabulário<br />
marabá – filho de índio com branco<br />
garços – esverdeados<br />
anajá – fruto verde-amarelo, também conhecido como cocoindaiá.<br />
Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela que não<br />
contém informações verdadeiras a respeito do poema<br />
indianista Marabá, assim como de sua intertextualidade<br />
com a obra modernista Macunaíma.<br />
a) A heroína romântica e Macunaíma ilustram, ambos,<br />
a falta de identidade do povo brasileiro, enquanto<br />
produto da miscigenação de raças.<br />
b) Ao dar voz a uma personagem feminina, Gonçalves<br />
Dias atualiza um recurso comum às cantigas<br />
de amigo do Trovadorismo português.<br />
c) A musa mestiça do poema gonçalvino vive a dolorosa<br />
experiência do desprezo e da rejeição pelos<br />
próprios índios, também seus irmãos de sangue.<br />
228<br />
d) Macunaíma simboliza também uma fusão de<br />
diferentes raças e sua mistura étnica, a exemplo<br />
da heroína romântica, priva-o da convivência<br />
feminina.<br />
e) O poema Marabá focaliza a solidão e a marginalidade<br />
da personagem romântica e eleva a questão<br />
racial brasileira ao mais puro simbolismo afetivo.<br />
Texto para as questões de 252 a 256.<br />
Uma feita janeiro chegado Macunaíma acordou<br />
tarde com o pio agourento do tincuã. No entanto era<br />
dia feito e a cerração já entrara pro buraco... O herói<br />
tremeu e apalpou o feitiço que trazia no pescoço,<br />
um ossinho de piá morto pagão. Procurou o aruaí,<br />
desaparecera. Só o galo com a galinha brigando por<br />
causa duma aranha derradeira. Fazia um calorão<br />
parado tão imenso que se escutava o sininho de vidro<br />
dos gafanhotos. Vei, a Sol, escorregava pelo corpo de<br />
Macunaíma, fazendo cosquinhas, virada em mão de<br />
moça. Era malvadeza da vingarenta só por causa do<br />
herói não ter se amulherado com uma das filhas da<br />
luz. A mão da moça vinha e escorregava tão de manso<br />
no corpo... Que vontade nos músculos pela primeira<br />
vez espetados depois de tanto tempo! Macunaíma se<br />
lembrou que fazia muito não brincava. Água fria diz<br />
que é bom pra espantar as vontades... O herói escorregou<br />
da rede, tirou a penugem de teia vestindo todo<br />
o corpo dele e descendo até o vale de Lágrimas foi<br />
tomar banho num sacado perto que os repiquetes do<br />
tempo-das-águas tinham virado num lagoão.<br />
Macunaíma depôs com delicadeza os legornes<br />
na praia e se chegou pra água. A lagoa estava toda<br />
coberta de ouro e prata e descobriu o rosto deixando<br />
ver o que tinha no fundo. E Macunaíma enxergou lá<br />
no fundo uma cunhã lindíssima, alvinha e padeceu de<br />
mais vontade. E a cunhã lindíssima era a Uiara.<br />
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.<br />
Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos.<br />
São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978. p. 142.<br />
252.<br />
Em Macunaíma, o personagem deixa seu espaço de<br />
origem e vai a São Paulo, onde se modifica, tomando<br />
gosto pelos valores europeus. Assim, em lugar de se<br />
casar com uma das filhas de Vei, a Sol, opta por ficar<br />
com uma portuguesa. Vei, a Sol, na obra, atua como<br />
personagem que representa:<br />
a) os valores de uma terra tropical.<br />
b) a figura da sogra sempre maledicente e cruel.<br />
c) a mulher protetora dos seres melancólicos.<br />
d) a sensualidade da mulher européia.<br />
e) a astúcia da jovem que deseja seduzir.<br />
253.<br />
Para se vingar, Vei, a Sol, usa de artimanhas:<br />
a) Desperta os desejos sexuais do herói, passandolhe<br />
pelo corpo suas mãos de moça, e leva-o para<br />
junto da Uiara, que, na verdade, é uma de suas<br />
filhas transfigurada.<br />
b) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço<br />
de maneira a deixá-lo desprovido de proteção e o<br />
conduz à Uiara, que é uma portuguesa que com<br />
ele quer se casar.
PV2D-07-54<br />
c) Transforma as águas quentes do lagoão em águas<br />
frias como as européias; dá à Uiara aspecto de<br />
mulher européia.<br />
d) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço<br />
e mata o aruaí, animal que acompanhava o personagem<br />
em seu retorno ao Uraricoera, deixando<br />
Macunaíma perturbado.<br />
e) Desperta, por meio de carícias, as lembranças<br />
sensuais de Macunaíma e leva-o para a Uiara, ente<br />
fantástico que habita os rios da região amazônica.<br />
254.<br />
“O pio agourento do tincuã” prenuncia:<br />
a) a morte de Caiuanogue, irmão de Macunaíma.<br />
b) o reaparecimento de Venceslau Pietro Pietra.<br />
c) a perda definitiva da muiraquitã, presente de Ci,<br />
Mãe do Mato.<br />
d) o desaparecimento de Ci, a Mãe do Mato.<br />
e) a inundação e o fim do Uraricoera.<br />
255.<br />
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter é obra<br />
representativa:<br />
a) do pré-modernismo brasileiro, visto que registra<br />
preocupação com as dificuldades dos emigrantes<br />
na cidade de São Paulo.<br />
b) da primeira geração modernista, porque procura<br />
resgatar manifestações culturais brasileiras.<br />
c) da segunda geração modernista, uma vez que<br />
os problemas políticos brasileiros aí se fazem<br />
presentes.<br />
d) do movimento futurista brasileiro, posto romper, de<br />
maneira excessivamente agressiva, com a tradição<br />
literária brasileira.<br />
e) do Movimento Pau-Brasil, uma vez que o primitivismo<br />
é apontado como solução para os problemas<br />
da cultura brasileira.<br />
256.<br />
Analise a frase: “Água fria diz que é bom pra espantar<br />
as vontades...”. Nela encontramos:<br />
a) uma personificação da água, que está em acordo<br />
com as características fantasiosas do romance.<br />
b) uma referência ao índio sábio Água Fria, que aparece<br />
algumas vezes como conselheiro do herói.<br />
c) uma inversão da posição de termos, que realça<br />
o espírito preciosista dos escritores modernistas<br />
quanto ao uso da linguagem.<br />
d) um verbo “dizer” usado no singular para concordar<br />
com a expressão anterior e desfazer ambigüidades.<br />
e) um traço coloquial, típico dos textos modernistas,<br />
que se sobrepõe a normas gramaticais.<br />
257. Fatec-SP<br />
De outras e muitas grandezas vos poderíamos<br />
ilustrar, senhoras Amazonas, não fora persignar demasiado<br />
esta epístola; todavia, com afirma-vos que<br />
esta é, por sem dúvida, a mais bela cidade terráquea,<br />
muito hemos feito em favor destes homens de prol.<br />
Mas cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio,<br />
uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis qua<br />
a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigio-<br />
sa, que falam numa língua e escrevem noutra. Assim<br />
chegado a estas plagas hospitalares, nos demos ao<br />
trabalho de bem nos inteiramos da etnologia da terra,<br />
e dentre muita surpresa e assombro que se nos deparou,<br />
por certo não foi das menores tal originalidade<br />
lingüística. Nas conversas utilizam-se os paulistanos<br />
dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e<br />
impuro na vernaculidade, mas que não deixa de ter<br />
o seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas<br />
vozes do brincar. Destes e daquelas nos inteiramos,<br />
solícito; e nos será grata empresa vo-las ensinarmos<br />
aí chegado. Mas si de tal desprezível língua se utilizam<br />
na conversação os naturais desta terra, logo que<br />
tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e<br />
surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa<br />
outra linguagem, mui próximo da vergiliana, no dizer<br />
dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível<br />
galhardia, se intitula: língua de Camões!<br />
De tal originalidade e riqueza vos há-de ser grato<br />
ter ciência, e mais ainda vos espantareis com saberdes,<br />
que à grande e quase total maioria, nem essas<br />
duas línguas bastam, senão que se enriquecem do<br />
mais lídimo italiano, por mais musical e gracioso, e que<br />
por todos os recantos da urbs é versado.<br />
Mário de Andrade, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter<br />
A “Carta pras Icamiabas” contrasta, pelo estilo, com<br />
os demais capítulos de Macunaíma. Afirma-se que a<br />
carta escrita pelo herói a suas súditas, no contexto<br />
do romance:<br />
I. parodia o estilo parnasiano, o que se constata pela<br />
escolha de vocabulário preciosista, pelo tratamento<br />
em 2a pessoa do plural e pelo emprego da ordem<br />
indireta na frase.<br />
II. ironiza o artificialismo parnasiano, cuja poesia desprezava<br />
soluções coloquiais, próximas da língua<br />
falada.<br />
III. expressa, pela ironia, a tese modernista da incorporação<br />
de contribuições do linguajar do imigrante,<br />
integrado à população nacional.<br />
IV. representa o antimodernismo, pois traz soluções<br />
de linguagem e de estilo que o Modernismo negou,<br />
em nome da nacionalização da língua literária.<br />
São corretas as afirmações:<br />
a) I, II, III e IV. d) II e IV apenas.<br />
b) I e IV apenas. e) II, III e IV apenas.<br />
c) I, II e III apenas.<br />
258. Fuvest-SP<br />
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo<br />
algibebe 1 em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se<br />
porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando,<br />
não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego<br />
de que o vemos empossado, e que exercia, como<br />
dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele<br />
no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria<br />
da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia 2<br />
rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe<br />
justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal<br />
apessoado, e sobretudo era maganão 3 . Ao sair do Tejo,<br />
estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo<br />
fingiu que passava distraído por junto dela, e com o<br />
ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no<br />
pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo,<br />
sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe<br />
também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas<br />
costas da mão esquerda. Era isto uma declaração<br />
em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto<br />
229
do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a<br />
mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença<br />
de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia<br />
seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e<br />
familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.<br />
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias<br />
Vocabulário<br />
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.<br />
2saloia: aldeã das imediações de Lisboa.<br />
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.<br />
No excerto, as personagens manifestam uma característica<br />
que também estará presente na personagem<br />
Macunaíma. Essa característica é a:<br />
a) disposição permanentemente alegre e bem-humorada.<br />
b) discrepância entre a condição social humilde e a<br />
complexidade psicológica.<br />
c) busca da satisfação imediata dos desejos.<br />
d) mistura das raças formadoras de identidade nacional<br />
brasileira.<br />
e) oposição entre o físico harmonioso e o comportamento<br />
agressivo.<br />
Texto para as questões de 259 a 262.<br />
Uma feita em que deitara numa sombra enquanto<br />
esperava os manos pescando, o Negrinho do Pastoreio<br />
pra quem Macunaíma rezava diariamente, se apiedou<br />
do panema e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho<br />
uirapuru. Quando sinão quando o herói escutou um<br />
tatalar inquieto e o passarinho uirapuru pousou no<br />
joelho dele. Macunaíma fez um gesto de caceteação<br />
e enxotou o passarinho uirapuru. Nem bem minuto<br />
passado escutou de novo a bulha e o passarinho<br />
pousou na barriga dele. Macunaíma nem se amolou<br />
mais. Então o passarinho uirapuru agarrou cantando<br />
com doçura e o herói entendeu tudo o que ele cantava.<br />
E era que Macunaíma estava desinfeliz porque perdera<br />
a muiraquitã na praia do rio quando subia no bacupari.<br />
Porém agora, cantava o lamento do uirapuru, nunca<br />
mais que Macunaíma havia de ser marupiara não,<br />
porque uma tracajá engolira a muiraquitã e o mariscador<br />
que apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra<br />
verde pra um regatão peruano se chamando Venceslau<br />
Pietro Pietra. O dono do talismã enriquecera e parava<br />
fazendeiro e baludo lá em São Paulo, a cidade macota<br />
lambida pelo igarapé Tietê.<br />
Mário de Andrade, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.<br />
259. Unifesp<br />
Os “manos” mencionados no texto são:<br />
a) os índios que formam toda a tribo de Macunaíma.<br />
b) os amigos anônimos que Macunaíma encontrara<br />
em São Paulo e que passam alguns dias de descanso<br />
na Amazônia.<br />
c) Maanape e Jiguê, irmãos de Macunaíma.<br />
d) Piaimã, Oibê e os macumbeiros do Rio de Janeiro.<br />
e) Piaimã, Oibê, Maanape e Jiguê.<br />
230<br />
260. Unifesp<br />
Os vocábulos “muiraquitã” e “tracajá” têm os seus significados<br />
desvendados pelo contexto lingüístico interno,<br />
porque são substituídos, no próprio texto, por vocábulos<br />
ou expressões equivalentes. Os equivalentes para<br />
“muiraquitã” e “tracajá” são, respectivamente:<br />
a) “passarinho” e “tartaruga”.<br />
b) “talismã” e “tartaruga”.<br />
c) “pedra verde” e “mariscador”.<br />
d) “joelho” e “barriga”.<br />
e) “talismã” e “pedra verde”.<br />
261. Unifesp<br />
Pelas características da linguagem, que incorpora expressões<br />
da fala popular e mobiliza o léxico de origem indígena,<br />
pelo ambiente sugerido e também pela presença do<br />
uirapuru, o texto dá mostras de pertencer ao estilo:<br />
a) romântico, de linha indianista.<br />
b) simbolista, de linha esotérica.<br />
c) modernista, de linha Pau-Brasil e antropofágica.<br />
d) naturalista, de linha nacionalista.<br />
e) pós-modernista, de linha neo-parnasiana.<br />
262. Unifesp<br />
O sujeito da oração Mandou o passarinho uirapuru<br />
pode ser identificado por meio da análise do contexto<br />
lingüístico interno. Trata-se de:<br />
a) sujeito indeterminado.<br />
b) uirapuru = sujeito expresso.<br />
c) passarinho = sujeito expresso.<br />
d) Ele (o herói) = sujeito oculto.<br />
e) Ele (o Negrinho do Pastoreio) = sujeito oculto.<br />
263. UFPE<br />
Na(s) questão(ões) a seguir, escreva nos parênteses<br />
a letra (V) se a afirmativa for verdadeira ou (F) se for<br />
falsa.<br />
Observe:<br />
“No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói<br />
de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da<br />
noite”.<br />
Macunaíma / Mário de Andrade<br />
( ) O autor de Macunaíma foi um dos idealizadores da<br />
Semana de Arte Moderna, que iniciou o movimento<br />
modernista no Brasil.<br />
( ) O movimento modernista, entre outras metas,<br />
propunha-se à busca de identidade nacional, o<br />
que se acha na obra citada.<br />
( ) A liberdade de expressão, o cotidiano, o coloquialismo,<br />
resultantes da desintegração da linguagem<br />
literária tradicional, foram preconizadas por Mário de<br />
Andrade como arauto e teórico do Modernismo.<br />
( ) Macunaíma representou a identificação de Mário<br />
com o nacionalismo primitivista.<br />
( ) Há uma gota de sangue em cada poema, obra<br />
escrita em 1917, sob a influência da I Guerra, não<br />
tem valor estético, apesar de constituir-se o título<br />
em uma experiência política.
PV2D-07-54<br />
Tome o poema abaixo para interpretar as questões<br />
264 e 265.<br />
Mulheres<br />
Como as mulheres são lindas!<br />
Inútil pensar que é do vestido...<br />
E depois não há só as bonitas:<br />
Há também as simpáticas.<br />
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:<br />
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai<br />
da cozinha.<br />
Como deve ser bom gostar de uma feia!<br />
O meu amor porém não tem bondade alguma.<br />
É fraco! Fraco!<br />
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...<br />
És linda como uma história da carochinha...<br />
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai<br />
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam<br />
no morro [atrás de casa e tinham cara de pau)<br />
Manuel Bandeira, Libertinagem<br />
264.<br />
Assinale a alternativa que não corresponda ao sentido<br />
expresso no texto.<br />
a) O poeta afirma o seu entusiasmo e adoração às<br />
mulheres todas.<br />
b) O poeta dedica a sua amada uma forma de amor<br />
inocente.<br />
c) O poeta afirma gostar de uma mulher feia.<br />
d) O poeta aponta a fraqueza do seu amor.<br />
e) O poeta ressalta que a beleza da mulher transcende<br />
às roupas.<br />
265.<br />
Os quatro últimos versos do poema podem ser resumidos<br />
na expressão:<br />
a) Amor ingênuo d) Amor erótico<br />
b) Amor tresloucado e) Amor urbano<br />
c) Amor fraterno<br />
266. Fuvest-SP<br />
Comparando-se Brás Cubas e Macunaíma, é correto<br />
afirmar que, apesar de diferentes, ambos:<br />
a) possuem muitos defeitos, mas conservam uma<br />
ingenuidade infantil, isenta de traços de malícia e<br />
de egoísmo.<br />
b) tiveram seu principal relacionamento amoroso com<br />
mulheres tipicamente submissas, desprovidas de<br />
iniciativa.<br />
c) não trabalham, caracterizando-se pela ausência<br />
de qualquer demanda ou busca que lhes mobilize<br />
o interesse.<br />
d) berram suas histórias diretamente ao leitor, em primeira<br />
pessoa, depois de mortos: Brás Cubas, como defunto<br />
autor; Macunaíma, utilizando-se do papagaio.<br />
e) têm a vida avaliada, na parte final dos relatos,<br />
em um pequeno balanço, ou breve avaliação de<br />
conjunto, com resultado negativo.<br />
267. Fuvest-SP<br />
A presença da temática indígena em Macunaíma, de<br />
Mário de Andrade, tanto participa _________ quanto<br />
representa uma retomada, com novos sentidos,<br />
__________.<br />
Mantida a seqüência, os trechos pontilhados serão<br />
preenchidos corretamente por:<br />
a) do movimento modernista da Antropofagia / do<br />
regionalismo da década de 30.<br />
b) do interesse modernista pela arte primitiva / do<br />
indianismo romântico.<br />
c) do movimento modernista da Antropofagia / do<br />
condoreirismo romântico.<br />
d) da vanguarda estética do Naturalismo / do indianismo<br />
romântico.<br />
e) do interesse modernista pela arte primitiva / do<br />
regionalismo da década de 30.<br />
268. ITA-SP<br />
Sobre Macunaíma, de Mário de Andrade, não se pode<br />
afirmar que:<br />
a) a obra apresenta uma mistura de lendas indígenas,<br />
crendices, anedotas e observações pessoais da<br />
vida cotidiana brasileira.<br />
b) assim como a personagem Macunaíma passa por<br />
uma série de metamorfoses, a linguagem também<br />
se transforma ao longo da obra.<br />
c) a personagem Macunaíma sintetiza o caráter<br />
nacional brasileiro do início do século.<br />
d) a história se passa inteiramente na floresta Amazônica,<br />
onde Macunaíma passa toda a sua vida<br />
ao lado dos irmãos Maanape e Jiguê.<br />
e) a obra traz para o campo da arte inovações de<br />
linguagem, como o ritmo, o léxico e a sintaxe<br />
coloquial para a escrita.<br />
269. UFAL<br />
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro<br />
passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam<br />
a falar exclamava:<br />
– Ai! que preguiça!...<br />
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca,<br />
trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos<br />
outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape<br />
já velhinho e Jiguê na força de homem.<br />
O trecho acima:<br />
a) introduz um romance indianista que consagrou<br />
José de Alencar.<br />
b) refere-se ao protagonista da obra-prima ficcional<br />
de Mário de Andrade.<br />
c) exemplifica a linguagem revolucionária de um<br />
romance de Oswald de Andrade.<br />
d) contém elementos típicos da prosa naturalista<br />
brasileira.<br />
e) constitui a abertura de uma das principais novelas<br />
de Guimarães Rosa.<br />
231
270. UFG-GO<br />
Leia, a seguir, o fragmento retirado do livro Macunaíma,<br />
de Mário de Andrade, e responda à questão proposta.<br />
– Meu avô, dá caça para mim comer?<br />
– Sim, Currupira fez.<br />
Cortou carne de perna moqueou e deu pro menino,<br />
perguntando:<br />
– O que você está fazendo na capoeira, rapaiz!<br />
– Passeando.<br />
– Não diga!<br />
– Pois é, passeando...<br />
Então contou o castigo da mãe por causa dele ter sido<br />
malévolo pros manos. E contando o transporte da casa<br />
de novo pra deixa onde não tinha caça deu uma grande<br />
gargalhada. O currupira olhou pra ele e resmungou:<br />
– Tu não é mais curumi, rapaiz, tu não é mais<br />
curumi não...<br />
Gente grande que faz isso...<br />
Uma característica importante das línguas é o fato de<br />
que elas não são uniformes nem estáticas. Fatores<br />
como região, classe social, idade, entre outros, explicam<br />
suas variações.<br />
Tendo em vista o comentário que você acabou de ler<br />
e as particularidades lingüísticas do trecho de Macunaíma,<br />
julgue os itens.<br />
( ) A construção “dá caça pra mim comer” é típica<br />
da linguagem oral, representando, portanto, uma<br />
variação de “dê-me caça para eu comer”, própria<br />
da norma-padrão.<br />
( ) O emprego de palavras como “rapaiz” e “faiz” revela<br />
variação no nível dos sons, indicando pronúncia<br />
de um falante, no caso o Currupira, que utiliza a<br />
variedade-padrão da língua.<br />
( ) Em “por causa dele ter sido malévolo”, ocorre<br />
uma variação no nível sintático, uma vez que esse<br />
enunciado, na norma-padrão, corresponde a “por<br />
causa de ele ter sido malévolo”.<br />
( ) O enunciado “Tu não é mais curumi”, apesar de<br />
ser um exemplo de falar informal, está de acordo<br />
com a língua-padrão, como se pode verificar pela<br />
concordância verbal.<br />
271. UFG-GO<br />
O projeto estético-ideológico do Modernismo tem no<br />
livro Macunaíma, de Mário de Andrade, uma de suas<br />
maiores realizações. Com base nessa afirmação,<br />
julgue as proposições.<br />
( ) O denominador comum da obra é o interesse<br />
pela variedade cultural do povo brasileiro, somado<br />
a uma desconstrução da linguagem literária<br />
acadêmica, mediante sobretudo a valorização da<br />
diversidade da língua nacional.<br />
( ) A construção da rapsódia combina procedimentos<br />
formais de vanguarda, como a justaposição<br />
(colagem) de lendas e mitos populares de origem<br />
variada, com um esforço de interpretação<br />
do país, sobressaindo a questão da identidade<br />
nacional.<br />
( ) A interpretação de vestígios primitivistas, presentes<br />
na cultura brasileira, obedece a esquemas<br />
naturalistas, ora com o tratamento cientificista<br />
das lendas folclóricas, ora com a reafirmação de<br />
232<br />
teses deterministas, numa evidente condenação<br />
da mestiçagem.<br />
( ) A perspectiva regionalista prevalece na obra,<br />
visto que o registro bruto da linguagem do<br />
homem rústico, a descrição detalhada de usos<br />
e costumes do brasileiro típico e o deslumbramento<br />
diante da paisagem natural demonstram<br />
um sentimento nacionalista entorpecido pelas<br />
belezas nacionais.<br />
272. UFJF-MG<br />
A respeito da obra Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
pode-se afirmar que é:<br />
a) um romance linear, que narra a educação de um<br />
herói.<br />
b) uma narrativa com tempo e espaço muito bem<br />
definidos.<br />
c) uma colagem de motivos e narrativas de origem<br />
diversa.<br />
d) um texto de linguagem extremamente erudita e<br />
formal.<br />
e) um conto baseado na história de uma pessoa<br />
verdadeira.<br />
273. UFMG<br />
As histórias de Macunaíma foram contadas pelo papagaio<br />
ao narrador, que vai continuar contando-as:<br />
“...ponteei na violinha e em toque rasgado botei a<br />
boca no mundo cantando na fala impura as frases de<br />
Macunaíma, herói de nossa gente”.<br />
Sabe-se que o livro Macunaíma foi considerado, por<br />
seu autor, uma rapsódia.<br />
Com relação a esse fato, é correto afirmar que:<br />
a) a palavra rapsódia significa narrativa acompanhada<br />
de viola.<br />
b) as histórias populares, tradicionalmente chamadas<br />
de rapsódia, são moralizadoras.<br />
c) o narrador “alinhava”, na rapsódia, histórias da<br />
tradição oral.<br />
d) rapsódia é o nome que se dá às narrativas orais<br />
recuperadas por escritores.<br />
274.<br />
Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha<br />
de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.<br />
Porém, no rio era impossível, por causa das piranhas tão<br />
vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um<br />
naco de irmã despedaçada, pulavam aos cachos pra fora<br />
d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa<br />
lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova<br />
era que nem a marca dum pé gigante. O herói depois de<br />
muitos gritos por causa do frio e da água entrou na cova<br />
e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque<br />
aquele buraco na lapa era a maracá do pezão do Sumé,<br />
do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus<br />
pra indianada brasileira. Quando o herói saiu do banho<br />
estava branco e louro e de olhos azuizinhos, água lavara<br />
o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar<br />
nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.<br />
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na<br />
marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava<br />
muito suja de negrume do herói e por mais que Jiguê<br />
esfregasse feito maluco atirando água pra todos os
PV2D-07-54<br />
lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma<br />
teve dó e consolou:<br />
— Olhe, mano Jiguê, branco você não ficou não,<br />
porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.<br />
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara<br />
toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só<br />
um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só<br />
a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem<br />
da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos<br />
e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na<br />
água santa. Macunaíma teve dó e consolou:<br />
— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe<br />
não, mais sofreu nosso tio Judas!<br />
Mário de Andrade, Macunaíma.<br />
a) O que cada um dos irmãos representa nesta<br />
cena?<br />
b) Como o episódio trata a nacionalidade brasileira?<br />
275. Fuvest-SP<br />
Leia atentamente as seguintes afirmações.<br />
A vida íntima do brasileiro nem é bastante coesa, nem<br />
bastante disciplinada, para envolver e dominar toda<br />
a sua personalidade e, assim, integrá-la, como peça<br />
consciente, no conjunto social. Ele é livre, pois, para<br />
se abandonar a todo repertório de idéias, gestos e<br />
formas que encontre em seu caminho, assimilando-os<br />
freqüentemente sem maiores dificuldades.<br />
Adaptado de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil<br />
a) Essas afirmações aplicam-se à personagem Brás<br />
Cubas? Justifique sucintamente sua resposta.<br />
b) E à personagem Macunaíma, essas afirmações se<br />
aplicam? Justifique resumidamente sua resposta.<br />
276. UFRJ<br />
A obra Macunaíma tem como subtítulo: o herói sem<br />
nenhum caráter. Com base em sua leitura desse livro,<br />
comente o subtítulo, relacionando-o ao personagem<br />
principal e aos eventos ocorridos na história.<br />
277. Fuvest-SP<br />
– Paciência, manos! não! não vou na Europa não. Sou<br />
americano e meu lugar é na América. A civilização<br />
européia decerto esculhamba a inteireza do nosso<br />
caráter.<br />
Mário de Andrade, Macunaíma.<br />
a) A opção pela América, afirmada nesta fala de Macunaíma,<br />
é coerente com a escolha por ele realizada<br />
na ocasião em que não se casou com uma das<br />
filhas de Vei, a Sol? Justifique resumidamente sua<br />
resposta.<br />
b) Pelo fato de ser dita por Macunaíma, a frase “A civilização<br />
européia decerto esculhamba a inteireza do<br />
nosso caráter” adquire sentido irônico. Por quê?<br />
278. UFMG<br />
Todos os seguintes poemas, extraídos de Pau-Brasil,<br />
de Oswald de Andrade, são marcados pela visualidade<br />
e pela síntese verbal, exceto:<br />
a) Aprendi com meu filho de dez anos<br />
Que a poesia é a descoberta<br />
Das coisas que eu nunca vi.<br />
“3 de maio”<br />
b) Bananeiras<br />
Sol<br />
O cansaço da ilusão<br />
Igrejas<br />
O ouro na serra de pedra<br />
A decadência<br />
c) Coqueiros<br />
Aos dois<br />
Aos três<br />
Aos grupos<br />
Altos<br />
Baixos<br />
d) Lá fora o luar continua<br />
E o trem divide o Brasil<br />
Como um meridiano.<br />
e) O transatlântico mesclado<br />
Dlendlena e esguicha luz<br />
Postretutas e famias sacolejam<br />
“São José del Rei”<br />
“Longo da linha”<br />
“Noturno”<br />
“Bonde”<br />
279.<br />
Pneumotórax<br />
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.<br />
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.<br />
Tosse, tosse, tosse.<br />
Mandou chamar o médico:<br />
– Diga trinta e três.<br />
– Trinta e três...trinta e três...trinta e três...<br />
– Respire.<br />
– O senhor tem uma escavação no pulmão<br />
[esquerdo e o pulmão direito infiltrado.<br />
– Então, doutor, não é possível tentar o<br />
[pneumotórax?<br />
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango<br />
argentino.<br />
Manuel Bandeira<br />
A ironia costuma ser um recurso comum na poesia,<br />
usada, geralmente, para criar subjetividades pretendidas<br />
por poetas em seus poemas. Considerando o tema<br />
e o conteúdo do texto, marque a única alternativa em<br />
que o trecho presente, de maneira mais clara, enfatiza<br />
o lado irônico de Manuel Bandeira.<br />
a) “... suores noturnos”<br />
b) “Tosse, tosse, tosse.”<br />
c) “Diga trinta e três.”<br />
d) “O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo...”<br />
e) “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”<br />
280. UFV-MG<br />
Leia o seguinte fragmento do Manifesto da poesia<br />
Pau-Brasil:<br />
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus<br />
e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia<br />
233
íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual,<br />
amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação<br />
militar. Pau-Brasil.<br />
O trabalho da geração futurista foi ciclópico.<br />
Acertar o relógio império da literatura nacional.<br />
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser<br />
regional e puro em sua época.<br />
O estado de inocência substituindo o estado de<br />
graça que pode ser uma atitude do espírito.<br />
ANDRADE, Oswald de. Poesia Pau-Brasil. In: SCHWARTZ, Jorge.<br />
Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos críticos.<br />
São Paulo: Edusp, Iluminuras, Fapesp, 1995. p. 138.<br />
Assinale a alternativa que não interpreta os ideais<br />
estéticos modernistas propostos no trecho citado.<br />
a) A poesia Pau-Brasil pressupõe o retorno ao primitivismo,<br />
às origens nacionais.<br />
b) O manifesto propõe o “estado de inocência”, o<br />
resgate cultural, com sua “energia íntima” – um<br />
redescobrimento do Brasil das origens – sob a<br />
ótica da moderna sociedade.<br />
c) O Manifesto da poesia Pau-Brasil defende que a<br />
literatura deveria tratar unicamente da cor local e<br />
da cultura contemporânea e repudia o resgate das<br />
raízes culturais brasileiras.<br />
d) Sem rejeitar a influência futurista, a poesia Pau-<br />
Brasil valoriza a herança do passado, utilizando<br />
metáforas como “reza”, “Carnaval”, “sabiá”, e<br />
propõe “acertar o relógio” da literatura nacional.<br />
e) A poesia Pau-Brasil propõe “Ser regional e puro<br />
em sua época”: resgatar os valores da cultura<br />
regional do povo brasileiro, mas sem perder de<br />
vista as transformações do mundo moderno.<br />
281. UEL-PR<br />
A peça O rei da vela, escrita por Oswald de Andrade,<br />
em 1933, foi montada em 1967 pelo Teatro Oficina,<br />
com direção de José Celso Martinez Corrêa. Sobre a<br />
peça, considere as afirmativas a seguir.<br />
I. Apropriou-se da produção dramatúrgica brasileira,<br />
já consagrada àquela época, e que se reportava à<br />
tragédia grega.<br />
II. Foi além da esfera teatral, unindo, num mesmo<br />
espetáculo, a música, a literatura e as artes plásticas.<br />
III. Graças a esta peça o Brasil pôde entrar na era das<br />
superproduções teatrais.<br />
IV. Caracterizou-se por realizar uma crítica sarcástica<br />
e perturbadora da vida nacional.<br />
Estão corretas apenas as afirmativas:<br />
a) I e II d) I e IV<br />
b) I e III e) II, III e IV<br />
c) II e IV<br />
282. PUC-RS<br />
O fazendeiro criara filhos<br />
Escravos escravas<br />
Nos terreiros de pitangas e jabuticabas<br />
Mas um dia trocou<br />
O ouro da carne preta e musculosa<br />
As gabirobas e os coqueiros<br />
Os monjolos e os bois<br />
Por terras imaginárias<br />
Onde nasceria a lavoura verde do café.<br />
234<br />
Esse poema, de Oswald de Andrade, exemplifica o<br />
movimento nativista... . O poeta, por meio de uma<br />
poesia reduzida ao ..., buscou uma interpretação de<br />
seu país.<br />
a) Antropófago, visual<br />
b) Verde-Amarelo, simbólico<br />
c) Terra Roxa e Outras Terras, discursivo<br />
d) Anta, concreta<br />
e) Pau-Brasil, essencial.<br />
283. FCMSC-SP<br />
Movimentos<br />
I. Pau-Brasil<br />
II. Verde-Amarelo<br />
III. Antropofagia<br />
Objetivos<br />
1. Resposta ao conservadorismo manifestado pelo<br />
movimento da anta.<br />
2. Revalorização do primitivo, por meio de uma arte<br />
que redescobrisse o Brasil.<br />
3. Proposição de uma estrutura nacionalista.<br />
A associação correta é:<br />
a) I – 2; II – 3; III – 1 c) I – 1; II – 2; III – 3<br />
b) I – 3; II – 2; III – 1 d) I – 3; II – 1; III – 2<br />
284. UEL-PR<br />
O recruta<br />
O noivo da moça<br />
Foi para a guerra<br />
E prometeu se morresse<br />
Vir escutar ela tocar piano<br />
Mas ficou para sempre no Paraguai<br />
ANDRADE, Oswald de. Obras completas.<br />
São Paulo: Ed. Globo/Secretaria de Estado da Cultura, 1990<br />
Sobre o poema de Oswald de Andrade, é correto afirmar:<br />
a) A ironia presente no poema reforça o caráter de<br />
irreverência num texto com tendência prosaica.<br />
b) A prática do poema curto revela o desprezo do eu<br />
lírico pelo tema da Guerra do Paraguai.<br />
c) A expressão “se morresse”, do terceiro verso, indica<br />
a certeza da moça de que seu noivo não voltaria.<br />
d) A expressão “Vir escutar ela” revela um desconhecimento<br />
do autor sobre a norma gramatical.<br />
e) O termo “Mas”, do último verso, confirma a única<br />
interpretação possível do texto, já anunciada nos<br />
versos três e quatro.<br />
285. FCMSC-SP<br />
3 de maio<br />
Aprendi com meu filho de dez anos<br />
Que a poesia é a descoberta<br />
Das coisas que eu nunca vi.<br />
Oswald de Andrade<br />
As cinco alternativas apresentam afirmações extraídas<br />
do Manifesto da poesia Pau-brasil, de autoria de<br />
Oswald de Andrade. Assinale a que está relacionada<br />
com o poema 3 de maio.<br />
a) “Só não se inventou uma máquina de fazer versos<br />
– já havia o poeta parnasiano.”<br />
b) “... contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio<br />
geômetro e pelo acabamento técnico.”
PV2D-07-54<br />
c) “Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão<br />
do mundo. Ver com os olhos livres.”<br />
d) “A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira,<br />
com passarinhos cantando na mata<br />
resumida das gaiolas...”<br />
e) “Temos a base dupla e presente – a floresta e a<br />
escola.”<br />
286. UFU-MG<br />
amor<br />
humor<br />
Em relação ao poema acima transcrito, de Oswald de<br />
Andrade, assinale a alternativa correta.<br />
a) A prosa poética é uma conquista do movimento<br />
modernista, que abala a distinção entre os gêneros<br />
literários. Com o advento deste procedimento<br />
poético, as narrativas ganham densidade lírica em<br />
detrimento da situação dramática. Cabe ao leitor<br />
preencher as lacunas do enredo poetizado.<br />
b) O emprego do verso livre revela a valorização da<br />
unidade rítmica e semântica dessa forma poética,<br />
que se caracteriza por conter um pensamento<br />
inteligível, lógico e completo e se apóia numa organização<br />
sintática linear, sem rupturas ou elisões.<br />
c) O poeta modernista tem outra noção de poeticidade:<br />
aplica-se aos torneios verbais, em busca da<br />
assonância, da musicalidade e da grandiloqüência,<br />
no intuito de chocar assim o leitor burguês pela<br />
exuberância da forma poética obtida.<br />
d) A síntese radical constitui uma tendência da poesia<br />
modernista: trata-se de uma linha de experimentação<br />
da linguagem que retoma a teoria futurista das<br />
palavras em liberdade, aproximando o discurso<br />
poético de outros mais adequados à civilização<br />
da técnica e da velocidade.<br />
287. UFMG<br />
Todas as alternativas apresentam informações corretas<br />
sobre Pau-Brasil, exceto:<br />
a) Atualiza a poesia parnasiana e recupera sua<br />
aura.<br />
b) Corrobora a idéia de que a modernidade deve ser<br />
radical.<br />
c) Opta por se aproximar da fala brasileira.<br />
d) Transgride os limites entre prosa e poesia.<br />
e) Utiliza a paródia e a linguagem neológica.<br />
288. UFMG<br />
Todos os seguintes fragmentos, retirados de manifestos<br />
do Modernismo brasileiro, apresentam princípios<br />
também contidos na obra Pau-Brasil, exceto:<br />
a) A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e<br />
neológica. A contribuição milionária de todos os<br />
erros. Como falamos. Como somos.<br />
b) A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e<br />
de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino,<br />
são fatos estéticos.<br />
c) Contra os importadores de consciência enlatada.<br />
A existência palpável da vida. E a mentalidade<br />
pré-lógica (...)<br />
d) Temos de construir essa grande nação, integrando<br />
na Pátria comum todas as nossas expressões<br />
históricas, étnicas, sociais, religiosas e políticas.<br />
Pela força centrípeta do elemento tupi.<br />
e) Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos,<br />
nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas<br />
questões cambiais, sem perder de vista o Museu<br />
Nacional.<br />
289. Fatec-SP<br />
I. Há águias de sertão, que criam nos montes altos,<br />
e emas tão grandes como as de África, umas<br />
brancas e outras malhadas de negro que, sem<br />
voarem do chão, com uma asa levantada ao alto<br />
ao modo de vela latina, correm com o vento como<br />
caravelas, e contudo as tomam os índios a cosso<br />
nas campinas.<br />
Frei Vicente do Salvador<br />
II. Há águias de sertão<br />
E emas tão grandes como as de África<br />
Umas brancas e outras malhadas de negro<br />
Que com uma asa levantada ao alto<br />
Ao modo de vela latina<br />
Correm com o vento<br />
Oswald de Andrade<br />
Assinale a alternativa incorreta.<br />
a) O texto I pertence à crônica histórica sobre o<br />
Brasil-Colônia e tem, mais que valor literário propriamente<br />
dito, grande interesse como reflexo das<br />
condições primitivas da cultura brasileira.<br />
b) O texto II utiliza o texto I como matriz, a partir da<br />
qual busca restabelecer as fontes da nacionalidade<br />
na literatura brasileira.<br />
c) O texto II identifica-se com a poesia Pau-Brasil,<br />
estilo inaugurado por Oswald de Andrade no movimento<br />
modernista.<br />
d) O texto II constitui uma paródia do texto I, na medida<br />
em que praticamente o reproduz, satirizando<br />
a visão ingênua da natureza brasileira primitiva.<br />
e) A operação de “reescritura” feita pelo texto II,<br />
apesar de consistir de simples recorte e remontagem,<br />
tem a capacidade de destacar imagens e<br />
traços de inventividade da linguagem descritiva<br />
do texto I.<br />
290. FMU-SP<br />
O tema da pátria distante foi retomado por muitos poetas.<br />
Um deles, Oswald de Andrade, do Modernismo.<br />
São características do Modernismo:<br />
a) linguagem coloquial, valorização do nacional, tom<br />
irônico, liberação absoluta da forma.<br />
b) nacionalismo, tom irônico, linguagem retórica,<br />
liberdade de composição.<br />
c) saudosismo, crítica social, verde-amarelismo,<br />
regras rígidas de composição.<br />
d) linguagem retórica, saudosismo, nacionalismo,<br />
regras rígidas de composição.<br />
e) linguagem retórica, liberdade de composição,<br />
cientificismo, tom irônico.<br />
235
291. UFSE<br />
Oferta<br />
Quem sabe O elevador<br />
Se algum dia Até aqui<br />
Traria O teu amor<br />
Os versos acima permitem afirmar corretamente que<br />
a poesia de Oswald de Andrade:<br />
a) revela o esforço, por parte do escritor, de acercar-se<br />
impessoalmente dos objetos e pessoas,<br />
respondendo aos métodos científicos das últimas<br />
décadas do século XIX.<br />
b) apresenta desarticulação total do verso, produzindo<br />
um modo novo de dispor o texto no espaço do papel,<br />
sendo, por isso, precursora da poesia concreta.<br />
c) deixa transparecer, pela temática e pelo tratamento<br />
dispensado à forma, a raiz neo-romântica que a<br />
caracteriza, responsável pelo caráter saudosista<br />
de grande parte da obra do autor.<br />
d) revela um poeta dilacerado entre matéria e espírito,<br />
valendo-se de todos os recursos lingüísticos para sugerir<br />
o seu desejo do transcendente: aliterações, rimas,<br />
ressonâncias internas, uso de letras maiúsculas.<br />
e) denota a aversão radical do poeta a integrar-se<br />
no ritmo da vida em sociedade, abandonando-se<br />
ao lirismo bucólico e buscando uma forma de<br />
expressão adequada ao seu ritmo interior.<br />
Texto para as questões de 292 a 297.<br />
Leia o texto de Oswald de Andrade.<br />
236<br />
Senhor feudal<br />
Se Pedro Segundo<br />
Vier aqui<br />
Com história<br />
Eu boto ele na cadeia.<br />
292. Unifesp<br />
De acordo com a norma-padrão, o último verso assumiria<br />
a seguinte forma:<br />
a) Eu boto-lhe na cadeia.<br />
b) Boto-no na cadeia.<br />
c) Eu o boto na cadeia.<br />
d) Eu lhe boto na cadeia.<br />
e) Lhe boto na cadeia.<br />
293. Unifesp<br />
Considere as seguintes características do Modernismo<br />
brasileiro:<br />
I. busca de uma língua brasileira;<br />
II. versos livres;<br />
III. ironia e humor.<br />
Nos versos de Oswald de Andrade:<br />
a) apenas I está presente.<br />
b) apenas III está presente.<br />
c) apenas I e II estão presentes.<br />
d) apenas I e III estão presentes.<br />
e) I, II e III estão presentes.<br />
294. Unifesp<br />
Considerando os pressupostos do Modernismo e da<br />
poética oswaldiana, é correto afirmar que a alusão a<br />
D. Pedro II, figura da corte portuguesa, sugere:<br />
a) a reafirmação da base literária brasileira, decalque<br />
dos valores europeus.<br />
b) a negação do valor da literatura portuguesa, apresentando<br />
a brasileira como insuperável.<br />
c) a sátira ao referencial artístico português e, por<br />
extensão, critica à importação dos valores literários<br />
europeus.<br />
d) o confronto entre a arte literária brasileira e a portuguesa,<br />
elucidando a inevitável influência desta<br />
para a formação daquela.<br />
e) a pouca influência recebida da arte literária portuguesa,<br />
o que confere autenticidade à literatura<br />
brasileira.<br />
295. Unifesp<br />
No contexto, a expressão “com história”, significa:<br />
a) um colóquio de intelectuais.<br />
b) uma conversa fiada.<br />
c) um comunicado urgente.<br />
d) uma prosa de amigos.<br />
e) um diálogo sério.<br />
296. Unifesp<br />
O título do poema de Oswald remete o leitor à Idade<br />
Média. Nele, assim como nas cantigas de amor, a idéia<br />
de poder retoma o conceito de:<br />
a) fé religiosa.<br />
b) relação de vassalagem.<br />
c) idealização do amor.<br />
d) saudade de um ente distante.<br />
e) igualdade entre as pessoas.<br />
297. Unifesp<br />
A correlação entre os tempos verbais está correta em:<br />
a) Se Pedro Segundo viesse aqui com história, eu<br />
botaria ele na cadeia.<br />
b) Se Pedro Segundo vem aqui com história, eu<br />
botava ele na cadeia.<br />
c) Se Pedro Segundo viesse aqui com história, eu<br />
boto ele na cadeia.<br />
d) Se Pedro Segundo vinha aqui com história, eu<br />
botara ele na cadeia.<br />
e) Se Pedro Segundo vier aqui com história, eu terei<br />
botado ele na cadeia.<br />
298. UFF-RJ<br />
Pero Vaz de Caminha<br />
a descoberta<br />
Seguimos nosso caminho por este mar de longo<br />
Até a oitava da Páscoa<br />
Topamos aves<br />
E houvemos vista de terra<br />
os selvagens<br />
Mostraram-lhes uma galinha<br />
Quase haviam medo dela<br />
E não queriam pôr a mão<br />
E depois a tomaram como espantados<br />
primeiro chá
PV2D-07-54<br />
Depois de dançarem<br />
Diogo Dias<br />
Fez o salto real<br />
as meninas da gare<br />
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis<br />
Com cabelos mui pretos pelas espáduas<br />
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas<br />
Que de nós as muito olharmos<br />
Não tínhamos nenhuma vergonha<br />
ANDRADE, Oswald. Poesias Reunidas.<br />
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.80.<br />
O procedimento poético empregado por Oswald de<br />
Andrade no texto é:<br />
a) reconhecer e adotar a métrica parnasiana, criando<br />
estrofes simétricas e com títulos.<br />
b) recortar e recriar em versos trechos da carta de<br />
Caminha, dando-lhes novos títulos.<br />
c) imitar e refazer em prosa a carta de Caminha,<br />
criando títulos para as várias seções.<br />
d) reconhecer e retomar a prática romântica, dando<br />
títulos nacionalistas às estrofes.<br />
e) identificar e recusar os processos de colagem<br />
modernistas, dando-lhes títulos novos.<br />
299. UFPE<br />
Na questão a seguir escreva nos parênteses a letra<br />
(V) se a afirmativa for verdadeira ou (F) se for falsa.<br />
Observe:<br />
O céu jogava tina de água sobre o noturno que me<br />
devolvia a São Paulo.<br />
O comboio brecou lento para as ruas molhadas, furou<br />
a gare suntuosa e me jogou nos óculos mineiros de um grupo<br />
negro. Sentaram-me num automóvel de pêsames.<br />
Oswald Andrade<br />
( ) Seu autor é modernista da ultima fase, não tendo<br />
participado da Semana de Arte Moderna.<br />
( ) O nacionalismo de Oswald de Andrade foi uma<br />
volta ao ufanismo parnasiano, sem perspectiva<br />
crítica.<br />
( ) Principal divulgador da orientação nacionalista<br />
primitiva, participou do movimento Pau-Brasil e<br />
do movimento Antropofágico.<br />
( ) Oswaldo de Andrade escreveu os textos mais<br />
corrosivos da estética modernista, destruindo os<br />
padrões tradicionais de narrativa.<br />
( ) Como se pode observar no texto, Oswald de Andrade<br />
destacou-se pela inovação no uso dos termos<br />
com derivações e formações estrangeiras, além<br />
de metáforas inusitadas. Sua narrativa estabelece<br />
uma mistura entre o descritivo e o narrativo.<br />
300. Mackenzie-SP<br />
Bonde<br />
O transatlântico mesclado<br />
Dlendlena e esguicha luz<br />
Postretutas e famias sacolejam<br />
Oswald de Andrade<br />
Considere as seguintes afirmações.<br />
I. O texto apresenta linguagem concisa e aproveita,<br />
poeticamente, variantes lingüísticas populares.<br />
II. O texto utiliza a chamada “linguagem cinematográfica”<br />
dos modernistas a serviço da recriação<br />
de cena cotidiana.<br />
III. O uso de neologismo e a regularidade métrica do<br />
texto exemplificam a tendência estética do início<br />
do século XX.<br />
IV. O experimentalismo preconizado pelos poetas da<br />
Semana de 22 revela-se, por exemplo, no uso das<br />
palavras “postretutas” e “famias”, que concretizam,<br />
foneticamente, a idéia do sacolejo.<br />
Assinale:<br />
a) se todas estiverem corretas.<br />
b) se todas estiverem incorretas.<br />
c) se apenas I e II estiverem corretas.<br />
d) se apenas I, II e III estiverem corretas.<br />
e) se apenas I, II e IV estiverem corretas.<br />
301.<br />
Profundamente<br />
Quando ontem adormeci<br />
Na noite de São João<br />
Havia alegria e rumor<br />
Estrondos de bombas luzes de Bengala<br />
Vozes cantigas e risos<br />
Ao pé das fogueiras acesas.<br />
No meio da noite despertei<br />
Não ouvi mais vozes e risos<br />
Apenas balões<br />
Passavam errantes<br />
Silenciosamente<br />
Apenas de vez em quando<br />
O ruído de um bonde<br />
Cortava o silêncio<br />
Como um túnel.<br />
Onde estavam os que há pouco<br />
Dançavam<br />
Cantavam<br />
E riam<br />
Ao pé das fogueiras acesas?<br />
– Estavam todos dormindo<br />
Estavam todos deitados<br />
Dormindo<br />
Profundamente<br />
Quando eu tinha seis anos<br />
Não pude ver o fim da festa de São João<br />
Porque adormeci<br />
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo<br />
Minha avó<br />
Meu avô<br />
Totônio Rodrigues<br />
Tomásia<br />
Rosa<br />
Onde estão todos eles?<br />
– Estão todos dormindo<br />
Estão todos deitados<br />
Dormindo<br />
Profundamente.<br />
237
No poema de Manuel Bandeira encontram-se todos os<br />
caracteres do poeta, alinhados abaixo, exceto:<br />
a) sentimento de solidão.<br />
b) sentimento de perda.<br />
c) temática da cultura brasileira.<br />
d) temática da morte.<br />
e) temática pessoal, familiar.<br />
302. UFRJ<br />
Civilização pernambucana<br />
As mulheres andam tão louçãs*<br />
E tão custosas<br />
Que não se contentam com os tafetás<br />
São tantas as jóias com que se adornam<br />
Que parecem chovidas em suas cabeças e gargantas<br />
As pérolas rubis diamantes<br />
Tudo são delícias<br />
Não parece esta terra senão um retrato<br />
Do terreal paraíso<br />
ANDRADE, Oswald de. Poesias completas. Rio de Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1971. 5. ed., p. 144. In. MAIA, J. D.<br />
Literatura: textos & técnicas. São Paulo. Ática, 1995, p. 27.<br />
louçãs: elegantes, graciosas.<br />
O texto cria uma aproximação com a carta de Pero Vaz<br />
de Caminha, inspirado principalmente na linguagem,<br />
como se verifica nos dois primeiros versos.<br />
A característica da obra de Oswald de Andrade, comprovada<br />
através dessa aproximação, é:<br />
a) a ruptura com os padrões da língua literária culta.<br />
b) o resgate crítico do passado brasileiro por meio da<br />
paródia.<br />
c) a introdução das correntes de vanguarda nos textos<br />
modernistas.<br />
d) a visão ingênua de um Brasil moderno-primitivo.<br />
e) o deboche irônico do mundo dos acadêmicos e dos<br />
burgueses.<br />
303. PUC-MG<br />
A questão a seguir está relacionada à obra Memórias<br />
sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade.<br />
Todos os termos, destacados nas passagens extraídas<br />
de Memórias Sentimentais de João Miramar, são<br />
neologismos, exceto:<br />
a) “O furo do ambiente calmo da cabina cosmoramava<br />
pedaços de distância do litoral”<br />
b) “Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel<br />
arborizado das avenidas marinhas sem sol.”<br />
c) “O banqueiro cervejeiro interpelara-me na sala<br />
rubra metralhada de dáctilos e gráficos.”<br />
d) “Pantico não tivera educação desde criança e por<br />
isso amava vagamundear.”<br />
304. PUC-MG<br />
A questão abaixo está relacionada à obra Memórias sentimentais<br />
de João Miramar, de Oswald de Andrade.<br />
Em todas as alternativas, o recurso de linguagem corresponde<br />
à frase retirada de Memórias sentimentais<br />
de João Miramar, exceto em:<br />
a) Metonímia – “No quarto de dormir ralhos queridos<br />
não queriam que eu andasse com meu primo.”<br />
238<br />
b) Metáfora – “A viúva envelhecida era um peito de<br />
tábuas.”<br />
c) Comparação – “A costa brasileira depois de um<br />
pulo de farol sumiu como um peixe.”<br />
d) Personificação – “Eu pendia mais para bilhares<br />
centrais que para pesquisas científicas.”<br />
305. PUC-MG<br />
O crítico Antonio Candido faz a seguinte observação a<br />
respeito de algumas obras de Oswald de Andrade:<br />
Estilo baseado no choque (das imagens, das<br />
surpresas, das sonoridades), formando blocos curtos<br />
e às vezes simples frases que se vão justapondo de<br />
maneira descontínua, numa quebra total das seqüências<br />
corridas e compactas da tradição realista.<br />
Identifique a passagem retirada de Memórias sentimentais<br />
de João Miramar em que a observação feita<br />
pelo crítico não pode ser constatada.<br />
a) Um cão ladrou à porta barbuda em mangas de camisa<br />
e uma lanterna bicor mostrou os iluminados na<br />
entrada da parede. O cachorro deitado tinha duas<br />
caras com uma de esfinge e cabelos bebês.<br />
b) Além do orador ilustre escritor Machado Penumbra<br />
que foi muitíssimo cumprimentado, conheci nessa<br />
noite o fino poeta Sr. Fíleas de muita cultura e<br />
convidei-os para casa porque tinham talento.<br />
c) Chapelões e revolvers de último modelo saíam<br />
mecanicamente das telas bulhentas e passeavam<br />
calmos nas ruas irrigadas do pó vermelho.<br />
Tabeliães transmissões de papel tostado e selo do<br />
império com grilos milionários a saibam quantos.<br />
d) Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas<br />
gostosas. Rolah ia vinha derrapava entrava em<br />
túneis. Copacabana era um veludo arrepiado na<br />
luminosa noite varada pelas frestas da cidade.<br />
306. Fatec-SP<br />
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori<br />
Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural.<br />
Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo,à<br />
Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao<br />
bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.<br />
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de<br />
um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia.<br />
Ou em Belém do Pará.<br />
A partir da leitura do trecho do Manifesto antropófago,<br />
explique o sentido de “Antropofagia” como meio de<br />
nacionalização da arte.<br />
307. Mackenzie-SP<br />
Houve um fenômeno de democratização estética<br />
nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo.<br />
Copiar. Quadro de carneiros que não fosse<br />
de lã mesmo, não prestava. (...) Veio a pirogravura. As<br />
meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a<br />
máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do<br />
cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade<br />
de olho virado – o artista fotógrafo.<br />
Só não se inventou uma máquina de fazer versos<br />
– já havia o poeta parnasiano.<br />
Manifesto da poesia Pau-Brasil – Oswald de Andrade.<br />
No texto, o autor:
PV2D-07-54<br />
a) critica a estética naturalista, já que esta subordina<br />
os dados da observação da realidade aos do imaginário<br />
artístico.<br />
b) apóia a democratização estética, especialmente<br />
pelo fato de possibilitar que todos façam arte.<br />
c) vê no artista fotógrafo a grande renovação da arte<br />
do século XX.<br />
d) considera os parnasianos como artífices do verso<br />
e, portanto, como autênticos criadores de poesia.<br />
e) critica algumas manifestações estéticas devido à<br />
falta de criatividade artística que revelam.<br />
308. Mackenzie-SP<br />
erro de português<br />
Quando o português chegou<br />
Debaixo de uma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português.<br />
Oswald de Andrade<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Considerando que a oposição vestir vs. despir<br />
representa a oposição colonizador vs. colonizado,<br />
vemos, no primeiro pólo, a impotência diante<br />
do poder.<br />
b) O título apresenta clara e exclusivamente a denúncia<br />
da decadência da língua portuguesa, devido a<br />
um crescente descuido dos falantes.<br />
c) A ambigüidade do título ajuda a construir o significado<br />
de desestabilização de tudo o que é sério,<br />
respeitável e cristalizado.<br />
d) As ações do colonizador e do colonizado relacionam-se<br />
às idéias de cerceamento da liberdade;<br />
naquelas, a alegria do sol; nestas, a tristeza da<br />
chuva.<br />
e) O tom predominante de lamento triste propõe a<br />
recuperação positiva da figura do colonizador<br />
português, mal assimilada pelos índios.<br />
309.<br />
Lenda brasileira<br />
A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma<br />
à cara: o que saiu do mato foi o Veado Branco! Bentinho<br />
ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho e<br />
não pôde.<br />
– Deus me perdoe!<br />
Mas o Cussaruim veio vindo, veio vindo, parou<br />
junto do caçador e começou a comer devagarinho o<br />
cano da espingarda.<br />
O texto anterior pertence ao livro Libertinagem, de<br />
Manuel Bandeira.<br />
a) Por que podemos considerá-lo um poema em<br />
prosa ou uma prosa poética?<br />
b) Pelo título do poema em prosa, podemos relacioná-lo<br />
a que outra obra da literatura brasileira?<br />
Explique.<br />
3<strong>10</strong>. PUC-MG<br />
Leia atentamente o texto a seguir. Ele é um capítulo de<br />
Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald<br />
de Andrade.<br />
Gare do infinito<br />
Papai estava doente na cama e vinha um carro e<br />
um homem e o carro ficava esperando no jardim.<br />
Levaram-me para uma casa velha que fazia doces<br />
e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma<br />
figueira na janela.<br />
No desabafar do jantar noturno a voz toda preta<br />
de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que<br />
carregou meu pai.<br />
Todas as alternativas a seguir contêm afirmações<br />
possíveis para esse capítulo, exceto:<br />
a) A linguagem surrealista e metonímica provoca<br />
impacto no leitor e singulariza a percepção de<br />
mundo.<br />
b) O texto apresenta uma sintaxe, um vocabulário e<br />
uma visão de morte próprios de uma criança.<br />
c) O capítulo, relatando a morte do pai, pode ser<br />
sintetizado no título Gare do infinito.<br />
d) A escrita oswaldiana é densa e bem elaborada:<br />
carrega um máximo de imagens num mínimo<br />
espaço verbal.<br />
e) A ausência de pontuação empresta lentidão e<br />
afastamento das imagens enumeradas.<br />
Texto para as questões 311 e 312.<br />
[...] Nos consola é ver o povo inculto criando aqui<br />
uma música nativa que está entre as mais belas e<br />
mais ricas.<br />
Pois colhendo elementos alheios, triturando-os na<br />
subconsciência nacional, dirigindo-os, amoldando-os,<br />
se fecundando, a música popular brasileira viveu todo<br />
o século XIX, bem pouco étnica ainda. Mas no último<br />
quarto do século principiam aparecendo com mais<br />
frequência produções dotadas de fatalidade radical. E,<br />
no trabalho da expressão original e representativa, não<br />
careceu nem cinqüenta anos: adquiriu caráter, criou<br />
formas e processos típicos. Manifestações duma raça<br />
muito variada ainda como psicologia, a nossa música<br />
popular é variadíssima.<br />
Tão variada que às vezes desconcerta quem a<br />
estuda. [...]<br />
ANDRADE, Mário de. Pequena história da música. 6 ed.<br />
São Paulo: Martins/Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.<br />
311. UFRJ<br />
O escritor modernista Oswald de Andrade, no Manifesto<br />
antropófago (1928), afirma a propósito das relações<br />
entre a cultura brasileira e a de nossos colonizadores:<br />
Mas não foram cruzados que vieram.<br />
Foram fugitivos de uma civilização que estamos<br />
comendo, porque somos fortes[...}<br />
Do 1o período do 2o parágrafo do texto (Mário de<br />
Andrade), retire dois vocábulos que melhor traduzam<br />
a idéia do trecho destacado.<br />
239
312. UFRJ<br />
Explicite essa idéia, considerando o projeto modernista.<br />
313.<br />
Leia o capítulo a seguir, extraído de Memórias sentimentais<br />
de João Miramar, romance de Oswald de<br />
Andrade.<br />
Botafogo etc.<br />
Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel<br />
arborizado das avenidas marinhas sem sol.<br />
Losangos tênues de ouro bandeiranacionalizavam<br />
o verde dos montes interiores.<br />
No outro lado azul da baía a Serra dos Órgãos<br />
serrava.<br />
Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas<br />
gostosas. Rolah ia vinha derrapava entrava em túneis.<br />
Copacabana era um veludo arrepiado na luminosa<br />
noite varada pelas frestas da cidade.<br />
A partir da leitura do texto, caracterize a prosa de<br />
Oswald de Andrade.<br />
314. Unicamp-SP<br />
Texto I<br />
erro de português<br />
Quando o português chegou<br />
Debaixo duma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português<br />
Oswald de Andrade, in: Poesias reunidas<br />
Texto II<br />
(...)<br />
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval.<br />
O índio vestido de Senador do império (...). Ou<br />
figurando nas óperas de Alencar cheio de bons<br />
sentimentos.<br />
(...)<br />
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria.<br />
(...):<br />
(...)<br />
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do<br />
céu (...)<br />
Oswald de Andrade, Manifesto Antropófago<br />
Levando em conta a leitura do poema erro de português<br />
(texto I) e dos fragmentos do Manifesto Antropófago<br />
(texto II), responda às questões a seguir.<br />
a) O que exprime o quarto verso do poema?<br />
b) Que relação os três últimos versos estabelecem<br />
com os três primeiros?<br />
c) Que relação o poema, como um todo, estabelece com<br />
as idéias presentes nos fragmentos do Manifesto?<br />
315. FGV-SP<br />
Tendo como base o fato de a obra Macunaíma, de<br />
Mário de Andrade, ser uma das maiores representações<br />
literárias das renovações formais e temáticas do<br />
Modernismo brasileiro, sobretudo no que se refere<br />
ao pensamento crítico exposto no Manifesto Antro-<br />
240<br />
pofágico de Oswald de Andrade, leia com atenção os<br />
fragmentos extraídos da obra em questão e desenvolva<br />
os itens que se seguem.<br />
Texto 1<br />
Era assim. Saudaram todos os santos da pajelança,<br />
o Boto Branco que dá amores Xangô, Omulu, Iroco<br />
Ochosse, a Boiúna Mãe feroz, Obatalá que dá força pra<br />
brincar muito, todos esses santos e o çairê se acabou.<br />
Tia Ciata sentou na tripeça num canto e toda aquela<br />
gente suando, médicos padeiros engenheiros rábulas<br />
polícias criadas focas assassinos, Macunaíma, todos<br />
vieram botar as velas no chão rodeando a tripeça. As<br />
velas jogaram no teto a sombra da mãe-de-santo imóvel.<br />
Já quase todos tinham tirado algumas roupas e o respiro<br />
ficara chiado por causa do cheiro de mistura budum coty<br />
pitium e o suor de todos. Então veio a vez de beber. E<br />
foi lá que Macunaíma provou pela primeira vez o cachiri<br />
temível cujo nome é cachaça. Provou estalando com a<br />
língua feliz e deu uma grande gargalhada.<br />
“Macumba” em: ANDRADE, M. de. Macunaíma.<br />
São Paulo: Livraria Martins, 1976.<br />
Texto 2<br />
Estávamos ainda abatido por termos perdido a<br />
nossa muiraquitã, em forma de sáurio, quando talvez<br />
por algum influxo metapsíquico, ou, qui lo sá, provocado<br />
por algum libido saudoso, como explica o sábio<br />
tudesco, doutor Sigmundo Freud (lede Fróide), se nos<br />
deparou em sonho um arcanjo maravilhoso. Por ele<br />
soubemos que o talismã perdido estava nas diletas<br />
mãos do doutor Venceslau Pietro Pietra, súbdito do<br />
Vice-Reinado de Peru, e de origem francamente florentina,<br />
como os Cavalcantis de Pernambuco. E como<br />
o doutor demorasse na ilustre cidade anchietana, sem<br />
demora nos partimos para cá, em busca do velocino<br />
roubado. As nossas relações actuais com o doutor Venceslau<br />
são as mais lisonjeiras possíveis; e sem dúvida<br />
mui para breve recebereis a grata nova de que hemos<br />
reavido o talismã: e por ela vos pediremos alvíçaras.<br />
“Carta pras Icamiabas” em: ANDRADE, M. de. Macunaíma.<br />
São Paulo: Livraria Martins, 1976.)<br />
a) O processo antropofágico manifesta-se, no primeiro<br />
texto, tanto no plano de conteúdo como no<br />
plano de expressão. Explique como esse processo<br />
se manifesta temática e lingüisticamente.<br />
b) Relacione os dois fragmentos tendo como fio condutor<br />
o efeito de sentido verdadeiro versus falso.<br />
316. UFRJ<br />
Escapulário<br />
No Pão de Açúcar<br />
De Cada Dia<br />
Dai-nos Senhor<br />
A Poesia<br />
De Cada Dia<br />
in: ANDRADE, Oswald de. Poesia reunidas. 5a ed.<br />
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1917, p. 75<br />
Nota: escapulário: objeto de devoção formado por<br />
dois quadrados de pano bento, com orações ou uma<br />
relíquia, que os devotos trazem ao pescoço.<br />
A crítica literária considera que a poesia de Oswald de<br />
Andrade apresenta duas vertentes: uma ‘destrutiva’ e<br />
uma ‘construtiva’. Explique de que modo esses dois<br />
traços aparecem na intertextualidade realizada por<br />
Oswald no poema.
PV2D-07-54<br />
317.<br />
Todas as afirmações abaixo, a respeito de Macunaíma,<br />
de Mário de Andrade, são corretas, exceto:<br />
a) Trata-se de uma antologia do folclore brasileiro,<br />
coletânea das lendas e dos mitos indígenas e<br />
folclóricos, uma verdadeira rapsódia.<br />
b) Macunaíma é um herói repleto de contradições,<br />
individualmente, alheio a problemas sociais e políticos,<br />
sem preocupações morais, um verdadeiro<br />
anti-herói, que se contrapõe a uma sociedade<br />
tecnológica, moderna.<br />
c) Depois de derrotar o Gigante Piaimã e reconquistar<br />
o amuleto, a pedra muiraquitã, Macunaíma, doente e<br />
cansado de viver, não achando mais graça no mundo,<br />
resolve ir para o céu e, sem voltar para o Uraricoera,<br />
transforma-se na constelação Ursa Maior.<br />
d) “Carta pras Icamiabas” é uma paródia e uma sátira<br />
violenta ao caráter afetado e formal do estilo<br />
parnasiano da época.<br />
e) O espaço e o tempo da narrativa não são delimitados:<br />
indeterminados, misturam-se livremente<br />
dentro do chamado universo mítico da obra.<br />
318.<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Lá sou amigo do rei<br />
Lá tenho a mulher que eu quero<br />
Na cama que escolherei<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Aqui eu não sou feliz<br />
Lá a existência é uma aventura<br />
(...)<br />
Em Pasárgada tem tudo<br />
É outra civilização<br />
Tem um processo seguro<br />
De impedir a concepção<br />
Tem telefone automático<br />
Tem alcalóide à vontade<br />
Tem prostitutas bonitas<br />
Para a gente namorar<br />
E quando eu estiver mais triste<br />
Mas triste de não ter jeito<br />
Quando de noite me der<br />
Vontade de me matar<br />
– Lá sou amigo do rei –<br />
Terei a mulher que eu quero<br />
Na cama que escolherei<br />
Vou-me embora pra Pasárgada.<br />
O caráter ____________ do poema revela-se pela<br />
referência à possibilidade de viver plenamente a vida,<br />
sem quaisquer impedimentos.<br />
a) Confessional<br />
b) Satírico<br />
c) Caótico<br />
d) Sincrético<br />
e) Hermético<br />
319. PUC-SP<br />
01 Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Lá sou amigo do rei<br />
Lá tenho a mulher que eu quero<br />
Na cama que escolherei<br />
05 Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Aqui eu não sou feliz<br />
Lá a existência é uma aventura<br />
De tal modo inconseqüente<br />
<strong>10</strong> Que Joana a Louca de Espanha<br />
Rainha e falsa demente<br />
Vem a ser contraparente<br />
Da nora que nunca tive.<br />
As estrofes apresentadas são do poema de Manuel<br />
Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada. Do poema<br />
como um todo é incorreto afirmar que:<br />
a) a palavra Pasárgada refere-se ao nome de uma<br />
famosa cidade fundada pelo rei Ciro, na Pérsia.<br />
b) a metáfora dominante no poema é a busca da<br />
felicidade, materializada em Pasárgada, espécie<br />
de terra prometida.<br />
c) o texto é elaborado em redondilha maior e isso lhe<br />
dá a marca de poesia popular.<br />
d) dialoga com a Canção do exílio, de Gonçalves<br />
Dias, por força do advérbio de lugar que designa<br />
dois espaços diferentes.<br />
e) constitui-se de versos brancos e de métrica irregular,<br />
caracterizadores da poética modernista.<br />
Texto para as questões de 320 a 323.<br />
Sacha e o poeta<br />
Quando o poeta aparece,<br />
Sacha levanta os olhos claros,<br />
Onde a surpresa é o sol que vai nascer.<br />
O poeta a seguir diz coisas incríveis,<br />
Desce ao fogo central da Terra,<br />
Sobe na ponta mais alta das nuvens,<br />
Faz gurugutu pif paf,<br />
Dança de velho,<br />
Vira Exu,<br />
Sacha sorri como o primeiro arco-íris.<br />
O poeta estende os braços, Sacha vem com ele.<br />
A serenidade voltou de muito longe<br />
Que se passou do outro lado?<br />
Sacha mediunizada<br />
– Ah-pa-papapá-papá–<br />
Transmite em Morse ao poeta<br />
A última mensagem dos Anjos.<br />
Manuel Bandeira<br />
320. Faenquil-SP<br />
O poema de Bandeira, como se pode notar desde o<br />
título, fala da relação entre Sacha e o poeta. De acordo<br />
com o poema, pode-se perceber que Sacha é:<br />
a) um bebê, pois ainda não sabe falar (“gurugutu pif paf”<br />
e “pa-papapá-papá”) e está descobrindo o mundo.<br />
b) uma adolescente, pois reflete sobre a vida e<br />
acompanha o poeta em suas andanças (“O poeta<br />
estende os braços, Sacha vem com ele”).<br />
241
c) uma mulher por quem o poeta tem grande amor e<br />
carinho e para quem dedica seu poema (“Quando o<br />
poeta aparece, Sacha levanta os olhos claros”).<br />
d) uma pessoa idosa, cuja experiência é aproveitada<br />
pelo poeta como inspiração (“Sacha mediunizada”<br />
e “Transmite em Morse ao poeta”).<br />
e) um espírito que é apresentado como a fonte de<br />
inspiração do poeta e que lhe transmite a “última<br />
mensagem dos anjos”.<br />
321. Faenquil-SP<br />
Sacha sorri como o primeiro arco-íris.<br />
Assinale a alternativa que melhor explica o significado<br />
deste verso no contexto do poema.<br />
a) O sorriso de Sacha faz o eu lírico recordar bons<br />
momentos de seu tempo de infância.<br />
b) O sorriso de Sacha permite ao poeta expressar o<br />
carinho que ele sente por ela.<br />
c) O eu lírico vê, no sorriso de Sacha, uma pontinha de<br />
tristeza que se esconde por trás de sua beleza.<br />
d) A espontaneidade do sorriso de Sacha é, para o<br />
eu lírico, uma revelação de beleza, ingenuidade e<br />
vida.<br />
e) Para o eu lírico, o sorriso de Sacha é uma recompensa<br />
pelos sofrimentos e pelas dificuldades da vida.<br />
322. Faenquil-SP<br />
Segundo o poema, a criação poética é:<br />
a) resultado da técnica, do domínio da linguagem e<br />
do estudo da literatura.<br />
b) um trabalho árduo e cuidadoso, por meio do qual<br />
o poeta exprime seus pensamentos.<br />
c) fruto da inspiração que brota da vontade do poeta<br />
de exprimir seus sentimentos.<br />
d) uma brincadeira, por meio da qual se descobre e<br />
se significa o mundo.<br />
e) resultado do engajamento político do poeta, do<br />
seu desejo de criticar a sociedade e suas hipocrisias.<br />
323. Faenquil-SP<br />
O poema de Bandeira revela traços típicos da poesia<br />
moderna, tais como:<br />
a) o gosto do popular, a incorporação do folclore<br />
brasileiro e o interesse em descrever a realidade<br />
concreta.<br />
b) o rigor de construção, a obediência aos princípios<br />
ditados pela tradição poética e o verso livre.<br />
c) o uso de uma linguagem despojada e a liberdade<br />
de criação dos temas e das formas de expressão.<br />
d) a incorporação de elementos típicos da realidade<br />
brasileira e o equilíbrio clássico da composição.<br />
e) a objetividade, a racionalidade e a harmonia<br />
construídas de acordo com as regras da arte<br />
clássica.<br />
324. UFU-MG<br />
A propósito do poema, de autoria de Manuel Bandeira,<br />
transcrito a seguir, assinale a alternativa correta.<br />
242<br />
Madrigal tão engraçadinho<br />
Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje<br />
na minha<br />
[vida, inclusive o porquinho-da-índia que<br />
[me deram quando eu tinha seis anos.<br />
a) O título do poema contém ironia, tipicamente<br />
modernista, que mantém a forma tradicional do<br />
madrigal romântico no que concerne ao número de<br />
estrofes. Além disso, conserva intacta a temática<br />
relacionada com o idílio pastoril parnasiano.<br />
b) O primeiro verso do poema é branco, pois não rima,<br />
e bárbaro, pois excede as 12 sílabas poéticas; de<br />
outro modo, as rimas externas e misturadas dos outros<br />
versos do poema constroem o versolibrismo.<br />
c) Este poema dialoga com outro, pertencente ao livro<br />
Libertinagem. Em ambos, o eu poético reprisa seu<br />
amor por um porquinho-da-índia antropomorfizado,<br />
construindo, assim, uma maneira bem humorada<br />
de questionar o lirismo amoroso passadista.<br />
d) Neste poema, desde o seu título, é possível reconhecer<br />
dados da poética modernista em sua fase<br />
combativa: uso de palavras de cunho coloquial,<br />
inserção de prosa no poema e resgate de cânones<br />
poéticos do Barroco.<br />
325. Fatec-SP<br />
Texto I<br />
Mulher, irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e curvo<br />
Jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são galas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia.<br />
Joaquim Manuel de Macedo<br />
Texto II<br />
Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em<br />
cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele se ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredita não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA<br />
Manuel Bandeira<br />
Assinale a alternativa incorreta.<br />
a) A “tradução” feita por Manuel Bandeira do poema<br />
de Joaquim Manuel de Macedo consiste no recurso<br />
chamado paródia.<br />
b) A transformação do texto original no texto de<br />
Bandeira tem como conseqüência a perda do<br />
sentido poético, principalmente porque se perde<br />
a originalidade.<br />
c) No texto I, o amor e o amante aparecem idealizados<br />
pela linguagem. A idealização é revelada<br />
e desfeita na relação entre “um homem terno e<br />
curvo” X “um sujeito”, “jurar amor” X “jurar uma<br />
paixão do tamanho de um bonde” e “chorar pranto<br />
de sangue” X “se ele se rasgar todo”.
PV2D-07-54<br />
d) A comparação dos dois textos revela o tratamento<br />
dado ao tema e à linguagem nas estéticas romântica<br />
e modernista.<br />
e) A “tradução” de “as lágrimas são galas da mentira /<br />
E o juramento manto da perfídia” por “É lágrima de<br />
cinema / É tapeação / Mentira” expõe a oposição<br />
entre o uso da linguagem formal e o da linguagem<br />
coloquial no texto poético.<br />
326. Fuvest-SP<br />
Oração a Teresinha do Menino Jesus<br />
Perdi o jeito de sofrer.<br />
Ora essa.<br />
Não sinto mais aquele gosto cabotino da tristeza.<br />
Quero alegria! Me dá alegria,<br />
Santa Teresa!<br />
Santa Teresa não, Teresinha...<br />
Teresinha... Teresinha...<br />
Teresinha do Menino Jesus.<br />
(...)<br />
Manuel Bandeira, Libertinagem.<br />
Sobre este trecho do poema, só não é correto afirmar<br />
o que está em:<br />
a) Ao preferir Teresinha a Santa Teresa, o eu lírico<br />
manifesta um desejo de maior intimidade com o<br />
sagrado, traduzida, por exemplo, no diminutivo e<br />
na omissão da palavra “Santa”.<br />
b) O feitio de oração que caracteriza estes versos<br />
não é o caso único em Libertinagem nem é raro<br />
na poesia de Bandeira.<br />
c) Embora com feitio de oração, estes versos utilizam<br />
principalmente a variedade coloquial da linguagem.<br />
d) Em “do Menino Jesus”, qualificativo de Teresinha,<br />
pode-se reconhecer um eco da predileção de<br />
Bandeira pelo tema da infância, recorrente em<br />
Libertinagem e no conjunto de sua poesia.<br />
e) Apesar de seu feitio de oração, estes versos<br />
manifestam a intenção desrespeitosa e mesmo<br />
sacrílega em relação à religião estabelecida.<br />
327. F. M. ABC-SP<br />
De Manuel Bandeira, é válido dizer que:<br />
a) foi um poeta típico do período crepuscular anterior<br />
ao Modernismo.<br />
b) voltou-se sobretudo para o mundo interior, procurando<br />
captar, com sua sensibilidade delicada, as<br />
nuanças da sombra, do indefinido, da morte.<br />
c) foi um dos grandes agitadores da literatura brasileira<br />
e, em sua obra, salientam-se experiências<br />
semânticas que fazem dele um precursor da<br />
poesia concreta.<br />
d) soube conciliar a notação intimista com o registro<br />
do mundo exterior, e sua obra poética abrange<br />
desde poemas de tom parnasiano até experiências<br />
concretistas.<br />
e) exaltou a cidade natal, fez a apologia da preguiça<br />
criadora, valorizou os mitos amazônicos.<br />
Texto para as questões de 328 a 330.<br />
O martelo<br />
As rodas rangem na curva dos trilhos<br />
Inexoravelmente.<br />
Mas eu salvei do meu naufrágio<br />
Os elementos mais cotidianos.<br />
O meu quarto resume o passado em todas<br />
[as casas que habitei.<br />
Dentro da noite<br />
No cerne duro da cidade<br />
Me sinto protegido<br />
Do jardim do convento<br />
Vem o pio da coruja<br />
Doce como um arrulho de pomba.<br />
Sei que amanhã quando acordar<br />
Ouvirei o martelo do ferreiro<br />
Bater corajoso o seu cântico de certezas.<br />
Manuel Bandeira<br />
328. Mackenzie-SP<br />
“Pio de coruja”, na tradição popular, significa “mau<br />
agouro”. “Som de martelo”, por sua vez, é considerado<br />
um som desagradável e irritante. Levando isso em<br />
conta, pode-se dizer que, nesse poema, o eu lírico:<br />
a) confirma as expectativas do leitor quanto aos sentimentos<br />
e sensações que esses sons provocam.<br />
b) quebra a expectativa do leitor quanto ao som do<br />
martelo, mas não quanto ao pio da coruja.<br />
c) quebra a expectativa do leitor quanto ao pio da<br />
coruja, mas não quanto ao som do martelo.<br />
d) cria um efeito irônico, ao associar esses sons a<br />
um sentimento de proteção.<br />
e) produz efeito humorístico, ao associar esses sons<br />
a um sentimento de tédio.<br />
329. Mackenzie-SP<br />
Assinale o fragmento que, no poema, sugere a passagem<br />
do tempo, a transitoriedade da vida.<br />
a) “Doce como um arrulho de pomba.”<br />
b) “Do jardim do convento / Vem o pio da coruja.”<br />
c) “As rodas rangem na curva dos trilhos / Inexoravelmente.”<br />
d) “Os elementos mais cotidianos.”<br />
e) “Bater corajoso.”<br />
330. Mackenzie-SP<br />
Assinale a afirmação correta.<br />
a) Em “Ouvirei o martelo do ferreiro/Bater” tem-se<br />
uma metonímia.<br />
b) A primeira estrofe particulariza a idéia geral da<br />
segunda estrofe.<br />
c) “Ouvirei o martelo do ferreiro” denota circunstância<br />
de causa para o fato de acordar.<br />
d) A conjunção “Mas”, que aparece na primeira estrofe,<br />
estabelece oposição entre “monotonia” e<br />
“intranqüilidade”.<br />
e) O verso “Os elementos mais cotidianos” remete<br />
às experiências mais simples, menos valorizadas<br />
pelo eu lírico.<br />
243
331. UFPE<br />
Manuel Bandeira reuniu grande parte da sua poesia em<br />
um único volume, o que nos permite observar que:<br />
( ) em Estrela da vida inteira estão reunidas várias<br />
antologias de Bandeira; entre outras, as primeiras,<br />
A cinza das horas e Carnaval, em que revela ainda<br />
tendências parnasianas e simbolistas, e outras,<br />
como Ritmo dissoluto, Estrela da manhã, Estrela<br />
da tarde e, por último, Mafuá do Malungo.<br />
( ) as referências biográficas tornam-se necessárias,<br />
pois sua poesia tem caráter confidencial. A tuberculose,<br />
a decadência familiar, a saudade difusa da<br />
terra natal explicam a arte contida em “toda uma<br />
vida que poderia ter sido e que não foi.”<br />
( ) na evolução de sua obra, o poeta, em adesão ao<br />
Modernismo, abandonou o lirismo em favor de<br />
críticas mordazes ao Parnasianismo, adotando, a<br />
partir de então, somente formas estéticas radicais<br />
de vanguarda.<br />
( ) a tristeza do autor de Estrela da vida inteira tomou<br />
uma direção lamentosa e doentia. O poeta<br />
não conseguiu, assim, realizar o que disse em<br />
versos: “Não quero saber do lirismo que não é<br />
libertação”.<br />
( ) seus poemas trazem como marca a simplicidade da<br />
linguagem clara, acessível e direta, marcada pela<br />
consciência da fragilidade da vida, e revelam um<br />
olhar que capta o que está por trás das coisas.<br />
Texto para as questões de 332 a 335.<br />
I<br />
Se é doce no recente, ameno estio<br />
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,<br />
E, lambendo as areias e os verdores,<br />
Mole e queixoso deslizar-se o rio;<br />
Mais doce é ver-te de meus ais vencida,<br />
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados<br />
Morte, morte de amor, melhor que a vida.<br />
II<br />
Doçura de, no estio recente,<br />
Ver a manhã toucar-se de flores,<br />
E o rio<br />
mole<br />
queixoso<br />
Deslizar, lambendo areias e verduras;<br />
Bocage<br />
Doçura muito maior<br />
De te ver<br />
Vencida pelos meus ais<br />
Me dar nos teus brandos olhos desmaiados<br />
Morte, morte de amor, muito melhor do que a vida, puxa!<br />
Manuel Bandeira<br />
332. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Em I e II, o eu lírico dirige-se explicitamente à<br />
amada morta.<br />
b) As semelhanças formais entre os textos I e II<br />
asseguram a identidade de sentido entre eles.<br />
c) A linguagem informal, em I, reveste-se de expressões<br />
coloquiais.<br />
244<br />
d) Em I, o uso de verbo na primeira pessoa e de<br />
interjeição é índice da emotividade do eu.<br />
e) A interjeição “puxa!” (texto II) é, ao mesmo tempo, expressão<br />
de êxtase amoroso e índice de irreverência.<br />
333. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Em I e II, amor e morte compõem uma antítese<br />
em que os termos se excluem mutuamente.<br />
b) Em I e II, a caracterização de rio colabora para a<br />
criação de um efeito de espiritualidade amorosa.<br />
c) Em II, a distribuição gráfica dos versos sugere o<br />
movimento do rio.<br />
d) Em II, a palavra verduras tem sentido oposto ao<br />
de verdores (texto I).<br />
e) Em I e II, a estrutura narrativa, apoiando-se no presente<br />
do subjuntivo, caracteriza ação hipotética.<br />
334. Mackenzie-SP<br />
No texto II, Bandeira recupera, dos versos de Bocage:<br />
a) a idealização do mundo natural.<br />
b) o sofrimento amoroso típico do egocentrismo<br />
exacerbado.<br />
c) a concepção platônica de amor, característica da<br />
poesia clássica.<br />
d) os versos brancos de tradição modernista.<br />
e) o tom irreverente dos poemas românticos.<br />
335. Mackenzie-SP<br />
O texto II é prova de que o Modernismo brasileiro, em<br />
sua fase heróica:<br />
a) apoiou-se no princípio da imitação artística, típico<br />
da arte quinhentista.<br />
b) repetiu clichês poéticos, confirmando um ideal de<br />
estética romântica.<br />
c) produziu poesia inovadora, apoiada no princípio<br />
da “arte pela arte”.<br />
d) consagrou uma linguagem poética de tom solene<br />
e grandiloqüente.<br />
e) recuperou a tradição literária de forma crítica e<br />
criativa.<br />
336.<br />
No início do século XX, surgiram algumas tendências,<br />
verdadeiras expressões artísticas revolucionárias e<br />
fundadoras da modernidade. Elas enfocavam tanto<br />
a euforia das grandes invenções (a Belle Époque)<br />
quanto o pessimismo do período entreguerras, ambos<br />
frutos da Era da Máquina. A literatura incorpora<br />
essas transformações por meio de maior dinamismo<br />
da linguagem e da ruptura com os padrões estéticos<br />
estabelecidos até então. Assinale a seguir o texto que<br />
não pode ser relacionado com tal período.<br />
a) O capoeira<br />
– Qué apanhá sordado?<br />
– O quê?<br />
– Qué apanhá?<br />
Pernas e cabeças na calçada.<br />
b) pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática
PV2D-07-54<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
Da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
c) Cota zero<br />
Stop.<br />
A vida parou<br />
ou foi o automóvel?<br />
d) <strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />
Última flor do Lácio, inculta e bela,<br />
És, a um tempo, esplendor e sepultura:<br />
Ouro nativo, que na ganga impura<br />
A bruta mina entre os cascalhos vela...<br />
Amo-te assim, desconhecida e obscura,<br />
Tuba de alto clangor, lira singela,<br />
Que tens o trom e o silvo da procela<br />
E o arrolo da saudade e da ternura!<br />
e) Paisagem<br />
Na atmosfera violeta<br />
A madrugada desbota<br />
Uma pirâmide quebra o horizonte<br />
Torres espirram do chão ainda escuro<br />
Pontes trazem nos pulsos rios bramindo<br />
Entre fogos<br />
Tudo novo se desencapotando.<br />
337. Fuvest-SP<br />
Leia atentamente o texto.<br />
Poema só para Jaime Ovalle<br />
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro<br />
(Embora a manhã já estivesse avançada.)<br />
Chovia<br />
Chovia uma triste chuva de resignação<br />
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da<br />
noite.<br />
Então me levantei,<br />
Bebi o café que eu mesmo preparei.<br />
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e<br />
fiquei<br />
[pensando...<br />
– Humildemente pensando na vida e nas mulheres<br />
que amei.<br />
Manuel Bandeira,<br />
Transcreva o verso que sugere a solidão do poeta.<br />
338.<br />
Leia a seguir o poema Pneumotórax, de Manuel<br />
Bandeira.<br />
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.<br />
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.<br />
Tosse, tosse, tosse.<br />
Mandou chamar o médico:<br />
– Diga trinta e três.<br />
– Trinta e três ...trinta e três... trinta e três...<br />
– Respire.<br />
....................................................................................<br />
– O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo<br />
e o pulmão direito infiltrado.<br />
– Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?<br />
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.<br />
Assinale a alternativa correta com relação a esse texto.<br />
a) O léxico presente no texto comprova sua filiação<br />
à estética modernista; entretanto, a metrificação<br />
utilizada desautoriza tal afirmação.<br />
b) É um exemplo de prosa poética: não adota estruturas<br />
métricas anticonvencionais e comprova<br />
a ironia e o sentimento tragicômico do autor com<br />
relação à morte, como comprova a expressão<br />
“tango argentino”.<br />
c) Comprova que a divisão didática entre os gêneros<br />
literários (lírico, épico/narrativo, dramático), que<br />
afirma serem estes excludentes entre si, nem sempre<br />
corresponde à realidade, já que eles podem<br />
se entrecruzar.<br />
d) Este texto é um poema, mas nele não há poesia,<br />
já que a proposta modernista é romper com a<br />
experiência literária do passado.<br />
e) É um texto no qual a subjetividade não encontra<br />
espaço para sua manifestação plena, posto que o<br />
coloquialismo e o prosaico, tão presentes na obra<br />
do autor, não favorecem a qualidade poética.<br />
339. UFF-RJ<br />
Observe as estrofes abaixo.<br />
1. Oh! que saudades que eu tenho<br />
Da aurora da minha vida.<br />
Da minha infância querida<br />
Que os anos não trazem mais.<br />
Casimiro de Abreu<br />
2. – Voei ao Recife, no cais<br />
Pousei, na rua da Aurora<br />
– Aurora da minha vida,<br />
Que os anos não trazem mais!<br />
– Que os anos, não, nem os dias<br />
Que isso cabe às cotovias.<br />
Manuel Bandeira<br />
Em qual das alternativas encontram-se características<br />
dos movimentos literários aos quais pertenceram,<br />
respectivamente, os dois poetas anteriores?<br />
a) 1. Culto à forma<br />
2. Descrição da realidade<br />
b) 1. Volta aos modelos greco-latinos<br />
2. Idealização da mulher<br />
c) 1. Objetivismo<br />
2. Retorno ao passado<br />
d) 1. Forma poética tradicional<br />
2. Apego à rima e à métrica<br />
e) 1. Subjetivismo<br />
2. Paródia e fuga ao rigor formal<br />
245
340.<br />
Evocação do Recife<br />
(...)<br />
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos<br />
livros<br />
Vinha da boca do povo na língua errada do povo<br />
<strong>Língua</strong> certa do povo<br />
Porque ele é que fala gostoso o português do<br />
Brasil<br />
Ao passo que nós<br />
O que fazemos<br />
É macaquear<br />
A sintaxe lusíada<br />
A vida com uma porção de coisas que eu não<br />
entendia bem<br />
Terras que eu não sabia onde ficavam<br />
(...)<br />
Qual característica modernista de conteúdo está presente<br />
nesse excerto?<br />
341. Fatec-SP<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Lá sou amigo do rei<br />
Lá tenho a mulher que eu quero<br />
Na cama que escolherei<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Aqui eu não sou feliz<br />
Lá a existência é uma aventura<br />
De tal modo inconseqüente<br />
Que Joana a Louca de Espanha<br />
Rainha e falsa demente<br />
Vem a ser contraparente<br />
Da nora que nunca tive<br />
E como farei ginástica<br />
Andarei de bicicleta<br />
Montarei em burro bravo<br />
Subirei no pau-de-sebo<br />
Tomarei banhos de mar!<br />
E quando estiver cansado<br />
Deito na beira do rio<br />
Mando chamar a mãe d’água<br />
Pra me contar as histórias<br />
Que no tempo de eu menino<br />
Rosa vinha me contar<br />
Vou-me embora pra Pasárgada<br />
Em Pasárgada tem tudo<br />
É outra civilização<br />
Tem um processo seguro<br />
De impedir a concepção<br />
Tem telefone automático<br />
Tem alcalóide à vontade<br />
Tem prostitutas bonitas<br />
Para a gente namorar<br />
E quando eu estiver mais triste<br />
Mas triste de não ter jeito<br />
Quando de noite me der<br />
Vontade de me matar<br />
– Lá sou amigo do rei –<br />
246<br />
Terei a mulher que eu quero<br />
Na cama que escolherei<br />
Vou-me embora pra Pasárgada.<br />
A respeito do poema Vou-me embora pra Pasárgada,<br />
é correto afirmar que:<br />
a) assume a atitude vanguardista do movimento<br />
antropofágico.<br />
b) nega o irracionalismo modernista, imaginando<br />
Pasárgada como reflexo do mundo real.<br />
c) recupera valores românticos na linguagem, ao<br />
empregar versos livres.<br />
d) resgata o tema romântico da evasão, opondo um<br />
espaço “lá” ao espaço “aqui”.<br />
e) supera o ideal modernista de valorização do futuro,<br />
ao mencionar produtos da tecnologia.<br />
342. USF-SP<br />
Aplica-se à arte de Manuel Bandeira a seguinte afirmação:<br />
a) Foi uma das mais vivas e panfletárias poesias da<br />
nossa literatura, com seu humor ferino e poder de<br />
corrosão.<br />
b) A simplicidade é a marca própria da sua inspiração,<br />
traduzida em linguagem atenta aos fatos e<br />
sentimentos do cotidiano.<br />
c) Sua melhor fase foi marcada pelo nacionalismo e<br />
pelo pitoresco, sempre utilizando o folclore como<br />
matéria de poesia.<br />
d) Um sentimento fervorosamente católico aliou-se,<br />
nesta poesia, a um sentido de combate aos horrores<br />
da História moderna.<br />
e) É sem dúvida graciosa e superficial, pelo que foi<br />
combatida pelos poetas modernistas.<br />
343. Fuvest-SP<br />
Indique a alternativa em que a aproximação estabelecida<br />
está correta.<br />
a) A terra paradisíaca, em Gonçalves Dias, é projeção<br />
nacionalista; a Pasárgada, de Manuel Bandeira, é<br />
anseio intimista de evasão.<br />
b) O lirismo de Gregório de Matos é conflitivo e confessional;<br />
o de Cláudio Manuel da Costa é sereno<br />
e impessoal.<br />
c) A ficção regionalista e imatura do século XIX ganhou<br />
força ao abraçar as teses do determinismo<br />
científico, no século XX.<br />
d) José de Alencar buscou expressar nossa diversidade<br />
cultural – projeto que só a obra de Machado<br />
de Assis viria a realizar.<br />
e) A figura do malandro, positiva em Manuel Antônio<br />
de Almeida, é o alvo de Mário de Andrade em sua<br />
sátira Macunaíma.<br />
Texto para as questões 344 e 345.<br />
Satélite<br />
Fim de tarde,<br />
No céu plúmbeo<br />
A Lua baça<br />
Paira.
PV2D-07-54<br />
Muito cosmograficamente<br />
Satélite.<br />
Desmetaforizada,<br />
Desmitificada,<br />
Despojada do velho segredo de melancolia,<br />
Não é agora o golfão de cismas,<br />
O astro dos loucos e enamorados,<br />
Mas tão-somente<br />
Satélite.<br />
Ah Lua deste fim de tarde,<br />
Demissionária de atribuições românticas;<br />
Sem show para as disponibilidades sentimentais!<br />
Fatigado de mais-valia,<br />
Gosto de ti, assim:<br />
Coisa em si,<br />
– Satélite.<br />
Manuel Bandeira<br />
344. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Os versos, todos em redondilha menor, confirmam,<br />
no ritmo, o tom de tédio.<br />
b) O céu avermelhado do fim de tarde contrasta com<br />
a Lua emergente e sem brilho.<br />
c) A Lua, vista apenas como um satélite, é sentida<br />
e expressa de maneira grandiloqüente e com um<br />
sentimentalismo exacerbado.<br />
d) As duas negações a respeito da Lua, que estão<br />
nos versos 7 e 8, ratificam-se no verso 9, em que<br />
a Lua aparece despida de um “velho segredo”.<br />
e) Os decassílabos da primeira estrofe confirmam<br />
o desejo de despojamento de sentimento e de<br />
palavras.<br />
345. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa incorreta. Pressupõe-se que:<br />
a) em outro tempo, atribuiu-se à lua um segredo de<br />
melancolia.<br />
b) a Lua dos loucos e enamorados é atribuição romântica.<br />
c) a Lua, espetáculo para sentimentalismos e emoções<br />
fáceis, não é a lua essencial, que o poeta quer.<br />
d) o poeta está cansado da exploração que foi feita<br />
da lua.<br />
e) o poeta nega os sentimentos.<br />
Texto para as questões 346 e 347.<br />
Texto I<br />
Abriram-se os braços do guerreiro adormecido e<br />
seus lábios; o nome da virgem ressoou docemente.<br />
A juruti, que divaga pela floresta, ouve o terno<br />
arrulho do companheiro; bate as asas, e voa ao aconchegar-se<br />
ao tépido ninho. Assim a virgem do sertão<br />
aninhou-se nos braços do guerreiro.<br />
Quando veio a manhã, ainda achou Iracema<br />
ali debruçada, qual borboleta que dormiu no seio do<br />
formoso cacto. Em seu lindo semblante acendia o pejo<br />
vivos rubores; e como entre os arrebóis da manhã cin-<br />
tila o primeiro raio do sol, em suas faces incendiadas<br />
rutilava o primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído<br />
amor.<br />
ALENCAR, José de. Iracema, 1865.<br />
Texto II<br />
A primeira vez que vi Teresa<br />
Achei que ela tinha pernas estúpidas<br />
Achei também que a cara parecia uma perna<br />
Quando vi Teresa de novo<br />
Achei que os olhos eram muito mais velhos que<br />
[o resto do corpo<br />
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando<br />
[que o resto do corpo nascesse)<br />
Da terceira vez não vi mais nada<br />
Os céus se misturaram com a terra<br />
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a<br />
[face das águas.<br />
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem, 1960.<br />
346. UFRJ<br />
A que estilos literários pertencem os textos I e II e<br />
como se caracteriza a relação amorosa em cada um<br />
deles?<br />
347. UFRJ<br />
Qual a mudança que se constata na forma como é vista<br />
a mulher, na terceira estrofe do texto II, em relação às<br />
duas primeiras?<br />
348. Vunesp<br />
O bicho<br />
Vi ontem um bicho<br />
Na imundície do pátio<br />
Catando comida entre os detritos.<br />
Quando achava alguma coisa,<br />
Não examinava nem cheirava:<br />
Engolia com voracidade.<br />
O bicho não era um cão,<br />
Não era um gato,<br />
Não era um rato.<br />
O bicho, meu Deus, era um homem.<br />
Observando o poema de Manuel Bandeira, podemos<br />
encontrar uma única expressão que indica o sentimento<br />
do poeta.<br />
a) Qual é essa expressão, que sentimento ela indica<br />
e como deve ser gramaticalmente classificada?<br />
b) Esse sentimento está enfatizado através de um<br />
processo estilístico que engloba os predicativos<br />
do sujeito. Dê o nome desse processo.<br />
349. UFSCar-SP<br />
Não permita Deus que eu morra<br />
Sem que ainda vote em você;<br />
Sem que, Rosa amigo, toda<br />
Quinta-feira que Deus dê,<br />
Tome chá na Academia<br />
Ao lado de vosmecê,<br />
Rosa dos seus e dos outros,<br />
Rosa da gente e do mundo,<br />
247
248<br />
Rosa de intensa poesia<br />
De fino olor sem segundo;<br />
Rosa do Rio e da Rua,<br />
Rosa do sertão profundo<br />
Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira.<br />
Nesse poema, Manuel Bandeira cita, direta ou indiretamente,<br />
obras de outros autores.<br />
a) Identifique o nome de uma dessas obras e o de<br />
seu autor.<br />
b) O poema de Bandeira está escrito em versos livres?<br />
Por quê?<br />
350. Fuvest-SP<br />
Porquinho-da-Índia<br />
Quando eu tinha seis anos<br />
Ganhei um porquinho-da-índia.<br />
Que dor de coração me dava<br />
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!<br />
Levava ele pra sala<br />
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos<br />
Ele não gostava:<br />
Queria era estar debaixo do fogão.<br />
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas ...<br />
– O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.<br />
Manuel Bandeira<br />
a) Aponte, no poema, dois aspectos de estilo que<br />
estejam relacionados ao tema da infância. Explique<br />
sucintamente.<br />
b) Qual é o elemento comum entre a experiência<br />
infantil e a experiência adulta presentes no poema?<br />
Explique sucintamente.<br />
351. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa correta sobre Antônio de Alcântara<br />
Machado.<br />
a) Em seus contos nota-se o aproveitamento de<br />
temas ligados ao cotidiano da cidade de São<br />
Paulo.<br />
b) Dá especial destaque à alta sociedade paulistana,<br />
ressaltando a complexidade psicológica das personagens.<br />
c) Seu estilo informal valoriza o linguajar do migrante<br />
nordestino.<br />
d) Embora contemporâneo de Mário e de Oswald de<br />
Andrade, evitou adotar os princípios estéticos do<br />
Modernismo de 22.<br />
e) Os contos reunidos em Brás, Bexiga e Barra Funda<br />
representam o ponto alto da ficção intimista do<br />
século XX.<br />
352. UFAM<br />
São livros de Antônio de Alcântara Machado e Jorge<br />
de Lima, respectivamente:<br />
a) Brás, Bexiga e Barra Funda e Sentimento do<br />
mundo.<br />
b) Martim-Cererê e A túnica inconsútil.<br />
c) Brás, Bexiga e Barra Funda e Libertinagem.<br />
d) Juca Mulato e XIV Alexandrinos.<br />
e) Laranja da China e Invenção de Orfeu.<br />
Texto para as questões 353 e 354.<br />
Um dos maiores benefícios que o movimento moderno<br />
nos trouxe foi justamente esse: tornar alegre a<br />
literatura brasileira. Alegre quer dizer saudável, viva,<br />
consciente de sua força, satisfeita com seu destino.<br />
Até então no Brasil a preocupação de todo escritor<br />
era parecer grave e severo. O riso era proibido. A pena<br />
molhava-se no tinteiro da tristeza e do pessimismo.<br />
O papel servia de lenço. De tal forma que os livros<br />
espremidos só derramavam lágrimas. Se alguma idéia<br />
caía vinha num pingo delas. A literatura nacional não<br />
passava de uma queixa gemebunda.<br />
Por isso mesmo o segundo tranco da reação foi<br />
mais difícil: integração no ambiente. Fazer literatura brasileira<br />
mas sem choro. Disfarçando sempre a tristeza do<br />
motivo quando inevitável. Rindo como um moleque.<br />
Antônio de Alcântara Machado, Cavaquinho e saxofone.<br />
353. Unifesp<br />
Entre os textos de Manuel Bandeira (de O ritmo dissoluto),<br />
transcritos nas cinco alternativas, aquele que<br />
comprova a opinião de Alcântara Machado é:<br />
a) E enquanto a mansa tarde agoniza,<br />
Por entre a névoa fria do mar<br />
Toda a minhalma foge na brisa;<br />
Tenho vontade de me matar.<br />
b) A beleza é um conceito.<br />
E a beleza é triste.<br />
Não é triste em si,<br />
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.<br />
c) Sorri mansamente... em um sorriso pálido... pálido<br />
Como o beijo religioso que puseste<br />
Na fronte morta de tua mãe... sobre a sua fronte<br />
morta...<br />
d) Noite morta.<br />
Junto ao poste de iluminação<br />
Os sapos engolem mosquitos.<br />
e) A meiga e triste rapariga<br />
Punha talvez nessa cantiga<br />
A sua dor e mais a dor de sua raça...<br />
Pobre mulher, sombria filha da desgraça!<br />
354. Unifesp<br />
Assinale a alternativa que indica apenas as obras<br />
de ficção que, por serem anteriores ao “movimento<br />
moderno”, contrariam as observações apresentadas<br />
no texto de Antônio de Alcântara Machado.<br />
a) A moreninha, Lucíola, Dom Casmurro.<br />
b) O sertanejo, O cortiço, O ateneu.<br />
c) Memórias de um sargento de milícias, Memórias<br />
póstumas de Brás Cubas, O noviço.<br />
d) Memorial de Aires, Iracema, O missionário.<br />
e) A normalista, Os sertões, Canaã.<br />
355. UEL-PR<br />
Com relação à obra Novelas paulistanas, de Alcântara<br />
Machado, é correto afirmar:<br />
a) Apresenta um quadro pitoresco da sociedade paulistana<br />
da década de 1920. Seu poder descritivo explora<br />
as relações humanas, incorporando ao quadro<br />
nacional a figura do imigrante e fornecendo, assim,<br />
uma visão mais ampla da sociedade brasileira.
PV2D-07-54<br />
b) Voltada para a realidade circundante, nega a incorporação<br />
do negro como parte formativa da cultura<br />
brasileira, revelando, com isso, um olhar preconceituoso<br />
diante da diversidade étnica do Brasil.<br />
c) Assim como grande parte da prosa modernista,<br />
é marcada pelo rigor formal e pela escassez de<br />
inovações estéticas, o que confere ao discurso de<br />
Alcântara Machado um tom tradicional e erudito.<br />
d) A utilização do tom coloquial projeta Alcântara<br />
Machado rumo a um paralelo com a idealização<br />
romântica, pois os imigrantes são idealizados e<br />
aproximados à figura do índio romântico, ou seja,<br />
o imigrante é visto como um prolongamento da<br />
figura do herói nacional.<br />
e) O humor é conseguido pela adoção do sentimentalismo<br />
romântico, sobretudo no que se refere à<br />
figura do imigrante.<br />
356. Fasm-SP<br />
Brás, Bexiga e Barra Funda, obra escrita por Alcântara<br />
Machado em 1927, compõe-se de onze narrativas<br />
curtas e traz como subtítulo “Notícias de São Paulo”.<br />
Deste livro como um todo, pode-se afirmar que:<br />
a) apresenta estilo seco e uma linguagem sintaticamente<br />
complexa com predominância de períodos<br />
longos e de orações subordinadas, que dificultam<br />
a leitura do texto.<br />
b) caracteriza o modo de vida do brasileiro e oferece o<br />
recorte paulistano da família tradicional bandeirante.<br />
c) está impregnado de uma atmosfera de reportagem<br />
que o aproxima do jornal por captar o fato, o instantâneo<br />
da vida cotidiana.<br />
d) revela aversão ao estilo afetado e ao convencionalismo<br />
literário, mas não sofreu influência nem<br />
do cinema nem do jornal.<br />
e) caricaturiza o brasileiro classe média, homem da<br />
cidade, vivendo situações de revolta e indignação,<br />
arroubos de brasilidade e comicidade cotidiana.<br />
357.<br />
Alcântara Machado escreveu Brás, Bexiga e Barra Funda,<br />
em 1927. A respeito dessa obra, é incorreto afirmar que:<br />
a) se encontram nela exemplos de uma ágil literatura citadina,<br />
muito de divertimento e um olhar sobre os novos<br />
bairros operários e de classe média de São Paulo.<br />
b) se caracteriza por uma linguagem em que se<br />
notam nitidamente procedimentos renovadores<br />
de construção, cuja marca maior são a concisão<br />
e a brevidade.<br />
c) apresenta narrativas montadas à semelhança da<br />
linguagem cinematográfica, com planos, seqüências<br />
cortes espaço-temporais, elipses, fragmentos,<br />
superposição de planos.<br />
d) é habitada por personagens tiradas da realidade da<br />
vida: o carcamano extrovertido, as costureirinhas<br />
das fábricas e do comércio em geral, as crianças<br />
pobres e humildes, os “intalianinhos”.<br />
e) é uma grande sátira ao imigrante italiano que,<br />
morando no Brás, desejava alcançar a Avenida<br />
Paulista e, por isso, a obra mostra-se como crítica<br />
aos ítalo-brasileiros por serem uma ameaça à<br />
família tradicional paulistana.<br />
358.<br />
Leia atentamente os fragmentos abaixo e responda<br />
à questão.<br />
Texto I<br />
Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual<br />
é tão prodigiosa que falam numa língua e escrevem<br />
noutra. Assim chegado a estas plagas hospitalares,<br />
nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da<br />
etnologia da terra, e dentre muita surpresa e assombro<br />
que se nos deparou por certo não foi das menores tal<br />
originalidade lingüística. Nas conversas, utilizam-se os<br />
paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso<br />
de feição e impuro na vernaculidade (...). Mas si de<br />
tal desprezível língua se utilizam na conversação os<br />
naturais desta terra, logo que tomam da pena, se despojam<br />
de tanta asperidade, (...), exprimindo-se numa<br />
outra linguagem, (...) que com imperecível galhardia,<br />
se intitula: língua de Camões!<br />
Texto II<br />
(...) A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros<br />
Vinha da boca do povo na língua errada do povo<br />
<strong>Língua</strong> certa do povo.<br />
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil<br />
Ao passo que nós<br />
O que fazemos<br />
É macaquear<br />
A sintaxe lusíada (...)<br />
O texto I pertence ao capítulo “Carta pras Icamiabas”, da<br />
obra Macunaíma, de Mário de Andrade. O texto II é trecho<br />
do poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira.<br />
Assinale a afirmação incorreta com relação às obras.<br />
a) O poeta Bandeira defende o prosaico e faz uma<br />
exaltação da língua popular brasileira, uma das<br />
marcas da estética modernista.<br />
b) Ao utilizar termos como galhardia para a linguagem<br />
escrita e desprezível língua para o discurso oral, Mário<br />
de Andrade se opõe à idéia apresentada pelo eu lírico<br />
do poema, que defende a fala gostosa brasileira.<br />
c) Ambos os textos propõem uma reflexão lingüística:<br />
a diferença entre os registros no uso da língua, a<br />
qual pode ser exemplificada no contraste entre o<br />
português oral e o escrito.<br />
d) O texto I representa algo bem diferente do restante do<br />
corpo da rapsódia. A carta rompe com a disposição<br />
coloquial que até então se encarregava da narração<br />
e instaura uma linguagem formal e empolada.<br />
e) Os dois autores, modernistas da 1ª geração, usam<br />
o humor para apontar o mesmo ponto do programa<br />
estético que os une: a defesa da vertente brasileira<br />
da língua portuguesa, em contraste com a tendência<br />
academicista, parnasiana, comum na época.<br />
359. Fatec-SP<br />
Identifique os procedimentos lingüísticos e o estilo de<br />
época que caracterizam o trecho a seguir de Alcântara<br />
Machado.<br />
Trem misterioso. Noite fora noite dentro. O chefe<br />
vinha recolher os bilhetes de cigarro na boca. Chegava<br />
a passagem bem perto da ponta acesa e dava uma<br />
chupada para fazer mais luz. Via mal e mal a data e<br />
ia guardando no bolso.<br />
249
a) Períodos longos. Coordenação e subordinação.<br />
Pré-Modernismo.<br />
b) Períodos curtos. Subordinação. Frases nominais.<br />
Barroco.<br />
c) Períodos curtos. Coordenação. Frases nominais.<br />
Modernismo.<br />
d) Períodos longos. Coordenação. Flashes.<br />
360. Mackenzie-SP<br />
“Assim, essas cenas cotidianas transformam em heróis<br />
não aqueles que se destacaram dos demais por feitos<br />
grandiosos, mas justamente o contrário: homens e<br />
mulheres perdidos no anonimato da cidade grande,<br />
vivendo a mesma vidinha feita de pequenas tragédias<br />
e muitas comédias. Os robespierres, washingtons,<br />
cíceros e ulisses mostram que o verdadeiro grande<br />
personagem não é este ou aquele indivíduo, mas<br />
sim a multidão dos pequenos heróis de todos os dias<br />
que, juntos, compõem o retrato de São Paulo dos<br />
anos 20”.<br />
O trecho acima dá claras informações a respeito de:<br />
a) Brás, Bexiga e Barra Funda.<br />
b) Pathé-Baby.<br />
c) Laranja da China.<br />
d) Mana Maria.<br />
e) Serafim Ponte Grande.<br />
361. Mackenzie-SP<br />
Os primeiros escritos de nossa vida documentam<br />
precisamente a instauração do processo: são informações<br />
que viajantes e missionários europeus colheram<br />
sobre a natureza e o homem brasileiro (...) É graças<br />
a essas tomadas diretas da paisagem, do índio e dos<br />
grupos sociais nascentes, que captamos as condições<br />
primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia<br />
contar com o fenômeno da palavra-arte.<br />
Em mais de um momento, a inteligência brasileira,<br />
reagindo contra certos processos agudos de europeização,<br />
procurou, nas raízes da terra e do nativo,<br />
imagens para se afirmar em face do estrangeiro.<br />
Assinale a alternativa em que aparece o nome de um<br />
autor que não apresentou tal tendência em qualquer<br />
parte de usa obra.<br />
a) Oswald de Andrade<br />
b) José de Alencar<br />
c) Gonçalves Dias<br />
d) Antônio de Alcântara Machado<br />
e) Mário de Andrade<br />
362. PUC-MG<br />
Todas as afirmativas a seguir se referem aos elementos<br />
narrativos dos contos da obra Brás, Bexiga e Barra<br />
Funda, exceto:<br />
a) muitos enredos se revestem de humor.<br />
b) as personagens traduzem determinada época.<br />
c) o contexto é paulistano, com influências italianas.<br />
d) o narrador é distante e frio ante os fatos narrados.<br />
e) cada conto se faz independente, com temáticas<br />
variadas.<br />
250<br />
363. PUC-MG<br />
- Na avenida Água Branca os bondes formando cordão<br />
esperavam campainhando o zé-pereira.<br />
- Aqui, Miquelina.<br />
Os três espremeram-se no banco onde já havia três.<br />
E gente no estribo. E gente na coberta. E gente nas<br />
plataformas. E gente do lado da entrevia.<br />
A alegria dos vitoriosos demandou a cidade. Berrando,<br />
assobiando e cantando. O mulato com a mão no<br />
guindaste é quem puxava a ladainha:<br />
- O Palestra levou na testa!<br />
E o pessoal entoava:<br />
Ora pro nobis!<br />
O trecho anterior, de Brás, Bexiga e Barra Funda – Notícias<br />
de São Paulo, faz juz ao título da obra, porque:<br />
a) apresenta frases nominais, vinculadas ao caráter<br />
jornalístico proposto no título.<br />
b) usa metonímias que garantem personagens italianos,<br />
segundo propõe o título.<br />
c) retrata uma cena pertencente ao espaço sugerido<br />
pelo título.<br />
d) conta um fato extraordinário, de caráter noticioso,<br />
de acordo com a afirmação do título.<br />
e) faz ironia à cultura italiana, conforme o título evidencia.<br />
364. PUC-MG<br />
Todas as alternativas a seguir apresentam trechos da<br />
obra Brás, Bexiga e Barra Funda, que trazem em destaque<br />
espressões que se relacionam a características<br />
das personagens, exceto:<br />
a) Fazem parte do dia-a-dia paulistano: “– Diga a ela<br />
que eu a espero amanhã de noite, às oito horas,<br />
na rua... atrás da Igreja de Santa Cecília. Mas que<br />
ela vá sozinha, hein? Sem você. O barbeirinho<br />
também pode ficar em casa. – Barbeirinho nada!<br />
Entregador da Casa Clark!”<br />
b) São nomeados de forma a expressar a relação<br />
ítalo-brasileira: “Depois que os seus olhos cheios<br />
de estrabismo e despeito vêem a lanterninha traseira<br />
do Buick desaparecer, Bianca resolve dar um<br />
giro pelo bairro. Imaginando cousas. Roendo as<br />
unhas. Nervosíssima. Logo encontra a Ernestina.<br />
Conta tudo à Ernestina.”<br />
c) Expressam a influência italiana através de estrangeirismo:<br />
“O capital acendeu um charuto. O conselheiro<br />
coçou os joelhos disfarçando a emoção.<br />
A negra de broche serviu o café. – Dopo o doutor<br />
me dá a resposta. Io só digo isto: penso bem.”<br />
d) São parte de um contexto urbano: “Dem-dem! O<br />
bonde deu um solavanco, sacudiu os passageiros,<br />
deslizou, rolou, seguiu. Dem-dem!”<br />
e) Inserem-se em uma sociedade violenta: “a entrada<br />
de lisetta em casa marcou época na história<br />
dramática da família Garbone. Logo na porta um<br />
safanão. Depois um tabefe. Outro no corredor.<br />
Intervalo de dois minutos. Foi então a vez das<br />
chineladas. Para remate. Que não acabava mais.<br />
O resto da gurizada (...) reunido na sala de jantar<br />
sapeava de longe.”
PV2D-07-54<br />
365. PUC-MG<br />
O título da obra Brás, Bexiga e Barra Funda - Notícias<br />
de São Paulo, de Alcântara Machado, só não<br />
se relaciona:<br />
a) ao vínculo paulista com a cultura italiana.<br />
b) ao espaço da narrativa.<br />
c) à imparcialidade com que as histórias são narradas.<br />
d) a acontecimentos cotidianos que a obra relata.<br />
e) ao estilo jornalístico que perpassa os contos.<br />
366. Mackenzie-SP<br />
Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Primo<br />
o doutor pense bem. E poi me dê a sua resposta. Domani,<br />
dopo domani, na outra semana, quando quiser,<br />
io resto à sua disposição. Ma pense bem!<br />
O trecho acima faz parte de:<br />
a) Amar, verbo intransitivo.<br />
b) Serafim Ponte Grande.<br />
c) Brás, Bexiga e Barra Funda.<br />
d) Laranja da China.<br />
e) Memórias sentimentais de João Miramar.<br />
367. PUC-SP<br />
Alcântara Machado escreveu Brás, Bexiga e Barra Funda,<br />
em 1927. A linguagem de sua obra, ainda que prosaica e<br />
objetiva, é marcada por procedimentos estilísticos poéticos,<br />
denunciados pela presença de figuras de linguagem.<br />
Assim, indique a alternativa em que, em trechos da obra<br />
citada, ocorre a presença de uma metáfora.<br />
a) Aristodemo deu folga no serviço. Também levou<br />
um colosso de cópias.<br />
b) O violão e a flauta recolhendo de farra emudeceram<br />
respeitosamente na calçada.<br />
c) O vestido de Carmela coladinho no corpo era de<br />
organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora.<br />
Sapatinhos verdes. Bago de uva marengo para os<br />
lábios dos amadores.<br />
d) Não é assim não. Retumbante tem que estalar,<br />
criaturas, tem que retumbar! É palavra... onomatopaica.<br />
RETUMBANTE.<br />
e) Resolveu primeiro apertar o homem no vencimento<br />
da letra. E acendeu um Castro Alves.<br />
Capítulo 4<br />
370. FAAP-SP<br />
Texto I<br />
Minha terra tem palmeiras<br />
Onde canta o sabiá;<br />
As aves que aqui gorjeiam,<br />
Não gorjeiam como lá.<br />
Gonçalves Dias<br />
Texto II<br />
Minha terra tem macieiras da Califórnia<br />
onde cantam gaturamos de Veneza.<br />
Os poetas da minha terra<br />
são pretos que vivem em torres de ametista,<br />
os sargentos do exército são monistas, cubistas,<br />
368. Unicamp-SP<br />
O conto “Gaetaninho” começa com a fala “– Xi, Gaetaninho,<br />
como é bom!” e termina com a seguinte afirmação:<br />
“Quem na boléia de um dos carros do cortejo<br />
mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista<br />
da gente era o Beppino”.<br />
Antônio Alcântara Machado. “Gaetaninho”, in Brás, Bexiga e Barra<br />
Funda. Belo Horizonte/Rio de Janeiro, Villa Rica Ed. Reunidas, 1994.<br />
A fala inicial é de Beppino, mencionado também no<br />
último parágrafo.<br />
a) A que ele se referia como sendo bom?<br />
b) Ambos os trechos citados têm relação direta com o<br />
núcleo central da narrativa. Que núcleo é esse?<br />
c) Que relação há entre os nomes próprios das personagens<br />
e o título do livro?<br />
369. Fuvest-SP<br />
(…) No fundo o imponente castelo. No primeiro<br />
plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo.<br />
Descendo a ladeira numa disparada louca o fogoso<br />
ginete. Montado no ginete o apaixonado caçula do<br />
castelão inimigo de capacete prateado com plumas<br />
brancas. E atravessada no ginete a formosa donzela<br />
desmaiada entregando ao vento os cabelos cor de<br />
carambola.<br />
A. de Alcântara Machado, Carmela<br />
(…) Íamos, se não me engano, pela rua das<br />
Mangueiras, quando, voltando-nos, vimos um carro<br />
elegante que levavam a trote largo dois fogosos cavalos.<br />
Uma encantadora menina, sentada ao lado de<br />
uma senhora idosa, se recostava preguiçosamente<br />
sobre o macio estofo e deixava pender pela cobertura<br />
derreada do carro a mão pequena que brincava com<br />
um leque de penas escarlates.<br />
José de Alencar, Lucíola<br />
Nesses excertos, observa-se que a maioria dos substantivos<br />
são modificados por adjetivos ou expressões<br />
equivalentes. Comparando os dois textos:<br />
a) aponte em cada um deles o efeito produzido por<br />
tal recurso lingüístico;<br />
b) justifique sua resposta.<br />
os filósofos são polacos vendendo a prestações.<br />
A gente não pode dormir<br />
com os oradores e os pernilongos.<br />
Os sururus em família têm por testemunha a<br />
Gioconda.<br />
Eu morro sufocado<br />
em terra estrangeira.<br />
Nossas flores são mais bonitas<br />
nossas frutas são mais gostosas<br />
mas custam cem mil réis a dúzia.<br />
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade<br />
e ouvir um sabiá com certidão de idade!<br />
Murilo Mendes<br />
251
O texto II pertence ao estilo de época do:<br />
a) Modernismo. d) Pré-modernismo.<br />
b) Dadaísmo. e) Simbolismo.<br />
c) Futurismo.<br />
371. Fuvest-SP<br />
Só em torno de 30, e depois, o Brasil histórico e concreto,<br />
isto é, contraditório e já não mais mítico, seria o<br />
objeto preferencial de um romance neo-realista e de<br />
uma literatura abertamente política. Mas ao longo dos<br />
anos propriamente modernistas, o Brasil é uma lenda<br />
sempre se fazendo.<br />
Alfredo Bosi, Céu, Inferno<br />
Aceitando-se o que afirma o texto, poder-se-ia coerentemente<br />
complementá-lo com o seguinte período:<br />
a) “Lendário é o coronel do cacau de Jorge Amado,<br />
tanto ou mais que o senhor de engenho de José<br />
Lins do Rego.”<br />
b) “É assim que se deve reconhecer o modo pelo qual<br />
se opõem as narrativas de Graciliano Ramos e as<br />
de Clarice Lispector.”<br />
c) “Em sua obra-prima ficcional, Macunaíma, Mário<br />
de Andrade veio a recusar esse país mítico-lendário,<br />
abrindo aquela vertente neo-realista.”<br />
d) “Se na fase modernista mais impetuosa a personagem<br />
Macunaíma deu o tom, na subseqüente deu-o<br />
o nordestino de Graciliano Ramos e de José Lins<br />
do Rego.”<br />
e) “Veja-se, como ilustração dessa passagem, que a<br />
saga regionalista de um Érico Veríssimo deu lugar<br />
ao universalismo da ficção de Clarice Lispector”.<br />
372. Fuvest-SP<br />
Em determinada época, o romance brasileiro “procurou<br />
(...) enraizar fortemente as suas histórias e os seus<br />
personagens em espaços e tempos bem circunscritos,<br />
extraindo de situações culturais típicas a sua visão<br />
do Brasil.”<br />
Alfredo Bosi<br />
Essa afirmação aplica-se a:<br />
a) Vidas Secas e Fogo Morto.<br />
b) Macunaíma e A Hora da Estrela.<br />
c) A Hora da Estrela e Serafim Ponte Grande.<br />
d) Fogo Morto e Serafim Ponte Grande.<br />
e) Vidas Secas e Macunaína.<br />
373. Mackenzie-SP<br />
Ficou conhecida como Geração de 1930, na prosa<br />
modernista, um grupo de escritores que refletiu a problemática<br />
político-social do Brasil da época.<br />
Não faz parte de tal geração:<br />
a) Graciliano Ramos<br />
b) José Lins do Rego<br />
c) Jorge Amado<br />
d) João Guimarães Rosa<br />
e) Rachel de Queiroz<br />
374. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa na qual aparece um trecho que<br />
não pode ser creditado a qualquer escritor na prosa<br />
modernista dos anos trinta.<br />
252<br />
a) Já não pareciam condenados a trabalhos forçados:<br />
assimilavam o interesse da produção. E o senhor<br />
de engenho premiava-lhes as iniciativas adquirindo-lhes<br />
os produtos a bom preço.<br />
b) Chape-chape. As alpercatas batiam no chão<br />
rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as<br />
pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se<br />
desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu.<br />
Considerar-se plantado em terra alheia! Engano.<br />
c) Toda a gente tinha achado estranha a maneira como<br />
o Capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de<br />
Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém<br />
sabia de onde, com o chapéu barbicado puxado<br />
para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente<br />
erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava<br />
e ao mesmo tempo fascinava as pessoas.<br />
d) Explico ao senhor: o diabo vive dentro do homem,<br />
os crespos do homem – ou é o homem arruinado,<br />
ou o homem dos avêssos. Solto, por si, cidadão,<br />
é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que<br />
digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco<br />
– é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido.<br />
Êste caso – por estúrdio que me vejam – é<br />
de minha certa importância.<br />
e) Antônio Balduíno fala. Ele não está fazendo discurso,<br />
gente. Está é contando o que viu na sua vida<br />
de malandro. Narra a vida dos camponeses nas<br />
plantações de fumo, o trabalho dos homens sem<br />
mulheres, o trabalho das mulheres nas fábricas de<br />
charuto. Perguntem ao Gordo se pensarem que é<br />
mentira. Conta o que viu. Conta que não gostava<br />
de operário, de gente que trabalhava.<br />
375. UEL-PR<br />
Na década de 30 do século XX:<br />
a) o Modernismo viu esgotados seus ideais, com<br />
a retomada de uma prosa e de uma poesia de<br />
caráter conservador.<br />
b) a poesia se renovou significativamente, graças<br />
a poetas como Carlos Drummond de Andrade e<br />
Murilo Mendes.<br />
c) não houve surgimento de grandes romancistas, o<br />
que só viria a ocorrer na década seguinte.<br />
d) predominou, ainda, o ideário modernista dos primeiros<br />
momentos, sendo central a figura de Graça<br />
Aranha.<br />
e) a poesia abandonou de vez o emprego do verso,<br />
substituindo-o pela composição de palavras soltas<br />
no espaço da página.<br />
376. UEL-PR<br />
Na década de 30, revelaram-se escritores que souberam<br />
revitalizar as conquistas estéticas e culturais da primeira<br />
fase do Modernismo, tais como os autores de:<br />
a) Sagarana e Laços de família.<br />
b) Memórias sentimentais de João Miramar e Contos<br />
novos.<br />
c) Triste fim de Policarpo Quaresma e Canaã.<br />
d) Menino de engenho e O quinze.<br />
e) Paulicéia desvairada e Martim-Cererê.
PV2D-07-54<br />
377. UFPE<br />
Acerca do romance de 1930, analise as proposições<br />
abaixo.<br />
( ) O ciclo do romance regional de 1930 é um dos principais<br />
da prosa dessa geração. É o regionalismo nordestino,<br />
abordando a decadência da região, tendo como<br />
tema único o êxodo rural provocado pela seca.<br />
( ) Graciliano Ramos, alagoano, iniciou-se na literatura<br />
com Caetés. Tem como obras principais Vidas<br />
secas, São Bernardo e Angústia, nas quais analisa<br />
a realidade da vida rural do Nordeste, com aspereza,<br />
linguagem rigorosa, precisa e despojada, sem<br />
nenhuma concessão sentimental.<br />
( ) José Lins do Rego, paraibano, aborda, em seus<br />
livros, o ciclo da cana-de-açúcar, o esplendor e<br />
a decadência dos engenhos do Nordeste e do<br />
patriarcalismo rural. Em suas obras, mistura biografia<br />
com ficção. Nelas predomina a linguagem<br />
espontânea e repetitiva.<br />
( ) Raquel de Queiroz, cearense, escreveu como livro<br />
de estréia O quinze. Sua narrativa sintoniza-se<br />
com o regionalismo da geração de 1930, em que<br />
se pode notar a pré-consciência do subdesenvolvimento.<br />
Nesta fase de sua obra, destaca-se<br />
ainda Caminho de pedra. Mais tarde, a escritora<br />
abandonou os temas de denúncia social.<br />
( ) Jorge Amado, baiano, em um realismo precário,<br />
mas pitoresco, descreve, em Jubiabá, as agruras<br />
da seca do sertão baiano.<br />
378. UFRGS-RS<br />
Assinale a afirmação correta sobre o romance de 1930.<br />
a) Predominou, entre os autores, uma preocupação<br />
de renovação estética seguindo os padrões da<br />
vanguarda literária européia.<br />
b) Na obra de José Lins do Rego predomina a<br />
narrativa curta de recriação do modo de vida dos<br />
senhores de engenho.<br />
c) Os autores, em suas obras, tematizaram os problemas<br />
sociais com o intuito de denunciar as agruras<br />
das populações menos favorecidas.<br />
d) O caráter regionalista dos romances deste período<br />
deve-se à reprodução fiel do linguajar típico de<br />
cada região.<br />
e) A obra de Jorge Amado pode ser considerada<br />
uma exceção, no conjunto da época, porque seus<br />
romances apresentam uma grande inovação na<br />
estrutura narrativa.<br />
379. UFSC<br />
Mário Quintana, considerado pela crítica um lírico autêntico,<br />
possuía rigoroso domínio da forma poética e uma<br />
agilidade criadora que lhe permitiam passar de uma inspiração<br />
a outra, sem deter-se em lugares-comuns. Seus<br />
poemas têm um direcionamento mais filosófico do que<br />
social. Assinale as proposições em que o comentário está<br />
correto de acordo com o texto de Mário Quintana.<br />
01. Que dança que não se dança?/ Que trança não se<br />
destrança?/ O grito que voou mais alto/ Foi um grito<br />
de criança. O autor fez uso, nesse texto, a exemplo<br />
dos simbolistas, da musicalidade obtida pela repetição<br />
e/ou semelhança de palavras e sons.<br />
02. Eu quero os meus brinquedos novamente!/ Sou<br />
um pobre menino... acreditai.../ Que envelheceu,<br />
um dia, de repente!... Mário Quintana revela saudade<br />
da infância, tempo feliz, em contraste com o<br />
desagrado da velhice digna de piedade.<br />
04. Ah!, se eu pudesse, tardezinha pobre,/ Eu pintava trezentos<br />
arco-íris/ Nesse tristonho céu que nos encobre<br />
... O poeta faz uso das figuras de linguagem hipérbole<br />
(exagero) e prosopopéia (personificação).<br />
08. Quantas coisas perdidas e esquecidas/ no teu baú<br />
de espantos... Bem no fundo,/ uma boneca toda<br />
estraçalhada!/ É ela, sim! Só pode ser aquela,/ a<br />
jamais esquecida Bem-Amada./ Em vão tentas<br />
lembrar o nome dela.../ E em vão ela te fita... e<br />
a sua boca/ tenta sorrir-te mas está quebrada!<br />
Mário Quintana, através de metáforas, sugere<br />
uma divagação pelo seu tempo de infância, haja<br />
vista a saudade da menina amada, de cujo nome<br />
e sorriso não consegue lembrar-se.<br />
16. A morte deveria ser assim:/ um céu que pouco a<br />
pouco anoitecesse/ e a gente nem soubesse que<br />
era o fim. O poeta faz uma reflexão em torno do<br />
mistério que a palavra morte sugere, porque não<br />
sabe como, nem quando vai ocorrer, mas aspira a<br />
que seja simples e suave como o anoitecer.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
Texto para as questões 380 e 381.<br />
Além do horizonte, deve ter<br />
Algum lugar bonito pra viver em paz<br />
Onde eu possa encontrar a natureza<br />
Alegria e felicidade com certeza.<br />
Lá nesse lugar o amanhecer é lindo<br />
com flores festejando mais um dia que vem vindo<br />
Onde a gente possa se deitar no campo<br />
Se amar na selva, escutando o canto dos pássaros.<br />
380. UFPE<br />
Roberto e Erasmo Carlos estão falando de um lugar<br />
ideal, de um ambiente campestre, calmo.<br />
A natureza representou a afirmação do nacionalismo<br />
brasileiro, nos períodos romântico e modernista.<br />
Partindo deste pressuposto, assinale a alternativa<br />
incorreta.<br />
a) “O exotismo e a exuberância da natureza brasileira<br />
tanto inspiraram os autores românticos quanto os<br />
modernistas.”<br />
b) “O ufanismo nacionalista foi explorado no Romantismo,<br />
enquanto no Modernismo havia, para o<br />
nacionalismo, uma perspectiva crítica.”<br />
c) “Para os românticos, a natureza exerceu profundo<br />
fascínio; nela eles viam a antítese da civilização<br />
que os oprimia.”<br />
d) “No Modernismo, os princípios nacionalistas defendidos<br />
por seus representantes incluíam o culto à natureza,<br />
comprometido com a visão européia de mundo.”<br />
e) “Nas várias tendências do movimento modernista,<br />
a natureza não se apresenta transfigurada, mas<br />
real. Os modernistas não se consideravam nacionalistas<br />
exaltados só pelo simples fato de serem<br />
brasileiros. Antes de mais nada, não tinham medo<br />
de falar dos males do Brasil.”<br />
253
381. UFPE<br />
Nos poemas, contos e romances cuja temática é nordestina,<br />
a literatura moderna apresenta a Natureza<br />
quase sempre inóspita, agressiva. Qual dos fragmentos<br />
não justifica esta afirmação?<br />
a) Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada,<br />
ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar<br />
gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens<br />
fortes, brutos como Fabiano, sinha Vitória e os<br />
dois meninos. Graciliano Ramos, em Vidas secas.<br />
b) Há uma miséria maior do que morrer de fome no<br />
deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã.<br />
José Américo de Almeida, em A bagaceira.<br />
c) Tirei mandioca de chãs que o vento vive a esfolar e<br />
de outras escalavradas pela seca faca solar. João<br />
Cabral de Melo Neto, em Morte e vida severina.<br />
d) Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando de<br />
retirantes se arranchara (...) Em toda a extensão<br />
da vista, nem uma outra árvore surgia. Só aquele<br />
velho juazeiro, devastado e espinhento, verdejaria<br />
a copa hospitaleira na desolação cor de cinza da<br />
paisagem. Raquel de Queiroz, em O quinze.<br />
e) Este açúcar veio de uma usina de açúcar em<br />
Pernambuco(...) Este açúcar era cana e veio dos<br />
canaviais extensos que não nascem por acaso no<br />
regaço do vale. Ferreira Gullar, em O açúcar.<br />
382. UFF-RJ<br />
Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha<br />
1 Muitos deles ou quase a maior parte dos que andavam<br />
ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços.<br />
E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços<br />
furados e nos buracos uns espelhos de pau, que<br />
pareciam espelhos de borracha; outros traziam três<br />
daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos<br />
cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a<br />
saber, metade deles da sua própria cor, e metade<br />
de tintura preta 2 , a modos de azulada; e outros<br />
quartejados de escaques 3 . Ali andavam entre eles<br />
três ou quatro moças, bem moças e bem gentis,<br />
com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas,<br />
e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas<br />
e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem<br />
olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.<br />
2 Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que<br />
mais contra o sul vimos até a outra ponta que<br />
contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos<br />
vista, será tamanha que haverá nela bem<br />
vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao<br />
longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras,<br />
delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima<br />
toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De<br />
ponta a ponta, é toda praia parma 4 , muito chã 5 e<br />
muito formosa.<br />
3 Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande,<br />
porque, a estender olhos, não podíamos ver<br />
senão terra com arvoredos, que nos parecia muito<br />
longa. Nela, até agora, não pudemos saber que<br />
haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal<br />
254<br />
ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de<br />
muito bons ares, assim frios e temperados, como<br />
os de Entre Douro e Minho, poque neste tempo de<br />
agora os achávamos como os de lá.<br />
4 Águas são muitas: infindas. E em tal maneira é<br />
graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela<br />
tudo, por bem das águas que tem.<br />
Carta de Pero Vaz de Caminha. in: PEREIRA, Paulo Roberto (org.) Os<br />
três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil.<br />
Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, pp.39-40<br />
Vocabulário<br />
1. “espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha”:<br />
associação de imagem, com a tampa de um vasilhame de<br />
couro, para transportar água ou vinho, que recebia o nome<br />
de “espelho” por ser feita de madeira polida.<br />
2. “tintura preta, a modos de azulada”: é uma tintura feita<br />
com o sumo do fruto jenipapo.<br />
3. “escaques”: quadrados de cores alternadas como os do<br />
tabuleiro de xadrez.<br />
4. “parma”: lisa como a palma da mão.<br />
5. “chã”: terreno plano, planície.<br />
Assinale o fragmento que representa uma retomada<br />
modernista da carta de Pero Vaz de Caminha.<br />
a) O Novo Mundo nos músculos/ Sente a seiva do<br />
porvir. Castro Alves<br />
b) Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o sabiá.<br />
Golçalves Dias<br />
c) A terra é mui graciosa/ Tão fértil eu nunca vi. Murilo<br />
Mendes<br />
d) Irás a divertir-te na floresta,/ sustentada, Marília,<br />
no meu braço.Tomás Antônio Gonzaga<br />
e) Todos cantam sua terra / Também vou cantar a<br />
minha. Casimiro de Abreu.<br />
383. ITA-SP<br />
Certos traços da vertente realista-naturalista da literatura<br />
brasileira renascem com força nos anos 30 do século<br />
XX. Um marco desse renascimento é a publicação,<br />
em 1938, do livro Vidas secas, de Graciliano Ramos,<br />
romance acerca do qual é possível dizer:<br />
I. Ele registra com nitidez as seqüelas da miséria<br />
sobre uma família pobre de retirantes nordestinos,<br />
miséria essa que acaba levando as personagens<br />
a um estágio de degradação moral.<br />
lI. Diferentemente da narrativa realista do século XIX,<br />
o tema desse livro não é mais o adultério feminino<br />
e as relações de interesse que marcam a classe<br />
burguesa, mas sim as condições precárias de<br />
pessoas humildes do sertão brasileiro.<br />
III. Apesar de as personagens viverem em condições<br />
desumanas, elas mantêm a sua dignidade e não<br />
perdem o seu caráter nem a sua humanidade.<br />
Está(ão) correta(s):<br />
a) I e II.<br />
b) I e III.<br />
c) II e III.<br />
d) apenas III.<br />
e) todas.
PV2D-07-54<br />
384.<br />
Observe a tela Guernica do pintor espanhol Pablo<br />
Picasso e leia o texto a seguir do modernista brasileiro<br />
Jorge de Lima<br />
Compare o poema narrativo de Jorge de Lima, “O grande<br />
desastre aéreo de ontem”, com o quadro Guernica,<br />
de Pablo Picasso.<br />
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma<br />
flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista,<br />
em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com<br />
sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e<br />
pernas de dançarinas arremessadas na explosão.<br />
Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor.<br />
Vejo a nadadora belíssima, no seu último<br />
salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.<br />
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como<br />
se dançassem ainda. (...) Ó amigos, o paralítico vem<br />
com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente,<br />
vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as<br />
nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que<br />
Deus é o arrebol.<br />
LIMA, Jorge de. Poesia. Nossos Clássicos 26.<br />
Rio de Janeiro: Agir, 1963. p. 64-65.<br />
Arrebol: vermelhidão do pôr-do-sol.<br />
Marque a alternativa errada.<br />
a) Na tela, o pintor fez uso de “pedaços” de realidades,<br />
como se fossem palavras que, somadas,<br />
formam um todo de entendimento.<br />
b) No texto, há flashes de uma mesma realidade,<br />
porém, plenamente configurada.<br />
c) Em ambas as obras, a maneira de abordagem de<br />
cada um dos temas deveu-se a escolhas absolutamente<br />
pessoais.<br />
d) A abordagem de uma tragédia nas duas peças<br />
artísticas é irrelevante, já que o processo de “construção”<br />
eliminou a emocionalidade dos autores.<br />
e) Na pintura, a “montagem” da obra é bem mais<br />
subjetiva do que no texto escrito.<br />
385. PUC-PR<br />
Na seguinte narrativa curta de Mário Quintana, podemos<br />
observar algumas características da obra do escritor:<br />
História<br />
Era um desrecalcado, pensavam todos. Pois já assassinara<br />
uma bem-amada, um crítico e um amigo.<br />
Mas nunca mais encontrou amada, nem crítico, nem<br />
amigo. Ninguém mais que lhe mentisse, ninguém<br />
mais que o incompreendesse, nem nunca mais um<br />
inimigo íntimo...<br />
E vai daí ele se enforcou.<br />
Selecione a alternativa que melhor descreve as características<br />
da obra de Mário Quintana:<br />
a) A destruição indiscriminada, cega e desumana do<br />
mundo circundante.<br />
b) Individualismo auntêntico e generoso, mas carregado<br />
de crítica social.<br />
c) Desconfiança diante das convenções sociais<br />
estabelecidas.<br />
d) Visão desencantada, irônica e crítica da humanidade,<br />
materializada pela força da palavra poética.<br />
e) Nostalgia e saudade dos objetos antigos e do<br />
passado.<br />
386. UFSC<br />
Em relação a Mário Quintana, sua obra e o excerto<br />
abaixo, do livro Poemas, é correto afirmar que:<br />
Fere de leve a frase... E esquece... Nada / Convém<br />
que se repita... / Só em linguagem amorosa agrada /<br />
A mesma coisa cem mil vezes dita.<br />
01. O texto poético caracteriza-se por apresentar muitas<br />
inversões que atendem estilisticamente ao ritmo dos<br />
versos. No excerto, por exemplo, a palavra Só pode<br />
ser deslocada: ‘em linguagem amorosa só agrada’,<br />
sem alteração de significado.<br />
02. Percebe-se, no excerto acima, uma preocupação<br />
metalingüística do autor, que extravasa em alguns<br />
poemas suas próprias concepções sobre<br />
a poesia.<br />
04. A idéia de o poema ser ‘único’, uma das características<br />
da obra de Mário Quintana, está presente<br />
no excerto acima.<br />
08. São características de Mário Quintana, entre<br />
outras: a natureza pessoal, quase autobiográfica,<br />
de sua obra; o cultivo da forma; e o humor.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
387. PUC-RS<br />
Leia o texto que se segue.<br />
Lá adiante, em plena estrada, o pasto se enramava,<br />
e uma pelúcia verde, verde e macia, se estendia no<br />
chão até perder de vista.<br />
A caatinga despontava toda em grelos verdes [...]<br />
Insetos cor de folha – “esperanças” = saltavam<br />
sobre a grama.<br />
[...]<br />
Mas a triste realidade duramente ainda recordava<br />
a seca.<br />
Passo a passo, na babugem macia, carcaças sujas<br />
maculavam a verdura.<br />
Reses famintas, esquálidas, magoavam o focinho<br />
no chão áspero, que o mato ainda tão curto mal cobria,<br />
procurando em vão apanhar nos dentes os brotos<br />
pequeninos.<br />
Trata-se de trecho de ___________, de Rachel de<br />
Queiroz – obra que se caracteriza pela ___________,<br />
evidenciando a consciência crítica da autora acerca<br />
do problema da seca. É dessa forma que a obra se<br />
associa ao que se convencionou denominar romance<br />
_________.<br />
a) Fogo morto – regionalista<br />
b) O quinze – denúncia - de vanguarda<br />
c) São Bernardo – verossimilhança – nacionalista<br />
d) O quinze – verossimilhança – de 30<br />
e) Jubiabá – denúncia - regionalista<br />
255
388. UFV-MG<br />
Leia atentamente o poema abaixo.<br />
Canção do Exílio<br />
Minha terra tem macieiras da Califórnia<br />
onde cantam gaturamos de Veneza.<br />
Os poetas da minha terra<br />
são pretos que vivem em torres de ametista,<br />
os sargentos do exército são monistas, cubistas,<br />
os filósofos são polacos vendendo a prestações.<br />
A gente não pode dormir<br />
com os oradores e os pernilongos.<br />
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.<br />
Eu morro sufocado<br />
em terra estrangeira.<br />
Nossas flores são mais bonitas<br />
nossas frutas mais gostosas<br />
mas custam cem mil réis a dúzia.<br />
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade<br />
e ouvir um sabiá com certidão de idade!<br />
MENDES, Murilo. O menino experimental: antologia. Org. Affonso<br />
Romano de Sant’Anna. São Paulo: Summus, 1979. p. 31.<br />
Disserte sobre a visão do nacionalismo segundo Murilo<br />
Mendes, apresentando tendências da literatura modernista<br />
que se evidenciam no poema acima.<br />
389. Unirio-RJ<br />
Metade Pássaro<br />
A mulher do fim do mundo<br />
Dá de comer às roseiras,<br />
Dá de beber às estátuas,<br />
Dá de sonhar aos poetas.<br />
A mulher do fim do mundo<br />
Chama a luz com um assobio.<br />
Faz a virgem virar pedra,<br />
Cura a tempestade,<br />
Desvia o curso dos sonhos.<br />
Escreve cartas ao rio,<br />
Me puxa do sono eterno<br />
Para os seus braços que cantam.<br />
Murilo Mendes<br />
a) Cite o movimento de vanguarda a que o texto<br />
acima pode ser associado.<br />
b) No texto, o autor desestrutura o senso e instaura<br />
o contra-senso.<br />
Teça um breve comentário que justifique a afirmativa<br />
acima.<br />
390. UFF-RJ<br />
Quinze de Novembro<br />
Deodoro todo nos trinques<br />
Bate na porta de Dão Pedro Segundo.<br />
“- Seu imperadô, dê o fora<br />
que nós queremos tomar conta desta bugiganga.<br />
Mande vir os músicos.”<br />
O imperador bocejando responde<br />
“Pois não meus filhos não se vexem<br />
me deixem calçar as chinelas<br />
podem entrar à vontade:<br />
só peço que não me bulam nas obras completas de<br />
Victor Hugo.”<br />
Murilo Mendes. Poesia completa e prosa.<br />
256<br />
O poeta Murilo Mendes apresenta um fato histórico<br />
construído também por discursos diretos que refletem<br />
uma visão crítica e irônica da Proclamação da<br />
República. Justifique como os diferentes registros de<br />
língua, na caracterização da fala dos personagens,<br />
constroem a visão crítica e irônica da Proclamação<br />
da República.<br />
391. PUCCamp-SP<br />
Em sua obra, se acentuam os contrastes de requinte<br />
e fartura das casas-grandes com a promiscuidade e a<br />
miséria das senzalas, a sensualidade desenfreada e<br />
a subserviência dos homens do eito. Mas há também<br />
o homem e a paisagem. Certamente a observação se<br />
concentra na zona açucareira do Nordeste, rica de<br />
tradições que datam do século XVI, no momento em<br />
que se decompõe essa estrutura tradicional por força<br />
de uma nova ordem econômica.<br />
Antonio Candido & José Aderaldo Castello. Presença da Literatura<br />
Brasileira - Modernismo. 6 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1997.<br />
Quando ocorre uma expressão literária comprometida<br />
com a realidade que acima se descreve, os textos<br />
ficcionais que resultam desse compromisso têm como<br />
principal traço o<br />
a) nacionalismo.<br />
b) universalismo.<br />
c) intimismo.<br />
d) regionalismo.<br />
e) cosmopolitismo.<br />
392. UFF-RJ<br />
As pedras disformes<br />
lembram cousas enormes:<br />
– Os monstros que não couberam na arca de Noé!<br />
E em meio à limpidez de um céu sem manchas<br />
Tremeluz,<br />
Infernalmente luminoso,<br />
Um sol assassino!<br />
Oh! Paisagem nua!<br />
– DOR.<br />
Ascenso Ferreira. Catimbó<br />
Ascenso Ferreira, poeta do modernismo, traduz na sua<br />
poesia as razões, a tradição, a paisagem e o viver do<br />
povo do nordeste, poesia também expressa a seguir<br />
pelos traços marcantes do pintor Cícero Dias.<br />
Identifique a passagem que apresenta um sentimento<br />
do sertão diferente da visão crítica predominante no<br />
poema de Ascenso Ferreira, de estética modernista.
PV2D-07-54<br />
a) Oh! Que saudades<br />
Do luar da minha terra<br />
Lá na serra branquejando<br />
Folhas secas pelo chão!<br />
Este luar cá da cidade<br />
Tão escuro não tem aquela saudade<br />
Do luar lá do sertão.<br />
Catulo da Paixão Cearense, Luar do Sertão.<br />
b) Quando olhei a terra ardendo<br />
Qual fogueira de São João,<br />
Eu perguntei a Deus do céu<br />
Porque tamanha judiação.<br />
Que fogueira, que fornalha,<br />
no meu pé de prantação.<br />
Por falta d’água perdi meu gado<br />
morreu de sede meu alazão.<br />
Luiz Gonzaga. Asa Branca.<br />
c) (Glória a Deus Senhor nas altura<br />
E viva eu de amargura<br />
Nas terra do meu senhor)<br />
Carcará<br />
Pega, mata e come,<br />
Carcará<br />
Num vai morrer de fome.<br />
Carcará,<br />
Mais coragem do que home,<br />
Carcará<br />
Pega, mata e come.<br />
João do Vale/ José Cândido. Carcará.<br />
d) E se somos Severinos<br />
Iguais em tudo na vida,<br />
Morremos de morte igual,<br />
Mesma morte severina:<br />
Que é a morte de que se morre<br />
De velhice antes dos trinte,<br />
De emboscada antes dos vinte,<br />
De fome um pouco por dia<br />
João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.<br />
e) Nordeste, terra de São Sol!<br />
Irmã enchente, vamos dar graças a Nosso Senhor,<br />
que a minha madrasta Seca torrou seus anjinhos<br />
para os comer.<br />
São Tomé passou por aqui?<br />
Passou, sim senhor!<br />
Pajeú! Pajeú!<br />
Vamos lavar Pedra Bonita, meus irmãos,<br />
com o sangue de mil meninos, amém!<br />
Jorge de Lima, Poemas.<br />
393. UFU-MG<br />
Assinale a alternativa que não se refere à obra São<br />
Bernardo, de Graciliano Ramos.<br />
a) Na personalidade de Paulo Honório, percebe-se<br />
uma fatalidade que o coloca no limiar do infortúnio:<br />
após o suicício de Madalena e o abandono por<br />
parte daqueles que o cercavam, reconhece sua<br />
brutalidade e egoísmo, porém é incapaz de lutar<br />
contra esses sentimentos.<br />
b) A fazenda-título São Bernardo é um empreendimento<br />
que a ambição de Paulo Honório, por<br />
meio de inovações tecnológicas, transforma em<br />
um típico exemplo da penetração de elementos<br />
capitalistas modernos no campo brasileiro.<br />
c) Paulo Honório, narrador de São Bernardo, adquire<br />
uma consciência de sua problemática, suficiente<br />
para promover uma mudança radical em sua personalidade.<br />
Despe-se de sua máscara, tornandose<br />
uma personagem sentimental e flexível.<br />
d) A narrativa apresenta-se em primeira pessoa e<br />
não perde a objetividade, apesar de tratar da vida<br />
do próprio narrador: o fato de a narração ocorrer<br />
após o desenrolar dos acontecimentos garante ao<br />
narrador a consciência necessária à objetividade<br />
radical do homem.<br />
394. UFU-MG<br />
Com relação às personagens de São Bernardo, de<br />
Graciliano Ramos, assinale a alternativa incorreta.<br />
a) Paulo Honório é egoísta, ciumento, invejoso, cínico<br />
e vil por natureza. Contudo, no decorrer da narrativa,<br />
ao relembrar a sua trajetória de vida, assume<br />
uma postura crítica.<br />
b) A presença constante do padre Silvestre na fazenda<br />
mostra que Paulo Honório conhecia e valorizava<br />
o poder da Igreja no esquema sociopolítico da<br />
República Velha.<br />
c) Madalena é vista na narrativa como vítima, tanto<br />
do meio quanto do indivíduo. Aspira à liberdade e,<br />
por isso, luta para não se curvar à servidão. Não<br />
conseguindo, suicida-se.<br />
d) Margarida criou Paulo Honório como se fosse sua<br />
mãe. A presença dela na fazenda justifica-se, apenas,<br />
pelo amor e consideração de Paulo Honório.<br />
395. Ufla-MG<br />
Considerando a leitura de São Bernardo, de Graciliano<br />
Ramos, é incorreto afirmar que nessa obra o protagonista,<br />
Paulo Honório:<br />
a) lança-se desesperadamente ao trabalho, após a<br />
morte de Madalena, na tentativa de esquecer o<br />
fracasso que foi sua vida.<br />
b) volta-se para si mesmo e escreve seu livro, buscando<br />
o sentido de sua vida.<br />
c) preocupa-se demasiadamente com o conflito e a<br />
instabilidade econômica provocados pela decadência<br />
da fazenda.<br />
d) é dominado pelo egoísmo e pelo instinto de posse,<br />
provocando, com isso, o abandono de todos.<br />
e) é astucioso, desonesto, não hesitando em amedrontar<br />
ou corromper para conseguir o que deseja.<br />
396. Fatec-SP<br />
I.<br />
... encontro-me aqui em São Bernardo, escrevendo.<br />
As janelas estão fechadas. Meia noite. Nenhum<br />
rumor na casa deserta.<br />
Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai<br />
apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me, rolar no colchão<br />
até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar<br />
sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com que<br />
me entreter.<br />
Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e acendo-a.<br />
Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena<br />
persegue-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor<br />
da mesa. Aperto as mãos de tal forma que me firo com<br />
as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os<br />
beiços a ponto de tirar sangue.<br />
257
De longe em longe sento-me fatigado e escrevo<br />
uma linha. Digo em voz baixa:<br />
– Estraguei a minha vida, estraguei-a estupidamente.<br />
A agitação diminui.<br />
– Estraguei a minha vida estupidamente.<br />
II.<br />
...vou deitar ao papel as reminiscências que me<br />
vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi.<br />
O texto II é parte da fala do narrador no 1º capítulo de<br />
Dom Casmurro, de Machado de Assis. Comparando-o<br />
com a fala de Paulo Honório, no último capítulo de São<br />
Bernardo (texto I), é correto afirmar que:<br />
a) ambas as personagens tentam recuperar o passado<br />
através do relato da própria vida, valendo-se, para<br />
tanto, da narrativa em primeira pessoa.<br />
b) a lembrança da mulher amada, presente em ambos<br />
os relatos, desencadeia as duas narrativas que,<br />
intencionalmente, são feitas em terceira pessoa.<br />
c) ambas as personagens, sentindo o peso da velhice,<br />
voltam-se para o passado, numa ávida tentativa de recuperar<br />
a alegria e a tranqüilidade da juventude. Para<br />
tanto, valem-se da narrativa em primeira pessoa.<br />
d) a insônia, causada pelo remorso de uma vida que<br />
poderia ter sido e que não foi, leva ambas as personagens<br />
a permanecerem acordadas. E, para passar<br />
o tempo, escrevem. A narrativa é feita em terceira<br />
pessoa, já que se trata de um narrador onisciente,<br />
isto é, que conhece os fatos na sua totalidade.<br />
e) perseguidos pela sombra do passado e angustiados<br />
pela solidão, ambos os narradores recorrem à<br />
narrativa para afastar seus fantasmas. Utilizam-se,<br />
para isso, da narrativa em primeira pessoa, que<br />
lhes permite um distanciamento maior.<br />
397. Mackenzie-SP<br />
As janelas estão fechadas. Meia-noite. Nenhum rumor<br />
na casa deserta. Levanto-me, procuro uma vela, que a<br />
luz vai apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me, rolar no<br />
colchão até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar<br />
sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com que<br />
me entreter. Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e<br />
acendo-a. Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena<br />
persegue-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor<br />
da mesa. Aperto a mão de tal forma que me firo com<br />
as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os<br />
beiços a ponto de tirar sangue.<br />
Assinale a alternativa correta sobre o fragmento.<br />
a) Pertence a um romance da terceira geração modernista<br />
brasileira.<br />
b) Faz parte de obra que compõe, ao lado de Fogo<br />
morto e Menino de engenho, o ponto máximo da<br />
produção de José Lins do Rego.<br />
c) Detalhes do tempo e do espaço são adequados à<br />
expressão da tortura que o narrador se impõe.<br />
d) Faz parte de um romance cujo protagonista defende<br />
a reforma agrária.<br />
e) Apresenta um narrador personagem indiferente às<br />
reminiscências do passado.<br />
398. Mackenzie-SP<br />
Pela manhã Madalena trabalhava no escritório, mas à<br />
tarde saía a passear, percorria as casas dos moradores.<br />
Garotos empalamados e beiçudos agarravam-se à saia<br />
258<br />
dela. Foi à escola, criticou o método de ensino do Padilha<br />
e entrou a amolar-me reclamando um globo, mapas, outros<br />
arreios que não menciono porque não quero tomar<br />
o incômodo de examinar ali o arquivo. Um dia, distraidamente,<br />
ordenei a encomenda. Quando a fatura chegou,<br />
tremi. Um buraco: seis contos de réis. Calculem. Contive-me<br />
porque tinha feito tenção de evitar dissidências<br />
com minha mulher e porque imaginei mostrar aquelas<br />
complicações ao governador quando ele aparecesse<br />
aqui. Em todo o caso era despesa supérflua.<br />
Graciliano Ramos, São Bernardo<br />
No fragmento exposto, o narrador:<br />
a) lembra episódios que o fizeram reconhecer em<br />
Madalena a eficiência que buscara ao procurar<br />
uma mulher para ser mãe de seus herdeiros e<br />
professora humanitária na fazenda.<br />
b) afirma seu desejo de viver bem com a mulher, por<br />
reconhecer a necessidade dos gastos e a sensatez<br />
com que ela analisava a vida na fazenda.<br />
c) descreve o dia-a-dia na fazenda, valorizando a<br />
intensa e cuidadosa atividade da mulher junto às<br />
crianças, mas criticando o seu excesso de gastos<br />
nas compras necessárias.<br />
d) cita a ocorrência em que a aplicação de Madalena no<br />
controle da escola não impediu a adulteração de documentos,<br />
geradora dos principais incidentes narrados.<br />
e) cita fatos que evidenciam a desigualdade entre<br />
duas maneiras de ver os desprotegidos, cujo<br />
desenvolvimento constitui aspecto importante do<br />
drama da obra.<br />
399. Mackenzie-SP<br />
Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo<br />
perfeita saúde.<br />
O que estou é velho. (...) cinqüenta anos gastos<br />
sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O<br />
resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão<br />
que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro<br />
a sensibilidade embotada.<br />
Cinqüenta anos! Quantas horas inúteis! (...) Comer<br />
e dormir como um porco! (...) E depois guardar comida<br />
para os filhos, para os netos, para muitas gerações.<br />
Que estupidez! (...)<br />
Penso em Madalena com insistência. Se fosse<br />
possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se<br />
fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente<br />
o que aconteceu.<br />
Graciliano Ramos – São Bernardo.<br />
Em São Bernardo, a velhice é o momento em que o<br />
narrador e protagonista Paulo Honório:<br />
a) aproveita, apesar dos problemas cotidianos, toda<br />
a riqueza e o prestígio que conseguiu durante a<br />
sua vida de sacrifícios.<br />
b) vê-se falido economicamente e se conscientiza de<br />
que sua vida foi consumida inutilmente na posse<br />
da fazenda São Bernardo.<br />
c) reconhece a forma desumana como tratou Madalena<br />
e as demais pessoas, mas não é capaz de<br />
reconstruir novo projeto de vida.<br />
d) sente-se contrariado, pois, apesar de saudável física<br />
e emocionalmente, constata que viveu apenas<br />
em função dos outros.<br />
e) avalia o passado positivamente, contrastando-o<br />
com a solidão do presente e a incerteza do futuro.
PV2D-07-54<br />
400.<br />
Poema das Sete Faces<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
Quando nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
O bonde passa cheio de pernas:<br />
pernas brancas pretas amarelas.<br />
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu<br />
[coração.<br />
Porém meus olhos<br />
não perguntam nada.<br />
O homem atrás do bigode<br />
é sério, simples e forte.<br />
Quase não conversa.<br />
Tem poucos, raros amigos<br />
o homem atrás dos óculos e do bigode,<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
mais vasto é meu coração.<br />
Eu não devia te dizer<br />
mas essa lua<br />
mas esse conhaque<br />
botam a gente comovido como o diabo.<br />
Após a leitura desse poema de Carlos Drummond, tirado<br />
do livro Alguma Poesia, indique o entendimento errado.<br />
a) A cor azul, na 2ª estrofe, tem a conotação de<br />
“melhor”.<br />
b) A ausência de pontuação no 2º verso da 3ª estrofe<br />
metaforiza o sentido de quantidade, proximidade<br />
e mistura.<br />
c) As palavras “olhos” (3ª estrofe) e “Deus” (5ª estrofe)<br />
estão relacionadas ao sentimento de vazio, de<br />
falta de expectativa.<br />
d) Na penúltima estrofe perpassa o sentimento de<br />
descrença.<br />
e) Na última estrofe, esvaziando a sensação de tristeza,<br />
o poeta cria o clima típico do Romantismo satânico.<br />
401.<br />
Todas as afirmativas abaixo, a respeito de Vidas secas,<br />
de Graciliano Ramos, são corretas, exceto:<br />
a) Os meninos, criaturas ingênuas, alimentam sonhos<br />
simples (como o de ver em Fabiano um modelo<br />
a ser copiado), enquanto seus pais ambicionam<br />
para eles um futuro melhor.<br />
b) O que faz Sinha Vitória diferente de Fabiano é seu<br />
obsessivo desejo de posse (uma cama de couro,<br />
igual à do Seu Tomás da bolandeira), além da<br />
sua capacidade de observação das coisas e dos<br />
problemas relacionados à família.<br />
c) O nome Baleia transcende a ironia e funciona<br />
mais como uma compensação para a secura da<br />
terra e das vidas secas, o que se comprova pela<br />
antropomorfização do animal.<br />
d) Um dos maiores conflitos vividos por Fabiano é<br />
reconhecer-se um bicho: marginalizado e inferiorizado,<br />
vive se comparando a animais.<br />
e) A morte para a cachorra Baleia conota a possibilidade<br />
de encontrar um mundo cheio de<br />
pessoas diferentes daquelas que ela conhecera,<br />
num espaço limitado, inferior àquele em que ela<br />
vivera.<br />
402. PUC-SP<br />
Otto Maria Carpeaux, analisando o romance de<br />
Graciliano Ramos, afirma: “Após ter lido Angústia<br />
até o fim, é preciso rever as primeiras páginas, para<br />
compreendê-las”. Isso se justifica porque o romance<br />
apresenta:<br />
a) um mundo fechado em si mesmo, mas com linhas<br />
narrativas independentes e soltas.<br />
b) estrutura circular em que início e fim se tocam em<br />
relação de causa e efeito.<br />
c) relação temporal em que o passado e o presente<br />
se interpenetram, dando ao texto uma estrutura<br />
labiríntica.<br />
d) narração em terceira pessoa, com linha narrativa<br />
ondulatória.<br />
e) desordem na seqüência narrativa como conseqüência<br />
do distúrbio mental que acometera a<br />
personagem.<br />
403. UFPE<br />
Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, é um<br />
livro autobiográfico. Sobre essa obra, podemos afirmar<br />
que:<br />
( ) Foi escrito quando o autor esteve preso, no presídio<br />
de Ilha Grande, em 1936, com outros acusados<br />
de crime político, esse livro não inclui elementos<br />
ficcionais.<br />
( ) trata-se de um curto relato sobre o tempo que o<br />
autor passou na prisão, sob a ditadura de Getúlio<br />
Vargas. Esse relato caracteriza-se, sobretudo, por<br />
sua incontestável objetividade.<br />
( ) a obra extrapola a narração dos sofrimentos pessoais,<br />
alcançando a universalidade ao denunciar<br />
a injustiça e a humilhação imposta pelos governos<br />
autoritários.<br />
( ) só dez anos depois dos acontecimentos, ao filtrar<br />
e amadurecer as lembranças, é que o autor relatou<br />
suas impressões, em discurso indireto, fugindo aos<br />
diálogos.<br />
( ) Graciliano teve, como companheira de prisão,<br />
Olga Benário Prestes (esposa de Prestes). No<br />
livro, descreve a cena em que Olga é arrastada<br />
do cárcere, para ser enviada à Gestapo, junto com<br />
outra estrangeira, Elisa Berger.<br />
259
404. PUC-SP<br />
Os acontecimentos retratados no filme Memórias<br />
do cárcere, com base no livro de Graciliano Ramos,<br />
referem-se:<br />
a) ao período da Revolução de Isidoro Lopes e à<br />
Marcha da Coluna Prestes.<br />
b) às conspirações de intelectuais, principalmente<br />
nordestinos, no combate a Vargas.<br />
c) às tentativas de eliminar as oposições logo após<br />
o Governo Provisório.<br />
d) às manobras de Vargas para sufocar as rebeliões<br />
militares contra seu governo.<br />
e) à repressão aos comunistas no período posterior<br />
ao levante da Aliança Nacional Libertadora.<br />
405. ITA-SP<br />
O romance São Bernardo, de Graciliano Ramos,<br />
publicado em 1934, é narrado em primeira pessoa<br />
pelo narrador-personagem Paulo Honório, que decide<br />
escrever o livro em determinada altura da sua vida. O<br />
principal motivo que levou Paulo Honório a escrever<br />
a sua história foi:<br />
a) o desejo de mostrar como ele conseguiu, com enorme<br />
esforço, tornar-se um proprietário rural bem-sucedido,<br />
apesar de sua origem extremamente humilde.<br />
b) o desejo de mostrar como se formavam os conflitos<br />
políticos e sociais no interior do Nordeste brasileiro,<br />
tema recorrente na ficção da chamada “Geração<br />
de 1930”.<br />
c) a tristeza que toma conta dele depois que a fazenda<br />
São Bernardo deixa de ser produtiva, o que ela<br />
tinha sido graças ao seu empenho.<br />
d) tentar compreender o que teria levado Madalena<br />
ao fim trágico da sua existência, bem como as razões<br />
de a vida conjugal deles não ter se realizado<br />
como ele gostaria.<br />
e) revelar quais foram os motivos pelos quais Madalena<br />
se matou, visto que ela se sentia culpada por<br />
ter traído o marido com Padilha, antigo proprietário<br />
da São Bernardo.<br />
406. ITA-SP<br />
Leia o texto seguinte.<br />
Graciliano Ramos:<br />
Falo somente com o que falo:<br />
Com as mesmas vinte palavras<br />
girando ao redor do sol<br />
que as limpa do que não é faca:<br />
de toda uma crosta viscosa,<br />
resto de janta abaianada,<br />
que fica na lâmina e cega<br />
seu gosto da cicatriz clara.<br />
(...)<br />
João Cabral de Melo Neto<br />
a) No poema, João Cabral faz referência ao estilo<br />
de Graciliano Ramos. Destaque um trecho do<br />
excerto exposto e comente a caracterização feita<br />
pelo autor do poema.<br />
b) Justifique a colocação dos dois pontos após o<br />
nome Graciliano Ramos no título do poema.<br />
260<br />
407. Unicamp-SP<br />
Leia o seguinte trecho extraído do romance Angústia:<br />
Onde andariam os outros vagabundos daquele tempo?<br />
Naturalmente, a fome antiga me enfraqueceu<br />
a memória. Lembro-me de vultos bisonhos que se<br />
arrastavam como bichos, remoendo pragas. Que fim<br />
teriam levado? Mortos nos hospitais, nas cadeias,<br />
debaixo dos bondes, nos rolos sangrentos das favelas.<br />
Alguns, raros, teriam conseguido, como eu, um<br />
emprego público, seriam parafusos insignificantes na<br />
máquina do Estado e estariam visitando outras favelas,<br />
desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro<br />
as pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas<br />
almas de parafusos fazendo voltas num lugar só.<br />
Graciliano Ramos, Angústia.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Record, 56ª ed., 2003, pp.140-1.<br />
a) No momento da narração, a posição social do<br />
narrador-personagem difere de sua condição de<br />
origem? Responda sim ou não e justifique.<br />
b) Na citação mostrada, o termo ‘parafusos’ remete<br />
ao verbo ‘parafusar’ que, além do significado mais<br />
conhecido, também tem o sentido de ‘pensar’,<br />
‘cismar’, ‘refletir’, ‘matutar’. Como esses dois<br />
sentidos podem ser relacionados ao modo de ser<br />
do narrador-personagem?<br />
c) De que maneira o segundo sentido do verbo<br />
‘parafusar’ está expresso na técnica narrativa de<br />
Angústia?<br />
Texto para as questões 408 e 409.<br />
Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela<br />
divisão do trabalho.<br />
Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram<br />
de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento<br />
das letras nacionais. Padre Silvestre<br />
ficaria com a parte moral e as citações latinas; João<br />
Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe;<br />
prometi ao Arquimedes a composição tipográfica;<br />
para a composição literária convidei Lúcio Gomes de<br />
Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu<br />
traçaria o plano, introduziria na história rudimentos<br />
de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o<br />
meu nome na capa. (...)<br />
Mas o otimismo levou água na fervura, compreendi<br />
que não nos entendíamos.<br />
João Nogueira queria o romance em língua de<br />
Camões, com períodos formados de trás para diante.<br />
Calculem.<br />
Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da<br />
revolução de outubro, tornou-se uma fera, exige devassas<br />
rigorosas e castigos para os que não usaram<br />
lenços vermelhos. Torceu-me a cara. (...)<br />
Afastei-o da combinação e concentrei as minhas<br />
esperanças em Lúcio Gomes de Azevedo Gondim,<br />
periodista de boa índole e que escreve o que lhe<br />
mandam.<br />
Trabalhamos alguns dias. (...)<br />
A princípio tudo correu bem, não houve entre nós<br />
nenhuma divergência. A conversa era longa, mas cada<br />
um prestava atenção às próprias palavras, sem ligar<br />
importância ao que o outro dizia. Eu por mim, entusiasmado<br />
com o assunto, esquecia constantemente<br />
a natureza de Gondim e chegava a considerá-lo uma
PV2D-07-54<br />
espécie de folha de papel destinada a receber as idéias<br />
confusas que me fervilhavam na cabeça.<br />
O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do<br />
nosso primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apresentou-me<br />
dois capítulos datilografados, tão cheios de<br />
besteiras que me zanguei:<br />
– Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o<br />
troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá<br />
ninguém que fale dessa forma!<br />
Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em<br />
seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade<br />
e replicou amuado que um artista não pode escrever<br />
como fala.<br />
– Não pode? perguntei com assombro. E por<br />
quê?<br />
Azevedo Gondim respondeu que não pode porque<br />
não pode.<br />
– Foi assim que sempre se fez. A literatura é a<br />
literatura, Seu Paulo. A gente discute, briga, trata de<br />
negócios naturalmente, mas arranjar palavras com<br />
tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo,<br />
ninguém me lia.<br />
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. São Paulo, Martins, 1969.<br />
408. UERJ<br />
Azevedo Gondim e o narrador possuem concepções diferentes<br />
acerca da escrita literária. Apresente, resumidamente,<br />
as duas concepções, comprovando-as com<br />
uma frase de cada personagem sobre o assunto.<br />
409. UERJ<br />
Na fala do narrador sobre a composição do livro,<br />
estão claras algumas relações de dominação que<br />
caracterizam a sociedade brasileira. Identifique, no<br />
segundo parágrafo, duas referências que expressem<br />
essa dominação.<br />
4<strong>10</strong>. Unicamp-SP<br />
No trecho a seguir, retirado de um dos capítulos de<br />
São Bernardo, de Graciliano Ramos, Paulo Honório<br />
faz algumas considerações sobre as diferenças na<br />
maneira de falar que acabam provocando desentendimentos<br />
entre ele e Madalena.<br />
No começo das nossas desavenças todas as<br />
noites aqui me sentava, arengando com Madalena.<br />
Tínhamos desperdiçado tantas palavras!<br />
– Para que serve a gente discutir, explicar-se?<br />
Para quê?<br />
Para que, realmente? O que eu dizia era simples,<br />
direto e procurava debalde em minha mulher concisão<br />
e clareza. Usar aquele vocabulário, vasto, cheio de<br />
ciladas, não me seria possível. E se ela tentava a minha<br />
linguagem resumida, matuta, as expressões mais<br />
inofensivas e concretas eram para mim semelhantes a<br />
cobras: faziam voltas, picavam e tinham significação<br />
venenosa.<br />
a) Como é possível explicar, com base na história<br />
pessoal das personagens, as diferenças na maneira<br />
de falar entre Paulo Honório e Madalena?<br />
b) A diferença de linguagem é um sintoma do conflito<br />
existente entre essas duas personagens. De<br />
que maneira tal diferença contribui para o conflito<br />
básico do romance?<br />
411. Unicamp-SP<br />
Em Angústia de Graciliano Ramos, encontramos seqüências<br />
instigantes:<br />
Penso em indivíduos e em objetos que não têm<br />
relação com os desenhos: processos, orçamentos, o<br />
diretor, o secretário, políticos, sujeitos remediados que<br />
me desprezam porque sou um pobre-diabo.<br />
Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos<br />
cafés e preguiçando, indecentes.<br />
(...)<br />
Fomos morar na vila. Meteram-me na escola de<br />
seu Antônio Justino, para desasnar, pois, como disse<br />
Camilo quando me apresentou ao mestre, eu era um<br />
cavalo de dez anos e não conhecia a mão direita.<br />
Aprendi leitura, o catecismo, a conjugação dos<br />
verbos. O professor dormia durante as lições. E a<br />
gente bocejava olhando as paredes, esperando que<br />
uma réstia chegasse ao risco de lápis que marcava<br />
duas horas. Saíamos em algazarra.<br />
Graciliano Ramos, Angústia.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Record, 56ª.ed., 2003, pp. 8-9 e 15.<br />
a) Que processos permitem as construções ‘preguiçando’<br />
e ‘desasnar’ na língua?<br />
b) Se substituirmos ‘preguiçando’ por ‘descansando’<br />
e ‘desasnar’ por ‘aprender’, observamos uma relação<br />
diferente com a poesia da língua. Explicite<br />
essa diferença.<br />
c) O uso de ‘desasnar’ pode nos remeter, entre outras<br />
palavras, a ‘desemburrecer’ e ‘desemburrar’.<br />
No Dicionário Houaiss da língua portuguesa (ed.<br />
Objetiva, 2001), o verbete ‘desemburrar’ apresenta<br />
como acepções tanto ‘livrar-se da ignorância’,<br />
quanto ‘perder o enfezamento’, e marca sua etimologia<br />
como des + emburrar. Seguindo nossa<br />
consulta, encontramos no verbete ‘emburrar’ o<br />
ano de 1647 que, segundo a Chave do Dicionário<br />
Houaiss, indica a“data em que [essa palavra] entrou<br />
no português”. A fonte dessa datação é a obra<br />
Thesouro da lingoa portuguesa, composta pelo<br />
Padre D. Bento Pereyra, publicada em Lisboa.<br />
Embora ‘desemburrecer’ não apareça no dicionário,<br />
encontramos ‘emburrecer’, cuja entrada no português ,<br />
segundo o Dicionário Houaiss, data de 1998, atestada<br />
pela obra de Celso Pedro Luft Dicionário prático de<br />
regência verbal, publicada em São Paulo.<br />
O verbete ‘desasnar’ data de 1713, atestado pela<br />
obra Vocabulário portuguez e latino de Rafael<br />
Bluteau, publicada em Coimbra-Lisboa.<br />
Tendo em vista as observações apresentadas – a<br />
presença ou não desses verbetes no dicionário, as<br />
datas de entrada no português e as fontes que atestam<br />
essas entradas – o que se pode compreender<br />
sobre a relação entre o dicionário e a língua?<br />
412.<br />
Graciliano Ramos é uma das figuras mais importantes<br />
do grupo de escritores do Nordeste surgidos na década<br />
de 1930. É considerado um dos maiores ficcionistas<br />
brasileiros.<br />
a) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos não<br />
é da década de 1930.<br />
b) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos é<br />
escritor mas não é ficcionista.<br />
261
c) O texto não apresenta qualquer informação errônea.<br />
d) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos pertence<br />
ao grupo sulino.<br />
413.<br />
Vidas secas organiza-se em treze capítulos ou partes.<br />
A primeira e a última relatam, respectivamente, a chegada<br />
à velha fazenda e a saída de lá. Essa construção,<br />
segundo Antonio Candido, “forma um anel de ferro, em<br />
cujo círculo sem saída se fecha a vida esmagada da<br />
pobre família de retirantes – agregados – retirantes”.<br />
Considerando a análise de Antonio Candido e a leitura<br />
dos trechos anteriores, que idéia não se justifica pela<br />
construção da obra?<br />
a) Nomadismo como saída para a sobrevivência.<br />
b) A vida desenvolvida em ciclos que se repetem.<br />
c) Previsão de destino assemelhado para proprietário<br />
e agregado.<br />
d) Instabilidade como única certeza.<br />
e) Tragicidade como marca do destino dos migrantes.<br />
414. UFPE<br />
Em Vidas secas, romance de Graciliano Ramos, a<br />
linguagem é econômica, despojada, precisa e clara.<br />
Nesse caso, podemos afirmar que:<br />
1. a linguagem simboliza a realidade nordestina.<br />
2. a linguagem não é literária.<br />
3. a linguagem é adequada ao tema de que ela fala:<br />
a seca.<br />
4. a linguagem é pobre.<br />
Assinale o que achar correto.<br />
a) Estão certas 3 e 4.<br />
b) Estão certas 1 e 3.<br />
c) Estão certas 1 e 4.<br />
d) Estão certas 3 e 2.<br />
e) Estão certas as quatro afirmativas.<br />
415. UFR-RJ<br />
Escrito por Graciliano Ramos em 1938, Vidas secas é<br />
uma obra-prima do Modernismo e mesmo de toda a literatura<br />
brasileira. Trata-se de narrativa pungente, onde o<br />
drama do nordestino, tangido de seu lar pela inclemência<br />
da seca, é contado de forma árida, seca e bastante realista,<br />
numa sintonia bastante eficaz entre forma e conteúdo.<br />
O texto a seguir é um excerto de Vidas secas.<br />
Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava.<br />
Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se.<br />
Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido<br />
assim, desde que ele se entendera. E antes de se<br />
entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos<br />
bons misturados com anos ruins. A desgraça estava<br />
em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena<br />
trabalhar. Ele marchando para a casa, trepando a<br />
ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se<br />
avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.<br />
RAMOS, Graciliano. Vidas secas.<br />
São Paulo: Martins, s/d. 28. ed., p. 59.<br />
Assinale a afirmativa que indica uma característica do<br />
Modernismo e do estilo do autor, tomando por base<br />
a leitura do texto.<br />
262<br />
a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as<br />
metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta<br />
consonância com a prolixidade do texto.<br />
b) O estilo direto do texto está sintonizado com a<br />
narrativa, que descreve uma cena de grande<br />
movimentação e presença de personagens.<br />
c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de<br />
exuberância natural com um personagem tímido,<br />
reservado e de poucas ambições.<br />
d) O texto é direto, econômico, interessa mais a<br />
angústia interior dos personagens do que seus<br />
próprios atos.<br />
e) A fatalidade da situação é explorada ao limite máximo,<br />
com a natureza pactuando com as angústias<br />
do personagem, mas, ao final, subjugando-se.<br />
416. Mackenzie-SP<br />
Considera-se que na obra Vidas secas temos uma<br />
perfeita adequação da técnica literária à realidade<br />
expressa. Assim, para demonstrar a ausência de possibilidades<br />
de mudança, a narração é feita pela adoção<br />
de todas as técnicas mencionadas abaixo, exceto:<br />
a) uma construção por fragmentos, com fatos arranjando-se<br />
sem se integrarem.<br />
b) uso de quadros quase destacados nos quais os<br />
fatos se arranjam sem se integrarem.<br />
c) uma construção integrada, composta por fatos<br />
também integrados.<br />
d) uso de quadros destacados, sugerindo um mundo<br />
incompreensível.<br />
e) construções fragmentadas, sugerindo um mundo<br />
incompreensível e captadas por manifestações<br />
isoladas.<br />
417. ITA-SP<br />
Assinale a melhor opção, considerando as seguintes<br />
asserções sobre Fabiano, personagem de Vidas secas,<br />
de Graciliano Ramos.<br />
I. Devido às dificuldades pelas quais passou no<br />
sertão, tornou-se um homem rude, mandante da<br />
morte de vários inimigos seus.<br />
II. Comparava-se, com orgulho, aos animais, pois era<br />
um homem errante que vivia fugindo da seca.<br />
III. Sentia-se fraco para exigir seus direitos diante de<br />
patrões e autoridades, por isso não se considerava<br />
um homem, mas um bicho.<br />
Está(ão) correta(s):<br />
a) apenas a I. d) I e III<br />
b) apenas a III. e) II e III<br />
c) I e II<br />
418.<br />
Assinale a afirmação incorreta a respeito de Alguma<br />
poesia, de Carlos Drummond de Andrade:<br />
a) O indivíduo é “um eu todo retorcido”, profundamente<br />
deslocado em relação ao mundo exterior,<br />
um verdadeiro gauche.<br />
b) O conhecimento amoroso, o amor é amargo, um<br />
amar/amaro, como ilustram os poemas Quadrilha<br />
e Sentimental.
PV2D-07-54<br />
c) Publicado em 1930, Alguma poesia, volume que<br />
constitui obra de estréia do autor, distancia-se do<br />
poema-piada e do prosaísmo, aspectos marcantes<br />
da poesia modernista de 1922.<br />
d) O lirismo se faz presente nos poemas e marca o<br />
estilo do autor. Mas apresenta-se contido, muito<br />
mais refletido que sentido, espécie de antilirismo<br />
que faz de Drummond um dos poetas mais singulares<br />
da nossa literatura.<br />
e) Há poemas que falam da própria poesia, isto é,<br />
poemas metalingüísticos. Neles, o poeta refere-se<br />
ao ato e à necessidade de escrever e revela que a<br />
poesia nasce dos seres, dos fatos, às vezes até do<br />
inabitual, do incomum, do obscuro do cotidiano.<br />
419. Unicap-PE<br />
Assinale verdadeiro (V) ou falso (F).<br />
Vidas secas, de Graciliano Ramos, inicia-se assim:<br />
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam<br />
duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado<br />
o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente<br />
andavam pouco, mas como haviam repousado<br />
bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem<br />
três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra.<br />
A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos<br />
galhos pelados da catinga rala.<br />
( ) O texto anterior situa, de imediato, o leitor no tema<br />
central da obra do alagoano: a realidade nordestina,<br />
o tempo da seca (como hoje), haja vista a<br />
planície avermelhada, os juazeiros, o rio seco, os<br />
galhos pelados.<br />
( ) O juazeiro é árvore característica da caatinga nordestina.<br />
Sua casca rica serve como sabão e dentifrício. É<br />
uma árvore que, para os retirantes, fornece sombra<br />
e, para o gado, além de sombra, alimento.<br />
( ) O poético no texto de Graciliano Ramos já pode<br />
ser vivenciado na antítese implícita nos dois<br />
adjetivos: avermelhada e verdes, pois é possível<br />
ler o primeiro como indício de morte, dada a sua<br />
proximidade com seca, e o segundo, como indício<br />
de vida, uma vez que o juazeiro é uma das poucas<br />
plantas cuja folhagem, na seca, permanece viva<br />
por muito tempo.<br />
( ) O emprego de um termo como juazeiro atesta<br />
a universalidade de Vidas secas, confirmando<br />
a validade da concepção de que é inteiramente<br />
possível ler qualquer obra literária, desvinculandoa<br />
de motivos temporais e espaciais.<br />
( ) A expressão galhos pelados da catinga rala é uma<br />
descrição objetiva do Nordeste castigado pela<br />
seca, por onde os retirantes caminham: galhos<br />
pelados, porque sem folhas, e catinga rala porque<br />
a vegetação, além de perder as folhas, é pouco<br />
espessa, tem pouca densidade.<br />
420. Unicap-PE<br />
Esta questão (de interpretação) refere-se a Vidas<br />
secas, de Graciliano Ramos. Com a chegada da<br />
seca, Fabiano, Sinha Vitória e os filhos iniciam uma<br />
nova fuga. O último capítulo dessa obra do alagoano<br />
tem este título: “Fuga”. Durante a caminhada, o casal<br />
ensaia “pedaços” de conversa. Reproduz-se, a seguir,<br />
um trecho desses ensaios.<br />
– Por que não haveriam de ser gente, possuir<br />
uma cama igual à de Seu Tomás da bolandeira? Fabiano<br />
franziu a testa: lá vinham os despropósitos. Sinha<br />
Vitória insistiu e dominou-o. Por que haveriam de ser<br />
sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos?<br />
Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias.<br />
Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano<br />
respondeu que não podiam.<br />
– O mundo é grande.<br />
Realmente para eles era bem pequeno, mas<br />
afirmavam que era grande – e marchavam, meio<br />
confiados, meio inquietos. Olharam os meninos que<br />
olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos.<br />
Em que estariam pensando? zumbiu Sinha<br />
Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma<br />
objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa.<br />
( ) A cama de Seu Tomás é um símbolo. Símbolo é<br />
“aquilo que substitui ou sugere algo”. Em Vidas<br />
secas, a cama é símbolo de conforto, desejado<br />
por Sinha Vitória para si e para sua família.<br />
( ) A frase “Sinha Vitória insistiu e dominou-o” atesta<br />
o feminismo existente no meio rural nordestino.<br />
( ) A palavra bicho(s) aparece no texto três vezes. É<br />
uma alusão à condição de vida dos nordestinos<br />
interioranos, em tempo da seca, condição que,<br />
no texto em questão, é reafirmada outras vezes,<br />
como em: “zumbiu Sinha Vitória”, “Fabiano rosnou<br />
uma objeção”.<br />
( ) Mas, em zumbiu, essa condição (de bicho) está<br />
ainda mais intensificada, porque, além de essa<br />
palavra (zumbir) nomear ruídos emitidos por<br />
animais, em alguns interiores nordestinos – (no<br />
estado de Alagoas, por exemplo, onde Graciliano<br />
nasceu) zumbi também designa a alma de certos<br />
animais.<br />
( ) A convicção de serem bichos está na mente<br />
de Sinha Vitória: “Por que não haveriam de ser<br />
gente...?” e no “rosnado” de Fabiano: “Menino é<br />
bicho miúdo, não pensa” – frase que subentende:<br />
só bicho grande pensa. No entanto, mesmo com<br />
essa convicção, as personagens de Vidas secas<br />
são, intensamente, seres; símbolos de seres humanos,<br />
pois elas pensam, falam, indagam, têm<br />
consciência da sua condição de bicho. E o único<br />
que tem consciência da sua condição (de bicho)<br />
é o homem.<br />
Texto para as questões de 421 a 423.<br />
Leia atentamente o trecho, extraído de Vidas secas, de<br />
Graciliano Ramos, e responda as questões a seguir:<br />
[Sinha Vitória] Pensou de novo na cama de varas e mentalmente<br />
xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinham-se<br />
acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa<br />
cama de lastro de couro, como outras pessoas.<br />
Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido.<br />
Fabiano, a princípio, concordara com ela, mastigara<br />
cálculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a<br />
armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário<br />
economizando na roupa e no querosene. Sinha Vitória<br />
respondera que isso era impossível, porque eles vestiam<br />
mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se<br />
todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam<br />
candeeiros na casa.<br />
263
421. Faenquil-SP<br />
No segundo parágrafo, o móvel necessário refere-se:<br />
a) ao dinheiro necessário para comprar a cama.<br />
b) à cama desejada por Sinha Vitória.<br />
c) ao couro e à armação que Fabiano desejava<br />
comprar.<br />
d) ao querosene para a iluminação da casa e às roupas<br />
que precisavam comprar para as crianças.<br />
e) aos cálculos feitos por Fabiano para poder pagar<br />
todas as contas da casa.<br />
422. Faenquil-SP<br />
Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa.<br />
Este trecho, no contexto do parágrafo, funciona como<br />
uma resposta de:<br />
a) Fabiano, criticando o desejo de Sinha Vitória de<br />
possuir uma cama.<br />
b) Sinha Vitória, criticando a idéia de Fabiano de<br />
economizar no querosene para poderem comprar<br />
a cama.<br />
c) Fabiano, aborrecendo-se com a insistência de<br />
Sinha Vitória, que não reconhecia seu esforço.<br />
d) Sinha Vitória, insistindo na idéia de que merecia<br />
uma cama, pois nem candeeiro tinham.<br />
e) Fabiano, prometendo a Sinha Vitória que tentaria<br />
adquirir uma cama para eles.<br />
423. Faenquil-SP<br />
Considerando-se a situação em que vivia a família de<br />
Fabiano em Vidas secas, pode-se dizer que a cama<br />
representa:<br />
a) uma crítica ao materialismo das personagens que,<br />
quase não tendo o que comer, desejam possuir<br />
bens que não podem comprar.<br />
b) uma tentativa de reação à seca e à miséria, pois<br />
é um símbolo de estabilidade e de conforto.<br />
c) a dureza de Fabiano, homem rude e bruto, que<br />
não oferecia nenhum conforto à família.<br />
d) a força do amor entre Sinha Vitória e Fabiano,<br />
apesar de toda dificuldade e miséria.<br />
e) a futilidade de Sinha Vitória, pois, ao invés de se<br />
preocupar em vestir os filhos, buscava conforto<br />
para ela mesma.<br />
424. PUCCamp-SP<br />
A leitura de romances como Vidas secas, São Bernardo ou<br />
Angústia permite afirmar sobre Graciliano Ramos que:<br />
a) sua grande capacidade fabuladora e o tom lírico<br />
de sua linguagem servem a uma obra dominada<br />
pelo impulso, em que se mesclam romantismo e<br />
realismo, poesia e documento.<br />
b) sua obra transcreve as limitações do regional ao evoluir<br />
para uma perspectiva universal, ao mesmo tempo<br />
em que sua expressão parte para o experimentalismo<br />
e para as invenções vocabulares inovadoras.<br />
c) sua obra, preocupada em fixar os costumes e<br />
as falas locais do meio rural e da cidade, é um<br />
registro fiel da realidade nordestina, quase um<br />
documentário transfigurado em ficção.<br />
d) sua obra, toda condicionada pela realidade humana<br />
e social de uma árida região de coronéis e<br />
cangaceiros, apresenta uma narrativa linear, mas<br />
de linguagem exuberante, própria dos grandes<br />
contadores de histórias.<br />
264<br />
e) tanto o enfoque trágico do destino do homem<br />
ligado às raízes regionais quanto a análise dos<br />
conflitos existenciais do homem urbano conferem<br />
uma dimensão universal à sua obra.<br />
425. Fuvest-SP<br />
Procura da Poesia<br />
Não faças versos sobre acontecimentos.<br />
Não há criação nem morte perante a poesia.<br />
Diante dela, a vida é um sol estático,<br />
não aquece nem ilumina.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />
Estão paralisados, mas não há desespero,<br />
há calma e frescura na superfície intata.<br />
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />
(...)<br />
Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.<br />
No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da<br />
poesia e a incitação a que se penetre “no reino das<br />
palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o<br />
poeta de A rosa do povo:<br />
a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz<br />
de se opor ao mundo capitalista.<br />
b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância<br />
da variedade padrão da linguagem.<br />
c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não<br />
podem nem devem ser interpretados.<br />
d) as intenções sociais da poesia não a dispensam<br />
de ter em conta o que é próprio da linguagem.<br />
e) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia<br />
fala apenas de si mesma, são superiores aos<br />
poemas que falam também de outros assuntos.<br />
426. UFR-RJ<br />
Leia o fragmento abaixo, retirado do romance Vidas<br />
secas:<br />
... Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor.<br />
Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez<br />
que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor.<br />
Alarmou-se. Ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe<br />
dera uma impressão bastante penosa: sempre que os<br />
homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía<br />
logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente<br />
só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram<br />
bonitas. Às vezes decorava algumas e empregavaas<br />
fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que<br />
um pobre da laia dele usar conversa de gente rica?<br />
Sinha Terta é que tinha uma ponta de língua terrível.<br />
Era: falava tão bem quanto as pessoas da cidade,<br />
Se ele soubesse falar como Sinha Terta, procuraria<br />
serviço em outra fazenda, haveira de arranjar-se. Não<br />
sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se<br />
como um menino, coçava os cotovelos,<br />
aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar<br />
as coisas de um infeliz que não tinha nem onde cair<br />
morto! Não viam que isso não estava certo? Que iam<br />
ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que<br />
iam ganhar?...<br />
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 37 ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1977. p. <strong>10</strong>3
PV2D-07-54<br />
Graciliano Ramos apresenta em suas obras problemas<br />
do Nordeste do Brasil e, ao mesmo tempo, desenvolve<br />
um trabalho universal por apresentar uma visão crítica<br />
das relações humanas. A partir do trecho apresentado,<br />
pode-se afirmar que o autor:<br />
a) denuncia a opressão social realizada através do<br />
abuso de poder político, que está representado na<br />
fala de Fabiano.<br />
b) critica o trabalhador rural nordestino, representado<br />
na figura de Fabiano, por sua ignorância e falta de<br />
domínio da língua culta.<br />
c) deixa claro que a incapacidade de usar uma linguagem<br />
“boa” não isola Fabiano do mundo dos<br />
que usam “palavras difíceis”, pois sua esperteza<br />
pode-se concretizar de outras maneiras.<br />
d) mostra que a sociedade oferece oportunidades<br />
iguais para os que possuem o domínio de uma<br />
linguagem culta e para os que não o possuem, e<br />
as pessoas mais trabalhadoras atingirão o posto<br />
de classe dominante.<br />
e) mostra a relação estreita entre linguagem e poder,<br />
denunciando a opressão ao trabalhador nordestino,<br />
transparente nas diferenças entre a língua<br />
falada pelo opressor e a falada pelo oprimido.<br />
427. UFR-RJ<br />
Leia o fragmento abaixo, extraído de Vidas secas, de<br />
Graciliano Ramos.<br />
Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava.<br />
Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiouse.<br />
Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim,<br />
desde que ele se entendera. E antes de se entender,<br />
antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons misturados<br />
com anos ruins. A desgraça estava em caminho,<br />
talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele<br />
marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando<br />
seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope,<br />
com vontade de matá-lo. Virou o rosto para fugir à<br />
curiosidade dos filhos, benzeu-se. Não queria morrer.<br />
Ainda tencionava correr o mundo, ver terras, conhecer<br />
gente importante como seu Tomás da bolandeira. Era<br />
uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ela,<br />
sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la.<br />
Não queria morrer. Estava escondido no mato como<br />
tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca,<br />
andaria com a cabeça levantada, seria homem.<br />
– Um homem, Fabiano.<br />
Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro.<br />
Não, provavelmente não seria um homem: seria aquilo<br />
mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos,<br />
quase uma rês na fazenda alheia.<br />
Considere as seguintes afirmações sobre o fragmento<br />
acima.<br />
I. Interessa ao narrador registrar, além da tragédia<br />
natural provocada pela seca, a opressão social<br />
que recai sobre Fabiano.<br />
II. Para não demonstrar seus sentimentos diante da<br />
proximidade da desgraça, Fabiano evita o olhar<br />
dos filhos.<br />
III. Fabiano tenta compreender o mundo, mas, respondendo<br />
ao conflito interno, rebela-se contra o<br />
seu destino.<br />
Quais estão corretas?<br />
a) Apenas I d) Apenas II e III<br />
b) Apenas I e II e) I, II e III<br />
c) Apenas I e III<br />
428. FEI-SP<br />
(Fabiano) “Com uma raiva excessiva, a que se misturava<br />
alguma esperança, deu uma patada no chão”<br />
(Cachorra Baleia) “Defronte do carro de bois faltou-lhe<br />
a perna traseira.”<br />
a) O que comparativamente significam os termos destacados,<br />
dentro do contexto do livro Vidas secas?<br />
b) Qual o autor desta obra?<br />
429. Unicamp-SP<br />
Em Vidas secas, após ter vencido as dificuldades<br />
postas no início da narrativa, Fabiano afirma: Fabiano,<br />
você é um homem.... Corrige-se logo depois: Você é<br />
um bicho, Fabiano. Em seguida, encontra-se com a<br />
cadelinha, diz: Você é um bicho, Baleia.<br />
Ao chamar a si mesmo e à Baleia de “bicho”, Fabiano<br />
estabelece uma identificação com ela. Na leitura de<br />
Vidas secas, pode-se perceber vários motivos para<br />
essa identificação. Cite dois desses motivos.<br />
430. Fuvest-SP<br />
A flor e a náusea<br />
Preso à minha classe e a algumas roupas,<br />
vou de branco pela rua cinzenta.<br />
Melancolias, mercadorias espreitam-me.<br />
Devo seguir até o enjôo?<br />
Posso, sem armas, revoltar-me?<br />
Olhos sujos no relógio da torre:<br />
Não, o tempo não chegou de completa justiça.<br />
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações<br />
e espera.<br />
O tempo pobre, o poeta pobre<br />
fundem-se no mesmo impasse.<br />
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.<br />
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.<br />
(...)<br />
Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.<br />
a) Em A rosa do povo, o poeta se declara anticapitalista.<br />
Nos três primeiros versos do excerto, esse<br />
anticapitalismo se manifesta? Justifique sucintamente<br />
sua resposta.<br />
b) De acordo com os dois últimos versos do excerto,<br />
como se manifesta, no campo da linguagem, o<br />
impasse de que fala o poeta? Explique resumidamente.<br />
431. ITA-SP<br />
O romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, publicado<br />
em 1938, é um marco da ficção social brasileira,<br />
pois registra de forma bastante realista a vida miserável<br />
de uma família de retirantes que vive no sertão<br />
nordestino. A cachorra Baleia tem um papel especial<br />
no livro, pois é sobretudo na relação dos personagens<br />
com esse animal que podemos perceber que elas não<br />
se desumanizam, apesar de suas condições de vida.<br />
Considerando essa idéia, explique qual a importância<br />
do capítulo “Baleia” no romance.<br />
265
432.<br />
A seguir, é apresentado um fragmento do romance<br />
Angústia, uma das obras basilares do modernista<br />
Graciliano Ramos. Autor da geração neo-realista,<br />
Graciliano Ramos desenvolveu toda sua obra com<br />
uma linguagem sem requintes artísticos, mas precisa<br />
e eficiente, e abordou temas profundamente comprometidos<br />
com a questão da justiça social. Após a leitura,<br />
marque a opção em que se descreve o único traço não<br />
encontrado no fragmento em questão.<br />
A minha camisa estufa no peito, é um desastre.<br />
Quando caminho, a cabeça baixa, como a procurar<br />
dinheiro perdido no chão, há sempre muito pano subindo-me<br />
na barriga, machucando-se, e é necessário<br />
puxá-lo, ajeitá-lo, sujeitá-lo com o cinto, que se afrouxa.<br />
Estes movimentos contínuos dão-me a aparência<br />
de um boneco desengonçado, uma criatura mordida<br />
pelas pulgas. A camisa sobe constantemente, não há<br />
meio de conservá-la estirada. Também não é possível<br />
manter a espinha direita. O diabo tomba para a frente,<br />
e lá vou marchando como se fosse encostar as mãos<br />
no chão. Levanto-me. Sou um bípede, é preciso ter<br />
a dignidade dos bípedes. Um cachorro como Julião<br />
Tavares andar empertigado, e eu curvar-me para a<br />
terra, como um bicho! Desentorto o espinhaço. Que<br />
é que me pode acontecer? Se dr. Gouveia passar<br />
por mim, finjo não vê-lo. É impossível pagar o aluguel<br />
da casa. Não pago. Hei de furtar? Dr. Gouveia<br />
que se lixe.<br />
a) Por ser modernista, Graciliano Ramos ousa, ao<br />
fazer registro pouco fiel da realidade, criar personagens<br />
exóticos, além do padrão convencional.<br />
b) Sua linguagem é caracterizada pelo emprego de<br />
períodos curtos, com farta pontuação e clareza de<br />
raciocínio.<br />
c) É significativa a porção da obra de Graciliano Ramos<br />
em que se privilegiam a análise e a descrição<br />
da emocionalidade interior das personagens.<br />
d) Mostra a constante tematização do conflito entre<br />
homem e meio social, no contexto de uma relação<br />
sempre tensa.<br />
e) Na abordagem da problemática social, avulta o<br />
senso crítico negativista do autor, o que permite<br />
classificá-lo próximo do modelo machadiano.<br />
433.<br />
Leia o texto a seguir.<br />
O romance regionalista atinge seu ponto culminante.<br />
Narrado em terceira pessoa, o livro centra-se no drama<br />
de uma família nordestina fugindo da seca, girando<br />
em círculo, lutando para subsistir. O drama social e<br />
geográfico da miserável região e do homem que lá<br />
vive configura-se literariamente num estilo seco, sem<br />
o menor traço de sentimentalismo.<br />
A que romance de Graciliano Ramos refere-se o texto<br />
anterior?<br />
434. UEL-PR<br />
Leia os trechos a seguir, do romance Vidas secas, de<br />
Graciliano Ramos, e indique a alternativa incorreta.<br />
266<br />
Trecho 1<br />
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam<br />
duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado<br />
o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente<br />
andavam pouco, mas como haviam repousado<br />
bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem<br />
três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra.<br />
A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos<br />
galhos pelados da catinga rala.<br />
Trecho 2<br />
... E andavam para o sul, metidos naquele sonho.<br />
Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os<br />
meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e<br />
necessárias. Eles, dois velhinhos, acabando-se como<br />
uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que<br />
iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a<br />
uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos<br />
nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O<br />
sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos,<br />
como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos.<br />
a) Os dois trechos são, respectivamente, o início do<br />
primeiro capítulo e o final do último capítulo do<br />
romance Vidas secas, o que indica a circularidade<br />
do enredo, que tem relação com a vida das famílias<br />
pobres nordestinas, ciclicamente obrigadas a<br />
se mudarem por causa das secas que atingem a<br />
região em que vivem.<br />
b) Nos dois trechos e em todo o romance é possível<br />
perceber a crítica do autor ao modelo políticoeconômico<br />
brasileiro daquele momento histórico,<br />
o que levou os críticos a enquadrarem no grupo<br />
de obras denominado “romance social de 1930”.<br />
c) Nesses trechos está presente o estilo literário<br />
característico das obras de Graciliano Ramos,<br />
marcado, entre outros recursos, pelo uso de frases<br />
curtas, pela concisão vocabular e pela utilização<br />
do discurso indireto livre.<br />
d) No primeiro trecho, os verbos no tempo pretérito<br />
indicam a longa caminhada das personagens<br />
pelo sertão nordestino em busca de um lugar<br />
onde possam se instalar; no segundo, os verbos<br />
no tempo futuro revelam os sonhos de Fabiano e<br />
Sinha Vitória por uma vida melhor na cidade.<br />
e) O romance Vidas secas é considerado um clássico<br />
da literatura brasileira pelo fato de Graciliano<br />
Ramos tê-lo construído com enredo linear e<br />
seqüência progressiva dos acontecimentos, com<br />
personagens bem caracterizadas física e psicologicamente,<br />
com marcações temporais precisas e<br />
com a presença de um narrador-personagem, na<br />
figura de Fabiano, que conta sua própria história<br />
de luta contra a miséria no sertão nordestino.<br />
435. UFV-MG<br />
Sobre a construção dos personagens do romance<br />
Vidas secas, é incorreto afirmar que:<br />
a) no drama dos retirantes, Graciliano interessa-se<br />
pela investigação do aspecto social, da hostilidade<br />
da terra nordestina, ignorando o aspecto psicológico<br />
de seus personagens.<br />
b) na narrativa, todos os personagens representam,<br />
realmente, “vidas secas”: mostradas em linguagem<br />
sóbria, racional, lúcida, exprimem a visão de um<br />
mundo árido e sombrio.
PV2D-07-54<br />
c) Graciliano apresenta seus personagens com uma<br />
visão fatalista, de total negação e destruição, enfim,<br />
de anulação do homem, num mundo sem amor.<br />
d) o “herói” personagem é sempre um problema:<br />
retirante, não aceita o mundo, nem a si mesmo,<br />
em sua dura realidade.<br />
e) o autor constrói seus personagens como figuras<br />
humanas animalizadas, vítimas de um ambiente<br />
de desencanto e indiferença, de uma terra áspera,<br />
dura e cruel.<br />
436. UFV-MG<br />
A respeito de Vidas secas, de Graciliano Ramos,<br />
somente não podemos afirmar que:<br />
a) os personagens, Fabiano, Sinha Vitória e os filhos,<br />
são convertidos em criaturas brutalizadas, numa<br />
sugestão de que a dureza do solo nordestino<br />
aproxima a vida humana da vida animal.<br />
b) a obra insere-se no chamado romance de 1930 por<br />
uma total fidelidade aos experimentalismos lingüísticos<br />
da fase heróica do movimento modernista.<br />
c) a narrativa denuncia o flagelo do sertão nordestino,<br />
onde o homem, fundindo-se ao seu meio, é<br />
arrastado por um destino adverso e inútil.<br />
d) o retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios<br />
pensamentos, expressa-se, quase sempre, através do<br />
discurso indireto livre de um narrador onisciente.<br />
e) embora composta de pequenas narrativas isoladas,<br />
a obra mantém a estrutura de um romance<br />
pela presença quase constante de seus personagens<br />
e por uma sucessão temporal.<br />
437. Fuvest-SP<br />
Sobre Fogo morto, é correto afirmar que:<br />
a) o caráter estanque de suas partes constitutivas<br />
é sublinhado pela mudança do foco narrativo em<br />
cada uma delas, indo da primeira à terceira pessoa<br />
narrativa.<br />
b) a relativa descontinuidade de sua visão tripartite é<br />
contrastada pela recorrência de temas e motivos<br />
internos que atravessam todo o romance.<br />
c) o caráter descontínuo e inconcluso de seu enredo<br />
é compensado pelas reflexões do narrador personagem,<br />
que conferem finalização e acabamento<br />
ao romance.<br />
d) o caráter estanque de sua divisão tripartite é, no<br />
entanto, convertido à unidade pela comunicabilidade<br />
e entendimento mútuo das personagens<br />
principais.<br />
e) a cada uma das classes sociais nele representadas,<br />
o romance reserva um estilo de narrar próprio:<br />
erudito para os senhores de engenho, oral-popular<br />
para as camadas humildes e cangaceiros.<br />
438. UFMG<br />
Todas as alternativas expressam uma correta correspondência<br />
entre as personagens de Fogo morto, de<br />
José Lins do Rego, e suas características, exceto:<br />
a) Mestre José Amaro: vítima do progresso da industrialização<br />
e do poder do latifundiário, vê na terra<br />
e no cangaço a saída para uma vida melhor para<br />
os oprimidos.<br />
b) Coronel Lula de Holanda: coronel sem carisma,<br />
símbolo da decadência dos engenhos de canade-açúcar,<br />
é exemplo da prepotência aliada à<br />
hipocrisia religiosa.<br />
c) Capitão Vitorino: alvo de chacotas e zombarias,<br />
faz-se defensor dos oprimidos, lutando contra<br />
qualquer tipo de injustiça.<br />
d) Antônio Silvino: personagem histórica, cangaceiro<br />
que tira dos ricos para dar aos pobres, torna-se a<br />
esperança de libertação dos oprimidos.<br />
e) Coronel José Paulino: latifundiário, coloca-se ao<br />
lado dos cangaceiros na luta contra os poderosos<br />
políticos, na tentativa de instaurar uma nova<br />
ordem social.<br />
439. PUC-RS<br />
A personagem Lula de Holanda, criada por José<br />
Lins do Rego, no ciclo da cana-de-açúcar, representa<br />
a:<br />
a) aristocracia decadente.<br />
b) burguesia operosa.<br />
c) nobreza idealista.<br />
d) indústria insensível.<br />
e) intelectualidade rebelde.<br />
440. Fatec-SP<br />
Entre as obras memorialistas de José Lins do Rego e<br />
que pertencem ao ciclo da cana-de-açúcar, pode-se<br />
mencionar:<br />
a) Doidinho.<br />
b) Cangaceiros.<br />
c) Memórias do cárcere.<br />
d) Incidente em Antares.<br />
441. PUCCamp-SP<br />
Sobre José Lins do Rego, é correto afirmar que:<br />
a) definiu-se, certa vez, como “apenas um baiano romântico<br />
e sensual”, assumindo-se como contador<br />
de histórias de pescadores e marinheiros de sua<br />
terra.<br />
b) retratou em suas obras a dura relação entre o homem<br />
e o meio, em especial a condição subumana<br />
do nordestino retirante.<br />
c) sempre se declarou escritor espontâneo e instintivo,<br />
consciente de que sua obra continha muito de<br />
sua experiência pessoal em regiões da Paraíba e<br />
de Pernambuco.<br />
d) escreve a saga da pequena burguesia depois de<br />
1930, num tom leve e descontraído de crônica de<br />
costumes.<br />
e) é considerado mais por ter publicado a obra marco<br />
da literatura social nordestina, A bagaceira, do que<br />
pelos méritos de grande escritor.<br />
442. Fuvest-SP<br />
Numa espécie de projeção utópica, sua personagem,<br />
um tipo de idealista bobo e desacreditado, alude a<br />
mudanças na estrutura social do Nordeste com o<br />
advento de outra ordem em que o privilégio ceda ao<br />
princípio de justiça. Daí a crítica falar inclusive em<br />
figura quixotesca.<br />
267
Dentre as personagens de Fogo morto, qual se enquadra<br />
melhor nessa definição?<br />
a) Lula de Holanda<br />
b) Coronel José Paulino<br />
c) Antônio Silvino<br />
d) Mestre José Amaro<br />
e) Vitorino Carneiro da Cunha<br />
443. Fatec-SP<br />
O trecho abaixo foi extraído da terceira parte do romance<br />
Fogo morto, de José Lins do Rego.<br />
Nunca mais que o cabriolé de seu Lula enchesse as<br />
estradas com a música de suas campainhas. A família<br />
do Santa Fé não ia mais à missa aos domingos. A<br />
princípio correra que era doença no velho. Depois<br />
inventaram que o carro não podia rodar, de podre<br />
que estava. Os cavalos não agüentavam mais com<br />
o peso do corpo.<br />
Sobre essa obra, podemos afirmar:<br />
a) o romance é o retrato da desintegração de seres<br />
humanos, da decadência de uma sociedade na<br />
sub-região açucareira, no Nordeste brasileiro.<br />
O encerramento das atividades do engenho<br />
Santa Fé representa o fim de uma estrutura<br />
econômica.<br />
b) o romance chama-se Fogo morto porque aborda<br />
o problema das queimadas nas plantações de<br />
cana-de-açúcar.<br />
c) Fogo morto enfoca a viagem de uma família nordestina<br />
que foge da seca em busca de um lugar<br />
melhor para sobreviver.<br />
d) em Fogo morto, José Lins do Rego afasta-se do<br />
regionalismo que marcou suas obras anteriores<br />
– Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque<br />
Ricardo e Usina.<br />
e) o romance é dividido em três partes. Na parte final,<br />
o engenho Santa Fé é destruído por um incêndio<br />
provocado pelo cangaceiro Antônio Silvino.<br />
Texto para as questões 444 e 445.<br />
– Minha velha, amanhã tenho que ganhar os<br />
campos. Não sou marica para ficar assim dentro de<br />
casa. As eleições estão aí e nestes últimos dias nada<br />
tenho feito. Vou dar uma queda no José Paulino que<br />
vai ser um estouro.<br />
– Vitorino, eu te acho ainda muito machucado.<br />
– Não tenho mais nada. Você viu o compadre e<br />
o cego como estavam andando? Apanharam muito e<br />
não ficaram de papo pro ar numa rede como mulher<br />
parida. Um homem que se preza não deve se entregar.<br />
Vou para a cabala, amanhã na feira de Serrinha. Quero<br />
olhar para a cara de Manuel Ferreira. Este cachorro<br />
vive na Serrinha roubando o povo com parte de que<br />
é deputado. É outra safadeza de José Paulino, deixar<br />
que vá para a Assembléia do Estado um tipo como<br />
Manuel Ferreira. Boto abaixo tudo isto.<br />
444. PUC-RS<br />
Considerando a * das personagens, a linguagem sem<br />
marcas significativas de * e a temática reveladora das<br />
estruturas históricas brasileiras, é possível associar o<br />
texto de José Lins do Rego ao romance*.<br />
268<br />
a) verossimilhança – preciosismo – modernista<br />
b) configuração – nacionalismo – realista<br />
c) indefinição – preciosismo – pré-modernista<br />
d) verossimilhança – regionalismo – de 30<br />
e) indefinição – verossimilhança – naturalista<br />
445. PUC-RS<br />
Vitorino, personagem de_________, de José Lins do<br />
Rego, conversa com sua esposa sobre os motivos que<br />
o impelem a sair de casa, após ter sido surrado por<br />
questões políticas. Demonstra uma atitude _________<br />
e _____________, já que pretende enfrentar o poder<br />
de José Paulino.<br />
a) Vidas secas – estéril – oportunista<br />
b) Fogo morto – ingênua – sonhadora<br />
c) Vidas secas – valente – impulsiva<br />
d) Fogo morto – realista – ufanista<br />
e) Menino de engenho – infantil – romântica<br />
446. UEL-PR<br />
Nesses dois romancistas do Nordeste, a paisagem<br />
surge de maneira diferente. Num, a região canavieira<br />
está intimamente ligada às recordações da infância e<br />
da adolescência, material de seus romances; no outro,<br />
a natureza interessa ao romancista só enquanto propõe<br />
o momento da realidade hostil que a personagem<br />
tem de enfrentar. Representam as duas tendências,<br />
respectivamente, as obras:<br />
a) Capitães da areia – Vidas secas.<br />
b) O tempo e o vento – Doidinho.<br />
c) Angústia – Fogo morto.<br />
d) Menino de engenho – São Bernardo.<br />
e) Gabriela, cravo e canela – Clarissa.<br />
447.<br />
Assinale a altenativa que apresenta uma obra que não<br />
pertence ao mesmo autor de Fogo morto.<br />
a) Menino de engenho d) Bangüê<br />
b) O moleque Ricardo e) Vidas secas<br />
c) Riacho doce.<br />
448.<br />
José Lins do Rego classificou seus romances em três<br />
grupos. Quais são esses grupos?<br />
449.<br />
O romance Fogo morto divide-se em três partes, cada<br />
uma delas centralizada em uma personagem. Quais<br />
são essas partes?<br />
450.<br />
Leia o texto a seguir.<br />
Menino de engenho<br />
Coitado do Santa Fé! Já o conheci de fogo morto. E<br />
nada é mais triste do que engenho de fogo morto. Uma<br />
desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem<br />
rural uma melancolia de cemitério abandonado. Na<br />
bagaceira, crescendo, o mata-pasto de cobrir gente, o<br />
melão entrando pelas fornalhas, os moradores fugindo<br />
para outros engenhos, tudo deixado para um canto, e até<br />
os bois de carro vendidos para dar de comer aos seus<br />
donos. Ao lado da prosperidade e da riqueza do meu avô,
PV2D-07-54<br />
eu vira ruir, até no prestígio de sua autoridade, aquele<br />
simpático velhinho que era o Coronel Lula de Holanda,<br />
com o seu Santa Fé caindo aos pedaços. Todo barbado,<br />
como aqueles velhos dos álbuns de retratos antigos, sempre<br />
que saía de casa era de cabriolé e de casimira preta.<br />
A sua vida parecia um mistério. Não plantava um pé de<br />
cana e não pedia um tostão emprestado a ninguém.<br />
REGO, José Lins do. Menino de engenho. 33. ed.<br />
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. pp. 121-123.<br />
Destaque do texto uma passagem que indique o caráter<br />
memorialista do romance de José Lins do Rego.<br />
451. Mackenzie-SP<br />
Texto I<br />
A violência habitual como forma de comportamento<br />
ou meio de vida ocorre no Brasil através de diversos<br />
tipos sociais, de que o mais conhecido é o cangaceiro<br />
da região nordestina, devido a circunstâncias muitas<br />
vezes já comentadas. Mas o valentão armado, atuando<br />
isoladamente ou em bando, é fenômeno geral em<br />
todas as áreas onde a pressão da lei não se faz sentir,<br />
e onde a ordem privada desempenha funções que em<br />
princípio caberiam ao poder público.<br />
Como essas áreas são geralmente menos atingidas<br />
pela influência imediata da civilização urbana, é natural<br />
que o regionalismo literário, que as descreve, tenha<br />
abordado desde cedo o jagunço e o bandido. Com<br />
efeito, o nosso regionalismo nasceu ligado à descrição<br />
da tropelia, da violência grupal e individual, “normais”, de<br />
certo modo, nas sociedades rústicas do passado.<br />
Antonio Candido<br />
Texto II<br />
O capitão Antônio Silvino voltava a tomar conta<br />
de seus pensamentos. Admirava a vida errante daquele<br />
homem, dando tiroteios, protegendo os pobres,<br />
tomando dos ricos. Este era o homem que vivia na<br />
sua cabeça. Este era o seu herói. Para ele só havia<br />
uma grandeza no mundo, era a grandeza do homem<br />
que não temia o governo, do homem que enfrentava<br />
quatro estados, que dava dor de cabeça nos chefes de<br />
polícia, que matava soldados, que furava cercos, que<br />
tinha poder para adivinhar os perigos. Se um dia visse<br />
o capitão Antônio Silvino seria um homem feliz.<br />
José Lins do Rego – Fogo morto<br />
Considere as afirmações que seguem sobre os textos<br />
I e II.<br />
I. O comentário sobre o regionalismo literário brasileiro,<br />
apresentado no texto I, diz respeito aos romances<br />
escritos tanto no século XIX como no século XX.<br />
II. O texto II exemplifica o destaque dado pelo regionalismo<br />
literário brasileiro ao valentão armado<br />
referido no texto I.<br />
III. É característica dos romances regionalistas brasileiros<br />
terem o jagunço nordestino como protagonista,<br />
como em Vidas secas, de Graciliano Ramos, e<br />
Inocência, de Taunay.<br />
Assinale:<br />
a) se todas estiverem corretas.<br />
b) se nenhuma estiver correta.<br />
c) se apenas I estiver correta.<br />
d) se apenas I e II estiverem corretas.<br />
e) se apenas II e III estiverem corretas.<br />
452. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa incorreta.<br />
a) A temática regionalista, presente na literatura brasileira,<br />
foi tratada diferentemente pelos escritores,<br />
em função de traços específicos de cada momento<br />
histórico.<br />
b) O romance da segunda geração do Modernismo<br />
brasileiro tem como aspecto relevante a temática<br />
regionalista, como atestam as obras de José Lins<br />
do Rego.<br />
c) Apesar de aparentemente paradoxal, a expressão<br />
regionalismo universalizante é adequadamente<br />
usada pela crítica para caracterizar a obra de<br />
Guimarães Rosa.<br />
d) O aspecto pitoresco da cor local é elemento idealizado<br />
pelos escritores do século XX, quando tratam<br />
da temática regionalista.<br />
e) Obras de temática regionalista, como Os sertões,<br />
de Euclides da Cunha, denunciam a marginalização<br />
a que está submetido o homem do sertão.<br />
453.<br />
Leia os versos a seguir e responda à questão.<br />
Estranha neve: espuma, espumas apenas<br />
Que o vento espalha, bolha em baile no ar,<br />
vinda do Tietê alvoroçado<br />
ao abrir as comportas,<br />
espuma de dodecilbenzeno irredutível,<br />
emergindo das águas profanadas<br />
do rio-bandeirante, hoje rio despejo<br />
de mil imundícies do progresso.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Discurso de primavera e algumas<br />
sombras. Rio de Janeiro: Editora Record, 1994.<br />
Nos versos do poeta, “rio-bandeirante” significa:<br />
a) a pequena importância do rio Tietê no processo<br />
de povoamento do interior de São Paulo.<br />
b) a importante contribuição do rio Tietê para a expansão<br />
da pecuária no sertão nordestino.<br />
c) que o rio Tietê serviu como via fluvial, ligando o<br />
interior de São Paulo às minas de Cuiabá (monções).<br />
d) a contribuição do rio Tietê para o escoamento da produção<br />
aurífera até os portos do Rio de Janeiro.<br />
e) a grande importância do rio Tietê para o deslocamento<br />
dos tropeiros paulistas para a região Sul.<br />
454. PUC-SP<br />
Eu não sabia nada. Levava para o colégio um corpo<br />
sacudido pelas paixões de homem feito e uma alma<br />
mais velha do que o meu corpo. Aquele Sérgio, de Raul<br />
Pompéia, entrava no internato de cabelos grandes e<br />
com uma alma de anjo cheirando a virgindade. Eu não:<br />
era sabendo de tudo, era adiantado nos anos, que ia<br />
atravessar as portas do meu colégio.<br />
Menino perdido, menino de engenho.<br />
O trecho citado, do romance Menino de engenho,<br />
de José Lins do Rego, prepara o leitor para a segunda<br />
obra do ciclo da cana-de-açúcar, Doidinho,<br />
ao mesmo tempo que retoma O Ateneu, de Raul<br />
Pompéia. Em que os romances Doidinho e O Ateneu<br />
se assemelham?<br />
269
455. Fuvest-SP<br />
Leia atentamente o texto a seguir.<br />
Pedro Boleeiro chegou na porta do mestre José Amaro<br />
com um recado do coronel Lula. Era para o mestre<br />
aparecer no engenho para conserto nos arreios do<br />
carro. O mestre ouviu o recado, deixou que o negro<br />
falasse à vontade. E depois, como não tivesse gostado,<br />
foi-se abrindo com o outro.<br />
– Todo mundo pensa que o mestre José Amaro é<br />
criado. Sou um oficial, Seu Pedro, sou um oficial que<br />
me prezo. O coronel Lula passa por aqui, me tira o<br />
chapéu como um favor, nunca parou para saber como<br />
vou passando. Tem o seu orgulho. Eu tenho o meu.<br />
Moro em terra dele, não lhe pago foro, porque aqui<br />
morou meu pai, no tempo do seu sogro. Fui menino<br />
por aqui. Para que tanto orgulho?<br />
José Lins do Rego, Fogo morto.<br />
a) Por que o romance se intitula Fogo morto?<br />
b) De autor(es) contemporâneo(s) de José Lins do<br />
Rego, cite dois romances que, à semelhança de<br />
Fogo morto, focalizam problemas sociais e econômicos<br />
do Nordeste.<br />
456. Vunesp<br />
A palavra da velha conduzia o filho como se<br />
empurrasse um cego na estrada. O Santo gritava,<br />
gritava com um vozeirão de roqueira. Aparício e os<br />
cabras chegavam para ele. E ele que tinha aos seus<br />
pés milhares de criaturas parecia não enxergar os<br />
cangaceiros de chapéu na cabeça. De repente, porém,<br />
como se os seus olhos se abrissem, olhou fixamente<br />
para Aparício e os seus homens. E manso, tal uma<br />
ventania que se abrandasse numa brisa mansinha,<br />
fixou no terror das caatingas a sua atenção. Com a<br />
voz de homem para homem, não mais de santo para<br />
impuros, foi dizendo:<br />
– Deus do céu e o meu santo mártir S. Sebastião<br />
te mandou para perto de mim.<br />
E marchou para o meio dos cangaceiros, rompendo<br />
por entre os romeiros que caíam a seus pés,<br />
com a cabeça erguida e as barbas açoitadas pelo<br />
vento. Aparício, quando viu-o de perto, ajoelhou-se.<br />
O rifle caiu-lhe das mãos, enquanto o Santo punhalhe<br />
na cabeça os dedos magros. Podia-se escutar os<br />
rumores dos bichos da terra naquele silêncio de mundo<br />
parado. E soturno, com a voz que saía de uma furna, o<br />
Santo ergueu para o céu o seu canto. E as ladainhas<br />
irromperam de todos os recantos do arraial. Muitos<br />
cangaceiros começaram a chorar. Aparício, porém,<br />
possuiu-se de fúria, e era uma fera acuada, com<br />
milhares de cachorros na boca da toca. E ergueu-se.<br />
E já com o rifle na mão esquerda fitou o Santo, cara<br />
a cara, e com a mão direita cheia de anéis puxou o<br />
punhal da bainha e disse aos berros:<br />
– Povo, eu não tenho medo.<br />
in REGO, José Lins do. Cangaceiros. 6. ed.<br />
Rio de Janeiro: José Olympio, 1976, p.8.<br />
José Lins do Rego (1901-1957) faz parte de uma<br />
geração de romancistas engajados na realidade<br />
cultural do nosso país. Sua prosa de ficção caracteriza-se<br />
pelo forte tom de oralidade, de regionalismos<br />
léxicos e sintáticos que aproximam seu discurso da<br />
fala popular. Localize, na primeira frase, em discurso<br />
270<br />
direto, um desses “erros gramaticais” tão freqüentes na<br />
espontaneidade da expressão popular oral e, a seguir,<br />
responda ao que se pede.<br />
a) Que “erro” foi cometido?<br />
b) Que formulação o discurso direto teria sem esse<br />
“erro”?<br />
457.<br />
A literatura aproveita-se constantemente dos textos<br />
que já foram produzidos e os transforma, apresentando-os<br />
de outra maneira, sob outro ponto de vista. Leia<br />
os textos a seguir, em que Alice Ruiz parodia o texto<br />
de Carlos Drummond de Andrade, José.<br />
Texto I<br />
Drumundana<br />
e agora maria?<br />
o amor acabou<br />
a filha casou<br />
o filho mudou<br />
teu homem foi pra vida<br />
que tudo cria<br />
a fantasia<br />
que você sonhou<br />
apagou<br />
à luz do dia<br />
e agora maria?<br />
vai com as outras<br />
vai viver<br />
com a hipocondria<br />
Alice Ruiz<br />
Texto II<br />
José<br />
E agora, José?<br />
A festa acabou,<br />
a luz apagou,<br />
o povo sumiu,<br />
a noite esfriou,<br />
e agora, José?<br />
e agora, Você?<br />
Você que é sem nome,<br />
que zomba dos outros,<br />
Você que faz versos,<br />
que ama, protesta?<br />
e agora, José?<br />
(...)<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
Após leitura atenta dos dois poemas, percebe-se que,<br />
por meio da paródia, Alice Ruiz apropria-se do texto de<br />
Drummond e dá um novo significado ao sentido original<br />
do poema. Marque a alternativa que mostra com qual<br />
finalidade a poetisa alterou a idéia de José.<br />
a) Debochar do desencanto e da falta de perspectiva<br />
de José.<br />
b) Criticar o desamparo do homem comum na sociedade<br />
capitalista.<br />
c) Ridicularizar o sofrimento sentido pelo personagem<br />
do poema.<br />
d) Mostrar-se contra o uso da linguagem coloquial<br />
dentro da literatura.<br />
e) Somar ao sentido crítico de José o desamparo de<br />
mulheres contemporâneas.
PV2D-07-54<br />
458. Ufla-MG<br />
No gênero narrativo, temos, como uma de suas manifestações,<br />
a novela. Classifica-se como novela o<br />
livro A morte e a morte de Quincas Berro D’água, de<br />
Jorge Amado. Todas as alternativas justificam essa<br />
afirmativa, exceto:<br />
a) O número de páginas é menor que o de outras<br />
manifestações narrativas.<br />
b) Apresenta personagens e situações mais densas e<br />
complexas, com passagem mais lenta do tempo.<br />
c) Temos a valorização de um evento, um corte mais<br />
limitado da vida.<br />
d) A passagem do tempo é mais rápida, às vezes um<br />
dia e uma noite.<br />
e) O narrador assume uma maior importância como<br />
contador de um fato passado.<br />
459. Unirio-RJ<br />
Publicado em 1956, Vila dos confins é exemplo de romance<br />
regionalista. O fragmento de texto cuja temática<br />
não está voltada para o regional é:<br />
a) O fogo, bem defronte do rancho festivo, alumiava<br />
o terreiro. Lúcio pôs-se a observar a agonia da<br />
lenha verde que se estorcia, estalava de dor, estoirava<br />
em protestos secos e se finava, chiando,<br />
espumando de raiva vegetal. (A bagaceira)<br />
b) O Senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que<br />
não seja: que situado sertão é por os campos<br />
gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo,<br />
terras altas, demais do Urucúia. (Grande sertão:<br />
veredas)<br />
c) Sim senhor, hóspede que demorava demais,<br />
tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro<br />
das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma<br />
noite. (Vidas secas)<br />
d) E como se não bastasse a claridade das duas horas,<br />
ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam<br />
de calor. – A cabeça da menina planejava. (Legião<br />
estrangeira)<br />
e) Acompanha o Paraíba com as várzeas extensas<br />
e entrava de caatinga. Ia encontrar as divisas de<br />
Pernambuco nos tabuleiros de pedra de fogo.<br />
(Menino de Engenho)<br />
460. Femp-PA<br />
Quanto a aspectos da atividade literária de José Lins<br />
do Rego e Jorge Amado:<br />
I. destacaram-se como contadores de histórias, em<br />
que o homem simples do Nordeste, com seus<br />
defeitos e virtudes, é personagem constante.<br />
II. tornou-se marcante a presença da infância e da<br />
adolescência em seus romances – daí o caráter<br />
memorialista que suas obras de maior destaque<br />
tiveram.<br />
III. destacaram-se também na arte de fazer o verso<br />
– especialmente o soneto.<br />
IV. foram combatidos, por determinados setores da<br />
crítica, pela utilização, em inúmeras passagens de<br />
seus romances, de uma linguagem marcadamente<br />
coloquial.<br />
V. evitaram, sempre que possível, ao longo da atividade<br />
literária, a abordagem de questões de ordem<br />
social e política.<br />
a) I, II, V d) II, III<br />
b) II, IV, V e) I, IV<br />
c) III, IV, V<br />
461. UFPE<br />
Capitães de areia, de Jorge Amado, faz parte do Modernismo,<br />
dentro do romance regional de 30. Sobre<br />
essa obra, podemos afirmar que:<br />
( ) Capitães de areia descreve a ação dos grupos<br />
revolucionários e faz parte da primeira fase das<br />
obras do autor, junto com Jubiabá.<br />
( ) o livro narra a vida de meninos abandonados nas<br />
ruas de Salvador, os quais, apesar de marginais<br />
(viviam de furto), ao final, organizam-se como um<br />
grupo político que defende idéias revolucionárias.<br />
( ) a narrativa é precedida de cartas à redação de<br />
jornais e de reportagens sobre a necessidade de<br />
se tomar providências em relação ao bando de<br />
delinqüentes juvenis (os capitães de areia), o que<br />
dá ares de veracidade à história.<br />
( ) a história dramática narrada no livro está dividida<br />
em três partes, sendo a última “Canção da Bahia,<br />
Canção da Liberdade”. “Porque a revolução é uma<br />
pátria e uma bandeira” é a frase final que dá um<br />
toque de esperança à obra.<br />
( ) o personagem central, Pedro Bala, torna-se líder<br />
político, comandando uma brigada de choque:<br />
“Intervém em comícios, greves, lutas obreiras.<br />
A luta mudou seus destinos... para que depois<br />
continuasse a mudar o destino de outras crianças<br />
abandonadas do país”.<br />
462. UEL-PR<br />
Assinale a alternativa correta a respeito de A morte e a<br />
morte de Quincas Berro D’Água, de Jorge Amado.<br />
( ) O romance trata de uma mesma pessoa, que<br />
passa, no decorrer da trama, de Joaquim Soares<br />
da Cunha, um funcionário exemplar, a Quincas<br />
Berro D’Água, um beberrão ligado à boemia, a<br />
vagabundos e a prostitutas.<br />
( ) Nesse romance, Jorge Amado retoma a temática<br />
de algumas de suas obras anteriores e discute os<br />
problemas ligados ao ciclo do cacau no Nordeste.<br />
( ) Quincas Berro D’Água e Joaquim Soares da<br />
Cunha, devido a uma confusão da agência funerária,<br />
tiveram suas identidades trocadas, e seus<br />
cadáveres foram enviados às famílias erradas.<br />
( ) Joaquim Soares da Cunha era odiado pela família<br />
e amado pelos boêmios, ao passo que Quincas<br />
Berro D’Água era idolatrado pela família e odiado<br />
pelos boêmios.<br />
( ) É um romance escrito em plena ditadura de Getúlio<br />
Vargas, que se destina ao retrato da realidade<br />
social da época e, por isso, ignora traços de um<br />
realismo fantástico.<br />
271
463. Ufla-MG<br />
Sobre o trecho:<br />
Era o cadáver de Quincas Berro D’Água, cachaceiro,<br />
debochado e jogador, sem família, sem lar, sem flores e<br />
sem rezas. Não era Joaquim Soares da Cunha, correto<br />
funcionário da Mesa de Rendas Estadual, aposentado<br />
após vinte e cinco anos de bons e leais serviços,<br />
esposo modelar, a quem todos tiravam o chapéu e<br />
apertavam a mão.<br />
A morte e a morte de Quincas Berro D’água – Jorge Amado<br />
e de acordo com a compreensão da leitura desse livro,<br />
marque a alternativa correta.<br />
a) Trata-se de uma comparação preconceituosa entre<br />
duas pessoas que tinham, coincidentemente, o<br />
mesmo nome.<br />
b) Demonstra a preferência do autor por personagens<br />
que representam pessoas sérias e bem vestidas.<br />
c) Retrata, no pensamento da filha, a saudade e o<br />
apreço que sente pelo pai, ainda que vagabundo.<br />
d) Há uma crítica à importância que a sociedade dá<br />
a valores que constituem padrões criados por ela<br />
mesma.<br />
e) Há na descrição da personagem o retrato de um<br />
homem fraco que não soube aproveitar a sorte que<br />
a vida lhe proporcionara.<br />
464. Fatec-SP<br />
Pode-se afirmar que Jorge Amado, cujos oitenta anos<br />
foram largamente comemorados, apresenta duas vertentes<br />
na sua produção literária. Seus primeiros romances<br />
distinguem-se pela denúncia social, com matizes políticos<br />
e depoimentos líricos a respeito dos desvalidos da vida.<br />
A partir dos anos 1950, seus romances abandonam os<br />
esquemas de literatura ideológica e retratam os costumes<br />
provincianos, o pitoresco regional e o humorismo extraído<br />
do cotidiano. Assinale a alternativa que contém uma obra<br />
de cada uma dessas fases, respectivamente.<br />
a) Jubiabá – O país do carnaval.<br />
b) Tenda dos milagres – Gabriela, cravo e canela.<br />
c) Capitães da areia – Teresa Batista cansada de<br />
guerra.<br />
d) O cavaleiro da esperança – Terras do sem-fim.<br />
e) Tieta do agreste – Dona Flor e seus dois maridos.<br />
465. Mackenzie-SP<br />
O tempo e o vento:<br />
a) apresenta-se como um romance histórico, dividido<br />
em três partes, com personagens reais, cujo tempo<br />
se limita ao período da Guerra do Paraguai.<br />
b) constitui um poema épico, apresentando a colonização<br />
e o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.<br />
c) trata-se de um longo romance, que mostra o desenvolvimento<br />
do Rio Grande do Sul, do século<br />
XVIII ao XX, através das fictícias famílias Terra e<br />
Cambará.<br />
d) mostra-se como um dos pontos mais altos da literatura<br />
regionalista romântica, trazendo personagens<br />
totalmente estereotipadas.<br />
e) é um livro de contos em que o autor, Érico Veríssimo,<br />
expõe a valentia do povo gaúcho, seus hábitos<br />
e cultura próprios.<br />
272<br />
Texto para as questões 466 e 467.<br />
“Sempre que acontece alguma coisa importante, está<br />
ventando” — costumava dizer Ana Terra. Mas entre todos<br />
os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para<br />
sempre na memória, pois o que sucedera nele tivera a<br />
força de mudar-lhe a sorte por completo. Mas em que dia<br />
da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em<br />
que ano? Bom, devia ter sido em 1777: ela se lembrava<br />
bem porque esse fora o ano da expulsão dos castelhanos<br />
do território do Continente. Mas na estância onde Ana vivia<br />
com os pais e os dois irmãos, ninguém sabia ler, e mesmo<br />
naquele fim de mundo não existia calendário nem relógio.<br />
Eles guardavam de memória os dias da semana; viam<br />
as horas pela posição do sol; calculavam a passagem<br />
dos meses pelas fases da lua; e era o cheiro do ar, o<br />
aspecto das árvores e a temperatura que lhes diziam das<br />
estações do ano. Ana Terra era capaz de jurar que aquilo<br />
acontecera na primavera, porque o vento andava bem<br />
doido, empurrando grandes nuvens brancas no céu, os<br />
pessegueiros estavam floridos e as árvores que o inverno<br />
despira se enchiam outra vez de brotos verdes.<br />
466. PUC-RS<br />
O trecho em questão refere-se a um acontecimento determinante<br />
para a vida de Ana Terra, que desencadeia<br />
toda a saga de O tempo e o vento, qual seja<br />
a) a viagem para Santa Fé.<br />
b) o cerco ao sobrado.<br />
c) o nascimento de Pedro Terra.<br />
d) o encontro com Pedro Missioneiro.<br />
e) a morte de seu amado.<br />
467. PUC-RS<br />
A personagem Ana Terra, que dá nome a um dos capítulos<br />
de O continente, tem sua imagem associada<br />
às idéias de:<br />
a) resistência, teimosia e irreverência.<br />
b) força, perseverança e fidelidade.<br />
c) aventura, amor e generosidade.<br />
d) obstinação, irresponsabilidade e irreverência.<br />
e) delicadeza, beleza e aventura.<br />
468. UEM-PR<br />
Sobre o romance Incidente em Antares, de Érico Veríssimo,<br />
assinale o que for correto.<br />
01. Incidente em Antares, romance pertencente à<br />
terceira fase da prosa de Érico Veríssimo, tem<br />
elementos regionalistas nítidos, mas supera as<br />
preocupações do regionalismo ao utilizar a história<br />
do Rio Grande do Sul como recurso para retratar<br />
criticamente o momento pelo qual passava o Brasil<br />
como um todo, utilizando, para tal fim, a mescla de<br />
fatos históricos e ficcionais, sendo os últimos de<br />
dois tipos: verossímeis ( realistas) e fantásticos.<br />
02. Incidente em Antares, romance considerado pertencente<br />
à segunda fase da prosa de Érico Veríssimo,<br />
pode ser descrito como um típico romance<br />
regionalista. Tal afirmação pode ser justificada<br />
através de exemplos tirados do texto, como a<br />
minuciosa reconstituição do passado histórico de<br />
Antares, feito com base em documentos encontrados<br />
por pesquisadores.
PV2D-07-54<br />
04. Incidente em Antares é, basicamente, a saga<br />
de duas famílias, inicialmente inimigas, depois<br />
tornadas aliadas pelas circunstâncias. Da mesma<br />
maneira O tempo e o vento é um romance histórico,<br />
centrado nas vidas das várias gerações das<br />
famílias Vacariano e Campolargo.<br />
08. Incidente em Antares é, basicamente, um romance<br />
psicológico, empenhado em desvendar ao leitor as<br />
motivações inconscientes das suas personagens.<br />
Como exemplo, tem-se Valentina e Pedro Paulo,<br />
com sua atração proibida, reprimida, que jamais<br />
chega a se realizar, mas que é visível e plenamente<br />
analisada para o leitor.<br />
16. Incidente em Antares, romance da primeira fase da<br />
prosa de Érico Veríssimo, compõe, juntamente com<br />
Clarissa e Olhai os lírios do campo, uma trilogia que<br />
fez enorme sucesso junto ao público feminino, por<br />
sua temática branda, lírica e afetuosa, sua linguagem<br />
poética e seu tratamento ingênuo e otimista<br />
de assuntos como a adolescência, a vida pacata<br />
numa cidadezinha gaúcha, o primeiro amor.<br />
32. A construção da personagem Quitéria Campolargo<br />
é considerada “problemática” por muitos estudiosos:<br />
seu comportamento sofre uma mudança<br />
radical. De matrona poderosa, mandona, respeitada<br />
por todos, ela passa a defender os pobres e<br />
a tomar seu partido em praça pública, sem que<br />
haja explicação clara dos motivos de tal mudança.<br />
Embora o contexto de sua mudança seja fantástico,<br />
não se pode, logicamente, esperar que uma<br />
alteração tão grande de comportamento aconteça<br />
numa personagem bem construída.<br />
64. A relação das personagens Ritinha e Joãozinho<br />
Paz é comovente, e a metáfora escolhida pelo<br />
padre para significar a Joãozinho que a mulher está<br />
a salvo vem enfatizar seu significado simbólico no<br />
contexto do romance: a viúva, grávida, despedindo-se<br />
do marido amado, é comparada à Virgem<br />
Maria, fugindo da perseguição de Herodes.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
469. UFRGS-RS<br />
Assinale a alternativa correta em relação a O continente,<br />
de Érico Veríssimo.<br />
a) As mulheres, por não suportarem sozinhas os<br />
encargos dos filhos e da casa, lançam-se como<br />
estratégicas guerreiras fortalecendo a ação dos<br />
seus homens.<br />
b) Descendente direta de Ana Terra, Bibiana, ao<br />
casar-se com o capitão Rodrigo Cambará, rompe<br />
com a tradição indígena, herdada de sua avó, e<br />
sofre por não conseguir gerar um filho do sexo<br />
masculino.<br />
c) O episódio “Um certo Capitão Rodrigo” gira em<br />
torno da chegada a Santa Fé do forasteiro Rodrigo<br />
Cambará, que encarna o ideal da bravura do gaúcho<br />
e tem o perfil de um homem dominado pelos<br />
prazeres carnais.<br />
d) O continente, título que evoca a conquista do território<br />
do Rio Grande do Sul, recobra um período<br />
histórico que vai das missões jesuíticas no século<br />
XVIII até a segunda metade do século XX, atingindo<br />
a urbanização crescente em Porto Alegre.<br />
e) A personagem Luzia, em razão de suas reações<br />
estranhas, que oscilam entre a crueldade e a<br />
sedução, dá origem, entre os habitantes de Santa<br />
Fé, à lenda da Teiniaguá.<br />
470. UCPel-RS<br />
Em relação a Érico Veríssimo, todas as alternativas<br />
são corretas, exceto:<br />
a) Utiliza a técnica do contraponto, interpretando<br />
diversas histórias, influenciado por traduções que<br />
realizou da obra de Aldous Huxley.<br />
b) Registra os valores e os costumes de uma pequena<br />
burguesia que se tornava, pouco a pouco, o setor<br />
social mais representativo de Porto Alegre.<br />
c) Em O tempo e o vento, o ciclo se dá pela sucessão<br />
de duas famílias-chave, os Terra e os Cambará,<br />
que se aproximam várias vezes pelo casamento.<br />
d) Em Incidente em Antares, retoma a temática do interior,<br />
agora sob uma perspectiva crítica, refletindo a realidade<br />
social e política do Brasil nos anos sessenta.<br />
e) Aborda, em toda sua obra, o caráter materialista da<br />
vida, vendo o homem como um produto biológico<br />
sujeito inteiramente às pressões sociais e à carga<br />
hereditária.<br />
471.<br />
Gabriela agitou-se no sono, o árabe transpusera a<br />
porta. Estava com a mão estendida, sem coragem de<br />
tocar o corpo dormido. Por que apressar-se? Se ela gritasse,<br />
se fizesse um escândalo, fosse embora? Ficaria<br />
sem cozinheira, outra igual a ela jamais encontraria. O<br />
melhor era deixar o pacote na beira da cama. No outro<br />
dia, demoraria mais em casa, ganhando sua confiança<br />
pouco a pouco, terminaria por conquistá-la.<br />
Sua mão quase tremia pousando o embrulho.<br />
Gabriela sobressaltou-se, abriu os olhos, ia falar<br />
mas viu Nacib de pé, a fitá-la. Com a mão, instintivamente,<br />
procurou a coberta mas tudo que conseguiu – por<br />
acanhamento ou por malícia? – foi fazê-la escorregar da<br />
cama. Levantou-se a meio, ficou sentada, sorria tímida.<br />
Não buscava esconder o seio agora visível ao luar.<br />
— Vim lhe trazer um presente, – gaguejou Nacib.<br />
Ia botar em sua cama. Cheguei agorinha...<br />
Ela sorria, era de medo ou era para encorajar?<br />
Tudo podia ser, ela parecia uma criança, as coxas<br />
e os seios à mostra como se não visse mal naquilo,<br />
como se nada soubesse daquelas coisas, fosse toda<br />
inocência. Tirou o embrulho da mão dele:<br />
— Obrigada, moço, Deus lhe pague.<br />
Desatou o nó, Nacib a percorria com os olhos, ela<br />
estendeu sorrindo o vestido sobre o corpo, acariciouse<br />
com a mão:<br />
— Bonito...<br />
Espiou os chinelos baratos, Nacib arfava.<br />
— O moço é tão bom...<br />
O desejo subia no peito de Nacib, apertava-lhe a<br />
garganta. Seus olhos se escureciam, o perfume de<br />
cravo o tonteava, ela tomava do vestido para melhor<br />
o ver, sua nudez cândida ressurgia.<br />
— Bonito... Fiquei acordada, esperando pro<br />
moço me dizer a comida de amanhã. Ficou tarde,<br />
vim deitar...<br />
— Tive muito trabalho – as palavras saíam-lhe<br />
a custo.<br />
273
— Coitadinho... Não tá cansado?<br />
Dobrava o vestido, colocava os chinelos no chão.<br />
— Me dê, penduro no prego.<br />
Sua mão tocou a mão de Gabriela, ela riu:<br />
— Mão mais fria...<br />
Ele não pôde mais, segurou-lhe o braço, a outra<br />
mão procurou o seio crescendo ao luar. Ela o puxou<br />
para si:<br />
— Moço bonito...<br />
O perfume de cravo enchia o quarto, um calor vinha<br />
do corpo de Gabriela, envolveu Nacib, queimava-lhe a<br />
pele, o luar morria na cama. Num sussurro entre beijos,<br />
a voz de Gabriela agonizava:<br />
— Moço bonito...<br />
Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela, Parte I.<br />
a) Qual é o aspecto da obra de Jorge Amado que o<br />
texto permite perceber?<br />
b) Qual a imagem feminina que se pode abstrair do<br />
trecho?<br />
c) Na construção da cena, o narrador sugere ao leitor<br />
sensações de vários tipos. Indique uma dessas<br />
sensações.<br />
472.<br />
I. Não me encontro com ninguém<br />
(tenho fases, como a lua...)<br />
No dia de alguém ser meu<br />
Não é dia de eu ser sua...<br />
Cecília Meireles<br />
II. Sou talvez a visão que Alguém sonhou,<br />
Alguém que veio ao mundo pra me ver<br />
E que nunca na vida me encontrou!<br />
Florbela Espanca<br />
III. Quadrilha<br />
João amava Teresa que amava Raimundo<br />
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili<br />
que não amava ninguém.<br />
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o<br />
convento,<br />
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,<br />
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes<br />
que não tinha entrado na história.<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
Assinale a alternativa incorreta.<br />
Sobre a relação entre os textos mostrados, afirma-se<br />
que:<br />
a) há uma confluência entre eles, na afirmação do<br />
eterno desencontro, inerente à busca amorosa.<br />
b) os dois primeiros unem-se num tom de lamento<br />
poético, enquanto o terceiro, definindo-se pela<br />
incorporação, ao poético, do cotidiano prosaico,<br />
encaminha-se para o tom de ironia e de humor.<br />
c) os dois primeiros fragmentos, com métrica regular,<br />
opõem-se ao poema Quadrilha, que transgride a<br />
métrica tradicional, o que vem confirmar a postura<br />
ideológica dos textos.<br />
d) no poema Quadrilha, a sucessão de especificações<br />
dos três primeiros versos introduz a idéia de<br />
desencontro, confirmada nos três últimos versos.<br />
e) os três textos unem-se pelo fato de apresentarem<br />
o tema por meio de um eu que fala e se assume,<br />
contando e lamentando a própria história.<br />
274<br />
Texto para as questões de 473 a 475.<br />
I<br />
No meio do caminho<br />
No meio do caminho tinha uma pedra<br />
tinha uma pedra no meio do caminho<br />
tinha uma pedra<br />
no meio do caminho tinha uma pedra.<br />
Nunca me esquecerei desse acontecimento<br />
na vida de minhas retinas tão fatigadas.<br />
Nunca me esquecerei que no meio do caminho<br />
tinha uma pedra<br />
tinha uma pedra no meio do caminho<br />
no meio do caminho tinha uma pedra.<br />
Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia, 1930<br />
II<br />
Marcelino Freire, erudito, 2002<br />
Comemorou-se no dia 31 de outubro de 2002 o centenário<br />
de nascimento de Carlos Drummond de Andrade<br />
(1902-1987), o mais importante poeta brasileiro do século<br />
XX. No meio do caminho é provavelmente o poema mais<br />
polêmico de Drummond e do Modernismo: provocou<br />
verdadeiro escândalo entre os espíritos conservadores!<br />
Foi essa avalanche de opiniões que levou Drummond a<br />
publicar Uma pedra no meio do caminho – biografia de<br />
um poema (Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1967), um<br />
documento exemplar da sociologia do gosto literário.<br />
São 194 páginas que reúnem críticas contundentes<br />
e ridicularizadoras, caricaturas, traduções e alguns<br />
elogios ao poema.<br />
473. Ibmec-SP<br />
Aponte, dentre as alternativas seguintes, a que caracteriza<br />
o aspecto mais surpreendente do poema<br />
drummondiano e que é capaz de explicar o impacto<br />
produzido na época de sua publicação.<br />
a) Trata-se da forma profundamente desrespeitosa com<br />
que Drummond se refere ao verso Nel mezzo del<br />
camin di nostra vita, de Dante Alighieri, retomado por<br />
Olavo Bilac num de seus mais famosos sonetos.<br />
b) As demasiadas repetições do verso No meio<br />
do caminho tinha uma pedra são extremamente<br />
redutoras e empobrecedoras, do ponto de vista<br />
semântico.
PV2D-07-54<br />
c) De acordo com a norma culta, o poema apresenta<br />
incorreções inadmissíveis, tais como a regência<br />
exótica do verbo “esquecer”.<br />
d) O poema não passa de uma baboseira futurista,<br />
marca indelével da fase de loucura que acometeu<br />
Drummond, na época em que o escreveu.<br />
e) O poema caracteriza a época contemporânea,<br />
prosaica e muito agitada, em que poucos param<br />
para refletir sobre a existência. A mensagem, de<br />
tão simples, inquieta o leitor pelo modo redundante<br />
com que se estrutura.<br />
474. Ibmec-SP<br />
Na “biografia do poema”, Drummond afirma que “não<br />
pretende expor nenhum fato de ordem moral, psicológica<br />
ou filosófica” e que somente queria “dar a sensação<br />
de monotonia e chateação, a começar pelas palavras”.<br />
Segundo ele, o poema havia servido “para dividir no<br />
Brasil as pessoas em duas categorias mentais”. De<br />
fato, o poema apresenta uma estrutura irônica, como<br />
se nota já nos versos iniciais:<br />
No meio do caminho tinha uma pedra<br />
tinha uma pedra no meio do caminho<br />
A seguir, estão exposto versos de diversos autores.<br />
Em qual das passagens o autor empregou o mesmo<br />
recurso retórico usado por Drummond nos versos<br />
expostos?<br />
a) Ó mar salgado, quanto do teu sal<br />
São lágrimas de Portugal.<br />
Fernando Pessoa<br />
b) Mais dura, mais cruel, mais rigorosa<br />
Sois, Lisi, que o cometa, rocha ou muro<br />
Mais rigoroso, mais cruel, mais duro<br />
Que o Céu vê, cerca o Mar, a Terra goza.<br />
Jerônimo Baía<br />
c) São Paulo – metrópole<br />
o metrô – bisturi que rasga<br />
o ventre da noite...<br />
Clínio Jorge<br />
d) Sou Ana, da cama<br />
da cana, fulana, bacana<br />
Sou Ana de Amsterdam.<br />
Chico Buarque<br />
e) Vão chegando as burguesinhas pobres,<br />
e as crianças das burguesinhas ricas,<br />
e as mulheres do povo, e as lavadeiras<br />
Manuel Bandeira<br />
475. Ibmec-SP<br />
No último terceto de “Legado”, de Claro enigma (1950),<br />
Carlos Drummond de Andrade faz alusão ao seu verso<br />
mais polêmico:<br />
De tudo quanto foi meu passo caprichoso<br />
Na vida, restará, pois o resto se esfuma,<br />
Uma pedra que havia no meio do caminho.<br />
O texto II, em forma de homenagem, combina o nome do<br />
poeta Drummond com seu verso mais famoso. Marcelino<br />
Freire utiliza a linguagem de novas mídias na construção<br />
de um poema, simultaneamente, verbal e visual.<br />
Entre todos esses poemas estabelece-se uma relação<br />
de:<br />
a) plágio.<br />
b) desmistificação.<br />
c) reprodução.<br />
d) intertextualidade.<br />
e) usurpação.<br />
476.<br />
Leia o poema Itabira, de Carlos Drummond de Andrade,<br />
para responder à questão.<br />
Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.<br />
Na cidade toda de ferro.<br />
As ferramentas batem como sinos.<br />
Os meninos seguem para a escola.<br />
Os homens olham para o chão.<br />
Os ingleses compram a mina.<br />
Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota<br />
incomparável.<br />
A crítica de caráter político encontrada no texto de<br />
Drummond está expressa no verso:<br />
a) Cada um de nós tem seu pedaço no pico do<br />
Cauê.<br />
b) As ferraduras batem como sinos.<br />
c) Os ingleses compram a mina.<br />
d) Na cidade toda de ferro.<br />
e) Os meninos seguem para a escola.<br />
477. Mackenzie-SP<br />
Construção<br />
Um grito pula no ar como foguete.<br />
Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes<br />
hirtos.<br />
O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.<br />
O sorveteiro corta a rua.<br />
E o vento brinca nos bigodes do construtor.<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
Vocabulário<br />
caliça = resíduo de cal ou argamassa ressequida<br />
andaime = estrado provisório de tábuas, sustentado por<br />
armação de madeira ou metálica, sobre o qual os operários<br />
trabalham nas construções<br />
hirto = completamente imóvel, estacado<br />
Assinale a afirmativa que caracteriza adequadamente<br />
o estilo do poema.<br />
a) Poesia em que os neologismos, depois de anos<br />
de ranço purista, entram no texto como um grito<br />
de moleque paulistano.<br />
b) Poesia de quem um dia se autodenominou “poeta<br />
menor”, reconhecendo em sua arte a atitude intimista<br />
dos “crepusculares” do começo do século.<br />
c) Poesia esquelética, em que as metáforas não são<br />
simples ornamentos, mas expressões insubstituíveis<br />
na configuração poética.<br />
d) Poesia concreta, com uso construtivo dos espaços<br />
brancos e desprezo ao verso.<br />
e) Poesia de vertente intimista, que toca os limites<br />
da música e tem o tom de fuga e de sonho.<br />
275
478. UFBA<br />
276<br />
Retrato de família<br />
Este retrato de família<br />
está um tanto empoeirado.<br />
Já não se vê no rosto do pai<br />
quanto dinheiro ele ganhou.<br />
Nas mãos dos tios não se percebem<br />
as viagens que ambos fizeram.<br />
A avó ficou lisa, amarela,<br />
sem memórias da monarquia.<br />
Os meninos, como estão mudados.<br />
O rosto de Pedro é tranqüilo,<br />
usou os melhores sonhos.<br />
E João não é mais mentiroso.<br />
O jardim tornou-se fantástico.<br />
As flores são placas cinzentas.<br />
E a areia, sob pés extintos,<br />
é um oceano de névoa.<br />
No semicírculo das cadeiras<br />
nota-se certo movimento.<br />
As crianças trocam de lugar,<br />
mas sem barulho: é um retrato.<br />
Vinte anos é um grande tempo.<br />
Modela qualquer imagem.<br />
Se uma figura vai murchando,<br />
outra, sorrindo, se propõe.<br />
Esses estranhos assentados,<br />
meus parentes? Não acredito.<br />
São visitas se divertindo<br />
numa sala que se abre pouco.<br />
Ficaram traços da família<br />
perdidos no jeito dos corpos.<br />
Bastante para sugerir<br />
que um corpo é cheio de surpresas.<br />
A moldura deste retrato<br />
em vão prende suas personagens.<br />
Estão ali voluntariamente,<br />
saberiam –– se preciso –– voar.<br />
Poderiam sutilizar-se<br />
no claro-escuro do salão,<br />
ir morar no fundo dos móveis<br />
ou no bolso de velhos coletes.<br />
A casa tem muitas gavetas<br />
e papéis, escadas compridas.<br />
Quem sabe a malícia das coisas,<br />
quando a matéria se aborrece?<br />
O retrato não me responde,<br />
ele me fita e se contempla<br />
nos meus olhos empoeirados.<br />
E no cristal se multiplicam<br />
os parentes mortos e vivos.<br />
Já não distingo os que se foram<br />
dos que restaram. Percebo apenas<br />
a estranha idéia de família<br />
viajando através da carne.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia: A rosa do povo.<br />
In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Carlos Drummond de<br />
Andrade: obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. pp.180-181.<br />
São afirmações verdadeiras sobre o poema:<br />
01. O sujeito poético, numa atitude contemplativa, percebe<br />
a realidade enfocada, contudo, em seguida,<br />
o objeto contemplado é ele próprio.<br />
02. O retrato, objeto que se interpõe entre o sujeito<br />
poético e a realidade sonhada, funciona como um<br />
elemento dissipador de mágoas do passado em<br />
família.<br />
04. O sujeito poético se vê como um indivíduo rebelde<br />
que se infiltra no mundo da família, para enxergá-la<br />
no seu aspecto negativo, isto é, alienador.<br />
08. O objeto real focado – o retrato – se transforma<br />
em abstração, quando os seus limites são quebrados,<br />
fundindo presente e passado na memória do<br />
sujeito poético.<br />
16. A realidade do retrato é ampliada, numa dimensão<br />
temporal e espacial, por meio do fluxo da memória.<br />
32. O eu lírico, ao falar do retrato, destaca a ação<br />
corrosiva do tempo sobre os seres e os objetos<br />
do cotidiano.<br />
64. O retrato evoca uma imagem melancólica do<br />
passado, no sujeito poético, e, com isso, ele<br />
passa a viver uma relação de desencanto com o<br />
presente.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
479. PUC-RS<br />
Não faças versos sobre acontecimentos.<br />
Não há criação nem morte perante a poesia.<br />
Diante dela, a vida é um sol estático,<br />
Não aquece nem ilumina.<br />
Uma das constantes na obra poética de Carlos<br />
Drummond de Andrade, como se verifica nos versos<br />
acima, é:<br />
a) a louvação do homem social.<br />
b) o negativismo destrutivo.<br />
c) a violação e a desintegração da palavra.<br />
d) o questionamento da própria poesia.<br />
e) o pessimismo lírico.<br />
Texto para as questões 480 e 481.<br />
A questão refere-se à estrofe do “Poema de sete faces”,<br />
retirada de Alguma poesia:<br />
Eu não devia te dizer<br />
mas essa lua<br />
mas esse conhaque<br />
botam a gente comovido como o diabo.<br />
480. PUC-MG<br />
No verso “botam a gente comovido como o diabo”,<br />
Drummond ressalta um aspecto marcante da poesia<br />
modernista, ao fazer uso de:<br />
a) linguagem popular.<br />
b) vocabulário raro.<br />
c) termos difíceis.<br />
d) palavras sofisticadas.
PV2D-07-54<br />
481. PUC-MG<br />
Na estrofe, percebe-se a ausência quase total de<br />
pontuação. Essa aparente indiferença pela gramática<br />
foi assim explicada pelos modernistas:<br />
a) Alguns poetas não sabiam pontuar corretamente e<br />
preferiam deixar a pontuação por conta do leitor.<br />
b) Os poetas achavam que pontuar era perder tempo<br />
em uma época, para eles, marcada pela velocidade.<br />
c) Os poetas entendiam que os versos deveriam<br />
ser registrados exatamente como surgiam, sem<br />
alterações e consertos.<br />
d) Os poetas não queriam que a pontuação direcionasse<br />
a interpretação que o leitor faria do texto.<br />
482.<br />
Aponte nos textos a seguir duas características do<br />
Modernismo.<br />
I. Anedota búlgara<br />
Era uma vez um czar naturalista<br />
que caçava homens.<br />
Quando lhe disseram que também se caçam<br />
borboletas e andorinhas,<br />
ficou muito espantado<br />
e achou uma barbaridade.<br />
II. Hipótese<br />
E se Deus é canhoto<br />
e criou com a mão esquerda?<br />
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.<br />
III. Cota zero<br />
Stop.<br />
A vida parou<br />
ou foi o automóvel?<br />
Calos Drummond de Andrade<br />
483. Umesp<br />
É incorreto afirmar sobre a obra de Carlos Drummond<br />
de Andrade que:<br />
a) seu posicionamento individualista o afasta da<br />
problemática do homem comum, do dia-a-dia.<br />
b) uma de suas temáticas é a reflexão em torno da<br />
própria poesia.<br />
c) a lembrança de Itabira, sua terra natal, aparece<br />
em parte de sua obra.<br />
d) ocorre-lhe, muitas vezes, a mostragem de uma<br />
angústia proveniente de acreditar que não há saída<br />
para a problemática existencial.<br />
e) a ironia madura é uma das características mais<br />
marcantes de sua poesia.<br />
484. UERJ (modificado)<br />
Procura da poesia<br />
Não faças versos sobre acontecimentos.<br />
Não há criação nem morte perante a poesia.<br />
(...)<br />
Não faças poesia com o corpo,<br />
esse excelente, completo e confortável corpo, tão<br />
infenso à efusão lírica.<br />
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.<br />
(...)<br />
Não dramatizes, não invoques,<br />
não indagues. Não percas tempo em mentir.<br />
(...)<br />
Não recomponhas<br />
tua sepultada e merencória infância.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />
(...)<br />
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.<br />
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.<br />
Espera que cada um se realize e consume<br />
com seu poder de palavra<br />
e seu poder de silêncio.<br />
(...)<br />
Chega mais perto e contempla as palavras.<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela resposta,<br />
pobre ou terrível, que lhe deres:<br />
Trouxeste a chave?<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião:<br />
19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.<br />
O poema de Carlos Drummond de Andrade apresenta<br />
um conjunto de instruções para o fazer poético que<br />
podem ser distribuídas em duas partes, conforme a<br />
mudança de atitude enunciativa do eu lírico. Explique<br />
em que consiste essa mudança.<br />
485. Mackenzie-SP<br />
Leia com atenção o trecho a seguir.<br />
Um inseto cava<br />
cava sem alarme<br />
perfurando a terra<br />
sem achar escape.<br />
Que fazer, exausto,<br />
em país bloqueado,<br />
enlace de noite<br />
raiz e minério?<br />
Eis que o labirinto<br />
(oh razão, mistério)<br />
presto se desata:<br />
em verde, sozinha,<br />
antieuclidiana,<br />
uma orquídea forma-se.<br />
Carlos Drummond de Andrade, em sua Antologia poética,<br />
classificou tematicamente sua poesia em nove<br />
compartimentos. Assinale aquele no qual se encaixa<br />
o poema mostrado.<br />
a) A própria poesia<br />
b) Amigos<br />
c) O choque social<br />
d) Exercícios lúdicos<br />
e) O indivíduo<br />
277
486. FEI-SP<br />
Assinale a série em que todas as obras são de Carlos<br />
Drummond de Andrade.<br />
a) Sentimento do mundo – A rosa do povo – Claro<br />
enigma<br />
b) Claro enigma – Clã do jabuti – Kiriale<br />
c) Confissões de minas – Câmara ardente – Broquéis<br />
d) Lição de coisas – Amar, verbo intransitivo – Contos<br />
de aprendiz<br />
e) Brejo das almas – Paulicéia desvairada – Fazendeiro<br />
do ar<br />
Texto para as questões 487 e 488.<br />
Procura da poesia<br />
Não faças versos sobre acontecimentos.<br />
Não há criação nem morte perante a poesia.<br />
(...)<br />
Não faças poesia com o corpo,<br />
esse excelente, completo e confortável corpo, tão<br />
infenso à efusão lírica.<br />
278<br />
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.<br />
(...)<br />
Não dramatizes, não invoques,<br />
não indagues. Não percas tempo em mentir.<br />
(...)<br />
Não recomponhas<br />
tua sepultada e merencória infância.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />
(...)<br />
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.<br />
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.<br />
Espera que cada um se realize e consume<br />
com seu poder de palavra<br />
e seu poder de silêncio.<br />
(...)<br />
Chega mais perto e contempla as palavras.<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela resposta,<br />
pobre ou terrível, que lhe deres:<br />
Trouxeste a chave?<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião:<br />
19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987<br />
487. UERJ (modificado)<br />
Reescreva o verso “esse excelente, completo e confortável<br />
corpo, tão infenso à efusão lírica.”, substituindo<br />
por sinônimos as palavras destacadas e procedendo<br />
às alterações necessárias.<br />
488. UERJ<br />
Aníbal Machado, autor mineiro contemporâneo de<br />
Carlos Drummond de Andrade, também comenta, no<br />
fragmento a seguir, o comportamento das palavras.<br />
(As palavras) “Estão soltas, em férias. Nada significam<br />
ainda. E enquanto esperam ser chamadas ao silêncio<br />
do poema, adejam livres na luz de limbo, anteriores<br />
ao mistério que ainda vão gerar.”<br />
Aníbal Machado<br />
Transcreva do poema de Drummond um verso cujo<br />
sentido seja correspondente ao expresso por Aníbal<br />
Machado em “livres na luz de limbo, anteriores ao mistério<br />
que ainda vão gerar” e justifique sua resposta.<br />
Texto para as questões 489 e 490.<br />
Muitas coisas se dizem, que não deviam ser ditas;<br />
muitas outras se calam, que não mereciam calar-se.<br />
As palavras são as mesmas, em um e outro caso; só<br />
a conveniência delas, na circunstância, é que varia. E<br />
na variação, fica o dito por não dito. A menos que o<br />
convicto (ou o teimoso) diga: “Digo e repito.”<br />
Também cabe referir aquelas coisas manifestadas com<br />
a ressalva: “Diga-se de passagem.” Em geral, são as<br />
que não passam, as mais relevantes no discurso, e a<br />
matéria que parecia principal descolore em função do<br />
que parecia acessório.<br />
Dizer, bendizer, maldizer, confundem-se na massa de<br />
sons. Tudo escapando da mesma boca, mas vozes<br />
diferentes atropelam-se nesse anunciar-se de juízos,<br />
interesses, paixões e estados de espírito que se desmentem<br />
uns aos outros.<br />
Contradizer-se é ainda uma solução para o conflito<br />
que nossos impulsos sucessivos travam por meio e à<br />
custa de palavras.<br />
É tão incoerente essa trama verbal a desenvolver-se<br />
no tempo, que se procura dar-lhe nexo, apelando para<br />
fórmulas: “Como eu ia dizendo...” “O que é mesmo<br />
que eu estava dizendo?” O dizer de um precisa ser<br />
acionado pelo dizer do outro, e do acoplamento (linguagem<br />
espacial em curso) dos dizeres surge novo dizer,<br />
que é o anterior e é outro. De modo que ninguém diz<br />
propriamente o que diz, mas só o que lhe ocorre (se<br />
ocorre) dizer, ou lhe é soprado na ocasião.(...)<br />
Entre o dizível e o indizível balança a criação do poeta,<br />
flutua o êxtase dos namorados. Dizer o que jamais<br />
soube ser dito, aspiração de manipulador de vocábulos,<br />
que talvez nem saiba dizer o sabido. Haverá algo<br />
a dizer, absolutamente inefável, que nem os anjos<br />
conseguissem exprimir nem os homens entender?<br />
Andrade, Carlos Drummond de: “Dizer e suas conseqüências”.<br />
In Os dias lindos – Crônicas. 2ª ed.<br />
Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1978, pp. 69-70.<br />
489. Vunesp<br />
Após a leitura, explique o que entendeu por:<br />
“O dizer de um precisa ser acionado pelo dizer do<br />
outro (...)”<br />
490. Vunesp<br />
Identifique no texto, e depois transcreva, frases ou<br />
expressões em que Drummond se define como um<br />
“manipulador de vocábulos”.<br />
491. UFPE<br />
São Paulo é um palco de bailados russos,<br />
Sarabandam a tísica, a ambição, a inveja, os crimes,<br />
E também as apoteoses da ilusão.<br />
Mário de Andrade<br />
Alguns anos vivi em Itabira<br />
Principalmente nasci em Itabira.<br />
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.<br />
...............................................................<br />
Itabira é apenas uma fotografia na parede.<br />
Mas como dói!<br />
Carlos Drummond de Andrade
PV2D-07-54<br />
Algumas semelhanças e diferenças podem ser observadas<br />
entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de<br />
Andrade. Analise-as.<br />
( ) Enquanto Mário de Andrade foi da geração de<br />
1922, que deu início ao Modernismo, Drummond<br />
é considerado como sendo da geração de 1930, a<br />
qual, embora seguindo o que preconizava a geração<br />
anterior, consolidou a liberdade da forma poética e<br />
usou tanto temas universais como intimistas.<br />
( ) Ambos celebram sua cidade natal (São Paulo e<br />
Itabira), embora desencantados e sem o ufanismo<br />
dos parnasianos.<br />
( ) A obra de ambos abrange prosa e poesia: Drummond<br />
escreveu crônicas, contos e poemas, e Mário<br />
de Andrade escreveu poemas, contos, romances e<br />
uma rapsódia, como ele classificou, Macunaíma,<br />
o herói sem nenhum caráter.<br />
( ) Mário de Andrade, em Clã do jabuti, inicia uma fase<br />
de nacionalismo estético e pitoresco, que reflete a<br />
busca do primitivismo, do ingênuo, do folclórico, da<br />
alma nacional. A mesma tendência pode-se verificar<br />
em Drummond, a partir de A rosa do povo.<br />
( ) Ambos, como a última fase de sua poesia, apresentaram<br />
como novidade poemas de temas eróticos,<br />
reunidos em livros: O amor natural, de Drummond,<br />
e Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade.<br />
492.<br />
Dentre os autores da geração literária de Cecília Meireles,<br />
destaca-se:<br />
a) Jorge Amado, autor de Menino de engenho, obra<br />
que, denunciando a exploração da mão-de-obra<br />
infantil, deu início ao regionalismo crítico brasileiro.<br />
b) Vinícius de Moraes, poeta de inspiração parnasiana,<br />
que incorporou nos sonetos o experimentalismo<br />
estético da segunda geração modernista.<br />
c) Carlos Drummond de Andrade, poeta emotivo<br />
e confessional, que se manteve distante das<br />
conquistas estéticas da geração modernista de<br />
1922.<br />
d) Graciliano Ramos, que escreveu romance de temática<br />
regionalista, denunciando a trágica condição<br />
de sobrevivência dos retirantes nordestinos.<br />
e) Guimarães Rosa, escritor de ficção intimista, que,<br />
utilizando-se do fluxo de consciência, promoveu a<br />
ruptura da estrutura narrativa linear.<br />
493. FMU-SP<br />
A poesia de Cecília Meireles se caracteriza por:<br />
a) predominância de versos livres, linguagem elaborada,<br />
temas políticos, concepção materialista do<br />
mundo.<br />
b) habilidade formal, imagens sensoriais, contemplação<br />
do mundo, musicalidade, espiritualismo.<br />
c) versos tradicionalmente regulares, tom coloquial,<br />
temas históricos, visão nacionalista do mundo.<br />
d) sugestão, musicalidade, imagens sensoriais, visão<br />
materialista do mundo.<br />
e) prosa poética, temas históricos ou de viagens,<br />
cosmopolitismo, tom retórico, visão marxista do<br />
mundo.<br />
494. PUC-RS<br />
O livro de Cecília Meireles que evoca os “tempos do<br />
ouro” denomina-se:<br />
a) Romanceiro da Inconfidência.<br />
b) Baladas para el-Rei.<br />
c) Vaga música.<br />
d) Retrato natural.<br />
e) Romance de Santa Clara.<br />
495. Fuvest-SP<br />
Como o próprio título indica, no Romanceiro da Inconfidência,<br />
de Cecília Meireles, os romances têm como<br />
referência nuclear a frustrada rebelião na Vila Rica do<br />
século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que:<br />
a) a base histórica utilizada no poema converte-se no<br />
lirismo transcendente e amargo que caracteriza as<br />
outras obras da autora.<br />
b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura<br />
narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes<br />
de uma elaborada prosa poética.<br />
c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade<br />
de interferir no curso dos episódios essenciais da<br />
rebelião, alterando-lhes o rumo.<br />
d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão<br />
poética no desenvolvimento dos fatos centrais<br />
quanto motiva o lirismo reflexivo.<br />
e) a preocupação com a fidedignidade histórica e<br />
com o tom épico atenua o sentimento dramático<br />
da vida, habitual na poesia da autora.<br />
Texto para as questões de 496 a 498.<br />
Embalo da canção<br />
01 Que a voz adormeça<br />
02 que canta a canção!<br />
03 Nem o céu floresça<br />
04 nem floresça o chão.<br />
05 (Só – minha cabeça,<br />
06 Só – meu coração.<br />
07 Solidão.)<br />
08 Que não alvoreça<br />
09 nova ocasião!<br />
<strong>10</strong> Que o tempo se esqueça<br />
11 de recordação!<br />
12 (Nem minha cabeça<br />
13 nem meu coração.<br />
14 Solidão!<br />
Cecília Meireles<br />
496.<br />
Assinale a alternativa correta sobre o texto.<br />
a) As formas verbais presentes na primeira estrofe<br />
expressam certezas.<br />
b) A redundância de paralelismos concretiza o ritmo<br />
sugerido no título do poema.<br />
c) O uso dos travessões (versos 5 e 6) atenua o<br />
sentido de solidão.<br />
d) Na terceira estrofe, a recordação do passado é<br />
ironizada pelo eu.<br />
e) Na terceira estrofe, nova ocasião e recordação<br />
referem-se a experiências vividas num momento<br />
do passado.<br />
279
497.<br />
Assinale a afirmação correta sobre o texto.<br />
a) Na primeira estrofe, o eu cita experiências do<br />
passado.<br />
b) alvorecer e florescer expressam o desejo de um<br />
mundo melhor.<br />
c) Em nem floresça o chão, tem-se oração sem<br />
sujeito.<br />
d) A quarta estrofe retoma a segunda para aprofundar<br />
a idéia de solidão.<br />
e) A forma verbal adormeça expressa o apelo a um<br />
tu, a quem o eu se dirige.<br />
498.<br />
Considerando o texto, assinale a alternativa correta<br />
sobre Cecília Meireles.<br />
a) Reincorporou à lírica do Modernismo a temática<br />
intimista, aliada à modulação de metros breves<br />
mais tradicionais.<br />
b) Influenciada pelo experimentalismo estético, buscou,<br />
na concisão dos versos livres, a objetividade<br />
expressiva.<br />
c) Conciliou o ideal de impassibilidade da expressão<br />
poética ao visionarismo de quadros bucólicos.<br />
d) Sua linguagem prosaica representa o ponto alto<br />
da poesia modernista brasileira.<br />
e) Inovou a poesia brasileira, desenvolvendo a temática<br />
religiosa em sonetos de inspiração camoniana.<br />
499. UFPE<br />
Eu não dei por esta mudança,<br />
tão simples, tão certa, tão fácil;<br />
Em que espelho ficou perdida a minha face?<br />
Cecília Meireles<br />
Vou-me embora pra Pasárgada,<br />
Lá sou amigo do rei<br />
Lá tenho a mulher que quero<br />
na cama que escolherei<br />
Vou-me embora pra Pasárgada.<br />
Manuel Bandeira<br />
Sobre Cecília Meireles e Manuel Bandeira, podemos<br />
afirmar que:<br />
( ) ambos são poetas que aderiram ao Modernismo,<br />
embora tenham experimentado outras tendências<br />
estéticas anteriores.<br />
( ) Bandeira eliminou posteriormente os resíduos<br />
parnasianos e simbolistas de sua poesia, os quais<br />
podem ser observados em Cinza das Horas e<br />
Carnaval. Como se lê em sua poesia, predominam<br />
o lirismo do eu e o subjetivismo.<br />
( ) Bandeira empresta à sua poesia um caráter confidencial,<br />
mas, ao contrário dos poetas românticos,<br />
observa-se que ironiza seus próprios desejos,<br />
considerando-os ilusões.<br />
( ) Cecília Meireles, considerada uma neo-simbolista,<br />
é, contudo, bastante objetiva na construção de sua<br />
temática poética.<br />
( ) apesar da delicadeza de suas imagens e da propriedade<br />
de seus símbolos, como no texto transcrito, a<br />
poesia de Cecília tem caráter inovador e futurista.<br />
280<br />
500.<br />
A bossa-nova é um estilo de música popular brasileira<br />
que se consolidou no final dos anos 50, [...] projetou-se<br />
sobre uma geração mais nova de compositores, que<br />
inclui Caetano Veloso e Chico Buarque, e contou ainda<br />
com notáveis letristas, sendo que um dos mais famosos<br />
foi o poeta e diplomata Vinícius de Moraes.<br />
SADIE, Stanley. Dicionário Grove de Música. Edição concisa.<br />
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 125.<br />
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a bossa-nova,<br />
é correto afirmar que esse estilo:<br />
a) manteve os valores da música tradicional, como o<br />
samba e o baião, praticados nos bailes populares<br />
do Rio de Janeiro e de São Paulo.<br />
b) suplantou as características rítmicas e marcantes<br />
do samba por um maior refinamento rítmico, melódico<br />
e harmônico, com textos mais intimistas e<br />
coloquiais.<br />
c) possibilitou o enriquecimento do tradicional samba<br />
urbano no eixo Rio-São Paulo, por trazer a influência<br />
do rock norte-americano.<br />
d) popularizou o uso de instrumentos eletroacústicos<br />
como a guitarra e os teclados eletrônicos, bem<br />
como promoveu o surgimento de grandes bandas.<br />
e) facilitou a difusão da canção popular por desenvolver<br />
uma harmonia simples e melodias de fácil<br />
memorização.<br />
501.<br />
Instrução: para responder à questão, associar a Coluna<br />
A, que apresenta informações relativas ao Modernismo,<br />
aos autores indicados na Coluna B.<br />
Coluna A<br />
1. Em Os sapos, o poeta apresenta uma crítica contumaz<br />
aos parnasianos.<br />
2. A irreverência da primeira fase se traduz em Memórias<br />
sentimentais de João Miramar.<br />
3. A produção do poeta vincula-se à fase de reconstrução<br />
da estética.<br />
4. O Simbolismo é revisitado em sua obra.<br />
5. A irreverência deu lugar ao lirismo romântico.<br />
Coluna B<br />
( ) Oswald de Andrade<br />
( ) Carlos Drummond de Andrade<br />
( ) Vinícius de Moraes<br />
( ) Manuel Bandeira<br />
A numeração correta da Coluna B, de cima para<br />
baixo, é:<br />
a) 1 – 4 – 3 – 5 d) 5 – 2 – 3 – 4<br />
b) 2 – 3 – 5 – 1 e) 2 – 3 – 5 – 4<br />
c) 1 – 2 – 4 – 5<br />
502. UERJ<br />
(...)<br />
Atrás de portas fechadas,<br />
à luz de velas acesas,<br />
entre sigilo e espionagem,<br />
acontece a Inconfidência.<br />
(...)
PV2D-07-54<br />
05 LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,<br />
ouve-se em redor da mesa.<br />
E a bandeira já está viva,<br />
e sobe, na noite imensa.<br />
E os seus tristes inventores<br />
<strong>10</strong> já são réus – pois se atreveram<br />
a falar em Liberdade<br />
(que ninguém sabe o que seja).<br />
Através de grossas portas,<br />
sentem-se luzes acesas,<br />
15 – e há indagações minuciosas<br />
dentro das casas fronteiras.<br />
“Que estão fazendo, tão tarde?<br />
Que escrevem, conversam, pensam?<br />
Mostram livros proibidos?<br />
20 Lêem notícias nas Gazetas?<br />
Terão recebido cartas<br />
de potências estrangeiras?”<br />
(...)<br />
Ó vitórias, festas, flores<br />
das lutas da Independência!<br />
25 Liberdade – essa palavra<br />
que o sonho humano alimenta:<br />
que não há ninguém que explique,<br />
e ninguém que não entenda!<br />
(...)<br />
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência.<br />
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.<br />
O poema de Cecília Meireles enfoca um momento específico<br />
de tensão política e de oposição aos poderes<br />
estabelecidos na história do Brasil.<br />
Os únicos versos que não apresentam explicitamente<br />
essa referência histórica estão transcritos na seguinte<br />
alternativa:<br />
a) entre sigilo e espionagem, / acontece a Inconfidência.<br />
(v. 3 e 4)<br />
b) LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, / ouve-se em<br />
redor da mesa. (v. 5 e 6)<br />
c) – e há indagações minuciosas / dentro das casas<br />
fronteiras. (v. 15 e 16)<br />
d) Ó vitórias, festas, flores / das lutas da Independência!<br />
(v. 23 e 24)<br />
503.<br />
Soneto de fidelidade<br />
Vinícius de Moraes<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama<br />
Eu possa me dizer do amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
A respeito da poesia de Vinícius de Moraes, assinale<br />
verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmação a<br />
seguir.<br />
( ) Sob a forma de soneto, privilegia temáticas líricas,<br />
sobretudo o amor e suas múltiplas manifestações.<br />
( ) Celebra a sensualidade com versos que apresentam<br />
imagens a respeito do sexo e do corpo.<br />
( ) O cunho erótico dos poemas exclui a experiência<br />
mística do amor.<br />
A seqüência correta é:<br />
a) V – F – F d) V – F – V<br />
b) V – V – F e) F – F – V<br />
c) F – V – F<br />
504. UERJ<br />
(...)<br />
Atrás de portas fechadas,<br />
à luz de velas acesas,<br />
entre sigilo e espionagem,<br />
acontece a Inconfidência.<br />
(...)<br />
05 LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,<br />
ouve-se em redor da mesa.<br />
E a bandeira já está viva,<br />
e sobe, na noite imensa.<br />
E os seus tristes inventores<br />
<strong>10</strong> já são réus – pois se atreveram<br />
a falar em Liberdade<br />
(que ninguém sabe o que seja).<br />
Através de grossas portas,<br />
sentem-se luzes acesas,<br />
15 – e há indagações minuciosas<br />
dentro das casas fronteiras.<br />
“Que estão fazendo, tão tarde?<br />
Que escrevem, conversam, pensam?<br />
Mostram livros proibidos?<br />
20 Lêem notícias nas Gazetas?<br />
Terão recebido cartas<br />
de potências estrangeiras?”<br />
(...)<br />
Ó vitórias, festas, flores<br />
das lutas da Independência!<br />
25 Liberdade – essa palavra<br />
que o sonho humano alimenta:<br />
que não há ninguém que explique,<br />
e ninguém que não entenda!<br />
(...)<br />
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência.<br />
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.<br />
A necessidade de transformação, em meio a uma<br />
sociedade politicamente repressora, está presente em<br />
todo o fragmento do poema apresentado.<br />
Essa necessidade mostra-se, de forma mais clara, em:<br />
a) a falar em Liberdade / (que ninguém sabe o que<br />
seja). (v. 11 e 12)<br />
b) Através de grossas portas, / sentem-se luzes<br />
acesas, (v. 13 e 14)<br />
c) Que estão fazendo, tão tarde? / Que escrevem,<br />
conversam, pensam? (v. 17 e 18)<br />
d) Terão recebido cartas / de potências estrangeiras?<br />
(v. 21 e 22)<br />
281
505.<br />
Leia as estrofes abaixo, de Vinícius de Moraes, e a<br />
afirmação que as segue.<br />
01 Uma lua no céu apareceu<br />
02 cheia e branca; foi quando, emocionada<br />
03 a mulher a meu lado estremeceu<br />
04 e se entregou sem que eu dissesse nada.<br />
05 Larguei-as pela jovem madrugada<br />
06 ambas cheias e brancas e sem véu<br />
07 perdida uma, a outra abandonada<br />
08 uma nua na terra, outra no céu.<br />
Por meio de versos ______________ em que é perceptível<br />
um lirismo ______________ , típico de sua<br />
poesia, Vinícius de Moraes aproxima a mulher e a lua,<br />
fundindo-as, em alguns momentos, como acontece no<br />
verso de número _____.<br />
Assinale a alternativa que preenche corretamente as<br />
lacunas acima.<br />
a) octossílabos – amoroso – 06<br />
b) heptassílabos – social – 07<br />
c) decassílabos – moralizante – 08<br />
d) octossílabos – despojado – 07<br />
e) decassílabos – sensual – 06<br />
506. Unirio-RJ<br />
A um passarinho<br />
Para que vieste<br />
Na minha janela<br />
Meter o nariz?<br />
Se foi por um verso<br />
Não sou mais poeta<br />
Ando tão feliz!<br />
Vinícius de Moraes<br />
a) Segundo o texto, qual é a condição fundamental<br />
para a criação poética?<br />
b) Qual o gênero literário a que pertence o texto?<br />
507. UFSC<br />
Assinale as proposições em que o comentário está de<br />
acordo com o texto de Vinícius de Moraes.<br />
01. De repente do riso fez-se o pranto/ Silencioso e<br />
branco como a bruma/ E das bocas unidas fez-se a<br />
espuma/ E das mãos espalmadas fez-se o espanto.<br />
Nesses versos, o poeta usa, a exemplo dos parnasianos<br />
e simbolistas, vocabulário coloquial e simples,<br />
próprio da linguagem cotidiana. Não há rimas.<br />
02. Notou que sua marmita/ Era o prato do patrão/ Que<br />
sua cerveja preta/ Era o uísque do patrão/ Que seu<br />
macacão de zuarte/ Era o terno do patrão/ Que o<br />
casebre onde morava/ Era a mansão do patrão/<br />
Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do<br />
patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do<br />
patrão/ (...) E o operário disse: Não! A exemplo<br />
de padre José de Anchieta, do Barroco, que em<br />
Sermões procurou mostrar as disparidades sócioeconômicas<br />
entre os índios e os colonizadores<br />
portugueses no século XIX, Vinícius de Moraes, no<br />
poema Operário em construção, procurou registrar<br />
o contraste existente entre operário e patrão.<br />
04. O poeta reinterpreta o Natal, fazendo alusão ao<br />
comunismo, nos seguintes versos: Nasceu num<br />
282<br />
estábulo/ Pequeno e singelo/ Com boi e charrua/<br />
Com foice e martelo.<br />
08. Em E agora José?/ A festa acabou,/ a luz apagou,/<br />
o povo sumiu,/ a noite esfriou,/ e agora, José?,<br />
Vinícius manifesta o desejo de morrer, uma das<br />
características da literatura parnasiana.<br />
16. Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem<br />
nas meninas/ Cegas inexatas... são versos do<br />
poema A rosa de Hiroshima.<br />
Some os números dos itens corretos.<br />
508. UFSCar-SP<br />
Balada das meninas de bicicleta<br />
Meninas de bicicleta<br />
Que fagueiras pedalais<br />
Quero ser vosso poeta!<br />
Ó transitórias estátuas<br />
Esfuziantes de azul<br />
Louras com peles mulatas<br />
Princesas da zona sul:<br />
As vossas jovens figuras<br />
Retesadas nos selins<br />
Me prendem, com serem puras<br />
Em redondilhas afins.<br />
Que lindas são vossas quilhas<br />
Quando as praias abordais!<br />
E as nervosas panturrilhas<br />
Na rotação dos pedais:<br />
Que douradas maravilhas!<br />
Bicicletai, meninada<br />
Aos ventos do Arpoador<br />
Solta a flâmula agitada<br />
Das cabeleiras em flor<br />
Uma correndo à gandaia<br />
Outra com jeito de séria<br />
Mostrando as pernas sem saia<br />
Feitas da mesma matéria.<br />
Permanecei! vós que sois<br />
O que o mundo não tem mais<br />
Juventude de maiôs<br />
Sobre máquinas de paz<br />
Enxames de namoradas<br />
Ao sol de Copacabana<br />
Centauresas transpiradas<br />
Que o leque do mar abana!<br />
A vós o canto que inflama<br />
Os meus trint’anos, meninas<br />
Velozes massas em chama<br />
Explodindo em vitaminas<br />
Bem haja a vossa saúde<br />
À humanidade inquieta<br />
Vós cuja ardente virtude<br />
Preservais muito amiúde<br />
Com um selim de bicicleta<br />
Vós que levais tantas raças<br />
Nos corpos firmes e cruz:<br />
Meninas, soltai as alças<br />
Bicicletai seios nus!<br />
No vosso rastro persiste<br />
O mesmo eterno poeta
PV2D-07-54<br />
Um poeta – essa coisa triste<br />
Escravizada à beleza<br />
Que em vosso rastro persiste<br />
Levando sua tristeza<br />
No quadro da bicicleta.<br />
Vinícius de Moraes<br />
Quais as características da poesia de Vinícius de<br />
Moraes presentes no texto acima?<br />
509.<br />
Soneto da devoção<br />
Essa mulher que se arremessa, fria<br />
E lúbrica em meus braços, e nos seios<br />
Me arrebata e me beija e balbucia<br />
Versos, votos de amor e nomes feios.<br />
Essa mulher, flor de melancolia<br />
Que se ri dos meus pálidos receios<br />
A única entre todas a quem dei<br />
Os carinhos que nunca a outra daria.<br />
Essa mulher que a cada amor proclama<br />
A miséria e a grandeza de quem ama<br />
E guarda a marca dos meus dentes nela.<br />
Essa mulher é um mundo! – uma cadela<br />
Talvez... – mas na moldura de uma cama<br />
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!<br />
Vinícius de Moraes, Poesia completa e prosa.<br />
Trace uma análise do poema de Vinícius de Moraes<br />
tanto no aspecto formal quanto no que se refere ao<br />
conteúdo.<br />
5<strong>10</strong>. PUCCamp-SP<br />
Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo<br />
Vindas do sal do mar, os braços em cruz<br />
A flor dos lábios entreaberta para o beijo<br />
A pele a fulgurar todo o pólen da luz<br />
A quadra anterior introduz um soneto de Vinícius de<br />
Moraes. Nesses versos, o leitor pode comprovar a<br />
seguinte características da lírica amorosa do poeta:<br />
a) dilaceramento provocado pela paixão carnal e pela<br />
ânsia de salvação religiosa.<br />
b) reconhecimento da fugacidade do tempo, revelada<br />
num momento de excitação sensual.<br />
c) celebração da amada num quadro cotidiano,<br />
valorizando-se o estilo típico dos modernistas<br />
combativos.<br />
d) visão mística, na qual os desejos são sublimados<br />
e a natureza é divinizada.<br />
e) exaltação erótica, integrada no mundo natural e<br />
elevada ao plano do sublime.<br />
511. PUC-SP<br />
Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda.<br />
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida<br />
em ti.<br />
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino<br />
frágil,<br />
fiquei sem poder chorar, quando caí.<br />
Cecília Meireles<br />
A realidade exterior, presente na poesia de Cecília<br />
Meireles, toma forma a partir de elementos instáveis,<br />
móveis e etéreos. A recriação poética dessa realidade<br />
revela a visão de mundo da autora. – Assim sendo:<br />
a) identifique o tema que está presente no poema<br />
acima.<br />
b) transcreva os termos que, no poema, caracterizam<br />
o tema.<br />
512. UFSCar-SP<br />
Leia o texto seguinte.<br />
Reinvenção<br />
A vida só é possível<br />
reinventada.<br />
Anda o sol pelas campinas<br />
e passeia a mão dourada<br />
pelas águas, pelas folhas. . .<br />
Ah! tudo bolhas<br />
que vêm de fundas piscinas<br />
de ilusionismo . . . — mais nada.<br />
Mas a vida, a vida, a vida<br />
a vida só é possível<br />
reinventada. [...]<br />
Cecília Meireles<br />
Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de<br />
Cecília Meireles, encontramos traços de seu estilo:<br />
a) sempre marcado pelo momento histórico.<br />
b) ligado ao vanguardismo da geração de 22.<br />
c) inspirado em temas genuinamente brasileiros.<br />
d) vinculado à estética simbolista.<br />
e) de caráter épico, com inspiração camoniana.<br />
513. Vunesp<br />
A questão faz referência a uma passagem do romance<br />
Incidente em Antares, de Érico Veríssimo<br />
(1905-1975).<br />
Incidente em Antares<br />
Fez-se um novo silêncio. De fora vinham vozes<br />
humanas. De vez em quando se ouvia o zumbido<br />
do elevador do hospital. Tombou uma pétala de uma<br />
das rosas. Quitéria soltou um suspiro. Zózimo agora<br />
parecia adormecido. Tibério pensou em Cleo com uma<br />
saudade tátil.<br />
– Neste quarto, Tibé – disse Quitéria – dentro<br />
destas quatro paredes o Zózimo e eu temos falado<br />
em assuntos em que nunca tínhamos tocado antes.<br />
Nossa morte, por exemplo…<br />
– Pois não lhes gabo o gosto – resmungou Tibério.<br />
– Tibé, tens fama de valente. Vives contando bravatas,<br />
proezas em revoluções e duelos… patacoadas!<br />
No entanto tens medo de pensar na tua morte, tens<br />
horror a encarar a realidade. – Tirou os óculos, limpoulhes<br />
as lentes com um lencinho, e depois prosseguiu:<br />
– Que esperas mais da vida? Os nossos filhos estão<br />
criados, não precisam mais de nós. Mais que isso: não<br />
querem saber de nós, de nossas idéias, de nossas<br />
manias, de nossa maneira de pensar e viver. Acho que<br />
todo homem vê sua cara todas as manhãs no espelho,<br />
na hora de se barbear. Que é que o espelho diz? Diz<br />
que o tempo passa sem parar. E que essas manchas<br />
que a gente tem no rosto (tu, eu, o Zózimo, todos os<br />
283
que chegam à nossa idade), essas manchas pardas são bilhetinhos que a Magra escreve na nossa pele. Eu<br />
leio todos os dias esses recados, mas tu, Tibé, tu és analfabeto ou então te fazes de desentendido.<br />
Érico Veríssimo. Incidente em Antares. 12. ed. Porto Alegre: Editora Globo. 1974, p.<strong>10</strong>4.<br />
Um dos fatos mais terríveis para os seres humanos é a morte, que, por esta razão, torna-se tema dominante<br />
nas artes de todos os tempos. Nas religiões, o tema da morte é também constante, pela busca de uma solução<br />
para o problema, por meio da afirmação da existência da alma e de divindades que acolheriam as almas<br />
após a morte do corpo. Partindo deste comentário, releia atentamente o fragmento de Incidente em Antares e<br />
estabeleça, interpretando o que diz Quitéria, a diferença entre o modo como ela considera a morte e o modo<br />
como, na opinião da própria Quitéria, Tibério reage à idéia da morte.<br />
Capítulo 5<br />
514. UEL-PR<br />
O Modernismo, em sentido amplo, tem fases distintas,<br />
havendo mesmo que se considerar o fato de<br />
que as influências de suas convicções mais fortes se<br />
fizeram sentir várias décadas depois da Semana de<br />
Arte Moderna. Pense-se, por exemplo, na inspiração<br />
que Oswald de Andrade e sua Antropofagia ofereceram<br />
aos movimentos de contracultura da década de<br />
60, entre eles o Tropicalismo.<br />
Na própria década de 20, a pluralidade já se<br />
faz sentir, por exemplo, nos vários “nacionalismos”:<br />
Macunaíma é mais problemático e menos cívico que<br />
Martim Cererê. Também quanto à forma literária, há<br />
muita diferença entre o verso piadístico e lúdico de<br />
Oswald de Andrade e a intensidade subjetiva com a<br />
qual é filtrada, por um ângulo tido como “futurista”, a<br />
vida da metrópole nascente.<br />
Na década de 30, vencidos os impulsos mais<br />
arrebatados de experimentalismo estético, a poesia e<br />
o romance amadurecem com uma geração de artistas<br />
brilhantes. Na lírica, o sentimento da inadaptação ao<br />
mundo desemboca na figura do Gauche ou na do<br />
visionário em cujos versos não faltam imagens surrealistas.<br />
Na ficção, o peso da realidade se faz sentir em<br />
diversas obras regionalistas, sobretudo do Nordeste,<br />
muito marcadas pelos respectivos ciclos econômicos:<br />
da cana-de-açúcar e do cacau, por exemplo. Nem<br />
faltaram, nessa mesma década e na seguinte, autores<br />
mais intimistas, dedicados à sondagem do interior<br />
humano, e autores revolucionários, cujas linguagens,<br />
particularizadas, deram novo fôlego à expressão<br />
literária no Brasil.<br />
São autores que, havendo estreado na década de<br />
1940, acabaram por criar, em gêneros diferentes,<br />
aquelas “linguagens extremamente particularizadas”<br />
a que se refere a frase final do texto:<br />
a) Érico Veríssimo e Vinícius de Moraes.<br />
b) Jorge de Lima e Ferreira Gullar.<br />
c) Érico Veríssimo e Guimarães Rosa.<br />
d) João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa.<br />
e) João Cabral de Melo Neto e Jorge de Lima.<br />
515. UFRN<br />
Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento<br />
da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.<br />
Viver é muito perigoso.<br />
Com relação ao autor do fragmento acima, pode-se<br />
dizer:<br />
284<br />
I. Ao retratar o sertão mineiro em sua obra-prima,<br />
ele consegue recriá-lo, reinventá-lo através da<br />
linguagem, e o resultado disso é a universalização<br />
do regional.<br />
II. Ambientada em Canudos, sua principal obra o consagrou<br />
no gênero novelístico. Nela ele trabalha três<br />
elementos estruturais: a terra, o homem, a luta.<br />
III. Quando publicou, em 1956, sua obra mais notável<br />
– uma coletânea de crônicas tão primorosas<br />
quanto as de Rubem Braga –, ele deu uma nova<br />
dimensão à prosa regionalista.<br />
É(São) correta(s) a(s) afirmação(ões):<br />
a) II. d) II e III.<br />
b) I. e) I, II e III.<br />
c) III.<br />
516. PUC-SP<br />
O conto “São Marcos”, que integra a obra Sagarana,<br />
de João Guimarães Rosa, apresenta linguagem<br />
marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os<br />
órgãos sensoriais como meios de conhecimento da<br />
realidade, em suas diferentes situações narrativas.<br />
No ponto culminante da narrativa, o narrador é<br />
afetado em sua capacidade sensorial, particularmente<br />
ligada:<br />
a) ao olfato, que lhe permite perceber o “cheiro de<br />
musgo. Cheiro de húmus. Cheiro de água podre”,<br />
bem como o “odor maciço, doce ardido, do pau<br />
d’alho”.<br />
b) à visão, que lhe permite contemplar as plantas, as<br />
aves, os insetos, as cores e os brilhos da natureza,<br />
como em “debaixo do angelim verde, de vagens<br />
verdes, um boi branco, de cauda branca”.<br />
c) ao tato, que se ativa “com o vento soprando do<br />
sudoeste, mas que mudará daqui a um nadinha,<br />
sem explicar a razão”, além de lhe permitir sentir<br />
o “horror estranho que riçava-me a pele e os pêlos”.<br />
d) ao paladar, ativado na mastigação “de uma folha<br />
cheirã da erva-cidreira, que sobe em tufos na beira<br />
da estrada”, e usada, segundo a personagem, para<br />
“desinfetar”.<br />
e) à audição, que lhe faculta “distinguir o guincho<br />
do paturi do coincho do ariri, e até dissociar as<br />
corridas das preás dos pulos das cotias, todas<br />
brincando nas folhas secas”.
PV2D-07-54<br />
517. ITA-SP<br />
O conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães<br />
Rosa, faz parte do livro Sagarana, de 1946.<br />
Nesse texto, o personagem central vive aquilo que<br />
aparentemente é um processo de conversão cristã,<br />
que se inicia quando ele:<br />
a) é socorrido por um casal pobre, após ele ter sido vítima<br />
de uma emboscada, na qual quase morreu.<br />
b) conversa com um padre, que lhe diz que o que<br />
aconteceu com ele foi um sinal de Deus para que<br />
ele desse outra direção a sua vida.<br />
c) vive cerca de sete anos no povoado do Tombador,<br />
levando uma vida de trabalho e de oração.<br />
d) resiste ao convite de Joãozinho Bem-Bem para<br />
entrar no bando de cangaceiros, tentação essa a<br />
que não foi fácil resistir.<br />
e) enfrenta, sozinho, o bando de Joãozinho Bem-<br />
Bem, que estava prestes a cometer uma atrocidade<br />
contra uma família de inocentes.<br />
518. Fazu-MG<br />
Na ficção regionalista de Guimarães Rosa:<br />
a) os elementos regionais são condutores de um sentido<br />
profundo dos problemas existenciais do homem.<br />
b) o virtuosismo da linguagem denota a preocupação<br />
de transcrever literalmente a fala sertaneja.<br />
c) o gênero épico é enfatizado pela narrativa sem<br />
interferências líricas.<br />
d) o folclore brasileiro é ressaltado em detrimento do<br />
caráter universal da obra.<br />
e) os conflitos e tensões das personagens individuais<br />
inexistem, uma vez que só interessa a complexidade<br />
da personagem maior, o Sertão.<br />
519. UEL-PR<br />
Em relação ao modo como Guimarães Rosa retrata o<br />
sertão mineiro, é correto afirmar que o autor<br />
a) se apóia em tipos humanos e paisagens reais,<br />
valendo-se, no entanto, de uma linguagem absolutamente<br />
inventiva e pessoal.<br />
b) se vale sobretudo dos diálogos, em que busca registrar<br />
com exatidão o modo de falar do sertanejo.<br />
c) se socorre de lendas e mitos populares, o que dá à<br />
sua prosa o caráter de uma válida documentação<br />
folclórica.<br />
d) se vale da paisagem como cenário de histórias que, na<br />
verdade, poucas marcas trazem da cultura regional.<br />
e) se filia à tradição do regionalismo naturalista,<br />
buscando demonstrar teses de caráter científico<br />
e determinista.<br />
520. UFRGS-RS<br />
Grande sertão: veredas rompe com a narrativa conhecida<br />
como Romance de 1930 e estabelece um novo<br />
padrão para a narrativa longa brasileira. Entretanto, a<br />
obra de Guimarães Rosa não rompe com<br />
a) a ambientação preferencialmente rural.<br />
b) o foco narrativo na terceira pessoa.<br />
c) a crítica ao latifúndio.<br />
d) a denúncia social.<br />
e) a linguagem enxuta e discreta.<br />
521. UFPR<br />
A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:<br />
a) continua o regionalismo dos fins do século passado,<br />
sem grandes inovações.<br />
b) exprime problemas humanos, em estilo próprio,<br />
baseado na contribuição lingüística regional.<br />
c) descreve tipos de várias regiões do Brasil, na<br />
tentativa de documentar a realidade brasileira.<br />
d) fixa os tipos regionais, com precisão científica.<br />
e) idealiza o tipo sertanejo, continuando a tradição<br />
de Alencar.<br />
522. FMU-SP<br />
O núcleo temático de Grande sertão: veredas, de<br />
Guimarães Rosa, é:<br />
a) as guerras dos jagunços.<br />
b) a ânsia do Absoluto que coloca o narrador na encruzilhada<br />
entre Deus e o Diabo, o bem e o mal,<br />
o ser e o não-ser.<br />
c) uma longa viagem através dos sertões, para cumprir<br />
um voto de vingança.<br />
d) as desavenças entre famílias rivais.<br />
e) o real-fantástico em parâmetros indefinidos, tendo<br />
como pano de fundo o rio São Francisco e o Sertão.<br />
523. PUCCamp-SP<br />
Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento<br />
da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.<br />
Viver é muito perigoso.<br />
Pelo fragmento de Grande sertão: veredas, de João<br />
Guimarães Rosa, percebe-se que neste romance,<br />
como em outros textos regionalistas do autor:<br />
a) o conflito entre o “eu” e o mundo se realiza pela<br />
interação entre as personagens e o sertão, que<br />
acaba por ser mítico e metafísico.<br />
b) o sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes<br />
sofrem as agressões do meio hostil e adverso à<br />
sobrevivência humana.<br />
c) não existe uma região a que geograficamente se<br />
possa chamar “sertão”: ela é fruto da projeção do<br />
inconsciente das personagens.<br />
d) a periculosidade da vida das personagens está circunscrita<br />
ao meio físico e social em que vivem.<br />
e) há um conceito muito restrito de sertão, reduzido<br />
a palco de lutas entre bandos de jagunços.<br />
524. Fuvest-SP<br />
Diadorim me chamou, fomos caminhando, no meio da<br />
queleléia do povo. Mesmo eu vi o Hermógenes: ele se<br />
amargou engulindo de boca fechada. – ‘Diadorim’ – eu<br />
disse – ‘esse Hermógenes está em verde, nas portas<br />
da inveja...’ Mas Diadorim por certo não me ouviu bem,<br />
pelo que começou dizendo: – ‘Deus é servido...’<br />
No texto exposto, há elementos que permitem identificar<br />
o romance do qual foi extraído. O romance é:<br />
a) Os sertões.<br />
b) Grande sertão: veredas.<br />
c) O coronel e o lobisomem.<br />
d) O quinze.<br />
e) Vidas secas.<br />
285
525. UFRGS-RS<br />
Leia os trechos abaixo, extraídos do romance Grande<br />
sertão: veredas, de João Guimarães Rosa.<br />
1. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida<br />
da gente se guarda em trechos diversos, cada um<br />
com seu signo e sentimento, uns com os outros<br />
acho que nem não misturam.<br />
2. Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de<br />
briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira<br />
em árvore, no quintal, no baixo do córrego. [...]<br />
Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro; um<br />
bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se<br />
viu –; e com máscara de cachorro.<br />
3. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que<br />
não seja: [...] Lugar sertão se divulga: é onde<br />
os pastos carecem de fechos; onde um pode<br />
torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de<br />
morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus,<br />
arredado do arrocho de autoridade.<br />
4. Eu queria decifrar as coisas que são importantes.<br />
E estou contando não é uma vida de sertanejo,<br />
seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria<br />
entender do medo e da coragem, e da gã que<br />
empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo<br />
ao suceder.<br />
5. [...] sempre que se começa a ter amor a alguém,<br />
no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de<br />
certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na<br />
idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino<br />
dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço<br />
fatal, carecendo de quer, e é um só facear com<br />
as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota<br />
é depois.<br />
Associe adequadamente as seis afirmações abaixo<br />
com os cinco fragmentos transcritos acima.<br />
( ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim,<br />
Riobaldo procura entender a diferença desse amor<br />
imposto pelo destino.<br />
( ) O narrador busca definições exemplares do sertão,<br />
espaço que não se pode dimensionar.<br />
( ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão<br />
sinais da existência de um interlocutor presente.<br />
( ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua<br />
região, narrando o seu desejo de compreender<br />
os sentimentos e as forças que movem a vida<br />
humana.<br />
( ) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos<br />
episódios vividos pelos seres humanos.<br />
( ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do<br />
pacto, pode assumir várias formas, como a de<br />
animais.<br />
A seqüência correta de preenchimento dos parênteses,<br />
de cima para baixo, é<br />
a) 3 – 2 – 5 – 4 – 1 – 3<br />
b) 5 – 3 – 2 – 4 – 1 – 2<br />
c) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 4<br />
d) 5 – 3 – 4 – 2 – 2 – 1<br />
e) 4 – 1 – 3 – 1 – 5 – 2<br />
Texto para as questões 526 e 527.<br />
Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os<br />
crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o<br />
homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não<br />
tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor<br />
286<br />
aprova? Me declare tudo, franco – é alta mercê que me<br />
faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio<br />
que me vejam – é de minha certa importância. Tomara<br />
não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e<br />
instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe<br />
agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já<br />
sabia, esperava por ela – já o campo! Ah, a gente,<br />
na velhice, carece de ter uma aragem de descanso.<br />
Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito.<br />
Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo,<br />
este vosso servidor. Fosse lhe contar... Bem, o diabo<br />
regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres,<br />
nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não é<br />
o ditado: “menino – trem do diabo”? E nos usos, nas<br />
plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes...<br />
O diabo na rua, no meio do redemunho...<br />
Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.<br />
526. Unifesp<br />
A fala expressa no texto é de Riobaldo. De acordo com<br />
o narrador, o diabo:<br />
a) vive preferencialmente nas crianças, livre e fazendo<br />
as suas traquinagens.<br />
b) é capaz de entrar no corpo humano e tomar posse<br />
dele, vivendo aí e perturbando a vida do homem.<br />
c) só existe na mente das pessoas que nele acreditam,<br />
perturbando-as mesmo sem existir concretamente.<br />
d) não existe como entidade autônoma, antes reflete<br />
os piores estados emocionais do ser humano.<br />
e) é uma condição humana e não está relacionado<br />
com as coisas da natureza.<br />
527. Unifesp<br />
O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma peculiar<br />
de escrita, denunciada pelos recursos lingüísticos<br />
empregados pelo escritor. Dentre as características<br />
do texto, está:<br />
a) o emprego da linguagem culta, na voz do narrador,<br />
e o da linguagem regional, na voz da personagem.<br />
b) a recriação da fala regional no vocabulário, na<br />
sintaxe e na melodia da frase.<br />
c) o emprego da linguagem regional predominantemente<br />
no campo do vocabulário.<br />
d) a apresentação da língua do sertão fiel à fala do<br />
sertanejo.<br />
e) o uso da linguagem culta, sem regionalismos, mas<br />
com novas construções sintáticas e rítmicas.<br />
Texto para as questões de 528 a 530.<br />
Essas coisas todas se passaram tempos depois.<br />
Talhei de avanço, em minha história. O senhor tolere<br />
minhas más devassas no contar. É ignorância. Eu<br />
não converso com ninguém de fora, quase. Não sei<br />
contar direito. Aprendi um pouco foi com o compadre<br />
meu Quelemém; mas ele quer saber tudo diverso:<br />
quer não é o caso inteirado em si, mas a sobre-coisa,<br />
a outra coisa. Agora, neste dia nosso, com o senhor<br />
mesmo – me escutando com devoção assim – é que<br />
aos poucos vou indo aprendendo a contar corrigido.<br />
E para o dito volto.
PV2D-07-54<br />
528. Vunesp<br />
O romance, do qual o trecho acima foi extraído, veio a<br />
público em 1956 e é uma das mais importantes obras<br />
da literatura brasileira. Nele, um velho fazendeiro,<br />
recolhido a uma vida de paz e descanso, conta a um<br />
interlocutor, forasteiro e homem da cidade, os episódios<br />
de seu movimento passado de jagunço. Levando<br />
em conta o trecho transcrito, as ponderações feitas e o<br />
conhecimento da obra, responda à questão a seguir.<br />
Qual é o assunto de que trata o trecho acima?<br />
529. Vunesp<br />
Qual é o nome do narrador personagem do romance?<br />
Quais os nomes de uma personagem ambígua da obra,<br />
que inicialmente se apresenta como homem e ao final<br />
se revela mulher?<br />
530. Vunesp<br />
Qual é o título do romance? Qual é o nome de seu autor?<br />
531. UFG-GO<br />
Diversos motivos narrativos compõem a trama de<br />
Campo geral, texto da obra Manuelzão e Miguilim, de<br />
Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo principal para<br />
a composição do enredo desse conto?<br />
a) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim.<br />
b) A instabilidade sentimental da mãe de Miguilim.<br />
c) A observação do mundo pela ótica de Miguilim.<br />
d) A rivalidade entre Tio Terez e o pai de Miguilim.<br />
e) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim<br />
532. ITA-SP<br />
O romance A hora da estrela, de Clarice Lispector,<br />
publicado em 1977, pouco antes da morte da autora,<br />
é um dos livros mais famosos da ficção brasileira<br />
contemporânea. Podemos fazer algumas relações<br />
entre esta obra e alguns livros importantes de nossa<br />
tradição literária. Por exemplo:<br />
I. Pode-se dizer que o livro de Clarice começa no<br />
ponto em que Vidas secas termina, pois Graciliano<br />
Ramos mostra as personagens indo para uma<br />
cidade grande, e a autora localiza a personagem<br />
central do livro vivendo numa metrópole.<br />
II. Assim como em Memórias póstumas de Brás<br />
Cubas, o narrador de Clarice narra os fatos e<br />
comenta acerca da forma como está narrando.<br />
III. É possível pensar que Macabéa mantém alguns<br />
traços da heroína romântica, não quanto à beleza<br />
física, mas à inteligência e ao caráter, o que a aproxima<br />
de algumas personagens de José de Alencar.<br />
Está(ão) correta(s):<br />
a) apenas I. d) apenas II e III.<br />
b) apenas II. e) todas.<br />
c) apenas I e II.<br />
533. Fuvest-SP<br />
Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a<br />
novela Campo geral (Miguilim), de Guimarães Rosa:<br />
I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva<br />
para o aprendizado de Miguilim, seja nas experiências<br />
imediatas do cotidiano, seja na investigação do<br />
valor e do sentido profundo dessas experiências.<br />
II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos<br />
mostra que a vida rústica do sertanejo é pobre<br />
como experiência – o que pode ser compensado<br />
pela imaginação poética de quem sabe desligar-se<br />
daquela vida.<br />
III. No momento final da narrativa, é em sentido literal<br />
e simbólico que um novo mundo se revela para<br />
Miguilim – mundo que também se abre para uma<br />
vida de novas experiências.<br />
A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:<br />
a) as afirmações I e III são corretas.<br />
b) as afirmações I e II são corretas.<br />
c) as afirmações II e III são corretas.<br />
d) a afirmação II é correta.<br />
e) a afirmação III é correta.<br />
534. ITA-SP<br />
O poema abaixo consta do livro Paisagem com figuras,<br />
de João Cabral de Melo Neto, publicado em 1955.<br />
Cemitério Pernambucano<br />
Nesta terra ninguém jaz,<br />
pois também não jaz um rio<br />
noutro rio, nem o mar<br />
é cemitério de rios.<br />
Nenhum dos mortos daqui<br />
vem vestido de caixão.<br />
Portanto, eles não se enterram,<br />
são derramados no chão.<br />
Vêm em redes de varandas<br />
abertas ao sol e à chuva.<br />
Trazem suas próprias moscas.<br />
O chão lhes vai como luva.<br />
Mortos ao ar-livre, que eram,<br />
hoje à terra-livre estão.<br />
São tão da terra que a terra<br />
nem sente sua intrusão.<br />
Este texto mostra com clareza duas das marcas mais<br />
recorrentes da obra de João Cabral, que são:<br />
a) a presença do realismo de cunho social, que se<br />
nota nas referências ao mundo nordestino, aliada<br />
à racionalidade típica de boa parte da poesia<br />
moderna.<br />
b) a presença do realismo de cunho social, mas<br />
associado a uma visão do mundo ainda herdeira<br />
do Romantismo, o que se nota pela presença das<br />
imagens naturais.<br />
c) a preocupação em descrever a paisagem nordestina<br />
e a intenção de reproduzir a fala popular.<br />
d) o caráter mais racional e sóbrio da poesia, que<br />
evita o derramamento emocional, aliado a certa<br />
herança realista no que diz respeito à valorização<br />
da cultura brasileira.<br />
e) O rigor construtivo do poema, que deixa de lado<br />
a emoção e as convenções românticas, o que faz<br />
desse texto um bom exemplo de poesia metalingüística.<br />
287
535.<br />
Em Primeiras estórias, de Guimarães Rosa:<br />
a) é patente o fascínio pelo ilógico.<br />
b) há um apelo ao lúdico e ao mágico.<br />
c) à oralidade sertaneja juntam-se termos eruditos,<br />
arcaicos etc.<br />
d) o foco é o sertão do norte de Minas Gerais, mas<br />
há também contos urbanos.<br />
e) todas as alternativas anteriores são verdadeiras.<br />
Texto para as questões 536 e 537.<br />
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu<br />
tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo<br />
ausência: e o rio-rio-rio – o rio – pondo perpétuo [grifo<br />
nosso]. Eu sofria já o começo da velhice – esta vida era<br />
só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias,<br />
cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E<br />
ele? Por quê? Devia de padecer demais.<br />
De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar o<br />
vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse<br />
sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas<br />
abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava,<br />
com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava<br />
lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que<br />
nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse – se<br />
as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.<br />
ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias.<br />
Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.<br />
536. UFRN<br />
Pode-se afirmar que, na expressão em destaque no<br />
fragmento textual, a manifestação da função poética<br />
da linguagem evidencia o dinamismo do tempo.<br />
Esse dinamismo é representado por:<br />
a) ritmo cadente e neologismo.<br />
b) assonância e reiteração de vocábulo.<br />
c) onomatopéia e uso de metáfora.<br />
d) efeitos de eco e uso de metonímia.<br />
537. UFRN<br />
No quadro do Modernismo literário no Brasil, a obra<br />
de Guimarães Rosa destaca-se pela inventividade da<br />
criação estética. Considerando-se o fragmento em<br />
análise, essa inventividade da narrativa roseana pode<br />
ser constatada meio do(a):<br />
a) recriação do mundo sertanejo pela linguagem, a<br />
partir da apropriação de recursos da oralidade.<br />
b) aproveitamento de elementos pitorescos da cultura<br />
regional que tematizam a visão de mundo simplista<br />
do homem sertanejo.<br />
c) resgate de histórias que procedem do universo<br />
popular, contadas de modo original, opondo realidade<br />
e fantasia.<br />
d) sondagem da natureza universal da existência<br />
humana, através de referência a aspectos da<br />
religiosidade popular.<br />
288<br />
538. PUC-SP<br />
E o tucano, o vôo, reto, lento como se voou embora,<br />
xô, xô! mirável, cores pairantes, no garridir ; fez sonho.<br />
Mas a gente nem podendo esfriar de ver. Já para o<br />
outro imenso lado apontavam. De lá, o sol queria sair,<br />
na região da estrela-d’alva. A beira do campo, escura,<br />
como um muro baixo, quebrava-se, num ponto,<br />
dourado rombo, de bordas estilhaçadas. Por ali, se<br />
balançou para cima, suave, aos ligeiros vagarinhos,<br />
o meiosol, o disco, o liso, o sol, a luz por tudo. Agora,<br />
era a bola de ouro a se equilibrar no azul de um fio. O<br />
Tio olhava no relógio. Tanto tempo que isso, o Menino<br />
nem exclamava. Apanhava com o olhar cada sílaba<br />
do horizonte.<br />
Sobre o trecho acima, do conto Os cimos, de Guimarães<br />
Rosa, é incorreto afirmar que:<br />
a) é texto descritivo caracterizador da natureza, representada<br />
pela presença da ave e do amanhecer.<br />
b) utiliza recursos de linguagem poética como a<br />
onomatopéia, a metáfora e a enumeração.<br />
c) descreve o tucano, utilizando frase nominal e de<br />
encadeamento de palavras com força adjetiva.<br />
d) apresenta um estilo repetitivo que confunde o<br />
leitor e impede a manifestação da força poética<br />
do texto.<br />
e) pinta com luz e cor a linha do horizonte, onde em<br />
dourado rombo, de bordas estilhaçadas, nasce o<br />
sol.<br />
539. UFMG<br />
Leia estes trechos:<br />
Dizem-se, estórias. Assim mesmo, no tredo estado<br />
em que tacteia, privo, mal-existente, o que é, cabidamente,<br />
é o filho tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática<br />
verdade.<br />
GUIMARÃES ROSA, João. A benfazeja. Primeiras estórias, 45. ed.<br />
O pecurrucho tinha cabeça chata e Macunaíma inda<br />
a achatava mais batendo nela todos os dias e falando<br />
pro guri:<br />
– Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo<br />
ganhar muito dinheiro.<br />
ANDRADE, Mário de. Macunaíma, 31. ed.<br />
Com base nessa leitura, é incorreto afirmar que os<br />
dois trechos:<br />
a) assinalam a semelhança indiscutível entre pai e<br />
filho.<br />
b) reescrevem, à sua maneira, ditados e expressões<br />
populares.<br />
c) referem-se a situações que envolvem pai e filho.<br />
d) utilizam a linguagem coloquial do povo brasileiro.<br />
540. UFES<br />
Urbanização e aspectos culturais<br />
A cidade sempre foi um signo que as artes – e a literatura<br />
em particular, desde o período barroco até os dias<br />
atuais – souberam interpretar. Desse modo, considere<br />
os textos a seguir citados e também os contextos<br />
históricos e literários aos quais eles pertencem, para<br />
responder à questão.
PV2D-07-54<br />
Texto XII, de Adolfo Caminha – Bom-Crioulo, 1895:<br />
Tudo avultava desmesuradamente em sua imaginação<br />
de marinheiro de primeira viagem. Bom-<br />
Crioulo tinha prometido levá-Io aos teatros, ao<br />
Corcovado, à Tijuca, ao Passeio Público, a toda<br />
parte. Haviam de morar juntos, num quarto da<br />
rua da Misericórdia, num comodozinho de quinze<br />
mil-réis onde coubessem duas camas de ferro, ou<br />
mesmo uma só, larga, espaçosa[...]<br />
Texto XIII, de Machado de Assis – “Pai contra mãe”<br />
(Relíquias da casa velha, 1906):<br />
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro<br />
a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas<br />
públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa,<br />
o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava<br />
e a quantia de gratificação. [...] Protestava-se com<br />
todo o rigor da lei contra quem o acoutasse.<br />
Texto XIV, de Augusto dos Anjos – “As cismas do<br />
destino” (Eu, 1912):<br />
A noite fecundava o ovo dos vícios / Animais. Do<br />
carvão da treva imensa / Caía um ar danado de<br />
doença / Sobre a cara geral dos edifícios! / / / Tal<br />
uma horda feroz de cães famintos, / Atravessando<br />
uma estação deserta, / Uivava dentro do eu, com a<br />
boca aberta, / A matilha espantada dos instintos!<br />
Texto XV, de Guimarães Rosa – “Campo geral”<br />
(Corpo de baile, 1956):<br />
O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim,<br />
lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava<br />
para a escola, depois aprendia ofício. – “Você<br />
mesmo quer ir?”<br />
Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar.<br />
Sua alma, até ao fundo, se esfriava.<br />
Texto XVI, de Luis Fernando Verissimo – “Outra do<br />
analista de Bagé” (O analista de Bagé, 1981):<br />
Diz que quando recebe um paciente novo no seu<br />
consultório a primeira coisa que o analista de Bagé<br />
faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem,<br />
claro, pois em mulher, segundo ele, “só se bate<br />
pra descarregá energia”. Depois do joelhaço, o<br />
paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã<br />
coberto com um pelego.<br />
De acordo com o Texto XV, pode-se inferir que Miguilim<br />
necessita de óculos para corrigir uma deficiência visual<br />
(ametropia). Entre as ametropias estão a miopia e a<br />
hipermetropia. Sobre essas ametropias, julgue como verdadeiro<br />
(V) ou como falso (F) o que se afirma abaixo.<br />
I. A miopia é um defeito da visão que não permite<br />
visão nítida de um objeto distante, pois, estando os<br />
músculos ciliares relaxados, o foco imagem do olho<br />
está antes da retina, portanto, formando a imagem<br />
de um objeto distante antes da retina. ( )<br />
II. A lente corretora da miopia deve ser divergente e<br />
um míope não precisa usar lentes para perto. ( )<br />
III. A lente corretora da hipermetropia deve ser convergente.<br />
( )<br />
A seqüência correta, de cima para baixo, é:<br />
a) F, F, F d) V, V, F<br />
b) F, F, V e) V, V, V<br />
c) F, V, V<br />
541. Fuvest-SP<br />
O romance é narrado na primeira pessoa, em ininterrupto<br />
monólogo, por Riobaldo, velho fazendeiro do<br />
norte de Minas, antigo jagunço, que conta a sua vida<br />
e a sua angústia.<br />
A. Candido e J. A. Castello<br />
O autor do romance a que se refere o texto acima é<br />
também o de:<br />
a) Chapadão do bugre.<br />
b) O garimpeiro.<br />
c) Vila dos confins.<br />
d) Sagarana.<br />
e) O coronel e o lobisomem.<br />
542. PUC-SP<br />
Assinale, nas alternativas abaixo, todas extraídas do<br />
conto “São Marcos”, o trecho que indica a presença<br />
de uma gradação.<br />
a) “E as flores rubras, vermelhíssimas, ofuscantes,<br />
queimando os olhos, escaldantes de vermelhas,<br />
cor de guelras de traíra, de sangue de ave, de boca<br />
e bâton.”<br />
b) “E, nas ilhas, penínsulas, istmos e cabos, multicrescem<br />
taboqueiras, tabuas, taquaris, taquaras,<br />
taquariúbas, taquaratingas e taquarassus.”<br />
c) “E, pois, foi aí que a coisa se deu, e foi de repente,<br />
[...] um ponto, um grão, um besouro, um<br />
anu, um urubu, um golpe de noite... E escureceu<br />
tudo.”<br />
d) “Vou. Pé por pé, pé por si... Peporpé, peporsi...<br />
Pepp or pepp, epp or see …Pêpe orpepe, heppe<br />
Orcy…”<br />
e) “Debaixo do angelim verde, de vagens verdes,<br />
um boi branco, de cauda branca. E, ao longe,<br />
nas prateleiras dos morros cavalgavam-se três<br />
qualidades de azul.”<br />
543. PUC-SP<br />
A respeito do conto “São Marcos”, de João Guimarães<br />
Rosa, é incorreto afirmar que:<br />
a) é um conto de linguagem marcadamente sinestésica,<br />
isto é, que ativa os órgãos sensoriais como<br />
meios de conhecimento da realidade, em suas<br />
diferentes situações narrativas.<br />
b) refere as ações domingueiras do personagem<br />
narrador Izé, que se embrenha no mato, carregando<br />
uma espingarda a tiracolo com o firme<br />
propósito de caçar irerês, narcejas, jaburus e<br />
frangos-d’água.<br />
c) desenvolve um tenebroso caso de ação sobrenatural,<br />
por obra de um feiticeiro, que produz cegueira<br />
temporária no protagonista e da qual ele se safa<br />
por meio de uma reza brava, sesga, milagrosa e<br />
proibida.<br />
d) vem introduzido por uma epígrafe, extraída da<br />
cultura popular, das cantigas do sertão e que condensa<br />
e dá, sugestivamente, o tom da narrativa.<br />
e) caracteriza o espaço dos bambus, lugar onde se<br />
encontram gravados os nomes dos reis leoninos<br />
e onde se trava floral desafio entre o narrador e<br />
Quem será.<br />
289
544. UEL-PR<br />
O trabalho com a linguagem por meio da recriação<br />
de palavras e a descrição minuciosa da natureza, em<br />
especial da fauna e da flora, são uma constante na<br />
obra de João Guimarães Rosa. Esses elementos são<br />
recursos estéticos importantes que contribuem para<br />
integrar as personagens aos ambientes onde vivem,<br />
estabelecendo relações entre natureza e cultura. Em<br />
“Sarapalha”, conto inserido no livro Sagarana, de<br />
1946, referências do mundo natural são usadas para<br />
representar o estado febril de Primo Argemiro.<br />
Com base nessa afirmação, assinale a alternativa em<br />
que a descrição da natureza mostra o efeito da maleita<br />
sobre a personagem Argemiro.<br />
a) É aqui, perto do vau da Sarapalha: tem uma<br />
fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca<br />
de pedra seca, do tempo de escravos; um rego<br />
murcho, um moinho parado; um cedro alto, na<br />
frente da casa; e, lá dentro uma negra, já velha,<br />
que capina e cozinha o feijão.<br />
b) Olha o rio, vendo a cerração se desmanchar. Do<br />
colmado dos juncos, se estira o vôo de uma garça,<br />
em direção à mata. Também, não pode olhar muito:<br />
ficam-lhe muitas garças pulando, diante dos olhos,<br />
que doem e choram, por si sós, longo tempo.<br />
c) É de-tardinha, quando as mutucas convidam as muriçocas<br />
de volta para casa, e quando o carapana mais o<br />
mossorongo cinzento se recolhem, que ele aparece, o<br />
pernilongo pampa, de pés de prata e asas de xadrez.<br />
d) Estava olhando assim esquecido, para os olhos...<br />
olhos grandes escuros e meio de-quina, como os<br />
de uma suaçuapara... para a boquinha vermelha,<br />
como flor de suinã....<br />
e) O cachorro está desatinado. Pára. Vai, volta, olha,<br />
desolha... Não entende. Mas sabe que está acontecendo<br />
alguma coisa. Latindo, choramingando,<br />
chorando, quase uivando.<br />
Texto para as questões 545 e 546.<br />
No conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães<br />
Rosa, o protagonista é um homem rude e cruel,<br />
que sofre violenta surra de capangas inimigos e é<br />
abandonado como morto, num brejo.<br />
Recolhido por um casal de matutos, Matraga passa<br />
por um lento e doloroso processo de recuperação, em<br />
meio ao qual recebe a visita de um padre, com quem<br />
estabelece o seguinte diálogo:<br />
– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade<br />
que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?<br />
– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não<br />
tira o estribo do pé de arrependido nenhum... (...) Sua<br />
vida foi entortada no verde, mas não fique triste, de modo<br />
nenhum, porque a tristeza é aboio de chamar demônio,<br />
e o Reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira de sua<br />
algibeira, desde que você esteja com a graça de Deus,<br />
que ele não regateia a nenhum coração contrito.<br />
545. Fuvest-SP<br />
A linguagem figurada amplamente empregada pelo padre<br />
é adequada ao seu interlocutor? Justifique sua resposta.<br />
546. Fuvest-SP<br />
Transcreva uma frase do texto que tenha sentido<br />
equivalente ao da frase não regateia a nenhum coração<br />
contrito.<br />
290<br />
547.<br />
A partir da leitura do texto, responda:<br />
– Severino retirante,<br />
deixe agora que lhe diga:<br />
eu não sei bem a resposta<br />
da pergunta que fazia,<br />
se não vale mais saltar<br />
fora da ponte e da vida<br />
nem conheço essa resposta,<br />
se quer mesmo que lhe diga<br />
é difícil defender,<br />
só com palavras, a vida,<br />
ainda mais quando ela é<br />
esta que vê, severina<br />
mas se responder não pude<br />
à pergunta que fazia,<br />
ela, a vida, a respondeu<br />
com sua presença viva.<br />
E não há melhor resposta<br />
que o espetáculo da vida:<br />
vê-la desfiar seu fio,<br />
que também se chama vida,<br />
ver a fábrica que ela mesma,<br />
teimosamente, se fabrica,<br />
vê-la brotar como há pouco<br />
em nova vida explodida<br />
mesmo quando é assim pequena<br />
a explosão, como a ocorrida;<br />
mesmo quando é uma explosão<br />
como a de há pouco, franzina;<br />
mesmo quando é a explosão<br />
de uma vida severina.<br />
Morte e vida severina – João Cabral de Melo Neto<br />
De acordo com o texto, pode-se deduzir:<br />
a) Não há respostas para a vida severina.<br />
b) A resposta da vida severina é uma fábrica franzina.<br />
c) A resposta para a vida é o espetáculo da vida,<br />
mesmo severina.<br />
d) A vida desfia seu fio que em nada tem de vida<br />
severina.<br />
e) A vida só se defende com palavras em todas as<br />
circunstâncias.<br />
548.<br />
Considere as seguintes afirmações:<br />
I. Essa estória desenvolve simultaneamente um<br />
estudo sobre a psicologia juvenil urbana e um<br />
comentário metalingüístico sobre o processo da<br />
criação artística, especialmente aquela de caráter<br />
mágico, gerada pelo improviso.<br />
II. Estória de um ser que parece ter vindo ao mundo<br />
para purificá-lo e que é escarnecido por uma comunidade<br />
incapaz de compreender o alcance de seus<br />
atos, de sua condição de pessoa iluminada.<br />
III. Partindo de uma sugestão anedótica, calcada no<br />
cotidiano urbano, Guimarães Rosa mais uma vez<br />
tematiza a loucura, focalizando-a agora sob um<br />
viés tragicômico.<br />
I, II e III referem-se, respectivamente, aos seguintes<br />
contos de Primeiras estórias de João Guimarães<br />
Rosa:
PV2D-07-54<br />
a) “Darandina”, “O espelho” e “Famigerado”;<br />
b) “Pirlimpsiquice”, “A benfazeja” e “Darandina”;<br />
c) “A benfazeja”, “Darandina” e “A terceira margem<br />
do rio”;<br />
d) “A menina de lá”, “Partida do audaz navegante” e<br />
“Darandina”;<br />
e) “Darandina”, “Nada e a nossa condição”, “Sorôco,<br />
sua mãe, sua filha”.<br />
549. PUC-SP<br />
Segundo Antonio Candido, referindo-se à obra de<br />
Guimarães Rosa, ser jagunço, torna-se, além de uma<br />
condição normal no mundo-sertão, uma opção de comportamento,<br />
definindo um certo modo de ser naquele<br />
espaço. Daí a violência produzir resultados diferentes<br />
dos que esperamos na dimensão documentária e socio-lógica,<br />
– tornando-se, por exemplo, instrumento de<br />
redenção. Assim sendo, o ato de violência que em A hora<br />
e vez de Augusto Matraga justifica tal afirmação é:<br />
a) seguir a personagem uma trajetória de vida desregrada,<br />
junto às mulheres, ao jogo de truque e<br />
às caçadas.<br />
b) ser ferido e marcado a ferro, após ter sido abandonado<br />
pela mulher e por seus capangas.<br />
c) cumprir penitência por meio da reza, do trabalho<br />
e do auxílio aos outros para redenção de seus<br />
pecados.<br />
d) integrar o bando de Joãozinho-Bem-Bem e<br />
vingar-se dos inimigos, principalmente do Major<br />
Consilva.<br />
e) reencontrar-se, em suas andanças, com Joãozinho<br />
Bem-Bem, matá-lo e ser morto por ele.<br />
550. UEL-PR<br />
Leia os trechos retirados de “O burrinho pedrês”, de<br />
Guimarães Rosa, e considere as afirmativas feitas. A<br />
seguir, assinale a opção correta.<br />
Era um burrinho pedrês, miúdo e resignado,<br />
vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não<br />
sei onde no sertão. Chamava-se Sete-de-Ouros, e já<br />
fora tão bom, como outro não existiu e nem pode haver<br />
igual. (...) Mas nada disso vale fala, porque a estória<br />
de um burrinho, como a história de um homem grande,<br />
é bem dada no resumo de um só dia de sua vida. (...)<br />
Mas, nem bem Sinoca terminava, e já, morro abaixo,<br />
chão a dentro, trambulhavam, emendados, três trons<br />
de trovões. (...)<br />
– É para vigiar o Silvino, todo o tempo, que ele<br />
quer mesmo matar o Badu e tomar rumo. Agora,<br />
eu sei, tenho a certeza. Não perde os dois de olho,<br />
Francolim Ferreira<br />
(...) Badu agora dormia de verdade, sempre<br />
agarrado à crina. Mas Sete-de-Ouros não descansou.<br />
Retomou a estrada, e, já noite alta, quando chegaram à<br />
Fazenda, ele se encostou, bem na escada da varanda,<br />
esperando que o vaqueiro se resolvesse a descer. Ao<br />
fim de um tempo, o cavaleiro acordou. (...)<br />
I. A aliteração em “dentro”, “trambulhavam”, “três<br />
trons de trovões” alude ao barulho da trovoada, que<br />
prenuncia a tempestade e o perigo iminente.<br />
II. Na fábula, são introduzidas algumas digressões<br />
que vão sendo narradas por vaqueiros ao longo<br />
de sua jornada. Essas digressões são causos que<br />
pontuam a narrativa, criando uma atmosfera de<br />
suspense para o desfecho da história do burrinho<br />
pedrês e de Silvino e Badu.<br />
III. O narrador da fábula faz uso de discurso direto<br />
e indireto, articulando-os de forma que o tempo<br />
da narrativa seja percebido tanto num passado<br />
(acontecido) como num presente (acontecendo).<br />
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.<br />
b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.<br />
c) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.<br />
d) Todas as afirmativas estão corretas.<br />
e) Todas as afirmativas estão incorretas.<br />
551. UERJ<br />
− Uai, eu?<br />
Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto;<br />
que vale enterrar minhocas? De como aqui me vi, sutil<br />
assim, por tantas cargas d’água. No engano sem desengano:<br />
o de aprender prático o desfeitio da vida.<br />
Sorte? A gente vai – nos passos da história que<br />
vem. Quem quer viver faz mágica. Ainda mais eu, que<br />
sempre fui arrimo de pai bêbedo. Só que isso se deu, o<br />
que quando, deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que<br />
saudades que eu não tenha... Ah, meus bons maus-tempos!<br />
Eu trabalhava para um senhor Doutor Mimoso.<br />
Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama<br />
– olh’alegre, justo, inteligentudo – de calibre de quilate<br />
de caráter. Bom até-onde-que, bom como cobertor,<br />
lençol e colcha, bom mesmo quando com dor-decabeça:<br />
bom, feito mingau adoçado. Versando chefe<br />
os solertes preceitos. Ordem, por fora; paciência por<br />
dentro. Muito mediante fortes cálculos, imaginado de<br />
ladino, só se diga. A fim de comigo ligeiro poder ir ver<br />
seus chamados de seus doentes, tinha fechado um<br />
piquete no quintal: lá pernoitavam, de diário, à mão,<br />
dois animais de sela – prontos para qualquer aurora.<br />
Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás,<br />
com a maleta dos remédios e petrechos, renquetrenque,<br />
estudante andante. Pois ele comigo proseava, me<br />
alentando, cabidamente, por norteação – a conversa<br />
manuscrita. Aquela conversa me dava muitos arredores.<br />
Ô homem! Inteligente como agulha e linha, feito<br />
pulga no escuro, como dinheiro não gastado. Atilado<br />
todo em sagacidades e finuras – é de fimplus! de<br />
tintínibus... – latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso,<br />
para ele, era fritada de meio ovo. O que porém bem.<br />
ROSA, João Guimarães. Tutaméia: terceiras estórias.<br />
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.<br />
A obra de Guimarães Rosa, citado como grande renovador<br />
da expressão literária, é também reconhecida pela<br />
contribuição lingüística, devido à utilização de termos<br />
regionais, palavras novas, não-dicionarizadas, a que<br />
chamamos neologismos, especialmente para expressar<br />
situações ou opiniões de seus personagens.<br />
a) Retire do primeiro parágrafo um exemplo de neologismo<br />
e explique, em uma frase completa, o seu<br />
sentido no texto.<br />
b) Compare o adjetivo inteligentudo (par. 2) com<br />
barbudo, barrigudo, sortudo. Escreva duas formas<br />
da língua padrão − a primeira com duas palavras;<br />
a segunda com uma palavra − que equivalem semanticamente<br />
ao neologismo inteligentudo.<br />
291
552. Fuvest-SP<br />
Ao contista de Primeiras estórias, as manifestações<br />
da loucura interessam não como casos clínicos, e sim<br />
como campo propício à invasão do extraordinário, do<br />
mítico, do mágico – numa palavra, da poesia – que<br />
irrompem no meio das acomodações cotidianas, questionando<br />
o que é considerado normal.<br />
Adaptado de Paulo Rónai<br />
a) O questionamento de que se fala na afirmação<br />
acima ocorre no conto Darandina (em que se narra<br />
a história do homem que sobe em uma palmeira)?<br />
Explique sucintamente.<br />
b) E no conto Tarantão, meu patrão (no qual se conta<br />
a cavalgada do velho João-de-Barros-Diniz-Robertes,<br />
com seus acompanhantes, rumo à cidade), o<br />
referido questionamento ocorre?<br />
Justifique resumidamente sua resposta.<br />
553. Fuvest-SP<br />
As meninas Nhinhinha e Brejeirinha são, respectivamente,<br />
personagens principais de “A menina de lá” e<br />
de “Partida do audaz navegante”, contos de Primeiras<br />
estórias.<br />
a) Embora ambos os contos tenham como ambiente<br />
o meio rural, há, neles, elementos que permitam<br />
assinalar uma diferença de nível social entre<br />
essas personagens? Justifique sucintamente sua<br />
resposta.<br />
b) Qual dessas personagens se vincula primordialmente<br />
à própria literatura e qual se relaciona<br />
também, de modo explícito, à religião? Justifique<br />
brevemente sua resposta.<br />
554. Fuvest-SP (modificado)<br />
O fragmento abaixo pertence à novela Campo Geral<br />
(Miguilim), de João Guimarães Rosa.<br />
E o Dito mesmo gostava, pedia: ‘Conta mais, conta<br />
mais...’ Miguilim contava, sem carecer de esforço,<br />
estórias compridas, que ninguém nunca tinha sabido,<br />
não esbarrava de contar, estava tão alegre, nervoso,<br />
aquilo para ele era o entendimento maior.<br />
a) As qualidades atribuídas ao Miguilim contador<br />
de histórias aproximam-no ou distanciam-no do<br />
modo de narrar que celebrizou Guimarães Rosa?<br />
Justifique sua resposta.<br />
b) O desfecho da novela sugeriria que Miguilim<br />
encontrará limitações para desenvolver suas<br />
qualidades de contador de histórias? Justifique<br />
sua resposta.<br />
555.<br />
Todas as afirmações abaixo, a respeito de Morte e<br />
vida severina, de João Cabral de Melo Neto, são<br />
corretas, exceto:<br />
a) É o drama de um retirante nordestino que, premido<br />
pela seca, foge em busca da vida, e por onde<br />
passa só encontra a morte.<br />
b) Severino, retirante ou peregrino, em sua fuga<br />
em direção ao Recife, seguindo como guia o Rio<br />
Capibaribe, pensa em desistir da viagem, mas,<br />
impulsionado pelo espectro da morte, prossegue<br />
em direção a seu destino.<br />
292<br />
c) A morte, que ocupa e povoa a maior parte das cenas<br />
da obra, é apresentada de maneira uniforme,<br />
única.<br />
d) A última fala do mestre Carpina corresponde à<br />
resposta à última pergunta feita pelo retirante Severino<br />
e traduz a defesa do que lhe parece difícil,<br />
“a explosão de uma vida severina”.<br />
e) Ao ouvir a conversa dos coveiros, Severino descobre<br />
que seguia seu próprio enterro.<br />
556. PUC-RS<br />
A partir do livro de estréia, __________, uma das<br />
características do estilo de Clarice Lispector é a adjetivação<br />
__________.<br />
a) O lustre – pictórica<br />
b) A maçã no escuro – preciosa<br />
c) A cidade sitiada – coloquial<br />
d) Perto do coração selvagem – surpreendente<br />
e) A legião estrangeira – popular<br />
557. UFRGS-RS<br />
Considere as seguintes afirmações.<br />
I. Adélia Prado é escritora de tendências feministas,<br />
que não demonstra atenção aos temas cotidianos<br />
e religiosos.<br />
II. Lygia Fagundes Telles vem construindo uma obra<br />
ficcional em que predominam personagens do<br />
sexo feminino atribuladas por problemas existenciais.<br />
III. A obra de Clarice Lispector renova a ficção brasileira<br />
com uma dimensão reflexiva voltada tanto<br />
para o fazer literário quanto para os processos de<br />
consciência.<br />
Quais estão corretas?<br />
a) Apenas I.<br />
b) Apenas II.<br />
c) Apenas III.<br />
d) Apenas II e III.<br />
e) I, II e III.<br />
558. UFC-CE<br />
Clarice Lispector se dizia uma escritora “sentidora”. O<br />
termo se justifica porque Clarice:<br />
I. registrava impressões, idéias e sentimentos,<br />
guiando-se pelo fluxo da consciência.<br />
II. sondava a mente das personagens, privilegiando<br />
assim a seqüência das ações e suas causas.<br />
III. separava com rigor os mundos interno e externo<br />
das personagens, a imaginação e a realidade.<br />
A análise das afirmativas nos permite afirmar corretamente<br />
que:<br />
a) apenas I é verdadeira.<br />
b) apenas II é verdadeira.<br />
c) apenas III é verdadeira.<br />
d) I e II são verdadeiras.<br />
e) I e III são verdadeiras.
PV2D-07-54<br />
559. UEL-PR<br />
Eu estava agora tão maior que me via mais. Tão grande<br />
como uma paisagem ao longe. Eu era ao longe. (...)<br />
como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se<br />
me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo.<br />
O fragmento anterior revela a crise do ato de criação,<br />
a dificuldade de colocar em palavras as sensações<br />
mais profundas e silenciosas – o que é um dos traços<br />
característicos da prosa ficcional de:<br />
a) Clarice Lispector.<br />
b) Mário de Andrade.<br />
c) Érico Veríssimo.<br />
d) Euclides da Cunha.<br />
e) Marques Rebelo.<br />
560. UFMG<br />
Todas as alternativas apresentam características de<br />
Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, exceto:<br />
a) Ausência de fronteiras rígidas entre os gêneros,<br />
revelada na mistura de prosa e poesia.<br />
b) Linguagem caracterizada por oralidade e coloquialismo,<br />
segundo o Modernismo de 22.<br />
c) Narração introspectiva, marcada por uma subjetividade<br />
que se projeta sobre o mundo narrado.<br />
d) Relativização do tempo cronológico, com embaralhamento<br />
de passado e presente.<br />
561. UFSM<br />
Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não<br />
parecia compreender que estava só no mundo. Os<br />
olhos lacrimejavam sempre, as mãos repousavam<br />
sobre o vestido preto e opaco, velho documento de<br />
sua vida. No tecido já endurecido encontravam-se<br />
pequenas crostas de pão coladas pela baba que lhe<br />
ressurgia agora em lembrança do berço.<br />
Pelo fragmento citado, percebe-se que, na obra de<br />
Clarice Lispector:<br />
a) as personagens estão constantemente chorando<br />
a perda de um ente querido.<br />
b) o menor abandonado é objeto de paixão e solidariedade.<br />
c) o estilo naturalista é marcado pelas referências à<br />
decomposição da matéria.<br />
d) as personagens, envolvidas em seu próprio<br />
mundo, estranham ou ignoram o mundo circundante.<br />
e) as mulheres, em geral, aspiram a entrar no mercado<br />
de trabalho.<br />
562. UFC-CE<br />
Sobre Clarice Lispector e sua obra, pode-se afirmar<br />
corretamente que:<br />
a) Laços de família foi sua primeira obra publicada.<br />
b) Perto do coração selvagem é uma obra neo-realista.<br />
c) os temas ligados à existência desaparecem em<br />
Laços de família.<br />
d) seus escritos reúnem crônicas, romances e narrativas<br />
infanto-juvenis.<br />
e) a história literária situa a escritora na segunda fase<br />
do Modernismo brasileiro.<br />
563. Fuvest-SP<br />
A respeito de Clarice Lispector, nos contos de Laços<br />
de família, seria correto afirmar que:<br />
a) parte freqüentemente de acontecimentos surpreendentes<br />
para banalizá-los.<br />
b) elabora o cotidiano em busca de seu significado<br />
oculto.<br />
c) é altamente intimista, vasculhando o âmago das<br />
personagens com rara argúcia.<br />
d) é regionalista hermética.<br />
e) opera na área da memória, da auto-análise e do<br />
devaneio.<br />
564. UFES<br />
É correto afirmar que, nos contos de Laços de família,<br />
de Clarice Lispector:<br />
a) tal como em Gota d’água, de Chico Buarque &<br />
Paulo Pontes, aparecem personagens proletários<br />
e malandros do submundo carioca.<br />
b) tal como em O país d’el rey, de Roberto Almada,<br />
busca-se no Brasil urbano e pós-moderno o espaço<br />
privilegiado para a ação.<br />
c) tal como em Noite na taverna, de Álvares de<br />
Azevedo, ocorrem casos de homicídio, suicídio e<br />
antropofagia.<br />
d) tal como em Quincas Borba, de Machado de Assis,<br />
são insistentes as chamadas e referências a um<br />
suposto leitor.<br />
e) tal como em O burrinho pedrês, de Guimarães<br />
Rosa, os personagens não se envolvem em questões<br />
de caráter político-partidário.<br />
565. PUCCamp-SP<br />
Leia com atenção os seguintes excertos de contos do<br />
livro Laços de família, de Clarice Lispector.<br />
Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava.<br />
E para aqueles que junto da porta ainda a olharam<br />
uma vez, a aniversariante era apenas o que parecia<br />
ser: sentada à cabeceira da mesa imunda, com a mão<br />
fechada sobre a toalha como encerrando um cetro,<br />
e com aquela mudez que era a sua última palavra.<br />
(“Feliz aniversário”)<br />
Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava<br />
um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia<br />
lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto – ela<br />
o abafava com a mesma habilidade que as lides em<br />
casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer<br />
compras ou levar objetos para consertar, cuidando do<br />
lar e da família à revelia deles. (“Amor”)<br />
Em ambos os excertos, destaca-se um dos temas<br />
estruturadores do livro Laços de família, já que nele<br />
a autora:<br />
a) explora o imaginário feminino, cuja natureza idealizante<br />
liberta a mulher de qualquer preocupação<br />
existencial.<br />
b) denuncia o conformismo burguês da mulher, fazendo-nos<br />
ver que seus inúteis devaneios a afastam<br />
da realidade.<br />
c) satiriza a hipocrisia dos laços familiares, propondo<br />
em lugar deles a harmonia de um mundo politicamente<br />
mais aberto e mais democrático.<br />
293
d) desvela as tensões entre o universo íntimo e complexo<br />
da mulher e as condições objetivas do cotidiano<br />
em que ela deve desempenhar seu papel.<br />
e) revela a solidez íntima da mulher, mais preparada<br />
para o sucesso das relações familiares do que o<br />
homem, obcecado por valores materiais.<br />
Texto para as questões de 566 a 572.<br />
A partida dos homens<br />
1 Aproximou-se da janela, sentiu frio nos ombros<br />
nus, olhou a terra onde as plantas viviam quietas. O<br />
globo movia-se e ela estava sobre ele de pé. Junto<br />
a uma janela, o céu por cima, claro, infinito. Era<br />
inútil abrigar-se na dor de cada caso, revoltar-se<br />
contra os acontecimentos, porque os fatos eram<br />
apenas um rasgão no vestido, de novo a seta muda<br />
indicando o fundo das coisas, um rio que seca e<br />
deixa ver o leito nu.<br />
2 A frescura da tarde arrepiou sua pele, Joana não<br />
conseguiu pensar nitidamente – havia alguma<br />
coisa no jardim que a deslocava para fora de seu<br />
centro, fazia-a vacilar... Ficou de sobreaviso. Algo<br />
tenta mover-se dentro dela, respondendo, e pelas<br />
paredes escuras de seu corpo subiam ondas leves,<br />
frescas, antigas. Quase assustada quis trazer a<br />
sensação à consciência, porém cada vez mais era<br />
arrastada para trás numa doce vertigem, por dedos<br />
suaves. Como se fosse de manhã. Perscrutou-se,<br />
subitamente atenta como se tivesse avançado<br />
demais. De manhã?<br />
3 De manhã. Onde estivera alguma vez, em que terra<br />
estranha e milagrosa já pousara para agora sentirlhe<br />
o perfume? Folhas secas sobre a terra úmida.<br />
O coração apertou-se-lhe devagar, abriu-se, ela não<br />
respirou um momento esperando... Era de manhã,<br />
sabia que era de manhã... Recuando como pela mão<br />
frágil de uma criança, ouviu, abafado como em sonho,<br />
galinhas arranhando a terra. Uma terra quente,<br />
seca... O relógio batendo tin-dlen...tin...dlen... o sol<br />
chovendo em pequenas rosas amarelas e vermelhas<br />
sobre as casas... Deus, o que era aquilo senão ela<br />
mesma? mas quando? não sempre...<br />
4 As ondas cor-de-rosa escureciam, o sonho fugia.<br />
Que foi que perdi? que foi que perdi? Não era<br />
Otávio, já longe, não era o amante, o homem infeliz<br />
nunca existira. Ocorreu-lhe que este deveria estar<br />
preso, afastou o pensamento impaciente, fugindo,<br />
precipitando-se... Como se tudo participasse da<br />
mesma loucura, ouvindo subitamente um galo próximo<br />
lançar seu grito violento e solitário. Mas não<br />
é de madrugada, disse trêmula, alisando a testa<br />
fria... O galo não sabia que ia morrer! O galo não<br />
sabia que ia morrer! Sim, sim: papai que é que eu<br />
faço? Ah, perdera o compasso de um minueto...<br />
Sim... o relógio batera tin dlen, ela erguera-se na<br />
ponta dos pés e o mundo girava muito mais leve<br />
naquele momento. Havia flores em alguma parte?<br />
e uma grande vontade de se dissolver até misturar<br />
seus fios com o começo das coisas. Formar<br />
uma só substância, rósea e branda – respirando<br />
mansamente como um ventre que se ergue e se<br />
abaixa, que se ergue e se abaixa... (...)<br />
Clarice Lispector. Perto do coração selvagem<br />
294<br />
566. Unirio-RJ<br />
O sentido de “... os fatos eram apenas um rasgão no<br />
vestido,” (par. 1) é:<br />
a) trariam conseqüências desastrosas.<br />
b) representavam uma preocupação dolorosa.<br />
c) apresentavam uma solução passageira.<br />
d) causariam sofrimento irreversível.<br />
e) não continham a solução para seus problemas.<br />
567. Unirio-RJ<br />
A dificuldade que a personagem encontra, inicialmente,<br />
de penetrar no seu íntimo se dá por:<br />
a) medo de descobrir suas verdades.<br />
b) interferência de um elemento externo.<br />
c) dificuldade de se desligar do passado.<br />
d) desconhecimento de seus verdadeiros sentimentos.<br />
e) falta de um parâmetro em sua vida.<br />
568. Unirio-RJ<br />
A expressão que representa a primeira sensação,<br />
indício de presentificação do passado, é:<br />
a) “... a seta muda...” (par. 1)<br />
b) “... o fundo das coisas,” (par. 1)<br />
c) “A frescura da tarde...” (par. 2)<br />
d) “... ondas leves, frescas, antigas.” (par. 2)<br />
e) “... doce vertigem,” (par. 2)<br />
569. Unirio-RJ<br />
A expressão que marca o mergulho de Joana no seu<br />
interior e caracteriza o passado é:<br />
a) “... o fundo das coisas,” (par. 1)<br />
b) “... o leito nu.” (par. 1)<br />
c) “De manhã.” (par. 3)<br />
d) “... alguma vez,” (par. 3)<br />
e) “não sempre...” (par. 3)<br />
570. Unirio-RJ<br />
Que passagem traduz um momento de conflito interior<br />
de Joana?<br />
a) “Joana não conseguiu pensar nitidamente” (par. 2)<br />
b) “Onde estivera alguma vez,” (par. 3)<br />
c) “Recuando como pela mão frágil de uma criança,”<br />
(par. 3)<br />
d) “Que foi que eu perdi? Que foi que eu perdi?” (par. 4)<br />
e) “Havia flores em alguma parte?” (par. 4)<br />
571. Unirio-RJ<br />
Que passagem traduz, simultaneamente, integração<br />
e reinício?<br />
a) “O galo não sabia que ia morrer!” (par. 4)<br />
b) “ela erguera-se na ponta dos pés” (par. 4)<br />
c) “... o mundo girava muito mais leve...” (par. 4)<br />
d) “... uma grande vontade de se dissolver...”<br />
(par. 4)<br />
e) “Havia flores em alguma parte?” (par. 4)
PV2D-07-54<br />
572. Unirio-RJ<br />
Quanto à narrativa do texto, assinale a afirmativa<br />
improcedente.<br />
a) Há aprofundamento no eu, num mergulho atemporal.<br />
b) Há poucos fatos ligados à ação propriamente<br />
dita.<br />
c) A não-linearidade aponta uma preocupação em<br />
manter o elo autor-leitor.<br />
d) A narrativa está centrada num momento de violência<br />
interior da personagem.<br />
e) ambiente e descrição não apresentam uma feição<br />
puramente descritiva, mas subjetiva, interiorizada.<br />
573. Fatec-SP<br />
Lóri estava suavemente espantada. Então isso<br />
era a felicidade. De início sentiu-se vazia. Depois seus<br />
olhos ficaram úmidos, era a felicidade, mas como sou<br />
mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O<br />
amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos<br />
poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade?<br />
Que faço dessa paz estranha e aguda, que<br />
já está começando a me doer como uma angústia,<br />
como um grande silêncio de espaços? A quem dou<br />
minha felicidade, que já está começando a me rasgar<br />
um pouco e me assusta. Não quero ser feliz prefiro a<br />
mediocridade.<br />
Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou livro dos prazeres<br />
Considere as seguinte características de estilo:<br />
I. Exacerbação do momento interior, que a escritora<br />
explora de modo a produzir, pela intensa<br />
auto-análise da personagem, uma nova e aguda<br />
consciência da vida.<br />
II. Transfiguração da realidade pela análise psicológica<br />
da reação da personagem, que se objetiva na<br />
descrição exterior dos fatos narrados.<br />
III. Emprego de uma técnica própria de descrição intimista,<br />
que se alinha com um projeto de educação<br />
existencial, traço marcante da obra de Clarice.<br />
Identificam-se no texto as características apontadas<br />
em:<br />
a) I e II.<br />
b) I e III.<br />
c) II e III.<br />
d) I, somente.<br />
e) II, somente.<br />
574. PUCCamp-SP<br />
Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs<br />
um ovo! ela quer o nosso bem!<br />
Todos correram de novo à cozinha e rodearam<br />
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho,<br />
esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem<br />
triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria<br />
nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a<br />
filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente<br />
um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou<br />
uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com<br />
certa brusquidão:<br />
– Se você mandar matar esta galinha nunca mais<br />
comerei galinha na minha vida!<br />
– Eu também! jurou a menina com ardor.<br />
A mãe, cansada, deu de ombros.<br />
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha<br />
passou a morar com a família. A menina, de volta<br />
do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a<br />
corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda<br />
se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele<br />
estado!” A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos,<br />
menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o<br />
terraço dos fundos, usando suas duas capacidades:<br />
a da apatia e a do sobressalto.<br />
No excerto acima, do conto “Uma galinha”, Clarice<br />
Lispector, a autora de Laços de família:<br />
a) utiliza a ave para projetar nela a condição da mulher<br />
enquanto fêmea reprodutora, dona de casa e<br />
ser reflexivo.<br />
b) alegoriza a condição da mulher moderna, emancipada<br />
das estritas funções domésticas, e no entanto<br />
saudosa delas.<br />
c) estabelece uma analogia entre a criação artística e<br />
o parto, mostrando o quanto há neles de sofrimento<br />
e o nenhum reconhecimento que obtêm no mundo<br />
moderno.<br />
d) afasta-se do tema que estrutura seu livro e pratica<br />
uma forma singular de humor, num conto ao mesmo<br />
tempo cruel e anedótico.<br />
e) vale-se de uma galinha para simbolizar nela a<br />
crise de uma família de classe média cujos laços<br />
afetivos há muito se desataram.<br />
Texto para as questões de 575 a 580.<br />
Amor<br />
Um pouco cansada, com as compras deformando<br />
o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou<br />
o volume no colo e o bonde começou a andar.<br />
Recostou-se então no banco procurando conforto, num<br />
suspiro de meia satisfação.<br />
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira<br />
e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam<br />
para si, malcriados, instantes cada vez mais completos.<br />
A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado<br />
dava estouros. O calor era forte no apartamento que<br />
estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo<br />
nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que<br />
se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o<br />
calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as<br />
sementes que tinha na mão, não outras, mas essas<br />
apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa<br />
com o cobrador de luz, crescia a água enchendo<br />
o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas,<br />
o marido chegando com os jornais e sorrindo de<br />
fome, o canto importuno das empregadas do edifício.<br />
Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e<br />
forte, sua corrente de vida.<br />
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa<br />
hora da tarde a árvores que plantara riam dela. Quando<br />
nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No<br />
entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo<br />
engrossara um pouco e era de se ver o modo como<br />
cortava blusas para os meninos, a grande tesoura<br />
dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente<br />
artístico encaminhara-se há muito no sentido de<br />
tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu<br />
gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara<br />
a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo<br />
era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se<br />
295
emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia<br />
ser feita pela mão do homem.<br />
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de<br />
sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente<br />
lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num<br />
destino de mulher, com a surpresa de nele caber como<br />
se o tivesse inventado. O homem com quem casara<br />
era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram<br />
filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe<br />
estranha como uma doença de vida. […]<br />
575. Unifesp<br />
De acordo com o texto, pode-se afirmar que a personagem<br />
Ana:<br />
a) sintetiza as qualidades da mulher burguesa e rica,<br />
que se responsabiliza pelo lar e em momento<br />
algum questiona suas atribuições.<br />
b) é símbolo da mãe e da esposa de classe baixa,<br />
que vê nas tarefas do lar a verdadeira forma de<br />
ser feliz, mas almeja ser independente.<br />
c) representa a mulher de classe média que cuida de<br />
suas tarefas, mas não sente prazer nisso, pois é<br />
incomodada por sua família.<br />
d) é produto de uma sociedade feminista, o que<br />
se pode confirmar pela autonomia que tem para<br />
realizar suas tarefas.<br />
e) constitui a referência do lar de classe média, no<br />
qual tem como missão a tarefa de organizá-lo e<br />
de cuidar dos familiares.<br />
576. Unifesp<br />
No texto, afirma-se que Ana “plantara as sementes”<br />
e “E cresciam árvores”. Mais adiante: “Certa hora da<br />
tarde as árvores que plantara riam dela”. Essa última<br />
frase, tomada em conjunto com as anteriores, traz ao<br />
texto um tom de:<br />
a) comicidade. d) ironia.<br />
b) profecia. e) indignação.<br />
c) perplexidade.<br />
577. Unifesp<br />
“Certa hora da tarde era mais perigosa.”<br />
De acordo com o texto, essa informação deve ser<br />
entendida como<br />
a) um cansaço que envolvia Ana, depois de ter-se<br />
dedicado intensamente às tarefas do lar.<br />
b) um desconforto de Ana, pois sua importância se<br />
perdia nesse período, quando não era requisitada<br />
nas tarefas do lar.<br />
c) uma irritação de Ana em relação à família, por não<br />
ter o reconhecimento devido pelas tarefas que<br />
exercia.<br />
d) uma forma de Ana reafirmar seu papel e sua importância<br />
no seio familiar, pois todos dependiam dela.<br />
e) um incômodo que Ana sentia, devido tanto ao<br />
excesso de tarefas que desempenhava quanto ao<br />
modo rotineiro de realizá-las.<br />
578. Unifesp<br />
“No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir<br />
a raiz firme das coisas.” A forma encontrada por ela<br />
para atingir esse objetivo foi:<br />
296<br />
a) assumir plenamente a organização de um lar.<br />
b) dar espaço real à sua íntima desordem.<br />
c) esquecer sua juventude anterior, sua doença de<br />
vida.<br />
d) plantar sementes, mesmo que árvores não crescessem.<br />
e) ficar sozinha à tarde para recuperar suas forças.<br />
579. Unifesp<br />
O gosto de Ana pelo decorativo revela uma forma de:<br />
a) cuidar harmoniosamente da família, eliminando os<br />
problemas.<br />
b) engajar a família na análise e superação dos<br />
problemas, íntimos ou não.<br />
c) sublimar os problemas de natureza íntima, criando<br />
uma aparente harmonia.<br />
d) canalizar todas as tensões para a arrumação da<br />
casa, já que ela e a família não tinham problemas.<br />
e) aperfeiçoar a casa e a família, fazendo com que<br />
todos se comportassem de forma semelhante.<br />
580. Unifesp<br />
O narrador afirma que Ana caiu num destino de mulher.<br />
No texto, esse destino é descrito com o objetivo de<br />
propor uma reflexão sobre:<br />
a) a juventude e a velhice.<br />
b) a importância de ser mãe.<br />
c) as diferenças sociais.<br />
d) o papel da mulher na sociedade.<br />
e) a família como verdadeira instituição social.<br />
581. UFRGS-RS<br />
A hora da estrela<br />
Clarice Lispector<br />
A moça tinha ombros curvos como os de uma<br />
cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se<br />
realizaria muito mais se desse ao delicado lador de<br />
restaurar fios, quem sabe se de seda. Ou de luxo:<br />
cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzideirinha<br />
mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de<br />
açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só que não<br />
era. Não sabia que era infeliz.<br />
(...) Nascera inteiramente raquítica, herança do<br />
sertão - os maus antecedentes de que falei. Com dois<br />
anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres<br />
ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera<br />
as botas.<br />
(...) Macabéa era na verdade uma figura medieval<br />
enquanto Olímpico de Jesus se julgava peçachave,<br />
dessa que abrem qualquer porta. Macabéa<br />
simplesmente não era técnica, ela era só ela. (...) Mas<br />
Macabéa de um modo geral não se preocupava com<br />
o próprio futuro: ter futuro era luxo.<br />
Sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector, é correto<br />
afirmar que:<br />
a) a narrativa mistura vários planos de realidade, que<br />
permitem uma visão multifacetada da personagem<br />
central.<br />
b) Macabéa é uma nordestina retirante, e o desfecho<br />
de sua história é semelhante ao de Fabiano e de<br />
Sinha Vitória, personagem de Graciliano Ramos.
PV2D-07-54<br />
c) a heroína do livro, como a maioria dos brasileiros<br />
em situação de privação, revolta-se contra as<br />
injustiças.<br />
d) a escritora usa uma linguagem técnica com predomínio<br />
de termos exatos, para advertir sobre<br />
problemas sanitários brasileiros.<br />
e) a narrativa põe em destaque a disposição de<br />
Macabéa em lutar pela igualdade e pela ascensão<br />
social.<br />
582. Fuvest-SP<br />
Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns<br />
difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história<br />
não tem nenhuma técnica, nem de estilo, ela é ao<br />
deus-dará. Eu que também não mancharia por nada<br />
deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma<br />
vida parca como a da datilógrafa.<br />
Clarice Lispector, A hora da estrela.<br />
Em A hora da estrela, o narrador questiona-se quanto<br />
ao modo e, até, à possibilidade de narrar a história.<br />
De acordo com o trecho acima, isso deriva do fato de<br />
ser ele um narrador:<br />
a) iniciante, que não domina as técnicas necessárias<br />
ao relato literário.<br />
b) pós-moderno, para quem as preocupações de<br />
estilo são ultrapassadas.<br />
c) impessoal, que aspira a um grau de objetividade<br />
máxima ao relato.<br />
d) objetivista, que se preocupa apenas com a precisão<br />
técnica do relato.<br />
e) autocrítico, que percebe a inadequação de um<br />
estilo sofisticado para narrar a vida popular.<br />
583. PUC-SP<br />
Assinale a alternativa que não está de acordo com a<br />
personagem Macabéa, do romance A hora da estrela,<br />
de Clarice Lispector.<br />
a) Nordestina pobre, anônima e semi-analfabeta,<br />
era impotente para a vida e não fazia falta a ninguém.<br />
b) Tinha a “felicidade pura dos idiotas” e “vivia num<br />
atordoado limbo entre céu e inferno”.<br />
c) Personagem-título do romance, embora feita de<br />
matéria rala, tornou-se, na vida, a grande estrela<br />
com que sempre sonhou.<br />
d) Ingênua, acreditou no que a cartomante lhe disse,<br />
mas acabou sendo atropelada e morta por um<br />
Mercedes amarelo.<br />
e) Viveu um conto de fadas às avessas, delineando<br />
um contraponto bíblico sem, contudo, apresentar<br />
a coragem e o heroísmo dos fortes.<br />
584. UFPE<br />
As três quadras mostradas abaixo são de João Cabral<br />
de Melo Neto, poeta pernambucano, da chamada geração<br />
de 45, autor de Morte e vida severina, obra que<br />
tem como subtítulo Auto de natal pernambucano.<br />
– Essa cova em que estás,<br />
com palmos medida<br />
É a conta menor<br />
que tiraste em vida<br />
– É de bom tamanho,<br />
nem largo nem fundo<br />
é a parte que te cabe<br />
deste latifúndio<br />
– Não é cova grande<br />
é cova medida<br />
é a terra que querias<br />
ver dividida<br />
( ) A técnica despojada realça o aspecto dramático<br />
das quadras que iniciam o Funeral do Lavrador,<br />
em que se pode observar o desejo do autor de<br />
extrair o máximo de significação de cada palavra,<br />
numa linguagem despida de ornamentos.<br />
( ) No trecho anterior, todas as quadras são introduzidas<br />
por um travessão, simbolizando a fala<br />
dos lavradores presentes ao enterro, como uma<br />
espécie de reza, que descreve, para os que ouvem,<br />
quem era o morto.<br />
( ) No subtítulo, Auto evidencia a influência do teatro<br />
medieval vicentino; natal tem a ver com o<br />
nascimento que mudará a vida do personagem e<br />
pernambucano remete ao lugar onde se desenrola<br />
a narrativa. As injustiças sociais são descritas<br />
pelo eu-poético com distanciamento, em terceira<br />
pessoa.<br />
( ) O Auto Morte e vida severina narra a trajetória de<br />
um sertanejo que abandona sua terra de origem,<br />
com destino ao litoral, onde, afinal, apenas encontra<br />
o desespero e a morte.<br />
( ) Ao usar o nome próprio Severino como adjetivo,<br />
para caracterizar a morte e a vida, o eu lírico representa<br />
todos os retirantes que sofrem com a seca<br />
e perdem sua identidade pela sina que os iguala.<br />
585. Fuvest-SP<br />
Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num<br />
aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada felicidade<br />
que era inexplicável: no cais do porto viu um<br />
arco-íris. Experimentando o leve êxtase, ambicionou<br />
logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió,<br />
espocarem mudos fogos de artifício. Ela quis mais<br />
porque é mesmo uma verdade que quando se dá a<br />
mão, essa gentinha quer todo o resto, o zé-povinho<br />
sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito<br />
algum, pois não é?<br />
Clarice Lispector, A hora da estrela<br />
Considerando-se no contexto da obra o trecho destacado,<br />
é correto afirmar que, nele, o narrador:<br />
a) assume momentaneamente as convicções elitistas<br />
que, no entanto, procura ocultar no restante da<br />
narrativa.<br />
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos<br />
da própria Macabéa diante dos fogos de artifício.<br />
c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a<br />
reação de Macabéa frente ao espetáculo.<br />
d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente<br />
as injustiças sociais e cobrando sua superação.<br />
e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito<br />
antipopular, desenvolvendo-a na direção da ironia.<br />
297
586. UniCOC-SP<br />
Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples:<br />
a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo:<br />
não tinha. Se der para me entenderem, está bem [...]<br />
Tendo em vista o fragmento acima e a leitura da obra<br />
A hora da estrela de Clarice Lispector, assinale a<br />
alternativa incorreta:<br />
a) O escritor narrador é onipotente, porque cria um<br />
destino, mas não é onisciente, pois a verdade que<br />
inventa ele não a conhece inteira: sua protagonista<br />
escapa-lhe das mãos.<br />
b) A obra conta várias histórias: a história da nordestina,<br />
a história de Rodrigo, que se vê refletido na<br />
personagem, e a história de como escrever um<br />
livro com uma personagem e fatos ralos.<br />
c) A mais ostensiva marca de existência de Macabéa<br />
é ser uma explícita negação: nem bonita,<br />
nem culta, nem inteligente, nem inteligente,<br />
nem independente financeiramente, nem ligada<br />
amorosamente a um homem que a conduzisse<br />
e a amparasse, Macabéa percorre o romance<br />
acumulando camadas narrativas dessa negação.<br />
Enfim, “era incompetente para a vida”.<br />
d) Ao narrar as “fracas aventuras” da personagem,<br />
Rodrigo S. M. fala de si mesmo, transformando-se,<br />
portanto, também em personagem do texto. Temos,<br />
então, a personagem narrada em 3 a pessoa<br />
e um escritor-narrador-personagem.<br />
e) Olímpico, Glória e Carlota revelam um traço comum<br />
com Macabéa: são personagens que não<br />
apresentam superioridade discursiva, o que inviabiliza<br />
a integração de todos na cultura urbana.<br />
587. UFRGS-RS<br />
Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as afirmações<br />
a seguir, referentes ao romance A hora da estrela, de<br />
Clarice Lispector.<br />
( ) Embora o título principal do romance seja A hora<br />
da estrela, a autora propõe uma série de títulos<br />
alternativos.<br />
( ) Clarice evidencia preocupações incomuns em<br />
sua obra, como a reflexão sobre a linguagem e a<br />
busca do sentido secreto que se esconde por trás<br />
do aparentemente visível.<br />
( ) Antes de iniciar o relato da história de Macabéa, o<br />
narrador faz comentários sobre as dificuldades inerentes<br />
ao ato de escrever e sobre o seu receio quanto<br />
ao destino da personagem que está criando.<br />
( ) A narração do romance é feita por três vozes distintas:<br />
a de Rodrigo S. M., a de Macabéa e a de<br />
Olímpico.<br />
( ) Uma das distrações de Macabéa, durante a madrugada,<br />
é ligar o radinho emprestado por uma<br />
colega de quarto e sintonizar a Rádio Relógio, que<br />
assinala com um tique-taque cada minuto.<br />
A seqüência correta de preenchimento dos parênteses,<br />
de cima para baixo, é:<br />
a) V – F – V – F – V<br />
b) V – V – F – F – V<br />
c) F – V – F – V – F<br />
d) V – F – F – F – V<br />
e) F – F – V – V – F<br />
298<br />
588. UniCOC-SP<br />
Leia o seguinte trecho da obra A hora da estrela, de<br />
Clarice Lispector:<br />
Ele – Pois é.<br />
Ela – Pois é o quê?<br />
Ele – Eu só disse pois é!<br />
Ela – Mas “pois é” o quê?<br />
Ele – Melhor mudar de conversa porque você não<br />
me entende.<br />
(...)<br />
Ele – E então?<br />
Ela – Então o quê?<br />
Ele – Olhe, eu vou embora porque você é impossível!<br />
A partir da leitura do excerto e da obra, assinale a<br />
alternativa incorreta.<br />
a) Diferentemente de Macabéa, Olímpico não assume<br />
sua incapacidade de falar sobre sua vida interior,<br />
mas, igualmente à sua conterrânea, também não<br />
consegue se expressar.<br />
b) Nos questionamentos de Macabéa e Olímpico,<br />
as respostas não conseguem se coadunar com<br />
as perguntas, levando cada um para o seu lado,<br />
isolando-os progressivamente.<br />
c) O questionamento de Macabéa sobre o significado<br />
de palavras vai de encontro à experiência fictícia<br />
de Rodrigo S.M. de escrever a história, já que ele<br />
se posiciona como um narrador seguro e hábil com<br />
as palavras.<br />
d) O relacionamento de Macabéa e Olímpico está, em<br />
grande parte, baseado no poder e no efeito das<br />
palavras que eles não conhecem. Um dos problemas<br />
é a inabilidade dele em perceber o esforço de<br />
Macabéa para dizer algo bonito e interessante.<br />
e) Ao perguntar a Olímpico o significado de palavras<br />
muitas ouvidas na Rádio Relógio, sem saber,<br />
Macabéa desafia a competência lingüística dele e,<br />
conseqüentemente, enfurece-o.<br />
589.<br />
Observe as afirmações abaixo.<br />
I. O enredo deste conto remete à idéia de que a<br />
aquisição da civilidade pode ocorrer a qualquer<br />
momento.<br />
II. Este conto problematiza a acumulação de bens<br />
apresentando a possibilidade do despojamento<br />
material.<br />
III. Estudo de psicologia social, este conto comenta o<br />
comportamento coletivo.<br />
IV. A narração da última cavalgada do protagonista<br />
assemelha-se a uma paródia das novelas de<br />
cavalaria medieval.<br />
V. Análise metalingüística sobre o processo de criação<br />
artística, incluindo-se aí o papel importante do<br />
improviso.<br />
Os comentários acima correspondem, respectivamente,<br />
aos seguintes contos de Primeiras estórias, de<br />
Guimarães Rosa:<br />
a) Os irmãos Dagobé, Nada e nossa condição, Darandina,<br />
Tarantão, meu patrão e Pirlimpsiquice<br />
b) A menina de lá, Substância, A terceira margem do<br />
rio, Os cimos e A partida do audaz navegante
PV2D-07-54<br />
c) Luas-de-mel, As margens da alegria, Fatalidade,<br />
Seqüência e Pirlimpsiquice<br />
d) Os irmãos Dagobé, A benfazeja, Sorôco, sua mãe,<br />
sua filha, Tarantão, meu patrão e Famigerado<br />
e) Famigerado, Nada e nossa condição, O cavalo<br />
que bebia cerveja, O espelho e Um moço muito<br />
branco<br />
590. UEBA<br />
Leia atentamente os trechos abaixo.<br />
I. Poeta modernista da 3ª geração, criou uma “poesia<br />
substantiva” em que da palavra se retiram os resíduos<br />
sentimentais. É autor do antológico poema<br />
Morte e vida severina.<br />
II. Ficcionista da geração de 45 do Modernismo brasileiro,<br />
criou uma obra com timbre personalíssimo<br />
em que se destacam o uso intensivo da metáfora<br />
insólita, a entrega ao fluxo da consciência e a ruptura<br />
com o enredo factual. Entre tantos, escreveu<br />
Laços de família.<br />
Estamos falando, respectivamente, de:<br />
a) João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector.<br />
b) Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles.<br />
c) Murilo Mendes e Rachel de Queiroz.<br />
d) Jorge de Lima e Lígia Fagundes Telles.<br />
e) Vinícius de Moraes e Adélia Prado.<br />
591. PUC-RS<br />
Entre a paisagem / (fluía) / de homens plantados<br />
na lama; / de casas de lama / plantadas em ilhas<br />
/ coaguladas na lama; / paisagem de anfíbios / de<br />
lama e lama. / Como o rio, / aqueles homens / são<br />
como cães sem plumas. / Um cão sem plumas / é<br />
mais / que um cão saqueado; / é mais que um cão<br />
assassinado.<br />
As estrofes acima são exemplos do traço de ...... e<br />
de ...... que existe no poema de João Cabral de Melo<br />
Neto.<br />
a) rebeldia – ódio pela sociedade<br />
b) melancolia – indiferença pelo mundo<br />
c) ternura – paixão pela existência<br />
d) compaixão – solidariedade ao homem<br />
e) saudade – medo do quotidiano<br />
592. Mackenzie-SP<br />
Leia as afirmações abaixo a respeito da obra de João<br />
Cabral de Melo Neto:<br />
I. A Espanha e suas paisagens ocupam parte importante<br />
de sua poesia.<br />
II. Apresenta preocupação com a estética e a arquitetura<br />
da poesia.<br />
III. A própria arte e suas várias manifestações aparecem<br />
como tema constante em seus poemas.<br />
Assinale:<br />
a) se todas são corretas.<br />
b) se apenas II e III são corretas.<br />
c) se apenas I e III são corretas.<br />
d) se apenas I e II são corretas.<br />
e) se nenhuma é correta.<br />
593. PUC-RS<br />
Entre a paisagem<br />
o rio fluía<br />
como uma espada de líquido espesso;<br />
como um cão<br />
humilde e espesso.<br />
Entre a paisagem<br />
(fluía)<br />
de homens plantados na lama;<br />
de casas de lama<br />
plantadas em ilhas<br />
coaguladas na lama;<br />
paisagem de anfíbios<br />
de lama e lama<br />
Como demonstram as estrofes anteriores, é no livro O<br />
cão sem plumas que João Cabral de Melo Neto inicia<br />
a temática centrada no:<br />
a) social.<br />
b) eu.<br />
c) poético.<br />
d) objeto.<br />
e) despojamento.<br />
594. UFPE<br />
O cão sem plumas é um poema de João Cabral de<br />
Melo Neto que pode ser lido como uma denúncia da<br />
degradação do rio Capibaribe, provocada pela poluição<br />
ambiental. Considere correta(s) a(s) proposição(ões)<br />
na(s) qual(is) se transcrevem versos do poema onde<br />
essa denúncia é evidente; caso contrário, considere<br />
a(s) proposição (ões) errada(s):<br />
( ) “A cidade é passada pelo rio como uma rua é<br />
passada por um cachorro”.<br />
( ) “Aquele rio nada sabia da água do copo de<br />
água”.<br />
( ) “Aquele rio jamais se abre aos peixes”<br />
( ) [O rio tinha] “Algo da estagnação dos palácios cariados,<br />
comidos de mofo e erva-de-passarinho”.<br />
( ) [Aquele rio] “abre-se em flores pobres e negras”.<br />
595. PUC-RS<br />
O lápis, o esquadro, o papel;<br />
o desenho, o projeto, o número:<br />
o engenheiro pensa o mundo justo,<br />
mundo que nenhum véu encobre.<br />
A estrofe acima ilustra a assertiva de que a poesia<br />
de João Cabral de Melo Neto revela um rigor ... e a<br />
preocupação com o ....<br />
a) técnico – problema social<br />
b) semântico – fazer poético<br />
c) estilístico – ambiente regional<br />
d) formal – momento político<br />
e) métrico – conflito estético<br />
596. UFSCar-SP<br />
O sertanejo falando<br />
A fala a nível do sertanejo engana:<br />
as palavras dele vêm, como rebuçadas<br />
(palavras confeito, pílula), na glace<br />
de uma entonação lisa, de adocicada.<br />
299
300<br />
Enquanto que sob ela, dura e endurece<br />
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,<br />
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)<br />
incapaz de não se expressar em pedra.<br />
Daí porque o sertanejo fala pouco:<br />
as palavras de pedra ulceram a boca<br />
e no idioma pedra se fala doloroso;<br />
o natural desse idioma fala à força.<br />
Daí também porque ele fala devagar:<br />
tem de pegar as palavras com cuidado,<br />
confeitá-las na língua, rebuçá-las;<br />
pois toma tempo todo esse trabalho.<br />
João Cabral de Melo Neto. A educação pela pedra.<br />
Nova Fronteira, 1996, p. 16.<br />
Esse poema consta na primeira parte de A educação<br />
pela pedra, considerada pelo autor sua obra máxima.<br />
Depois de uma leitura atenta, responda:<br />
a) Qual o contraste entre a busca da palavra e o resultado<br />
de sua execução na boca do sertanejo?<br />
b) A que se refere, no texto, a palavra ela, no primeiro<br />
verso da segunda estrofe? Justifique sua resposta.<br />
597. UFPE<br />
Correlacione os autores abaixo com trechos de algumas<br />
de suas obras, apresentados a seguir.<br />
1. Gilberto Freyre<br />
2. Ariano Suassuna<br />
3. João Cabral de Melo Neto<br />
4. Carlos Drummond de Andrade<br />
( ) Essa cova em que estás / Com palmos medida,<br />
É a conta menor / que tiraste em vida.<br />
É de bom tamanho / nem largo nem fundo,<br />
É a parte que te cabe/ deste latifúndio.<br />
( ) E agora José? / A festa acabou,<br />
A luz apagou, / o povo sumiu,<br />
A noite esfriou, / e agora José?<br />
( ) A singular predisposição do português para a<br />
colonização híbrida e escravocrata dos trópicos<br />
explica em grande parte o seu passado étnico,<br />
ou antes, cultural, de povo indefinido entre Europa<br />
e África. A influência africana fervendo sob<br />
a européia dá um acre requeime à vida sexual,<br />
à alimentação, à religião. A indecisão étnica e<br />
cultural entre a Europa e a África parece ter sido<br />
a mesma em Portugal como em outros trechos<br />
da península.<br />
( ) Chicó: Que latomia é essa para o meu lado?<br />
Você quer me agourar?<br />
João Grilo: (erguendo-se) Ah, e você está vivo?<br />
Chicó: Estou, que é que você está pensando?<br />
Não é besta não?<br />
A seqüência correta é:<br />
a) 1, 2, 3, 4<br />
b) 3, 2, 4, 1<br />
c) 4, 2, 1, 3<br />
d) 1, 3, 2, 4<br />
e) 3, 4, 1, 2<br />
598. UEL-PR<br />
A recorrência temática verificada nos textos e nas imagens<br />
destaca mazelas presentes no cenário social brasileiro.<br />
Sobre o tema, considere as afirmativas a seguir.<br />
I. No poema Morte e vida severina, a descrição do<br />
biótipo próprio aos “Severinos” remete para uma<br />
outra forma de morte: a negação da existência<br />
pela privação das condições materiais, a morte<br />
severina.<br />
II. Na pintura Os retirantes, Portinari aborda a miséria<br />
a partir de um foco diferenciado, que situa os indivíduos<br />
como sujeitos ativos de suas histórias.<br />
III. Em Graciliano Ramos, o abraço dos esfarrapados<br />
revela a inquietação dos que ousam superar o<br />
pavor e temem retornar ao estado de prostração<br />
anterior.<br />
IV. A fotografia de Sebastião Salgado contextualiza as<br />
mudanças observadas na paisagem nordestina,<br />
decisivas para conter o fluxo migratório.<br />
Estão corretas apenas as afirmativas:<br />
a) I e III.<br />
b) I e IV.<br />
c) II e III.<br />
d) I, II e IV.<br />
e) II, III e IV.<br />
599. Fuvest-SP<br />
– Finado Severino,<br />
quando passares em Jordão<br />
e os demônios te atalharem<br />
perguntando o que é que levas...<br />
(...)<br />
– Dize que levas somente<br />
coisas de não:<br />
fome, sede, privação.<br />
As “coisas de sim” estão, correspondentemente, em:<br />
a) vacuidade – repleção – carência.<br />
b) fartura – carência – vacuidade.<br />
c) repleção – carência – saciedade.<br />
d) satisfação – saciedade – fartura.<br />
e) vacuidade – fartura – repleção.<br />
600. UFMG<br />
Sobre o adjetivo severina, da expressão Morte e vida<br />
severina que intitula a peça de João Cabral de Melo<br />
Neto, todas as afirmativas estão certas, exceto:<br />
a) Refere-se aos migrantes nordestinos que, revoltados,<br />
lutam contra o sistema latifundiário que oprime<br />
o camponês.<br />
b) Pode ser sinônimo de vida árida, estéril, carente<br />
de bens materiais e de afetividade.<br />
c) Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca<br />
escorraça do sertão e o latifúndio escorraça da<br />
terra.<br />
d) Qualifica a existência negada, a vida daqueles<br />
seres marginalizados determinada pela morte.<br />
e) Dá nome à vida de homens anônimos, que se<br />
repetem física e espiritualmente, sem condições<br />
concretas de mudança.
PV2D-07-54<br />
601. Fuvest-SP<br />
É correto afirmar que, em Morte e vida severina:<br />
a) a alternância das falas de ricos e de pobres, em<br />
contraste, imprime à dinâmica geral do poema o<br />
ritmo da luta de classes.<br />
b) a visão do mar aberto, quando Severino finalmente<br />
chega ao Recife, representa para o retirante a<br />
primeira afirmação da vida contra a morte.<br />
c) o caráter de afirmação da vida, apesar de toda a<br />
miséria, comprova-se pela ausência da idéia de<br />
suicídio.<br />
d) as falas finais do retirante, após o nascimento de<br />
seu filho, configuram o momento afirmativo, por<br />
excelência, do poema.<br />
e) a viagem do retirante, que atravessa ambientes<br />
menos e mais hostis, mostra-lhe que a miséria é a<br />
mesma, apesar dessas variações do meio físico.<br />
602. Fuvest-SP<br />
Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão<br />
de que vida incomoda bastante, alma que não cabe<br />
bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha,<br />
toda supersticiosa, que se por acaso viesse<br />
alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver – se<br />
desencantaria de súbito de princesa que era e se<br />
transformaria em bicho rasteiro.<br />
a) Descreva o recurso poético utilizado pela autora<br />
em imaginavazinha, forma que escapa à gramática<br />
da língua.<br />
b) Justifique o uso de imaginavazinha, utilizando<br />
dados do contexto em que se acha e considerando<br />
também a posição do narrador em relação à<br />
personagem central, em A hora da estrela.<br />
603. Unicamp-SP<br />
Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto,<br />
traz como subtítulo “auto de natal pernambucano”. Sabendo-se<br />
que a palavra auto “designa toda peça breve,<br />
de tema religioso ou profano, em circulação durante a<br />
Idade Média” (Massaud Moisés, Dicionário de Termos<br />
Literários), responda às questões a seguir.<br />
Capítulo 6<br />
606. UFPR<br />
O Concretismo brasileiro apóia-se, principalmente,<br />
numa estrutura dinâmica “verbivocovisual”. Assinale<br />
a alternativa que não corresponde às características<br />
dessa estrutura.<br />
a) Estruturação ótico-sonora funcional<br />
b) As palavras tornam-se polivalentes, estabelecendo<br />
novas formas de inter-relacionamento<br />
c) A estrutura globalizante gera um significado<br />
d) Preferência pelo verso regular ímpar e musical<br />
e) Apesar de sua existência múltipla, apresenta<br />
unidade<br />
a) Explique o porquê das adjetivações “de natal” e<br />
“pernambucano”, contidas no subtítulo, considerando<br />
o enredo da peça.<br />
b) Qual é o sentido do adjetivo “severina” aplicado à<br />
“morte e vida”?<br />
c) Comumente usa-se a expressão “vida e morte”;<br />
no título da peça de João Cabral, entretanto, a<br />
seqüência é “morte e vida”. Explique o porquê<br />
dessa inversão.<br />
604. Fuvest-SP<br />
Em A hora da estrela, o narrador apresenta a seguinte<br />
reflexão: Pois na hora da morte a pessoa se torna<br />
brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de<br />
cada um e é quando como no canto coral se ouvem<br />
agudos sibilantes.<br />
Com base nela, responda às questões abaixo.<br />
a) Por que o romance tem o título de A hora da estrela?<br />
b) Por que é irônica a relação entre o título e a história<br />
de Macabéa?<br />
605. Fuvest-SP<br />
Leia com atenção os seguintes versos de João Cabral<br />
de Melo Neto em Morte e vida severina.<br />
– E belo porque com o novo<br />
todo o velho contagia.<br />
Belo porque corrompe<br />
com sangue novo a anemia.<br />
Infecciona a miséria<br />
com a vida nova e sadia.<br />
Com oásis, o deserto,<br />
com ventos, a calmaria.<br />
a) Contextualize esses versos no poema de João<br />
Cabral, indicando o evento a que se referem e a<br />
relação desse evento com a fala final de Seu José<br />
ao retirante.<br />
b) Que valor deu o poeta aos verbos contagiar,<br />
corromper e infeccionar no contexto da estrofe<br />
transcrita? Explique.<br />
607. ITA-SP<br />
Decretando o fim do verso e abolindo (a) (o) ..., esses<br />
vanguardistas procuram elaborar novas formas de<br />
comunicação poética em que predomine o aspecto<br />
material do signo, de acordo com as transformações<br />
ocorridas na vida moderna. Neste sentido (a) (o)…,<br />
explora basicamente (a) (o) ..., jogando com formas,<br />
cores, decomposição e montagem das palavras etc.,<br />
criando estruturas que se relacionam visualmente.<br />
a) sintaxe tradicional – concretismo – significante<br />
b) metrificação – poesia-práxis – significado<br />
c) lirismo – poema-processo – concreto<br />
d) versificação – neoconcretismo – sonoridade<br />
e) sintaxe – bossa-nova – ritmo<br />
301
608. FCMSC-SP<br />
Sobre o Concretismo, está errado afirmar que:<br />
a) baseou-se, em sua formulação teórica, nos ensinamentos<br />
de Mallarmé, Pound e Joyce.<br />
b) teria semelhanças, ou seria comparável ao<br />
movimento denominado Pau-Brasil, de 30 anos<br />
antes.<br />
c) a brevidade e a concisão de seus poemas retomam<br />
a linha evolutiva do poema-minuto, de Oswald de<br />
Andrade, na década de 20.<br />
d) Mário de Andrade foi figura poética de proa e líder<br />
do movimento.<br />
e) indiscutivelmente poético, esse movimento, se não<br />
atingiu a prosa, pelo menos influenciou a música<br />
e a pintura.<br />
609. FCC-SP<br />
… a composição de elementos básicos de linguagem<br />
organizados ótico-acusticamente no espaço gráfico<br />
por fatores de proximidade e semelhança, como uma<br />
espécie de ideologia para uma dada emoção, visando<br />
à apresentação direta – presentificação – do objeto.<br />
Um poeta identificado com a filosofia desse movimento<br />
estético é:<br />
a) João Cabral de Melo Neto.<br />
b) Paulo Mendes Campos.<br />
c) Décio Pignatari.<br />
d) Geir Campos.<br />
6<strong>10</strong>.<br />
Considere o texto:<br />
Posições do corpo<br />
Sob o azul<br />
sobre o azul<br />
subazul<br />
subsol<br />
subsolo<br />
Cassiano Ricardo<br />
Todas as características que se seguem encontram-se<br />
no poema acima, exceto:<br />
a) o aproveitamento do espaço concreto, em que a<br />
palavra se dimensiona visualmente.<br />
b) a presença de sintaxe antidiscursiva, suprimindo<br />
os elementos de ligação tradicionais da frase.<br />
c) incorporação de temas e formas do folclore, numa<br />
aproximação com ufanismo romântico.<br />
d) tendência à criação vocabular, à sintaxe apurada<br />
e à maior concisão de linguagem.<br />
e) técnica da repetição, como elemento decisivo para<br />
a fixação da mensagem nuclear do poema.<br />
611. Unimep-SP<br />
Observando a linguagem e as idéias, relacione os<br />
textos às corretes literárias.<br />
a) Simbolismo<br />
b) Modernismo<br />
c) Romantismo<br />
d) Concretismo<br />
e) Barroco<br />
302<br />
I. ( )<br />
Nasce o sol, e não dura mais que um dia;<br />
Depois da luz se segue a noite escura;<br />
Em tristes sombras morre a formosura,<br />
Em contínuas tristezas a alegria.<br />
II. ( )<br />
Escutai-me, leitor, a minha história<br />
É fantasia sim, porém amei-a.<br />
Sonhei-a em sua palidez marmórea,<br />
Como a ninfa seios nus... Não sonho glória,<br />
Escrevi porque a alma tinha cheia<br />
Numa insônia que o spleen entristecia<br />
De vibrações convulsas de ironia!<br />
III. ( )<br />
Assim eu quereria o meu último poema<br />
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples<br />
e menos<br />
[intencionais<br />
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas<br />
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume<br />
A pureza das chamas em que se consomem os<br />
diamantes<br />
[mais límpidos<br />
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.<br />
IV. ( )<br />
Pelas regiões tenuíssimas da bruma<br />
vagam as Virgens e as Estrelas raras...<br />
Como o leve aroma das searas<br />
todo o horizonte em derredor perfuma.<br />
V. ( )<br />
um corpo cai morto<br />
um morto cai corpo<br />
um cai morto<br />
um corpo cai<br />
um morto um<br />
morto corpo<br />
um cai<br />
corpo<br />
morto<br />
612. FCMSC-SP<br />
Forma<br />
Reforma<br />
Disforma<br />
Transforma<br />
Conforma<br />
Informa<br />
Forma<br />
Esse poema de José Lino Grünewald é escrito dentro<br />
dos princípios do Concretismo, movimento poético<br />
brasileiro da década de 50, neste século XX. No<br />
Concretismo:<br />
I. a poesia não fica apenas no âmbito do consumo<br />
auditivo.<br />
II. à noção de poesia se incorpora um novo elemento:<br />
o visual.<br />
III. o apelo à comunicação não-verbal exerce papel<br />
fundamental.
PV2D-07-54<br />
Escreveu-se corretamente em:<br />
a) I e II apenas.<br />
b) I e III apenas.<br />
c) II e III apenas.<br />
d) I, II e III.<br />
e) nenhuma das frases.<br />
613. Vunesp<br />
Por que é então que este livro<br />
tão longamente é enviado<br />
a quem faz uma poesia<br />
de distinta liga de aço?<br />
Envio-o ao leitor contra,<br />
Enviou-o ao leitor maugrado<br />
e intolerante, o que Pound<br />
diz de todos o mais grato;<br />
àquele que me sabendo<br />
não poder ser de seu lado,<br />
soube ler com acuidade<br />
poetas revolucionados.<br />
O trecho faz parte do poema-dedicatória A Augusto de<br />
Campos (Agrestes, 1985). O poeta, autor também de<br />
Auto do Frade, Museu de tudo, A escola das facas, A<br />
educação pela pedra etc., refere-se a Augusto de Campos<br />
como leitor ideal e alude à corrente poética a que<br />
este pertence. O autor do trecho e a corrente poética<br />
desse virtual leitor são, respectivamente:<br />
a) Ferreira Gullar e Concretismo.<br />
b) Haroldo de Campos e Neoconcretismo.<br />
c) Caetano Veloso e Tropicalismo.<br />
d) João Cabral de Melo Neto e Concretismo.<br />
e) Carlos Drummond de Andrade e “geração de<br />
45”.<br />
614. UEL-PR<br />
O movimento neoconcreto, no Brasil, surge em 1959, a<br />
partir do manifesto escrito por Ferreira Gullar. Algumas<br />
de suas características são o distanciamento da arte<br />
figurativa e a aproximação com o geométrico, inclusive<br />
buscando o rompimento entre o espaço vivencial e o<br />
da obra. Analise as imagens a seguir.<br />
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema,<br />
é correto afirmar que são neoconcretistas apenas as<br />
imagens:<br />
a) I e II.<br />
b) I e III.<br />
c) II e IV.<br />
d) I, II e IV.<br />
e) II, III e IV.<br />
615. UEL-PR<br />
Leia a estrofe inicial, transcrita abaixo, do poema A<br />
bomba suja, de Ferreira Gullar.<br />
Introduzo na poesia<br />
a palavra diarréia.<br />
Não pela palavra fria<br />
mas pelo que ela semeia.<br />
GULLAR, Ferreira. Toda Poesia.<br />
É correto afirmar que nesse poema se encontra:<br />
a) o intuito de correlacionar aspectos estéticos com<br />
elementos comumente considerados pouco líricos,<br />
o que se faz presente também na obra de João<br />
Cabral de Melo Neto.<br />
b) o gosto pelo escândalo, através da supervalorização<br />
de elementos lexicais que causam impacto ao<br />
romper com a tradição da versificação em língua<br />
portuguesa.<br />
c) o primeiro momento na poesia brasileira em que se<br />
recorre a termos ou a idéias considerados pouco<br />
líricos.<br />
d) uma forte influência parnasiana, que se traduz na expressão<br />
“palavra fria”, tão utilizada por Olavo Bilac.<br />
e) uma preocupação metalingüística incomum na<br />
geração à qual pertence Ferreira Gullar.<br />
616. UFSM-RS<br />
Vestibular<br />
Paulo Roberto Parreiras<br />
desapareceu de casa.<br />
Trajava calças cinza e camisa branca<br />
e tinha dezesseis anos.<br />
Parecia com teu filho, teu irmão,<br />
teu sobrinho, parecia<br />
com o filho do vizinho<br />
mas não era. Era Paulo<br />
Roberto Parreiras<br />
que não passou no vestibular.<br />
Recebeu a notícia quinta-feira à tarde,<br />
ficou triste<br />
e sumiu.<br />
De vergonha? de raiva?<br />
GULLAR, Ferreira. Dentro da noite veloz.<br />
Assinale (F) falso ou (V) verdadeiro para as afirmações<br />
abaixo. Após o preenchimento, assinale a alternativa<br />
que corresponde à opção correta.<br />
( ) Vestibular, pelo seu estilo despojado, pela ausência<br />
de metro e rima, enquadra-se numa concepção<br />
poética moderna.<br />
( ) A ausência de uma linguagem figurada, de recursos<br />
métricos e rítmicos retira de Vestibular as<br />
características de um texto poemático.<br />
303
( ) A poesia está nos fatos (Oswald de Andrade, em<br />
Poesia Pau-Brasil); o aspecto poético presente em<br />
Vestibular encontra-se na angústia e na preocupação<br />
geradas por um fato corriqueiro.<br />
( ) O emprego do pronome possessivo “teu” em vez de<br />
“seu” denota uma proximidade entre autor e leitor.<br />
( ) Vestibular é um poema narrativo, marcado por<br />
simplicidade e coloquialidade.<br />
a) V – F – V – F – V d) V – V – V – F – V<br />
b) V – F – V – V – V e) F – V – V – F – F<br />
c) V – F – F – V – V<br />
Texto para as questões 617 e 618.<br />
Meu povo, meu poema<br />
Meu povo e meu poema crescem juntos<br />
como cresce no fruto<br />
a árvore nova<br />
No povo meu poema vai nascendo<br />
como no canavial<br />
nasce verde o açúcar<br />
No povo meu poema está maduro<br />
como o sol<br />
na garganta do futuro<br />
Meu povo em meu poema<br />
se reflete<br />
como a espiga se funde em terra fértil<br />
Ao povo seu poema aqui devolvo<br />
menos como quem canta<br />
do que planta<br />
Ferreira Gullar<br />
617. Cesgranrio-RJ<br />
Assinale a opção que contém a idéia central da primeira<br />
estrofe do poema de Ferreira Gullar.<br />
a) O poema, por meio do povo, se solidifica para o<br />
futuro.<br />
b) A poesia atinge sua função social plena.<br />
c) A visão do futuro vai-se potencializar pela união<br />
entre povo e poema.<br />
d) O poema é o alimento do povo que o conduz ao<br />
crescimento.<br />
e) A essência do povo e a realização da forma poética<br />
estão dissociadas.<br />
618. Cesgranrio-RJ<br />
Muitas vezes, em um mesmo poema, encontram-se<br />
traços que se repetem em outras estéticas literárias,<br />
como se percebe no texto, de Ferreira Gullar.<br />
Assinale o que não se encontra nesse texto.<br />
a) Dualismo e antíteses, como no Barroco.<br />
b) Valorização de elementos da natureza, como no<br />
Romantismo.<br />
c) Inversão sintática, herança dos poetas latinos,<br />
como no Parnasianismo.<br />
d) Presença da metáfora e das cores, como no Simbolismo.<br />
e) Uso do verso livre, como no Modernismo.<br />
304<br />
619. Unitau-SP<br />
Segundo o poeta Mário Chamie, o movimento poético<br />
que opõe à palavra-coisa, do concretismo, a palavraenergia,<br />
que não considera o poema como um objeto<br />
estático e fechado e, sim, como um produto dinâmico<br />
passível de transformação pela influência ou manipulação<br />
do leitor, é:<br />
a) o hermetismo.<br />
b) o cubismo.<br />
c) o simbolismo.<br />
d) o dadaísmo.<br />
e) a poesia-práxis.<br />
620. UFPR<br />
O poema que se segue integra o volume intitulado<br />
Muitas vozes, publicado por Ferreira Gullar no ano<br />
de 1999.<br />
Ouvindo apenas<br />
e gato e passarinho<br />
e gato<br />
e passarinho (na manhã<br />
veloz<br />
e azul<br />
de ventania e ar<br />
vores<br />
voando)<br />
e cão<br />
latindo e gato e passarinho<br />
(só<br />
rumores<br />
de cão<br />
e gato<br />
e passarinho<br />
ouço<br />
deitado<br />
no quarto<br />
às dez da manhã<br />
de um novembro<br />
no Brasil)<br />
Acerca do poema acima reproduzido, considere as<br />
seguintes afirmativas:<br />
I. No plano da linguagem poética, pelo menos um dos<br />
procedimentos empregados pelo autor em Muitas<br />
vozes encontra-se exemplificado em “Ouvindo<br />
apenas”: o texto espacializado (a linguagem de<br />
base visual).<br />
II. O sujeito lírico de “Ouvindo apenas” mantém-se<br />
desligado do mundo objetivo, mostrando-se insensível<br />
a estímulos físicos.<br />
III. O emprego de quadras e tercetos isométricos<br />
associa “Ouvindo apenas” ao modelo estrutural<br />
do soneto.<br />
IV. O poema justapõe dois registros da realidade: fora<br />
dos parênteses, os elementos da realidade são<br />
relacionados de forma objetiva; dentro dos parênteses,<br />
fica evidenciada a atuação do componente<br />
subjetivo.<br />
V. Embora use recursos do fazer poético concretista,<br />
Ferreira Gullar harmoniza a ousadia formal com a<br />
representação da emoção.
PV2D-07-54<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.<br />
b) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras.<br />
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.<br />
d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.<br />
e) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras.<br />
621. PUC-PR<br />
Leia o poema a seguir:<br />
o bicho alfabeto<br />
tem vinte e três patas<br />
ou quase<br />
por onde ele passa<br />
nascem palavras<br />
e frases<br />
com frases<br />
se fazem asas<br />
palavras<br />
o vento leve<br />
o bicho alfabeto<br />
passa<br />
fica o que não se escreve<br />
Paulo Leminski<br />
Identifique a alternativa correta.<br />
a) A metalinguagem, presente no poema transcrito, é<br />
um recurso exclusivo da poesia contemporânea.<br />
b) Aproximando o alfabeto a um ser capaz de se<br />
movimentar o poeta favorece a idéia central do<br />
poema: tudo o que tem a ver com palavras está<br />
sujeito a mudanças.<br />
c) Paulo Leminski, representante da poesia marginal,<br />
enfatiza no poema a inutilidade da palavra<br />
escrita.<br />
d) Ao apresentar o alfabeto como um bicho com número<br />
ímpar de patas, Leminski cria a idéia de um<br />
desequilíbrio que prejudica a expressão poética.<br />
e) A ausência de metáforas e de rimas é característica<br />
não apenas do poema citado, mas de toda a obra<br />
de Paulo Leminski.<br />
622. PUC-SP<br />
beba coca cola<br />
babe cola<br />
beba coca<br />
babe<br />
caco<br />
cola<br />
cola<br />
c l o a c a<br />
caco<br />
Décio Pignatari<br />
Alfredo Bosi afirma que, no contexto da poesia brasileira,<br />
o Concretismo afirmou-se como antítese à vertente<br />
intimista e estetizante dos anos 40 e repropôs lemas,<br />
formas e, não raro, atitudes peculiares ao Modernismo<br />
de 1922 em sua fase mais polêmica e mais aderente<br />
às vanguardas européias. Leia atentamente o poema<br />
acima a aponte as características da poesia concreta<br />
presentes nele.<br />
623. UFES<br />
Na poesia concreta, ocorrem a distribuição dos itens<br />
lexicais na ordem sintática, a ausência de integração<br />
entre as frases, o corte no interior das palavras, a intensificação<br />
do uso de repetições sonoras, a abolição do<br />
verso, a não-linearidade, o uso construtivo dos espaços<br />
em branco, entre outros recursos e procedimentos,<br />
constituindo uma constelação de significados.<br />
No poema acima, dada a ausência de conectores e de<br />
sinais de pontuação, comente como se estabelecem<br />
os nexos de coerência, relacione-os ao efeito visual e,<br />
a partir disso, desenvolva uma interpretação.<br />
624. Vunesp<br />
Sabemos que a poesia concreta adota, entre outros<br />
procedimentos, a valorização do poema no espaço<br />
branco da página. Com apoio das artes gráficas, os<br />
textos ganham em expressividade visual. Baseado<br />
neste comentário, releia o poema de Arnaldo Antunes,<br />
como foi originalmente editado na figura adiante, e<br />
reponda ao que se pede.<br />
ANTUNES, Arnaldo. Tudos. 3ª ed. São Paulo: Iluminuras, 1993.<br />
a) Em que sentido esse texto poderia se enquadrar<br />
nos parâmetros da poesia concreta?<br />
b) Justifique sua resposta fazendo uma descrição de,<br />
pelo menos, um procedimento gráfico expressivo<br />
na construção do poema.<br />
305
Texto para as questões 625 e 626.<br />
306<br />
Poética de Anchieta<br />
Anchieta escrevia na areia,<br />
E a maré levava...<br />
Anchieta escrevia na areia,<br />
E a maré levava...<br />
O bom jesuíta havia assim criado<br />
uma espécie de antecipação<br />
do computador ...<br />
Zuca Sardanga<br />
625. Mackenzie-SP<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) No poema, valoriza-se a obra do jesuíta pelo fato<br />
de, já no século XVI, Anchieta ter inventado uma<br />
técnica que seria utilizada somente no século<br />
XX.<br />
b) O poema deixa evidente que não há diferenças<br />
entre “escrever na areia” e “escrever no computador”,<br />
já que os registros serão sempre apagados<br />
da memória histórica.<br />
c) Explicita-se, no texto, o seguinte aspecto da<br />
manifestação artística: as qualidades literárias de<br />
um autor dependem, essencialmente, do suporte<br />
utilizado.<br />
d) No texto está subentendida a idéia de efemeridade<br />
do registro gráfico, dada a facilidade com que se<br />
podem “perder” os textos.<br />
e) Ao evidenciar a inutilidade da produção jesuítica<br />
no verso E a maré levava..., o texto desqualifica o<br />
teor poético da obra de Anchieta.<br />
626. Mackenzie-SP<br />
A primeira estrofe do poema recupera, da tradição<br />
poética medieval, o seguinte traço:<br />
a) a idealização da natureza, presente nas cantigas<br />
de amor.<br />
b) a progressão textual lógico-argumentativa, típica<br />
das cantigas de amigo.<br />
c) o vocabulário erudito das novelas de cavalaria.<br />
d) a ironia corrosiva das cantigas de maldizer.<br />
e) o ritmo cantante da métrica popular, presente nos<br />
cancioneiros.<br />
627. Unicamp-SP<br />
Leia com atenção o poema de Carlos de Oliveira e<br />
responda às questões que se seguem.<br />
Lavoisier<br />
Na poesia,<br />
natureza variável<br />
das palavras,<br />
nada se perde<br />
ou cria,<br />
tudo se transforma:<br />
cada poema,<br />
no seu perfil<br />
incerto<br />
e caligráfico,<br />
já sonha<br />
outra forma.<br />
O princípio elaborado por Lavoisier diz que: na natureza<br />
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.<br />
O que teria levado Carlos de Oliveira a dar a esse<br />
poema o título de Lavoisier?<br />
Texto para as questões 628 e 629.<br />
Samba da caixa preta<br />
(da série Poesia numa hora dessas?)<br />
Nosso amor explodiu no ar<br />
e foi destroço pra tudo que é<br />
lado.<br />
Recuperaram aquele colar<br />
e um bilhete chamuscado<br />
dizendo “não tente me achar,<br />
entre nós está tudo acabado.”<br />
E dentro da caixa preta<br />
o meu coração a pulsar.<br />
Oi, a pulsar.<br />
Luís Fernando Veríssimo<br />
628. Mackenzie-SP<br />
O texto:<br />
a) sugere que, mesmo após o término, tenham restado<br />
marcas de um relacionamento amoroso.<br />
b) expõe a contradição entre as fases de conflito (Nosso<br />
amor explodiu no ar) e aquelas de perfeita harmonia<br />
entre os amantes (o meu coração a pulsar).<br />
c) atribui às freqüentes ações de terroristas a impossibilidade<br />
do amor nos dias atuais.<br />
d) refere-se, por meio do verbo “explodir”, ao momento<br />
em que um amor desabrochou, e, em seguida,<br />
narra o seu desfecho trágico.<br />
e) denota o sarcasmo do “eu” em face da perda da<br />
mulher amada em um acidente aéreo.<br />
629. Mackenzie-SP<br />
É correto afirmar que o Samba da caixa preta:<br />
a) minimiza a intensidade da ruptura amorosa por<br />
meio da exploração de imagens que transmitem<br />
tranqüilidade.<br />
b) se apropria de traços de letras de samba, principalmente<br />
pelo uso de Oi, expressão comum em<br />
performances musicais desse gênero.<br />
c) apresenta subtítulo que reflete a adequação do<br />
tipo de texto à situação em que foi produzido.<br />
d) comprova, por meio do trecho entre aspas, que o<br />
ser amado já havia tentado escapar do eu lírico<br />
muitas vezes.<br />
e) confere maior destaque às características das<br />
personagens e dos espaços do que às da situação<br />
em foco.<br />
630. UFES<br />
O chamado palavrão (“palavra grosseira e/ou obscena”),<br />
quando usado em textos literários, pode produzir diversos<br />
efeitos no leitor, da rejeição à surpresa, do asco ao<br />
humor, do desprezo à reflexão, e até mesmo uma certa<br />
indiferença, dado o desgaste provocado pelo seu uso<br />
cada vez mais indiscriminado na vida cotidiana.<br />
Explique que diferenças, ou semelhanças, há no uso<br />
do palavrão nos textos abaixo, de Gregório de Matos<br />
(Define a sua cidade) e de Rubem Fonseca (Intestino<br />
grosso).
PV2D-07-54<br />
“Se de dous ff composta está a nossa Bahia, errada a<br />
ortografia, a grande dano está posta: eu quero fazer<br />
aposta e quero um tostão perder, que isso a há de<br />
perverter, se o furtar e o foder bem não são os ff que<br />
tem esta cidade ao meu ver.”<br />
“Você não acha que a pornografia falada está desaparecendo?<br />
Nos campos de futebol coros de meninas<br />
entoam esportivamente canções como esta, que ouvi<br />
domingo: Um, dois, três, / quatro, cinco, mil. / Eu quero<br />
que o Flu / vá pra puta que o pariu. Ambas as palavras,<br />
puta e pariu, derivam do palavrão-chave, que é foder.<br />
É evidente que, no caso, as palavras estão tendo um<br />
efeito catártico, de alívio de tensões e pressões.”<br />
631.<br />
Relacione as obras abaixo com seus respectivos<br />
autores.<br />
I Quarup ( ) Fernando Gabeira<br />
II. O que é isso, companheiro? ( ) Lygia Fagundes<br />
Teles<br />
III. O vampiro de Curitiba ( ) Dalton Trevisan<br />
IV. Feliz ano velho ( ) Antônio Callado<br />
V. As meninas ( ) Marcelo Rubens<br />
Paiva<br />
a) I, II, III, V, IV. d) II, V, III, I, IV.<br />
b) V, IV, III, II, I.<br />
c) III, V, I, IV, II.<br />
e) IV, V, II, I, III.<br />
632.<br />
O Paraná também apresenta autores de renome nacional<br />
e internacional. Dentre esses, há um contista<br />
conhecido em vários países do mundo, em cujas<br />
línguas foram traduzidas obras de sua autoria como O<br />
vampiro de Curitiba, Cemitério de elefantes e Novelas<br />
nada exemplares.<br />
Essa consideração inicial associa-se a:<br />
a) Paulo Leminski.<br />
b) Cristóvão Tezza.<br />
c) Emiliano Perneta.<br />
d) Dalton Trevisan.<br />
e) Emílio de Meneses.<br />
633. UFR-RJ<br />
Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres<br />
amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem<br />
uma pedrinha cor-de-bife que faz “tuim” na cabeça da<br />
gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, é<br />
claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura),<br />
onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco.<br />
Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na minha<br />
terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam<br />
apitam de repente e sem hora marcada. Elas não são<br />
mais das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos<br />
camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranqüilidade<br />
e aflição.<br />
BONASSI, Fernando. “15 cenas de descobrimento de Brasis”. In:<br />
MORICONI, Ítalo (org). Os cem melhores contos brasileiros do século.<br />
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 607.<br />
Sobre o uso do nível de linguagem empregado no texto,<br />
é correto afirmar que é:<br />
a) inaceitável, por ser tratar de um texto literário, cujo<br />
nível de linguagem exigido é o culto.<br />
b) adequado às intenções de crítica e de denúncia<br />
do mundo contemporâneo.<br />
c) inadequado para abordar o tema romântico do exílio<br />
de uma perspectiva crítica e contemporânea.<br />
d) aceitável por se tratar de texto literário, mas inadequado<br />
à intenção jornalística do autor.<br />
e) inadequado porque os escritores brasileiros<br />
contemporâneo não falam nem escrevem dessa<br />
maneira.<br />
634. FCMSC-SP<br />
Obras de Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Clarice Lispector<br />
e Lygia Fagundes Telles atestam o fato de que:<br />
a) a linguagem (desagregadora) e a visão do mundo<br />
(reivindicatória, anárquica) dos modernistas de<br />
primeira geração constituem a fonte primeira de<br />
inspiração dos contistas contemporâneos.<br />
b) a poesia de caráter social e reivindicatória tem<br />
caracterizado a criação literária dos autores modernos.<br />
c) estilos muito semelhantes, com traços de neoromantismo,<br />
dominam a criação literária contemporânea.<br />
d) o conto, de tendências diversas (de denúncia<br />
social, intimista, de especulação da existência),<br />
tem sido uma constante da produção literária<br />
contemporânea.<br />
e) romances politicamente comprometidos, neonaturalistas,<br />
de denúncia das mazelas da sociedade,<br />
constituem o aspecto mais importante da literatura<br />
da geração de 1930.<br />
635. FGV-SP<br />
Observe o trecho a seguir, retirado de Cemitério de<br />
elefantes, de Dalton Trevisan.<br />
Há um cemitério de bêbados na minha cidade.<br />
Nos fundos do mercado de peixe e à margem do<br />
rio ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são<br />
felizes. A população considera os animais sagrados,<br />
provê as suas necessidades de cachaça e peixe com<br />
pirão de farinha.<br />
No trivial, contentam-se com as sobras do mercado.<br />
Quando ronca a barriga, ao ponto de perturbar-lhes<br />
a sesta, saem do abrigo e, arrastando os pesados pés,<br />
atiram-se à luta pela vida. Enterram-se no mangue até<br />
os joelhos na caça ao caranguejo ou, tromba vermelha<br />
no ar, espiam a queda dos ingás maduros.<br />
Elefantes mal feridos coçam perebas, sem nenhuma<br />
queixa, escarrapachados sobre as raízes<br />
que servem de cama e cadeira, a beber e beliscar<br />
pedacinho de peixe.<br />
A respeito desse trecho, assinale a alternativa correta.<br />
a) O tratamento dado ao tema é sarcástico e até<br />
satírico.<br />
b) Os pormenores da descrição são índices da revolta<br />
das personagens.<br />
c) O tema caracteriza o texto como um conto policial.<br />
d) O texto trata de um fato do cotidiano narrado com<br />
traços do Neo-realismo.<br />
e) No fragmento, predomina um narrador na primeira<br />
pessoa.<br />
307
Texto para as questões de 636 a 640.<br />
– Vem, Dudu!<br />
O cachorrinho não ia. Dona Casemira preparava<br />
a comida do cachorrinho e levava até ele.<br />
– Está com fome, Dudu?<br />
Dona Casemira botava o prato de comida na frente<br />
do cachorrinho.<br />
– Come tudo, viu, Dudu?<br />
Dona Casemira passava o dia inteiro falando<br />
com Dudu.<br />
– Que dia feio, hein, Dudu?<br />
– Vamos ver nossa novela, Dudu?<br />
– Vamos dar uma volta, Dudu?<br />
Dona Casemira e seu cachorrinho viveram juntos<br />
durante sete, oito anos. Até que Dona Casemira morreu.<br />
E no velório de Dona Casemira, lá estava o cachorrinho<br />
sentado num canto, com o olhar parado. A certa<br />
altura do velório o cachorrinho suspirou e disse:<br />
– Pobre da Dona Casemira...<br />
Os parentes e amigos se entreolharam. Quem dissera<br />
aquilo? Não havia dúvida. Tinha sido o cachorro.<br />
– O que... o que foi o que você disse? – perguntou<br />
um neto mais decidido, enquanto os outros recuavam,<br />
espantados.<br />
– Pobre da Dona Casemira – repetiu o cachorro.<br />
– De certa maneira, me sinto um pouco culpado...<br />
– Culpado por quê?<br />
– Por nunca ter respondido às perguntas dela. (...)<br />
Agora é tarde.<br />
A sensação foi enorme. Um cachorro falando!<br />
Chamem a TV!<br />
– E por que – perguntou o neto mais decidido<br />
– você nunca respondeu?<br />
– É que eu sempre interpretei como sendo perguntas<br />
retóricas...”<br />
Luís Fernando Veríssimo, O analista de Bagé.<br />
636.<br />
O narrador do texto acima:<br />
a) permanece isento em relação aos fatos narrados,<br />
jamais os comentando ou neles interferindo.<br />
b) dá nome, a certa altura, ao sentimento que experimentava<br />
diante da vida da protagonista.<br />
c) indica não ser indiferente à solidão em que vivia<br />
Dona Casemira.<br />
d) é onisciente em relação a Dudu, mas não o é em<br />
relação à dona do cachorro.<br />
e) participa discretamente da ação narrada, sem o<br />
que não seria possível desenvolvê-la.<br />
637.<br />
Na narrativa, a verossimilhança:<br />
a) deve-se à linguagem de dicção infantil, que caracteriza<br />
a história como um típico caso comentado<br />
entre crianças.<br />
b) cede lugar ao elemento supra-real, que possibilita<br />
os efeitos de imprevisível humor.<br />
c) deve-se à cena do velório, por meio da qual se<br />
esclarecem os fatos até então enigmáticos.<br />
d) quebra-se durante o velório, com a interferência<br />
dos parentes e amigos.<br />
e) cede lugar ao humor na cena do velório, reconstituindo-se<br />
imprevisivelmente na última frase.<br />
308<br />
638.<br />
De acordo com o texto considere as seguintes afirmações.<br />
I. O autor vale-se, basicamente, de três espaços<br />
distintos no desenvolvimento da narrativa.<br />
II. O tempo da narrativa não está organizado de modo<br />
linear.<br />
III. As repetições de palavras intentam um efeito de<br />
ingenuidade, a ser quebrado por um fino humor.<br />
Dessas afirmações, apenas:<br />
a) I está correta.<br />
b) II está correta.<br />
c) I e II estão corretas.<br />
d) I e III estão corretas.<br />
e) II e III estão corretas.<br />
639.<br />
Assinale a alternativa em que se analisa corretamente<br />
o tipo de humor criado pelo texto.<br />
a) Combinação entre o macabro e o ridículo.<br />
b) Contraste entre o lírico e o grotesco.<br />
c) Seqüência de clímax e anticlímax.<br />
d) Contraste entre o macabro e o irônico.<br />
e) Combinação entre o fantástico e o irônico.<br />
640.<br />
Indique a seqüência segundo a qual se apresentam no<br />
texto os excepcionais atributos de Dudu.<br />
a) Remorso; análise de discurso; interlocução.<br />
b) Constrangimento; remorso; emprego equivocado<br />
de expressão.<br />
c) Análise de discurso; emprego equivocado de<br />
expressão; melancolia.<br />
d) Equívoco de expressão; conhecimento de figura<br />
de linguagem; remorso.<br />
e) Melancolia; interlocução; conhecimento de figura<br />
de linguagem.<br />
641. UFES<br />
atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendmultipuorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivoracidade<br />
city<br />
cité<br />
O primeiro dos três “versos” do poema “cidade /<br />
city / cité”, de Augusto de Campos, compõe-se de<br />
uma longa “palavra” em que se pode subentender<br />
o termo “cidade” após “atro[cidade]”, “cadu[cidade]”,<br />
“capa[cidade]”, “causti[cidade]”, “dupli[cidade]” e,<br />
assim por diante, até “voracidade”, a que se seguem<br />
os “versos” “city” e “cité”. Com base nessa obra, é<br />
correto afirmar que:<br />
a) a poesia concreta defendia o êxodo urbano, ou<br />
seja, a fuga da cidade para o campo em busca de<br />
condições mais saudáveis de vida.<br />
b) o caráter cosmopolita da poesia concreta se pode<br />
ilustrar com a presença plurilíngüe de vocábulos<br />
como “cidade”, “city” e “cité”.
PV2D-07-54<br />
c) o poema de Augusto de Campos busca, a um tempo,<br />
a “fero[cidade]” e a “simpli[cidade]” da Bossa<br />
Nova e da Tropicália, respectivamente.<br />
d) os poemas concretistas privilegiaram o trabalho<br />
com versos de métrica regular e bastante extensos<br />
(como em “velo[cidade]” e “multipli[cidade]”.<br />
e) o termo “voracidade” (“atributo daquele que<br />
devora”), fechando o verso, confirma o caráter<br />
monótono e homogêneo que a cidade possui.<br />
642. PUCCamp-SP<br />
Possa ser que ele diga oxente Getúlio, mas você<br />
não recebeu o meu recado, que é isso, Getúlio, vá<br />
sentando aí e vamos resolver esse assunto, você é<br />
meus pecados, seu Getúlio. Uma coisa dessas. Eu<br />
digo: o senhor não entendeu o que eu falei. Eu falei que<br />
o homem que o senhor mandou em Paulo Afonso – e<br />
me diga logo, mandou ou não mandou? Me diga logo,<br />
me diga logo! Mandei seu Getúlio, mas a coisa correu<br />
diferente, vamos conversar. (...) Aquele homem que o<br />
senhor mandou nessa condição, no hudso preto com<br />
Amaro, que nem estava lá na hora e estava dormindo<br />
na Chefatura ou olhando os crentes na rua Duque de<br />
Caxias, que ele apreciava os cantos dos crentes, eu<br />
acho, pois então, aquele homem que o senhor mandou<br />
não é mais aquele. Eu era ele, agora eu sou eu.<br />
Nesse trecho do romance Sargento Getúlio, de João<br />
Ubaldo Ribeiro:<br />
a) o narrador-protagonista imagina o que dirá ao<br />
chefe que lhe deu a espinhosa missão, se este<br />
fingir que não se lembra das ordens proferidas<br />
ou se disser que a missão fora atribuída a outra<br />
pessoa.<br />
b) o narrador protagonista, sabendo que caíra numa<br />
armadilha política, pensa em explicar-se com o<br />
chefe, mostrando-lhe o quanto os perigos corridos<br />
reduziram o ímpeto e a valentia do antigo<br />
sargento.<br />
c) o narrador cede a palavra ao protagonista, entrando<br />
em seus pensamentos e revelando o que faria<br />
Getúlio tão logo este se visse cara a cara com o<br />
chefe que lhe dera a missão de trazer o preso a<br />
Aracaju.<br />
d) Getúlio, enraivecido com a recente morte de<br />
Amaro, tece planos de vingança contra o chefe<br />
que lhe ordenara uma viagem da qual ele não<br />
poderia voltar, a menos que renunciasse à própria<br />
identidade.<br />
e) Getúlio projeta um possível diálogo com seu<br />
chefe, a cujas evasivas responderá com fatos e a<br />
quem revelará sentir-se outro homem, depois da<br />
verdadeira saga que foi sua viagem de volta com<br />
o preso.<br />
643. UFRGS-RS<br />
As características apontadas a seguir estão presentes<br />
nos contos de Rubem Fonseca, à exceção de:<br />
a) problematização do homem urbano e da impossibilidade<br />
do relacionamento afetivo estável.<br />
b) dissecação das causas da violência urbana e os<br />
efeitos desta na vida e na psicologia do brasileiro.<br />
c) desvelamento das modificações dos padrões de<br />
comportamento sexual e dos conflitos daí decorrentes.<br />
d) representação dos tipos sociais em suas próprias linguagens,<br />
respeitando estilo e código adequados.<br />
e) utilização de técnicas ultramodernas de comunicação<br />
sem abrir mão de uma utopia comunitária.<br />
644. Fuvest-SP<br />
Os acontecimentos foram sabidos e compreendidos<br />
mediante minha observação pessoal, direta,<br />
ou então, segundo o testemunho de alguns dos<br />
envolvidos. Às vezes interpretei episódios e<br />
comportamentos – não fosse eu um advogado<br />
acostumado, profissionalmente, ao exercício da<br />
hermenêutica.<br />
O trecho acima, de A grande arte, pretende emprestar<br />
credibilidade ou verossimilhança à seguinte técnica<br />
compositiva desse romance:<br />
a) criação de enredos interligados e produção de<br />
suspense.<br />
b) mistura de narrador-personagem e narrador onisciente.<br />
c) junção de monólogo interior e narrativa em terceira<br />
pessoa.<br />
d) associação de ponto de vista subjetivo e objetividade<br />
científica.<br />
e) multiplicação dos focos narrativos e produção do<br />
suspense.<br />
Texto para as questões de 645 a 647.<br />
A nuvem<br />
– Fico admirado como é que você, morando<br />
nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira<br />
sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar!<br />
E meu amigo falou de água, telefone, Light em<br />
geral, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos<br />
na rua, etc. etc. etc.<br />
Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas,<br />
grávido de razões. Mas que posso fazer?<br />
Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se<br />
eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem<br />
é que vai agüentar me ler? Acho que o leitor gosta de<br />
ver suas queixas no jornal, mas em termos.<br />
Além disso, a verdade não está apenas nos<br />
buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade<br />
que as amendoeiras neste inverno deram um<br />
show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar?<br />
E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma<br />
jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses<br />
encantamentos de moça por um senhor maduro<br />
duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que<br />
importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo<br />
terna e gravemente; sem melancolia, porque sem<br />
ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na<br />
brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as<br />
cinzas de meu crepúsculo.<br />
E olhem só que tipo de frase estou escrevendo!<br />
Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para<br />
o chão – e seus tradicionais buracos.<br />
Rubem Braga – Ai de ti, Copacabana!<br />
309
645. Fatec-SP<br />
É correto afirmar que, a partir da crítica que o amigo<br />
lhe dirige, o narrador cronista:<br />
a) sente-se obrigado a escrever sobre assuntos<br />
exigidos pelo público.<br />
b) reflete sobre a oposição entre literatura e realidade.<br />
c) reflete sobre diversos aspectos da realidade e sua<br />
representação na literatura.<br />
d) defende a posição de que a literatura não deve<br />
ocupar-se com problemas sociais.<br />
e) sente que deve mudar seus temas, pois sua escrita<br />
não está acompanhando os novos tempos.<br />
646. Fatec-SP<br />
Em E olhem só que tipo de frase estou escrevendo!<br />
Tome tenência, velho Braga, o narrador:<br />
a) chama a atenção dos leitores para a beleza do<br />
estilo que empregou.<br />
b) revela ter consciência de que cometeu excessos<br />
com a linguagem metafórica.<br />
c) exalta o estilo por ele conquistado e convida-se a<br />
reverenciá-lo.<br />
d) percebe que, por estar velho, seu estilo também<br />
envelheceu.<br />
e) dá-se conta de que sua linguagem não será entendida<br />
pelo leitor comum.<br />
647. Fatec-SP<br />
Com relação ao gênero do texto ao lado, é correto<br />
afirmar que a crônica:<br />
a) parte do assunto cotidiano e acaba por criar reflexões<br />
mais amplas.<br />
b) tem como função informar o leitor sobre os problemas<br />
cotidianos.<br />
c) apresenta uma linguagem distante da coloquial,<br />
afastando o público leitor.<br />
d) tem um modelo fixo, com um diálogo inicial seguido<br />
de argumentação objetiva.<br />
e) consiste na apresentação de situações pouco<br />
realistas, em linguagem metafórica.<br />
Texto para as questões 648 e 649.<br />
Pontuar é sinalizar gramatical e expressivamente um<br />
texto.<br />
Celso Cunha, Gramática do Português Contemporâneo, p.618.<br />
Texto I<br />
– Que bom vento o trouxe a Catumbi a semelhante<br />
hora? perguntou Duarte, dando à voz uma expressão<br />
de prazer, aconselhada não menos pelo interesse que<br />
pelo bom-tom.<br />
– Não sei se o vento que me trouxe é bom ou mau,<br />
respondeu o major sorrindo por baixo do espesso bigode<br />
grisalho; sei que foi um vento rijo. Vai sair?<br />
– Vou ao Rio Comprido.<br />
– Já sei; vai à casa da viúva Meneses. Minha mulher<br />
e as pequenas já devem estar: eu irei mais tarde,<br />
se puder. Creio que é cedo, não? Lopo Alves tirou o<br />
chapéu e viu que eram nove horas e meia. Passou a<br />
mão pelo bigode, levantou-se, deu alguns passos na<br />
sala, tornou a sentar-se e disse:<br />
– Dou-lhe uma notícia, que certamente não espera.<br />
Saiba que fiz... fiz um drama.<br />
– Um drama! Exclamou o bacharel.<br />
Machado de Assis, Contos.<br />
3<strong>10</strong><br />
Texto II<br />
A Chegada<br />
E quando cheguei à tarde na minha casa lá no 27,<br />
ela já me aguardava andando pelo gramado, veio me<br />
abrir o portão pra que eu entrasse com o carro, e logo<br />
que saí da garagem subimos juntos a escada pro terraço,<br />
e assim que entramos nele abri as cortinas do centro e<br />
nos sentamos nas cadeiras de vime, ficando com nossos<br />
olhos voltados pro alto do lado oposto, lá onde o sol ia se<br />
pondo, e estávamos os dois em silêncio quando ela me<br />
perguntou “que que você tem?”, mas eu, muito disperso,<br />
continuei distante e quieto, o pensamento solto na vermelhidão<br />
lá do poente, e só foi mesmo pela insistência<br />
da pergunta que respondi “você já jantou?” e como ela<br />
dissesse “mais tarde” eu então me levantei e fui sem<br />
pressa pra cozinha (ela veio atrás), tirei um tomate da<br />
geladeira, fui até a pia e passei uma água nele, (...)<br />
Raduan Nassar, Um copo de cólera.<br />
648. UFF-RJ<br />
a) A diferença de pontuação nos textos I e II revela<br />
características de escritores que se expressam<br />
segundo estéticas de composição literária distintas.<br />
Identifique, pela forma de expressão de cada<br />
fragmento, a estética literária a que se vinculam.<br />
b) Compare duas diferentes possibilidades de pontuação<br />
– uma feita por Machado de Assis e outra<br />
por Raduan Nassar – em estruturas com funções<br />
semelhantes, apontando o efeito de sentido que<br />
produzem.<br />
649. UFF-RJ<br />
Com base no fragmento de Raduan Nassar (texto II):<br />
a) transcreva um exemplo de regência verbal de uso<br />
coloquial.<br />
b) reescreva a frase – “que que você tem?” – de<br />
acordo com a modalidade escrita culta.<br />
c) identifique, no trecho abaixo, um termo que representa<br />
um recurso de ênfase característico de<br />
estilização da oralidade e dispensável na modalidade<br />
escrita: e logo que saí da garagem subimos<br />
juntos a escada pro terraço, e assim que entramos<br />
nele abri as cortinas do centro e nos sentamos nas<br />
cadeiras de vime, texto II, (linhas 3 - 4 - 5).<br />
650. Fuvest-SP<br />
I. (Fabiano) ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe<br />
dera uma impressão bastante penosa: sempre que<br />
os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele<br />
saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente<br />
só serviam para encobrir ladroeiras.<br />
Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e<br />
empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as.<br />
Para que um pobre da laia dele deve usar<br />
conversa de gente rica?<br />
II. Havia coisas que (Macabéa) não sabia o que<br />
significavam. Uma era “efeméride”. E não é que<br />
seu Raimundo só mandava copiar com sua letra<br />
linda a palavra efemérides ou efeméricas? Achava<br />
o termo efemérides absolutamente misterioso.<br />
Quando o copiava prestava atenção a cada letra<br />
(...) Enquanto isso a mocinha se apaixonara pela<br />
palavra efemérides.
PV2D-07-54<br />
O tema comum aos dois textos é a relação das personagens<br />
com a linguagem culta. Desse ponto de<br />
vista, explique:<br />
a) em que Fabiano e Macabéa se assemelham;<br />
b) em que se distinguem um do outro.<br />
651. Vunesp<br />
No trecho a seguir transcrito, publicado no Pasquim<br />
(18.06.70), Caetano Veloso realiza, na prática, o que<br />
sugere programaticamente em três versos do poema<br />
<strong>Língua</strong>. Depois de ler tal trecho, indique os três versos<br />
mencionados e justifique sua resposta:<br />
deus, brotas. deus, circuladô de fuló do poeta dos campos.<br />
fulano deus. senhor dos lírios. deus, senhor do medo que<br />
tenho dos hippies e de algumas cores. senhor das flores,<br />
dos círculos, dos hexágonos. senhor dos circos, dos curtocircuitos,<br />
dos coitos, das menstruações. deus do momento<br />
em que eu não entendo o nazismo e os soldados outra<br />
coisa do nazismo. do momento em que eu sinto saudade,<br />
do momento em que eu sinto muita saudade porque as<br />
pessoas não se incomodam mais e já não querem senão<br />
deus, as poucas pessoas. deus dos índios sem história e<br />
das praias. deus do círculo da aldeia, do ciclo da história.<br />
da mesa. deus, porque não aprendi a te invocar: brotas<br />
não seja a maldição que minha mãe talvez temeu.<br />
em Alegria, Alegria (uma caetanave organizada por<br />
Waly Salomão). Rio de Janeiro: ~3 Pedra Q Ronca<br />
Ed., s/d., pp. 67-68.<br />
<strong>Língua</strong><br />
Gosto de sentir a minha língua roçar<br />
A língua de Luís de Camões<br />
Gosto de ser e de estar<br />
E quero me dedicar<br />
A criar confusões de prosódia<br />
E uma profusão de paródias<br />
Que encurtem dores<br />
E furtem cores como camaleões<br />
Gosto do Pessoa na pessoa<br />
Da rosa no Rosa<br />
E sei que a poesia está para a prosa<br />
Assim como o amor está para a amizade<br />
E quem há de negar que está lhe é superior<br />
E quem há de negar que esta lhe é superior<br />
E deixa os portugais morrerem à míngua<br />
Minha pátria é minha língua<br />
652. Fuvest-SP<br />
Ana Clara fazendo amor. Lião fazendo comício. Mãezinha<br />
fazendo análise. As freirinhas fazendo doce,<br />
sinto daqui o cheiro quente de doce de abóbora. Faço<br />
filosofia. Ser ou estar. (...) Na cidade me desintegro<br />
porque na cidade eu não sou, eu estou: estou competindo.<br />
(...) Ora, se sacrifico o ser para apenas estar,<br />
acabo me desintegrando (essencial e essência) até<br />
a pulverização total. Vaidade das vaidades. Apenas<br />
vaidade. A conclusão é bíblica, mas responde a todas<br />
as perguntas deste mundo desintegrado e confuso.<br />
a) Fundamentando-se no texto dado, identifique a técnica<br />
narrativa básica de composição de As meninas,<br />
de Lygia Fagundes Telles. Justifique sua resposta.<br />
b) Nesse trecho, apontam alguns dos temas recorrentes<br />
no romance. Identifique pelo menos dois<br />
deles, ilustrando-os com passagens do texto.<br />
653. UFSCar-SP<br />
O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive<br />
nas mais antigas recordações de minha infância: belo,<br />
imenso, no alto do morro, atrás de casa. Agora vem<br />
uma carta dizendo que ele caiu.<br />
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e<br />
morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés<br />
de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge<br />
(que nós chamávamos simplesmente<br />
“tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a<br />
cobiça de toda a meninada do bairro, porque fornecia<br />
centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me<br />
da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens<br />
coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão,<br />
e dos canteiros de flores humildes, “beijos”,<br />
violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao<br />
lado de casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como<br />
árvores sagradas protegendo a família. Cada menino<br />
que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco,<br />
a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e<br />
subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas<br />
do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio<br />
na brisa da tarde.<br />
Rubem Braga: Cajueiro. In: O Verão e as Mulheres. 5a ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 84-5.<br />
O trecho remete-nos a um dos temas preferidos<br />
pelos escritores românticos, que é também um tema<br />
corrente em vários poetas modernistas e muito cultivado<br />
por nossos cronistas. Esse tema, dominante<br />
no trecho, é:<br />
a) a exuberância da natureza tropical.<br />
b) a diversidade das árvores frutíferas brasileiras.<br />
c) o contraste entre o ambiente selvagem e o ambiente<br />
urbano.<br />
d) a saudade da infância.<br />
e) a necessidade de comunicação por carta.<br />
654. FGV-SP<br />
Leia os dois textos a seguir. O texto I contém as duas<br />
estrofes finais da letra da canção Arranha-céu, de<br />
Orestes Barbosa e Sílvio Caldas. O texto II apresenta<br />
uma tradução do poema nº 85, do poeta romano Catulo,<br />
do séc. I a.C. Compare os dois poemas e responda<br />
às questões.<br />
Texto I<br />
(...)<br />
Cansei de olhar as reclames<br />
E disse ao peito: Não ames,<br />
Que esta mulher não te quer.<br />
Descansa. Fecha a vidraça.<br />
Esquece aquela desgraça,<br />
Esquece aquela mulher.<br />
Deitei-me então sobre o peito,<br />
Vieste em sonho ao meu leito<br />
E eu acordei – que aflição!<br />
Pensando que te abraçava,<br />
Alucinado, apertava<br />
Eu mesmo meu coração.<br />
In: Chão de estrelas, J. Ozon Editor, s/d.<br />
311
Texto II<br />
Odeio e amo. Talvez tu me perguntes por que<br />
procedo assim.<br />
Não sei, mas sinto isto dentro de mim e me<br />
angustio.<br />
Tradução de Lauro Mistura.<br />
As características dos textos II e III permitem aproximá-los<br />
de textos:<br />
a) Futuristas. d) Românticos.<br />
b) Concretistas. e) Modernistas.<br />
c) Naturalistas.<br />
Texto para as questões 655 e 656.<br />
Amor<br />
01 A verdade é que devemos tudo aos amores infelizes,<br />
aos amores que não dão certo. A poesia se<br />
faz antes ou depois do amor, ninguém jamais fez<br />
um bom poema durante um amor feliz. Pois se o<br />
amor está tão bom, pra que interrompê-lo? O amor<br />
feliz não é assunto de poesia. Literatura é quando<br />
o amor ainda não veio ou quando já acabou,<br />
literatura durante é mentira. Ou ela é empolgação<br />
ou é remorso, revolta, saudade, tédio, divagação<br />
desesperada – enfim, tudo que dá bom texto.<br />
02 Desconfie de quem explica um estado de exaltação<br />
criativa dizendo que está amando. Algo deve estar<br />
errado.<br />
03 – Você está amando, mas ela não está correspondendo,<br />
é isso?<br />
04 – Não, não. Ela também me ama. É maravilhoso.<br />
05 – É maravilhoso, mas você sabe que não pode<br />
durar, é isso? Seu poema é sobre a transitoriedade<br />
de todas as coisas, sobre o efêmero, sobre o fim<br />
inevitável da felicidade num mundo em que...<br />
06 – Não! É sobre a felicidade sem fim!<br />
07 – Não pode ser.<br />
08 – Mas é. Acabei o poema e vou fazer uma canção.<br />
Depois, talvez, uma cantata. E estou pensando<br />
num romance. Tudo inspirado no nosso amor. Não<br />
posso parar de criar. Estou transbordando de amor<br />
e idéia. Crio dia e noite.<br />
09 – E a mulher amada?<br />
<strong>10</strong> – Quem? Ah, ela. Bom, ela sabe que a atenção<br />
que não lhe dou, dou ao nosso amor perfeito.<br />
11 Está explicado. Ele não canta a amada ou seu<br />
amor. Está fascinado por ele mesmo, amando. E<br />
o poema certamente é ruim.<br />
12 Porque o amor, para ser de verdade, tem de emburrecer.<br />
Só devem lhe ocorrer bobagens para<br />
dizer ou escrever durante um caso de amor. Ou<br />
é kitch, de mau gosto, piegas ou copiado, ou não<br />
é amor. Qualquer sinal de originalidade pode até<br />
ser suspeito.<br />
13 – Esses seus versos para mim... Estão ótimos.<br />
14 – Obrigado.<br />
15 – Essas juras de amor, essas rimas, essa métrica...<br />
De onde você tirou tudo isso?<br />
16 – Eu mesmo inventei. Pensando em você.<br />
17 – Seu falso!<br />
18 – O quê?<br />
19 – Só deixando de pensar em mim por algumas<br />
horas você faria uma coisa assim pensando em<br />
mim. Só tomando distância, escrevendo e reescrevendo,<br />
raciocinando e burilando, você faria isto.<br />
312<br />
Um verso plagiado do Vinícius eu entenderia. Um<br />
verso original, e bom desse jeito, é traição. Só não<br />
sendo sincero você seria tão inteligente!<br />
20 – Mas...<br />
21 – Não fale mais comigo.<br />
22 Pronto. O amor acabou, agora você pode ser criativo<br />
sem remorso. Você está infeliz, mas console-se.<br />
Pense em como isso melhorará o seu estilo.<br />
Adap.: Verissimo, Luis Fernando. O Estado de S. Paulo: 25/07/1999.<br />
655. UFRJ<br />
A partir da leitura do texto, depreende-se que:<br />
a) os textos literários cujo tema é o amor tratam de<br />
um sentimento utópico.<br />
b) os poemas feitos nos momentos de amor são<br />
criativos e interessantes.<br />
c) fazer poemas sobre o amor exige um afastamento<br />
da relação amorosa.<br />
d) só a reciprocidade no relacionamento amoroso<br />
enseja um bom texto poético.<br />
e) os textos verdadeiramente literários são os que<br />
tratam da temática amorosa.<br />
656. UFRJ<br />
Os diálogos, nesse texto, têm a função de:<br />
a) caracterizar o discurso indireto na narrativa.<br />
b) refutar o ponto de vista do autor por meio dos<br />
personagens.<br />
c) reproduzir o ponto de vista dos personagens sobre<br />
o amor.<br />
d) servir de recurso para a argumentação às idéias<br />
do autor.<br />
e) demonstrar o alto grau de alienação daquele que<br />
se sente amando.<br />
657.<br />
A principal preocupação do teatro jesuítico do século<br />
XVI era:<br />
a) divulgar a língua portuguesa aos nativos.<br />
b) “civilizar” os indígenas e dar educação religiosa.<br />
c) desenvolver o gosto pela cultura.<br />
d) desenvolver o teatro profissional no país.<br />
658.<br />
Anchieta fazia autos, como o Auto da pregação universal.<br />
O auto sempre apresenta um fundo religioso.<br />
Quem também escreveu autos foi:<br />
a) Machado de Assis.<br />
b) Bocage.<br />
c) Gil Vicente.<br />
d) Tomás Antônio Gonzaga.<br />
e) Martins Pena.<br />
659. UFPR<br />
Dias Gomes, Ariano Suassuna, Oduvaldo Vianna Filho<br />
e Plínio Marcos são dramaturgos brasileiros contemporâneos<br />
que escreveram, respectivamente:<br />
a) O Santo Inquérito, O auto da compadecida, Rasga<br />
coração, Navalha na carne.<br />
b) O pagador de promessas, Os ossos do barão, O<br />
assalto, O abajur lilás.
PV2D-07-54<br />
c) O berço do herói, A pena e a lei, O último carro,<br />
Quando as máquinas param.<br />
d) As primícias, Álbum de família, À prova de fogo,<br />
Barrela.<br />
e) O rei de Ramos, Farsa da boa preguiça, Senhora<br />
da boca do lixo, Homens de papel.<br />
660.<br />
As primeiras companhias teatrais brasileiras surgiram:<br />
a) no século XVI.<br />
b) no século XVII.<br />
c) no século XVIII.<br />
d) no século XIX.<br />
e) no século XX.<br />
661.<br />
São nomes dos primórdios do teatro de caráter nacional:<br />
a) João Caetano e Martins Pena.<br />
b) Gil Vicente e Plínio Marcos.<br />
c) Dias Gomes e Ariano Suassuna.<br />
d) Martins Pena e Padre Anchieta.<br />
e) Padre Anchieta e Machado de Assis.<br />
662.<br />
Assinale a alternativa que apresenta uma obra que não<br />
pertence a Martins Pena, dramaturgo do Romantismo<br />
brasileiro.<br />
a) O juiz de paz na roça<br />
b) O noviço<br />
c) Auto da Compadecida<br />
d) O Judas em Sábado de Aleluia<br />
e) Quem casa, quer casa<br />
663. UCPR<br />
Coube a_____atingir o ponto mais alto do teatro romântico<br />
brasileiro. Numa linguagem simples e correta, retratou<br />
os variados tipos da sociedade do século XIX.<br />
a) Martins Pena<br />
b) Procópio Ferreira<br />
c) Joaquim Manuel de Macedo<br />
d) Machado de Assis<br />
e) Cornélio Pena<br />
664.<br />
A obra tem como momento histórico da ação a época<br />
da Revolução Farroupilha (RS–1834). Estamos falando<br />
de _______, peça teatral de Martins Pena.<br />
a) O juiz de paz na roça<br />
b) O noviço<br />
c) Os meirinhos<br />
d) Quem casa, quer casa<br />
e) O caixeiro da taverna<br />
665.<br />
Assinale a alternativa incorreta com relação à obra O<br />
noviço, de Martins Pena.<br />
a) A ação de O noviço apresenta evidentes elementos<br />
de farsa, que se observam na ação rápida, irreverente<br />
e debochada e no tom caricatural.<br />
b) A peça é uma comédia de costumes, apresentando<br />
aspectos típicos e pitorescos do cotidiano de uma<br />
sociedade.<br />
c) O noviço é uma obra típica do Romantismo por apresentar<br />
a idealização da realidade e sentimentalismo.<br />
d) Alguns temas da peça são a denúncia de inescrupulosos,<br />
questionamento de vocação forçada<br />
e condenação do patronato.<br />
e) Destacam-se como características românticas na<br />
obra a presença do final feliz e o maniqueísmo.<br />
666.<br />
Assinale a seqüência de obras que completa as afirmativas<br />
a seguir.<br />
I. O autor de Os dois ou o inglês maquinista é o<br />
mesmo de:<br />
II. O autor de O demônio familiar é o mesmo de:<br />
III. O autor de O moço loiro é o mesmo de:<br />
IV. O autor de A capital federal é o mesmo de:<br />
a) O noviço; Iracema; A Moreninha; O dote.<br />
b) O Judas em Sábado de Aleluia; Mãe; O dote; As<br />
doutoras.<br />
c) Caiu o ministério; Leonor de Mendonça; Senhora;<br />
A torre em concurso.<br />
d) Os irmãos das almas; Lucíola; A torre em concurso;<br />
As doutoras.<br />
667.<br />
Assinale a alternativa que apresente um dramaturgo<br />
do século XX.<br />
a) José de Alencar d) João Caetano<br />
b) Gil Vicente e) Dias Gomes<br />
c) Martins Pena<br />
668. UEL-PR<br />
As teses amplas do nacionalismo cênico estribamse<br />
em dois postulados: prestígio à dramaturgia brasileira<br />
e procura de um estilo brasileiro de encenação.<br />
Assim exposto, o programa não pode deixar de ser<br />
aceito por todos que têm consciência estética. Faz<br />
parte daquilo que se chamaria consenso geral, tão<br />
óbvios são os seus propósitos. Sabe-se que não há<br />
grande teatro sem uma correspondente literatura dramática.<br />
[...] Com respeito ao Brasil, a conclusão parece<br />
crucial, assimilado o ensinamento da história: haverá<br />
um teatro brasileiro de mérito quando se impuser uma<br />
dramaturgia independente e autêntica.<br />
Esse é um dado da questão. Como, todavia, o teatro<br />
não se contém no texto e se realiza no espetáculo,<br />
deve-se concluir também que a encenação precisa<br />
ser brasileira. Isto é, não mera cópia das conquistas<br />
técnicas e expressivas dos diretores e intérpretes<br />
europeus e norte americanos, mas o resultado do<br />
aprofundamento da sensibilidade nacional.<br />
MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. 5. ed.<br />
São Paulo: Ática. 1994. p. 90-91.<br />
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o teatro<br />
brasileiro, é correto afirmar:<br />
a) O desenvolvimento da dramaturgia exige uma<br />
postura histórica de resgate de tradições, como fez<br />
a cultura romana com relação aos textos gregos.<br />
313
) A conquista de uma dramaturgia autêntica e independente,<br />
por si só, é suficiente para garantir o caráter<br />
orgânico e nacionalista do teatro brasileiro.<br />
c) A exemplo dos gregos, o teatro brasileiro é nacional,<br />
porque sempre produziu suas obras em<br />
consonância com o seu público contemporâneo.<br />
d) Um brasileiro que se dispõe a interpretar Shakespeare<br />
deverá imitar os grandes atores ingleses<br />
para conseguir a fidelidade da interpretação.<br />
e) O surgimento de um teatro brasileiro autêntico<br />
depende do desenvolvimento de valores cênicos<br />
e de uma dramaturgia nacionais.<br />
669.<br />
Peça de Nélson Rodrigues, desenvolve-se em diferentes<br />
planos; o da vida real, concreta, objetiva; e o<br />
da imaginação, desregrada, libertada. Consiste no<br />
que se pode chamar de “tragédia de memória”, e afirmou-se<br />
como um marco do teatro moderno brasileiro.<br />
Trata-se de:<br />
a) Álbum de família.<br />
b) A falecida.<br />
c) Vestido de noiva.<br />
d) Eles não usam black-tie.<br />
e) Navalha na carne.<br />
Texto para as questões 670 e 671.<br />
Ato Primeiro<br />
Cena I<br />
Ambrósio, só de calça preta e chambre – No<br />
mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintamna<br />
cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não<br />
tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem<br />
pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da<br />
fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são<br />
poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a<br />
empregar todos os meios, não consegue enriquecerse?<br />
Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, eu era<br />
pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei.<br />
O como não importa; no bom resultado está o mérito...<br />
Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se<br />
em algum tempo tiver que responder pelos meus atos,<br />
o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis<br />
criminais fizeram-se para os pobres...<br />
670.<br />
O fragmento acima pertence à obra O noviço. Nele,<br />
Ambrósio apresenta seus métodos e sua cosmovisão<br />
social. Indique o trecho que justifica a seguinte sentença:<br />
Os fins justificam os meios.<br />
671.<br />
Explique a afirmação presente nas três últimas orações<br />
do excerto.<br />
Texto para as questões 672 e 673.<br />
Leia atentamente este fragmento da peça O rei da vela,<br />
de Oswald de Andrade.<br />
Abelardo I: Não faça entrar mais ninguém hoje,<br />
Abelardo.<br />
Abelardo II: A jaula está cheia... Seu Abelardo!<br />
Abelardo I: Mas esta cena basta para nos identificar<br />
perante o público. Não preciso mais falar com nenhum<br />
dos meus clientes. São todos iguais. Sobretudo<br />
314<br />
não me traga pais que não podem comprar sapatos<br />
para os filhos...<br />
Abelardo II: Esse está se queixando de barriga<br />
cheia. Não tem prole numerosa. Só uma filha... Família<br />
pequena!<br />
Abelardo I: Não confunda, seu Abelardo! Família<br />
é uma coisa distinta. Prole é de proletário. A família<br />
requer a propriedade e vice-versa. Quem não tem<br />
propriedades deve ter prole. Para trabalhar, os filhos<br />
são a fortuna do pobre...<br />
672.<br />
Comente o início da segunda fala de Abelardo I.<br />
673.<br />
Pelo fragmento apresentado, você diria que o texto<br />
de Oswald de Andrade pertence ao teatro de temática<br />
social? Justifique a resposta.<br />
674. UFRN<br />
Observe atentamente as seguintes declarações:<br />
1. Sucesso em matéria de crítica e público, Gota<br />
D’água é uma adaptação que Nelson Rodrigues<br />
fez da Medéia, de Eurípedes, transportando-a para<br />
uma favela do subúrbio carioca.<br />
2. Martins Pena, com sua comédia de costumes<br />
permeada por sutil sátira social e realismo ingênuo,<br />
pode ser considerado o responsável pela<br />
consolidação do teatro brasileiro.<br />
3. Em Eles não usam Black-tie, marco da dramaturgia<br />
brasileira, Oduvaldo Viana aborda a luta de operários<br />
por condições de vida menos ultrajantes.<br />
4. Na peça O pagador de promessas, Dias Gomes<br />
apresenta o drama de um homem simples que,<br />
buscando salvar seu animal de estimação, luta<br />
contra toda uma sociedade.<br />
O total correspondente à soma dos números que<br />
antecedem as declarações incorretas é:<br />
a) 8 d) 5<br />
b) 7 e) 4<br />
c) 6<br />
675.<br />
De Vestido de Noiva, peça de teatro de Nelson Rodrigues,<br />
considerando o tema desenvolvido, não se<br />
pode dizer que aborda.<br />
a) o passado e o destino de Alaíde por meio de suas<br />
lembranças desregradas.<br />
b) o delírio de Alaíde caracterizado pela desordem da<br />
memória e confusão entre a realidade e o sonho.<br />
c) o mistério da imaginação e da crise subconsciente<br />
identificada na superposição das figuras de Alaíde<br />
e de Madame Clessi.<br />
d) o embate entre Alaíde, com suas obsessões e<br />
Lúcia, a mulher-de-véu, antagonista e um dos<br />
móveis da ação.<br />
e) a vida passada de Alaíde revelada no casual achado<br />
de um velho diário e de um maço de fotografias.<br />
676. Unicamp-SP<br />
Considera-se a estréia da peça Vestido de noiva<br />
(1943), de Nelson Rodrigues, um marco na renovação<br />
do teatro brasileiro. Cite a principal novidade estrutural<br />
da peça e comente.
PV2D-07-54<br />
677. Unicamp-SP<br />
Por que no encerramento da peça uma rubrica indica<br />
que a Marcha Nupcial e a Marcha Fúnebre devem ser<br />
executadas simultaneamente?<br />
As questões 678 e 679 tomam por base um<br />
fragmento de peça teatral Dr. Getúlio, sua vida e<br />
sua glória, de Dias Gomes (1922-1999) e Ferreira<br />
Gullar (1930).<br />
Segunda Parte<br />
[...]<br />
Cessa a Bateria<br />
Autor<br />
E enquanto essas coincidências<br />
iam assim coincidindo,<br />
num clube então existente,<br />
um homem muito ladino<br />
fazia uma conferência<br />
sobre um tema pertinente,<br />
com este título: “Como<br />
se depõe um Presidente”.<br />
Volta a Bateria. Entram homens e mulheres, todos com<br />
lanternas. Entre eles, vêm também as Aves de Rapina.<br />
Lacerda entra no meio do grupo que percorre o palco<br />
dançando e logo forma um círculo, no centro do qual,<br />
sobre um praticável, fica o conferencista.<br />
Lacerda<br />
É simples:<br />
em primeiro lugar<br />
é preciso levantar<br />
a bandeira moralista:<br />
mostrar que o Governo é corrupto,<br />
composto de chantagistas,<br />
de ladrões,<br />
de rufiões,<br />
cafetões e vigaristas,<br />
de tubarões,<br />
charlatães,<br />
maganões<br />
e descuidistas.<br />
Isto é muito importante.<br />
Com a bandeira moralista<br />
ganha-se então por inteiro<br />
a famosa classe média,<br />
que sonha ter em virtudes<br />
o que lhe falta em dinheiro.<br />
E como a virtude é rara<br />
e difícil de provar,<br />
torna-se fácil apontar<br />
corrupção no governo.<br />
Gatunagem,<br />
malandragem,<br />
ladroagem,<br />
tratantagem<br />
(Discursa)<br />
Enquanto o povo dorme, os gatunos agem.<br />
In: Gomes, Dias & Gullar, Ferreira. Dr. Getúlio, sua vida e sua glória.<br />
678. Vunesp<br />
A ação da peça teatral Dr. Getúlio, sua vida e sua glória,<br />
de Dias Gomes e Ferreira Gullar, se desenvolve numa<br />
quadra de escola de samba como ensaio de um enredo<br />
sobre a vida de Getúlio Vargas. No trecho transcrito, a<br />
personagem Autor introduz a personagem Lacerda,<br />
que passa a discorrer sobre o melhor modo de depor o<br />
presidente. Releia o trecho e, a seguir, responda.<br />
a) Ao sugerir a seus correligionários que levantem<br />
a “bandeira moralista” para abalar o governo, a<br />
personagem acaba incorrendo numa contradição<br />
também de ordem moral. Analisando a própria fala<br />
de Lacerda, demonstre essa contradição.<br />
b) Explique, com base no contexto, o significado dos<br />
versos “...a famosa classe média / que sonha ter<br />
em virtudes / o que lhe falta em dinheiro”.<br />
679. Vunesp<br />
As repetições de elementos podem tornar-se expressivas,<br />
particularmente quando apresentam implicações<br />
de ordem semântica e estilística nas frases em que<br />
ocorrem. Releia com atenção a fala da personagem<br />
Lacerda e, a seguir:<br />
a) demonstre que a rima em – agem na última seqüência<br />
da fala de Lacerda (de “Gatunagem” até “os gatunos<br />
agem”) não é somente um processo de repetição de<br />
sons, mas tem implicações no plano do conteúdo;<br />
b) explique a razão pela qual a personagem se serve<br />
intensamente de repetições e redundâncias em seu<br />
discurso.<br />
680. Vunesp<br />
A questão baseia-se numa cena do texto dramático<br />
Auto da compadecida.<br />
Chicó — Mas padre, não vejo nada de mal em se<br />
benzer o bicho.<br />
João Grilo — No dia em que chegou o motor novo<br />
do major Antônio Morais o senhor não benzeu?<br />
Padre — Motor é diferente, é uma coisa que todo<br />
mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.<br />
Chicó — Eu acho cachorro uma coisa muito melhor<br />
do que motor.<br />
Padre — É, mas quem vai ficar engraçado sou<br />
eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo<br />
mundo faz isso, mas benzer cachorro?<br />
João Grilo — É, Chicó, o padre tem razão. Quem<br />
vai ficar engraçado é ele e uma coisa é benzer motor<br />
do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do<br />
major Antônio Morais.<br />
Padre (mão em concha no ouvido) — Como?<br />
João Grilo — Eu disse que uma coisa era o motor<br />
e outra o cachorro do major Antônio Morais.<br />
Padre — E o dono do cachorro de quem vocês<br />
estão falando é Antônio Morais?<br />
João Grilo — É. Eu não queria vir, com medo<br />
de que o senhor se zangasse, mas o major é rico e<br />
poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de<br />
perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas disse<br />
a Chicó: o padre vai se zangar.<br />
Padre (desfazendo-se em sorrisos) — Zangar<br />
nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter<br />
direito de se zangar? Falei por falar, mas também vocês<br />
não tinham dito de quem era o cachorro!<br />
João Grilo (cortante) — Quer dizer que benze,<br />
não é?<br />
315
316<br />
Padre (a Chicó) — Você o que é que acha?<br />
Chicó — Eu não acho nada mais.<br />
Padre — Nem eu. Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus.<br />
Ariano Suassuna, Teatro Moderno. Auto da compadecida.<br />
A espontaneidade dos diálogos, a força poética de seu texto e a capacidade de exprimir o espírito popular<br />
de nossa gente fazem com que o escritor Ariano Suassuna (1927) seja reconhecido como um dos principais<br />
autores brasileiros contemporâneos. Diz o crítico Sábato Magaldi que a religiosidade de Ariano pode espantar<br />
aos cultores de um catolicismo acomodatício, mas responde às exigências daqueles que se conduzem por<br />
uma fé verdadeira.<br />
Com base nessa observação, responda às questões a seguir.<br />
a) Por que, segundo aquele padre, é fácil benzer um motor?<br />
b) Em que sentido o fragmento apresentado encerra uma crítica ácida ao modo como o padre comanda a<br />
sua paróquia?
PV2D-07-54<br />
<strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong> 5 – Gabarito<br />
01. C 02. B<br />
03. F, V, V, V, F<br />
04. F, V, V, V, F<br />
05. A<br />
06. a) “Não tem o raquitismo exaustivo<br />
dos mestiços neurastênicos<br />
do litoral.”<br />
b) O autor é claramente influenciado<br />
pelo Determinismo, o<br />
qual afirma que o meio (A<br />
terra), a raça (O homem) e<br />
o momento histórico (A luta)<br />
determinam o comportamento<br />
humano.<br />
c) Na verdade, o fenômeno<br />
social é a miséria, a ignorância,<br />
o fanatismo religioso<br />
e a marginalização política a<br />
que ficam sujeitos os sertanejos<br />
nordestinos.<br />
07. B 08. B<br />
09. 23 (01 + 02 + 04 + 16)<br />
<strong>10</strong>. E 11. C<br />
12. a) Ironiza o fato de muitos<br />
acreditarem que o Brasil<br />
se resume a seu litoral e a<br />
algumas cidades.<br />
b) Esse momento literário<br />
acaba por focalizar questões<br />
que estavam além do<br />
eixo Rio – São Paulo, ou<br />
ainda, distante das questões<br />
burguesas apenas, atingindo<br />
a periferia das grandes<br />
cidades, como fez Lima<br />
Barreto.<br />
13. Graça Aranha: Canaã; Lima<br />
Barreto: Clara dos anjos; Monteiro<br />
Lobato: Urupês; Euclides<br />
da Cunha: À margem da história.<br />
14. B 15. A 16. D<br />
17. D 18. C<br />
19. A simplicidade.<br />
20. 51 (01 + 02 + 16 + 32)<br />
21. C 22. D 23. B<br />
24. D 25. D 26. E<br />
27. C 28. A 29. B<br />
30. E 31. B<br />
32. A estrada não é descrita, tendo<br />
em vista a riquesa natural da<br />
área, mas em seus aspectos<br />
àridos e difíceis.<br />
33. D<br />
34. a) A terceira parte de Os sertões,<br />
de Euclides da Cunha,<br />
denomina-se “A luta”.<br />
b) “Canudos não se rendeu”<br />
c) “(...) rugiam raivosamente<br />
(...)”<br />
d) O que descrevia era tão<br />
dolorosamente absurdo que<br />
poucos acreditariam.<br />
35. a) Determinismo.<br />
b) Explicava as ações humanas<br />
a partir de três fundamentos:<br />
o meio, a raça e o momento.<br />
A adesão de Euclides da<br />
Cunha às teses deterministas<br />
aparece em vários pontos<br />
do livro. No trecho citado,<br />
o meio ambiente (no caso, o<br />
clima quente) age de forma<br />
decisiva na determinação<br />
da conformação moral dos<br />
habitantes (marcada pela<br />
apatia e pela incapacidade<br />
natural ao trabalho intelectual).<br />
c) O Naturalismo, cujas idéias<br />
tomavam por base concepções<br />
científicas, entre as<br />
quais as do Determinismo.<br />
36. A natureza é mostrada de forma<br />
viva e atuante (superando o<br />
sentido puramente científico do<br />
relato), influenciando no desenrolar<br />
dos acontecimentos que<br />
teriam lugar ali. e) As 4expressões<br />
que indicam a ação da natureza<br />
são: “a caatinga o afoga”,<br />
“agride”, “estonteia”, “enlaça”,<br />
“repulsa” etc. Repare que essas<br />
imagens mostram uma natureza<br />
plena de contradições, que,<br />
ajuizadas, serão as causas<br />
mais profundas da guerra que<br />
o livro narra.<br />
37. M, J, M<br />
38. B 39. C<br />
40. Deve ser assinalada a declaração<br />
O porte físico do jagunço<br />
contraria o aprimoramento<br />
evolutivo da espécie.<br />
41. Corretas: III e IV.<br />
42. A primeira das quatro declarações<br />
está errada, porque é<br />
a “A luta”, e não “A terra”, que<br />
nasce da reportagem escrita por<br />
Euclides da Cunha, enquanto<br />
correspondente de O Estado<br />
de São Paulo. “A terra” e “O<br />
homem” foram partes anexadas<br />
posteriormente à cobertura in<br />
loco das operações militares<br />
em Canudos. A segunda declaração<br />
é falsa, por afirmar que<br />
Os sertões “Adotam um estilo<br />
de oratória religiosa, quando<br />
descrevem as crenças dos jagunços.”.<br />
Se Oratória se define<br />
como a prática ou a arte do<br />
bem dizer, com vistas a ensinar,<br />
persuadir e comover, a oratória<br />
religiosa se expressa sob as<br />
formas de sermão, homilia,<br />
panegírico e oração fúnebre, e<br />
serve para incutir no ouvinte os<br />
dogmas e as verdades de uma<br />
determinada religião. Não é isso<br />
que se observa em Os sertões.<br />
O cientificismo de Euclides da<br />
Cunha o impede de defender<br />
crenças religiosas e o leva a<br />
considerar o messianismo de<br />
Canudos um retrocesso do<br />
cristianismo ao judaísmo. A terceira<br />
declaração é verdadeira,<br />
pois, em Os sertões ,“A luta”<br />
focaliza episódios heróicos de<br />
viagem e guerra, a exemplo<br />
das construções épicas. O<br />
envio de tropas caracteriza o<br />
deslocamento geográfico dos<br />
combatentes e o teor bélico da<br />
campanha. O próprio escritor<br />
refere-se a Canudos como a<br />
“Tróia de taipa dos jagunços”,<br />
reconhecendo a grandiosidade<br />
épica dos feitos. A quarta declaração<br />
é igualmente verdadeira,<br />
pois Os sertões desenvolvem<br />
considerações de ordem científica<br />
e abrigam proposições que<br />
serão sustentadas durante toda<br />
a obra. Como se sabe, uma tese<br />
pode ser de natureza literária,<br />
filosófica, científica e reunir<br />
subsídios múltiplos. Em “A luta”,<br />
observam-se as contribuições<br />
da Antropologia, da Geografia,<br />
da Sociologia, da Psicologia, da<br />
Biologia e de outros campos de<br />
317
conhecimento, arregimentados<br />
para defender, por exemplo,<br />
a proposição de que a guerra<br />
animaliza o civilizado.<br />
43. a) O romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, pois trata<br />
de forma crítica e realista<br />
a realidade dos retirantes<br />
nordestinos retratados na<br />
família de Fabiano.<br />
b) Porque, ainda que influenciado<br />
pelo determinismo<br />
do século XIX, Euclides<br />
da Cunha retrata de forma<br />
realista e crítica a realidade<br />
do sertão.<br />
44. C 45. A 46. E<br />
47. E 48. D 49. C<br />
50. Quaresma estudou a nossa<br />
geografia, conhecia o nome dos<br />
nossos heróis, a língua tupi, o<br />
folclore, sempre com um elevado<br />
sentimento de patriotismo.<br />
51. E 52. B 53. A<br />
54. B 55. D<br />
56. a) Lima Barreto é considerado<br />
autor pré-modernista porque<br />
antecipa características do<br />
modernismo como: nacionalismo<br />
crítico, linguagem<br />
coloquial.<br />
b) Triste fim de Policarpo Quaresma<br />
/ Recordações do<br />
escrivão Isaías Caminha /<br />
Clara dos Anjos<br />
57. a) Armando Borges é médico.<br />
É um mau-caráter, engana<br />
os outros e apropria-se de<br />
artigos médicos alheios. Ao<br />
caracterizar seu estilo de<br />
escrever como “clássico”,<br />
Lima Barreto reforça a idéia<br />
de que a personagem representa<br />
a tradição, o academicismo<br />
vazio e falso.<br />
b) O romance caracteriza-se<br />
pela linguagem coloquial,<br />
oposta, portanto, à linguagem<br />
de Armando Borges.<br />
Essa característica pode ser<br />
considerada antecipação do<br />
Modernismo.<br />
58. Porque Policarpo idealizou a<br />
pátria a partir de seus estudos<br />
da geografia, do folclore, da língua,<br />
da música, da agricultura<br />
e da política do Brasil. No final,<br />
vê que tudo resultara inútil e<br />
318<br />
desilude-se por não conseguir<br />
realizar as reformar radicais<br />
com que sonhara.<br />
59. F, V, V, F, F<br />
60. Corretas: 01, 02, 16, 32.<br />
61. B<br />
62. a) O requerimento escrito por<br />
Policarpo sugerindo a adoção<br />
do tupi-guarani como<br />
língua oficial e a adoção<br />
de hábitos indígenas, como<br />
cumprimentar as pessoas<br />
chorando.<br />
b) Policarpo é integro e idealista.<br />
Parte de um ideal de<br />
pátria e choca-se com a<br />
pátria real, que o consome.<br />
63. O poema, na seqüência, relaciona<br />
as três partes de que se<br />
compõe a obra máxima de Euclides<br />
da Cunha. Até a palavra<br />
chão, o texto alude à 1ª parte<br />
de Os sertões – A terra –, até<br />
a 1ª palavra meses, a alusão é<br />
à 2ª parte – O Homem – e daí<br />
até o final revela-se a 3ª parte<br />
– A Luta – e algumas das suas<br />
implicações.<br />
64. E<br />
65. Essa afirmação está correta. O<br />
esforço da obra para penetrar<br />
fundo na realidade brasileira é<br />
percebido principalmente por<br />
meio da crítica às figuras carreiristas,<br />
pedantes, bajuladoras e<br />
incompetentes que se utilizam<br />
do patriotismo ingênuo para<br />
subir socialmente e exercer<br />
poder.<br />
66. a) O homem do violão é Ricardo<br />
Coração dos Outros.<br />
b) Porque ele era o professor<br />
de violão de Policarpo.<br />
c) Ao requerimento apresentado<br />
pelo major para transformar<br />
em tupi-guarani a nossa<br />
língua oficial.<br />
67. V, V, V, V, V, F<br />
68. B<br />
69. O autor a que se refere o texto<br />
é Lima Barreto. Dentre seus<br />
romances, destacam-se Recordações<br />
do escrivão Isaías Caminha<br />
e Triste fim de Policarpo<br />
Quaresma.<br />
70. B 71. E 72. C<br />
73. E 74. C 75. A<br />
76. B 77. A 78. A<br />
79. B 80. E<br />
81. Angústia diante da vida: em<br />
todo o poema e já a partir do<br />
título.<br />
Imagem da decomposição da<br />
carne: nas duas últimas estrofes<br />
Linguagem exótica: palavras<br />
como carbono, amoníaco, epigênese,<br />
hipocondríaco, verme,<br />
podre, carnificina.<br />
Como pode se observar, Augusto<br />
dos Anjos não negligencia<br />
a forma: usa soneto e versos<br />
decassílabos.<br />
82. B 83. E<br />
84. a) Mamparreiro = vadio, preguiçoso.<br />
b) Para Lobato, fazendeiro<br />
no interior de São Paulo, a<br />
explicação para a apatia, a<br />
indolência e a incapacidade<br />
produtiva do Jeca encontrava-se<br />
nas facilidades de<br />
sobrevivência proporcionadas<br />
pela mandioca, milho e<br />
cana. Se em Urupês e Velha<br />
Praga (1914) Lobato atribuía<br />
preponderância às teses<br />
raciais e climáticas para a<br />
pobreza, chegando a culpar<br />
o trabalhador do campo por<br />
sua condição, nos artigos de<br />
1918 refletia sobre a questão<br />
nacional do saneamento. E<br />
através de uma explicação<br />
médica-científica que Lobato,<br />
preocupado com a reprodução<br />
da força de trabalho<br />
improdutiva, mudaria a sua<br />
concepção do caboclo brasileiro.<br />
A inficiência do Jeca<br />
não era mais uma questão<br />
de inferioridade racial, mas<br />
sim um problema médicosanitário.<br />
O caipira é doente.<br />
Ele é pobre porque é doente<br />
e assim não produz. Esta<br />
mudança de concepção passava<br />
pela crença positiva de<br />
Lobato na ciência.<br />
85. B 86. C 87. D<br />
88. A 89. E 90. B<br />
91. D 92. C<br />
93. A preocupação com a observação<br />
e com a interpretação da<br />
realidade brasileira.
PV2D-07-54<br />
94. F, F, F, V, V, V<br />
95. A 96. C 97. E<br />
98. D 99. A<br />
<strong>10</strong>0. O excerto de Álvaro de Campos<br />
relaciona-se ao futurismo,<br />
que valoriza a superexitação<br />
vertiginiosa dos sentidos, provocada<br />
pela velocidade, pelo<br />
delírio, pelo ritmo febril da<br />
sociedade industrial.<br />
<strong>10</strong>1. A<br />
<strong>10</strong>2. a) Fernando Pessoa, com tal<br />
poema, denuncia os erros,<br />
prejuízos e sofrimentos<br />
decorrentes das Grandes<br />
Navegações no cotidiano<br />
da vida portuguesa.<br />
b) O adjetivo “pequena” aponta<br />
para a idéia de visão de<br />
mundo limitada, incapacidade<br />
de retirar lições de<br />
vida, mesmo em situações<br />
adversas.<br />
<strong>10</strong>3. a) Apenas o caos, o acaso.<br />
b) Não haveria regras, apenas<br />
a liberdade, postura oposta<br />
à dos clássicos, que seguem<br />
regras e são rígidos<br />
na forma.<br />
<strong>10</strong>4. D <strong>10</strong>5. Futurismo<br />
<strong>10</strong>6. E <strong>10</strong>7. E <strong>10</strong>8. B<br />
<strong>10</strong>9. D 1<strong>10</strong>. B 111. E<br />
112. C 113. A 114. C<br />
115. B 116. E 117. E<br />
118. D 119. B 120. D<br />
121. Ambos os textos são metalingüísticos,<br />
pois discutem o<br />
próprio fazer artístico.<br />
122. A sensação de desapontamento<br />
é comum, segundo Rachel<br />
de Queiroz, porque o texto<br />
produzido não corresponde<br />
ao esforço despendido em sua<br />
produção.<br />
123. A ave simboliza a liberdade e<br />
para isso é preciso ter asa. No<br />
plano imagético, as asas estariam<br />
sugeridas na letra “V”,<br />
que remete às asas abertas<br />
de um pássaro. Esse “vôo” da<br />
letra V se expande pelo texto<br />
na retomada fonética do som<br />
/v/ em palavras como “suave”,<br />
“leve”, “amavio”, “vida”, “vôo”.<br />
124. Ao ver o vôo da ave, o eu lírico<br />
se entristece (1a estrofe), já<br />
que dessa forma conscienti-<br />
za-se do fato de não ser livre,<br />
de não “ter não sei quê do<br />
vôo suave” dentro do seu ser<br />
(última estrofe).<br />
125. As interrogações refletem o<br />
intenso questionamento do eu<br />
lírico. Haver uma única e longa<br />
resposta sugeriria a impossibilidade<br />
de respostas fáceis<br />
ou diretas a esse processo de<br />
auto-análise.<br />
126. C 127. A 128. E<br />
129. A<br />
130. a) O pronome ele tem como<br />
referente o poeta, enquanto<br />
eles é referência aos<br />
leitores (os que lêem).<br />
b) Em relação a ele há duas<br />
dores, a sofrida e a fingida,<br />
já que em relação a eles<br />
há qualquer dor que não<br />
seja sentida e identificada,<br />
devido a sua inconsciência<br />
diante da vida.<br />
131. D<br />
132. Esses versos pertencem a<br />
Alberto Caeiro. Como podemos<br />
perceber, Alberto Caeiro<br />
escreve com uma linguagem<br />
simples e com um vocabulário<br />
limitado de um poeta camponês<br />
pouco ilustrado. Pratica<br />
o realismo sensorial, numa<br />
atitude de rejeição às atitudes<br />
da poesia simbolista.<br />
133. Os títulos fazem referência aos<br />
heterônim os do autor, os<br />
quais são faces da personalidade<br />
do poeta que buscou<br />
apresentar a complexidade e<br />
a multiplicidade do homem.<br />
134. D 135. D<br />
136. A<br />
137. a) Alberto Caeiro representa o<br />
“camponês sábio”, o “guardador<br />
de rebanhos”; o poeta<br />
que se insurge contra a<br />
poesia, contra tudo o que<br />
certa tradição consagrou<br />
como poética (a rima, a<br />
métrica, a linguagem figurada,<br />
as metáforas). É um<br />
pensador que se expressa<br />
em versos e que propõe<br />
uma “filosofia” contra a especulação<br />
filosófica, contra<br />
a abstração, contra a metafísica,<br />
contra o misticismo.<br />
b) Nos dois textos, há o despojamento<br />
(apontado no<br />
item anterior). Em Caeiro,<br />
a simplicidade da “forma”<br />
é também “conteúdo”, intenção,<br />
programa. Por isso,<br />
realiza uma poesia intencionamente<br />
prosáica, com<br />
o livre andamento da prosa,<br />
enfática, redundante,<br />
com os recursos retóricos<br />
de quem visa a convencer<br />
e não a encantar ou comover,<br />
mesmo que, muitas<br />
vezes, encante exatamente<br />
pela simplicidade. É a linguagem<br />
de um camponês<br />
inculto.<br />
138. E<br />
139. a) Ao pedir que o sepultem<br />
“sem cruz”, Alberto Caeiro<br />
explicita sua rejeição ao<br />
cristianismo ao dizer, na<br />
seqüência, que “foi buscar<br />
os deuses”. Mostra uma<br />
recusa ao monoteísmo e<br />
uma aceitação implícita ao<br />
paganismo.<br />
b) A palavra “deuses” mostra<br />
a recusa de Caeiro à nação<br />
de um princípio unitário,<br />
abstrato, antecedente. Vai<br />
nessa mesma direção o<br />
sentido do verso “A natureza<br />
é partes sem um<br />
todo”. O que interessa a<br />
Caeiro são as coisas em si,<br />
concretas e singulares, as<br />
flores, as árvores, os rios,<br />
e não o conceito generalizante<br />
que as engloba sob<br />
o nome de “natureza”.<br />
140. B 141. C 142. D<br />
143. B 144. D<br />
145. a) As marcas formais que<br />
realçam a monotonia a<br />
que se refere o tema do<br />
poema são: as rimas, que<br />
se repetem ao longo de<br />
todo o poema (ia/ou/ia/ou);<br />
o último verso de cada<br />
estrofe, que é exatamente<br />
o mesmo (“Desde ontem<br />
a cidade mudou.”), funcionando<br />
como uma espécie<br />
de refrão; e, finalmente<br />
(e mais fracamente), a<br />
distribuição em quadras<br />
da organização estrófica<br />
do poema.<br />
319
) A quebra da monotonia,<br />
para o poeta, é provocada<br />
pela morte do dono da<br />
tabacaria em frente da<br />
qual ele passava todos os<br />
dias.<br />
c) A morte do dono da tabacaria<br />
vem quebrar a<br />
monotonia da vida do eu<br />
lírico porque o local e seu<br />
dono serviam para ele<br />
como ponto de referência<br />
(“Um ponto de referência<br />
de quem sou.”); assim,<br />
essa perda representa para<br />
ele igualmente perda de<br />
parte de sua identidade (“é<br />
morte aquilo onde estou.”),<br />
bem como reconhecimento<br />
de sua insignificância no<br />
mundo que o rodeia (“Se<br />
morrer, não falto”).<br />
146. O futurismo faz apologia ao<br />
mundo moderno, à máquina, à<br />
velocidade. Os segmentos que<br />
justificam: “um motor exprime<br />
/ ser completo como uma<br />
máquina / triunfante como um<br />
automóvel / calores de carvão”<br />
etc.<br />
147. A 148. C 149. D<br />
150. B<br />
151. a) Álvaro de Campos<br />
b) Alberto Caeiro<br />
c) Ricardo Reis<br />
152. E 153. B 154. A<br />
155. A 156. B<br />
157. a) Para o poeta, o piano é<br />
um artifício imitador da<br />
natureza, uma intromissão<br />
humana (aliás, inútil) na<br />
busca da perfeição (associada<br />
à natureza).<br />
b) O piano representa a própria<br />
arte na sua ânsia de se<br />
aproximar da essência na<br />
natureza para exprimi-la.<br />
158. A primeira e a terceira estrofes<br />
do Poema X podem ser associadas<br />
a Fernando Pessoa. A<br />
primeira, por indicar a possibilidade<br />
de entrever algum significado<br />
além do identificável<br />
imediatamente pelos sentidos;<br />
a terceira, pela expressividade<br />
melancólica e abstrata. A<br />
segunda e a quarta estrofes<br />
320<br />
podem ser associadas a Alberto<br />
Caeiro, pela maneira como,<br />
em ambas, o “guardador de<br />
rebanhos” trata a Natureza:<br />
como algo concreto, acabado<br />
em si, sem nenhum significado<br />
exterior ou interior.<br />
159. a) A entrada para a Academia<br />
Italiana de Letras.<br />
b) Álvaro de Campos se<br />
mostra desiludido com a<br />
rendição do poeta italiano<br />
ao chamado acadêmico.<br />
c) O texto I, de Marinetti, evidencia<br />
o posicionamento dos<br />
futuristas contrários à vida<br />
acadêmica, razão pela qual<br />
Álvaro de Campos manifesta<br />
sua desilusão diante do que<br />
considera um retrocesso,<br />
uma traição do fundador do<br />
movimento aos seus próprios<br />
princípios.<br />
160. A 161. D 162. D<br />
163. C 164. C 165. D<br />
166. A 167. C<br />
168. Corretas: 2 e 3. 169. A<br />
170. C 171. D 172. E<br />
173. C 174. A 175. D<br />
176. O texto Hagar, o Horrível permite<br />
uma leitura irônica do Romantismo<br />
e do Parnasianismo<br />
pela presença da natureza, pela<br />
expressão enfática de emoções<br />
(o emprego das exclamações)<br />
e pela preocupação formal (“é<br />
só colocar rima nisso aí”) como<br />
característica da expressão<br />
poética.<br />
O texto Radical Chic, em uma<br />
combinação de linguagem verbal<br />
e não-verbal, trabalha ironicamente<br />
com uma se-qüência<br />
de idéias que se desconstroem<br />
no último quadro, buscando a<br />
expressão do humor – uma<br />
das características presentes<br />
no Modernismo.<br />
177. D 178. A<br />
179. V, V, F, F, V<br />
180. a) Sim. O poeta usa a linguagem<br />
para falar sobre a<br />
linguagem.<br />
b) Versos livres, oralidade e<br />
liberdade temática.<br />
181. B<br />
182. F, V, V, V, F<br />
183. <strong>10</strong> (02 + 08) 184. D<br />
185. A 186. D 187. C<br />
188. A 189. B 190. C<br />
191. D 192. A 193. C<br />
194. D 195. C 196. B<br />
197. E 198. E 199. A<br />
200. D 201. D 202. D<br />
203. D 204. A 205. C<br />
206. a) A presença do índio.<br />
b) “que nem”, “gatão”.<br />
207. Versos livres e linguagem<br />
coloquial.<br />
208. a) Meus oito anos, de Casimiro<br />
de Abreu.<br />
b) Metrificação irregular, coloquialismo<br />
(plano formal);<br />
apelo ao cotidiano do eu<br />
lírico, prosaísmo (situações).<br />
c) “Fazendo grandes planos/E<br />
chutando lata”. Há a contradição<br />
entre uma coisa<br />
séria, pensar no futuro, e o<br />
descompromisso de chutar<br />
lata.<br />
209. A 2<strong>10</strong>. D 211. C<br />
212. D 213. B 214. C<br />
215. E 216. E 217. E<br />
218. V, F, V, F<br />
219. F, F, F, V<br />
220. A 221. E 222. A<br />
223. D 224. D 225. B<br />
226. A 227. D<br />
228. Os recursos formais valorizados<br />
pela linguagem modernista<br />
são: linguagem coloquial,<br />
liberdade formal. Esses recursos<br />
podem ser associados<br />
à experiência de que trata o<br />
poema: a busca de liberdade<br />
no aproveitamento das vivências<br />
mais corriqueiras.<br />
229. E 230. C<br />
231. 45 (01 + 04 + 08 + 32)<br />
232. C 233. E 234. B<br />
235. D 236. E 237. B<br />
238. D<br />
239. Para Mário de Andrade, dançar<br />
com religião é dançar de<br />
forma espontânea, prazerosa<br />
e feliz.<br />
240. a) o que falta pra certos<br />
moços de tendência modernista<br />
brasileiros é isso:
PV2D-07-54<br />
gostarem de verdade da<br />
vida. Eu não posso compreender<br />
um homem de<br />
gabinete e vocês todos,<br />
do Rio, de Minas, do Norte<br />
me parecem um pouco de<br />
gabinete demais; estudar é<br />
bom e eu também estudo.<br />
Mas depois do estudo do<br />
livro e do gozo do livro, ou<br />
antes vem o estudo e gozo<br />
da ação corporal. Fique<br />
sabendo duma coisa, se<br />
não sabe ainda: é com<br />
essa gente que se aprende<br />
a sentir e não com a<br />
inteligência e a erudição<br />
livresca.<br />
b) Mário de Andrade vê uma<br />
incorporação de elementos<br />
e valores da cultura popular<br />
à cultura erudita.<br />
241. a) Uma interpretação possível<br />
é “não há, de jeito nenhum,<br />
caminho para os amantes<br />
da Terra”. Outra interpretação<br />
é de que “não há<br />
caminho idêntico para os<br />
amantes da Terra”.<br />
b) A interpretação mais adequada<br />
é “não há caminho<br />
idêntico para os amantes<br />
da Terra” pois, de acordo<br />
com o texto, como as terras<br />
do Rio, de Minas e do Norte<br />
são admiráveis, longas<br />
caminhadas por esses<br />
caminhos seriam sempre<br />
interessantes. Já a interpretação<br />
de que “não há,<br />
de jeito nenhum, caminho<br />
para os amantes da Terra”<br />
torna o texto sem sentido.<br />
242. a) Albino: “fraco e submisso”<br />
José: “dignidade custora de<br />
um gesto de rebeldia.”<br />
Joaquim Prestes: “autoritarismo<br />
caprichoso e arbitrário<br />
que se arroga todos os<br />
direitos.”<br />
b) Sim, pois o poço representa<br />
os riscos e a submissão que<br />
engolem os trabalhadores.<br />
243. a) Porque o personagem tem<br />
sua existência vinculada ao<br />
trabalho.<br />
b) Sentia-se um vagabundo.<br />
244. B 245. A 246. B<br />
247. B 248. C 249. E<br />
promete a ser fiel a uma<br />
250. D 251. D 252. A<br />
das filhas de Vei, a Sol;<br />
253. C 254. C 255. B<br />
porém, ao brincar com uma<br />
256. E 257. A<br />
259. C 260. B<br />
262. E<br />
263. V, V, V, V, V<br />
264. C 265. A<br />
258. C<br />
261. C<br />
266. E<br />
portuguesa, ele quebra<br />
sua promessa. Dentro do<br />
contexto da obra, entregarse<br />
à portuguesa revela a<br />
opção de Macunaíma pela<br />
sedução dos valores euro-<br />
267. B 268. D 269. B<br />
peus. Ele, portanto, deixa<br />
270. V, F, V, F<br />
de afirmar uma identidade<br />
271. V, V, F, F<br />
tropical (solar) própria, o<br />
272. C 273. C<br />
que configuraria a “opção<br />
274. a) Os três povos que forma- pela América”.<br />
ram nossa raça.<br />
b) Possíveis respostas: (1)<br />
b) A nacionalidade é explora- Macunaíma é o herói sem<br />
da neste episódio por meio nenhum caráter e, como ele<br />
do mito das três raças que nos representa (os brasilei-<br />
a constituem. A mistura é ros), a civilização européia<br />
abençoada, na medida em não poderia esculhambar<br />
que os três homens do epi- o “nosso caráter”. (2) Pelo<br />
sódio são irmãos. Pode-se fato de que, no contexto<br />
perceber aí, portanto, uma do livro, Macunaíma é que<br />
alusão à suposta democracia<br />
racial brasileira.<br />
esculhamba os valores<br />
europeus. (3) A afirmação<br />
275. a) Sim, Brás Cubas aspira ao expressa o despeito do<br />
gozo, ao poder e à glória, herói. No capítulo em ques-<br />
evidenciando uma trajetória<br />
individualista e indisciplinada<br />
que o afasta de<br />
ideologias, permitindo-lhe<br />
“se abandonar a todo repertório<br />
de idéias, gestos<br />
e formas que encontre em<br />
seu caminho.”<br />
b) Sim. “Macunaíma, o herói<br />
sem nenhum caráter”<br />
demonstra um comportatão,<br />
ele procura um jeito de<br />
ir atrás de Piaimã, que foi<br />
se curar na Europa. Tenta,<br />
sem sucesso, uma bolsa<br />
do governo para custear<br />
sua viagem. Não ir à Europa,<br />
portanto, não ocorre<br />
por convicção patriótica.<br />
278. A 279. E 280. C<br />
281. C 282. E 283. A<br />
mento contraditório, mul- 284. A 285. C 286. D<br />
tifacetado e de conduta 287. A 288. E 289. D<br />
complexa, guiado pelo<br />
prazer, pelo medo e pelo<br />
oportunismo.<br />
276. O subtítulo “o herói sem nenhum<br />
caráter” remete a “herói<br />
290. A 291. B<br />
293. E 294. C<br />
296. B 297. A<br />
299. F, F, V, V, V<br />
292. C<br />
295. B<br />
298. D<br />
descaracterizado” (malan- 300. E 301. D 302. B<br />
dragem, esperteza), distin- 303. C 304. D 305. B<br />
guindo-o do herói indianista 306. A Antropofagia propõe a<br />
romântico. Trata-se de um pro- seleção e o aproveitamento<br />
tagonista sem características<br />
consolidadas (o país é jovem,<br />
o povo está em formação) e<br />
sem característica única devido<br />
ao hibridismo em mescla<br />
cultural (rural urbano, tradição,<br />
modernidade).<br />
277. a) Não. No episódio em questão,<br />
Macunaíma se com-<br />
das influências culturais que<br />
formaram nossa nação, somando-as<br />
e mesclando-as<br />
com a nossa cultura, com a<br />
nossa raiz, propondo uma<br />
releitura de nossa História a<br />
partir desta ótica.<br />
307. E 308. C<br />
321
309. a) Quanto à forma, o texto<br />
caracteriza-se como prosa,<br />
quanto ao conteúdo, pode<br />
ser considerado como poesia,<br />
tendo em vista as<br />
subjetividades, o realismo<br />
fantástico ou ao menos improvável,<br />
além do gênero<br />
lenda.<br />
b) Não só pelo título, mas até<br />
mesmo pelo conteúdo, o<br />
texto remete a Macunaíma<br />
(Mário de Andrade), pelo<br />
registro da mitologia brasileira.<br />
3<strong>10</strong>. E<br />
311. “triturando-os” – “digerindo-os”<br />
312. O trecho destacado aponta<br />
para procedimentos significativos<br />
do projeto modernista:<br />
– a reflexão crítica sobre o<br />
passado;<br />
– a afirmação da cultura<br />
nacional;<br />
– a síntese das influências<br />
externas e internas, resultante<br />
da avaliação crítica da<br />
cultura nacional (conforme<br />
Movimento antropófago).<br />
313. Inventividade, utilização de neologismos,<br />
frases curtas, períodos<br />
independentes, fragmentação<br />
(fleches de memória),<br />
entre outras características<br />
inovadoras.<br />
314. a) O quarto verso do poema<br />
exprime o ressentimento<br />
do enunciador diante da<br />
aculturação do índio brasileiro<br />
pelo colonizador<br />
português.<br />
b) Os três últimos versos do<br />
poema estabelecem uma<br />
relação antitética com os<br />
três primeiros. Nestes,<br />
o autor aponta o que é<br />
a realidade histórica de<br />
descaracterização da cultura<br />
indígena; naqueles,<br />
afigura-se uma história potencial<br />
e mágica, sonhada<br />
pelo poeta, em que o índio<br />
pudesse ter influenciado a<br />
cultura européia. (O índio<br />
teria despido/O português).<br />
Cabe, ainda, lembrar que<br />
os três últimos versos, de<br />
natureza volitiva, reforçam<br />
322<br />
o quarto verso do texto<br />
(Que pena!).<br />
c) O poema, como um todo,<br />
estabelece com o Manifesto<br />
uma relação de reforço.<br />
Critica o índio cristianizado,<br />
europeizado. Mostra o aniquilamento<br />
do pensamento<br />
selvagem pela cultura racional<br />
do Ocidente, mas<br />
com aproveitamento ideológico<br />
das sugestões de<br />
cor local (índio vestido de<br />
Senador do Império; Contra<br />
o índio de tocheiro).<br />
Há, ainda, uma investida<br />
contra a idealização do<br />
índio, na construção alegórica<br />
de Alencar e dos românticos<br />
(Ou figurando nas<br />
óperas de Alencar cheio de<br />
bons sentimentos).<br />
315. a) No texto I, há o sincretismo<br />
religioso que aponta para<br />
a antropofagia também<br />
na utilização de um vocabulário<br />
que mistura várias<br />
fontes lingüísticas.<br />
b) No texto I, Macunaíma<br />
se revela nas suas práticas<br />
religiosas, com sua<br />
linguagem peculiar. Já o<br />
texto II apresenta ironia<br />
com relação ao discurso<br />
bem elaborado, mas pobre<br />
de conteúdo. Macunaíma<br />
utiliza uma linguagem que<br />
não é sua e soa de forma<br />
falsa.<br />
316. Os dois traços aparecem na<br />
paródia do discurso religioso. A<br />
vertente “destrutiva” pode ser<br />
observada na desconstrução<br />
do Pai Nosso; a “construtiva”<br />
fica evidente na reconstrução<br />
poética dessa prece, acrescentando-lhe<br />
novos elementos<br />
que garantem a dimensão<br />
estética do poema.<br />
317. E 318. A 319. E<br />
320. A 321. D 322. D<br />
323. C 324. C 325. B<br />
326. E 327. D 328. D<br />
329. C 330. A<br />
331. V, V, F, F, V<br />
332. E 333. C 334. A<br />
335. E 336. D<br />
337. “Bebi o café que eu mesmo<br />
preparei.”<br />
338. C 339. E<br />
340. A defesa da liberdade de expressão<br />
absorvendo o coloquialismo<br />
e as características da <strong>Língua</strong><br />
<strong>Portuguesa</strong> falada no Brasil.<br />
341. D 342. B 343. A<br />
344. D 345. E<br />
346. O texto I pertence ao Romantismo,<br />
e o texto II ao Modernismo.<br />
A relação amorosa,<br />
no texto I, caracteriza-se pelo<br />
lirismo e pela idealização. No<br />
texto II, a relação se caracteriza<br />
pela irreverência.<br />
347. O poeta acostuma-se e passa<br />
a aceitar Teresa como criatura<br />
de Deus e natural.<br />
348. a) A interjeição “Meu Deus!”<br />
indica a insatisfação e a<br />
surpresa do poeta.<br />
b) A seqüência “um cão”,<br />
“um gato”, “um rato”, “um<br />
homem” recebe o nome de<br />
gradação.<br />
349. a) O texto remete ao poema<br />
Canção do exílio, de Gonçalves<br />
Dias, especialmente<br />
nos primeiros versos, mas<br />
é possível, ainda, notarmos<br />
referências a Carlos Drummond<br />
de Andrade, no trecho<br />
“intensa poesia”, e ao<br />
livro Rosa do povo. Cite-se,<br />
também, que o último verso<br />
do texto faz lembrar Guimarães<br />
Rosa e o ambiente<br />
básico de sua obra Grande<br />
sertão: Veredas, além da<br />
referência à futura eleição<br />
de Guimarães Rosa à Academia<br />
Brasileira de Letras,<br />
nos versos 2, 3, 4, 5 e 6.<br />
b) Não, pois se trata de redondilhas<br />
maiores (sete<br />
sílabas), como no poema<br />
Canção do exílio, de<br />
Gonçalves Dias, ao qual<br />
Manuel Bandeira parodia.<br />
350. a) Há o uso dos diminutivos<br />
que remetem à linguagem<br />
infantil (“ternurinhas”,”bich<br />
inho”), além de uma certa<br />
“informalidade gramatical<br />
em “dor de coração”, “Levava<br />
ele”, “Pra” e a maneira<br />
prosaica, simples, franca
PV2D-07-54<br />
com que confessa sua<br />
paixão.<br />
b) A “dor de coração” que<br />
lhe dava era proveniente<br />
de um sentimento de rejeição,<br />
de indiferença do<br />
porquinho, assim como da<br />
namorada, a tudo que o eu<br />
lírico fazia para demonstrar<br />
seu sentimento (“não fazia<br />
caso nenhum das minhas<br />
ternurinhas”).<br />
351. A 352. E 353. D<br />
354. C 355. A 356. C<br />
357. E 358. B 359. C<br />
360. C 361. D 362. D<br />
363. C 364. E 365. C<br />
366. C 367. C<br />
368. a) Beppino, que já havia andado<br />
de automóvel no enterro<br />
de sua tia Peronetta, relata<br />
ao amigo Gaetaninho a<br />
sensação prazerosa de<br />
passear de carro.<br />
b) A narrativa gira em torno<br />
do desejo de Gaetaninho<br />
e dos meninos pobres do<br />
Brás de andar de carro, já<br />
que eles tinham acesso,<br />
quando muito, ao bonde.<br />
Ironicamente, Gaetaninho<br />
só anda de automóvel<br />
quando morre atropelado<br />
pelo bonde.<br />
c) Os nomes das personagens<br />
da narrativa (Beppino,<br />
Gaetaninho, Filomena) caracterizam<br />
as personagens<br />
como imigrantes (ou filhos<br />
de) italianos que vivem em<br />
bairros de nítida ambientação<br />
ítalo-paulistana – Brás,<br />
Bexiga e Barra Funda – e<br />
que constituem o próprio<br />
título da obra.<br />
369. a) No primeiro texto, o efeito<br />
é cômico; no segundo,<br />
aumenta a expressividade<br />
da descrição.<br />
b) Alcântara Machado é modernista<br />
e satiriza o romance<br />
romântico, enquanto<br />
Alencar é escritor romântico.<br />
370. A 371. D 372. A<br />
373. D 374. D 375. B<br />
376. D 377. F, V, V, V, F<br />
378. C<br />
379. 31 (01 + 02 + 04 + 08 + 16)<br />
380. D 381. E 382. C<br />
383. A 384. D 385. D<br />
386. 14 (02 + 04 + 08) 387. D<br />
388. O texto de Murilo Mendes é<br />
uma paródia de “Canção do<br />
exílio”, de Gonçalves Dias. Enquanto<br />
o texto romântico traz<br />
uma visão ufanista da pátria,<br />
Murilo Mendes, em sua “Canção<br />
do exílio”, traz uma visão<br />
crítica da terra natal. Exibe a<br />
face realista do Brasil: país da<br />
miscigenação, dominado pela<br />
cultura estrangeira, com sua<br />
fauna e sua flora em extinção.<br />
Após traçar esse retrato da<br />
pátria, revela um sentimento<br />
de saudade da pátria verdadeira.<br />
389. a) O texto de Murilo Mendes<br />
pode ser associado ao<br />
surrealismo pelas imagens<br />
oníricas que constrói.<br />
b) O autor desestrutura o<br />
senso e instaura o contra-senso<br />
com a relação<br />
que estabelece entre os<br />
verbos e os substantivos,<br />
como se pode notar no 2o ,<br />
no 3o e no 4o versos, entre<br />
outros.<br />
390. Deodoro usa linguagem coloquial,<br />
descontraída e inadequada,<br />
uma vez que seu<br />
interlocutor é o imperador. Já<br />
o imperador embora utilize<br />
uma linguagem mais contida,<br />
revela, em seu discurso, uma<br />
postura de descaso incompatível<br />
com sua posição e com a<br />
gravidade da situação. Esses<br />
diferentes registros de língua<br />
ironizam e criticam o fato histórico<br />
em questão.<br />
391. D 392. A 393. C<br />
394. D 395. C 396. A<br />
397. C 398. E 399. C<br />
400. E 401. E 402. B<br />
403. V, F, V, F, V<br />
404. E 405. D<br />
406. a) “Com as mesmas vinte<br />
palavras / girando ao redor<br />
do sol”. Estes versos configuram<br />
um dos principais<br />
atributos do romancista<br />
alagoano, que desperta<br />
admiração do poeta pernambucano:<br />
a concisão,<br />
a economia vocabular,<br />
a proverbial “secura” de<br />
sua dicção exata, objetiva,<br />
apegada ao essencial e<br />
refratária à adjetivação, à<br />
subordinação, ao ornamental.<br />
b) Os dois-pontos, pospostos<br />
ao nome do romancista,<br />
indicam a enumeração de<br />
seus atributos, das qualidades<br />
que constituem<br />
o texto do poema e seu<br />
conteúdo.<br />
407. a) Sim, Luís da Silva, narrador<br />
de Angústia, era descendente<br />
de antigos proprietários<br />
rurais, mas empobrece<br />
e vive do baixo salário que<br />
recebe como funcionário<br />
público.<br />
b) Como o próprio narrador se<br />
define, ele e os outros iguais<br />
a ele são parafusos sem<br />
utilidade, ou seja, são indivíduos<br />
incapazes de agir, de<br />
mudar a situação. São seres<br />
insignificantes na máquina<br />
social, frustrados e inquietos,<br />
pois têm consciência de<br />
que nada vai mudar.<br />
c) A narrativa afirma que<br />
parafusos fazem “voltas<br />
num lugar só”. Há no texto<br />
imagens, como a da cobra,<br />
por exemplo, que sempre<br />
se voltam numa construção<br />
típica de alguém obcecado<br />
por certos temas (reflexo<br />
de sua desordem interior).<br />
O próprio título da obra já<br />
remete a uma idéia fixa,a<br />
uma dor que não cessa,<br />
o eterno retorno de um<br />
sofrimento.<br />
408. Gondim considera que, para<br />
haver literatura, a linguagem<br />
precisa distanciar-se da fala<br />
cotidiana.<br />
Uma dentre as possibilidades:<br />
• um artista não pode escrever<br />
como fala.<br />
• Se eu fosse escrever como<br />
falo, ninguém me leria.<br />
323
324<br />
O narrador considera que o<br />
texto literário deve se aproximar<br />
da fala cotidiana.<br />
Há lá ninguém que fale dessa<br />
forma!<br />
409. Duas dentre as referências:<br />
• a posse do capital pelo<br />
narrador;<br />
• o poder de comando do<br />
narrador;<br />
• a divisão do trabalho na<br />
composição da obra;<br />
• a posterior propriedade<br />
sobre o produto final, ou<br />
seja, o livro;<br />
• a escola, representada<br />
no texto pelas normas da<br />
gramática escolar;<br />
• a autoridade religiosa.<br />
4<strong>10</strong>. a) Enquanto Paulo Honório<br />
teve pouca escolaridade,<br />
Madalena era professora.<br />
b) Paulo Honório é um empreendedor<br />
capitalista. Raramente<br />
teve suas vontades<br />
contrariadas. O conflito<br />
surge quando se casa com<br />
Madalena, que era mais<br />
humanista e sensível, contrapondo-se<br />
ao marido.<br />
411. a) A palavra “preguiçando” é<br />
formada por sufixação e<br />
“desasnar” é formada por<br />
parassíntese.<br />
b) “Ficar preguiçando” dá<br />
idéia de que os indivíduos<br />
a que o narrador se refere<br />
não trabalham, mas se a<br />
palavra for substituída por<br />
“descansando” dá idéia de<br />
que os indivíduos fazem<br />
uma pausa no trabalho,<br />
que é depois retomado.<br />
No caso de “desasnar”, a<br />
palavra significa deixar de<br />
ser asno, com conotação<br />
negativa, grosseira. Já<br />
“aprender” tem conotação<br />
positiva.<br />
c) Podemos compreender que<br />
os dicionários são registros<br />
de palavras usadas na língua.<br />
O uso das palavras<br />
é constatado em fontes<br />
escritas. Daí pode ser possível<br />
concluir que a “data<br />
de entrada” de uma palavra<br />
na língua pode ser anterior<br />
àquela registrada no dicionário,<br />
pois a palavra pode<br />
ter sido usada na linguagem<br />
oral bem antes de ser utilizada<br />
na linguagem escrita.<br />
412. C 413. C 414. B<br />
415. D 416. C 417. E<br />
418. B 419. V, V, V, F, V<br />
420. V, F, V, V, V<br />
421. B 422. B 423. B<br />
424. E 425. D 426. E<br />
427. B<br />
428. a) A animalização das personagens<br />
humanas que<br />
acaba por deixar a personagem<br />
Baleia quase<br />
“humana”.<br />
b) Graciliano Ramos.<br />
429. A dificuldade para se comunicar<br />
e defender seus direitos<br />
e o aspecto abrutalhado de<br />
Fabiano.<br />
430. a) Drummond se mostra<br />
anticapitalista ao demonstrar<br />
consciência de classe<br />
(“preso à minha classe<br />
e a algumas roupas”) e<br />
ao utilizar o jogo entre as<br />
palavras “mercadorias” e<br />
“melancolias” numa crítica<br />
ao consumismo.<br />
b) Há clara dificuldade de<br />
comunicação (“muros surdos”),<br />
já que há outras camadas<br />
semânticas (“sob a<br />
pele das palavras, há cifras<br />
e códigos”) nas palavras.<br />
Há o sentido conotativo<br />
que nem sempre é compartilhado<br />
por todos, ainda<br />
mais na linguagem poética<br />
em que isso se potencializa.<br />
431. O capítulo “Baleia” deu origem<br />
ao romance Vidas secas. Nele,<br />
Baleia adoece e Fabiano a<br />
mata, temendo que sofra de<br />
hidrofobia e passe a doença<br />
para os meninos. Esse capítulo<br />
é importante porque a<br />
cachorrinha, humanizada pelo<br />
narrador, é um parâmetro de<br />
humanidade que ora se contrapõe<br />
à desumanidade dos<br />
seres humanos, ora parece<br />
representar um veículo de<br />
humanização.<br />
432. A<br />
433. O texto anterior refere-se ao<br />
romance Vidas secas.<br />
434. E 435. A 436. B<br />
437. B 438. E 439. A<br />
440. A 441. C 442. E<br />
443. A 444. D 445. B<br />
446. D<br />
447. E<br />
448. Ciclo da cana-de-açucar (Menino<br />
de engenho, Doidinho,<br />
Bangüê, O moleque Ricardo,<br />
Usina); ciclo do cangaço, misticismo<br />
e seca (Pedra bonita e<br />
Cangaceiro); obras independentes<br />
(Pureza, Riacho doce,<br />
Água-mãe e Eurídice).<br />
449. 1a – “O mestre José Amaro”:<br />
nesta primeira parte, caracteriza-se<br />
o seleiro José Amaro,<br />
sua mulher e sua filha louca.<br />
2a – “O engenho de seu Lula”:<br />
narra-se o apogeu e a decadência<br />
do engenho Santa Fé<br />
e de seu proprietário, o coronel<br />
Lula de Holanda.<br />
3a – “Capitão Vitorino”: a<br />
terceira parte da obra trata<br />
de um dos heróis quixotescos<br />
de nossa literatura, o capitão<br />
Vitorio Carneiro da Cunha,<br />
compadre de José Amaro.<br />
450. “... eu vira ruir,...”<br />
451. D 452. D 453. B<br />
454. Ambos são narrativas em<br />
primeira pessoa, montadas a<br />
partir de lembranças infantis<br />
de vivências em internatos.<br />
455. a) O livro apresenta a decadência<br />
de um ciclo econômico<br />
no Nordeste, e Fogo morto<br />
indica o fim de um ciclo: o<br />
dos engenhos de açúcar.<br />
b) Vidas secas, de Graciliano<br />
Ramos, e Terras do semfim,<br />
de Jorge Amado.<br />
456. a) Cometeu-se um “erro” de<br />
concordância verbal. Com<br />
efeito, o sujeito composto<br />
“Deus do céu e o meu santo<br />
mártir S. Sebastião” exigirá<br />
o verbo no plural, já que<br />
esse verbo vem posposto<br />
ao sujeito.<br />
b) – Deus do céu e o meu santo<br />
mártir S. Sebastião te mandaram<br />
para perto de mim.
PV2D-07-54<br />
457. E 458. B 459. D<br />
460. E 461. V, V, V, V, V<br />
462. V, F, F, F, F 463. D<br />
464. C 465. C 466. D<br />
467. B 468. 65 (01 + 64)<br />
469. C 470. E<br />
471. a) O erotismo, que estaria<br />
presente em praticamente<br />
todas as obras do escritor,<br />
principalmente a partir de<br />
Gabriela, cravo e canela.<br />
b) No texto, a mulher aparece<br />
como um misto de ingenuidade<br />
infantil e sensualidade<br />
vibrante: “Tudo podia<br />
ser, ela parecia uma criança,<br />
as coxas e os seios à<br />
mostra como se não visse<br />
mal naquilo, como se nada<br />
soubesse daquelas coisas,<br />
fosse toda inocência”.<br />
c) De fato, para envolver e<br />
aproximar o leitor do erotismo<br />
da cena, o narrador<br />
apela para o olfato (o cheiro<br />
de cravo que exala de Gabriela)<br />
e para o tato (as mãos<br />
titubeantes de Nacib).<br />
472. E 473. E 474. B<br />
475. D 476. C 477. C<br />
478. 57 (01 + 08 + 16 + 32)<br />
479. D 480. A 481. D<br />
482. Entre outras, destacam-se a<br />
síntese, o uso de versos livres<br />
e o humor.<br />
483. A<br />
484. O eu lírico passa da recusa/<br />
rejeição à proposta/recomendação.<br />
485. A 486. A<br />
487. Uma dentre as alternativas:<br />
– avesso à emoção lírica;<br />
– contrário ao arrebatamento<br />
lírico;<br />
– incompatível com a veemência<br />
lírica.<br />
488. Uma dentre os versos: “Lá<br />
estão os poemas que esperam<br />
ser escritos.”, “Ei-los sós e mudos,<br />
em estado de dicionário.”<br />
Em ambos os trechos, as<br />
palavras nada significam ou<br />
comunicam, porque estão<br />
isoladas e inativas.<br />
489. Nesta crônica sobre as condições<br />
e as contradições do<br />
dizer, Drummond mostra, em<br />
especial na frase “O dizer de<br />
um precisa ser acionado pelo<br />
dizer do outro”, como aquilo<br />
que se diz depende da circunstância<br />
em que se diz e para<br />
quem se diz. Nesse sentido,<br />
o diálogo, isto é, a interação<br />
entre as pessoas é a fonte<br />
que faz florescer, que aciona a<br />
linguagem, enriquecendo-a e<br />
transformando-a. Observe que<br />
embora esta questão se concentre<br />
em apenas um pedaço<br />
do texto, ela pede uma leitura<br />
do seu conjunto, justamente<br />
por tratar-se de um pedaço<br />
– síntese, que engloba o texto<br />
como um todo.<br />
490. “Entre o dizível e o indizível,<br />
balança a criação do poeta...”;<br />
“Dizer o que jamais soube ser<br />
dito...”; “Haverá algo a dizer,<br />
absolutamente infalível...”<br />
Especialmente no último parágrafo<br />
do texto, Drummond<br />
deixa de falar da relação entre<br />
as pessoas em geral e os dizeres<br />
para, de forma indireta mas<br />
perceptível, colocar-se como<br />
manipulador de vocábulos,<br />
como poeta, como alguém em<br />
constante luta pela expressão,<br />
pela linguagem.<br />
491. V, V, V, F, F 492. D<br />
493. B 494. A 495. D<br />
496. B 497. D 498. A<br />
499. V, V, V, F, F 500. B<br />
501. B<br />
502. C 503. B 504. A<br />
505. E<br />
506. a) Ser triste, infeliz.<br />
b) Gênero lírico.<br />
507. 20 (04 + 16)<br />
508. Os elementos típicos da obra<br />
de Vinícius de Moraes são: o<br />
erotismo, o tom coloquial, o<br />
elogio da beleza feminina: a<br />
exploração de formas tradicionais<br />
(no caso, versos em<br />
redondilha maior), as referências<br />
ao cotidiano.<br />
509. Há rigor formal (soneto decassílabo)<br />
e o conteúdo é uma das<br />
marcas do autor: a mistura entre<br />
o amor e a sensualidade.<br />
5<strong>10</strong>. E<br />
511. a) Desvalimento.<br />
b) Onda, nuvem, frágil, elementos<br />
etéreos que não<br />
dão sustentação a ninguém:<br />
fugazes, voláteis, deixam o<br />
poeta só e desvalido quando<br />
passam.<br />
512. D<br />
513. Há diferença entre os modos<br />
de Quitéria e Tibério reagirem<br />
diante da presença da morte.<br />
Ela mostra-se aberta aos<br />
sinais de envelhecimento e<br />
da passagem do tempo, reconhecendo<br />
a naturalidade da<br />
morte – como em “Os nossos<br />
filhos estão criados, não precisam<br />
mais de nós” –, enquanto<br />
Tibério, segundo a visão de<br />
Quitéria, prefere se manter<br />
distante dos indícios de proximidade<br />
do fim da vida, como<br />
em “tens medo de pensar na<br />
tua morte”.<br />
514. D 515. B 516. B<br />
517. B 518. A 519. A<br />
520. A 521. B 522. B<br />
523. A 524. B 525. B<br />
526. D 527. B<br />
528. No trecho acima, o narrador<br />
fala de suas próprias dificuldades<br />
para contar a história.<br />
529. O narrador-personagem é<br />
Riobaldo. A personagem ambígua<br />
é Reinaldo, chamado<br />
de Diadorim apenas por Riobaldo,<br />
sendo Diadorina sua<br />
verdadeira identidade.<br />
530. Grande sertão: veredas. Seu<br />
autor é Guimarães Rosa.<br />
531. C 532. B 533. A<br />
534. A 535. E 536. B<br />
537. A 538. D 539. A<br />
540. E 541. D 542. C<br />
543. B 544. B<br />
545. Sim. O padre faz uso da linguagem<br />
regionalista, própria<br />
do homem do sertão; adequada<br />
à compreensão do seu<br />
interlocutor, Augusto Matraga,<br />
homem rude, criado e vivido<br />
no sertão.<br />
546. A frase do texto que tem o sentido<br />
equivalente é: Deus mede<br />
a espora pela rédea, e não tira<br />
o estribo do pé de arrependido<br />
nenhum...<br />
325
547. C 548. B 549. E<br />
550. D<br />
551. a) Desfeitio<br />
Na expressão “o desfeitio<br />
da vida”, pode-se ressaltar<br />
o sentido de que a vida não<br />
tem feição ou configuração<br />
certa.<br />
b) Uma dentre as formas:<br />
• muito inteligente<br />
• bastante inteligente<br />
• bem inteligente<br />
• deveras inteligente<br />
• assaz inteligente<br />
• inteligentíssimo<br />
552. a) “Darandina”, de Guimarães<br />
Rosa, aborda as fronteiras<br />
entre a normalidade e a<br />
loucura. O ponto climático<br />
da história ocorre no momento<br />
em que o pretenso<br />
louco desce da escada e<br />
exclama enfaticamente<br />
Viva a luta! Viva a liberdade!<br />
e é ovacionado pela<br />
multidão, o que leva o<br />
leitor ao questionamento<br />
da loucura.<br />
b) O conto Tarantão, meu<br />
patrão mostra um velho de<br />
escasso juízo que sai em<br />
sua última cavalgada para<br />
matar o sobrinho Magrinho.<br />
Depois de muitas aventuras,<br />
surge o anticlímax,<br />
sem o esperado desfecho<br />
trágico, novamente questionando<br />
o leitor sobre a<br />
loucura.<br />
553. a) Ninhinha está vinculada a<br />
um espaço rural mais afastado<br />
e primitivo. É também<br />
um espaço mítico, que se<br />
instaura já a partir dos topônimos:<br />
Serra do Mim, lugar<br />
chamado Temor-de-Deus.<br />
Brejeirinha associa-se a<br />
um espaço ainda rural, mas<br />
com articulação mais complexa:<br />
a presença do primo<br />
Zito, as referências à caixa<br />
de fósforo, ao chiclete e<br />
às narrativas inventadas<br />
pela protagonista, que nos<br />
remetem a outras séries<br />
literárias.<br />
326<br />
b) Brejeirinha, a contadora de<br />
histórias, é uma espécie de<br />
Sherazade, a princesa dos<br />
contos das Mil e uma noites,<br />
narradora de capacidade<br />
inventiva interminável.<br />
Ninhinha é a criança primordial,<br />
mágica, a quem o<br />
imaginário religioso popular<br />
e familiar atribui poderes<br />
miraculosos, entre eles o<br />
de profetizar a própria morte<br />
e antever o caixãozinho<br />
cor-de-rosa, com enfeites<br />
verdinhos.<br />
554. a) Guimarães e Miguilim<br />
aproximaram-se. Guimarães<br />
caracterizou-se pela<br />
versatilidade na arte de<br />
contar estórias compridas,<br />
sem carecer de esforço e<br />
que ninguém nunca tinha<br />
sabido.<br />
b) É possível responder a<br />
esse item de duas maneiras,<br />
ambas interpretativas:<br />
– Sair do Mutum tolhe a<br />
capacidade de contador<br />
de estórias, pois ele passa<br />
a enxergar claramente a realidade,<br />
em nítida oposição<br />
realidade X imaginação.<br />
– Não tolhe, porque suas<br />
reflexões podem se tornar<br />
reminiscências de um mundo<br />
mágico a ser resguardado.<br />
555. C 556. D 557. D<br />
558. A 559. A 560. B<br />
561. D 562. D 563. B<br />
564. E 565. D 566. E<br />
567. B 568. D 569. C<br />
570. D 571. E 572. C<br />
573. B 574. A 575. E<br />
576. D 577. B 578. A<br />
579. C 580. D 581. A<br />
582. E 583. C<br />
584. V, V, F, F, V<br />
585. E 586. E 587. A<br />
588. C 589. A 590. A<br />
591. D 592. A 593. A<br />
594. F, V, V, V, V 595. A<br />
596. a) Há um contraste entre a<br />
dificuldade na busca da palavra<br />
(que é um processo<br />
“doloroso”, feito “à força”)<br />
e a realização da fala que<br />
sai numa entonação “lisa”,<br />
“adocicada”.<br />
b) “Ela” retoma o termo “glace”.<br />
Há uma referência imagética:<br />
a dureza da palavra<br />
pedra está mascarada na<br />
doçura das palavras confeitadas,<br />
adocicadas por<br />
essa glace.<br />
597. E 598. A 599. D<br />
600. A 601. E<br />
602. a) “Imaginavazinha” é uma<br />
invenção lingüística de<br />
Clarice Lispector, procedimento<br />
comum no tipo<br />
de escrita criativa que ela<br />
pratica, fundindo poesia e<br />
prosa. Acrescendo ao pretérito<br />
imperfeito do verbo<br />
imaginar o sufixo -zinha,<br />
formador de diminutivos,<br />
o verbo ganha uma carga<br />
de afetividade notável e<br />
provoca um efeito de “estranhamento”<br />
lingüístico.<br />
b) A forma diminutiva insólita<br />
revela a empatia e a comiseração<br />
do narrador, Rodrigo<br />
S. M., por sua personagem.<br />
Tudo se passa como<br />
se a ternura aproximasse o<br />
narrador da personagem,<br />
no instante em que ela<br />
manifesta essa mínima humanidade,<br />
sua imaginação<br />
limitada e dolorosa.<br />
603. a) De Natal: celebração da<br />
natalidade, do nascimento,<br />
da vida.<br />
Pernambucano: adaptação<br />
dos tradicionais autos de<br />
Natal da Idade Média (que<br />
celebravam o nascimento<br />
de Cristo) às condições<br />
físicas e sociais de Pernambuco.<br />
b) Severina: severa, cruel.<br />
c) Trajetória da morte (negação<br />
da vida, como, por<br />
exemplo, as dificuldades da<br />
existência “severina”: miséria,<br />
fome etc.) para a vida<br />
(reafirmação do mistério da<br />
beleza da vida e renovação<br />
das esperanças).
PV2D-07-54<br />
604. a) A obra A hora da estrela<br />
alude, metaforicamente,<br />
à morte, ao instante de<br />
fulguração rápida, mas<br />
reveladora de todo um<br />
sentido da existência. É a<br />
epifania.<br />
b) A hora da estrela, banal<br />
e reveladora, é o instante<br />
maior de Macabéa, anônima,<br />
estatelada na rua, mas<br />
objeto da atenção fugaz<br />
dos transeuntes anônimos.<br />
605. a) Os versos transcritos ocorrem<br />
no episódio propriamente<br />
“natalino” da peça de<br />
João Cabral: o nascimento<br />
da criança. Este episódio<br />
funciona, no contexto da<br />
obra, como defesa da vida,<br />
ainda que se trate de uma<br />
defesa fraca e hesitante<br />
(apenas mais uma “vida<br />
severina”).<br />
Por isso, o mestre carpina<br />
toma o evento como argumento<br />
contra o pretendido<br />
suicídio do retirante.<br />
b) Os verbos em questão têm,<br />
no contexto, o seu sentido<br />
alterado, invertido: em vez<br />
das ações deletérias (destrutivas)<br />
que habitualmente<br />
indicam, eles ganham<br />
sentido positivo, pois operam<br />
em favor do “novo” (a<br />
nova vida, a esperança de<br />
redenção social) contra o<br />
“velho” (o status quo injusto,<br />
opressor, desumano).<br />
606. D 607. A 608. D<br />
609. C 6<strong>10</strong>. C<br />
611. E, C, B, A, D 612. D<br />
613. D 614. B 615. A<br />
616. B 617. C 618. A<br />
619. E 620. B 621. B<br />
622. A disposição gráfica do poema<br />
no papel, buscando uma espacialização<br />
e uma visualização<br />
do texto, conforme algumas<br />
experiências do Cubismo e<br />
do Futurismo. Além disso, o<br />
poema submete as palavras<br />
do slogan publicitário “Beba<br />
Coca-Cola” a um processo de<br />
desmontagem e remontagem,<br />
dando origem a novas sílabas<br />
e palavras a partir da troca de<br />
apenas alguns fonemas.<br />
623. Ao dividir as palavras, o poeta<br />
sugere as idéias de terra, ter,<br />
erra, ara e o termo rat. Isso<br />
gera a coerência do texto, já<br />
que esses termos remetem ao<br />
campo semântico da questão<br />
agrícola e da divisão de terra.<br />
A má distribuição de terras está<br />
explícita na divisão irregular<br />
das palavras no poema.<br />
624. a) Na disposição espacial das<br />
palavras.<br />
b) A ampliação das palavras<br />
“pensa” e “nunca”.<br />
625. D 626. E<br />
627. Carlos de Oliveira, poeta<br />
português contemporâneo,<br />
trabalha o fato de a literatura<br />
explorar sempre um mesmo<br />
universo de palavras (“nada se<br />
cria, nada se perde”) para criar<br />
seus poemas; no entanto, os<br />
poemas estão em constante<br />
busca de novas formas (“tudo<br />
se transforma”).<br />
628. A 629. B<br />
630. É possível estabelecer comparações<br />
– de ordem lingüística<br />
e, inevitavelmente, literária<br />
– entre o uso do palavrão “foder”,<br />
no poema Define a sua<br />
cidade, de Gregório de Matos,<br />
e “puta que o pariu”, “puta”,<br />
“pariu” e/ou “foder”, no trecho<br />
do conto Intestino grosso, de<br />
Rubem Fonseca.<br />
Basicamente, em Gregório,<br />
o vocábulo aponta para uma<br />
corrosiva e desbocada crítica<br />
à situação de permissiva licenciosidade<br />
reinante na Bahia,<br />
então colônia portuguesa. À<br />
crítica a tais abusos e desregramentos<br />
morais, o poema<br />
acrescenta a denúncia de<br />
roubo e, por extensão, considerado<br />
o contexto histórico<br />
em que se localiza a obra<br />
gregoriana, de desmandos e<br />
de corrupção, ao reunir num<br />
sintagma os dois “ff” – “furtar<br />
e foder”. Poder-se-ia ampliar a<br />
resposta indicando traços estilísticos<br />
do Barroco presentes<br />
no poema, como o hipérbato,<br />
e o jogo cultista-conceptista<br />
inscrito nos versos de verve<br />
fescenina do intitulado Boca<br />
do Inferno.<br />
O teor político e sacrílego do<br />
poema de Gregório, em especial<br />
a partir do palavrão nele<br />
contido, se esvazia no trecho<br />
de Rubem Fonseca. Aqui,<br />
a banalização do chamado<br />
palavrão se acentua já no fato<br />
de ser enunciado por “coros de<br />
meninas”, a que, supostamente,<br />
se reservaria uma imagem<br />
de pureza e casticismo vernáculo.<br />
Além da banalização<br />
que desgasta a contundência<br />
do palavrão, o trecho também<br />
aponta para o “efeito<br />
catártico”, coletivo, de seu uso.<br />
Poder-se-ia ampliar a resposta<br />
indicando traços estilísticos<br />
da literatura contemporânea<br />
presentes no trecho, como o<br />
coloquialismo da linguagem,<br />
a presença “naturalizada” de<br />
termos chulos e a reflexão de<br />
caráter metalingüístico.<br />
631. D 632. D 633. B<br />
634. D 635. A 636. C<br />
637. B 638. D 639. E<br />
640. E 641. B 642. E<br />
643. E 644. B 645. C<br />
646. B 647. A<br />
648. a) Texto I: Realismo<br />
Texto II: Modernismo<br />
b) O candidato deverá apresentar<br />
duas possibilidades<br />
de pontuação, como por<br />
exemplo:<br />
Marcação de diálogo: o<br />
emprego do travessão no<br />
texto I marca a fala diferenciada<br />
de cada personagem;<br />
o uso das aspas no<br />
texto II apresenta o diálogo<br />
incorporado ao fluxo da<br />
narrativa.<br />
Uso do ponto: no texto I indica<br />
o término de um período<br />
da narrativa, enquanto sua<br />
substituição pela vírgula<br />
no texto II destaca a lembrança<br />
de seqüência de<br />
ações.<br />
649. a) E quando cheguei à tarde<br />
na minha casa lá no 27<br />
(Regência do verbo chegar).<br />
327
) Que você tem?<br />
O que você tem?<br />
O que é que você tem?<br />
Que é que você tem?<br />
Que tem você?<br />
c) e assim que entramos<br />
nele.<br />
650. a) Macabéa e Fabiano assemelham-se<br />
no desconhecimento<br />
da linguagem culta<br />
e no fascínio que sentem<br />
por palavras ‘misteriosas’,<br />
cujos sentidos, de certa<br />
forma, ignoram.<br />
b) Macabéa quer, a todo<br />
custo, aprender a usar as<br />
palavras que ouve, fascinada<br />
por elas. Já Fabiano,<br />
reconhecendo a linguagem<br />
como instrumento de dominação,<br />
às vezes decoravaas<br />
e empregava-as para<br />
depois esquecê-las.<br />
651. E quero me dedicar<br />
A criar confusão de prosódia<br />
E uma profusão de paródias.<br />
– manuseio livre da língua<br />
(confusão de prosódia)<br />
– o texto de, Caetano Veloso<br />
utiliza profusamente as<br />
paródias<br />
652. a) Monólogo interior como<br />
forma de expressar o fluxo<br />
de consciência.<br />
b) A desintegração de Ana<br />
Clara pela prostituição e<br />
drogas (Ana Clara fazendo<br />
amor).<br />
328<br />
O engajamento político de<br />
Lião (Lião fazendo comício).<br />
653. D 654. D 655. C<br />
656. D 657. B 658. C<br />
659. A 660. C 661. A<br />
662. C 663. A 664. A<br />
665. C 666. A 667. E<br />
668. E 669. C<br />
670. O como não importa: no bom<br />
resultado está o mérito.<br />
671. Quem é rico não precisa justificar<br />
seus atos, já que a lei é<br />
feita apenas para os pobres.<br />
672. Destacar a ruptura no clima de<br />
fantasia do teatro: o personagem<br />
esclarece ao público que<br />
ele representa um tipo social;<br />
Mas esta cena basta para nos<br />
identificar perante o público.<br />
673. Sim. (Destacar o conceito de<br />
família ligado à propriedade<br />
que o personagem expõe:<br />
quem não tem propriedade<br />
não tem família; pobre não tem<br />
família, tem prole.<br />
674. E 675. E<br />
676. A peça rompe com a regra<br />
clássica do teatro que prevê<br />
as três unidades: uma ação,<br />
um tempo e um espaço. O<br />
dramaturgo divide a ação em<br />
três planos (da memória, da<br />
alucinação e da realidade) que<br />
se interpenetram ao longo da<br />
obra.<br />
677. A obra aproxima os símbolos<br />
de amor e morte em vários<br />
momentos. A Marcha Fúnebre<br />
indica a morte de Alaíde, e a<br />
Marcha Nupcial, o casamento<br />
de Lúcia com Pedro.<br />
678. a) A proposta serve para<br />
fins imorais, já que visa a<br />
caluniar o governo para<br />
manipular a classe média.<br />
b) A classe média se vê como<br />
guardiã da moralidade,<br />
como espécie de compensação<br />
de sua falta de<br />
recursos.<br />
679. a) A repetição sonora indica<br />
que a semelhança, além de<br />
fonética, também é semântica:<br />
atividades imorais.<br />
b) Busca impressionar os assistentes,<br />
já que uma mentira<br />
muito repetida pode ser<br />
tomada como verdade.<br />
680. a) Segundo o padre, “Benzer<br />
motor é fácil, todo mundo<br />
faz isso...”, “... é uma coisa<br />
que todo mundo benze”.<br />
O autor critica o fato de o<br />
padre se deixar levar pelas<br />
convenções.<br />
b) O padre porta-se como subserviente<br />
e interesseiro, ao<br />
curvar-se diante do poder<br />
de mando do “major”; simultaneamente,<br />
despreza<br />
a simplicidade e a boa-fé<br />
dos dois populares que o<br />
procuram para benzer o<br />
cão.