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Língua Portuguesa 5 - Einsteen 10

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PV2D-07-54 <strong>Língua</strong><br />

<strong>Portuguesa</strong> 5<br />

Capítulo 1<br />

Modernismo<br />

01. Cesgranrio-RJ<br />

Ao longo da literatura brasileira, percebe-se, de forma<br />

recorrente, a tematização da paisagem/realidade local.<br />

Tendo em vista a produção literária do século XX, assinale<br />

a opção em que a tendência indicada para cada<br />

período apresentado a seguir esteja incorreta.<br />

a) Na fase pré-modernista, no ínicio do século, uma<br />

literatura frívola, com atmosfera Belle Époque, convive<br />

com outra, voltada para problemas regionais.<br />

b) Na primeira fase do Modernismo, há o registro da<br />

vida das grandes cidades, com destaque para São<br />

Paulo, por infl uência do grupo paulista.<br />

c) No período do Neo-Simbolismo de 1930, acentua-se<br />

a observação da realidade externa, em<br />

detrimento da interna.<br />

d) Nos anos 1940, o amadurecimento da renovação<br />

temática e a busca de naturalidade da linguagem<br />

fi ccional dão nova feição ao regionalismo.<br />

e) Na década de 1970, nota-se uma pluralidade de<br />

tendências, indo desde a alegoria e o fantástico<br />

ao ultra-realismo e à literatura-verdade (romancereportagem,<br />

por exemplo).<br />

0 2. UEL-PR<br />

Assinale a alternativa incorreta sobre o Pré-Modernismo.<br />

a) Não se caracterizou como uma escola literária<br />

com princípios estéticos bem delimitados, mas<br />

como um período de prefi guração das inovações<br />

temáticas e lingüísticas do Modernismo.<br />

b) Algumas correntes de vanguarda do início do<br />

século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exerceram<br />

grande infl uência sobre nossos escritores<br />

pré-modernistas, sobretudo na poesia.<br />

c) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes<br />

signifi cativos da literatura pré-modernista produzida<br />

nos primeiros anos do século XX, pois problematizam<br />

a realidade cultural e social do Brasil.<br />

d) Euclides da Cunha, com a obra Os sertões, ultrapassa<br />

o relato meramente documental da batalha<br />

de Canudos para fi xar-se em problemas humanos<br />

e revelar a face trágica da nação brasileira.<br />

e) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além<br />

da crítica social, a crítica ao academicismo e à<br />

linguagem empolada e vazia dos parnasianos,<br />

traço que revela a postura moderna do escritor.<br />

0 3. UFPE<br />

Nas duas primeiras décadas do século XX, surgiu, no<br />

Brasil, o Pré-Modernismo. Sobre esse tema, analise<br />

as proposições a seguir.<br />

( ) Foi um movimento com ideário estético rígido,<br />

com linguagem altamente formal e cuja temática<br />

dominante era a defesa do regime republicano<br />

recém-instalado (1889).<br />

( ) Surgiu num período em que, em termos gerais,<br />

predominava a estética parnasiana na poesia,<br />

com sua valorização do mundo greco-latino e a<br />

concepção de literatura como elaboração formal.<br />

( ) Nesta época, início do século XX, foi contemporâneo<br />

de alguns simbolistas remanescentes, que<br />

sonhavam com sensações inefáveis, distantes da<br />

realidade.<br />

( ) Contrastando com os simbolistas e parnasianos,<br />

Euclides da Cunha escreveu Os sertões, documento<br />

amargurado e realista, sobre a guerra de<br />

Canudos, da qual participou como enviado do<br />

jornal O Estado de S. Paulo. Descreveu, numa<br />

mescla de romance e ensaio científico, uma<br />

epopéia às avessas, que foi publicada em 1902.<br />

( ) Lima Barreto, outro autor da época, tem como principal<br />

obra: Triste fi m de Policarpo Quaresma. Em<br />

seu livro, abandonou o mundo helênico, perfeito e<br />

imaginário, descrevendo a tristeza dos subúrbios<br />

e revelando preocupação com fatos históricos e<br />

costumes sociais. Seu estilo era semelhante ao<br />

de Machado de Assis, pelo refi namento lingüístico,<br />

pela forma trabalhada, limpa e perfeita.<br />

0 4. UFAL<br />

Assinale como verdadeiras ou falsas as afi rmações<br />

sobre nossa literatura no Pré-Modernismo.<br />

( ) Com Os sertões, Euclides da Cunha retomou<br />

a tradição do romance regionalista romântico,<br />

reabrindo este caminho para Graciliano Ramos e<br />

Guimarães Rosa.<br />

( ) Antes de se realizar como um extraordinário poeta<br />

moderno, Manuel Bandeira escreveu versos de<br />

gosto parnasiano e simbolista, dentro do gosto<br />

estético que predominava nas duas primeiras<br />

décadas do nosso século.<br />

( ) A poesia do período pré-modernista não tem nada<br />

de propriamente revolucionário, mas há que se<br />

destacar a originalíssima concepção de poesia<br />

que está no livro Eu, de Augusto dos Anjos.<br />

( ) A prosa de Lima Barreto destaca-se, nesse período,<br />

por satirizar o nacionalismo, o ofi cialismo da<br />

literatura e a concepção de arte pela arte, além<br />

de aproximar o leitor de situações típicas dos<br />

subúrbios do Rio de Janeiro.<br />

( ) Monteiro Lobato deve ser reconhecido como autêntico<br />

modernista, sobretudo no que se referia<br />

às suas concepções no campo das artes plásticas,<br />

mais do que como pré-modernista.<br />

177


05. UFRJ<br />

Fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma<br />

Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte<br />

anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora<br />

o amor comum, palrador e vazio; fora um sentimento<br />

sério, grave e absorvente. (...) o que o patriotismo o<br />

fez pensar, foi num conhecimento inteiro de Brasil.<br />

(...) Não se sabia bem onde nascera, mas não fora<br />

decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul,<br />

nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele<br />

qualquer regionalismo: Quaresma era antes de tudo<br />

brasileiro.<br />

Barreto, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.<br />

São Paulo: Scipione, 1997.<br />

Este fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma<br />

ilustra uma das características mais marcantes do<br />

Pré-Modernismo, que é o:<br />

a) desejo de compreender a complexa realidade<br />

nacional.<br />

b) nacionalismo ufanista e exagerado, herdado do<br />

Romantismo.<br />

c) resgate de padrões estéticos e metafísicos do<br />

Simbolismo.<br />

d) nacionalismo utópico e exagerado, herdado do<br />

Parnasianismo.<br />

e) subjetivismo poético, tão bem representado pelo<br />

protagonista.<br />

06.<br />

Os textos a seguir são fragmentos da obra Os sertões,<br />

de Euclides da Cunha. Leia-os e responda à questão<br />

abaixo.<br />

CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Três, 1984.<br />

Texto I<br />

Então, a travessia das veredas sertanejas é mais<br />

exaustiva que a de uma estepe nua.<br />

Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de<br />

um horizonte largo e a perspectiva das planuras<br />

francas.<br />

Texto II<br />

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem<br />

o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos<br />

do litoral.<br />

A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de<br />

vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável,<br />

o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações<br />

atléticas.<br />

(...)Este contraste impõe-se ao mais leve exame.<br />

Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores<br />

da vida sertaneja — caracterizado sempre pela intercadência<br />

impressionadora entre extremos impulsos e<br />

apatias longas.<br />

Texto III<br />

Decididamente era indispensável que a campanha<br />

de Canudos tivesse um objetivo superior à<br />

função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um<br />

178<br />

povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a<br />

combater, em guerra mais demorada e digna. Toda<br />

aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro,<br />

se não se aproveitassem os caminhos abertos à<br />

artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e<br />

persistente, visando trazer para o nosso tempo e<br />

incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas<br />

retardatários.<br />

É possível perceber que o relato de Euclides da Cunha<br />

revela influências científicas da época e, ao mesmo<br />

tempo, o desejo de chegar à verdade dos fatos.<br />

a) Destaque do texto II um trecho que comprove as<br />

influências de teorias raciais existentes no início<br />

do século XX.<br />

b) É possível afirmar que a divisão da obra em três<br />

partes prende-se às teorias naturalistas de análise<br />

comportamental? Explique.<br />

c) O autor não aceita a versão do Exército brasileiro<br />

de que Canudos era um foco monarquista. Desse<br />

modo, na visão do autor, quais são as causas<br />

desse fenômeno social?<br />

07. PUC-RS<br />

Numerar a segunda coluna de acordo com a primeira,<br />

relacionando as idéias, as expressões, os autores e<br />

as obras ao que se convencionou denominar de Pré-<br />

Modernismo e Geração de 22.<br />

1. Pré-Modernismo<br />

2. Geração de 22<br />

( ) Oswald de Andrade<br />

( ) Lima Barreto<br />

( ) Mário de Andrade<br />

( ) Os Sertões<br />

( ) fragmentação da narrativa<br />

( ) ruptura com a tradição<br />

( ) ecletismo<br />

( ) irreverência<br />

A seqüência correta, de cima para baixo, é a da<br />

alternativa<br />

a) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1 – 2<br />

b) 2 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2<br />

c) 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 2 – 2<br />

d) 1 – 1 – 1 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2<br />

e) 1 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 1<br />

08. Mackenzie-SP<br />

Caso raro: fazendo uma poesia formalmente trabalhada,<br />

elaborada em linguagem cientificista-naturalista,<br />

atingiu uma popularidade acima das expectativas, em<br />

função de seu pessimismo, sua angústia em face de<br />

problemas pessoais e das incertezas do novo século<br />

que despontava.<br />

O autor a que se refere o trecho acima é considerado<br />

um:<br />

a) romântico.<br />

b) pré-modernista.<br />

c) modernista.<br />

d) barroco.<br />

e) parnasiano.


PV2D-07-54<br />

09. UFC-CE<br />

Sobre a produção literária de Lima Barreto, tem fundamento<br />

afirmar:<br />

01. Recordações do escrivão Isaías Caminha, Vida e<br />

morte de M. J. Gonzaga de Sá e Clara dos Anjos<br />

são romances do autor.<br />

02. O cotidiano da então capital brasileira constitui um<br />

dos núcleos de sua produção literária.<br />

04. Seus escritos abordam a politicagem, a irracionalidade<br />

administrativa, o preconceito, a marginalidade<br />

e a análise das aparências sociais.<br />

08. Seu processo ficcional interpreta os costumes da<br />

alta burguesia carioca, esfera social a que o autor<br />

se limitou e que tomou como sua.<br />

16. Uma perspectiva aberta pelo escritor foi a de trazer,<br />

para a literatura brasileira, a vida suburbana, com<br />

seus vícios, pequenos funcionários, militares e<br />

moleques.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

<strong>10</strong>. Ufla-MG<br />

Uma atitude comum caracteriza a postura literária de<br />

autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto,<br />

Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha.<br />

Pode ser ela definida como:<br />

a) a necessidade de superar, em termos de um programa<br />

definido, as estéticas romântica e realista.<br />

b) a pretensão de dar um caráter definitivamente<br />

brasileiro à nossa literatura, que julgavam por<br />

demais europeizada.<br />

c) a necessidade de fazer crítica social, já que o<br />

Realismo havia sido ineficaz nessa matéria.<br />

d) aproveitamento estético do que havia de melhor na<br />

herança literária brasileira, desde suas primeiras<br />

manifestações.<br />

e) a preocupação com o estudo e com a observação<br />

da realidade brasileira.<br />

11.<br />

Assinale a alternativa incorreta em relação ao Pré-<br />

Modernismo.<br />

a) Ruptura com o academicismo literário, sendo<br />

exemplo a linguagem de Augusto dos Anjos, repleta<br />

de palavras não-poéticas.<br />

b) Na prosa, negação do Brasil literário herdado do<br />

Romantismo e do Parnasianismo, com a denúncia<br />

da realidade brasileira.<br />

c) As obras de Euclides da Cunha e Lima Barreto<br />

tematizavam os problemas vividos pelo sertanejo<br />

nordestino.<br />

d) Apresentação de tipos humanos marginalizados,<br />

como o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários<br />

públicos, os mulatos.<br />

e) Ligação explícita com os fatos políticos, econômicos<br />

e sociais da época, como se observa em Lima<br />

Barreto, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha.<br />

12.<br />

A novidade é que o Brasil não é só litoral<br />

é muito mais, é muito mais que qualquer zona sul<br />

tem gente boa espalhada por esse Brasil<br />

que vai fazer desse lugar um bom país<br />

Uma notícia tá chegando lá do interior<br />

não deu no rádio, no jornal ou na televisão<br />

ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil<br />

não vai fazer desse lugar um bom país<br />

Milton Nascimento & Fernando Brant<br />

Leia a letra da canção acima e a seguir responda ao<br />

que se pede.<br />

a) Qual é o tema da canção?<br />

b) Relacione-o com a temática do Pré-Modernismo.<br />

13. UFC-CE<br />

Relacione as obras listadas com os autores pré-modernistas,<br />

a seguir.<br />

Obras: Urupês, Canaã, O quinze, Clara dos anjos, Eu<br />

e outras poesias, À margem da história<br />

a) Graça Aranha<br />

b) Lima Barreto<br />

c) Monteiro Lobato<br />

d) Euclides da Cunha<br />

Textos para as questões de 14 a 16.<br />

Texto 1<br />

Padre Anselmo olhou com tristeza as mulheres<br />

ajoelhadas à sua frente. Ia começar a missa e sentia-se<br />

extremamente cansado. Onde aquela piedade com que<br />

celebrava nos seus tempos de jovem sacerdote, preocupado<br />

com a salvação das almas? As coisas haviam<br />

mudado. Discutiam-se os novos ritos, as novas fórmulas.<br />

(...) Sentia-se tímido, vencido, olhando para os fiéis,<br />

pronunciando palavras na língua que falava em casa, na<br />

rua. A mesma língua dos bêbados, dos vagabundos, das<br />

meretrizes. De todos. Benzeu-se instintivamente:<br />

– Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo.<br />

Amém.<br />

BEZERRA, João Clímaco. A vinha dos esquecidos.<br />

Fortaleza: UFC, 2005. pp.32-33.<br />

Texto 2<br />

Dissertar sobre uma literatura estrangeira supõe,<br />

entre muitas, o conhecimento de duas coisas primordiais:<br />

idéias gerais sobre literatura e compreensão<br />

fácil do idioma desse povo estrangeiro. Eu cheguei a<br />

entender perfeitamente a língua da Bruzundanga, isto<br />

é, a língua falada pela gente instruída e a escrita por<br />

muitos escritores que julguei excelentes; mas aquela<br />

em que escreviam os literatos importantes, solenes,<br />

respeitados, nunca consegui entender, porque redigem<br />

eles as suas obras, ou antes, os seus livros, em outra<br />

muito diferente da usual, outra essa que consideram<br />

como sendo a verdadeira, a lídima, justificando isso por<br />

ter feição antiga de dois séculos ou três. Quanto mais<br />

incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que a<br />

escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.<br />

BARRETO, Lima. Os bruzundangas. Fortaleza: UFC, 2004. p.7.<br />

14. UFC-CE<br />

Em ambos os textos há restrições:<br />

a) à lingua literária.<br />

b) aos usos da língua.<br />

c) à renovação da língua.<br />

d) aos idiomas estrangeiros.<br />

e) à falta de comunicação.<br />

179


15. UFC-CE<br />

Tanto o protagonista do texto 1, quanto o cronista do<br />

texto 2:<br />

a) formulam opiniões.<br />

b) seguem o consenso.<br />

c) aceitam os costumes.<br />

d) contestam a oratória.<br />

e) dissertam sobre normas.<br />

16. UFC-CE<br />

De acordo com o cronista, no texto 2, o bom escritor<br />

deve:<br />

a) publicar livros em grande quantidade.<br />

b) conhecer obras sobre assuntos variados.<br />

c) gozar de notoriedade nacional.<br />

d) escrever de forma inteligível.<br />

e) usar linguagem antiga.<br />

Texto para as questões 17 e 18.<br />

Os representantes do atraso e do progresso<br />

aparecem como faces da mesma moeda em Os<br />

sertões e em outro livro da época, O bota-abaixo, de<br />

José Vieira. Euclides traça o perfil do Conselheiro no<br />

parágrafo “Como se faz um monstro”: “E surgia na<br />

Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até<br />

aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada;<br />

olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito<br />

azul de brim americano”; Vieira parece retomá-lo na<br />

caracterização do prefeito Pereira Passos: “Ali estava<br />

ele – o monstro. Trajava um simples paletó azul, calça<br />

de listras, chapéu de feltro. Alto, a barba branca espontada,<br />

as sobrancelhas espessas sombreando-lhe<br />

os olhos pequenos.”<br />

Sem se ocupar da população despejada, a reforma<br />

de Pereira Passos tornou sistemático um processo que<br />

deve o nome à campanha de Canudos: a favelização.<br />

Os veteranos da guerra, ao se reinstalar no Rio de<br />

Janeiro, deram ao morro da Providência o nome do<br />

seu local de acampamento nos sertões: o morro da<br />

Favela, também mencionado por Euclides como o<br />

lugar de onde um capuchinho amaldiçoou Conselheiro,<br />

abrindo caminho para a invasão.<br />

180<br />

Ricardo Oiticica, Nossa História. “Euclides incrível.”<br />

17. PUCCamp-SP<br />

Se de fato, como supõe o texto, José Vieira valeu-se<br />

de uma descrição do Conselheiro, feita por Euclides<br />

da Cunha, para, a partir dela, criar a de Pereira Passos,<br />

pode-se afirmar que Vieira explorou o recurso<br />

estilístico da:<br />

a) antítese.<br />

b) metáfora.<br />

c) ambigüidade.<br />

d) paródia.<br />

e) sinonímia.<br />

18. PUCCamp-SP<br />

A frase “Os representantes do atraso e do progresso<br />

aparecem como faces da mesma moeda” indica que,<br />

para Euclides da Cunha, são antagônicas e complementares<br />

as ações dos:<br />

a) jagunços e as dos fanáticos.<br />

b) cangaceiros e as do governo.<br />

c) sertanejos revoltosos e as do poder da República.<br />

d) soldados amotinados e as dos oficiais do Exército.<br />

e) retirantes e as dos proprietários.<br />

19.<br />

Com relação à linguagem, o que caracteriza a obra<br />

de Lima Barreto?<br />

20. UFSC<br />

Texto I<br />

Do alto tinham aguardado o socorro, o do exército<br />

encantado, e no alto voava o instrumento da morte.<br />

Entre o vôo espantado dos urubus, inclinavam-se as<br />

asas do aparelho que Setembrino de Carvalho tinha<br />

mandado para localizar redutos.O avião ia e vinha,<br />

subia, baixava, girava. Ria-se das pedradas, dos tiros,<br />

dos insultos. Navegava acima das espadas eriçadas e<br />

do fogo dos fuzis, um poder que tinha saído das mãos<br />

dos homens para aniquilar os homens.<br />

SCHÜLER, Donaldo. Império caboclo. 2. ed. Florianópolis: EdUFSC;<br />

Porto Alegre: Movimento, 2004, pp. 2<strong>10</strong>-211.<br />

Texto II<br />

Não lhes bastavam seis mil mannlichers e seis<br />

mil sabres; e o golpear de doze mil braços, e o acalcanhar<br />

de doze mil coturnos; e seis mil revólveres; e<br />

vinte canhões, e milhares de granadas, e milhares de<br />

schrapnells, e os degolamentos, e os incêndios, e a<br />

fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias<br />

de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas;<br />

e o quadro indefinível dos templos derrocados; e, por<br />

fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares<br />

abatidos, dos santos em pedaços – sob a impassibilidade<br />

dos céus tranqüilos e claros – a queda de<br />

um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença<br />

consoladora e forte...<br />

Impunham-se outras medidas. Ao adversário irresignável<br />

as forças máximas da natureza, engenhadas<br />

à destruição e aos estragos. Tinha-as, previdentes.<br />

Havia-se prefigurado aquele epílogo assombroso do<br />

drama. Um tenente, ajudante-de-ordens do comandante<br />

geral, fez conduzir do acampamento dezenas<br />

de bombas de dinamite. Era justo; era absolutamente<br />

imprescindível. Os sertanejos invertiam toda a psicologia<br />

da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os<br />

a fome, empedernia-os a derrota.<br />

CUNHA, Euclides da. Os sertões.<br />

São Paulo: Martin Claret, 2003, pp. 520-521.<br />

Com base no texto e na obra de Euclides da Cunha,<br />

assinale a(s) proposição(ões) correta(s).<br />

01. O texto é exemplo de como o sertanejo é descrito<br />

também em outras passagens do livro Os sertões e<br />

confirma a consagrada frase de Euclides da Cunha:<br />

O sertanejo é antes de tudo um forte.<br />

02. A narrativa de Euclides da Cunha propõe uma<br />

antítese entre a força física ou material do exército<br />

e a força do sertanejo, adaptado às condições de<br />

seu lugar e amparado pela crença religiosa.


PV2D-07-54<br />

04. Quando afirma que “Impunham-se outras medidas”<br />

(Texto II), pois todo aquele arsenal não lhes bastava,<br />

o narrador quer dizer que os soldados apelaram para<br />

os “céus tranqüilos e claros” (Texto II).<br />

08. Há dois planos opostos que descrevem os dois<br />

lados desiguais da luta em Canudos. De um<br />

lado, o exército de São Sebastião e, de outro, os<br />

sertanejos com suas ruínas, na ciscalhagem das<br />

imagens rotas e em pedaços.<br />

16. A construção do texto por meio de paradoxos como<br />

“enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome,<br />

empedernia-os a derrota” (Texto II) confirma uma das<br />

características da obra: a presença de elementos contrastantes<br />

como resultado de idéias antagônicas.<br />

32. A correta “psicologia da guerra” (Texto II), aplicada<br />

pelo exército, não foi suficiente para a tomada de<br />

Canudos, já que os sertanejos a invertiam.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

21. Mackenzie-SP<br />

Sobre Os sertões, é incorreto afirmar que:<br />

a) o autor, militar em sua origem, desaprova a causa<br />

dos sertanejos.<br />

b) apresenta certa dificuldade em termos de enquadramento<br />

em um único gênero literário.<br />

c) sua linguagem tende ao solene, com vocabulário<br />

erudito e tom grandiloqüente.<br />

d) origina-se de reportagens para O Estado de S.<br />

Paulo, nas quais o autor expõe fatos relacionados<br />

à Guerra de Canudos.<br />

e) Euclides da Cunha segue um esquema determinista<br />

na estrutura das três partes da obra.<br />

22. PUC-RS<br />

Em marcha para Canudos<br />

Foi nestas condições desfavoráveis que partiram<br />

a 12 de janeiro de 1897.<br />

Tomaram pela Estrada de Cambaio.<br />

É a mais curta e a mais acidentada. Ilude a princípio,<br />

perlongando o vale de Cariacá, numa cinta de<br />

terrenos férteis sombreados de cerradões que prefiguram<br />

verdadeiras matas.<br />

Transcorridos alguns quilômetros, porém, acidenta-se;<br />

perturba-se em trilhas pedregosas e torna-se<br />

menos praticável à medida que se avizinha do sopé<br />

da serra do Acaru.<br />

(...)<br />

Tinha meio caminho andado. As estradas pioravam<br />

crivadas de veredas, serpeando em morros, alçandose<br />

em rampas caindo em grotões, desabrigadas, sem<br />

sombras...<br />

(...)<br />

Entretando era imprescindível a máxima celeridade.<br />

Tornava-se suspeita a paragem: restos de fogueira<br />

à margem do caminho e vivendas incendiadas, davam<br />

sinais do inimigo.<br />

Todas as afirmativas que seguem estão associadas ao<br />

trecho selecionado de Os sertões, em que os homens<br />

se dirigem para o local do embate, exceto:<br />

a) Atenção e rapidez são necessárias numa trajetória<br />

que leva os viajantes a uma experiência belicosa.<br />

b) A presença do inimigo é percebida pelos rastros<br />

de sua passagem ainda recente.<br />

c) Os obstáculos que se apresentam prenunciam os<br />

trágicos eventos que ocorrerão.<br />

d) Pelo assunto do trecho, é possível inferir que se<br />

trata de um episódio constante na segunda parte<br />

da obra.<br />

e) A estrada referida perturba a avaliação inicial do<br />

viajante dada a riqueza natural da área.<br />

23. UEL-PR<br />

Inspirado no determinismo mais rígido, em moda<br />

no seu tempo, o autor procura mostrar que aqueles<br />

sertanejos não eram culpados como criminosos, mas<br />

que foram produto inevitável de um conjunto de fatores<br />

geográficos, raciais e históricos. Nada mais natural que<br />

se unissem em torno de seu profeta e por ele morressem,<br />

defendendo casa a casa o estranho arraial.<br />

O trecho anterior está se referindo à obra que consagrou:<br />

a) Olavo Bilac. d) Augusto dos Anjos.<br />

b) Euclides da Cunha. e) Raul Pompéia.<br />

c) Lima Barreto.<br />

24. PUC-RS<br />

... E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos<br />

crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face<br />

escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro<br />

de um hábito azul de brim americano; abordoado ao<br />

clássico bastão em que se apóia o passo tardo dos<br />

peregrinos.<br />

É desconhecida a sua existência durante tão longo<br />

período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos<br />

últimos dias da campanha, disse-me algo a respeito,<br />

mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores<br />

característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernambuco,<br />

um ou dous anos depois da partida do Crato.<br />

A viagem de Euclides da Cunha à região de Canudos,<br />

onde ocorre a revolta dos seguidores de Antônio<br />

Conselheiro:<br />

a) ratifica sua posição em relação aos fanáticos rebeldes,<br />

expressa em seu artigo A nossa vendéia.<br />

b) impulsiona-o a produzir Os sertões, baseando-se<br />

somente no que realmente pôde presenciar.<br />

c) demove-o da concepção determinista vigente na<br />

época, que concebe o homem como um cruzamento<br />

de condicionamentos.<br />

d) retifica a opinião vigente, passando a considerar<br />

a revolta como resultante do atraso da nação.<br />

e) influencia a prosa do autor, antes impregnada de<br />

cientificismo e reacionarismo.<br />

25. UFRGS-RS<br />

Considere as seguintes afirmações sobre Os sertões,<br />

de Euclides da Cunha.<br />

I. Nas duas primeiras partes do livro, o autor descreve,<br />

respectivamente, o homem e o meio ambiente<br />

que constituíam o sertão baiano, valendo-se, para<br />

tanto, das teorias científicas desenvolvidas na<br />

época.<br />

II. Ao descrever os sertanejos, o autor idealiza suas<br />

qualidades morais e físicas e conclui que seu<br />

heroísmo era resultado da fé nos ensinamentos<br />

religiosos do líder Antônio Conselheiro.<br />

181


III. O autor descreve, na terceira parte do livro, as<br />

várias etapas da Guerra de Canudos e denuncia o<br />

massacre dos sertanejos pelas tropas do exército<br />

brasileiro, revelando a miséria e o subdesenvolvimento<br />

da região.<br />

Quais estão corretas?<br />

a) Apenas I<br />

b) Apenas II<br />

c) Apenas III<br />

d) Apenas I e III<br />

e) I, II e III<br />

26. Mackenzie-SP<br />

“Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três<br />

pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem o<br />

equilíbrio, inútil, portanto, meter a quarta, que ainda<br />

o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a<br />

natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares<br />

sobre os quais se sentam?”<br />

O trecho acima é claramente representativo da obra de:<br />

a) Lima Barreto.<br />

b) Augusto dos Anjos.<br />

c) Euclides da Cunha.<br />

d) Aluísio Azevedo.<br />

e) Monteiro Lobato.<br />

27. UFRGS-RS<br />

Livro posto entre _____________________, Os sertões<br />

assinalam um fim e um começo: o fim do imperialismo<br />

literário, o começo ____________________<br />

aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade<br />

brasieleira (no caso, as contradições contidas na diferença<br />

de cultura entre _____________________).<br />

CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade.<br />

São Paulo: Companhia Editora Nacional, s.d. p. 133.<br />

Assinale a alternativa que preenche corretamente as<br />

lacunas do texto acima.<br />

a) a literatura e a sociologia naturalista – da associação<br />

onírica e simbolista – as regiões litorâneas e<br />

o interior<br />

b) a literatura e o panfleto pró-monárquico – da<br />

análise científica – a região nordeste e o sul industrializado<br />

c) a literatura e a sociologia naturalista – da análise<br />

científica – as regiões litorâneas e o interior.<br />

d) a literatura e o panfleto pró-monárquico – da associação<br />

onírica e simbolista – a região nordeste<br />

e o sul industrializado<br />

e) a literatura e a sociologia naturalista – da associação<br />

onírica e simbolista – a região nordeste e o sul<br />

industrializado<br />

28. Mackenzie-SP<br />

... E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos<br />

até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada;<br />

olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito<br />

azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão<br />

em que se apóia o passo tardo dos peregrinos.<br />

É desconhecida a sua existência durante tão longo<br />

período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos<br />

últimos dias da campanha, disse-me algo a respeito,<br />

mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores<br />

182<br />

característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernambuco,<br />

um ou dous anos depois da partida do Crato.<br />

Com relação à obra de que se extraiu o fragmento<br />

acima, é incorreto afirmar que:<br />

a) apresenta cenário e paisagem idealizados, por se<br />

tratar de um texto de cunho romântico.<br />

b) trata da campanha de Canudos e dos contrastes<br />

entre o Brasil à beira do Atlântico e um outro, do<br />

sertão nordestino.<br />

c) denuncia o extermínio de milhares de pessoas no<br />

interior baiano pelo exército nacional.<br />

d) contém uma visão de mundo determinista, influenciada<br />

pelas idéias de Hypolite Taine.<br />

e) constrói um grande painel do sertão nordestino,<br />

dividindo-se em três partes – A terra, O homem,<br />

A luta.<br />

29. UFRGS-RS<br />

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações<br />

abaixo sobre a obra Os sertões, de Euclides<br />

da Cunha.<br />

( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o<br />

requinte da linguagem, a intenção científica e o<br />

propósito jornalístico.<br />

( ) A obra euclideana insere-se numa tradição da<br />

literatura brasileira que tematiza o povoamento<br />

do sertão, iniciada ainda no Romantismo com<br />

Bernardo Guimarães.<br />

( ) Euclides da Cunha escreveu Os sertões com base<br />

nas reportagens que realizou como correspondente<br />

do jornal O Estado de S. Paulo.<br />

( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia<br />

criada pelo imaginário do autor.<br />

( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de<br />

Euclides da Cunha, faz parte dos movimentos de<br />

protesto surgidos logo após a proclamação da<br />

Independência do Brasil.<br />

a) V – F – V – F – F<br />

b) V – V – V – F – F<br />

c) F – F – V – V – F<br />

d) F – V – F – F – V<br />

e) V – V – F – F – F<br />

30. UFRGS-RS<br />

Leia o trecho abaixo de Os sertões, de Euclides da<br />

Cunha.<br />

Daquela data ao termo da campanha a tropa iria<br />

viver em permante alarma.<br />

(...)<br />

A tática invariável do jagunço expunha-se temerosa<br />

naquele resistir às recuadas, restribando-se* em todos<br />

os acidentes da terra protetora. Era a luta da sucuri<br />

flexuosa* com o touro pujante. Laçada a presa, distendia<br />

os anéis; permitia-lhe a exaustão do movimento<br />

livre e a fadiga da carreira solta; depois se constringia<br />

repuxando-o, maneando-o nas roscas contráteis, para<br />

relaxá-las de novo, deixando-o mais uma vez se esgotar<br />

no escarvar*, amarradas, o chão; e novamente o atrair,<br />

retrátil, arrastando-o - até ao exaurir completo...<br />

*restribar – estar firme, estar escorado.<br />

*flexuoso – sinuoso, torcido, tortuoso.<br />

*escarvar – cavar superficialmente.


PV2D-07-54<br />

Assinale a alternativa incorreta em relação ao trecho.<br />

a) O jagunço, ao aproveitar-se dos “acidentes da terra<br />

protetora”, conseguia superar-se e confrontar-se<br />

com o inimigo, trazendo-lhe novas dificuldades.<br />

b) O “touro pujante”, apesar de sua força, na ilusão<br />

do movimento livre, acaba se exaurindo.<br />

c) No confronto, a “sucuri flexuosa” vence, pois usa<br />

os recursos de que dispõe.<br />

d) No trecho, a imagem da luta entre a “sucuri flexuosa”<br />

e o “touro pujante” é uma metáfora da luta<br />

entre jagunços e expedicionários.<br />

e) A “sucuri flexuosa” e o “touro pujante” estão em<br />

constante confronto sem que haja um vencedor.<br />

31. UFSM-RS<br />

(...) esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais<br />

surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso.<br />

Naquela organização combalida operam-se, em segundos,<br />

transmutações completas. Basta o aparecimento<br />

de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das<br />

energias adormecidas. O homem transfigura-se.<br />

Assinale a frase que, retirada de Os sertões, sintetiza<br />

o trecho citado.<br />

a) “é o homem permanentemente fatigado”<br />

b) “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”<br />

c) “a raça forte não destrói a fraca pelas armas,<br />

esmaga-a pela civilização”<br />

d) “Reflete a preguiça invencível (...) em tudo”<br />

e) “a sua religião é como ele – mestiça”<br />

32.<br />

A seguir você lerá um fragmento de Os sertões de<br />

Euclides da Cunha.<br />

Então, a travessia das veredas sertanejas é mais<br />

exaustiva que a de uma estepe nua.<br />

Nesta, ao menos, o viajante tem um desafogo<br />

de um horizonte largo e a perspectiva das planuras<br />

francas.<br />

Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o<br />

olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente<br />

e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes,<br />

com o espinho, com os gravetos estalados em<br />

lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas,<br />

imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de<br />

galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados,<br />

apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos<br />

pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de<br />

tortura, da flora agonizante...<br />

Com base no texto anterior, como se caracteriza a<br />

natureza onde vive o sertanejo?<br />

33. PUC-RS<br />

A tropa chegou exausta a Uauá no dia 19, depois<br />

de uma travessia penosíssima.<br />

Este arraial – duas ruas desembocando numa<br />

praça irregular – é o ponto mais animado daquele<br />

trecho do sertão. Como a maior parte dos vilarejos<br />

pomposamente gravados nos nossos mapas, é uma<br />

espécie de transição entre maloca e aldeia. (...)<br />

Entrou pela rua em continuação à estrada e fez<br />

alto no largo. Foi um sucesso. Entre curiosos e tímidos,<br />

os habitantes atentavam para os soldados – poentos,<br />

mal firmes na formatura, tendo aos ombros as espin-<br />

gardas cujas baionetas fulguravam – como se vissem<br />

um exército brilhante.<br />

Ensarilhadas as armas, a força acantonou.<br />

Fez-se em torno um círculo de vigilância: postaram-<br />

se sentinelas à saída dos quatro caminhos e<br />

nomeou-se o pessoal das rondas.<br />

Feito praça de guerra, o vilarejo obscuro era,<br />

entretanto, uma escala transitória.<br />

I. A referência ao registro cartográfico do lugar sugere<br />

contradição em relação à verdadeira dimensão<br />

da área.<br />

II. O povo recebe a tropa com reverência e admiração.<br />

III. Os soldados reagem com indiferença à manifestação<br />

popular.<br />

IV. Os soldados retornam ao lar após ferrenha batalha.<br />

Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente<br />

estão corretas<br />

a) I e II<br />

b) I e III<br />

c) II e III<br />

d) II e IV<br />

34.<br />

Fechemos este livro.<br />

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a<br />

História, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado<br />

palmo a palmo, na precisão integral do termo,<br />

caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus<br />

últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro<br />

apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança,<br />

na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil<br />

soldados.<br />

Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos<br />

momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página,<br />

imaginamo-la sempre profundamente emocionante e<br />

trágica, mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.<br />

Vimos como quem vinga uma montanha altíssima.<br />

No alto, a par de uma perspectiva maior, a<br />

vertigem...<br />

Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro<br />

a narrativa de pormenores em que se amostrassem<br />

mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios<br />

lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...<br />

Este trecho pertence à parte final da obra Os sertões.<br />

a) Qual o nome dessa parte?<br />

b) Transcreva a frase que comprova a admiração do<br />

autor por Canudos.<br />

c) Transcreva o trecho que aponta para o descontrole<br />

emocional dos soldados diante de tanta resistência.<br />

d) Por que o autor crê que o futuro não acreditaria<br />

em sua obra?<br />

35.<br />

Leia atentamente o seguinte trecho de Os sertões.<br />

O calor úmido das paragens amazonenses, por exemplo,<br />

deprime e exaure. Modela organizações tolhiças em<br />

que toda a atividade cede ao permanente desequilíbrio<br />

entre as energias impulsivas das funções periféricas<br />

fortemente excitadas e a apatia das funções centrais:<br />

inteligências marasmáticas, adormidas sob o explodir das<br />

183


paixões; enervações periclitantes, em que pese à acuidade<br />

dos sentidos, e mal reparadas ou refeitas pelo sangue<br />

empobrecido nas hematoses incompletas...<br />

Daí todas as idiossincrasias de uma fisiologia<br />

excepcional: o pulmão que se reduz, pela deficiência<br />

da função, e é substituído, na eliminação obrigatória<br />

do carbono, pelo fígado, sobre o qual desce pesadamente<br />

a sobrecarga da vida: organizações combalidas<br />

pela alternativa persistente de exaltações impulsivas e<br />

apatias enervadoras, sem a vibratilidade, sem o tônus<br />

muscular enérgico dos temperamentos robustos e<br />

sangüíneos. A seleção natural, em tal meio, opera-se<br />

à custa de compromissos graves com as funções centrais,<br />

do cérebro, numa progressão inversa prejudicialíssima<br />

entre o desenvolvimento intelectual e o físico,<br />

firmando inexoravelmente as vitórias das expansões<br />

instintivas e visando ao ideal de uma adaptação que<br />

tem, como conseqüências únicas, a máxima energia<br />

orgânica, a mínima fortaleza moral. A aclimação traduz<br />

uma evolução regressiva. O tipo deperece num esvaecimento<br />

contínuo, que se lhe transmite à descendência<br />

até a extinção total.<br />

Os sertões, parte II, cap. I<br />

a) Qual o princípio científico que serve de fundamento<br />

para este trecho de Os sertões?<br />

b) Como a influência desse princípio aparece no<br />

texto?<br />

c) Essa influência nos permite tomar como ponto<br />

de partida das concepções estéticas do livro um<br />

determinado estilo literário. Qual?<br />

36.<br />

Descrevendo aspectos da natureza do sertão da Bahia,<br />

diz Euclides da Cunha:<br />

Então, a travessia das veredas sertanejas é mais<br />

exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos,<br />

o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a<br />

perspectiva das planuras francas.<br />

Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o<br />

olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente<br />

e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes,<br />

com o espinho, com os gravetos estalados em<br />

lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas,<br />

imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de<br />

galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados,<br />

apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos<br />

pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de<br />

tortura, da flora agonizante...<br />

Os sertões, Parte I, cap. IV.<br />

A partir da leitura do texto, responda: qual o papel<br />

desempenhado pela natureza em Os sertões?<br />

37. UFC-CE<br />

As passagens abaixo foram extraídas de Os sertões.<br />

Escreva nos parênteses J (jagunço) ou M (militar),<br />

para identificar a personagem referida em cada uma<br />

delas.<br />

( ) Tinha o fetichismo das determinações escritas.<br />

Não as interpretava, não as criticava: cumpriaas.<br />

( ) Pelos caminhos fora passavam pequenos grupos<br />

ruidosos, carregando armas ou ferramentas de<br />

trabalho, cantando.<br />

184<br />

( ) Torturavam-nos alucinações cruéis. A deiscência<br />

das vagens das catingueiras, abrindo-se com estalidos<br />

secos e fortes, soava-lhes feito percussão<br />

de gatilhos ou estalos de espoleta, dando a ilusão<br />

de súbitas descargas(...).<br />

Texto para as questões 38 e 39.<br />

De fato, ele estava escrevendo ou mais particularmente:<br />

traduzia para o clássico um grande artigo<br />

sobre “Ferimentos por armas de fogo”. O seu último<br />

truque intelectual era este clássico. Buscava nisto<br />

uma distinção, uma separação intelectual desses<br />

meninos por aí que escrevem contos e romances<br />

nos jornais. Ele, um sábio, e sobretudo um doutor:<br />

não podia escrever da mesma forma que eles. A sua<br />

sabedoria superior e o seu título ‘acadêmico’ não podiam<br />

usar da mesma língua, dos mesmos modismos,<br />

da mesma sintaxe que esses poetastros e literatos.<br />

Veio-lhe então a idéia do clássico. O processo era<br />

simples: escrevia do modo comum, com as palavras e<br />

o jeito de hoje, em seguida invertia as orações, picava<br />

o período com vírgulas e substituía incomodar por<br />

molestar, ao redor por derredor, isto por esto, quão<br />

grande ou tão grande por quamanho, sarapintava<br />

tudo de ao invés, empós, e assim obtinha o seu estilo<br />

clássico que começava a causar admiração aos seus<br />

pares e ao público em geral.<br />

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.<br />

1. ed. São Paulo: Klick, 1997, p. 185.<br />

38.<br />

Identifique a alternativa que apresenta um ideal estético<br />

presente na obra de Lima Barreto e que está<br />

presente no texto anterior.<br />

a) Influência e corrente literária realista, refletida nas<br />

preocupações artísticas.<br />

b) Uso de linguagem espontânea e natural e crítica a<br />

autores que procuram escrever de maneira muito<br />

rebuscada.<br />

c) Crítica à posição negativa do brasileiro médio em<br />

relação ao colonizador europeu.<br />

d) Denúncia irônica contra o preconceito social, que<br />

levava representantes e autores burgueses a<br />

sofisticarem a linguagem para se distinguirem do<br />

povo.<br />

e) Crítica contra a burocracia, formada por pessoas<br />

sem consistência moral ou profissional, que usavam<br />

linguagem artificial.<br />

39.<br />

Ao caracterizar, no fragmento anterior, o personagem<br />

Armando Borges, médico ambicioso e desonesto, que,<br />

por se sentir superior às pessoas, por causa do seu<br />

diploma e do seu anel de doutor, usava uma linguagem<br />

difícil e rebuscada em seus artigos, Lima Barreto<br />

critica autores do:<br />

a) Romantismo.<br />

b) Barroco.<br />

c) Parnasianismo.<br />

d) Modernismo.<br />

e) Classicismo.


PV2D-07-54<br />

40.<br />

Assinale a única declaração que fundamenta a representação<br />

do jagunço na passagem em destaque.<br />

O jagunço começou a aparecer como um ente à parte,<br />

teratológico e monstruoso, meio homem e meio trasgo;<br />

violando as leis biológicas (...)<br />

( ) O porte físico do jagunço contraria o aprimoramento<br />

evolutivo da espécie.<br />

( ) O jagunço herdou os traços psicológicos comuns<br />

aos nordestinos.<br />

( ) As deformidades do jagunço se devem às influências<br />

do meio ambiente.<br />

41. UFC-CE<br />

Avalie as declarações e transcreva, nas linhas abaixo,<br />

as duas corretas sobre Os sertões.<br />

I. Nascem da reportagem “A terra”, à qual se anexou<br />

“A luta”.<br />

II. Adotam estilo de oratória religiosa, quando descrevem<br />

as crenças dos jagunços.<br />

III. Focalizam episódios heróicos de viagem e guerra,<br />

a exemplo das construções épicas.<br />

IV. Desenvolvem considerações de ordem científica,<br />

dando à narrativa um perfil de tese.<br />

Quais são as declarações corretas?<br />

42. UFC-CE<br />

Ainda com relação à questão anterior, justifique a sua<br />

escolha.<br />

43. Fuvest-SP<br />

No decênio de 1930, houve uma renovação do romance<br />

brasileiro de tema regional, que passou de descritivo<br />

e sentimental a crítico e realista.<br />

a) Lembre um romance que pode exemplificar essa<br />

renovação. Justifique sua escolha com elementos<br />

desse romance.<br />

b) A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, está na<br />

gênese dessa transformação. Por quê?<br />

44. FGV-SP<br />

Completando a tática perigosa do sertanejo, era<br />

temeroso porque não resitia. Não opunha a rijeza de<br />

um tijolo à percussão e arrebentamento das granadas,<br />

que se amorteciam sem explodirem, furandolhe<br />

uma vez só dezenas de teto. Não fazia titubear<br />

a mais reduzida secção assaltante, que poderia<br />

investi-lo, por qualquer lado, depois de transposto<br />

o rio. Atraía os assaltos; e atraía irreprimivelmente<br />

o ímpeto das cargas violentas, porque a arremetida<br />

dos invasores, embriagados por vislumbres de vitória<br />

e disseminando-se, divididos pelas suas vielas em<br />

torcicolos, lhe era o recurso tremendo de uma defesa<br />

supreendedora. Na história sombria das cidades<br />

batidas, o humílimo vilarejo ia surgir como um traço<br />

de trágica originalidade. Intacto – era fragílimo; jeito<br />

de escombros – formidável.<br />

Euclides da Cunha, Os sertões.<br />

O fragmento acima aponta algumas das caracteríticas<br />

de Canudos. A leitura atenta desse texto nos permite<br />

concluir que ele trata de:<br />

a) uma vila fortificada, planejada para não permitir o<br />

acesso e as investidas dos agressores.<br />

b) uma ilha, pois era contornada pelo rio.<br />

c) um vilarejo humilde, que não oferecia resistência<br />

à entrada dos invasores.<br />

d) um local onde ocorriam muitos roubos e assaltos.<br />

e) um refúgio de soldados assaltados.<br />

45. FGV-SP<br />

Ainda de acordo com o texto da questão anterior:<br />

a) a ausência de resistência, característica marcante<br />

do conjunto de habitações, era coerente com a<br />

tática do sertanejo.<br />

b) o fato de um tijolo ser rijo não se opunha, em<br />

Canudos, ao arrebentamento das granadas.<br />

c) os assaltantes, sabedores de riquezas escondidas,<br />

eram atraídos pela vila.<br />

d) as explosões de granadas furavam de uma só vez<br />

dezenas de tetos.<br />

e) o sertanejo é perigoso e traiçoeiro.<br />

46. Mackenzie-SP<br />

Sobre Lima Barreto, é incorreto afirmar que:<br />

a) sua linguagem afasta-se dos modelos “bem-comportados”<br />

da literatura do final do século XIX.<br />

b) Seus personagens são, muitas vezes, representantes<br />

das camadas menos favorecidas da<br />

sociedade.<br />

c) é estudado como pré-modernista, pois se posiciona<br />

de forma crítica diante de um Brasil considerado<br />

velho em suas instituições.<br />

d) apresenta, em sua obra, aspectos característicos<br />

dos subúrbios do Rio de Janeiro<br />

e) crítica a sociedade burguesa de uma forma ríspida,<br />

agressiva, sem qualquer manifestação de humor,<br />

sátira ou ironia.<br />

Textos para as questões de 47 a 49.<br />

Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E<br />

que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda<br />

ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la<br />

e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a<br />

sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade<br />

nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava<br />

na velhice, como ela o recompensava, como ela o<br />

premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o<br />

que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida?<br />

Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo<br />

esse lado da existência que parece fugir um pouco à<br />

sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara,<br />

ele não experimentara.<br />

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe<br />

absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidade.<br />

Que lhe importavam os rios? Eram grandes?<br />

Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a<br />

felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em<br />

nada... O importante é que ele tivesse sido feliz.<br />

Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do<br />

folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava<br />

disso tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhuma!<br />

Nenhuma!<br />

Lima Barreto<br />

185


47. PUC-SP<br />

A obra de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma:<br />

a) é romântica e exemplifica as palavras de Antonio<br />

Candido, já que seu protagonista se comporta<br />

como um romântico.<br />

b) não é romântica e contraria as palavras de Antonio<br />

Candido, à medida que as atitudes do protagonista<br />

vão se revestindo de heroísmo romântico.<br />

c) não é romântica e contradiz as palavras de Antonio<br />

Candido, tendo em vista que o protagonista acaba<br />

por se submeter a uma visão antinacionalista e,<br />

portanto, anti-romântica.<br />

d) é romântica e ratifica as palavras de Antonio Candido,<br />

porque o orgulho patriótico-romântico do protagonista<br />

encontra lugar de ação no decorrer da narrativa.<br />

e) opõe-se ao Romantismo e não retrata as palavras<br />

de Antonio Candido, pois ironiza as posturas nacionalistas<br />

românticas através do protagonista.<br />

48. PUC-SP<br />

O título da obra de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo<br />

Quaresma, antecipa ao leitor sobre o protagonista:<br />

a) a indiferença com que passou a lidar com a pátria.<br />

b) o fim de vida em um hospício no qual o enclausularam.<br />

c) a sua morte terrivel motivada pela loucura.<br />

d) o seu final dramático determinado pela sua trajetória<br />

de vida.<br />

e) a sua trajetória de vida reveladora de um destino<br />

trágico.<br />

49. PUC-SP<br />

O trecho anterior pertence ao romance Triste fim de<br />

Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Da personagem<br />

que dá título ao romance, podemos afirmar que:<br />

a) foi um nacionalista extremado, mas nunca estudou<br />

com afinco as coisas brasileiras.<br />

b) perpetrou seu suicídio, porque se sentia decepcionado<br />

com a realidade brasileira.<br />

c) defendeu os valores nacionais, brigou por eles a<br />

vida toda e foi condenado à morte justamente pelos<br />

valores que defendia.<br />

d) foi considerado traidor da pátria, porque participou<br />

da conspiração contra Floriano Peixoto.<br />

e) era um louco, e, por isso, não foi levado a sério<br />

pelas pessoas que o cercavam.<br />

50.<br />

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia<br />

e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe<br />

importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem<br />

... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o<br />

nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante<br />

é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das<br />

suas coisas de tupi, do folklore, das suas tentativas<br />

agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma<br />

satisfação? Nenhuma! Nenhuma!<br />

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 11 ed.<br />

São Paulo, Àtica, 1993. p. 175.<br />

186<br />

Justifique com elementos do texto a afirmação de<br />

que o Major Quaresma tinha um forte sentimento<br />

nacionalista.<br />

51.<br />

O que determina a vida do protagonista Policarpo<br />

Quaresma, da obra de Lima Barreto é:<br />

a) o excessivo valor do material.<br />

b) o gosto pelo trabalho.<br />

c) a aversão à vilania.<br />

d) o apego à religião.<br />

e) a postura ufanista.<br />

52.<br />

Só não compõe a personalidade de Policarpo Quaresma:<br />

a) desvairismo. d) disciplina.<br />

b) falsidade. e) ufanismo.<br />

c) generosidade.<br />

53. PUC-MG<br />

Sobre a obra Triste fim de Policarpo Quaresma, é<br />

incorreto afirmar que:<br />

a) mantém em seqüência o plano ideológico romântico,<br />

tratado humoristicamente.<br />

b) reflete a tendência da época pré-modernista de<br />

inconformismo e renovação.<br />

c) expõe um cenário urbano, com tipos peculiares do<br />

cotidiano.<br />

d) indica ruptura no plano estético, pois apresenta<br />

linguagem inovadora.<br />

e) retrata a postura do autor de observador da realidade.<br />

54. PUC-MG<br />

Assinale o aspecto que se refere à obra Triste fim de<br />

Policarpo Quaresma.<br />

a) Linguagem rebuscada<br />

b) Criticidade<br />

c) Distanciamento da realidade<br />

d) Determinismo<br />

e) Visão idealizada do mundo<br />

55. UERJ<br />

Recordações do escrivão Isaías Caminha<br />

A minha situação no Rio estava garantida. Obteria<br />

um emprego. Um dia pelos outros iria às aulas, e todo<br />

o fim de ano, durante seis, faria os exames, ao fim dos<br />

quais seria doutor!<br />

Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do<br />

meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premente,<br />

cruciante e onímodo1 de minha cor ... Nas dobras<br />

do pergaminho da carta, traria presa a consideração<br />

de toda a gente. Seguro do respeito à minha majestade<br />

de homem, andaria com ela mais firme pela vida em<br />

fora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia<br />

falar, dizer bem alto os pensamentos que se estorciam2<br />

no meu cérebro.<br />

O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida,<br />

oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria<br />

mascarado, disfarçado.


PV2D-07-54<br />

Ah! Doutor! Doutor!... Era mágico o título, tinha<br />

poderes e alcances múltiplos, vários polifórmicos... Era<br />

um pallium3 , era alguma cousa como clâmide4 sagrada,<br />

tecida com um fio tênue e quase imponderável, mas<br />

a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os<br />

exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da<br />

chuva afastar-se-iam transidas5 do meu corpo, não se<br />

animariam a tocar-me nas roupas, no calçado sequer.<br />

O invisível distribuidor de raios solares escolheria os<br />

mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os<br />

inexoráveis6, com o comum dos homens que não é<br />

doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca<br />

e cartola, inflado7 e grosso, como um sapo-entanha<br />

antes de ferir a martelada à beira do brejo; andar assim<br />

pelas ruas, pelas praças, pelas estradas, pelas salas,<br />

recebendo cumprimentos: Doutor, como passou?<br />

Como está, doutor? Era sobre-humano!...<br />

BARRETO, Lima. in: VASCONCELOS, Eliane (org).<br />

Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001<br />

1 de todos os modos, irrestrito<br />

2 agitavam<br />

3 manto, capa<br />

4 manto<br />

5 assustadas<br />

6 inflexíveis<br />

7 vaidoso<br />

O entusiasmo do personagem com o sonho de obter<br />

título de doutor é construído por um discurso em primeira<br />

pessoa marcadamente emotivo.<br />

Essa emotividade do discurso do personagem é realçada<br />

pelo uso de recursos, tais como:<br />

a) estilo indireto e formas de negação.<br />

b) registro informal e perguntas retóricas.<br />

c) discurso repetitivo e inversões sintáticas.<br />

d) pontuação exclamativa e expressões interjeitivas.<br />

56. Fuvest-SP<br />

De acordo com certa tradição literária, Lima Barreto é<br />

considerado autor “pré-modernista”.<br />

a) Por que o classificam assim?<br />

b) Citar pelo menos uma obra desse autor.<br />

57. Fuvest-SP<br />

O seu último truque intelectual era este do clássico.<br />

(...) O processo era simples: escrevia de modo comum,<br />

com as palavras e o jeito de hoje, em seguida invertia<br />

as orações, picava o período com vírgulas e substituía<br />

incomodar por molestar, ao redor por derredor, isto<br />

por esto, quão grande ou tão grande por quamanho,<br />

sarapintava tudo de ao invés, empós, e assim obtinha<br />

o seu estilo clássico que começava a causar geral.<br />

a) O fato de Armando Borges escrever em “estilo<br />

clássico” reforça a caracterização da personagem.<br />

Por quê? Justifique sua resposta.<br />

b) De que maneira esse “estilo clássico” se contrapõe<br />

à linguagem do romance Triste fim de Policarpo<br />

Quaresma?<br />

58. UFV-MG<br />

Por qual razão o narrador de Triste fim de Policarpo<br />

Quaresma chega à conclusão de que “a pátria que [ o<br />

protagonista ] quisera ter era um mito”?<br />

59. UFPR<br />

E era agora que ele [Policarpo Quaresma] chegava<br />

a essa conclusão, depois de ter sofrido a miséria da<br />

cidade e o emasculamento da repartição pública, durante<br />

tanto tempo! Chegara tarde, mas não a ponto de<br />

que não pudesse antes da morte, travar conhecimento<br />

com a doce vida campestre e a feracidade das terras<br />

brasileiras. (...)<br />

E ele viu então diante dos seus olhos as laranjeiras,<br />

em flor, olentes, muito brancas, a se enfileirar pelas<br />

encostas das colinas, como teorias de noivas; os abacateiros,<br />

de tronco rugosos a sopesar com esforço os<br />

grandes pomos verdes; as jabuticabas negras a estalar<br />

dos caules rijos; os abacaxis coroados que nem reis,<br />

recebendo a unção quente do sol; as abobreiras a se<br />

arrastarem com flores carnudas, cheias de pólen; as<br />

melancias de um verde tão fixo que parecia pintado;<br />

os pêssegos veludosos, as jacas monstruosas, os<br />

jambos, as mangas capitosas;...<br />

A respeito do romance Triste fim Policarpo Quaresma,<br />

de Lima Barreto, do qual foi transcrito o trecho anterior,<br />

é correto afirmar:<br />

( ) narrador e protagonista, elementos que se fundem<br />

ao longo do romance, concluem que as melhores<br />

alternativas para a construção de um projeto nacional<br />

estariam no ambiente interiorano e numa<br />

economia de base agrícola.<br />

( ) o mesmo patriotismo exaltado que conduzira<br />

Quaresma às suas experiências no campo é responsável,<br />

mais adiante, pelo abandono abrupto de<br />

seus projetos rurais.<br />

( ) esse trecho integra a segunda parte do romance,<br />

que corresponde à empreitada do protagonista<br />

no campo, antecedida pelo malogro reformista<br />

experimentado na seção inicial e seguida por seu<br />

“triste fim” nos desdobramentos de seu retorno ao<br />

Rio de Janeiro.<br />

( ) o preciosismo vocabular e a acumulação descritiva<br />

que marcam o parágrafo final do trecho citado são<br />

reveladores das influências paranasianas que<br />

marcam o estilo de Lima Barreto.<br />

( ) a técnica do romance confessional, em que a<br />

narrativa é construída através da rememoração<br />

de experiências do próprio protagonista, pode ser<br />

assinalada como uma das inovações desta obra<br />

de Lima Barreto, procedimento que só voltaria a<br />

ser exercitado em nossa literatura pelos autores<br />

modernistas.<br />

60. UFSC<br />

Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário<br />

público, certo de que a língua portuguesa é emprestada<br />

ao Brasil; certo também de que, por esse<br />

fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo nos<br />

5 campos das letras, se vêem na humilhante contingência<br />

de sofrer continuamente censura áspera<br />

dos proprietários da língua; sabendo, além, que,<br />

dentro do nosso país, os autores e os escritores,<br />

com especialidade os gramáticos, não se enten-<br />

<strong>10</strong><br />

dem no tocante à correção gramatical, vendo-se,<br />

diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais<br />

profundos estudiosos do nosso idioma - usando do<br />

direito que lhe confere a Constituição, vem pedir<br />

que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani,<br />

187


15 como língua oficial e nacional do povo brasileiro.<br />

(... )<br />

Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani,<br />

língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a<br />

que o polissintetismo dámúltiplas feições de rique-<br />

20 za, é a única capaz de traduzir as nossas belezas,<br />

de pôr-nos em relação com a nossa natureza<br />

e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos<br />

vocais e cerebrais, por ser criação de povos que<br />

aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores<br />

25 de organização fisiológica e psicológica para que<br />

tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis<br />

controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil<br />

adaptação de uma língua de outra região à nossa<br />

organização cerebral e ao nosso aparelho vocal<br />

30 – controvérsias que tanto empecem o progresso<br />

de nossa cultura literária, científica e filosófica.<br />

Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá<br />

encontrar meios para realizar semelhante medida<br />

e cônscio de que a Câmara e o Senado pesarão<br />

35<br />

o seu alcance e utilidade.<br />

P. e E. deferimento<br />

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.<br />

23. ed. São Paulo: Ática, 2001, p. 52-53.<br />

Sobre o texto e a obra à qual ele pertence, é verdadeiro<br />

afirmar que:<br />

01. a preocupação de Quaresma com a linguagem<br />

oral do povo brasileiro, em destaque a do caboclo,<br />

será retomada – a partir do Modernismo – pelos<br />

estudiosos da língua e da literatura do Brasil.<br />

02. um dos principais argumentos do requerente em<br />

favor do tupi-guarani se fundamenta no fato de a<br />

língua portuguesa ser emprestada ao Brasil.<br />

04. Quaresma pensava nos seus Brasis: naquele que<br />

sonhara e naquele das injustiças sociais; o álcool<br />

foi a grande válvula de escape para ele.<br />

08. em usando do direito que lhe confere a Constituição<br />

(linhas 12 e 13), o pronome destacado faz<br />

referência a povo brasileiro, substituindo, assim,<br />

um nome mencionado posteriormente no texto.<br />

16. as palavras correção (linha <strong>10</strong>), criação (linha 23),<br />

organização (linha 25) e adaptação (linha 28) são<br />

nomes abstratos derivados de verbos.<br />

32. em a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance<br />

e utilidade (linhas 34 e 35), o pronome possessivo<br />

refere-se ao termo medida.<br />

61.<br />

Abordando alguns aspectos da obra de Lima Barreto,<br />

o professor Antonio Candido afirmou:<br />

Para Lima Barreto, a literatura devia ter alguns<br />

requisitos indispensáveis. Antes de mais nada, ser<br />

sincera, isto é, transmitir diretamente o sentimento e<br />

as idéias do escritor, da maneira mais clara e simples<br />

possível. Devia também dar destaque aos problemas<br />

humanos em geral e aos sociais em particular, focalizando<br />

os que são fermento de drama, desajustamento,<br />

incompreensão. Isso, porque, no seu modo de<br />

entender, ela tem a missão de contribuir para libertar<br />

o homem e melhorar a sua convivência.<br />

Antonio Candido. A educação pela noite e outros ensaios<br />

188<br />

Justificam as palavras do crítico as circunstâncias da<br />

obra de Lima Barreto citadas a seguir.<br />

a) Sua condição de moço rico e sua vivência das mazelas<br />

da sociedade, através da observação atenta<br />

dos acontecimentos cotidianos que marcaram a<br />

vida paulistana no início do século XX.<br />

b) A denúncia do preconceito racial e dos privilégios<br />

concedidos aos que aparentavam alguma cultura, sem<br />

possuí-la profundamente, fatos intimamente ligados à<br />

vida do próprio escritor, que era mulato e pobre.<br />

c) O retrato fiel da realidade aristocrática do Rio<br />

de Janeiro do início do século XX e os hábitos<br />

mundanos da alta burguesia, ambiente bastante<br />

freqüentado pelo escritor, que foi um conhecido<br />

cronista social da época.<br />

d) A tendência do escritor ao se referir a fatos diretamente<br />

relacionados à sua infância, passada junto<br />

aos escravos da fazenda do avô, e o registro cotidiano<br />

dos acontecimentos históricos de seu tempo,<br />

como as referências à Segunda Guerra Mundial.<br />

e) O hábito de fazer anotações em um diário e a pressão<br />

junto aos editores para que o colocassem à<br />

venda, tornando públicas informações importantes<br />

para a compreensão do funcionamento da política<br />

de urbanização carioca do final do século XIX.<br />

62. Unicamp-SP<br />

O trecho a seguir, escolhido por Lima Barreto como<br />

epígrafe para introduzir sua obra, Triste fim de Policarpo<br />

Quaresma, comenta o confronto entre o ideal e o real:<br />

O grande inconveniente da vida real e o que a torna<br />

insuportável ao homem superior é que, se transportamos<br />

para ela os princípios do ideal, as qualidades<br />

passam a ser defeitos, de tal modo que, na maioria<br />

das vezes, o homem íntegro não consegue se sair tão<br />

bem quanto aquele que tem por estímulo o egoísmo<br />

ou a rotina vulgar.<br />

Renanm Marc-Aurele<br />

a) Cite dois espisódios do livro em que o comportamento<br />

idealista de Policarpo é ridicularizado por<br />

outras personagens.<br />

b) Considerando-se a epígrafe citada, como pode ser<br />

analisada a trajetória de Policarpo Quaresma?<br />

63.<br />

Ao lado uma árvore única,<br />

uma quixabeira alta,<br />

sobranceando a vegetação franzina,<br />

o sol<br />

poente desatava, longe,<br />

a sua sombra pelo chão,<br />

e protegido por ele<br />

— braços largamente abertos,<br />

face volvida para os céus, —<br />

um soldado descansava.<br />

Descansava... havia três meses.<br />

Morrera no assalto de 18 de julho.<br />

A coronha da Mannlicher estrondada,<br />

o cinturão e o boné jogados a uma banda,<br />

e a farda em tiras, diziam que sucumbira<br />

em luta corpo a corpo com adversário possante.


PV2D-07-54<br />

Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada<br />

que lhe sulcara a fronte,<br />

manchada de uma escara preta.<br />

O destino que o removera do lar, desprotegido<br />

deixara-o ali há três meses<br />

— braços largamente abertos,<br />

rosto voltado para os céus —<br />

para os sóis ardentes,<br />

para os luares claros,<br />

para as estrelas fulgurantes...<br />

Erthos A. de Souza e Luciano Diniz,<br />

“Poema desentranhado de Os Sertões”<br />

O texto acima é um exercício poético em que um trecho<br />

da obra Os sertões foi transformado em poesia, com<br />

o simples rearranjo de suas palavras na página. Que<br />

elementos contidos na obra de Euclides da Cunha<br />

permitiram essa mudança?<br />

64. UEL-PR<br />

Sobre o romance Recordações do Escrivão Isaías<br />

Caminha, de Lima Barreto, é correto afirmar:<br />

a) É uma obra memorialista, cujo narrador-personagem,<br />

Isaías Caminha, já idoso e desacreditado,<br />

decide relatar, de modo saudosista, os momentos<br />

de glória de sua carreira jornalística no jornal O<br />

Globo, durante sua juventude.<br />

b) Constitui, juntamente com o romance Triste Fim de<br />

Policarpo Quaresma, do mesmo autor, uma obra<br />

de análise social, cujo tema principal é a crítica ao<br />

sistema político do início do século XX, pautado<br />

na corrupção e no empreguismo.<br />

c) É, ao lado de Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

e de Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade,<br />

uma das principais obras do Modernismo<br />

brasileiro da década de 1920, adotando muitas das<br />

inovações estéticas propostas pelos modernistas,<br />

como a desestruturação do enredo, a linguagem<br />

coloquial e a aproximação entre prosa e poesia.<br />

d) Pode ser considerado uma obra neonaturalista,<br />

pois a conduta do protagonista Isaías Caminha<br />

transforma-se radicalmente a partir do momento<br />

em que ele passa a viver dentro do mundo jornalístico,<br />

já que, de rapaz tímido e sério, vindo do<br />

interior, transforma-se em um homem interesseiro<br />

e sem escrúpulos, cujo objetivo maior é obter<br />

espaço dentro da imprensa carioca.<br />

e) É uma obra que, através do relato memorialista do<br />

narrador-personagem, expõe, de forma realista e<br />

crítica, a existência, no Rio de Janeiro do início do<br />

século XX, de uma sociedade classista e preconceituosa,<br />

alimentada por uma imprensa bajuladora<br />

e de conveniência, igualmente medíocre.<br />

65. UFOP-MG<br />

Triste fim de Policarpo Quaresma é, freqüentemente,<br />

considerado um romance pré-modernista no sentido<br />

em que revela um esforço para penetrar a fundo na<br />

realidade brasileira, esforço esse que será um dos<br />

pilares da revolução modernista de 1922.<br />

Você concorda com essa afirmação? Se concordar,<br />

discuta os aspectos do romance em que esse esforço<br />

pode ser percebido. Se não concordar, justifique sua<br />

resposta.<br />

66. Unicamp-SP<br />

– O Quaresma está doido.<br />

– Mas... o quê? Quem foi que te disse?<br />

– Aquele homem do violão. Já está na casa de<br />

saúde...<br />

– Eu logo vi, disse Albernaz, aquele requerimento<br />

era de doido.<br />

– Mas não é só, general, acrescentou Genelício.<br />

Fez um ofício em tupi e mandou ao ministro.<br />

O diálogo acima, travado entre Genelício e Albernaz,<br />

menciona personagens e episódios importantes do<br />

romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima<br />

Barreto. Em função dele, responda às questões<br />

abaixo.<br />

a) Quem é o homem do violão?<br />

b) Por que Genelício o chama assim?<br />

c) Com relação ao mesmo texto, responda: a que<br />

requerimento se refere Albernaz para justificar sua<br />

opinião sobre a saúde mental de Policarpo?<br />

67. UFSC<br />

Texto 1<br />

Tendo surpreendido na casa de Rosalina, em plena<br />

orgia, o terrível diretor, vexei-o.<br />

(...)<br />

Percebi que o espantava muito o dizer-lhe que<br />

tivera mãe, que nascera num ambiente familiar e que<br />

me educara. Isso, para ele, era extraordinário. O que<br />

me parecia extraordinário nas minhas aventuras, ele<br />

achava natural; mas ter eu mãe que me ensinasse a<br />

comer com o garfo, isso era excepcional. Só atinei<br />

com esse seu íntimo pensamento mais tarde. Para<br />

ele, como para toda a gente mais ou menos letrada do<br />

Brasil, os homens e as mulheres do meu nascimento<br />

são todos iguais, mais iguais ainda que os cães de suas<br />

chácaras. Os homens são uns malandros, planistas,<br />

parlapatões quando aprendem alguma coisa, fósforos<br />

dos politicões; as mulheres (a noção aí é mais simples)<br />

são naturalmente fêmeas.<br />

Lima Barreto. Recordações do escrivão Isaías Caminha.<br />

<strong>10</strong>ª ed. São Paulo: Ática, 2001. pp.157-158.<br />

Texto 2<br />

O que a senhora deseja, minha amiga, é chegar<br />

já ao capítulo do amor, ou dos amores, que é o seu<br />

interesse particular nos livros. Daí a habilidade da<br />

pergunta, como se dissesse: ‘Olhe que o senhor ainda<br />

nos não mostrou a dama ou damas que têm de ser<br />

amadas ou pleiteadas por estes dois jovens inimigos.<br />

Já estou cansada de saber que os rapazes não se<br />

dão ou se dão mal; é a segunda ou a terceira vez<br />

que assisto às blandícias da mãe ou aos seus ralhos<br />

amigos. Vamos depressa ao amor, às duas, se não é<br />

uma só a pessoa...<br />

Francamente, eu não gosto de gente que venha<br />

adivinhando e compondo um livro que está sendo escrito<br />

com método. A insistência da leitora em falar de<br />

uma só mulher chega a ser impertinente. Suponha que<br />

eles deveras gostem de uma só pessoa; não parecerá<br />

que eu conto o que a leitora me lembrou, quando a<br />

verdade é que eu apenas escrevo o que sucedeu e<br />

pode ser confirmado por dezenas de testemunhas?<br />

Não, senhora minha, não pus a pena na mão, à espreita<br />

do que me viessem sugerindo. Se quer compor<br />

o livro, aqui tem a pena, aqui tem papel, aqui tem um<br />

189


admirador; mas, se quer ler somente, deixe-se estar<br />

quieta, vá de linha em linha; dou-lhe que boceje entre<br />

dois capítulos, mas espere o resto, tenha confiança no<br />

relator destas aventuras.<br />

Machado de Assis, J.M. Esaú e Jacó. 12ª ed.<br />

São Paulo: Ática, 2001. pp.58-59.<br />

Considerando os textos, as obras das quais foram<br />

extraídos, e seus autores, assinale V (verdadeiro) ou<br />

F (falso) nas proposições adiante.<br />

( ) Recordações do escrivão Isaías Caminha, obra da<br />

qual foi extraído o texto 1, critica a imprensa brasileira<br />

dos primeiros anos da República e denuncia a<br />

hipocrisia da sociedade de então. O romance Esaú<br />

e Jacó, ao qual pertence o texto 2, aborda, irônica<br />

e criticamente, os acontecimentos históricos da<br />

transição do Império para a República.<br />

( ) São comuns a Lima Barreto e Machado de Assis: a<br />

citação de episódios da história geral e nacional, de<br />

personagens conhecidos da literatura universal e<br />

a menção de autores brasileiros e estrangeiros.<br />

( ) No texto I, percebe-se que Lima Barreto ironiza a<br />

discriminação social e racial que sofriam os que,<br />

como ele, eram mulatos. Já no texto 2, Machado<br />

de Assis ironiza a leitora formada dentro da concepção<br />

romântica.<br />

( ) O texto 2 marca o estilo realista de Machado de Assis,<br />

com sua provocação constante ao leitor, para<br />

que este participe do que está sendo escrito.<br />

( ) O romance Esaú e Jacó possui uma série de<br />

referências bíblicas, seja através dos nomes dos<br />

personagens, seja por citações diretas de passagens<br />

da Bíblia.<br />

( ) Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima<br />

Barreto, caracteriza-se como uma obra de ambiência<br />

urbana do Romantismo, movimento literário<br />

de transição, em que se iniciaram as tendências e<br />

os temas que se firmariam no Modernismo.<br />

68. PUC-SP<br />

A literatura do Pré-Modernismo brasileiro, nas obras de<br />

Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato,<br />

caracteriza-se pela:<br />

a) descrição e romantização da sociedade rural.<br />

b) interpretação e polêmica voltadas para a problemática<br />

social.<br />

c) análise e idealização da sociedade urbana.<br />

d) restauração e mitificação da temática histórica.<br />

e) reconstrução e fabulação da sociedade indígena.<br />

69.<br />

Contrariando os seus contemporâneos, procurou nas<br />

classes populares e no desmascaramento da vida<br />

cotidiana da pequena burguesia a matéria dos seus<br />

romances e contos. Isso, aliado ao sarcasmo com o qual<br />

ironizava os políticos e literatos da época, fez com que<br />

fosse pouco apreciado no seu tempo. Seu desprezo ao<br />

artificialismo e à retórica parnasiana levou-o a escrever<br />

numa linguagem simples, algumas vezes até desleixada,<br />

o que lhe valeu muitas críticas. Porém, deixou-nos<br />

um valioso registro do Rio de Janeiro da sua época.<br />

A que autor do Pré-Modernismo se refere o texto<br />

anterior? Cite uma obra desse autor.<br />

190<br />

70. PUC-RS<br />

Autores como ________, ________ e ________,<br />

contemporâneos de Euclides da Cunha, apresentaram<br />

novas facetas da realidade brasileira, produzindo,<br />

respectivamente, romances que discutem temas tais<br />

como: a imigração alemã, os costumes urbanos e o<br />

universo rural.<br />

a) Simões Lopes Neto, Raul Pompéia e Lima Barreto<br />

b) Graça Aranha, Lima Barreto e Monteiro Lobato<br />

c) Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha<br />

d) Raul Pompéia, Guimarães Rosa e Monteiro Lobato<br />

e) Graça Aranha, Raul Pompéia e Guimarães Rosa<br />

71. UFV-MG<br />

Leia o texto.<br />

Este novo período, que incluímos cronologicamente<br />

entre 1900 e 1920, é o que chamamos de [...]<br />

eclético […] porque tudo o que vai entre o Simbolismo<br />

e o Modernismo se caracteriza, acima de tudo, por<br />

não poder ser resumido numa escola dominante e, ao<br />

contrário, compreender a coexistência dos simbolistas,<br />

realistas e parnasianos, até mesmo os da geração<br />

que, em 1920, iriam desencadear o Modernismo. Foi<br />

o Pré-Modernismo.<br />

Alceu Amoroso Lima<br />

De acordo com o texto de Alceu Amoroso Lima, o<br />

período eclético se caracteriza:<br />

a) pela existência antagônica de diferentes e diversas<br />

orientações estilísticas.<br />

b) por certas experiências literárias preparatórias da<br />

revolução pré-modernista.<br />

c) pelo predomínio de traços simbolistas, realistas e<br />

parnasianos sobre os pré-modernos.<br />

d) por ser uma fase de transição, muito confusa, cujo<br />

apogeu é o Simbolismo.<br />

e) pela combinação de elementos heterogêneos e<br />

experiências literárias que desaguariam no Modernismo.<br />

Texto para as questões de 72 a 76.<br />

Quando Pedro I lança aos ecos o seu grito<br />

histórico e o país desperta esturvinhado à crise de<br />

uma mudança de dono, o cabloco ergue-se, espia e<br />

acocora-se, de novo.<br />

Pelo 13 de maio, mal esvoaça o florido decreto da<br />

Princesa e o negro exausto larga num uf! o cabo da enxada,<br />

o caboclo olha, coça a cabeça, imagina e deixa que<br />

do velho mundo venha quem nele pegue de novo.<br />

A 15 de novembro troca-se um trono vitalício<br />

pela cadeira quadrienal. O país bestifica-se ante<br />

o inopinado da mudança. O caboclo não dá pela<br />

coisa.<br />

Vem Floriano: estouram as granadas de<br />

Custódio;Gumercindo bate às portas de Roma; Incitatus<br />

derranca o país. O caboclo continua de cócoras,<br />

a madorrar...<br />

Nada o desperta. Nenhuma ferretoada o põe de<br />

pé. Social, como individualmente, em todos os atos da<br />

vida, Jeca antes de agir, acocora-se.<br />

Monteiro Lobato


PV2D-07-54<br />

72. FAAP-SP<br />

É nesta crônica que Monteiro Lobato fotografa a<br />

imagem do caipira, apresentado como uma “raça intermediária”,<br />

que perdeu o primitivismo do índio sem,<br />

no entanto, adquirir a força do colonizador. A crônica<br />

foi extraída do livro:<br />

a) Negrinha<br />

b) O Macaco que se fez Homem<br />

c) Urupês<br />

d) O Presidente Negro<br />

e) O escândalo do Petróleo<br />

73. FAAP-SP<br />

O texto fala de fatos históricos, respectivamente:<br />

a) Monarquia – Lei do Ventre Livre – Eleição de<br />

Floriano<br />

b) Regência – Tráfego Negro – Posse de Floriano<br />

c) Maioridade – Libertação dos Escravos – Posse de<br />

Floriano<br />

d) Parlamentarismo – Libertação dos Escravos – Presidencialismo<br />

e) Independência – Libertação dos Escravos – República<br />

74. FAAP-SP<br />

Jeca Tatu de Monteiro inspirou um cantor brasileiro<br />

a compor:<br />

Jeca Total: Jeca total deve ser Jeca Tatu presente,<br />

passado, representante da gente do Senado. Estamos<br />

falando de:<br />

a) Chico Buarque d) Roberto Carlos<br />

b) Caetano Veloso e) Milton Nascimento<br />

c) Gilberto Gil<br />

75. FAAP-SP<br />

A crítica é unânime em classificar o escritor Monteiro<br />

Lobato ligado ao movimento:<br />

a) pré-modernista d) dadaísta<br />

b) surrealista e) cubista<br />

c) futurista<br />

76. FAAP-SP<br />

Sobre Monteiro Lobato não procede a seguinte afirmação:<br />

a) Nasceu em Taubaté e morreu em São Paulo. Advogado,<br />

promotor Público. Fundou a Companhia de<br />

Petróleos do Brasil<br />

b) Inovador quando defende a arte de Anita Malfatti<br />

em famoso artigo publicado pelo Estado: Paranóia<br />

ou Mistificação<br />

c) Avançado quando satiriza o purismo da linguagem<br />

no conto também famoso: O Colocador de Pronomes<br />

d) Promoveu campanhas nacionais em favor do ferro<br />

e petróleo: Preso pelo governo Vargas em 1941,<br />

exila-se na Argentina.<br />

e) Crítico veemente do sistema agrícola brasileiro na<br />

figura de Jeca Tatu, símbolo da miséria e do atraso<br />

a que foram relegados nossos caipiras<br />

77. UFOP-MG<br />

Leia com atenção o seguinte texto:<br />

Como uma cascavel que se enroscava,<br />

A cidade dos lázaros dormia...<br />

Somente, na metrópole vazia,<br />

Minha cabeça autônoma pensava!<br />

Mordia-me a obsessão má de que havia,<br />

Sob os meus pés, na terra onde eu pisava,<br />

Um fígado doente que sangrava<br />

E uma garganta de órfã que gemia!<br />

Tentava compreender com as conceptivas<br />

Funções do encéfalo as substâncias vivas<br />

Que nem Spencer, nem Haechel compreenderam...<br />

E via em mim, coberto de desgraças,<br />

O resultado de bilhões de raças<br />

Que há muitos anos desapareceram!<br />

ANJOS, Augusto dos. Eu: poesias.<br />

Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998, p.61.<br />

Assinale a alternativa incorreta.<br />

a) É possível observar, na construção desse texto,<br />

uma tal concentração no conteúdo que faz com<br />

que a forma fique bastante negligenciada.<br />

b) Observa-se uma tendência bastante forte para a<br />

exploração de temas mórbidos e patológicos, como<br />

nos demais poemas de Augusto dos Anjos.<br />

c) Apresenta o poema um pendor para a representação<br />

de um cientificismo, mesmo que o impulso<br />

lírico seja uma constante presença.<br />

d) Faz-se notar um pessimismo que, na sua exacerbação,<br />

acaba caminhando para um quase total<br />

aniquilamento.<br />

e) Justificando a obra a que pertence, há, no poema,<br />

um individualismo bem nítido.<br />

78. UFRGS-RS<br />

É correto afirmar que Augusto dos Anjos foi o poeta<br />

do:<br />

a) pessimismo aliado à ciência que acusava a degradação<br />

humana mediante associações e comparações<br />

com processos químicos e biológicos.<br />

b) cientificismo triunfante que, aliado à idéia de progresso,<br />

marcou boa parte da lírica contemporânea<br />

aos primeiros anos da República.<br />

c) pessimismo acusatório que denunciou o latifúndio<br />

e a política oligárquica, reproduzindo nas poesias<br />

as preocupações e temas de Lima Barreto.<br />

d) esteticismo que depurava a forma de seus sonetos<br />

à perfeição, sem jamais fazer concessões a temas<br />

considerados prosaicos ou de mau gosto.<br />

e) cientificismo militante disposto a abranger temas<br />

como o cálculo algébrico, a crítica literária e<br />

arquitetura para retirar o caráter subjetivo da<br />

poesia.<br />

79. PUC-RS<br />

Associar a “Consciência Humana” à imagem de um<br />

“morcego”, assim como fazer poesia sobre o “verme”,<br />

ou afirmar que o homem, por viver “entre as feras”,<br />

também sente a necessidade “de ser fera” são algumas<br />

das imagens poéticas de _________. Apesar das<br />

críticas contundentes de que foi alvo, o poeta, muito<br />

distante da obsessão _________ pela forma, ou da<br />

191


sugestão das imagens _________, já revelava, a seu<br />

tempo, elementos de modernidade.<br />

a) Cruz e Souza - simbolista - parnasianas<br />

b) Augusto dos Anjos - parnasiana - simbolistas<br />

c) Alphonsus Guimaraens - parnasiana - realistas<br />

d) Cruz e Souza - romântica - parnasianas<br />

e) Augusto dos Anjos - simbolista - parnasianas<br />

80. UFOP-MG<br />

A respeito de Eu, de Augusto dos Anjos, é correto<br />

dizer que:<br />

a) sendo uma obra eminentemente barroca, representa<br />

com perfeição as dualidades céu/terra,<br />

pecado/graça, treva/luz.<br />

b) sendo uma obra eminentemente romântica, apresenta<br />

um subjetivismo exacerbado, que extrapola<br />

todos os limites.<br />

c) sendo uma obra eminentemente parnasiana, prima<br />

pela perfeição formal, desprezando quaisquer<br />

outras preocupações.<br />

d) sendo uma obra eminentemente simbolista, usa e<br />

abusa dos meios tons que tanto caracterizam essa<br />

poesia nefelibata.<br />

e) sendo uma obra de difícil classificação, reserva,<br />

mesmo assim, um lugar de destaque na poesia<br />

brasileira como um caso à parte.<br />

81. UFOP-MG<br />

Psicolgia de um vencido<br />

Eu, filho do carbono e do amoníaco,<br />

Monstro de escuridão e rutilância,<br />

Sofro, desde a epigênese da infância,<br />

A influência má dos signos do zodíaco.<br />

Profundissimamente hipocondríaco,<br />

Este ambiente me causa repugnância...<br />

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia<br />

Que se escapa da boca de um cardíaco.<br />

Já o verme – este operário das ruínas<br />

Que o sangue podre das carnificinas<br />

Come e à vida em geral declara guerra,<br />

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,<br />

E há de deixar-me apenas os cabelos,<br />

Na frialdade inorgânica da terra!<br />

Augusto dos Anjos<br />

A angústia diante da vida, a imagem da decomposição<br />

da carne e a linguagem exótica – alguns dos elementos<br />

caracterizadores da poesia de Augusto dos Anjos<br />

– estão presentes no poema. Exemplifique cada um<br />

deles com elementos do poema.<br />

82. PUC-MG<br />

Todas as afirmativas sobre a obra Urupês estão corretas,<br />

exceto:<br />

a) Em Velha praga, impera a perspectiva do proprietário<br />

rural que denuncia a causa das queimadas<br />

que trazem problemas às suas terras.<br />

b) Velha praga e Urupês podem ser considerados<br />

artigos jornalísticos que estabelecem entre si uma<br />

relação temática.<br />

192<br />

c) Contos como A colcha de retalhos ou O comprador<br />

de fazendas ilustram a temática da decadência no<br />

meio rural, viés crítico da obra de Lobato.<br />

d) Bucólica e Bocatorta destoam do restante dos textos<br />

da obra por serem contos de ambientação urbana.<br />

83. UFSM-RS<br />

Analise as afirmações a seguir.<br />

I. Sua poesia explora o cientificismo e a preocupação<br />

filosófica, apresentando imagens repulsivas, inspiradas<br />

na morte e na decomposição da matéria.<br />

II. Possui obra que focaliza casos e costumes da<br />

vida baiana, contemplando tópicos, como os rituais<br />

afros de Salvador e os dramas próprios das<br />

plantações de cacau do sertão.<br />

Assinale a alternativa que identifica, pela ordem, os autores<br />

que se relacionam com as afirmações apresentadas.<br />

a) I. Aluísio Azevedo; II. Guimarães Rosa<br />

b) I. Ferreira Gullar; II. Josué Guimarães<br />

c) Raul Pompéia; II. Euclides da Cunha<br />

d) I. Álvares de Azevedo; II. Graciliano Ramos<br />

e) I. Augusto dos Anjos; II. Jorge Amado<br />

84. UFV-MG<br />

No prefácio da primeira edição de Urupês, diz Monteiro<br />

Lobato:<br />

E aqui aproveito o lance para implorar perdão ao<br />

pobre Jeca. Eu ignorava que eras assim, meu Tatu,<br />

por motivo de doença. Hoje é com piedade infinita<br />

que te encara quem, naquele tempo, só via em ti um<br />

mamparreiro de marca. Perdoas?<br />

A partir deste fragmento, considerando o contexto<br />

do artigo Urupês e a trajetória intelectual de Lobato,<br />

responda:<br />

a) O que significa mamparreiro, termo corrente no<br />

norte do Brasil?<br />

b) O que Lobato descobre em relação à natureza<br />

física e mental do cabloco brasileiro, assim como<br />

à sua condição histórica e política, que lhe permite<br />

fazer esta auto-crítica ainda em 1918?<br />

Texto para as questões 85 e 86.<br />

Noite em João Pessoa<br />

1 A noite de ontem, ostentando uma cenografia muito<br />

lúgubre, nos deu a Justiça, na Paraíba do Norte,<br />

havia aberto falência.<br />

2 Afigurou-se-nos, então, que nosso aerópago<br />

forense, tornar-se-ia d’ora em diante um núcleo<br />

tristíssimo de bacharéis escaveirados com a faculdade<br />

prosódica obstruída por uma alalia incurável,<br />

arrastando desconsoladamente pela sala das<br />

audiências as fósseis togas hipotecadas.<br />

3 O largo da Catedral de N. S. das Neves, oferecia<br />

sem nenhum exagero, uma perspectiva inteiramente<br />

desalentadora.<br />

4 A iluminação elétrica, de um efeito intensivo péssimo,<br />

iluminava com reflexos mortiços toda aquela<br />

decadência sintomática que bem equivalia à justiça<br />

mundial agonizante, festejando com alguns círios<br />

e com o Cinema Halley a véspera de sua desintegração<br />

absoluta.


PV2D-07-54<br />

5 Pouquíssimos circunstantes.<br />

6 Alguns, exibindo hiatos de desilusão mal contida, regressavam<br />

aos lares, com o atabalhoamento nervoso<br />

e a diminuição concomitante da verticalidade dorsal<br />

de quem está sendo vaiado publicamente (...)<br />

7 Ah! certamente, a noite da Justiça, com sua treva<br />

e os “films” magríssimos de seu cinema plebeu,<br />

foi apenas o prelúdio incoerente e mal definido<br />

dos deslumbramentos futuros que as outras noites<br />

hão de trazer, como uma compensação muito<br />

carinhosa, ao nosso espírito decepcionado.<br />

Trecho da crônica inédita de Augusto dos Anjos.<br />

Jornal O Globo, 04/09/04.<br />

85. Cesgranrio-RJ<br />

Em relação ao texto, só não foi intenção do autor<br />

mostrar:<br />

a) a decadência da justiça no panorama mundial.<br />

b) a inoperância da iluminação elétrica.<br />

c) a esperança no futuro, apesar das decepções.<br />

d) o desinteresse pelas sessões de justiça, através<br />

do número reduzido de assistentes.<br />

e) a identificação entre o aspecto soturno da noite e<br />

a prostração dos bacharéis.<br />

86. Cesgranrio-RJ<br />

No 6 o parágrafo do texto, percebe-se a degradação<br />

física e moral dos bacharéis, que é motivada por:<br />

a) problemas físicos que atacam os nervos.<br />

b) desilusão amorosa contida.<br />

c) decepção profissional sofrida.<br />

d) sacrifício da volta ao lar.<br />

e) arqueamento da coluna pelo excesso de trabalho.<br />

87. Mackenzie-SP<br />

Budismo moderno<br />

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte<br />

Minha singularíssima pessoa.<br />

Que importa a mim que a bicharia roa<br />

Todo o meu coração, depois da morte?!<br />

Ah! Um urubu pousou em minha sorte!<br />

Também, das diatomáceas da lagoa<br />

A criptógama cápsula se esbroa<br />

Ao contato de bronca destra forte!<br />

Dissolva-se, portanto, minha vida,<br />

Igualmente a uma célula caída<br />

Na aberração de um óvulo infecundo;<br />

Mas o agregado abstrato das saudades<br />

Fique batendo nas perpétuas grades<br />

Do último verso que eu fizer no mundo!<br />

Augusto dos Anjos<br />

Assinale a alternativa que não se aplica ao soneto<br />

anterior.<br />

a) As três primeiras estrofes expressam uma idéia de<br />

fim, enquanto veiculam o desânimo e o ceticismo.<br />

b) A última estrofe concretiza uma idéia de continuidade,<br />

enquanto veicula o sonho, ou a criação, que<br />

perpetua o criador.<br />

c) A oração coordenada sindética adversativa, que<br />

constitui o verso 12, aponta para uma contrariedade<br />

de idéias, ou seja, matéria vs. espírito.<br />

d) O cientificismo é o doador da sensação de continuidade,<br />

que salta de uma estrofe para o título e<br />

vice-versa.<br />

e) “Fique batendo” expressa, pela continuidade temporal,<br />

uma ação incessante e ininterrupta, que se<br />

opõe à idéia de fim.<br />

88. UFRGS-RS<br />

Versos íntimos<br />

Vês! Ninguém assistiu ao formidável<br />

Enterro de tua última quimera.<br />

Somente a Ingratidão - esta pantera -<br />

Foi tua companheira inseparável!<br />

Acostuma-te à lama que te espera!<br />

O Homem, que, nesta terra miserável,<br />

Mora, entre feras, sente inevitável<br />

Necessidade de também ser fera.<br />

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!<br />

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,<br />

A mão que afaga é a mesma que apedreja.<br />

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,<br />

Apedreja essa mão vil que te afaga,<br />

Escarra nessa boca que te beija!<br />

Augusto dos Anjos<br />

Considere as seguintes afirmações em relação ao<br />

poema de Augusto dos Anjos<br />

I. O poema comenta sarcasticamente o fim da vida<br />

e contradiz os ideais de solidariedade humana.<br />

II. Os versos demonstram que os animais são os principais<br />

responsáveis pela violência sobre a terra.<br />

III. O poeta serviu-se da imagem do fósforo para<br />

transmitir ao eleito uma mensagem de luz e de<br />

esperança.<br />

Quais estão corretas?<br />

a) Apenas I d) Apenas I e III<br />

b) Apenas II e) I, II e III<br />

c) Apenas I e II<br />

89. ENEM<br />

Narizinho correu os olhos pela assistência. Não<br />

podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque<br />

e flores na lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas,<br />

verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina -<br />

achando que era exagero usarem coletes tão apertados.<br />

Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos<br />

que as borboletas de toucados de gaze tinham com o<br />

pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados<br />

para não morderem. E canários cantando, e beija-flores<br />

beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos<br />

caranguejando, tudo que é pequenino e não morde,<br />

pequeninando e não mordendo.<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho.<br />

São Paulo: Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série de verbos no<br />

gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente<br />

fantástico descrito. Expressões como “camaronando”,<br />

“caranguejando” e “pequeninando e não mordendo”<br />

criam, principalmente, efeitos de<br />

a) esvaziamento de sentido.<br />

b) monotonia do ambiente.<br />

c) estaticidade dos animais.<br />

d) interrupção dos movimentos.<br />

e) dinamicidade do cenário.<br />

193


90. UFU-MG<br />

Nos primeiros parágrafos de Urupês, Monteiro Lobato<br />

posiciona-se em relação às principais tendências da<br />

literatura brasileira.<br />

Assinale a alternativa em que a posição de Lobato é<br />

apresentada incorretamente.<br />

a) Assim como os modernistas, Lobato critica a visão<br />

idealizada que os românticos tinham do índio; para<br />

ele, o romantismo brasileiro havia sido mera imitação<br />

da escola francesa, tendo apenas adaptado<br />

ao cenário dos tópicos as idéias de Rousseau.<br />

b) Para Lobato, o realismo naturalista irá acertar o tom<br />

da literatura brasileira, fugindo à caricatura para<br />

revelar outras deficiências do cabloco nacional,<br />

cuja índole ele investiga com apoio da ciência evolucionista;<br />

por isto, o naturalismo projeta-se como<br />

a literatura do futuro, por associar ao cientificismo<br />

alta dosagem de qualidade poética.<br />

c) A fraqueza moral e muscular do selvagem brasileiro<br />

– que Lobato julgava capaz de “moquear a<br />

linda menina” Ceci “num bom brasileiro”, em vez de<br />

amá-la perdidamente, como fez Peri – corresponde<br />

à mesma visão que Mário de Andrade adota na<br />

construção do herói Macunaíma.<br />

d) Para Lobato, a substituição do selvagem pelo<br />

cabloco como tipo brasileiro, no período pré-modernista,<br />

dando a este atributos de integridade<br />

moral, repete o mesmo equívoco de idealização<br />

que marcou o indianismo romântico.<br />

91. PUC-SP<br />

Estradas de rodagem<br />

Comparados os países com veículos, veremos<br />

que os Estados Unidos são uma locomotiva elétrica;<br />

a Argentina um automóvel; o México uma carroça; e<br />

o Brasil um carro de boi.<br />

O primeiro desses países voa; o segundo corre a<br />

50 km por hora; o terceiro apesar das revoluções tira<br />

<strong>10</strong> léguas por dia; nós...<br />

Nós vivemos atolados seis meses do ano, enquanto<br />

dura a estação das águas, e nos outros 6 meses<br />

caminhamos à razão de 2 léguas por dia. A colossal<br />

produção agrícola e industrial dos americanos voa<br />

para os mercados com a velocidade média de <strong>10</strong>0 km<br />

por hora. Os trigos e carnes argentinas afluem para<br />

os portos em autos e locomotivas que uns 50 km por<br />

hora, na certa, desenvolvem.<br />

As fibras do México saem por carroças e se um general<br />

revolucionário não as pilha em caminho, chegam<br />

a salvo com relativa presteza. O nosso café, porém, o<br />

nosso milho, o nosso feijão e a farinha entram no carro<br />

de boi, o carreiro despede-se da família, o fazendeiro<br />

coça a cabeça e, até um dia! Ninguém sabe se chegará,<br />

ou como chegará. Às vezes pensa o patrão que o veículo<br />

já está de volta, quando vê chegar o carreiro.<br />

– Então? Foi bem de viagem?<br />

O carreiro dá uma risadinha.<br />

– Não vê que o carro atolou ali no Iriguaçu e..<br />

– E o quê?<br />

– ... e está atolado! Vim buscar mais dez juntas de<br />

bois para tirar ele.<br />

E lá seguem bois, homens, o diabo para desatolar<br />

o carro.<br />

Enquanto isso, chove, a farinha embolora, a rapadura<br />

derrete, o feijão caruncha, o milho grela; só o<br />

café resiste e ainda aumenta o peso.<br />

LOBATO, M. Obras Completas, 14ª ed.<br />

São Paulo, Brasiliense, 1972, v. 8, p.74<br />

194<br />

Monteiro Lobato foi um escritor que, quanto ao uso da<br />

língua, sempre questionou a obediência aos padrões<br />

rígidos da gramática e às normas herdadas de Portugal.<br />

No texto, há momentos em que ele não segue as regras<br />

de uso da vírgula previstas pela Gramática Normativa.<br />

Assim, observe os fragmentos a seguir:<br />

I. As fibras do México saem por carroças e se um<br />

general revolucionário não as pilha em caminho,<br />

chegam a salvo com presteza.<br />

II. Às vezes, pensa o patrão que o veículo já está de<br />

volta, quando vê chegar o carreiro.<br />

III. O primeiro destes países voa; o segundo corre a<br />

50 km por hora; o terceiro apesar das revoluções<br />

tira <strong>10</strong> léguas por dia.<br />

Quanto ao uso da vírgula, em relação às regras da<br />

Gramática Normativa, nesses fragmentos:<br />

a) I e II estão corretos.<br />

b) II e III estão corretos.<br />

c) I e III estão corretos.<br />

d) apenas II está correto.<br />

e) apenas I está correto.<br />

92.<br />

A contradição moderno-antimodernista leva-o a uma<br />

crítica injusta e violenta à pintura de Anita Malfatti,<br />

fato cultural mais importante antes da Semana de<br />

Arte Moderna.<br />

Assinale a alternativa que apresenta o autor pré-modernista<br />

a que se refere o texto anterior.<br />

a) Augusto dos Anjos d) Euclides da Cunha<br />

b) Lima Barreto e) Machado de Assis<br />

c) Monteiro Lobato<br />

93.<br />

Que atitude comum caracteriza a postura literária de<br />

autores pré-modernistas como Lima Barreto, Graça<br />

Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha?<br />

94. UEM-PR<br />

Leia o poema a seguir e assinale a(s) alternativa(s)<br />

correta(s).<br />

Ricordanza della mia gioventù (*)<br />

A minha ama-de-leite Guilhermina<br />

Furtava as moedas que o Doutor me dava.<br />

Sinhá-Mocinha, minha mãe, ralhava...<br />

Via naquilo a minha própria ruína!<br />

Minha ama, então, hipócrita, afetava<br />

Susceptibilidades de menina:<br />

“– Não, não fora ela!” – E maldizia a sina,<br />

Que ela absolutamente não furtava.<br />

Vejo, entretanto, agora, em minha cama,<br />

Que a mim somente cabe o furto feito...<br />

Tu só furtaste a moeda, o ouro que brilha...<br />

Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,<br />

Eu furtei mais, porque furtei o peito<br />

Que dava leite para a tua filha!<br />

Augusto dos Anjos<br />

(*) Lembrança da minha juventude


PV2D-07-54<br />

( ) O narrador desse texto se lembra da juventude<br />

com saudades, fazendo uma brincadeira com a<br />

ama-de-leite. Essa saudade é típica do gênero<br />

lírico, assim como o são os temas amorosos e<br />

a contemplação da natureza.<br />

( ) Esse soneto é bastante característico de Augusto<br />

dos Anjos, com seu contraste entre os<br />

valores efêmeros (“o ouro que brilha”) e os<br />

eternos (o leite materno, simbolizando o amor<br />

e os cuidados de mãe), sua amarga decepção<br />

com as falhas humanas e sua linguagem cheia<br />

de preciosismos.<br />

( ) O soneto tem fortes relações com a vida de<br />

Augusto dos Anjos: mulato, pobre, talentoso,<br />

não pôde avançar em sua carreira no funcionalismo<br />

público por não possuir amigos influentes<br />

e por recusar-se a dedicar seus sonetos aos<br />

poderosos; tais eram os motivos do seu tom<br />

crítico, amargo, retratando a realidade corrupta<br />

e medíocre do Brasil, especialmente do Rio de<br />

Janeiro. Em razão disso, no poema, faz menções<br />

irônicas ao Doutor, à Sinha-Mocinha, ao<br />

ouro corruptor e à hipocrisia.<br />

( ) O eu lírico desse texto é bastante típico de Augusto<br />

dos Anjos, com sua atitude de desgosto e<br />

de desilusão perante os fatos da vida. Contudo,<br />

esse soneto não é dos mais típicos de sua obra,<br />

uma vez que sua temática sugere um proble-<br />

Capítulo 2<br />

95. UFU-MG<br />

Faça a correspondência das expressões estilísticas<br />

com as gerações modernistas e assinale a alternativa<br />

que contém a correspondência correta.<br />

I. Abominação do passado<br />

II. Tentativa de demolição<br />

III. Valorização do inconsciente<br />

IV. Uso intenso de estrangeirismo<br />

V. Aliança de signos verbais e econômicos<br />

( ) Concretismo<br />

( ) Surrealismo<br />

( ) Dadaísmo<br />

( ) Antropofagia<br />

( ) Futurismo<br />

a) V, III, II, I, IV<br />

b) V, II, III, I, IV<br />

c) V, III, II, IV, I<br />

d) IV, I, II, III, V<br />

e) V, III, IV, II, I<br />

96. UFPA<br />

As idéias de Marinetti influenciaram muito os nossos<br />

autores. Dele, os escritores brasileiros seguiram:<br />

a) a exacerbação do nacional e a sintaxe tradicional.<br />

b) a paixão pela metáfora intelectualista e rebuscada,<br />

e pelas frases de efeito.<br />

c) a negação do passado e o uso de palavras em<br />

liberdade.<br />

ma social, a exploração da ama, que deixa de<br />

alimentar a própria filha para dar o leite a outra<br />

criança.<br />

( ) O soneto pode ter relações com a vida de Augusto<br />

dos Anjos, filho de uma família de antigos<br />

senhores de engenho na Paraíba. Mas isso<br />

não “explica” seu sentido, que é mais o de uma<br />

grande ironia: a ama, que furtava e mentia, é<br />

posta sob outra luz, através da memória, quando<br />

o menino fala de uma culpa que não pode ser<br />

encarada como individual (o menino “furtar”<br />

o leite), mas coletiva (a situação social que<br />

obrigava a mulher a ganhar a vida vendendo<br />

o próprio leite).<br />

( ) O narrador faz uso de alguns elementos de época<br />

que estão fora de uso hoje: a) a ama-de-leite,<br />

geralmente descendente de escravos, amamentava<br />

os filhos de pais ricos; b) a crença de que o<br />

leite ajudava a formar o caráter da criança, por<br />

isso a mãe do garoto via no furto a “ruína” do<br />

filho; c) a menção à sina, que significa “destino”,<br />

remete a “tirar a sina”, crença de que alguns<br />

indivíduos com poderes divinatórios poderiam<br />

prever com exatidão o destino das crianças; d) a<br />

figura da escrava petulante, espertalhona, capaz<br />

de furtos e de pequenas malandragens.<br />

d) o conceito de felicidade na vida em contato com a<br />

natureza, e a fé na razão e na ciência.<br />

e) o gosto pelo psicologismo na ficção e a supervalorização<br />

da natureza.<br />

97. Unibero-SP<br />

Analise a tela de Hans Arp aqui reproduzida. Tratase<br />

de uma colagem, e sua técnica de composição,<br />

segundo o pintor, foi a de “picar papéis e deixá-los<br />

cair espontaneamente sobre um fundo colorido”. Essa<br />

técnica pode ser interpretada como:<br />

Samira Yousseff Campedelli, Literatura, História & Texto 3, p. 65.<br />

a) própria do cubismo.<br />

b) típica do surrealismo.<br />

c) futurista.<br />

d) expressionista.<br />

e) um procedimento dadaísta.<br />

195


98. PUC-SP<br />

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela<br />

minha aldeia,<br />

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que<br />

corre pela minha aldeia<br />

Porque o Tejo não é o rio que corre pela<br />

minha aldeia.<br />

196<br />

O Tejo tem grandes navios<br />

E navega nele ainda,<br />

Para aqueles que vêem em tudo o<br />

que lá não está,<br />

A memória das naus.<br />

O Tejo desce de Espanha<br />

E o Tejo entra no mar em Portugal.<br />

Toda a gente sabe isso.<br />

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia<br />

E para onde ele vai<br />

E donde ele vem.<br />

E por isso, porque pertence a menos gente,<br />

É mais livre e maior o rio da minha aldeia.<br />

Pelo Tejo vai-se para o mundo.<br />

Para além do Tejo há a América<br />

E a fortuna daqueles que a encontram.<br />

Ninguém nunca pensou no que há para além<br />

Do rio da minha aldeia.<br />

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.<br />

Quem está ao pé dele está só ao pé dele.<br />

O poema acima, do heterônimo de Fernando Pessoa,<br />

Alberto Caeiro, integra o livro O guardador de rebanhos.<br />

Indique a alternativa que nega a adequada<br />

leitura do poema em questão.<br />

a) O elemento fundamental do poema é a busca da<br />

objetividade, sintetizada no verso: “Quem está ao<br />

pé dele está só ao pé dele”.<br />

b) O poema propõe um contraste a partir do mesmo<br />

motivo e opõe um sentido geral a um sentido<br />

particular.<br />

c) O texto sugere um conceito de beleza que implica<br />

proximidade e posse e, por isso, valoriza o que é<br />

humilde, ignorado e despretensioso.<br />

d) O rio que provoca a real sensação de se estar à<br />

beira de um rio é o Tejo, que guarda a “memória<br />

das naus”, marca do passado grandioso do país.<br />

e) O poema se fundamenta numa argumentação<br />

dialética em que o conjunto das justificativas deixa<br />

clara a posição do poeta.<br />

99. UFV-MG<br />

Considere o poema.<br />

Botafogo<br />

Desfilam algas, sereias, peixes e galeras<br />

E legiões de homens desde a pré-história<br />

Diante do Pão de Açúcar impassível.<br />

Um aeroplano bica a pedra amorosamente<br />

A filha do português debruçou-se à janela<br />

Os anúncios luminosos lêem seu busto<br />

A enseada encerrou-se num arranha-céu.<br />

Murilo Mendes<br />

Assinale a alternativa verdadeira.<br />

a) Por liberar imagens do inconsciente, livres da razão<br />

consciente, “Botafogo” pode ser classificado como<br />

poema surrealista.<br />

b) É um poema irreverente, provocador, inspirado no<br />

Dadaísmo.<br />

c) O estilo metafórico de nomeação fugidia e imediata<br />

da realidade torna o poema representativo da<br />

proposta Pau-Brasil.<br />

d) Trata-se de um poema futurista, pois celebra as<br />

delícias da velocidade e da energia mecânica.<br />

e) É um poema cubista, porque explora as formas<br />

geométricas e os diversos ângulos dos objetos<br />

descritos.<br />

<strong>10</strong>0.<br />

Eia! eia! eia!<br />

Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!<br />

Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do<br />

Inconsciente!<br />

Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!<br />

Eia todo o passado dentro do presente!<br />

Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!<br />

Eia! eia! eia!<br />

Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!<br />

Eia! eia! eia! eia!-hô-ô-ô!<br />

Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio,<br />

engenho-me.<br />

Engatam-me em todos os comboios.<br />

Içam-me em todos os cais.<br />

Giro dentro das hélices de todos os navios.<br />

Eia! eia-hô eia!<br />

Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!<br />

Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa –<br />

fragmento de Ode Triunfal<br />

Relacione o excerto anterior com uma das vanguardas<br />

artísticas européias.<br />

<strong>10</strong>1.<br />

Leia o Poema tirado de uma notícia de jornal, de Manuel<br />

Bandeira.<br />

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no<br />

morro da Babilônia num barracão sem número.<br />

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro<br />

Bebeu<br />

Cantou<br />

Dançou<br />

Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu<br />

afogado.<br />

Podemos filiar esse poema a qual tendência vanguardista?<br />

a) cubismo d) dadaísmo<br />

b) futurismo e) impressionismo<br />

c) surrealismo<br />

<strong>10</strong>2. UFSCar-SP<br />

Uma outra frase famosa de Fernando Pessoa (Tudo<br />

vale a pena se a alma não é pequena) encontra-se<br />

no trecho a seguir, retirado do poema Mar Português,<br />

pertencente ao livro Mensagem:


PV2D-07-54<br />

Valeu a pena? Tudo vale a pena<br />

Se a alma não é pequena.<br />

Quem quer passar além do Bojador<br />

Tem que passar além da dor.<br />

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,<br />

Mas nele é que espelhou o céu.<br />

Fernando Pessoa. Obra poética, p. 82.<br />

a) De que trata essa obra de Fernando Pessoa?<br />

b) Explique o sentido de pequena, no segundo verso.<br />

<strong>10</strong>3.<br />

Receita para fazer um poema dadaísta<br />

Pegue um jornal.<br />

Pegue a tesoura.<br />

Escolha no jornal um artigo do tamanho<br />

que você deseja dar a seu poema.<br />

Recorte o artigo.<br />

Recorte em seguida com atenção<br />

algumas palavras que formam esse artigo<br />

e meta-as num saco.<br />

Agite suavemente.<br />

Tire em seguida cada pedaço um após<br />

o outro.<br />

Copie conscienciosamente na ordem em<br />

que elas são tiradas do saco.<br />

O poema se parecerá com você.<br />

E ei-lo um escritor infinitamente<br />

original e de uma sensibilidade graciosa,<br />

ainda que incompreendido do público.<br />

Tristan Tzara<br />

a) O poeta dadaísta seguia algum tipo de regra?<br />

b) Contraste essa proposta com os procedimentos<br />

das estéticas clássicas.<br />

<strong>10</strong>4.<br />

Dessa forma, a Semana, em vez de um início, foi um<br />

coroamento. A árvore vinha florescendo para dar o<br />

fruto. Já a idéia estava sazonada. De modo que a concretização<br />

só dependia de circunstâncias favoráveis<br />

para desabrochar. Isso ocorreu em 1922.<br />

Afrânio Coutinho<br />

Marque a única opção que não pode ser inferida a<br />

partir da leitura do trecho acima, considerando a Semana<br />

da Arte Moderna.<br />

a) A Semana marcou o início oficial do Modernismo,<br />

mas ela também é conseqüência de fatos literários<br />

ou não.<br />

b) A Semana aconteceu no momento certo, nem<br />

antes nem depois.<br />

c) Alguns fatos sociais, históricos e artísticos fizeram<br />

com que a realização da Semana viesse a ser algo<br />

natural e necessário.<br />

d) Sem a realização da Semana, jamais eclodiria o<br />

movimento modernista.<br />

e) A semana simbolizou, também, a comemoração<br />

do centenário da Independência brasileira.<br />

<strong>10</strong>5. ITA-SP<br />

Leia o texto a seguir.<br />

Propunha a destruição do passado e a incorporação<br />

dos aspectos dinâmicos da realidade (exaltação<br />

da velocidade e da máquina). O líder desse movimento<br />

foi o italiano Marinetti.<br />

A que movimento artístico de vanguarda europeu,<br />

que influenciou o Modernismo brasileiro, refere-se a<br />

afirmação anterior?<br />

<strong>10</strong>6. Mackenzie-SP<br />

No início do século XX, várias tendências estéticas surgiram<br />

na Europa e influenciaram o Modernismo brasileiro.<br />

Não faz parte delas o:<br />

a) dadaísmo. d) cubismo.<br />

b) expressionismo. e) determinismo.<br />

c) futurismo.<br />

<strong>10</strong>7. UEL-PR<br />

Compare o poema narrativo de Jorge de Lima, O grande<br />

desastre aéreo de ontem, com o quadro Guernica,<br />

de Pablo Picasso.<br />

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma<br />

flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista,<br />

em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com<br />

sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e<br />

pernas de dançarinas arremessadas na explosão.<br />

Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor.<br />

Vejo a nadadora belíssima, no seu último<br />

salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.<br />

Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como<br />

se dançassem ainda. (...) Ó amigos, o paralítico vem<br />

com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente,<br />

vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as<br />

nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que<br />

Deus é o arrebol.<br />

LIMA, Jorge de. Poesia. Nossos Clássicos 26.<br />

Rio de Janeiro: Agir, 1963. p. 64-65.<br />

arrebol: vermelhidão do pôr-do-sol.<br />

Assinale a alternativa correta:<br />

a) Tanto o poeta quanto o pintor acalentam esperanças<br />

ingênuas quanto à superação das tragédias<br />

do cotidiano no mundo moderno.<br />

b) Ambos os artistas revelam conformismo diante<br />

dos acontecimentos trágicos, representados pelo<br />

desastre aéreo e pela guerra.<br />

c) A quebra das figuras no quadro e a enumeração<br />

rápida das figuras no poema evidenciam uma opção<br />

estética que se pauta pela harmonia figurativa<br />

na pintura e pela linearidade discursiva no texto<br />

literário.<br />

d) Em ambas as obras os artistas abdicam de uma<br />

ótica subjetiva, apresentando de maneira racional<br />

e neutra as tragédias do mundo moderno.<br />

e) Cada uma das duas obras retrata, com linguagem<br />

distinta, o assombro dos artistas diante de realidades<br />

trágicas do mundo moderno.<br />

197


<strong>10</strong>8. UFU-MG<br />

Leia os excertos seguintes e indique a alternativa<br />

incorreta.<br />

Algazarra<br />

A fala dos bichos<br />

é comprida e fácil<br />

miados soltos<br />

na campina;<br />

águias<br />

hidráulicas<br />

nas pontes;<br />

na cozinha<br />

a hidra espia<br />

medrosas as cabeças;<br />

enguias engolem<br />

sete redes<br />

saturam de lombrigas<br />

o pomar;<br />

(...)<br />

Ana Cristina Cesar, 26 poetas de hoje<br />

Bucólica<br />

Agora vamos correr o pomar antigo<br />

Bicos aéreos de patos selvagens<br />

Tetas verdes entre folhas<br />

E uma passarinhada nos vaia;<br />

(...)<br />

Oswald de Andrade, Pau-Brasil<br />

a) Os textos possuem características vanguardistas, uma<br />

vez que criam situações e espaços surreais, compondo<br />

um pomar em que os encanamentos se transformam<br />

em lombrigas e as frutas em tetas verdes.<br />

b) Embora modernos, esses poemas são representantes<br />

do Arcadismo, porque ambos trabalham<br />

com elementos da natureza, colocando o homem<br />

em contato direto com ela. Tal procedimento é<br />

verificável em toda a literatura ocidental.<br />

c) No poema de Ana Cristina Cesar, a Algazarra do<br />

título, que está ligada a uma grande fantasia, estabelece-se<br />

a partir dos versos águias/hidráulicas<br />

e se estende até o último verso.<br />

d) A Algazarra também pode ser verificada nos jogos<br />

sonoros das palavras, que geram ambigüidade de<br />

sentido, como na palavra águias, que pode ser<br />

águas, e no verso enguias engolem, em que engolem<br />

repercute nas primeiras letras de enguias.<br />

<strong>10</strong>9. Unifesp (modificado)<br />

Ode Triunfal<br />

198<br />

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas<br />

[da fábrica<br />

Tenho febre e escrevo.<br />

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza<br />

[disto,<br />

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos<br />

[antigos.<br />

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!<br />

Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!<br />

Em fúria fora e dentro de mim,<br />

Por todos os meus nervos dissecados fora,<br />

Por todas as papilas fora de tudo com que eu<br />

[sinto!<br />

Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,<br />

De vos ouvir demasiadamente de perto,<br />

E arde-me a cabeça de vos querer cantar com<br />

[um excesso<br />

De expressão de todas as minhas sensações,<br />

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!<br />

Em febre e olhando os motores como a uma<br />

[Natureza tropical —<br />

Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e<br />

[força —<br />

Canto, e canto o presente, e também o passado<br />

[e o futuro.<br />

Porque o presente é todo o passado e todo o<br />

[futuro<br />

E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das<br />

[luzes elétricas<br />

Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio<br />

[e Platão,<br />

E pedaços do Alexandre Magno do século talvez<br />

[cinqüenta,<br />

Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do<br />

[Ésquilo do século cem,<br />

Andam por estas correias de transmissão e por<br />

[estes êmbolos e por estes volantes,<br />

Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,<br />

Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo<br />

[numa só carícia à alma.<br />

Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, Obra Poética<br />

Em Ode Triunfal, escrita no momento aflitivo de 1914,<br />

parece que o transe dos tempos modernos, representado<br />

pelas máquinas em fúria, mistura-se com o transe<br />

febril do eu-poemático. Cria-se um ambiente em que,<br />

talvez na dimensão do sonho (ou do pesadelo), o tempo<br />

e o espaço parecem dissolvidos, ou situados numa região<br />

mítica. Nessa dimensão surrealista, Platão e Virgílio<br />

residem dentro das máquinas; há, nelas, pedaços de<br />

Alexandre Magno, “do século talvez cinqüenta”, além de<br />

Ésquilo, do “século cem”. Tal embaralhamento temporal<br />

de figuras históricas já se enunciara nos versos<br />

a) “À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da<br />

fábrica / Tenho febre e escrevo.”<br />

b) “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! / Forte<br />

espasmo retido dos maquinismos em fúria!”<br />

c) “De expressão de todas as minhas sensações, / Com<br />

um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”<br />

d) “Canto, e canto o presente, e também o passado<br />

e o futuro, / Porque o presente é todo o passado<br />

e todo o futuro.”<br />

e) “De vos ouvir demasiadamente de perto, / E arde-me<br />

a cabeça de vos querer cantar com um excesso.”<br />

1<strong>10</strong>. ENEM<br />

Tarsila do Amaral, Operários.


PV2D-07-54<br />

Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que<br />

lhes assegura identidade peculiar, são iguais enquanto<br />

frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das<br />

indústrias se alçam verticalmente. No mais, em todo<br />

o quadro, rostos colados um ao lado do outro, em<br />

pirâmide que tende a se prolongar infinitamente, como<br />

mercadoria que se acumula, pelo quadro afora.<br />

Nádia Gotlib. Tarsila do Amaral, a modernista.<br />

O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema<br />

que também se encontra nos versos transcritos em:<br />

a) “Pensem nas meninas / Cegas inexatas / Pensem nas<br />

mulheres / Rotas alteradas.” (Vinícius de Moraes)<br />

b) “Somos muitos severinos / iguais em tudo e na<br />

sina: / a de abrandar estas pedras / suando-se<br />

muito em cima.” (João Cabral de Melo Neto)<br />

c) “O funcionário público / não cabe no poema / com<br />

seu salário de fome / sua vida fechada em arquivos.”<br />

(Ferreira Gullar)<br />

d) “Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso<br />

querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos<br />

os / sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)<br />

e) “Os inocentes do Leblon / Não viram o navio entrar<br />

(...) / Os inocentes, definitivamente inocentes tudo<br />

ignoravam, / mas a areia é quente, e há um óleo<br />

suave / que eles passam pelas costas, e aquecem.”<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

111.<br />

O poeta é um fingidor.<br />

Finge tão completamente<br />

Que chega a fingir que é dor<br />

A dor que deveras sente.<br />

E os que lêem o que escreve,<br />

Na dor lida sentem bem,<br />

Não as duas que ele teve,<br />

Mas só a que eles não têm.<br />

E assim nas calhas de roda<br />

Gira, a entreter a razão,<br />

Esse comboio de corda<br />

Que se chama coração.<br />

Fernando Pessoa<br />

Relativamente a esse poema de Fernando Pessoa,<br />

indique a observação que não condiz com o conteúdo<br />

do texto.<br />

a) O tema predominante é o jogo que se estabelece<br />

entre autor e leitor, tendo a obra de arte como<br />

campo de atuação.<br />

b) O autor indica a matéria de que se faz sua obra,<br />

além de demonstrar conhecimento sobre reações<br />

do leitor.<br />

c) O sofrimento inerente à condição humana é matéria-prima<br />

importante para a produção poética,<br />

mas ele nunca é revelado de forma integralmente<br />

verdadeira.<br />

d) O prazer do leitor está na identificação de alguma<br />

dor no poeta que ele, leitor, não sente.<br />

e) A sensibilidade do poeta faz dele um ser confuso,<br />

pois seu coração gira para ignorar a razão (“Gira,<br />

a entreter a razão”).<br />

112. Fuvest-SP<br />

Do programa estético da Geração Orpheu constava a:<br />

a) restauração dos temas clássicos.<br />

b) vinculação da obra de arte ao quadro social.<br />

c) instalação das vanguardas futuristas.<br />

d) originalidade em Arte.<br />

e) implantação do movimento surrealista.<br />

113.<br />

O primeiro órgão de divulgação das idéias modernistas<br />

em Portugal e um dos mais importantes foi a<br />

revista _________________, lançada em 1915, tendo<br />

Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro como seus<br />

colaboradores mais atuantes.<br />

Fundada em 1927, a revista _________________<br />

propunha uma revitalização da arte, dentro do espírito<br />

da geração modernista anterior, incentivando a originalidade<br />

e a criatividade. Alguns de seus participantes<br />

foram José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho<br />

da Fonseca.<br />

Reivindicando uma atitude mais objetiva e crítica<br />

na análise de problemas sociais, o movimento chamado<br />

_________________, nas décadas de 30 e<br />

40, propunha uma literatura de compromisso com a<br />

problemática social.<br />

Preencha as lacunas com os nomes das gerações modernistas<br />

em Portugal e marque a seqüência correta.<br />

a) Orpheu – Presença – Neo-Realismo.<br />

b) Presença – Surrealista – Orpheu.<br />

c) Orpheu – Neo-realista – Presença.<br />

d) Surrealista – Orpheu – Presença.<br />

e) Orpheu – Neo-realista – Surrealista.<br />

114. Mackenzie-SP<br />

D. Sebastião, rei de Portugal<br />

Louco, sim, louco, porque quis grandeza<br />

Qual a sorte não dá.<br />

Não soube em mim minha certeza:<br />

Por isso onde o areal está<br />

Ficou meu ser que houve, não o que há.<br />

Minha loucura, outros que me a tomem<br />

Com o que nela ia.<br />

Sem a loucura que é o homem<br />

Mais que a besta sadia,<br />

Cadáver adiado que procria?<br />

Os versos acima encaixam-se na obra de:<br />

a) Alberto Caeiro. d) Camões.<br />

b) Ricardo Reis. e) Bocage.<br />

c) Fernando Pessoa.<br />

115.<br />

Leia o poema a seguir:<br />

Mar portuguez<br />

Ó mar salgado, quanto do teu sal<br />

São lágrimas de Portugal!<br />

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,<br />

Quantos filhos em vão rezaram!<br />

Quantas noivas ficaram por casar<br />

Para que fosses nosso, ó mar!<br />

Valeu a pena? Tudo vale a pena<br />

Se a alma não é pequena.<br />

Quem quer passar além do Bojador<br />

199


200<br />

Tem que passar além da dor.<br />

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,<br />

Mas nele é que espelhou o céu.<br />

PESSOA, Fernando. Obra poética.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 82.<br />

O poema acima transcrito faz parte da obra de Fernando<br />

Pessoa.<br />

Assinale a alternativa que o define, interpreta ou analisa<br />

incorretamente.<br />

a) O texto inicia-se com uma apóstrofe.<br />

b) As marcas estilísticas permitiriam atribuí-lo também<br />

ao heterônimo Alberto Caeiro.<br />

c) A ortografia arcaica é um elemento vinculador<br />

do poema à temática saudosista relacionada ao<br />

passado imperial português.<br />

d) Nos versos “Por te cruzarmos, quantas mães<br />

choraram,” e “Para que fosses nosso, ó mar!”, os<br />

vocábulos destacados não estabelecem a mesma<br />

relação semântica.<br />

e) É possível estabelecer uma relação entre o poema<br />

acima e o episódio do “Velho do Restelo”, de Os<br />

lusíadas.<br />

116. Fuvest-SP<br />

I. O poeta é um fingidor.<br />

Finge tão completamente<br />

Que chega a fingir que é dor<br />

A dor que deveras sente.<br />

II. Sonho que sou um cavaleiro andante<br />

Por desertos, por sóis, por noite escura,<br />

Paladino do amor, busco anelante<br />

O palácio encantado da Ventura!<br />

As estrofes acima são, respectivamente, dos poetas:<br />

a) Fernando Pessoa e Barbosa du Bocage.<br />

b) Cesário Verde e Luís de Camões.<br />

c) Guerra Junqueiro e Antero de Quental.<br />

d) Sá-Carneiro e Luís de Camões.<br />

e) Fernando Pessoa e Antero de Quental.<br />

117. Vunesp<br />

Leia as estrofes seguintes e assinale a alternativa<br />

incorreta.<br />

Mas um velho, de aspeito venerando,<br />

Que ficava nas praias, entre a gente,<br />

Postos em nós os olhos, meneando<br />

Três vezes a cabeça, descontente,<br />

A voz pesada um pouco alevantando,<br />

Que nós no mar ouvimos claramente,<br />

C’um saber só de experiência feito<br />

Tais palavras tirou do experto peito:<br />

Ó glória de mandar, ó vã cobiça<br />

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!<br />

Ó fraudulento gosto, que se atiça<br />

Com a aura popular, que honra se chama!<br />

Que castigo tamanho e que justiça<br />

Fazes no peito vão que muito te ama!<br />

Que mortes, que perigos, que tormentas,<br />

Que crueldades neles experimentas!<br />

Os lusíadas, Camões<br />

Ó mar salgado, quanto do teu sal<br />

São lágrimas de Portugal!<br />

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,<br />

Quantos filhos em vão rezaram!<br />

Quantas noivas ficaram por casar<br />

Para que fosses nosso, ó mar!<br />

Valeu a pena? Tudo vale a pena<br />

Se a alma não é pequena.<br />

Quem quer passar além do Bojador<br />

Tem que passar além da dor.<br />

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,<br />

Mas nele é que espelhou o céu.<br />

Mar português, Fernando Pessoa<br />

a) Através do tema tratado nas estrofes citadas, podemos<br />

dizer que pertencem a dois grandes poemas<br />

épicos da literatura portuguesa: Os Lusíadas e<br />

Mensagem.<br />

b) Nessas estrofes, os dois poemas relacionam-se ao<br />

mencionarem aspectos negativos das expedições<br />

portuguesas.<br />

c) No poema de Camões, todas as estrofes apresentam<br />

oito versos em decassílabos heróicos; no poema<br />

de Pessoa não há a mesma regularidade.<br />

d) Uma das estrofes d’Os lusíadas revela a fala do<br />

Velho do Restelo criticando os sentimentos de<br />

glória e cobiça na empresa portuguesa.<br />

e) Os dois poemas não podem ser relacionados porque,<br />

além de um ser épico e o outro lírico, um pertence<br />

ao Renascimento e o outro ao Modernismo.<br />

118. Mackenzie-SP<br />

O poeta ligado ao sentimento nacionalista que tomou<br />

conta de Portugal em meio às crises do primeiro período<br />

republicano, responsável por Mensagem, obra que<br />

retomou a formação de sua pátria, a identificação com<br />

o mar, o sonho de um império grande e forte foi:<br />

a) Alberto Caeiro.<br />

b) Ricardo Reis.<br />

c) Mário de Sá-Carneiro.<br />

d) Fernando Pessoa ele-mesmo.<br />

e) Álvaro de Campos.<br />

119. Mackenzie-SP<br />

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.<br />

Deus quis que a terra fosse toda uma,<br />

Que o mar unisse, já não separasse.<br />

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.<br />

E a orla branca foi de ilha em continente,<br />

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,<br />

E viu-se a terra inteira, de repente,<br />

Surgir, redonda, do azul profundo.<br />

Quem te sagrou creou-te portuguez.<br />

Do mar e nós em ti nos deu signal.<br />

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.<br />

Senhor, falta cumprir-se Portugal!<br />

O texto faz parte:<br />

a) de um poema de Bocage, pois evidencia os<br />

aspectos pré-românticos, que são a principal<br />

característica de sua obra poética.<br />

b) de Mensagem, de Fernando Pessoa, que, com tom<br />

visionário e nacionalista, refere-se às grandes navegações<br />

e à recuperação do passado português.


PV2D-07-54<br />

c) do Cancioneiro geral, de Garcia de Rezende, em<br />

que se encontra boa parte da produção poética<br />

medieval portuguesa.<br />

d) de Os lusíadas, de Luís de Camões, obra que<br />

enaltece o povo português e seus extraordinários<br />

feitos marítimos.<br />

e) de um auto vicentino, o qual critica a sociedade<br />

portuguesa de sua época, em tom pessimista e<br />

desiludido.<br />

120. Vunesp<br />

Leia o fragmento textual de Fernando Pessoa e assinale<br />

a alternativa correta.<br />

A obra de arte, fundamentalmente, consiste numa<br />

interpretação objetivada duma impressão subjetiva.<br />

Difere, assim, da ciência, que é uma interpretação<br />

subjetiva de uma impressão objetiva, e da filosofia,<br />

que é, ou procura ser, uma interpretação objetivada<br />

de uma impressão objetiva. A ciência procura as leis<br />

particulares das cousas – isto é, aquelas leis que regem<br />

os assuntos ou objetivos que pertencem àquele tipo<br />

de cousas que se estão observando. A ciência é uma<br />

subjetivação, porque é uma conclusão que se tira de<br />

determinado número de fenômenos. A ciência é uma<br />

cousa real e, dentro dos seus limites, certa, porque<br />

é uma subjetivação de uma impressão objetiva, e é,<br />

assim, um equilíbrio.<br />

PESSOA, F. Trecho de “A obra de arte.<br />

Critérios a que obedece”. In: Obras em prosa.<br />

a) A subjetividade impressiva do artista é resultante<br />

de uma interpretação objetiva que conduz à obra<br />

de arte.<br />

b) Muitas vezes, a ciência busca leis particulares das<br />

coisas e, por isso, as torna subjetivas, valendo<br />

como verdadeiras.<br />

c) Ao caráter ilusório da arte contrapõe-se a realidade<br />

da ciência e nisso, segundo o texto, reside o<br />

equilíbrio das coisas.<br />

d) A arte obedece a três critérios fundamentais:<br />

impressão, interpretação e busca de objetividade;<br />

enquanto a ciência obedece aos seguintes:<br />

seleção, observação e análise dos fenômenos.<br />

e) Os limites do método científico não interferem no<br />

caráter real da ciência que é sempre certa, equilibrada<br />

e reveladora da subjetividade das coisas e<br />

dos seres.<br />

Texto para as questões 121 e 122.<br />

Texto 1<br />

Isto<br />

Dizem que finjo ou minto<br />

tudo que escrevo. Não.<br />

Eu simplesmente sinto<br />

Com a imaginação.<br />

Não uso o coração.<br />

Fernando Pessoa<br />

Texto 2<br />

E o trabalho, este nosso trabalho de escrever?<br />

Meu Deus, como às vezes chega a ser sórdido! Aquele<br />

riscar, aquela grosseria do texto primitivo, aquele tatear<br />

atrás da palavra desejada e, ainda pior, da combinação<br />

de palavras desejadas. A gaucherie do que sai escrito<br />

– tanta beleza que a gente sonhou, depois de posta<br />

no papel como ficou inexpressiva, barata e normal! Já<br />

dizia tão bem o velho Bilac: “a palavra pesada abafa a<br />

idéia leve!” – e não é mesmo?<br />

Rachel de Queiroz<br />

Vocabulário:<br />

gaucherie: falta de jeito. Do francês gauche: esquerdo,<br />

canhoto.<br />

121.<br />

Qual o assunto comum aos dois textos?<br />

122.<br />

Que sensação predomina no texto 2?<br />

Texto para as questões de 123 a 125.<br />

O poema a seguir pertence ao Cancioneiro de Fernando<br />

Pessoa.<br />

1 Ah, quanta vez, na hora suave<br />

2 Em que me esqueço,<br />

3 Vejo passar um vôo de ave<br />

4 E me entristeço!<br />

5 Por que é ligeiro, leve, certo<br />

6 No ar de amavio*?<br />

7 Por que vai sob o céu aberto<br />

8 Sem um desvio?<br />

9 Por que ter asas simboliza<br />

<strong>10</strong> A liberdade<br />

11 Que a vida nega e a alma precisa?<br />

12 Sei que me invade<br />

13 Um horror de me ter que cobre<br />

14 Como uma cheia<br />

15 Meu coração, e entorna sobre<br />

16 Minh’alma alheia<br />

17 Um desejo, não de ser ave,<br />

18 Mas de poder<br />

19 Ter não sei quê do vôo suave<br />

20 Dentro em meu ser.<br />

* Amavio: feitiço, encanto<br />

Fernando Pessoa, Obra poética.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 138.<br />

123. Unicamp-SP<br />

Identifique o recurso lingüístico que representa a ave<br />

tanto no plano sonoro quanto no imagético.<br />

124. Unicamp-SP<br />

Que relação o eu lírico estabelece entre a tristeza e<br />

a liberdade?<br />

125. Unicamp-SP<br />

Interprete o fato de que as três interrogações (do verso<br />

5 ao 11) são respondidas, a partir do verso 12, em uma<br />

única e longa frase.<br />

126. Mackenzie-SP<br />

Nunca a alheia vontade, inda que grata,<br />

Cumpras por própria. Manda no que fazes,<br />

Nem de ti mesmo servo.<br />

Ninguém te dá quem és. Nada te mude.<br />

Teu íntimo destino involuntário<br />

Cumpre alto. Sê teu filho.<br />

Fernando Pessoa<br />

201


Assinale a alternativa correta.<br />

a) A métrica desses versos tem o papel de ajudar a<br />

construir o significado de desestabilização emocional<br />

subjacente a todo o poema.<br />

b) “A alheia vontade”, sujeito sintático de “nunca<br />

cumpras”, aponta para o que deve ser evitado na<br />

busca da própria soberania.<br />

c) A relação “eu/tu” estabelece-se num tom de orientação<br />

construído pela predominância dos verbos<br />

no imperativo.<br />

d) A organização do poema em versos decassílabos e<br />

hexassílabos constrói um ritmo irregular, impróprio<br />

para veicular verdades acabadas.<br />

e) Os dois últimos versos questionam a fatalidade e subvertem<br />

o individualismo proposto desde o início.<br />

127. UFJF-MG<br />

Uma estrofe famosa do poema Autopsicografia, de<br />

Fernando Pessoa, é:<br />

O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que<br />

chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.<br />

A partir dela e pensando na obra do poeta como um<br />

todo, é correto afirmar que:<br />

a) Fernando Pessoa, com a proposta do fingimento<br />

poético, rompe com o confessionalismo romântico.<br />

b) somente Álvaro de Campos pode ser representante<br />

do fingimento poético, pois é um poeta futurista.<br />

c) o fingimento poético não está presente na obra de Alberto<br />

Caeiro, pois ele é um pastor simples e sincero.<br />

d) a única parte da obra pessoana que escapa do<br />

fingimento são os poemas de Fernando Pessoa<br />

ele-mesmo.<br />

e) Ricardo Reis, como poeta clássico, não pode ser<br />

estudado pelo fingimento modernista.<br />

128. UFRGS-RS<br />

Assinale a alternativa incorreta em relação ao processo<br />

heteronímico de Fernando Pessoa.<br />

a) Alberto Caeiro, poeta de pouca cultura literária e<br />

científica, dá muito valor às coisas concretas e<br />

recusa a metafísica.<br />

b) Ricardo Reis é poeta da temática e linguagem<br />

clássicas, sendo sua obra repleta de temas como<br />

o paganismo, destino e a morte.<br />

c) Álvaro de Campos é o poeta da temática futurista,<br />

vive a euforia, mas também a melancolia da<br />

modernidade.<br />

d) Fernando Pessoa traz em sua poesia a temática da dor,<br />

do ceticismo, do idealismo, da melancolia e do tédio.<br />

e) Bernardo Soares, o semi-heterônimo, é, a exemplo<br />

de Ricardo Reis, um poeta neoclássico preocupado<br />

com a brevidade da vida.<br />

129. Vunesp<br />

Pobre velha música!<br />

Não sei por que agrado,<br />

Enche-se de lágrimas<br />

Meu olhar parado.<br />

Recordo outro ouvir-te.<br />

202<br />

Não sei se te ouvi<br />

Nessa minha infância<br />

Que me lembra em ti.<br />

Com que ânsia tão raiva<br />

Quero aquele outrora!<br />

E eu era feliz? Não sei:<br />

Fui-o outrora agora.<br />

PESSOA, Fernando. Cancioneiro.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976, pp. 140-141.<br />

Assinale a alternativa incorreta a respeito do poema<br />

transcrito.<br />

a) Depreende-se da leitura do poema um conflito<br />

intenso do autor, que não consegue entender se é<br />

feliz ou não mediante as lágrimas que lhe brotam<br />

aos olhos.<br />

b) No texto, a presença da “música” atua como interlocutor<br />

do eu lírico para a construção do poema,<br />

em que o tempo cronológico cede lugar ao tempo<br />

interior.<br />

c) Pobre velha música! de Fernando Pessoa, do<br />

Modernismo português, faz parte da expressão<br />

poética que se consolidou no início do segundo<br />

decênio do século XX.<br />

d) Ainda sobre o poema, é possível dizer que a consciência<br />

do tempo e da própria vivência permite ao<br />

eu lírico resgatar seu passado distante.<br />

e) O jogo temporal, marcado sobretudo por advérbios<br />

e tempos verbais, encontra sua síntese no paradoxo<br />

do último verso do poema.<br />

130.<br />

Psicografia<br />

Também eu saio à revelia<br />

e procuro uma síntese nas demoras<br />

cato obsessões com fria têmpera e digo<br />

do coração: não soube e digo<br />

da palavra: não digo (não posso ainda acreditar<br />

na vida) e demito o verso como quem acena<br />

e vivo como quem despede a raiva de ter visto<br />

Ana Cristina Cesar<br />

Autopsicografia<br />

O poeta é um fingidor.<br />

Finge tão completamente<br />

Que chega a fingir que é dor<br />

A dor que deveras sente.<br />

E os que lêem o que escreve,<br />

Na dor lida sentem bem,<br />

Não as duas que ele teve,<br />

Mas só as que eles não têm.<br />

E assim nas calhas de roda<br />

Gira, a entreter a razão,<br />

Esse comboio de corda<br />

Que se chama o coração.<br />

Fernando Pessoa<br />

Vocabulário:<br />

comboio: trem de ferro.<br />

calhas de roda: trilhos sobre os quais corre o trem de ferro.<br />

Na segunda estrofe do poema de Fernando Pessoa,<br />

há um jogo de sentido estabelecido entre os pronomes<br />

ele e eles.<br />

a) A quem se refere cada um desses pronomes?<br />

b) Como se pode entender a dor, referida nesta<br />

estrofe, em relação a ele e eles?


PV2D-07-54<br />

131. Unifap<br />

Assinale somente a alternativa incorreta.<br />

Na obra de Fernando Pessoa:<br />

a) o jogo heteronímico resulta de o homem ver-se<br />

dentro da sua diversidade.<br />

b) o universo heteronímico é formado preferentemente<br />

por três figuras (Ricardo Reis, Álvaro de Campos<br />

e Alberto Caeiro), autores de obras individuais<br />

c) há muitos versos tristes e contidos, expressando<br />

dor fina e sutil, lamento, quase gemido.<br />

d) heteronímia e pseudonímia têm o mesmo valor.<br />

e) os três mais importantes heterônimos têm vida,<br />

história e poética individuais.<br />

132.<br />

Leia os versos a seguir:<br />

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...<br />

Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é.<br />

Mas porque a amo, e amo-a por isso,<br />

Porque quem ama nunca sabe o que ama<br />

Nem porque ama, nem o que é amar...<br />

A qual heterônimo de Fernando Pessoa refere-se<br />

esses versos? Justifique sua resposta.<br />

133. Fuvest-SP<br />

O Poeta é um fingidor.<br />

Fernando Pessoa<br />

Qual a relação entre o verso anterior e Poesias, de<br />

Álvaro de Campos, Poemas, de Alberto Caeiro, e Odes,<br />

de Ricardo Reis?<br />

134. Faenquil-SP<br />

Uma das características marcantes de Alberto Caeiro é:<br />

a) o cuidado do poeta na representação crítica da realidade<br />

concreta, sem simbolismos ou idealizações.<br />

b) o uso constante da tópica clássica do carpe diem,<br />

ou seja, aproveitar cada dia com serenidade e<br />

sabedoria.<br />

c) a ênfase na subjetividade do sujeito lírico e o interesse<br />

de expressar suas emoções mais íntimas.<br />

d) a visão de mundo instintiva, espontânea, construída no<br />

contato direto com a natureza e com as sensações.<br />

e) o uso de uma linguagem altamente sofisticada marcada<br />

pelas sinestesias e pela expressão subjetiva<br />

do amor.<br />

135. PUC-SP<br />

O que nós vemos das coisas são as coisas.<br />

Por que veríamos nós uma coisa se houvesse<br />

outra?<br />

Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos<br />

Se ver e ouvir são ver e ouvir?<br />

O essencial é saber ver,<br />

Saber ver sem estar a pensar,<br />

Saber ver quando se vê<br />

E nem pensar quando se vê,<br />

Nem ver quando se pensa.<br />

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma<br />

vestida!),<br />

Isso exige um estudo profundo,<br />

Uma aprendizagem de desaprender<br />

E uma seqüestração na liberdade daquele<br />

convento<br />

De que os poetas dizem que as estrelas são as<br />

freiras eternas<br />

E as flores, as penitentes convictas de um só dia,<br />

Mas onde afinal as estrelas não são senão<br />

estrelas<br />

Nem as flores senão flores,<br />

Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e<br />

flores.<br />

O poema anterior, de Alberto Caeiro, propõe:<br />

a) desvalorizar o ver e o ouvir.<br />

b) minimizar o valor do ver e do ouvir.<br />

c) conciliar o pensar e o ver.<br />

d) abolir o pensar para apenas ver e ouvir.<br />

e) fugir da linguagem real / denotativa dos poetas.<br />

136. FVG-SP<br />

Este poema integra a obra poética de Fernando Pessoa.<br />

Seu autor é um homem simples, que viveu em<br />

contato com a natureza; é o poeta do real sensível.<br />

Para ele, as coisas são como são, pois pensa com os<br />

sentidos. Pode-se dizer que, assim, manifesta uma<br />

forma de pensar apenas diferente e não uma ausência<br />

de reflexão. É autor os versos:<br />

(...)<br />

Que pensará isto de aquilo?<br />

Nada pensa nada.<br />

Terá a terra consciência das pedras e plantas<br />

que tem?<br />

Se ela a tiver, que a tenha...<br />

Que me importa isso a mim?<br />

Se eu pensasse nessas coisas,<br />

Deixaria de ver as árvores e as plantas<br />

E deixava de ver a Terra,<br />

Para ver só os meus pensamentos ...<br />

Entristecia e ficava às escuras.<br />

E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.<br />

Trata-se de:<br />

a) Alberto Caeiro.<br />

b) Ricardo Reis.<br />

c) Bernardo Soares.<br />

d) Fernando Pessoa, ele mesmo.<br />

e) Álvaro de Campos.<br />

137. UFSCar-SP<br />

O luar através dos altos ramos,<br />

Dizem os poetas todos que ele é mais<br />

Que o luar através dos altos ramos.<br />

Mas para mim, que não sei o que penso,<br />

O que o luar através dos altos ramos<br />

É, além de ser<br />

O luar através dos altos ramos,<br />

É não ser mais<br />

Que o luar através dos altos ramos.<br />

Fernado Pessoa, Obra Poética.<br />

As bolas de sabão que esta criança<br />

Se entretém a largar de uma palhinha<br />

São translucidamente uma filosofia toda.<br />

Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,<br />

Amigas dos olhos como as cousas,<br />

São aquilo que são<br />

203


204<br />

Com uma precisão redondinha e aérea,<br />

E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,<br />

Pretende que elas são mais do que parecem ser.<br />

(…)<br />

Fernando Pessoa, Obra Poética.<br />

Ambos os poemas são atribuídos a Alberto Caeiro, um<br />

dos heterônimos de Fernando Pessoa.<br />

a) O que caracteriza esse heterônimo?<br />

b) O que há de comum nesses dois poemas em<br />

termos de estilo? Justifique sua resposta.<br />

138. Fuvest-SP<br />

Noite de S. João para além do muro do meu quintal.<br />

Do lado de cá, eu sem noite de S. João.<br />

Porque há S. João onde o festejam.<br />

Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na<br />

noite,<br />

Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.<br />

E um grito casual de quem não sabe que eu existo.<br />

Alberto Caeiro, Poesia.<br />

Considerando-se esse poema no contexto das tendências<br />

dominantes da poesia de Caeiro, pode-se afirmar<br />

que, o afastamento da festa de São João é vivido pelo<br />

eu lírico como:<br />

a) oportunidade de manifestar seu desapreço pelas<br />

festividades que mesclam indevidamente o sagrado<br />

e o profano.<br />

140. ENEM<br />

b) ânsia de integração em uma sociedade que o rejeita<br />

por causa de sua excentricidade e estranheza.<br />

c) uma ocasião de criticar a persistência de costumes<br />

tradicionais, remanescentes no Portugal do<br />

Modernismo.<br />

d) frustração, uma vez que não experimenta as emoções<br />

profundas nem as reflexões filosóficas que<br />

tanto aprecia.<br />

e) reconhecimento de que só tem realidade efetiva<br />

o que corresponde à experiência dos próprios<br />

sentidos.<br />

139. Fuvest-SP<br />

Leia o seguinte poema de Alberto Caeiro:<br />

Ponham na minha sepultura<br />

Aqui jaz, sem cruz,<br />

Alberto Caeiro<br />

Que foi buscar os deuses...<br />

Se os deuses vivem ou não isso é convosco.<br />

A mim deixei que me recebessem.<br />

a) Identifique, no poema, a modalidade religiosa<br />

que o poeta rejeita e aquela com que tem maior<br />

afinidade. Explique sucintamente.<br />

b) Relacione a referência a “deuses” (plural), no<br />

poema, com o seguinte verso, extraído de outro<br />

poema de Alberto Caeiro:<br />

A natureza é partes sem um todo.<br />

Folha de S. Paulo<br />

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no<br />

Universo...<br />

Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer<br />

Porque sou do tamanho do que vejo<br />

E não do tamanho da minha altura...<br />

Alberto Caeiro<br />

A tira “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com<br />

linguagens diferentes, uma mesma idéia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada,<br />

essencialmente:<br />

a) pelo alcance de cada cultura. d) pela idade do observador.<br />

b) pela capacidade visual do observador. e) pela altura do ponto de observação.<br />

c) pelo senso de humor de cada um.<br />

141. PUC-SP<br />

Sou um guardador de rebanhos.<br />

O rebanho é os meus pensamentos<br />

E os meus pensamentos são todos sensações.<br />

Penso com os olhos e com os ouvidos<br />

E com as mãos e os pés<br />

E com o nariz e a boca.<br />

Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la<br />

E comer um fruto é saber-lhe o sentido.<br />

Por isso quando num dia de calor<br />

Me sinto triste de gozá-lo tanto,<br />

E me deito ao comprido na erva,<br />

E fecho os olhos quentes,<br />

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,<br />

Sei a verdade e sou feliz.<br />

Alberto Caeiro


PV2D-07-54<br />

No poema, de Alberto Caeiro:<br />

a) a visão de mundo não se confunde com a sensação<br />

de mundo.<br />

b) a atividade mental é muito lúcida e extremamente<br />

racional.<br />

c) o conhecimento da natureza e do mundo é obtido<br />

por meio dos sentidos.<br />

d) o entendimento da realidade resulta do exagerado<br />

racionalismo do eu-lírico.<br />

e) os termos “rebanho” e “pensamentos” se distanciam<br />

por força da metáfora.<br />

142. PUC-SP<br />

Aquela senhora tem um piano<br />

Que é agradável mas não é o correr dos rios<br />

Nem o murmúrio que as árvores fazem...<br />

Para que é preciso ter um piano?<br />

O melhor é ter ouvidos<br />

E amar a Natureza.<br />

Alberto Caeiro<br />

Sobre o poema anterior, de Alberto Caeiro, é incorreto<br />

dizer que:<br />

a) compara constrastivamente um símbolo de cultura<br />

e a própria natureza.<br />

b) revela a opção do poeta pelo mundo natural, pois<br />

os sons da natureza são superiormente mais<br />

agradáveis.<br />

c) deixa clara a concepção de que a natureza é o<br />

maior dado do objetivismo absoluto.<br />

d) reforça a idéia de que a natureza e as produções<br />

humanas estão sempre impregnadas de história<br />

e sugestões metafísicas.<br />

e) nega que o som do piano seja desagradável mas<br />

considera-o inferior aos sons dos rios e das árvores.<br />

143. PUC-SP<br />

Considerando os poemas de O Guardador de Rebanhos,<br />

que integram a obra poética de Alberto Caeiro,<br />

é correto afirmar que nela:<br />

a) o entendimento do mundo e a interpretação da<br />

realidade resultam do extremo racionalismo do<br />

eu-lírico.<br />

b) a sensação do mundo e a radical opção pela<br />

natureza se fazem presentes aí mais claramente,<br />

ao mesmo tempo que se dá a negação radical das<br />

metafísicas e das transcendências.<br />

c) o conhecimento direto das coisas e do mundo<br />

advém fundamentalmente da razão e mostra-se<br />

desvinculado da sensação.<br />

d) o conceito de paganismo define-se por uma postura<br />

anticristã e pela negação do conhecimento do<br />

mundo sensível.<br />

e) o contato com a natureza e o conceito direto das<br />

coisas impedem a existência de uma lógica igual<br />

à da ordem natural.<br />

144. Unifap<br />

“Nasceu em Tavira, em 15 de outubro de 1890, e,<br />

segundo seu próprio criador, ‘é alto, magro e um<br />

pouco tendente a curvar-se’. Estudou engenharia<br />

naval na Escócia. Sua linguagem poética é rica, solta<br />

e coloquial. Expressa-se com desenvoltura, em frases<br />

curtas, tensas, rápidas e irônicas, pontilhadas por<br />

praguejamento e termos de baixo calão.”<br />

Trata-se de:<br />

a) Alberto Caeiro.<br />

b) Antônio Nobre.<br />

c) Ricardo Reis.<br />

d) Álvaro de Campos.<br />

e) Pessoa ortônimo.<br />

145. Unicamp-SP<br />

Cruz na porta da tabacaria!<br />

Quem morreu? O próprio Alves? Dou<br />

Ao diabo o bem estar que trazia.<br />

Desde ontem a cidade mudou.<br />

Quem era? Ora, era quem eu via.<br />

Todos os dias o via. Estou<br />

Agora sem essa monotonia.<br />

Desde ontem a cidade mudou.<br />

Ele era o dono da tabacaria.<br />

Um ponto de referência de quem sou.<br />

Eu passava ali de noite e de dia.<br />

Desde ontem a cidade mudou.<br />

Meu coração tem pouca alegria,<br />

E isto diz que é morte aquilo onde estou.<br />

Horror fechado da tabacaria!<br />

Desde ontem a cidade mudou.<br />

Mas ao menos a ele alguém o via.<br />

Ele era fixo, eu, o que vou.<br />

Se morrer, não falto, ninguém diria:<br />

Desde ontem a cidade mudou.<br />

Álvaro de Campos, Poesias<br />

a) Identifique duas marcas formais que, no poema,<br />

contribuem para criar a idéia de monotonia.<br />

b) Do ponto de vista do eu lírico, que fato quebra essa<br />

monotonia?<br />

c) Qual a conseqüência, para o eu lírico, da quebra<br />

dessa monotonia? Justifique sua resposta.<br />

146. Vunesp<br />

Leia com atenção:<br />

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!<br />

Ser completo como uma máquina!<br />

Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!<br />

Poder ao menos penetrar-se fisicamente de tudo isto,<br />

Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me<br />

[passento<br />

A todos os perfumes de óleos e calores e carvões<br />

Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!<br />

Fraternidade com todas as dinâmicas!<br />

Promíscua fúria de ser parte-agente<br />

Do rodar férreo e cosmopolita<br />

Dos comboios estrênuos.<br />

Da faina transportadora-de-cargas dos navios.<br />

Do giro lúbrico e lento dos guindastes,<br />

Do tumulto disciplinado das fábricas,<br />

E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias<br />

[de transmissão!<br />

205


O texto anteriormente transcrito pertence ao poema de<br />

Álvaro de Campos Ode triunfal. Álvaro de Campos é,<br />

como se sabe, um heterônimo de Fernando Pessoa,<br />

e a Ode triunfal constitui-se como um dos poucos<br />

textos do efêmero futurismo na literatura portuguesa.<br />

No entanto, a Ode triunfal torna-se muito importante,<br />

na medida em que nela se reflete o Manifesto do Futurismo,<br />

de Marinetti. Assim sendo, responda: quais<br />

os segmentos do trecho transcrito da Ode triunfal que<br />

justificam chamarmos-lhe um poema futurista?<br />

Texto para as questões de 147 a 149.<br />

A questão baseia-se em fragmentos de três autores<br />

portugueses.<br />

Auto da Lusitânia<br />

Estão em cena os personagens Todo o Mundo (um<br />

rico mercador) e Ninguém (um homem vestido como<br />

pobre). Além deles, participam da cena dois diabos,<br />

Berzebu e Dinato, que escutam os diálogos dos primeiros,<br />

comentando-os, e anotando-os.<br />

Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá?<br />

Todo o Mundo: Busco honra muito grande.<br />

Ninguém: E eu em virtude, que Deus mande que tope<br />

co ela já.<br />

Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude: Escreve<br />

aí, a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ninguém<br />

busca virtude.<br />

Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro mor bem<br />

qu’esse?<br />

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo<br />

quanto eu fizesse.<br />

Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa<br />

que errasse.<br />

Berzebu para Dinato: Escreve mais.<br />

Dinato: Que tens sabido?<br />

Berzebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo<br />

ser louvado, e Ninguém ser repreendido.<br />

Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo<br />

meu?<br />

Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma dê.<br />

Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.<br />

Berzebu para Dinato: Escreve lá outra sorte.<br />

Dinato: Que sorte?<br />

Berzebu: Muito garrida:<br />

Todo o Mundo busca a vida,<br />

E Ninguém conhece a morte.<br />

Antologia do Teatro de Gil Vicente<br />

Os Maias<br />

Eça de Queirós – 1845-1900<br />

– E que somos nós? – exclamou Ega. – Que temos nós<br />

sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos:<br />

isto é, indivíduos inferiores que se governam na<br />

vida pelo sentimento, e não pela razão…<br />

Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram<br />

mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, não<br />

se desviando nunca dela, torturando-se para se manter<br />

na sua linha inflexível, secos, hirtos, lógicos, sem<br />

emoção até o fim…<br />

– Creio que não – disse o Ega. – Por fora, à vista, são<br />

desconsoladores. E por dentro, para eles mesmos, são<br />

talvez desconsolados. O que prova que neste lindo<br />

mundo ou tem de ser insensato ou sem sabor…<br />

– Resumo: não vale a pena viver…<br />

206<br />

– Depende inteiramente do estômago! – atalhou Ega.<br />

Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a<br />

sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira<br />

da experiência e que agora o governava. Era o<br />

fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear…<br />

Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento.<br />

Tudo aceitar, o que vem e o que foge,<br />

com a tranqüilidade com que se acolhem as naturais<br />

mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta<br />

placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada<br />

que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo<br />

até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo<br />

não ter apetites. E, mais que tudo, não ter<br />

contrariedades.<br />

Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente<br />

se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da<br />

inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um<br />

passo para alcançar coisa alguma na Terra – porque<br />

tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes,<br />

em desilusão e poeira.<br />

Eça de Queirós, Os Maias.<br />

Ode triunfal<br />

Álvaro de Campos<br />

(heterônimo de Fernando Pessoa – 1888-1935)<br />

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica<br />

Tenho febre e escrevo.<br />

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,<br />

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.<br />

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!<br />

Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!<br />

Em fúria fora e dentro de mim.<br />

Por todos os meus nervos dissecados fora,<br />

Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!<br />

Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,<br />

De vos ouvir demasiadamente de perto,<br />

E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso<br />

De expressão de todas as minhas sensações,<br />

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!<br />

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza<br />

[tropical –<br />

Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –<br />

Canto, e canto o presente, e também o passado e o<br />

[futuro,<br />

Porque o presente é todo o passado e todo o futuro<br />

E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes<br />

[elétricas<br />

Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio<br />

[e Platão,<br />

E pedaços do Alexandre Magno do século talvez<br />

[cinqüenta,<br />

Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do<br />

[Ésquilo doséculo cem,<br />

Andam por estas correias de transmissão e por estes<br />

[êmbolos e por estes volantes,<br />

Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,<br />

Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só<br />

[carícia à alma.<br />

Fernando Pessoa, Obra poética.<br />

147. Unifesp<br />

Os textos apresentados, pertencentes a períodos diferentes<br />

da história social e literária portuguesa, têm, em<br />

comum, o enfoque das relações do ser humano diante<br />

da realidade. Respectivamente, representam:


PV2D-07-54<br />

a) visão satírica da existência e do comportamento humano;<br />

visão desencantada e pessimista do indivíduo na<br />

sociedade; visão perplexa, eufórica, ao mesmo tempo<br />

agônica, do indivíduo diante dos tempos modernos.<br />

b) visão eufórica do comportamento humano; visão<br />

derrotista do passado; visão agônica do futuro,<br />

pelo poeta.<br />

c) visão complacente do diabo sobre a sociedade<br />

portuguesa; visão derrotista do passado; visão<br />

alegórica da inutilidade do poeta diante das conquistas<br />

tecnológicas.<br />

d) visão sarcástica que os homens fazem de si, na<br />

época do trovadorismo português; visão fantasiosa<br />

da existência; visão perplexa, mas eufórica, do<br />

poeta diante da eletricidade e das máquinas.<br />

e) visão positiva da existência e do relacionamento<br />

humano; visão objetiva da sociedade romântica;<br />

visão hesitante do mundo moderno.<br />

148. Unifesp<br />

A ironia, ou uma expressão irônica, consiste em, intencionalmente,<br />

dizer o contrário do que as palavras<br />

significam, no sentido literal, denotativo. Lendo-se<br />

o fragmento de Gil Vicente, percebe-se que o autor<br />

ironiza a sociedade:<br />

a) no nome dado a Berzebu que, no Novo Testamento,<br />

significa o “príncipe dos demônios”.<br />

b) no comportamento humilde do personagem Todo<br />

o Mundo.<br />

c) na dissimulação contida nos nomes dos personagens<br />

e suas caracterizações: Todo o Mundo (um<br />

rico mercador) e Ninguém (um homem vestido<br />

como pobre).<br />

d) no pedido que Berzebu faz a Dinato: “Escreve lá<br />

outra sorte.”<br />

e) no comportamento obstinado do personagem<br />

Ninguém.<br />

149. Unifesp<br />

Em Ode triunfal, escrita no momento aflitivo de 1914,<br />

parece que o transe dos tempos modernos, representado<br />

pelas máquinas em fúria, mistura-se com o<br />

transe febril do eu poemático. Cria-se um ambiente em<br />

que, talvez na dimensão do sonho (ou do pesadelo),<br />

o tempo e o espaço parecem dissolvidos, ou situados<br />

numa região mítica. Nessa dimensão surrealista,<br />

Platão e Virgílio residem dentro das máquinas; há,<br />

nelas, pedaços de Alexandre Magno, do século talvez<br />

cinqüenta, além de Ésquilo, do século cem. Tal<br />

embaralhamento temporal de figuras históricas já se<br />

enunciara nos versos:<br />

a) “À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da<br />

fábrica / Tenho febre e escrevo.”<br />

b) “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! / Forte<br />

espasmo retido dos maquinismos em fúria!”<br />

c) “De expressão de todas as minhas sensações, /<br />

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”<br />

d) “Canto, e canto o presente, e também o passado<br />

e o futuro, / Porque o presente é todo o passado<br />

e todo o futuro.”<br />

e) “De vos ouvir demasiadamente de perto, / E arde-me<br />

a cabeça de vos querer cantar com um excesso.”<br />

150.<br />

O meu olhar é nítido como um girassol.<br />

Tenho o costume de andar pelas estradas<br />

Olhando para a direita e para a esquerda,<br />

E de vez em quando olhando para trás...<br />

E o que vejo a cada momento<br />

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,<br />

E eu sei dar por isso muito bem...<br />

Sei ter o pasmo essencial<br />

Que tem uma criança se, ao nascer,<br />

Reparasse que nascera deveras...<br />

Sinto-me nascido a cada momento<br />

Para a eterna novidade do Mundo...<br />

Fernando Pessoa<br />

Com base na leitura do texto de Fernando Pessoa,<br />

assinale a afirmação correta.<br />

a) O fragmento de Fernando Pessoa demonstra o<br />

fingimento dele, que consiste num processo de<br />

despersonalização do poeta, tão acentuado a<br />

ponto de a crítica, comumente, não ser capaz de<br />

definir com precisão a autoria de poesias suas.<br />

b) Nesse fragmento, há um nítido exemplo de<br />

sensacionismo, atitude artística que consiste na<br />

percepção intensa da realidade, o autor ao se<br />

perceber como indivíduo. Esse caráter é típico do<br />

heterônimo pessoano Alberto Caeiro.<br />

c) O eu lírico, ao dizer que sabe “ter o pasmo essencial”,<br />

faz clara referência a sua capacidade<br />

dissimuladora.<br />

d) Com alusões a “pasmo essencial” e a nascer “a<br />

cada momento”, o poeta refere-se a todo amanhecer,<br />

quando ele se reencontra com a vida.<br />

e) Afirmando reparar “que nascera deveras”, o eu<br />

lírico sente-se o único capaz de admirar verdadeiramente<br />

o que é a vida e o único a ter constante<br />

envolvimento com o mundo físico.<br />

151.<br />

Identifique nos textos seguintes os principais heterônimos<br />

de Fernando Pessoa.<br />

a) Amo-vos a todos, como uma fera<br />

Amo-vos carnivoramente,<br />

Pervertidamente e enroscado a minha vista<br />

Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,<br />

Ó coisas todas modernas,<br />

Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima<br />

Do sistema imediato do Universo!<br />

Nova revelação metálica e dinâmica de Deus!<br />

b) O meu olhar azul como o céu<br />

É calmo como a água ao sol.<br />

É assim, azul e calmo,<br />

Porque não interroga nem se espanta...<br />

c) Vem sentar-se comigo, Lídia, à beira do rio.<br />

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos<br />

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas<br />

152. Mackenzie-SP<br />

Tão cedo passa tudo quanto passa!<br />

Morre tão jovem ante os deuses quanto<br />

Morre! Tudo é tão pouco!<br />

207


208<br />

Nada se sabe, tudo se imagina.<br />

Circunda-te de rosas, ama, bebe<br />

E cala. O mais é nada.<br />

Ricardo Reis<br />

I. Os verbos no presente do indicativo dos quatro<br />

primeiros versos expressam uma avaliação ampla<br />

de grandes verdades de todos os tempos.<br />

II. Os sujeitos sintáticos das orações dos quatro primeiros<br />

versos, tudo e nada, reforçam a amplitude<br />

dos significados das idéias.<br />

III. A efemeridade da vida junta-se à ilusão do conhecimento<br />

e da erudição no quarto verso.<br />

IV. Os dois últimos versos contradizem a idéia inicial<br />

de desapego e de desencanto, já que propõem a<br />

ligação com a beleza das rosas, com o calor do<br />

afeto, com a alegria da bebida e com o silêncio da<br />

satisfação.<br />

Das afirmações sobre o poema, dizemos que:<br />

a) todas estão corretas.<br />

b) nenhuma está correta.<br />

c) apenas a I e a II estão corretas.<br />

d) apenas a III está incorreta.<br />

e) apenas a IV está incorreta.<br />

153.<br />

Não queiras, Lídia, edificar no espaço<br />

Que figuras futuro, ou prometer-te<br />

Amanhã. Cumpre-se hoje, não esperando.<br />

Tu mesma és tua vida.<br />

Não te destines, que não és futura.<br />

Quem sabe se, entre a taça que esvazias,<br />

E ela de novo enchida, não te a sorte<br />

Interpõe o abismo?<br />

Nesta ode, de Ricardo Reis, podemos perceber<br />

influências de um estilo da literatura portuguesa.<br />

Trata-se do:<br />

a) Romantismo, que está presente na referência<br />

sentimental à figura da mulher amada (“Lídia”), a<br />

quem o poeta se dirige diretamente, em um sinal<br />

de subjetividade e intimidade.<br />

b) Arcadismo, que se evidencia na temática da<br />

passagem do tempo, aliada à idéia de um aproveitamento<br />

do momento presente, em uma clara<br />

alusão à tópica do carpe diem.<br />

c) Barroco, que aparece principalmente no plano da<br />

linguagem, repleta de figuras de linguagem e de<br />

sinuosidade, mas que também se manifesta no<br />

plano temático, através da idéia da morte (“abismo”).<br />

d) Neoclassicismo, em função da forma como se<br />

manifesta a crença do poeta no futuro, expressa<br />

de maneira racional e objetiva, em uma franca<br />

adesão ao otimismo típico dessa escola.<br />

e) Arcadismo, o que se pode perceber pela tentativa<br />

de recuperação de um passado feliz, assumido<br />

como a “idade de ouro” perdida para a agitação<br />

da vida moderna.<br />

154. Faenquil-SP<br />

Ricardo Reis difere dos demais heterônimos de Fernando<br />

Pessoa, principalmente por:<br />

a) buscar o equilíbrio através da razão e do desprendimento.<br />

b) sua personalidade oprimida pelos avanços tecnológicos.<br />

c) negar a existência da fatalidade, valorizando o livre<br />

arbítrio.<br />

d) ser o mais passional, valorizando as sensações<br />

ao extremo<br />

e) pregar que a ignorância é o caminho mais curto<br />

para a felicidade.<br />

155. Unifesp<br />

Considere as seguintes informações sobre o heterônimo<br />

Alberto Caeiro, do poeta Fernando Pessoa,<br />

extraídas de Literatura <strong>Portuguesa</strong> – da Idade Média<br />

a Fernando Pessoa, de José de Nicola.<br />

Para [ele], as coisas são como são. (...) Por isso mesmo,<br />

seu mundo é o mundo do real-sensível (ou real-objetivo),<br />

é tudo aquilo que existe e que percebemos através dos<br />

sentidos. (...) ele ‘pensa’ com os sentidos.<br />

Os versos que ilustram o heterônimo apresentado são:<br />

a) Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus<br />

pensamentos / E os meus pensamentos são todos<br />

sensações. / Penso com os olhos e com os ouvidos /<br />

E com as mãos e os pés / E com o nariz e a boca.<br />

b) Amemo-nos tranqüilamente, pensando que podíamos,<br />

/ Se quiséssemos, trocar beijos e braços e<br />

carícias, / Mas que mais vale estarmos sentados ao<br />

pé um do outro / Ouvindo correr o rio e vendo-o.<br />

c) Não matou outros deuses / O triste deus cristão. /<br />

Cristo é um deus a mais, / Talvez um que faltava.<br />

d) Dizem que finjo ou minto. / Tudo que escrevo. Não.<br />

/ Eu simplesmente sinto / Com a imaginação. / Não<br />

uso o coração.<br />

e) Já disse: sou lúcido. / Nada de estéticas com<br />

coração: sou lúcido. / Merda! Sou lúcido...<br />

156. Efoa-MG<br />

Passou a diligência pela estrada, e foi-se;<br />

E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.<br />

Assim é a ação humana pelo mundo fora.<br />

Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;<br />

E o sol é sempre pontual todos os dias.<br />

O trecho acima é de um poema de Alberto Caeiro.<br />

Sobre este nome da literatura portuguesa, é correto<br />

dizer que:<br />

a) é um pseudônimo de Eugênio de Castro, poeta<br />

simbolista.<br />

b) é um heterônimo de Fernando Pessoa, poeta<br />

modernista.<br />

c) é um pseudônimo de Cesário Verde, poeta realista.<br />

d) é um poeta parnasiano, autor de Horas mortas.<br />

e) é um poeta realista, autor de Sinal dos tempos.<br />

157. Fuvest-SP<br />

Aquela senhora tem um piano<br />

Que é agradável mas não é o correr dos rios<br />

Nem o murmúrio que as árvores fazem...<br />

Por que é preciso ter um piano?<br />

O melhor é ter ouvidos<br />

E amar a Natureza.<br />

a) Qual a opinião do poeta em relação ao piano?<br />

b) Que simboliza o piano no poema?


PV2D-07-54<br />

158. Unicamp-SP<br />

O poema Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro, de<br />

José Paulo Paes, remete-nos ao Poema X do Guardador<br />

de rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de<br />

Fernando Pessoa). Leia atentamente os dois poemas,<br />

transcritos a seguir, e identifique no poema de Alberto<br />

Caeiro as falas que, segundo o poema de José Paulo<br />

Paes, poderiam ser atribuídas a Pessoa e Caeiro,<br />

respectivamente. Justifique sua resposta.<br />

Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro<br />

Pessoa – a chuva me deixa triste...<br />

Caeiro – a mim me deixa molhado.<br />

Poema X<br />

Olá, guardador de rebanhos,<br />

Aí à beira da estrada,<br />

Que te diz o vento que passa?<br />

Que é vento, e que passa,<br />

E que já passou antes,<br />

E que passará depois,<br />

E a ti, que te diz?<br />

Muita cousa mais do que isso,<br />

Falam-me de muitas outras cousas.<br />

De memórias e de saudades<br />

E de cousas que nunca foram.<br />

Nunca ouviste passar o vento.<br />

O vento só fala do vento.<br />

O que lhe ouviste foi mentira,<br />

E a mentira está em ti.<br />

159.<br />

José Paulo Paes<br />

Texto I<br />

Não dormimos essa noite e, de madrugada, trepamos<br />

às portas das Academias, dos Museus, das Bibliotecas<br />

e das Universidades para escrever com o carvão<br />

heróico das fábricas esta dedicatória (...):<br />

Capítulo 3<br />

160. Unisa-SP<br />

Pode-se dizer que:<br />

a) a Semana de Arte Moderna foi o ponto de encontro<br />

de modernistas que vinham se manifestando<br />

isoladamente, antes de 1922.<br />

b) as primeiras manifestações modernistas no Brasil<br />

começaram a aparecer a partir da Semana de Arte<br />

Moderna.<br />

c) o Modernismo no Brasil continua as experiências<br />

e renovações propostas pelo Simbolismo.<br />

d) o Modernismo no Brasil reage às manifestações<br />

literárias do Simbolismo.<br />

e) os participantes da Semana de Arte Moderna formaram<br />

um grupo coeso e único até 1928, quando<br />

aparece o grupo regionalista do Nordeste.<br />

Ao terramoto<br />

Seu único aliado<br />

Os futuristas dedicam<br />

Estas ruínas de Roma e de Atenas<br />

Naquele dia as velhas muralhas sábias foram sacudidas<br />

pelo nosso grito inesperado:<br />

Ai de quem se deixar agarrar pelo demônio da<br />

admiração! Ai de quem admira e imita o passado!<br />

Ai de quem vende o seu gênio!<br />

Texto II<br />

Marinetti, acadêmico<br />

Lá chegam todos, lá chegam todos...<br />

Qualquer diz, salvo venda, chego eu também...<br />

Se nascem, afinal, todos para isso...<br />

Não tenho remédio senão morrer antes,<br />

Não tenho remédio senão escalar o Grande Muro...<br />

Se fico cá, prendem-me para ser social...<br />

Lá chegam todos, porque nasceram para isso,<br />

E só se chega ao Isso para que se nasceu...<br />

Lá chegam todos...<br />

Marinetti, acadêmico...<br />

As Musas vingaram-se com focos elétricos, meu velho,<br />

Puseram-te por fim na ribalta da cave velha,<br />

E a tua dinâmica, sempre um bocado italiana, f-f-f-ff-f-f-f-...<br />

O texto I foi escrito por Filipo Marinetti, fundador do<br />

futurismo, na década de 19<strong>10</strong>. Em 1929, Álvaro de<br />

Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) dedicoulhe<br />

o poema transcrito no texto II.<br />

a) Qual atitude de Marinetti que inspirou o poema de<br />

Álvaro de Campos?<br />

b) Qual a posição de Álvaro de Campos diante dessa<br />

atitude de Marinetti?<br />

c) Como o texto I auxilia a compreensão dessa posição<br />

de Álvaro de Campos?<br />

161. UEL-PR<br />

As reações negativas do público à Semana de Arte<br />

Moderna refletem:<br />

a) a fixação do espírito brasileiro no propósito de<br />

menosprezo das criações nacionalistas.<br />

b) a possibilidade do futuro fracasso do Modernismo<br />

como movimento estético literário.<br />

c) a aversão dos autores em se comunicar com<br />

o público presente no Teatro Municipal de São<br />

Paulo.<br />

d) a preferência pelas manifestações artísticas já<br />

cristalizadas nas linhas do academicismo.<br />

e) o pouco amadurecimento dos autores para propostas<br />

de vanguarda.<br />

209


162. PUC-RS<br />

Todas as afirmativas a seguir relacionam-se ao Modernismo<br />

na sua primeira fase, exceto:<br />

a) Os movimentos de vanguarda europeus, a brutalidade<br />

da Primeira Guerra Mundial, dentre outros<br />

fatores, favoreceram a busca por uma estética<br />

desvinculada de quaisquer dogmatismos.<br />

b) No Brasil, os movimentos primitivistas foram uma<br />

resposta à busca da expressão nacional.<br />

c) A conjunção entre primitivismo do folclore e universo<br />

urbano foi uma possibilidade modernista.<br />

d) As inovações de ordem temática e formal permitiram<br />

a delimitação clara entre prosa e poesia<br />

modernistas.<br />

e) A paródia aos textos e estilos consagrados da literatura<br />

brasileira é uma das possibilidades modernistas.<br />

163.<br />

Tome o texto de Manuel Bandeira como referência<br />

para a questão a seguir.<br />

Andorinha<br />

Andorinha lá fora está dizendo:<br />

– “Passei o dia à toa, à toa!”<br />

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!<br />

Passei a vida à toa, à toa...<br />

A comparação sugerida pelo autor com a andorinha<br />

reflete:<br />

a) o desespero e a angústia diante da morte.<br />

b) o flagelo e a dor diante da catástrofe da vida de<br />

ambos.<br />

c) a angústia diante do sentimento de inutilidade do<br />

autor.<br />

d) a alegria de poder estar vivo e saber que a vida<br />

teve algum sentido.<br />

e) o desespero diante de uma vida de sofrimento e<br />

fadiga do autor.<br />

164. FCC-SP<br />

Participou da Semana de Arte Moderna, em São<br />

Paulo, unindo-se aos representantes das letras e das<br />

artes plásticas para fazer a renovação da música no<br />

Brasil. Musicou diversos poemas brasileiros modernos,<br />

inclusive de Manuel Bandeira. A base de sua música<br />

é o folclore nacional e em sua vasta obra prevalecem<br />

obras-primas universalmente reconhecidas, como a<br />

suíte O descobrimento do Brasil.<br />

O texto acima refere-se a:<br />

a) Francisco Mignone.<br />

b) Ary Barroso.<br />

c) Villa-Lobos.<br />

d) Camargo Guarnieri.<br />

e) Alberto Nepomuceno.<br />

165. FEI-SP<br />

Assinalar a alternativa incorreta, quanto aos princípios<br />

básicos divulgados pelos participantes da Semana de<br />

Arte Moderna.<br />

a) Desejo de expressão livre e a tendência para<br />

transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do<br />

academismo, a emoção e a realidade do país.<br />

2<strong>10</strong><br />

b) Rejeição dos padrões portugueses, buscando<br />

uma expressão mais coloquial, próxima do falar<br />

brasileiro.<br />

c) Combate a tudo que indicasse o status quo, o<br />

conhecido.<br />

d) Manutenção da temática simbolista e parnasiana.<br />

e) Valorização do prosaico e do humor, que, em todas<br />

as suas gamas, lavou e purificou a atmosfera<br />

sobrecarregada pelos acadêmicos.<br />

166. UEL-PR<br />

Assinale a alternativa em que melhor se caracteriza a<br />

Semana de Arte Moderna.<br />

a) Constituiu marco histórico-literário, ponto de partida<br />

para profundas modificações na arte brasileira.<br />

b) Foi um movimento artístico ocorrido no Rio de<br />

Janeiro, como conseqüência direta do conflito<br />

mundial de 1914-1918.<br />

c) Foi um movimento literário que contou com vinte<br />

e dois artistas, daí o nome “Semana de 22”.<br />

d) Foi um marco histórico-literário, porque se constituiu<br />

num movimento isento de influências estrangeiras.<br />

e) Introduziu um movimento literário brasileiro,<br />

embora sempre baseado em modelos estéticos<br />

portugueses.<br />

167.<br />

A Semana de Arte Moderna representou, no panorama<br />

cultural da época:<br />

a) a ruptura total com o passado artístico mais recente,<br />

no qual nada permitia prevê-lo, daí a comoção<br />

que causou.<br />

b) o resultado da condensação de aspirações vagas,<br />

ainda informes até então, mas perceptíveis nas<br />

preferências do público em geral.<br />

c) a congregação de tendências que, sob formas<br />

várias e nas várias artes, vinham se delineando<br />

desde a década anterior.<br />

d) a reação aos ataques que os últimos parnasianos<br />

dirigiam contra a obra incipiente dos primeiros<br />

modernistas.<br />

e) a decorrência da reelaboração de recursos estilísticos<br />

presentes tanto na poesia parnasiana como<br />

na simbolista.<br />

168. UFPE<br />

Enfunando os papos,<br />

Saem da penumbra,<br />

Aos pulos, os sapos.<br />

A luz os deslumbra.<br />

Em ronco que aterra<br />

Berra o sapo-boi:<br />

– Meu pai foi à guerra!<br />

– Não foi! – Foi! – Não foi!<br />

O sapo-tanoeiro,<br />

Parnasiano aguado,<br />

Diz – Meu cancioneiro<br />

É bem martelado.


PV2D-07-54<br />

Vede como primo<br />

Em comer os hiatos!<br />

Que arte! E nunca rimo<br />

Os termos cognatos.<br />

(...)<br />

Manuel Bandeira. Os sapos<br />

Leia o poema acima e analise as proposições inferidas<br />

do mesmo.<br />

1. Faz parte da fase parnasiana do poeta e exalta o<br />

movimento no qual se iniciou.<br />

2. A preocupação dos parnasianos com detalhes<br />

formais sem valor estético está afirmada na quarta<br />

estrofe.<br />

3. A segunda estrofe procura repetir, com linguagem<br />

onomatopaica, o coaxar dos sapos, comparando-o<br />

à poesia parnasiana.<br />

4. Os versos transformam os sapos em símbolo da<br />

natureza brasileira.<br />

5. O poema marca o início da Semana de Arte<br />

Moderna e por isso faz a apologia do Movimento<br />

Modernista.<br />

169. UFTM-MG<br />

A literatura das duas primeiras décadas do século XX<br />

pode ser chamada “eclética” porque:<br />

a) convivem, na época, diversas correntes estéticas.<br />

b) estavam vivos os melhores poetas parnasianos.<br />

c) há o domínio da prosa sobre a poesia.<br />

d) amadurecem as idéias que preparam o Modernismo.<br />

e) a prosa se volta para a problemática das regiões<br />

brasileiras.<br />

170. Unifran-SP<br />

O Modernismo no Brasil revolucionou as normas<br />

literárias, perdurando por várias décadas. Assinale a<br />

alternativa que apresenta declarações concernentes<br />

a esse movimento.<br />

a) Na primeira fase do movimento, surgiram grandes<br />

poetas, mas destaca-se especialmente o chamado<br />

“Romance Revolucionário” ou “Romance Modernista”.<br />

b) Oswald de Andrade, escritor e poeta paulista, foi<br />

um dos autores mais marcantes da segunda fase.<br />

Seu texto foi dos mais inovadores e corrosivos da<br />

estética regionalista.<br />

c) A primeira fase do movimento foi marcada pela<br />

desintegração da linguagem tradicional devido<br />

à busca da expressão regional e à adoção das<br />

conquistas de vanguarda.<br />

d) Apesar das inovações, esse movimento prendeuse<br />

à concepção tradicional de literatura, esquecendo<br />

a história da atualidade e fixando-se em valores<br />

do passado.<br />

e) Esse movimento foi iniciado com a Semana de Arte<br />

Moderna em 1922, englobando várias artes: literatura,<br />

música, pintura e escultura. O pólo principal<br />

foi o Rio de Janeiro, na época, já um florescente<br />

parque industrial.<br />

171. ESPM-SP<br />

“Antes fanhoso que sem nariz” – essa frase utilizada<br />

por Macunaíma para consolar Jiguê, após o banho<br />

encantado, corresponde:<br />

a) a um ditado popular, significando para os parnasianos<br />

grande contribuição à linguagem literária.<br />

b) a uma expressão recorrente ao longo da literatura,<br />

sendo normal sua utilização em qualquer escola<br />

literária.<br />

c) a uma expressão idiomática, refletindo uma antiga<br />

linguagem culta ou padrão, justificando assim sua<br />

utilização e aplicação na literatura.<br />

d) a um dito popular, revelando a intenção do autor<br />

em aproximar da literatura a linguagem prosaica.<br />

e) a uma gíria de época, estabelecendo um código<br />

secreto para um grupo social restrito (no caso, os<br />

índios da tribo Tapanhumas).<br />

172. Mackenzie-SP<br />

De leve<br />

Feminista sábado domingo segunda terça quarta<br />

quinta e na sexta lobiswoman<br />

Ledusha<br />

Considere os seguintes traços estilísticos.<br />

I. Forma sintética associada a uma sintaxe que<br />

privilegia a frase nominal.<br />

II. Aproveitamento de linguagem popular e de trocadilho.<br />

III. Temática social tratada de forma irreverente.<br />

Assinale:<br />

a) se apenas I estiver presente no texto.<br />

b) se apenas II estiver presente no texto.<br />

c) se apenas III estiver presente no texto.<br />

d) se apenas II e III estiverem presentes no texto.<br />

e) se I, II e III estiverem presentes no texto.<br />

173. UFRGS-RS<br />

(...)<br />

O sapo-tanoeiro<br />

Parnasiano aguado,<br />

Diz: – ‘Meu cancioneiro<br />

É bem martelado…’<br />

(...)<br />

O poema Os sapos, de Manuel Bandeira, pertence ao<br />

primeiro momento do Modernismo brasileiro, em que<br />

ocorreu uma tomada de posição contra:<br />

a) a expressão de sentimentos, o culto de temas clássicos,<br />

a atitude impessoal e erudita do poeta.<br />

b) a interferência emocional do poeta, a linguagem<br />

classicizante, as rimas ricas.<br />

c) o culto de rimas ricas, o metro perfeito, a expressão<br />

classicizante.<br />

d) a ênfase oratória, as atitudes sentimentais, a<br />

poesia pessoal.<br />

e) a poesia de expressão pessoal, a linguagem menos<br />

rigorosa, a ausência de rimas.<br />

Texto para as questões 174 e 175.<br />

A propósito da exposição de Malfatti.<br />

Há duas espécies de artistas. Uma composta<br />

dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência<br />

disso fazem arte pura, guardando os eternos<br />

ritmos da vida (...). A outra espécie é formada pelos<br />

211


que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na<br />

à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de<br />

escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da<br />

cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo<br />

de todos os períodos de decadência: são frutos<br />

de fins de estação, bichados ao nascedouro.<br />

(...) Se víssemos na Sra. Malfatti apenas uma “moça<br />

que pinta”, como há centenas por aí, sem denunciar centelha<br />

de talento, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos<br />

meia dúzia desses adjetivos “bombons”, que a crítica<br />

açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças.<br />

174.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) O advérbio cá (linha 7) aponta para um espaço próximo<br />

de quem está falando – espaço onde também surgem<br />

furúnculos da cultura excessiva (linhas 7 e 8).<br />

b) A oposição pureza / impureza está implícita apenas<br />

no primeiro período do primeiro parágrafo.<br />

176. UFF-RJ<br />

Texto I<br />

212<br />

c) No segundo parágrafo, a crítica de arte feita na<br />

época é avaliada com mágoa e ressentimento.<br />

d) No segundo parágrafo, confirma-se o talento de<br />

Malfatti, então relacionado à arte pura.<br />

e) A expressão adjetivos “bombons” (linha 14) afasta<br />

qualquer crítica negativa em relação à Malfatti.<br />

175.<br />

Assinale a alternativa incorreta.<br />

a) O verbo haver (linha 1) empregado impessoalmente<br />

reforça o caráter universal das afirmações.<br />

b) Na linha 6, estrábica, adjunto adnominal de sugestão,<br />

enfatiza a avaliação pejorativa.<br />

c) Na linha 7, escolas rebeldes ilustra a visão de<br />

decadência da arte.<br />

d) Com crítica açucarada (linhas 14 e 15) o autor<br />

caracteriza seu próprio texto.<br />

e) O normal é apresentado como desejável; o anormal,<br />

repudiável.


PV2D-07-54<br />

Texto II<br />

O Globo, 30/05/2003<br />

Algumas temáticas e estéticas de escolas literárias (a presença da natureza, o “eu lírico”, a idealização, o<br />

humor, a desconstrução lingüística, o cultivo da forma) podem ser retomadas sob um novo modo de dizer – de<br />

forma crítica, irônica, caricatural...<br />

Justifique, exemplificando com material dos textos, um possível entendimento de uma releitura do Romantismo e/ou<br />

do Parnasianismo em Hagar, o Horrível (texto I) e de uma releitura do Modernismo em Radical chic (texto II).<br />

177. UEL-PR<br />

Assistimos então a um afastamento de Tarsila da estrutura cubista. A direção que a seduz agora é o surrealismo,<br />

mas não necessariamente a escola. [...] Ocorre na obra de Tarsila uma libertação quase anarquista do inconsciente.<br />

É a fase em que a artista alcança uma expressão solta e livre, onde o político fica menos explícito.<br />

JUSTINO, Maria José. O banquete canibal. Curitiba: Editora da UFPR, 2002, p. 84.<br />

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que pertencem à fase descrita no<br />

texto apenas as imagens:<br />

a) I e III.<br />

b) I e IV.<br />

c) II e III.<br />

d) I, II e IV.<br />

e) II, III e IV.<br />

213


178. UFPE<br />

“Liberdade, ainda que à tardinha” é parte de uma peça<br />

publicitária que utiliza a paródia de uma frase histórica.<br />

Esse recurso, além de outros que valorizavam a<br />

liberdade de expressão, tiveram ampla divulgação com<br />

o Modernismo. Identifique alguns desses recursos,<br />

relacionado-os aos textos numerados a seguir.<br />

1. Beba coca cola<br />

Babe cola<br />

Beba coca<br />

Beba cola caco<br />

Caco cola<br />

Cloaca<br />

2. Para dizerem milho dizem mio<br />

Para melhor dizem mió<br />

Para pior dizem pió<br />

Para telhado dizem teiado<br />

E vão fazendo telhados.<br />

3. (...) Minha terra tem palmares<br />

Onde gorjeia o mar<br />

Os passarinhos daqui<br />

Não cantam como os de lá<br />

(...)<br />

4. Dentaduras duplas<br />

Inda não sou bem velho<br />

Para merecer-vos...<br />

Há que contentar-me<br />

Com uma ponte móvel<br />

e esparsas coroas. (...)<br />

5. o mercado negro o racionamento, as montanhas de<br />

metal velho o italiano assassinado na praça João<br />

Lisboa o cheiro de pólvora dos canhões alemães...<br />

( ) paródia<br />

( ) valorização da linguagem coloquial e popular.<br />

( ) incorporação de elementos prosaicos e vulgares<br />

como temas poéticos.<br />

( ) enumeração caótica de palavras em períodos sem<br />

nexo aparente.<br />

( ) ordenação não-linear do poema, com valorização<br />

dos efeitos visuais e sonoros.<br />

A seqüência correta é:<br />

a) 3, 2, 4, 5, 1 d) 3, 1, 2, 5, 4<br />

b) 2, 4, 5, 1, 3 e) 1, 2, 3, 4, 5<br />

c) 3, 4, 1, 5, 2<br />

179. UFPE<br />

A Semana de Arte Moderna de 22 teve como idealizadores<br />

e realizadores dois paulistas com igual sobrenome<br />

e sem nenhum parentesco. Oswald e Mário<br />

de Andrade. Sobre a Semana de Arte Moderna de 22,<br />

podemos afirmar:<br />

( ) A Semana de Arte Moderna foi realizada sob o<br />

domínio das doutrinas européias mal assimiladas<br />

e significou, apesar disso, o atestado de óbito da<br />

arte dominante.<br />

( ) Faltou aos modernistas de 22 maior empenho social<br />

e, maior compromisso com a angústia do tempo,<br />

pois eles colocaram a renovação estética acima<br />

da renovação do espírito.<br />

214<br />

( ) O engajamento político está entre as linhas básicas<br />

do projeto modernista de 22, assim como a desintegração<br />

das linguagens tradicionais, a adoção das<br />

conquistas de vanguarda e a busca da identidade<br />

nacional.<br />

( ) Oswald de Andrade escreveu os textos mais corrosivos<br />

da estética modernista, como Memórias<br />

sentimentais de João Miramar, Serafim Ponte<br />

Grande e Macunaíma.<br />

( ) Mário de Andrade, um talento plural, publicou,<br />

em 1922, Paulicéia Desvairada (“São Paulo,<br />

comoção da minha vida!”), obra que marcou seu<br />

amadurecimento como poeta/escritor, seguida dos<br />

livros de poesia Losango Cáqui e Clã do Jabuti e<br />

de obras de ficção, entre as quais, Amar, verbo<br />

intransitivo.<br />

180.<br />

Leia o poema abaixo e, a seguir, responda às questões.<br />

Vício na fala<br />

Para dizerem milho dizem mio<br />

Para melhor dizem mió<br />

Para pior pió<br />

Para telha dizem teia<br />

Para telhado dizem teiado<br />

E vão fazendo telhados<br />

Oswald de Andrade<br />

a) Pode-se dizer que há metalinguagem no poema<br />

acima?<br />

b) Indique duas características que comprovem que<br />

o texto é do Modernismo.<br />

181. UCP-PR<br />

Baseando-se no trecho a seguir, responda às questões<br />

obedecendo ao código.<br />

Trem de ferro<br />

Café com pão<br />

Café com pão<br />

Café com pão<br />

Virge Maria que foi isto maquinista?<br />

Manuel Bandeira<br />

I. A significação do texto provém da sugestão sonora.<br />

II. O poeta utiliza expressões da fala popular brasileira.<br />

III. A temática e a estrutura do poema contrariam o<br />

programa poético do Modernismo.<br />

a) Se I, II e III forem corretas.<br />

b) Se I e II forem corretas e III incorreta.<br />

c) Se I, II e III forem incorretas.<br />

d) Se I for incorreta e II e III corretas.<br />

e) Se I e II forem incorretas e apenas III correta.<br />

182. UFPE (modificado)<br />

Escreva nos parênteses a letra (V) se a afirmativa for<br />

verdadeira e (F) se for falsa.<br />

A 29 de Janeiro de 1922, O Estado de S. Paulo<br />

noticiava:<br />

Por iniciativa do festejado escritor, Sr. Graça Aranha,<br />

haverá em São Paulo uma Semana de Arte Moderna,<br />

em que tomarão parte os artistas que, em nosso meio,<br />

representam as mais modernas correntes artísticas.


PV2D-07-54<br />

( ) O Primitivismo nacionalista da Antropologia e do<br />

Verde-Amarelismo foi a primeira diversificação, em<br />

correntes, do Modernismo.<br />

( ) Logo após a Semana de que fala o texto, nas<br />

revistas do movimento (Klaxon e Estética) começaram-se<br />

a vislumbrar as primeiras tendências dos<br />

autores de então.<br />

( ) Oswald de Andrade e Raul Bopp pretenderam um<br />

retorno às raízes primitivas, autênticas e selvagens<br />

de nossa nacionalidade. Seu lema era Tupy or not<br />

Tupy, that is the question.<br />

( ) Menotti del Pichia e Plínio Salgado focalizaram as<br />

fontes nacionalistas, na valorização da raça, do<br />

sangue e dos heróis nacionais.<br />

( ) A Semana reuniu jovens modernistas numa exposição<br />

de arte literária, plástica, musical e de dança,<br />

mas não pode ser considerada como início oficial<br />

do Modernismo brasileiro.<br />

183. UFBA<br />

O Modernismo apresenta três momentos diversos,<br />

exemplificados nos textos A, B e C.<br />

Texto A<br />

“Um gatinho faz pipi.<br />

Com gestos de garçon de restaurant-Palace<br />

Encobre cuidadosamente a mijadinha.<br />

Sai vibrando com elegância a patinha direita:<br />

– É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.”<br />

Texto B<br />

“O inventor das máquinas que mudam a vida da terra<br />

trabalha na bruta sala de cimento armado.<br />

Tantos dínamos, êmbolos, cilindros mexem naquela<br />

cabeça<br />

que ele não escuta o barulho macio<br />

das almas penadas<br />

esbarrando no móveis.”<br />

Texto C<br />

“Na paisagem do rio<br />

difícil é saber<br />

onde começa o rio;<br />

onde a lama<br />

começa do rio;<br />

onde a terra<br />

começa da lama;<br />

onde o homem,<br />

onde a pele<br />

começa da lama;<br />

onde começa o homem<br />

naquele homem.”<br />

Há correspondência entre as características apresentadas<br />

e o texto indicado em:<br />

01. Cosmovisão e universalismo; linguagem conotativa<br />

sensorial. (Texto A)<br />

02. Atitude crítica frente ao capitalismo; atenção para<br />

os paradoxos do mundo. (Texto B)<br />

04. Preocupação com o destino do homem; apuro<br />

formal. (Texto C)<br />

08. Antiacademicismo; irreverência. (Texto A)<br />

16. Valorização do cotidiano; uso da descrição detalhada.<br />

(Texto B)<br />

32. Ironia; valorização do eu lírico. (Texto C)<br />

Some os números dos itens corretos<br />

184. Cesgranrio-RJ<br />

Cobra Norato<br />

Um dia<br />

eu hei de morar nas terras do Sem-fim<br />

Vou andando caminhando caminhando<br />

Me misturo no ventre do mato mordendo raízes<br />

Depois<br />

faço puçanga de flor de tajá de lagoa<br />

e mando chamar a Cobra Norato<br />

– Quero contar-te uma história<br />

Vamos passear naquelas ilhas decotadas?<br />

Faz de conta que há luar<br />

A noite chega mansinho<br />

Estrelas conversam em voz baixa<br />

Brinco então de amarrar uma fita no pescoço<br />

e estrangulo a Cobra.<br />

Agora sim<br />

me enfio nessa pele elástica<br />

e saio a correr o mundo<br />

Vou visitar a rainha Luzia<br />

Quero me casar com sua filha<br />

- Então tem que apagar os olhos primeiro<br />

O sono escorregou nas pálpebras pesadas<br />

Um chão de lama rouba a força dos meus pés<br />

Raul Bopp, Cobra Norato e outros poemas.<br />

Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1973, pp. 5-6<br />

Na minha terra, no bulir do mato,<br />

A juriti suspira:<br />

E como o arrulo dos gentis amores,<br />

São os meus cantos de secretas dores<br />

No chorar da lira.<br />

De tarde a pomba vem me gemer sentida<br />

À beira do caminho;<br />

– Talvez perdida na floresta ingente<br />

A triste geme nessa voz plangente<br />

Saudades do seu ninho.<br />

Trecho de Juriti, de Casimiro de Abreu.<br />

O Modernismo incorporou várias conquistas da poética<br />

romântica. Confrontando o poema de Raul Bopp ao de<br />

Casimiro de Abreu, assinale a opção em que o traço<br />

apontado não revela tal influência:<br />

a) Busca de fontes populares da cultura brasileira.<br />

b) Visão ingênua, próxima da ótica da infância.<br />

c) Realce dado à fantasia e às emoções.<br />

d) Individualismo exacerbado, com ênfase na primeira<br />

pessoa gramatical.<br />

e) Maior liberdade formal frente às normas da poética<br />

clássica.<br />

215


185. Unirio-RJ<br />

2ª- Ladainha<br />

(Fragmento)<br />

Por que o raciocínio,<br />

Os músculos, os ossos?<br />

A automação, ócio dourado,<br />

O cérebro eletrônico, o músculo<br />

Mecânico<br />

mais fáceis que um sorriso.<br />

Por que o coração?<br />

O de metal não tornará o homem<br />

Mais cordial,<br />

Dando-lhe um ritmo extracorporal?<br />

Cassiano Ricardo<br />

O texto, quanto ao sentido, só não:<br />

a) valoriza o sentimento em detrimento da mecanização.<br />

b) enfatiza a supremacia da máquina.<br />

c) questiona os valores no mundo moderno.<br />

d) critica a importância dada à máquina.<br />

e) ironiza a condição humana.<br />

186. UFF-RJ<br />

Assinale o fragmento que representa uma avaliação<br />

modernista de personagem literário romântico.<br />

a) O sangue português, em poderoso rio, deverá<br />

absorver os pequenos confluentes das raças índia<br />

e etiópica. (Carlos Frederico Ph. de Martius)<br />

b) Seria injusto, entretanto, considerar os índios como<br />

depravados; eles não têm nenhuma idéia moral<br />

dos direitos e dos deveres. (Rugendas)<br />

c) A piedade, a minguarem outros argumentos de maior<br />

valia, deverá ao menos inclinar a imaginação dos<br />

poetas para os povos que primeiro beberam os ares<br />

destas regiões, consorciando na literatura os que a<br />

fatalidade da história divorciou. (Machado de Assis)<br />

d) Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. O<br />

índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt.<br />

Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons<br />

sentimentos portugueses. (Oswald de Andrade)<br />

e) O protagonista, o mulato Raimundo, ignora a<br />

própria cor e a condição de filho de escrava: não<br />

consegue entender as reservas que lhe faz a alta<br />

sociedade de São Luís, a ele que voltara doutor<br />

da Europa. (Alfredo Bosi)<br />

187. Cesgranrio-RJ<br />

Ao longo da literatura brasileira, percebe-se, de forma<br />

recorrente, a tematização da paisagem/realidade<br />

local.<br />

Tendo em vista a produção literária do século XX, assinale<br />

a opção em que a tendência indicada para cada<br />

período apresentado a seguir não esteja correta.<br />

a) Na fase pré-modernista, no ínicio do século, uma<br />

literatura frívola, com atmosfera Belle Époque,<br />

convive com outra, voltada para problemas regionais.<br />

b) Na primeira fase do Modernismo, há o registro da<br />

vida das grandes cidades, com destaque para São<br />

Paulo, por influência do grupo paulista.<br />

216<br />

c) No período do Neo-Simbolismo de 1930, acentua-se<br />

a observação da realidade externa, em<br />

detrimento da interna.<br />

d) Nos anos 1940, o amadurecimento da renovação<br />

temática e a busca de naturalidade da linguagem<br />

ficcional dão nova feição ao regionalismo.<br />

e) Na década de 1970, nota-se uma pluralidade de<br />

tendências, indo desde a alegoria e o fantástico<br />

ao ultra-realismo e à literatura-verdade (romancereportagem,<br />

por exemplo).<br />

188. UFV-MG<br />

Fazendo um paralelo entre Romantismo e Modernismo,<br />

assinale a alternativa falsa.<br />

a) Autores românticos e modernistas expressam a<br />

realidade por meio dos sentimentos, enfatizando<br />

a idealização da natureza brasileira.<br />

b) Autores românticos como José de Alencar e alguns<br />

modernistas denominados verde-amarelistas,<br />

como Cassiano Ricardo, preocupados com a identidade<br />

cultural brasileira, procuram criar a imagem<br />

de uma raça brasileira heróica.<br />

c) Escritores românticos e modernistas demonstram<br />

consciência da necessidade de se criar uma literatura<br />

que traduzia a realidade brasileira.<br />

d) Escritores românticos e modernistas utilizam o<br />

indianismo como elemento definidor da nacionalidade<br />

brasileira.<br />

e) Românticos e modernistas reaproveitam lendas e<br />

mitos da cultura popular brasileiro.<br />

189. PUC-MG<br />

“Meu coração estrala...<br />

Que imagem sem verdade,<br />

... Porém não tive idéia de mentir...<br />

Foram os nervos, a alma?<br />

Que quer dizer estralo!<br />

Nem ao menos sou padre Vieira...<br />

Ôh dicionário pequitito!...“<br />

O texto anterior vincula-se ao estilo de época Modernismo<br />

porque:<br />

a) apresenta um eu-lírico sentimental.<br />

b) mostra despreocupação com a linguagem formal.<br />

c) discute aspectos revolucionários.<br />

d) convida o leitor a questionar-se.<br />

e) brinca com os sentimentos do leitor.<br />

190. UEL-PR<br />

Na primeira fase do Modernismo no Brasil:<br />

a) impuseram-se os nomes pioneiros de Monteiro<br />

Lobato, Euclides da Cunha e Coelho Neto.<br />

b) Firmou-se uma nova tendência do romance regionalista,<br />

com Graciliano Ramos e José Lins do Rego.<br />

c) propuseram-se idéias e obras revolucionárias,<br />

como Macunaíma e Memórias sentimentais de<br />

João Miramar.<br />

d) promoveu-se o surgimento de ficcionistas renovadores,<br />

mas em nada foi afetada a linguagem dos<br />

poetas.<br />

e) propicionou-se a renovação da literatura, não<br />

ocorrendo o mesmo com a música e a pintura.


PV2D-07-54<br />

191. UFSM-RS<br />

Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações<br />

obreiras, idealismo, motores, chaminé de<br />

fábricas, sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte!<br />

O trecho reflete características vanguardistas que<br />

foram reproduzidas por um período da literatura brasileira.<br />

Assinale a alternativa que associa corretamente<br />

o período e a vanguarda em questão.<br />

a) Parnasianismo – Expressionismo<br />

b) Simbolismo – Decadentismo<br />

c) Modernismo – Dadaísmo<br />

d) Modernismo – Futurismo<br />

e) Simbolismo – Surrealismo<br />

192. Unirio-RJ<br />

Em relação ao Modernismo, podemos afirmar que, em<br />

sua primeira fase, há:<br />

a) maior aproximação entre a língua falada e a escrita,<br />

valorizando-se literariamente o nível coloquial.<br />

b) pouca atenção ao valor estético da linguagem,<br />

privilegiando o desenvolvimento da pesquisa<br />

formal.<br />

c) grande liberdade de criação, mas expressão pobre.<br />

d) reconquista do verso livre.<br />

e) ausência de inspiração nacionalista.<br />

193. Unitau-SP<br />

O Romantismo está para o Modernismo, assim<br />

como:<br />

a) Senhora está para A Carne.<br />

b) Inocência está para A escrava Isaura.<br />

c) Inocência está para Macunaíma.<br />

d) A Moreninha está para O Cortiço.<br />

e) Quincas Borba está para Macunaíma.<br />

194. ITA-SP<br />

Não há temas poéticos. Não há épocas poéticas. O que<br />

realmente existe é o subconsciente enviando à inteligência<br />

telegramas e mais telegramas (...) A inspiração<br />

parece um telegrama cifrado, que a atividade inconsciente<br />

envia à atividade consciente, que o traduz.<br />

Esse trecho, de importante ensaio de _______, revela<br />

nítida semelhança com as propostas de um dos movimentos<br />

de vanguarda europeu, ________.<br />

a) Oswald de Andrade – o futurismo<br />

b) Graça Aranha – o cubismo<br />

c) Haroldo de Campos – o concretismo<br />

d) Mário de Andrade – o surrealismo<br />

e) Décio Pignatari – a poesia Práxis<br />

195. Mackenzie-SP<br />

I. “Está fundado o desvairismo.“<br />

II. “Tupi or not Tupi, that is the question.“<br />

III. “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.“<br />

Os períodos acima expressam idéias próprias da<br />

primeira geração modernista.<br />

Seus autores são, respectivamente:<br />

a) Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Mário de<br />

Andrade.<br />

b) Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Cassiano<br />

Ricardo.<br />

c) Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel<br />

Bandeira.<br />

d) Raul Bopp, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.<br />

e) Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Mário de<br />

Andrade.<br />

196. Mackenzie-SP<br />

I. Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou<br />

apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela,<br />

embalado pelos prazeres; no cárcere, como no<br />

palácio; na paz, como sobre o campo da batalha,<br />

se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecerse<br />

de sua missão, e acha sempre o segredo de<br />

encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração,<br />

e elevar o pensamento nasasas da harmonia até<br />

as idéias arquétipas.<br />

II. Por isso, corre, por servir-me,<br />

Sobre o papel<br />

A pena, como em prata firme<br />

Corre o cinzel.<br />

Corre; desenha, enfeita a imagem,<br />

A idéia veste:<br />

Cinge-lhe o corpo a ampla roupagem<br />

Azul-Celeste<br />

Torce, aprimora, alteia, lima<br />

A frase; e, enfim,<br />

No verso de ouro engasta a rima,<br />

Como um rubim.<br />

III. Estou farto do lirismo comedido<br />

Do lirismo bem comportado<br />

Do lirismo funcionário público com livro de ponto<br />

expediente protocolo e manifestações de apreço<br />

ao Sr. diretor.<br />

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no<br />

dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.<br />

Os trechos anteriores expõem idéias defendidas por<br />

diferentes movimentos literários. Aponte a alternativa<br />

em que aparecem, respectivamente, os nomes dos<br />

mesmos.<br />

a) Arcadismo – Parnasianismo – Romantismo<br />

b) Romantismo – Parnasianismo – Modernismo<br />

c) Barroco - Romantismo – Parnasianismo<br />

d) Romantismo – Arcadismo – Modernismo<br />

e) Parnasianismo – Barroco – Romantismo<br />

197. Mackenzie-SP<br />

No início do século XX, várias tendências estéticas<br />

surgiram na Europa e influenciaram o Modernismo<br />

brasileiro.<br />

Não faz parte delas o:<br />

a) dadaísmo. d) cubismo.<br />

b) expressionismo. e) determinismo.<br />

c) futurismo.<br />

217


198. Mackenzie-SP<br />

I. Minha terra tem palmares,<br />

Onde gorjeia o mar<br />

Os passarinhos daqui<br />

Não cantam como os de lá.<br />

II. Quando o português chegou<br />

Debaixo duma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português<br />

III. Não bebo pinga<br />

Não bebo nada<br />

Bebo sereno da noite<br />

Orvaio da madrugada!<br />

Sobre os três trechos, afirma-se que pertencem a um<br />

mesmo poeta brasileiro:<br />

a) da primeira geração modernista, que denuncia<br />

satiricamente mazelas brasileiras.<br />

b) que brinca com experimentos lingüísticos e é<br />

receptivo às vanguardas européias.<br />

c) que utiliza uma língua coloquial solta, com objetivos<br />

satíricos.<br />

d) que subverte a ideologia da seriedade, como está<br />

demonstrado desde a paródia do texto I.<br />

e) autor do Manifesto Antropófago, cuja frase – Contra<br />

as elites vegetais. Em comunicação com o solo<br />

– contradiz os valores veiculados por esses mesmos<br />

textos.<br />

199. UEL-PR<br />

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei<br />

do Antropófago.<br />

O fragmento acima é um dos muitos que compõem um<br />

importante manifesto modernista, no qual:<br />

a) Oswald de Andrade proclama a supremacia criativa<br />

do nosso primitivismo sobre a cultura européia.<br />

b) Monteiro Lobato reage violentamente contra uma<br />

exposição de quadros de Anita Malfatti.<br />

c) Mário de Andrade busca definir aspectos técnicos<br />

da nova estética.<br />

d) Cassiano Ricardo assinala sua adesão ao nacionalismo<br />

de características ufanistas.<br />

e) Manuel Bandeira abandona o estilo neo-simbolista<br />

e proclama seu lirismo coloquial.<br />

200. UFV-MG<br />

O Modernismo brasileiro eclodiu com a Semana de<br />

Arte Moderna, em 1922. Sobre o movimento, somente<br />

podemos afirmar que:<br />

a) os artistas brasileiros queriam formalizar uma<br />

grande manifestação para consagrar os ideais<br />

clássicos, expressos através do Parnasianismo.<br />

b) a intelectualidade brasileira, de fato, já estava<br />

tomando rumos diversos daqueles presentes no<br />

século XIX, porém a tendência da poesia era a de<br />

permanecer melancólica e saudosista.<br />

218<br />

c) seria um acontecimento de cunho eminentemente<br />

nacionalista, sem nenhuma ligação com tendências<br />

ou movimentos que não fossem integralmente<br />

gerados no Brasil.<br />

d) a Semana ratificaria as premissas do direito à pesquisa<br />

estética, disseminada em tantas expressões<br />

(literatura, música, pintura, escultura) quantas<br />

fossem as dos participantes do movimento.<br />

e) teria como figuras de proa os nomes de Victor<br />

Brecheret, Anita Malfatti, Oswald de Andrade e<br />

Rui Barbosa.<br />

201. UFRGS-RS<br />

Assinale a alternativa incorreta.<br />

a) Oswald de Andrade, autor do Manifesto Antropófago,<br />

de 1928, compôs também o Manifesto da<br />

Poesia Pau-Brasil, que discute concepções sobre a<br />

linguagem poética, a modernização e a cor local.<br />

b) Mário de Andrade dedicou-se à renovação da ficção<br />

e da poesia, escrevendo também manifestos,<br />

prefácios e livros sobre o Brasil, a respeito dos<br />

mais variados assuntos.<br />

c) As propostas do Modernismo, receptivas às diferentes<br />

linguagens artísticas, pretenderam discutir<br />

os padrões estéticos e culturais brasileiros.<br />

d) O Modernismo, embora aberto à linguagem<br />

coloquial, não se opôs aos padrões poéticos e<br />

narrativos já consagrados desde o Romantismo.<br />

e) Os poetas das diferentes tendências do Modernismo<br />

contribuíram para a inovação formal e<br />

temática da poesia brasileira, que posteriormente<br />

se aproximou da canção popular.<br />

202. Vunesp<br />

Quais destes fragmentos resumem propostas do Modernismo<br />

brasileiro?<br />

I. “A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e<br />

neológica. A contribuição milionária de todos os<br />

erros. Como somos.”<br />

II. “Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria,<br />

afilhado de Catarina de Médicis e genro de D.<br />

Antônio de Mariz.”<br />

III. “A pena é um pincel.”<br />

“Eu limo sonetos engenhosos e frios”.<br />

IV. “Nomear um objeto significa suprimir as três quartas<br />

partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer<br />

de adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.”<br />

V. “A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão<br />

e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino,<br />

são fatos estéticos.”<br />

a) I, III e IV. d) I, II e V.<br />

b) II, III e IV. e) II, IV e V.<br />

c) I, II e III.<br />

203. Vunesp<br />

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.<br />

Filosoficamente.<br />

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos<br />

os individualismos, de todos os coletivismos. De todas<br />

as religiões. De todos os tratados de paz.<br />

Tupi, or not tupi, that is the question.<br />

Fragmento do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade


PV2D-07-54<br />

Analisando as idéias contidas nesses fragmentos,<br />

assinale a única alternativa que julgar incorreta.<br />

a) O Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade<br />

articula-se ao movimento antropófago do Modernismo<br />

brasileiro, cuja expressão máxima se deu<br />

em Macunaíma, de Mário de Andrade.<br />

b) Em Tupi or not tupi, that is the question, está implícita<br />

a crítica ao espírito de nacionalidade, falseado<br />

pelo estrangeirismo exacerbado entre nós, até os<br />

adventos do Modernismo.<br />

c) Ainda nos fragmentos citados, deve-se entender<br />

não a aversão à cultura européia, mas a dialética<br />

de conjunção das raízes nacionais à cultura européia.<br />

d) A leitura dos três fragmentos acaba por desvendar<br />

a crítica à cultura brasileira, que não estaria muito<br />

distante do primitivismo antropofágico.<br />

e) O Manifesto Antropófago propõe a mobilidade<br />

cultural advinda da mobilidade do pensamento e<br />

dos valores do homem em sociedade.<br />

204. UFG-GO<br />

Nos contos “Vestida de preto”, “O peru de natal”;<br />

“Frederico Paciência” e “Tempo da camisolinha”, do<br />

livro Contos novos, de Mário de Andrade, o aspecto<br />

nuclear que os aproxima é:<br />

a) o recurso à introspecção.<br />

b) a temática da religiosidade.<br />

c) o tempo da vida escolar.<br />

d) a ação de ritmo linear.<br />

e) o apelo à evasão.<br />

205. Udesc<br />

Leia atentamente os textos a seguir.<br />

I. Quando será que tantas almas duras<br />

Em tudo, já libertas, já lavadas<br />

Nas águas imortais, iluminadas<br />

Do sol do amor, hão de ficar bem puras?<br />

Quando será que as límpidas frescuras<br />

Dos claros rios de ondas estreladas<br />

Dos céus do bem, hão de deixar clareadas<br />

Almas vis, almas vãs, almas escuras?<br />

Cruz e Souza. Poesias Completas. São Paulo: Ediouro, s/d, p. 93.<br />

II. Não acredito em bicho maligno mas besouro,<br />

não sei não. Olhe o que sucedeu com a Rosa...<br />

Dezoito anos. E não sabia que os tinha. Ninguém<br />

reparara nisso. Nem dona Carlotinha, nem dona<br />

Ana, entretanto já velhuscas e solteironas, ambas<br />

quarenta e muito. Rosa viera pra companhia delas<br />

aos sete anos quando lhe morreu a mãe. Morreu<br />

ou deu a filha que é a mesma coisa que morrer.<br />

Os melhores contos de Mário de Andrade. São Paulo: Global, 1988<br />

Em relação aos fragmentos apresentados, assinale<br />

com V as proposições verdadeiras e com F as falsas.<br />

( ) Por suas características estilísticas, os versos de<br />

Cruz e Sousa pertencem ao Simbolismo e o texto<br />

de Mário de Andrade, ao Modernismo.<br />

( ) O Simbolismo brasileiro apresenta conteúdo<br />

carregado de mistério, misticismo, sonoridade e<br />

espiritualidade.<br />

( ) No Simbolismo, o lirismo é altamente objetivo,<br />

apresentando cunho político-social.<br />

( ) Os textos do Modernismo apresentam, além de linguagem<br />

cotidiana e dinâmica, frases despojadas.<br />

A alternativa que apresenta a seqüência correta, de cima<br />

para baixo, é:<br />

a) V, F, F, V d) F, F, V, V<br />

b) V, V, F, F e) V, F, V, V<br />

c) V, V, F, V<br />

206. Vunesp<br />

Relâmpago<br />

O onça pintada saltou tronco acima que nem um<br />

relâmpago de rabo comprido e cabeça amarela:<br />

Zás!<br />

Mas sua flecha ainda mais rápida que o relâmpago<br />

fez rolar ali mesmo<br />

aquele matinal gatão elétrico e bigodudo<br />

que ficou estendido no chão feito um fruto de cor<br />

que tivesse caído de uma árvore!<br />

in RICARDO, Cassiano. Martim Cererê, 6ª ed.<br />

São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1938.<br />

O livro Martim Cererê (1928) é um dos mais representativos<br />

da fase nacionalista, verdeamarelista,<br />

de Cassiano Ricardo. Em cada poema dessa obra<br />

encontramos, explícita ou implicitamente, a presença<br />

de temas e formas populares, bem como alusões a<br />

fatos da nacionalidade.<br />

Com base na leitura de Relâmpago, aponte:<br />

a) a presença implícita de um elemento básico na<br />

formação étnica brasileira;<br />

b) dois vocábulos ou expressões que retratem o falar<br />

cotidiano brasileiro.<br />

207. Vunesp<br />

Com base no poema Relâmpago, da questão anterior,<br />

aponte duas características da literatura modernista<br />

brasileira.<br />

208. Unicamp-SP<br />

Doze anos<br />

Ai, que saudade que eu tenho<br />

Dos meus doze anos<br />

Que saudade ingrata<br />

Dar banda por aí<br />

Fazendo grandes planos<br />

E chutando lata<br />

Trocando figurinha<br />

Matando passarinho<br />

Colecionando minhoca<br />

Jogando muito botão<br />

Rodopiando pião<br />

Fazendo troca-troca<br />

Ai, que saudades que eu tenho<br />

Duma travessura<br />

O futebol de rua<br />

Sair pulando muro<br />

Olhando fechadura<br />

E vendo mulher nua<br />

Comendo fruta do pé<br />

Chico Buarque<br />

219


Chupando picolé<br />

Pé-de-moleque, paçoca<br />

E disputando troféu<br />

Guerra de pipa no céu<br />

Concurso de piroca<br />

a) Doze anos, de Chico Buarque de Hollanda, dialoga<br />

com outra poesia, muito conhecida, que desde há<br />

muito faz parte da memória nacional. Que poesia<br />

é essa e quem é seu autor?<br />

b) Pelos recursos formais utilizados e pelas situações<br />

evocadas, Doze anos pode ser enquadrado na<br />

estética inaugurada pelo Modernismo. Aponte,<br />

no texto, pelo menos duas dessas características<br />

formais e duas dessas situações.<br />

c) Transcreva e explique um par de versos que sintetize<br />

as contradições da adolescência.<br />

Texto para as questões 209 e 2<strong>10</strong>.<br />

Sala de espera<br />

(Ah, os rostos sentados<br />

numa sala de espera.<br />

Um Diário Oficial sobre a mesa.<br />

Uma jarra com flores.<br />

A xícara de café, que o contínuo<br />

vem, amável, servir aos que esperam a audiência<br />

marcada.<br />

Os retratos em cor, na parede,<br />

dos homens ilustres<br />

que exerceram, já em remotas épocas,<br />

o manso ofício<br />

de fazer esperar com esperança.<br />

E uma resposta, que será sempre a mesma: só<br />

amanhã.<br />

E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre<br />

adiados<br />

e sentados<br />

numa sala de espera.)<br />

Mas eu prefiro é a rua.<br />

A rua em seu sentido usual de “lá fora”.<br />

Em seu oceano que é ter bocas e pés<br />

para exigir e para caminhar.<br />

A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo.<br />

Rua do homem como deve ser:<br />

transeunte, republicano, universal.<br />

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros<br />

do que de si mesmo.<br />

Rua da procissão, do comício,<br />

do desastre, do enterro.<br />

Rua da reivindicação social, onde mora<br />

o Acontecimento.<br />

A rua! uma aula de esperança ao ar livre.<br />

RICARDO, Cassiano. Antologia poética.<br />

Rio de Janeiro: Editora do Autor,1964<br />

209. UERJ<br />

Sentados<br />

Numa sala de espera.<br />

O emprego repetido dessa cena no início e no término<br />

da caracterização da sala de espera contribui para a<br />

construção do sentido do texto porque:<br />

a) reforça a idéia de confinamento oposta à liberdade<br />

da rua.<br />

220<br />

b) confirma uma alternância entre o espaço individual<br />

e o coletivo.<br />

c) sugere atitudes banais reproduzidas em diversos<br />

espaços públicos.<br />

d) expressa uma perspectiva de mudança ligada ao<br />

movimento social.<br />

2<strong>10</strong>. UERJ<br />

O poema é divisível em dois segmentos cujos temas<br />

são a sala e a rua.<br />

Considerando o sentido geral do texto, o contraste<br />

entre esses ambientes é definido por:<br />

a) elite x povo<br />

b) ordem x caos<br />

c) passado x futuro<br />

d) passividade x participação<br />

211. UFAM<br />

Um dos principais nomes do Modernismo brasileiro,<br />

Mário de Andrade estreou em poesia em 1917, com um<br />

livro de feição tradicional intitulado _____________.<br />

Porém, em 1922, no ano mesmo da Semana de Arte<br />

Moderna, deu um grande salto qualitativo com os<br />

versos de _____________, livro que causou grande<br />

impacto sobre seus contemporâneos.<br />

a) Lira paulistana – Paulicéia desvairada<br />

b) Remate de males – Lira paulistana<br />

c) Há uma gota de sangue em cada poema – Paulicéia<br />

desvairada<br />

d) Remate de males – Paulicéia desvairada<br />

e) Há uma gota de sangue em cada poema – Lira<br />

paulistana<br />

212. UFS-SE<br />

De Mário de Andrade pode-se dizer que:<br />

a) escreveu, além de poesia, ficção e ensaio, várias<br />

peças de teatro.<br />

b) é autor de Memórias sentimentais de João Miramar,<br />

eloqüente realização de seu talento de<br />

prosador.<br />

c) se interessou pela poesia concretista, da qual foi<br />

um dos principais representantes.<br />

d) soube conjugar uma vida de intensa criação literária<br />

com o estudo apaixonado da música.<br />

e) usou na sua obra em geral a simbologia da mensagem<br />

bíblica.<br />

213. Fatec-SP<br />

A respeito de Mário de Andrade, é correto afirmar-se que:<br />

a) foi um dos principais representantes da primeira fase<br />

do Modernismo, conhecida como fase heróica, nos<br />

anos 1940, mas sua produção supera essas primeiras<br />

tendências que atacam o academicismo.<br />

b) uma de suas mais marcantes preocupações estilísticas<br />

consiste em transpor, para o literário, o ritmo,<br />

o léxico e a síntese coloquiais, o que é possível<br />

observar em obras como Os contos de Belazarte<br />

e Macunaíma, por exemplo.<br />

c) sua obra, marcadamente poética, apresenta também<br />

crônicas, como se observa em Flor nacional, mas ressente-se<br />

da ausência de uma produção contística.


PV2D-07-54<br />

d) Macunaíma – O herói sem nenhum caráter é a<br />

sua obra mais conhecida e nela se evidencia uma<br />

temática que não reaparece no conjunto de sua<br />

produção: a busca da identidade nacional.<br />

e) de Paulicéia desvairada a Amar, verbo intransitivo,<br />

suas obras poéticas consideradas maduras, é<br />

possível localizar uma preocupação temática que<br />

se mantém: o poeta que afirma despedaçamento,<br />

como se verifica em seu verso: Eu sou trezentos.<br />

214. Mackenzie-SP<br />

Assinale a afirmação correta sobre Mário de Andrade.<br />

a) Inovou a poesia brasileira, buscando uma expressão<br />

objetiva para a idealização do passado nacional.<br />

b) Influenciado pelos futuristas, fragmentou o verso<br />

com o uso de frases nominais, evitando o uso de<br />

qualquer recurso poético tradicional.<br />

c) Em consonância com ideais modernistas, seu<br />

repertório temático contemplou, em especial, a<br />

questão da identidade nacional.<br />

d) Apesar de assumidamente modernista, não conseguiu<br />

superar a tendência à subjetividade, de forte<br />

tradição parnasiana.<br />

e) Avesso ao uso de neologismos e construções inusitadas,<br />

rejeitou as inovações da vanguarda européia.<br />

215. UEL-PR<br />

Diz Mário de Andrade: Geralmente os poetas modernistas<br />

escrevem poemas curtos.<br />

Isso se deve ao fato de que o poema curto, para os<br />

modernistas, é:<br />

a) decorrente da depressão que domina o poeta<br />

moderno, por força das realidades hostis que vive<br />

e que lhe roubam a faculdade de expressão.<br />

b) conseqüência de uma época caótica, fragmentária,<br />

sobre cujo estado de coisas nada há para ser feito.<br />

c) originária da confessada falta de inspiração e mesmo<br />

da má vontade dos modernistas da primeira<br />

geração em face da poesia.<br />

d) uma forma deliberada de ironizar os longos textos<br />

poéticos, que se tornaram moda literária a partir<br />

do Romantismo.<br />

e) resultado inevitável da época: decorrente da própria<br />

velocidade da vida moderna.<br />

Texto para as questões 216 e 217.<br />

O trovador<br />

Sentimentos em mim do asperamente<br />

dos homens das primeiras eras...<br />

As primaveras de sarcasmo<br />

intermitentemente no meu coração<br />

[arlequinal ...<br />

Intermitentemente ...<br />

Outras vezes é um doente, um frio<br />

na minha alma doente como um longo som<br />

[redondo ...<br />

Cantabona! Cantabona!<br />

Dlorom ...<br />

Sou um tupi tangendo um alaúde!<br />

Mário de Andrade<br />

Obs. – alaúde: instrumento de cordas, com larga<br />

difusão na Europa, da Idade Média ao Barroco.<br />

216. Mackenzie-SP<br />

Assinale a afirmativa correta.<br />

a) Ao revelar seus sentimentos nos dois primeiros<br />

versos, o eu lírico identifica-se com os trovadores<br />

medievais.<br />

b) Na segunda estrofe, o eu lírico manifesta seu modo<br />

de ser sarcástico.<br />

c) O eu lírico critica o temperamento do homem<br />

brasileiro, caracterizando-o como primitivo.<br />

d) Identificando-se com um tupi, o eu lírico condena<br />

a miscigenação que caracterizou a formação do<br />

povo brasileiro.<br />

e) A imagem do último verso comprova o modo de<br />

ser contraditório do eu lírico.<br />

217. Mackenzie-SP<br />

Assinale a afirmativa correta.<br />

a) A linguagem inovadora dos versos, utilizada para<br />

a expressão de temática bucólica, produz efeito<br />

irônico.<br />

b) Trata-se de um texto lírico, composto de acordo<br />

com os padrões estéticos regulares que sempre<br />

caracterizaram a poesia brasileira.<br />

c) Com seu tom confessional e emotivo, o texto exemplifica<br />

o lirismo romântico de temática indianista.<br />

d) Sua linguagem prosaica e coloquial recupera a eloqüência<br />

típica dos poemas de temática ufanista.<br />

e) O poema, composto de versos livres e brancos,<br />

explora recursos de efeito musical, como aliteração<br />

e assonância.<br />

Texto para as questões 218 e 219.<br />

Duas horas da manhã. Vejo esta cena.<br />

No leito grande, entre bordados, dormem marido<br />

e mulher. As brisas nobres de Higienópolis entram<br />

pelas venezianas, servilmente aplacando os calores<br />

de verão.<br />

Dona Laura, livre o colo das colchas, ressona boca<br />

aberta, apoiando a cabeça no braço erguido. Braço<br />

largo, achatado, nu. A trança negra flui pelas barrancas<br />

moles do travesseiro, cascateia no álveo dos lençóis.<br />

Concavamente recurvada, a esposa toda se apoia<br />

no esposo dos pés ao braço erguido. Sousa Costa<br />

completamente oculto pelas cobertas, enrodilhado, se<br />

aninha na concavidade feita pelo corpo da mulher, e<br />

ronca. O ronco inda acentuar a paz compacta.<br />

Estes dois seres tão unidos, tão apoiados um no outro,<br />

tão Báucis e Filamão, creio que são felizes. Perfeitamente.<br />

Não tem raciocínio que invalide a minha firme<br />

crença na felicidade destes dois cidadãos da república.<br />

Aristóteles ... me parece que na Política afirma serem<br />

felizes os homens pela quantidade de razão e virtude<br />

possuídas e na medida em que, por estas, regram a<br />

norma do viver ... Estes cônjugues são virtuosos e<br />

justos. Perfeitamente. Sousa Costa se mexe. Tira um<br />

pouco, pra fora das cobertas, algumas ramagens do<br />

bigode. Apoia melhor a cara no sovaco gorducho da<br />

esposa. Dona Laura suspira. Se agita um pouco. E se<br />

apoia inda mais no honrado esposo e senhor. Pouco a<br />

pouco Sousa Costa recomeça a roncar. O ronco inda<br />

acentua a paz compacta. Perfeitamente.<br />

Mário de Andrade. Amar, verbo intransitivo. São Paulo, Ática, p. 83.<br />

221


218. UnB-DF<br />

Na questão a seguir assinale os números dos itens<br />

corretos.<br />

A partir da leitura compreensiva do texto ou contextos,<br />

julgue os itens seguintes .<br />

1. Na circunstância descrita nesse fragmento de<br />

Amar, verbo intransitivo, as eventuais divergências<br />

comportamentais, políticas e ideológicas individuais<br />

são anuladas.<br />

2. Uma das características desse texto é o erotismo.<br />

3. Evidencia-se, ao longo do texto, o tratamento<br />

igualitário atribuido por Mário de Andrade tanto<br />

ao homem quanto à mulher: os dois são vistos de<br />

forma simultaneamente lírica e jocosa.<br />

4. Considerando o seguinte fragmento de Mulheres<br />

de Atenas, de Chico Buarque, é correto afirmar que<br />

Mário de Andrade e Chico Buarque compartiham<br />

da mesma ideologia, no que se refere às relações<br />

conjugais.<br />

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de<br />

Atenas:<br />

Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de<br />

Atenas<br />

Elas não têm gosto ou vontade<br />

Nem defeito nem qualidade Têm medo apenas<br />

Não têm sonhos, só têm presságios<br />

O seu homem, mares, naufrágios<br />

Lindas sirenas<br />

Morenas<br />

(...)<br />

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de<br />

Atenas<br />

Secam por seus maridos, orgulho e raça de<br />

Atenas<br />

219. UnB-DF<br />

Acerca da periodização literária, e a partir da estrutura<br />

discursiva do texto, julgue os itens a seguir.<br />

1. Mário de Andrade, assim como Guimarães Rosa,<br />

pertence à primeira fase do Modernismo brasileiro.<br />

2. Em nenhuma passagem do texto, há a presença<br />

de comentários pessoais do narrador.<br />

3. Os pontos de vista usado no texto é do narrador<br />

onisciente.<br />

4. Em “Aristóteles ... me parece que na Política afirma<br />

serem felizes os homens pela quantidade de razão<br />

e virtude possuídas e na medida em que, por estas,<br />

regras a norma do viver ...”, tem-se um exemplo<br />

de discurso indireto<br />

220. PUC-PR<br />

Mário de Andrade é considerado o mestre dos escritores<br />

modernistas por sua atuação crítica e pela<br />

variedade de gêneros textuais que escreveu e que se<br />

transformaram em exemplos da escrita literária desse<br />

período estético.<br />

Assinale a alternativa que contém a afirmação correta<br />

sobre sua obra:<br />

222<br />

a) Macunaína é uma colagem de mitos amazônicos<br />

e narrativas urbanas, e estilos narrativos diversificados.<br />

b) Amar verbo intransitivo é o mais completo exemplo<br />

da prosa sentimental modernista, exaltada e<br />

idealizadora.<br />

c) Paulicéia desvairada é obra patriótica, de forte<br />

cunho nacionalista e uma concepção irracionalista<br />

da existência.<br />

d) Contos Novos é uma coletânea de narrativas que<br />

combinam a narrativa enraizadamente colonial e<br />

a vanguarda européia e experimental.<br />

e) Sua obra de crítica literária, representada por<br />

O empalhador de passarinho, tem forte origem<br />

teórica européia, sobretudo a italiana.<br />

221. ENEM<br />

Precisa-se nacionais sem nacionalismo, (...)<br />

movidos pelo presente, mas estalando naquele cio<br />

racial que só as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no sentimento, bastante<br />

força na peitaria, bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito<br />

no anúncio vistoso de cores desesperadas pintado<br />

sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas.”<br />

Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES,<br />

Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e caminhos.<br />

São Paulo: Duas Cidades, 1972<br />

No trecho anterior, Mário de Andrade dá forma a um<br />

dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a<br />

feição de uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem popular<br />

identificada pela (o):<br />

a) escolha de palavras como cio, peitaria, vergonha.<br />

b) emprego da pontuação.<br />

c) repetição do adjetivo bastante.<br />

d) concordância empregada em assim está escrito.<br />

e) escolha de construção do tipo precisa-se gentes.<br />

222. FEI-SP<br />

Assinalar a alternativa que preenche corretamente as<br />

lacunas do seguinte fragmento:<br />

“Com _____, romance publicado em _____, _____,<br />

aprofunda suas intenções reformadoras, e apresenta<br />

para a literatura um romance absoluto e frio. O intuito<br />

é analisar o sistema familiar burguês, enraizado em<br />

preconceitos morais e conveções sociais.”<br />

a) Amar, Verbo Intransitivo – 1927 – Mário de Andrade<br />

b) Serafim Ponte Grande – 1933 – Oswald de Andrade<br />

c) Menino de Engenho – 1930 – José Lins do Rego<br />

d) Clarissa – 1930 – Érico Veríssimo<br />

e) Caetés – 1933 – Graciliano Ramos<br />

223. Fuvest-SP<br />

I. A manobra psicológica do narrador protagonista<br />

mostra que as lembranças obsessivas perdem a<br />

força, quando o seu culto as eleva a uma respeitosa<br />

distância.<br />

II. A paisagem paulistana é percorrida pelo olhar<br />

ingênuo de quem busca reconhecimento e esbarra<br />

no oficialismo autoritário.


PV2D-07-54<br />

As afirmações I e II referem-se, respectivamente,<br />

aos seguintes contos de Mário de Andrade (Contos<br />

novos):<br />

a) Vestida de Preto e Primeiro de maio<br />

b) Peru de natal e Frederico Paciência<br />

c) O ladrão e Frederico Paciência<br />

d) Peru de natal e Primeiro de maio<br />

e) Vestida de preto e O ladrão<br />

224. Fuvest-SP<br />

Se em ambos os contos a dominação social é tema de<br />

primeiro plano, cabe, no entanto, fazer uma distinção:<br />

em um deles, ela é direta, e aparece sob a forma do<br />

capricho e do arbítrio patronais; já em outro, ela é mais<br />

moderna - torna-se indireta e anônima.<br />

A distinção realizada nesta afirmação refere-se,<br />

respectivamente, aos seguintes contos de Mário de<br />

Andrade (Contos novos):<br />

a) Nelson e O poço.<br />

b) O ladrão e O poço.<br />

c) O ladrão e Nelson.<br />

d) O poço e Primeiro de maio.<br />

e) Primeiro de maio e O ladrão.<br />

225. Mackenzie-SP<br />

Moça linda bem tratada,<br />

Três séculos de família,<br />

Burra como uma porta:<br />

Um amor<br />

Grã-fino do despudor,<br />

Esporte, ignorância e sexo,<br />

Burro como uma porta:<br />

Um coió<br />

Mulher gordaça, filó<br />

De ouro por todos os poros<br />

Burra como uma porta:<br />

Paciência<br />

Plutocrata sem consiência,<br />

Nada porta, terremoto<br />

Que a porta do pobre arromba:<br />

Uma bomba!<br />

O texto acima é claramente representativo:<br />

a) das tendências contemporâneas modernistas.<br />

b) da primeira geração modernista.<br />

c) da segunda geração modernista.<br />

d) do parnasianismo.<br />

e) do dadaísmo.<br />

226. Mackenzie-SP<br />

E vivemos uns oito anos, até perto de 1930, na maior orgia<br />

intelectual que a história artística do país registra.<br />

Mário de Andrade<br />

Assinale a alternativa na qual aparece um fato cultural<br />

que não se encaixa no período mencionado acima.<br />

a) A exposição de trabalhos de Anita Malfatti, criticada<br />

por Monteiro Lobato.<br />

b) O Manifesto Pau-Brasil.<br />

c) As duas “dentições” da Revista de antropofagia.<br />

d) O Verde-Amarelismo.<br />

e) A revista klaxon.<br />

227. PUCCamp-SP<br />

As afirmações a seguir são do escritor Mário de Andrade,<br />

e referem-se a obras suas:<br />

I. Evidentemente não tenho a pretensão de que meu<br />

livro sirva para estudos científicos e folclore. Fantasiei<br />

quando queria e sobretudo quando carecia para que<br />

a invenção permanecesse arte e não documentação<br />

seca de estudo. Basta ver a macumba carioca desgeograficada<br />

com cuidado, com elementos dos candomblés<br />

baianos e das pangelanças paraenses.<br />

II. Carlos carece de espelho e tem vergonha de se<br />

olhar nele, falo eu no meu jogo de imagens, depois<br />

qualquer ação desonesta. Por isso se conversa<br />

honesto para poder olhar no espelho. A honestidade<br />

dele é uma secreção biológica. Pentear sem<br />

espelho na frente faz o repartido sair torto e isso<br />

deixa os cabelos doendo. Na própria página em que<br />

“inventei” o crescimento de Carlos, inculco visivelmente<br />

que ele vai ser honesto na vida por causa<br />

das reações fisiológicas. Porém não me conservei<br />

apenas nesse naturalismo que repudio, não.<br />

III. Estou na segunda parte, já escrevi 50 páginas e<br />

ainda não escrevi a primeira cena na parte que<br />

é Chico Antônio na fazenda acalmando os bois<br />

irritados com a morte dum novilho. A não ser algumas<br />

análises psicológicas mais fundas, o resto<br />

é descrição da realidade tal como é, só pra que a<br />

realidade atual fique descrita e se grave.<br />

Mário de Andrade fala de Amar, verbo intransitivo:<br />

a) em I, II e III.<br />

b) apenas em II e III.<br />

c) apenas em I e II.<br />

d) apenas em II.<br />

e) apenas em I.<br />

228. UFRJ<br />

De manhã<br />

O hábito de estar aqui agora<br />

aos poucos substitui a compulsão<br />

de ser o tempo todo alguém ou algo.<br />

Um belo dia – por algum motivo<br />

é sempre dia claro nesses casos –<br />

você abre a janela, ou abre um pote<br />

de pêssegos em calda, ou mesmo um livro<br />

que nunca há de ser lido até o fim<br />

e então a idéia irrompe, clara e nítida:<br />

É necessário? Não. Será possível?<br />

De modo algum. Ao menos dá prazer?<br />

Será prazer essa exigência cega<br />

a latejar na mente o tempo todo?<br />

Então por quê?<br />

E neste exato instante<br />

você por fim entende, e refestela-se<br />

a valer nessa poltrona, a mais cômoda<br />

da casa, e pensa sem rancor:<br />

Perdi o dia, mas ganhei o mundo.<br />

(Mesmo que seja por trinta segundos.)<br />

BRITO, Paulo Henriques. As três epifanias – III. In: BRITO, P.<br />

H.Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 72-73<br />

223


As conquistas do Modernismo repercutem na literatura<br />

até os dias atuais. Identifique dois recursos formais<br />

valorizados pela linguagem modernista e associe-os<br />

à experiência representada no texto anterior.<br />

229. UEL-PR<br />

Considere as seguintes afirmações sobre a produção<br />

literária de Mário de Andrade:<br />

I. Na década de 1920, marco de sua ficção está<br />

nessa “rapsódia” em que busca demostrar não<br />

o “caráter do homem brasileiro”, mas o aspecto<br />

pluralista de nossa cultura, representada pelo mais<br />

estranho dos “heróis”.<br />

II. Sua poesia chegou a servir, de certo modo, como<br />

exemplificação de seus ideais estéticos: veja-se a<br />

íntima relação entre o Prefácio interessantíssimo<br />

e os poemas de Paulicéia desvairada.<br />

III. É enorme o interesse pela cultura popular, e não<br />

apenas pelas manifestações artísticas desta: é na<br />

linguagem das ruas que vai buscar as bases de<br />

uma verdadeira “gramática brasileira”.<br />

Está correto o que vem afirmado em<br />

a) I, apenas. d) II e III apenas.<br />

b) I e II apenas. e) I, II e III.<br />

c) I e III apenas.<br />

230. UEL-PR<br />

A frase a seguir assume especial significado no conto<br />

O peru de Natal, de Mário de Andrade: Morreu meu<br />

pai, sentimos muito, etc. Sobre essa frase, é correto<br />

afirmar:<br />

a) É carregada do sentimentalismo típico de Mário<br />

de Andrade, que destoa da obra de outros autores<br />

modernistas.<br />

b) É representativa do estado de espírito e do estilo<br />

predominantes no conto e na dicção do narrador,<br />

caracterizado pela consternação e pela economia<br />

de palavras.<br />

c) É um recurso que prepara a substituição da narração<br />

do luto pela narração da alegria e do prazer<br />

na ceia de Natal.<br />

d) É uma ironia, porque a esposa e os filhos eram<br />

muito infelizes e não gostavam do homem que<br />

morreu, nem sequer lamentando sua morte.<br />

e) É uma ironia porque o filho, narrador-personagem,<br />

detestava o pai, chegando mesmo a difamá-lo<br />

perante os familiares na ceia de Natal.<br />

231. UFPR<br />

Sobre Contos Novos, de Mário de Andrade, é correto<br />

afirmar:<br />

01. O personagem Juca, narrando em mais de um<br />

conto diferentes acontecimentos e fases de sua<br />

vida, permite que o leitor testemunhe a construção<br />

de uma personalidade, dos desvaneios infantis às<br />

amizades e amores.<br />

02. A presença de um mesmo personagem em mais<br />

de um conto do livro de Mário de Andadre tem a<br />

mesma função que tem a recorrência de personagens<br />

nos contos de Em busca de Curitiba Perdida,<br />

de Dalton Trevisan.<br />

224<br />

04. Um traço comum entre os textos de Contos Novos<br />

é a revelação de aspectos mais delicados da vida,<br />

sentimentos normalmente solapados pela rotina<br />

ou por certa hostilidade ou formalidade presentes<br />

nas relações sociais<br />

08. Em alguns dos contos do livro, como O Poço e<br />

Primeiro de Maio, as relações de trabalho são<br />

representadas de forma a colocar em evidência as<br />

desigualdades e injustiças impostas pelo poder.<br />

16. A linguagem convencional na qual são escritos<br />

estes contos da maturidade de Mário de Andrade<br />

indica que ele se afastara bastante das propostas<br />

do Modernismo e assumira a preferência por uma<br />

literatura clássica, a mesma que anos antes ele<br />

havia combatido com tanto entusiasmo.<br />

32. Em Tempo da Camisolinha, o narrador adulto lembrase<br />

de si mesmo quando criança, criando uma convivência<br />

das vozes do menino e do adulto que amplifica<br />

a compreensão das diferenças sociais e individuais<br />

e mostra que a sensibilidade infantil também pode<br />

perceber “o infinito dos sofrimentos humanos”.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

Texto para as questões de 232 a 238.<br />

Texto I<br />

O poeta come amendoim<br />

Noites pesadas de cheiros e calores amontados...<br />

Foi o sol que por todo o sítio imenso do Brasil<br />

Andou marcando de moreno os brasileiros.<br />

Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...<br />

A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas<br />

[dos mulatos...<br />

Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos.<br />

Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.<br />

Só o murmurejo dos cr’em-deus-padre irmanava os<br />

[homens de meu país...<br />

Duma feita os canhamboras perceberam que não<br />

tinha mais escravos, por causa disso muita virgemdo-rosário<br />

se perdeu...<br />

Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta<br />

[República temporã.<br />

A gente inda não sabia governar...<br />

Progredir, progredimos um tiquinho<br />

Que o progresso também é uma fatalidade...<br />

Será o que Nosso Senhor quiser!...<br />

Estou com desejos de desastres...<br />

Com desejos de Amazonas e dos ventos muriçocas<br />

Se encostando na canjera dos batentes...<br />

Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...<br />

Tenho desejo de gemer e de morrer...<br />

Brasil...<br />

mastigado na gostosura quente do amendoim...<br />

falado numa língua curumim<br />

De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...<br />

Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...<br />

Molham meus beiços que dão beijos alastrados<br />

E depois semitoam em malícia as rezas bem nascidas...<br />

Brasil amado não porque seja minha pátria,<br />

Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde<br />

Deus der...<br />

Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço<br />

[aventuroso,


PV2D-07-54<br />

O gosto dos meus descansos,<br />

O balanço das minhas cantigas, amores e danças.<br />

Brasil que eu sou porque é minha expressão muito<br />

[engraçada,<br />

Porque é o meu sentimento pachorrento,<br />

Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer<br />

[e de dormir.<br />

Mário de Andrade. Poesias completas.<br />

São Paulo : Martins, 1996. pp.<strong>10</strong>9-1<strong>10</strong><br />

Texto II<br />

A política é a arte de gerir o Estado, segundo<br />

princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou<br />

tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de<br />

explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui<br />

a política uma função, ou conjunto das funções do<br />

organismo nacional: é o exercício normal das forças<br />

de uma nação consciente e senhora de si mesma. A<br />

politicalha, pelo contrário, é o envenamento crônico<br />

dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de<br />

parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países<br />

moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos<br />

de moralidade estragada.<br />

Rui Barbosa. Texto reproduzido em ROSSIGNOLI, Walter.<br />

Português: teoria e prática. 2a ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 19<br />

232. Cesgranrio-RJ<br />

Neste poema de Mário de Andrade, que pertence ao<br />

seu livro Clã do Jabuti (1927), o autor exprime um ponto<br />

de vista sentimental bastante particular sobre o Brasil.<br />

Esse ponto de vista deve ser definido como:<br />

a) uma fé inabalável no futuro do país.<br />

b) uma visão realista das grandezas nacionais.<br />

c) um nacionalismo desprovido de efusões patrióticas.<br />

d) um patriotismo de fundo saudosista.<br />

e) uma nova espécie de ufanismo.<br />

233. Cesgranrio-RJ<br />

A maneira como o poeta se refere ao passado políticosocial<br />

da nação (Texto I, v. 5-12) nos leva a concluir<br />

que:<br />

a) o Brasil de outrora e o do presente são muito<br />

constrastantes.<br />

b) a nação brasileira foi tratada com muita reverência<br />

pelo autor.<br />

c) o poeta atribui grande importância ao período<br />

imperial.<br />

d) existe um desencanto geral pelo fracasso político<br />

de nossos governos.<br />

e) não há nostalgia na evocação desse passado.<br />

234. Cesgranrio-RJ<br />

A característica do estilo modernista ausente no<br />

texto I é:<br />

a) a ruptura com as convenções literárias.<br />

b) expressão do dinamismo da realidade urbana<br />

moderna.<br />

c) valorização da fala brasileira.<br />

d) presença da visão irônica.<br />

e) emprego do verso livre.<br />

235. Cesgranrio-RJ<br />

O poema de Mário de Andrade apresenta semelhanças<br />

notáveis com o romance de Manuel Antônio de<br />

Almeida, Memórias de um sargento de milícias, uma<br />

das obras mais originais de nosso romantismo literário.<br />

Essas semelhanças correspondem a:<br />

a) abordagem satírica de nosso sistema monárquico /<br />

forte conteúdo religioso.<br />

b) desprezo pelo folclore nacional / presença de<br />

heróis excepcionais.<br />

c) sentimentalismo exacerbado / ênfase nas descrições<br />

da paisagem brasileira.<br />

d) abrasileiramento da expressão literária / visão<br />

desmistificadora da realidade do país.<br />

e) crítica ao indianismo romântico / idealização do<br />

comportamento amoroso.<br />

236. Cesgranrio-RJ<br />

Apesar de suas diferenças de natureza histórico-literária,<br />

é possível constatar um traço de identidade entre o<br />

texto de Mário de Andrade e o de Rui Barbosa. Esse<br />

elemento corresponde à:<br />

a) constatação da riqueza de nossa cultura.<br />

b) negação do fervor patriótico.<br />

c) visão sátirica da corrupção política<br />

d) riqueza de expressão de valor antiético.<br />

e) ênfase na função crítico-social da literatura.<br />

237. Cesgranrio-RJ<br />

A opção que não apresenta nenhuma correspondência<br />

com o conteúdo do texto I é:<br />

a) A politicalha é denunciada como uma patologia da<br />

vida nacional.<br />

b) entende-se politicalha como sinônimo de política<br />

partidária.<br />

c) destacam-se definições que sublinham a natureza<br />

ética e social da política.<br />

d) atribui-se uma conotação particular ao substantivo<br />

parasita.<br />

e) o autor estabelece oposição entre o verdadeiro<br />

sentido da política e o seu falso sentido.<br />

238. Cesgranrio-RJ<br />

Do ponto de vista do uso da língua, o texto II de Rui<br />

Barbosa diverge do texto I por apresentar:<br />

a) preferência marcada por brasileirismos na seleção<br />

vocabular.<br />

b) quebras na organização sintática dos períodos.<br />

c) falta de uma pontuação rigorosa e clara.<br />

d) menor aproximação com a fala corrente do homem<br />

brasileiro.<br />

e) presença de desvios em relação à norma culta.<br />

Textos para as questões de 239 a 241.<br />

São Paulo <strong>10</strong> de Novembro, 1924<br />

Meu caro Carlos Drummond<br />

(...) Eu sempre gostei muito de viver, de maneira<br />

que nenhuma manifestação da vida me é indiferente.<br />

Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto<br />

da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto entusiasmo<br />

e carinho no escrever um dístico que vai figurar<br />

225


nas paredes dum bailarico e morrer no lixo depois como<br />

um romance a que darei a impassível eternidade da<br />

impressão. Eu acho, Drummond, pensando bem, que<br />

o que falta pra certos moços de tendência modernista<br />

brasileiros é isso: gostarem de verdade da vida. Como<br />

não atinaram com o verdadeiro jeito de gostar da vida,<br />

cansam-se, ficam tristes ou então fingem alegria o que<br />

ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu<br />

não posso compreender um homem de gabinete e<br />

vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem<br />

um pouco de gabinete demais. Meu Deus! se eu estivesse<br />

nessas terras admiráveis em que vocês vivem,<br />

com que gosto, com que religião eu caminharia sempre<br />

pelo mesmo caminho (não há mesmo caminho pros<br />

amantes da Terra) em longas caminhadas! Que diabo!<br />

estudar é bom e eu também estudo. Mas depois do<br />

estudo do livro e do gozo do livro, ou antes vem o<br />

estudo e gozo da ação corporal. (...) E então parar e<br />

puxar conversa com gente chamada baixa e ignorante!<br />

Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se<br />

não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a<br />

sentir e não com a inteligência e a erudição livresca.<br />

Eles é que conservam o espírito religioso da vida e<br />

fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de<br />

religião. Eu conto no meu “Carnaval carioca” um fato<br />

a que assisti em plena Avenida Rio Branco. Uns negros<br />

dançando o samba. Mas havia uma negra moça<br />

que dançava melhor que os outros. Os jeitos eram os<br />

mesmos, mesma habilidade, mesma sensualidade,<br />

mas ela era melhor. Só porque os outros faziam aquilo<br />

um pouco decorado, maquinizado, olhando o povo<br />

em volta deles, um automóvel que passava. Ela, não.<br />

Dançava com religião. Não olhava pra lado nenhum.<br />

Vivia a dança. E era sublime. Este é um caso em que<br />

tenho pensado muitas vezes. Aquela negra me ensinou<br />

o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não<br />

me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade.<br />

ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a<br />

Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982<br />

Inúmeros são os casos de troca de correspondência<br />

entre artistas, escritores, músicos, cineastas,<br />

teatrólogos e homens comuns em nossa tradição literária.<br />

Mário de Andrade, por exemplo, foi talvez o maior<br />

de nossos missivistas. Escreveu e recebeu cartas<br />

de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade,<br />

Tarsila do Amaral, Câmara Cascudo, Pedro Nava,<br />

Fernando Sabino, só para citar alguns. O conjunto de<br />

sua correspondência não só nos ajuda a conhecer o<br />

seu pensamento, seus valores e sua própria vida, como<br />

também entender boa parte da história e da cultura<br />

brasileira do século XX.<br />

DINIZ, Júlio. Cartas: narrativas do eu e do mundo<br />

In Leituras compartilhadas - cartas. Fascículo especial 2, ano 4.<br />

Rio de Janeiro: Leia Brasil / Petrobrás, 2004, p.<strong>10</strong>.<br />

239. PUC-RJ<br />

A partir da leitura do trecho da carta de Mário a Drummond<br />

e do comentário acima, responda ao seguinte<br />

item:<br />

Mário de Andrade, ao comentar um trecho de seu<br />

poema Carnaval Carioca, demonstra encanto por<br />

uma moça que, segundo ele, dançava com religião.<br />

Explique, com suas palavras, o que seria, na visão do<br />

autor, dançar com religião.<br />

226<br />

240. PUC-RJ<br />

a) Percebe-se na carta, uma crítica direta a uma certa<br />

postura elitista em relação à arte e à vida de grande<br />

parte da intelectualidade brasileira da época. Retire do<br />

texto duas passagens que comprovam tal afirmação.<br />

b) Comente, com suas próprias palavras, a visão<br />

que Mário de Andrade possui das manifestações<br />

estéticas oriundas do povo.<br />

241. PUC-RJ<br />

Retirado do contexto, o trecho não há mesmo caminho<br />

pros amantes da Terra pode ser interpretado de duas<br />

maneiras distintas, considerando-se diferentes acepções<br />

atribuídas à palavra mesmo.<br />

a) Quais são as interpretações possíveis?<br />

b) Qual é interpretação mais adequada à carta de<br />

Mário de Andrade? Justifique a sua resposta.<br />

242. Fuvest-SP<br />

Em “O poço”, de Contos novos, as personagens<br />

principais são de carne e osso, mas o silencioso<br />

protagonista do conto é mesmo aquele poder que<br />

vem de muito longe, do nosso passado colonial e das<br />

relações escravistas, aqui encarnado no autoritarismo<br />

caprichoso e arbitrário que se arroga todos os direitos,<br />

que se impõe ao absolutamente fraco e submisso — e<br />

que chega a se desnortear diante da dignidade custosa<br />

de um gesto de rebeldia.<br />

a) Destaque do texto, estritamente, uma expressão<br />

que se refira a cada uma das personagens:<br />

Albino (irmão mais novo),<br />

José (irmão mais velho),<br />

Joaquim Prestes.<br />

b) Além de sua forte presença material, o poço que<br />

está no centro deste conto pode ser tomado como<br />

um símbolo expressivo.<br />

Procede a afirmação acima? Justifique sua resposta.<br />

243. Unicamp-SP<br />

Foi lá no fundo do jardim campear banco escondido. Já<br />

passavam negras disponíveis por ali. E o 35 teve uma<br />

idéia muito não pensada, recusada, de que ele também<br />

estava uma espécie de negra disponível, assim.<br />

a) No conto Primeiro de Maio, de Mário de Andrade,<br />

o personagem central quer comemorar o feriado,<br />

mas seus passos o levam para a Estação da Luz.<br />

Explique por quê.<br />

b) Como se explica sua identificação com “uma negra<br />

disponível”?<br />

244. UFSM-RS<br />

A respeito da obra de Mário de Andrade, assinale verdadeira<br />

(V) ou falsa (F) em cada afirmação a seguir.<br />

( ) Paulicéia desvairada, livro de poemas, abre-se<br />

com um prefácio interessantíssimo em que o poeta<br />

declara ter fundado o desvairismo.<br />

( ) Macunaíma, através da figura loura e esbelta do<br />

herói, propõe a louvação da colonização européia,<br />

graças à qual se afirmou a nação brasileira.<br />

( ) Amar, verbo intransitivo, apresenta um enredo que<br />

se caracteriza por desmascarar a hipocrisia e o<br />

convencionalismo da burguesia paulistana.


PV2D-07-54<br />

A sequência correta é<br />

a) V - V - F<br />

b) V - F - V.<br />

c) F - F - V<br />

d) F - V - F<br />

e) V - F - F<br />

245.<br />

Sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, é<br />

incorreto afirmar que:<br />

a) segue os padrões estabelecidos pelo romance<br />

brasileiro inaugurado pela geração realista-naturalista,<br />

obedecendo rigorosamente aos conceitos<br />

da verossimilhança.<br />

b) é uma rapsódia, em que o autor mistura mitos e<br />

lendas do folclore brasileiro.<br />

c) o índio brasileiro é mostrado de forma totalmente<br />

oposta àquela do Romantismo.<br />

d) o personagem principal vem a São Paulo à procura<br />

de determinado objeto que ele havia perdido.<br />

e) em relação aos modelos tradicionais, é um antiherói,<br />

pois não assume as características próprias<br />

dos mesmos.<br />

246. UFV-MG<br />

Leia as seguintes afirmações a respeito da estrutura<br />

narrativa de Macunaíma, de Mário de Andrade:<br />

I. O autor modernista reúne, ludicamente, nessa<br />

obra de ficção, um farto material representativo<br />

da cultura nacional, como o folclore, os mitos,<br />

a religiosidade, a linguagem, unindo a realidade<br />

à fantasia e trazendo à tona questões sobre a<br />

identidade cultural brasileira.<br />

II. O narrador, em Macunaíma, apresenta ironicamente<br />

o perfil do “herói da nossa gente”, utilizando-se de<br />

uma colagem de lendas indígenas, contadas de formas<br />

variadas, unindo diferentes estilos narrativos.<br />

III. Mário de Andrade faz dessa obra uma epopéia<br />

dos feitos do herói Macunaíma, em estilo ufanista<br />

e idealizador do personagem, dando ênfase ao<br />

caráter nacionalista proposto na primeira fase do<br />

Modernismo brasileiro.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Apenas a afirmativa I é verdadeira.<br />

b) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.<br />

c) Apenas a afirmativa II é verdadeira.<br />

d) Apenas a afirmativa III é verdadeira.<br />

e) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.<br />

247.<br />

Com relação à obra Macunaíma, podemos afirmar que:<br />

a) o tom crítico e amargo da obra a distancia das<br />

vanguardas artísticas européias.<br />

b) o beletrismo parnasiano da época é satirizado no<br />

capítulo “Carta pras Icamiabas”.<br />

c) quando Macunaíma vem a São Paulo, há uma<br />

espécie de inversão dos relatos quinhentistas da<br />

Literatura Informativa, já que agora é o índio que<br />

vai apresentar sua civilização para a cidade.<br />

d) o herói sem nenhum caráter é um tratamento utilizado<br />

para alertar o leitor de que Macunaíma não<br />

é um modelo e, portanto, pouco tem a transmitir<br />

para sua geração.<br />

e) Ci se vinga de Macunaíma, pois ele brincara com<br />

uma portuguesa e não cumprira seu compromisso<br />

com as filhas da Sol.<br />

248. PUC-SP<br />

O título da obra Macunaíma é especificado com Herói<br />

sem nenhum caráter. A alternativa que não é verdadeira<br />

em relação à especificação é:<br />

a) o caráter do herói é ele não ter caráter definido.<br />

b) o protagonista assume várias esferas de ação, daí<br />

ser simultaneamente herói e anti-herói.<br />

c) a fragilidade de caráter do protagonista faz com<br />

que este perca, no decorrer da obra, sua característica<br />

de herói.<br />

d) o herói se configura com suas qualidades paradoxais,<br />

ele é ao mesmo tempo preguiçoso e esperto,<br />

irreverente e simpático, valente e covarde.<br />

e) o caráter do herói é contraditório, pois ele se caracteriza<br />

como um “sonso-sabido.”<br />

249. UFV-MG<br />

Dentre as alternativas que se seguem, assinale aquela<br />

que transmite informações incorretas a respeito de<br />

Macunaíma, o personagem central da obra modernista<br />

homônima.<br />

a) Macunaíma é o “herói sem nenhum caráter” por<br />

não possuir uma identidade única: nasce índionegro<br />

e, após banhar-se em águas encantadas,<br />

fica branco, louro, de olhos azuis.<br />

b) Macunaíma configura-se como um ser múltiplo,<br />

condensando diferentes características como a<br />

bondade, a maldade, a vaidade e, sobretudo, a<br />

ingenuidade infantil.<br />

c) O personagem marioandradino é aventureiro,<br />

individualista e, não tendo aptidão para o trabalho,<br />

prefere sempre a vida fácil, como a descoberta de<br />

dinheiro enterrado.<br />

d) Macunaíma é o expoente máximo do sincretismo<br />

religioso brasileiro, professando simultaneamente<br />

o catolicismo, o espiritismo e a macumba, misturados<br />

ainda aos rituais e crenças indígenas.<br />

e) Em busca da muiraquitã, Macunaíma percorre<br />

todo o território brasileiro e os diferentes países<br />

da Europa, tornando-se, assim, um herói sem<br />

fronteiras e sem pátria.<br />

250. Uniube-MG<br />

Em relação à obra Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

assinale a alternativa incorreta.<br />

a) A obra de Mário de Andrade revela a situação de<br />

desterro do brasileiro em sua própria terra. É neste<br />

sentido que o herói não tem caráter: Macunaíma<br />

não encontra sua identidade como parte de um<br />

projeto coletivo. Seu fracasso, radicalmente<br />

pessimista, mostra que a literatura modernista<br />

apresentava uma visão crítica da nossa história.<br />

227


) Macunaíma traz em si atributos de herói, por constituir-se<br />

como um ser fantástico, entre humano e<br />

mítico. O personagem reúne traços diferenciados,<br />

sofre mudanças extraordinárias, apresenta dupla<br />

configuração, não se assemelhando a nenhum<br />

indivíduo empírico, como os que conhecemos na<br />

vida real.<br />

c) Macunaíma é um herói, porque vai em busca<br />

de um bem essencial, enfrenta perigos, vence<br />

obstáculos, ainda que, no fim, saia derrotado. O<br />

triste exílio cósmico, que encerra a narrativa, faz<br />

de Macunaíma um herói trágico. E, se não fosse<br />

a dimensão cômica, que igualmente compõe a<br />

narrativa, a leitura da obra seria extremamente<br />

sofrida.<br />

d) Nesta obra, Mário de Andrade retoma o mito do<br />

bom selvagem. Macunaíma é um herói romântico,<br />

cuja mente selvagem, pura e inocente não abriga<br />

segundas intenções. No ambiente paradisíaco<br />

da Amazônia, seu comportamento não conhece<br />

interdições: livre da obrigação do trabalho, pode<br />

usufruir a “divina preguiça” que rege a vida na tribo<br />

tapanhumas.<br />

251. UFV-MG<br />

Leia com atenção o fragmento abaixo, extraído do<br />

poema Marabá, de Gonçalves Dias.<br />

Eu vivo sozinha; ninguém me procura!<br />

Acaso feitura<br />

Não sou de Tupá?<br />

Algum dentre os homens de mim não se esconde,<br />

– “Tu és,”, me responde,<br />

“Tu és Marabá!”<br />

Meus olhos são garços, são cor de safiras,<br />

Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;<br />

Imitam as nuvens de um céu anilado,<br />

As cores imitam das vagas do mar!<br />

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:<br />

– “Teus olhos são garços”,<br />

Responde anojado; “mas és Marabá”:<br />

“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes”,<br />

“Uns olhos fulgentes”,<br />

“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”<br />

[...]<br />

DIAS, Gonçalves. Poemas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. pp. 86-87.<br />

Vocabulário<br />

marabá – filho de índio com branco<br />

garços – esverdeados<br />

anajá – fruto verde-amarelo, também conhecido como cocoindaiá.<br />

Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela que não<br />

contém informações verdadeiras a respeito do poema<br />

indianista Marabá, assim como de sua intertextualidade<br />

com a obra modernista Macunaíma.<br />

a) A heroína romântica e Macunaíma ilustram, ambos,<br />

a falta de identidade do povo brasileiro, enquanto<br />

produto da miscigenação de raças.<br />

b) Ao dar voz a uma personagem feminina, Gonçalves<br />

Dias atualiza um recurso comum às cantigas<br />

de amigo do Trovadorismo português.<br />

c) A musa mestiça do poema gonçalvino vive a dolorosa<br />

experiência do desprezo e da rejeição pelos<br />

próprios índios, também seus irmãos de sangue.<br />

228<br />

d) Macunaíma simboliza também uma fusão de<br />

diferentes raças e sua mistura étnica, a exemplo<br />

da heroína romântica, priva-o da convivência<br />

feminina.<br />

e) O poema Marabá focaliza a solidão e a marginalidade<br />

da personagem romântica e eleva a questão<br />

racial brasileira ao mais puro simbolismo afetivo.<br />

Texto para as questões de 252 a 256.<br />

Uma feita janeiro chegado Macunaíma acordou<br />

tarde com o pio agourento do tincuã. No entanto era<br />

dia feito e a cerração já entrara pro buraco... O herói<br />

tremeu e apalpou o feitiço que trazia no pescoço,<br />

um ossinho de piá morto pagão. Procurou o aruaí,<br />

desaparecera. Só o galo com a galinha brigando por<br />

causa duma aranha derradeira. Fazia um calorão<br />

parado tão imenso que se escutava o sininho de vidro<br />

dos gafanhotos. Vei, a Sol, escorregava pelo corpo de<br />

Macunaíma, fazendo cosquinhas, virada em mão de<br />

moça. Era malvadeza da vingarenta só por causa do<br />

herói não ter se amulherado com uma das filhas da<br />

luz. A mão da moça vinha e escorregava tão de manso<br />

no corpo... Que vontade nos músculos pela primeira<br />

vez espetados depois de tanto tempo! Macunaíma se<br />

lembrou que fazia muito não brincava. Água fria diz<br />

que é bom pra espantar as vontades... O herói escorregou<br />

da rede, tirou a penugem de teia vestindo todo<br />

o corpo dele e descendo até o vale de Lágrimas foi<br />

tomar banho num sacado perto que os repiquetes do<br />

tempo-das-águas tinham virado num lagoão.<br />

Macunaíma depôs com delicadeza os legornes<br />

na praia e se chegou pra água. A lagoa estava toda<br />

coberta de ouro e prata e descobriu o rosto deixando<br />

ver o que tinha no fundo. E Macunaíma enxergou lá<br />

no fundo uma cunhã lindíssima, alvinha e padeceu de<br />

mais vontade. E a cunhã lindíssima era a Uiara.<br />

ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.<br />

Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos.<br />

São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978. p. 142.<br />

252.<br />

Em Macunaíma, o personagem deixa seu espaço de<br />

origem e vai a São Paulo, onde se modifica, tomando<br />

gosto pelos valores europeus. Assim, em lugar de se<br />

casar com uma das filhas de Vei, a Sol, opta por ficar<br />

com uma portuguesa. Vei, a Sol, na obra, atua como<br />

personagem que representa:<br />

a) os valores de uma terra tropical.<br />

b) a figura da sogra sempre maledicente e cruel.<br />

c) a mulher protetora dos seres melancólicos.<br />

d) a sensualidade da mulher européia.<br />

e) a astúcia da jovem que deseja seduzir.<br />

253.<br />

Para se vingar, Vei, a Sol, usa de artimanhas:<br />

a) Desperta os desejos sexuais do herói, passandolhe<br />

pelo corpo suas mãos de moça, e leva-o para<br />

junto da Uiara, que, na verdade, é uma de suas<br />

filhas transfigurada.<br />

b) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço<br />

de maneira a deixá-lo desprovido de proteção e o<br />

conduz à Uiara, que é uma portuguesa que com<br />

ele quer se casar.


PV2D-07-54<br />

c) Transforma as águas quentes do lagoão em águas<br />

frias como as européias; dá à Uiara aspecto de<br />

mulher européia.<br />

d) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço<br />

e mata o aruaí, animal que acompanhava o personagem<br />

em seu retorno ao Uraricoera, deixando<br />

Macunaíma perturbado.<br />

e) Desperta, por meio de carícias, as lembranças<br />

sensuais de Macunaíma e leva-o para a Uiara, ente<br />

fantástico que habita os rios da região amazônica.<br />

254.<br />

“O pio agourento do tincuã” prenuncia:<br />

a) a morte de Caiuanogue, irmão de Macunaíma.<br />

b) o reaparecimento de Venceslau Pietro Pietra.<br />

c) a perda definitiva da muiraquitã, presente de Ci,<br />

Mãe do Mato.<br />

d) o desaparecimento de Ci, a Mãe do Mato.<br />

e) a inundação e o fim do Uraricoera.<br />

255.<br />

Macunaíma: o herói sem nenhum caráter é obra<br />

representativa:<br />

a) do pré-modernismo brasileiro, visto que registra<br />

preocupação com as dificuldades dos emigrantes<br />

na cidade de São Paulo.<br />

b) da primeira geração modernista, porque procura<br />

resgatar manifestações culturais brasileiras.<br />

c) da segunda geração modernista, uma vez que<br />

os problemas políticos brasileiros aí se fazem<br />

presentes.<br />

d) do movimento futurista brasileiro, posto romper, de<br />

maneira excessivamente agressiva, com a tradição<br />

literária brasileira.<br />

e) do Movimento Pau-Brasil, uma vez que o primitivismo<br />

é apontado como solução para os problemas<br />

da cultura brasileira.<br />

256.<br />

Analise a frase: “Água fria diz que é bom pra espantar<br />

as vontades...”. Nela encontramos:<br />

a) uma personificação da água, que está em acordo<br />

com as características fantasiosas do romance.<br />

b) uma referência ao índio sábio Água Fria, que aparece<br />

algumas vezes como conselheiro do herói.<br />

c) uma inversão da posição de termos, que realça<br />

o espírito preciosista dos escritores modernistas<br />

quanto ao uso da linguagem.<br />

d) um verbo “dizer” usado no singular para concordar<br />

com a expressão anterior e desfazer ambigüidades.<br />

e) um traço coloquial, típico dos textos modernistas,<br />

que se sobrepõe a normas gramaticais.<br />

257. Fatec-SP<br />

De outras e muitas grandezas vos poderíamos<br />

ilustrar, senhoras Amazonas, não fora persignar demasiado<br />

esta epístola; todavia, com afirma-vos que<br />

esta é, por sem dúvida, a mais bela cidade terráquea,<br />

muito hemos feito em favor destes homens de prol.<br />

Mas cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio,<br />

uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis qua<br />

a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigio-<br />

sa, que falam numa língua e escrevem noutra. Assim<br />

chegado a estas plagas hospitalares, nos demos ao<br />

trabalho de bem nos inteiramos da etnologia da terra,<br />

e dentre muita surpresa e assombro que se nos deparou,<br />

por certo não foi das menores tal originalidade<br />

lingüística. Nas conversas utilizam-se os paulistanos<br />

dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e<br />

impuro na vernaculidade, mas que não deixa de ter<br />

o seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas<br />

vozes do brincar. Destes e daquelas nos inteiramos,<br />

solícito; e nos será grata empresa vo-las ensinarmos<br />

aí chegado. Mas si de tal desprezível língua se utilizam<br />

na conversação os naturais desta terra, logo que<br />

tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e<br />

surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa<br />

outra linguagem, mui próximo da vergiliana, no dizer<br />

dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível<br />

galhardia, se intitula: língua de Camões!<br />

De tal originalidade e riqueza vos há-de ser grato<br />

ter ciência, e mais ainda vos espantareis com saberdes,<br />

que à grande e quase total maioria, nem essas<br />

duas línguas bastam, senão que se enriquecem do<br />

mais lídimo italiano, por mais musical e gracioso, e que<br />

por todos os recantos da urbs é versado.<br />

Mário de Andrade, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter<br />

A “Carta pras Icamiabas” contrasta, pelo estilo, com<br />

os demais capítulos de Macunaíma. Afirma-se que a<br />

carta escrita pelo herói a suas súditas, no contexto<br />

do romance:<br />

I. parodia o estilo parnasiano, o que se constata pela<br />

escolha de vocabulário preciosista, pelo tratamento<br />

em 2a pessoa do plural e pelo emprego da ordem<br />

indireta na frase.<br />

II. ironiza o artificialismo parnasiano, cuja poesia desprezava<br />

soluções coloquiais, próximas da língua<br />

falada.<br />

III. expressa, pela ironia, a tese modernista da incorporação<br />

de contribuições do linguajar do imigrante,<br />

integrado à população nacional.<br />

IV. representa o antimodernismo, pois traz soluções<br />

de linguagem e de estilo que o Modernismo negou,<br />

em nome da nacionalização da língua literária.<br />

São corretas as afirmações:<br />

a) I, II, III e IV. d) II e IV apenas.<br />

b) I e IV apenas. e) II, III e IV apenas.<br />

c) I, II e III apenas.<br />

258. Fuvest-SP<br />

Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo<br />

algibebe 1 em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se<br />

porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando,<br />

não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego<br />

de que o vemos empossado, e que exercia, como<br />

dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele<br />

no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria<br />

da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia 2<br />

rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe<br />

justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal<br />

apessoado, e sobretudo era maganão 3 . Ao sair do Tejo,<br />

estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo<br />

fingiu que passava distraído por junto dela, e com o<br />

ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no<br />

pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo,<br />

sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe<br />

também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas<br />

costas da mão esquerda. Era isto uma declaração<br />

em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto<br />

229


do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a<br />

mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença<br />

de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia<br />

seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e<br />

familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.<br />

Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias<br />

Vocabulário<br />

1algibebe: mascate, vendedor ambulante.<br />

2saloia: aldeã das imediações de Lisboa.<br />

3maganão: brincalhão, jovial, divertido.<br />

No excerto, as personagens manifestam uma característica<br />

que também estará presente na personagem<br />

Macunaíma. Essa característica é a:<br />

a) disposição permanentemente alegre e bem-humorada.<br />

b) discrepância entre a condição social humilde e a<br />

complexidade psicológica.<br />

c) busca da satisfação imediata dos desejos.<br />

d) mistura das raças formadoras de identidade nacional<br />

brasileira.<br />

e) oposição entre o físico harmonioso e o comportamento<br />

agressivo.<br />

Texto para as questões de 259 a 262.<br />

Uma feita em que deitara numa sombra enquanto<br />

esperava os manos pescando, o Negrinho do Pastoreio<br />

pra quem Macunaíma rezava diariamente, se apiedou<br />

do panema e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho<br />

uirapuru. Quando sinão quando o herói escutou um<br />

tatalar inquieto e o passarinho uirapuru pousou no<br />

joelho dele. Macunaíma fez um gesto de caceteação<br />

e enxotou o passarinho uirapuru. Nem bem minuto<br />

passado escutou de novo a bulha e o passarinho<br />

pousou na barriga dele. Macunaíma nem se amolou<br />

mais. Então o passarinho uirapuru agarrou cantando<br />

com doçura e o herói entendeu tudo o que ele cantava.<br />

E era que Macunaíma estava desinfeliz porque perdera<br />

a muiraquitã na praia do rio quando subia no bacupari.<br />

Porém agora, cantava o lamento do uirapuru, nunca<br />

mais que Macunaíma havia de ser marupiara não,<br />

porque uma tracajá engolira a muiraquitã e o mariscador<br />

que apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra<br />

verde pra um regatão peruano se chamando Venceslau<br />

Pietro Pietra. O dono do talismã enriquecera e parava<br />

fazendeiro e baludo lá em São Paulo, a cidade macota<br />

lambida pelo igarapé Tietê.<br />

Mário de Andrade, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.<br />

259. Unifesp<br />

Os “manos” mencionados no texto são:<br />

a) os índios que formam toda a tribo de Macunaíma.<br />

b) os amigos anônimos que Macunaíma encontrara<br />

em São Paulo e que passam alguns dias de descanso<br />

na Amazônia.<br />

c) Maanape e Jiguê, irmãos de Macunaíma.<br />

d) Piaimã, Oibê e os macumbeiros do Rio de Janeiro.<br />

e) Piaimã, Oibê, Maanape e Jiguê.<br />

230<br />

260. Unifesp<br />

Os vocábulos “muiraquitã” e “tracajá” têm os seus significados<br />

desvendados pelo contexto lingüístico interno,<br />

porque são substituídos, no próprio texto, por vocábulos<br />

ou expressões equivalentes. Os equivalentes para<br />

“muiraquitã” e “tracajá” são, respectivamente:<br />

a) “passarinho” e “tartaruga”.<br />

b) “talismã” e “tartaruga”.<br />

c) “pedra verde” e “mariscador”.<br />

d) “joelho” e “barriga”.<br />

e) “talismã” e “pedra verde”.<br />

261. Unifesp<br />

Pelas características da linguagem, que incorpora expressões<br />

da fala popular e mobiliza o léxico de origem indígena,<br />

pelo ambiente sugerido e também pela presença do<br />

uirapuru, o texto dá mostras de pertencer ao estilo:<br />

a) romântico, de linha indianista.<br />

b) simbolista, de linha esotérica.<br />

c) modernista, de linha Pau-Brasil e antropofágica.<br />

d) naturalista, de linha nacionalista.<br />

e) pós-modernista, de linha neo-parnasiana.<br />

262. Unifesp<br />

O sujeito da oração Mandou o passarinho uirapuru<br />

pode ser identificado por meio da análise do contexto<br />

lingüístico interno. Trata-se de:<br />

a) sujeito indeterminado.<br />

b) uirapuru = sujeito expresso.<br />

c) passarinho = sujeito expresso.<br />

d) Ele (o herói) = sujeito oculto.<br />

e) Ele (o Negrinho do Pastoreio) = sujeito oculto.<br />

263. UFPE<br />

Na(s) questão(ões) a seguir, escreva nos parênteses<br />

a letra (V) se a afirmativa for verdadeira ou (F) se for<br />

falsa.<br />

Observe:<br />

“No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói<br />

de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da<br />

noite”.<br />

Macunaíma / Mário de Andrade<br />

( ) O autor de Macunaíma foi um dos idealizadores da<br />

Semana de Arte Moderna, que iniciou o movimento<br />

modernista no Brasil.<br />

( ) O movimento modernista, entre outras metas,<br />

propunha-se à busca de identidade nacional, o<br />

que se acha na obra citada.<br />

( ) A liberdade de expressão, o cotidiano, o coloquialismo,<br />

resultantes da desintegração da linguagem<br />

literária tradicional, foram preconizadas por Mário de<br />

Andrade como arauto e teórico do Modernismo.<br />

( ) Macunaíma representou a identificação de Mário<br />

com o nacionalismo primitivista.<br />

( ) Há uma gota de sangue em cada poema, obra<br />

escrita em 1917, sob a influência da I Guerra, não<br />

tem valor estético, apesar de constituir-se o título<br />

em uma experiência política.


PV2D-07-54<br />

Tome o poema abaixo para interpretar as questões<br />

264 e 265.<br />

Mulheres<br />

Como as mulheres são lindas!<br />

Inútil pensar que é do vestido...<br />

E depois não há só as bonitas:<br />

Há também as simpáticas.<br />

E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:<br />

Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai<br />

da cozinha.<br />

Como deve ser bom gostar de uma feia!<br />

O meu amor porém não tem bondade alguma.<br />

É fraco! Fraco!<br />

Meu Deus, eu amo como as criancinhas...<br />

És linda como uma história da carochinha...<br />

E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai<br />

(No tempo em que pensava que os ladrões moravam<br />

no morro [atrás de casa e tinham cara de pau)<br />

Manuel Bandeira, Libertinagem<br />

264.<br />

Assinale a alternativa que não corresponda ao sentido<br />

expresso no texto.<br />

a) O poeta afirma o seu entusiasmo e adoração às<br />

mulheres todas.<br />

b) O poeta dedica a sua amada uma forma de amor<br />

inocente.<br />

c) O poeta afirma gostar de uma mulher feia.<br />

d) O poeta aponta a fraqueza do seu amor.<br />

e) O poeta ressalta que a beleza da mulher transcende<br />

às roupas.<br />

265.<br />

Os quatro últimos versos do poema podem ser resumidos<br />

na expressão:<br />

a) Amor ingênuo d) Amor erótico<br />

b) Amor tresloucado e) Amor urbano<br />

c) Amor fraterno<br />

266. Fuvest-SP<br />

Comparando-se Brás Cubas e Macunaíma, é correto<br />

afirmar que, apesar de diferentes, ambos:<br />

a) possuem muitos defeitos, mas conservam uma<br />

ingenuidade infantil, isenta de traços de malícia e<br />

de egoísmo.<br />

b) tiveram seu principal relacionamento amoroso com<br />

mulheres tipicamente submissas, desprovidas de<br />

iniciativa.<br />

c) não trabalham, caracterizando-se pela ausência<br />

de qualquer demanda ou busca que lhes mobilize<br />

o interesse.<br />

d) berram suas histórias diretamente ao leitor, em primeira<br />

pessoa, depois de mortos: Brás Cubas, como defunto<br />

autor; Macunaíma, utilizando-se do papagaio.<br />

e) têm a vida avaliada, na parte final dos relatos,<br />

em um pequeno balanço, ou breve avaliação de<br />

conjunto, com resultado negativo.<br />

267. Fuvest-SP<br />

A presença da temática indígena em Macunaíma, de<br />

Mário de Andrade, tanto participa _________ quanto<br />

representa uma retomada, com novos sentidos,<br />

__________.<br />

Mantida a seqüência, os trechos pontilhados serão<br />

preenchidos corretamente por:<br />

a) do movimento modernista da Antropofagia / do<br />

regionalismo da década de 30.<br />

b) do interesse modernista pela arte primitiva / do<br />

indianismo romântico.<br />

c) do movimento modernista da Antropofagia / do<br />

condoreirismo romântico.<br />

d) da vanguarda estética do Naturalismo / do indianismo<br />

romântico.<br />

e) do interesse modernista pela arte primitiva / do<br />

regionalismo da década de 30.<br />

268. ITA-SP<br />

Sobre Macunaíma, de Mário de Andrade, não se pode<br />

afirmar que:<br />

a) a obra apresenta uma mistura de lendas indígenas,<br />

crendices, anedotas e observações pessoais da<br />

vida cotidiana brasileira.<br />

b) assim como a personagem Macunaíma passa por<br />

uma série de metamorfoses, a linguagem também<br />

se transforma ao longo da obra.<br />

c) a personagem Macunaíma sintetiza o caráter<br />

nacional brasileiro do início do século.<br />

d) a história se passa inteiramente na floresta Amazônica,<br />

onde Macunaíma passa toda a sua vida<br />

ao lado dos irmãos Maanape e Jiguê.<br />

e) a obra traz para o campo da arte inovações de<br />

linguagem, como o ritmo, o léxico e a sintaxe<br />

coloquial para a escrita.<br />

269. UFAL<br />

Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro<br />

passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam<br />

a falar exclamava:<br />

– Ai! que preguiça!...<br />

e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca,<br />

trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos<br />

outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape<br />

já velhinho e Jiguê na força de homem.<br />

O trecho acima:<br />

a) introduz um romance indianista que consagrou<br />

José de Alencar.<br />

b) refere-se ao protagonista da obra-prima ficcional<br />

de Mário de Andrade.<br />

c) exemplifica a linguagem revolucionária de um<br />

romance de Oswald de Andrade.<br />

d) contém elementos típicos da prosa naturalista<br />

brasileira.<br />

e) constitui a abertura de uma das principais novelas<br />

de Guimarães Rosa.<br />

231


270. UFG-GO<br />

Leia, a seguir, o fragmento retirado do livro Macunaíma,<br />

de Mário de Andrade, e responda à questão proposta.<br />

– Meu avô, dá caça para mim comer?<br />

– Sim, Currupira fez.<br />

Cortou carne de perna moqueou e deu pro menino,<br />

perguntando:<br />

– O que você está fazendo na capoeira, rapaiz!<br />

– Passeando.<br />

– Não diga!<br />

– Pois é, passeando...<br />

Então contou o castigo da mãe por causa dele ter sido<br />

malévolo pros manos. E contando o transporte da casa<br />

de novo pra deixa onde não tinha caça deu uma grande<br />

gargalhada. O currupira olhou pra ele e resmungou:<br />

– Tu não é mais curumi, rapaiz, tu não é mais<br />

curumi não...<br />

Gente grande que faz isso...<br />

Uma característica importante das línguas é o fato de<br />

que elas não são uniformes nem estáticas. Fatores<br />

como região, classe social, idade, entre outros, explicam<br />

suas variações.<br />

Tendo em vista o comentário que você acabou de ler<br />

e as particularidades lingüísticas do trecho de Macunaíma,<br />

julgue os itens.<br />

( ) A construção “dá caça pra mim comer” é típica<br />

da linguagem oral, representando, portanto, uma<br />

variação de “dê-me caça para eu comer”, própria<br />

da norma-padrão.<br />

( ) O emprego de palavras como “rapaiz” e “faiz” revela<br />

variação no nível dos sons, indicando pronúncia<br />

de um falante, no caso o Currupira, que utiliza a<br />

variedade-padrão da língua.<br />

( ) Em “por causa dele ter sido malévolo”, ocorre<br />

uma variação no nível sintático, uma vez que esse<br />

enunciado, na norma-padrão, corresponde a “por<br />

causa de ele ter sido malévolo”.<br />

( ) O enunciado “Tu não é mais curumi”, apesar de<br />

ser um exemplo de falar informal, está de acordo<br />

com a língua-padrão, como se pode verificar pela<br />

concordância verbal.<br />

271. UFG-GO<br />

O projeto estético-ideológico do Modernismo tem no<br />

livro Macunaíma, de Mário de Andrade, uma de suas<br />

maiores realizações. Com base nessa afirmação,<br />

julgue as proposições.<br />

( ) O denominador comum da obra é o interesse<br />

pela variedade cultural do povo brasileiro, somado<br />

a uma desconstrução da linguagem literária<br />

acadêmica, mediante sobretudo a valorização da<br />

diversidade da língua nacional.<br />

( ) A construção da rapsódia combina procedimentos<br />

formais de vanguarda, como a justaposição<br />

(colagem) de lendas e mitos populares de origem<br />

variada, com um esforço de interpretação<br />

do país, sobressaindo a questão da identidade<br />

nacional.<br />

( ) A interpretação de vestígios primitivistas, presentes<br />

na cultura brasileira, obedece a esquemas<br />

naturalistas, ora com o tratamento cientificista<br />

das lendas folclóricas, ora com a reafirmação de<br />

232<br />

teses deterministas, numa evidente condenação<br />

da mestiçagem.<br />

( ) A perspectiva regionalista prevalece na obra,<br />

visto que o registro bruto da linguagem do<br />

homem rústico, a descrição detalhada de usos<br />

e costumes do brasileiro típico e o deslumbramento<br />

diante da paisagem natural demonstram<br />

um sentimento nacionalista entorpecido pelas<br />

belezas nacionais.<br />

272. UFJF-MG<br />

A respeito da obra Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

pode-se afirmar que é:<br />

a) um romance linear, que narra a educação de um<br />

herói.<br />

b) uma narrativa com tempo e espaço muito bem<br />

definidos.<br />

c) uma colagem de motivos e narrativas de origem<br />

diversa.<br />

d) um texto de linguagem extremamente erudita e<br />

formal.<br />

e) um conto baseado na história de uma pessoa<br />

verdadeira.<br />

273. UFMG<br />

As histórias de Macunaíma foram contadas pelo papagaio<br />

ao narrador, que vai continuar contando-as:<br />

“...ponteei na violinha e em toque rasgado botei a<br />

boca no mundo cantando na fala impura as frases de<br />

Macunaíma, herói de nossa gente”.<br />

Sabe-se que o livro Macunaíma foi considerado, por<br />

seu autor, uma rapsódia.<br />

Com relação a esse fato, é correto afirmar que:<br />

a) a palavra rapsódia significa narrativa acompanhada<br />

de viola.<br />

b) as histórias populares, tradicionalmente chamadas<br />

de rapsódia, são moralizadoras.<br />

c) o narrador “alinhava”, na rapsódia, histórias da<br />

tradição oral.<br />

d) rapsódia é o nome que se dá às narrativas orais<br />

recuperadas por escritores.<br />

274.<br />

Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha<br />

de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.<br />

Porém, no rio era impossível, por causa das piranhas tão<br />

vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um<br />

naco de irmã despedaçada, pulavam aos cachos pra fora<br />

d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa<br />

lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova<br />

era que nem a marca dum pé gigante. O herói depois de<br />

muitos gritos por causa do frio e da água entrou na cova<br />

e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque<br />

aquele buraco na lapa era a maracá do pezão do Sumé,<br />

do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus<br />

pra indianada brasileira. Quando o herói saiu do banho<br />

estava branco e louro e de olhos azuizinhos, água lavara<br />

o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar<br />

nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.<br />

Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na<br />

marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava<br />

muito suja de negrume do herói e por mais que Jiguê<br />

esfregasse feito maluco atirando água pra todos os


PV2D-07-54<br />

lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma<br />

teve dó e consolou:<br />

— Olhe, mano Jiguê, branco você não ficou não,<br />

porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.<br />

Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara<br />

toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só<br />

um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só<br />

a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem<br />

da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos<br />

e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na<br />

água santa. Macunaíma teve dó e consolou:<br />

— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe<br />

não, mais sofreu nosso tio Judas!<br />

Mário de Andrade, Macunaíma.<br />

a) O que cada um dos irmãos representa nesta<br />

cena?<br />

b) Como o episódio trata a nacionalidade brasileira?<br />

275. Fuvest-SP<br />

Leia atentamente as seguintes afirmações.<br />

A vida íntima do brasileiro nem é bastante coesa, nem<br />

bastante disciplinada, para envolver e dominar toda<br />

a sua personalidade e, assim, integrá-la, como peça<br />

consciente, no conjunto social. Ele é livre, pois, para<br />

se abandonar a todo repertório de idéias, gestos e<br />

formas que encontre em seu caminho, assimilando-os<br />

freqüentemente sem maiores dificuldades.<br />

Adaptado de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil<br />

a) Essas afirmações aplicam-se à personagem Brás<br />

Cubas? Justifique sucintamente sua resposta.<br />

b) E à personagem Macunaíma, essas afirmações se<br />

aplicam? Justifique resumidamente sua resposta.<br />

276. UFRJ<br />

A obra Macunaíma tem como subtítulo: o herói sem<br />

nenhum caráter. Com base em sua leitura desse livro,<br />

comente o subtítulo, relacionando-o ao personagem<br />

principal e aos eventos ocorridos na história.<br />

277. Fuvest-SP<br />

– Paciência, manos! não! não vou na Europa não. Sou<br />

americano e meu lugar é na América. A civilização<br />

européia decerto esculhamba a inteireza do nosso<br />

caráter.<br />

Mário de Andrade, Macunaíma.<br />

a) A opção pela América, afirmada nesta fala de Macunaíma,<br />

é coerente com a escolha por ele realizada<br />

na ocasião em que não se casou com uma das<br />

filhas de Vei, a Sol? Justifique resumidamente sua<br />

resposta.<br />

b) Pelo fato de ser dita por Macunaíma, a frase “A civilização<br />

européia decerto esculhamba a inteireza do<br />

nosso caráter” adquire sentido irônico. Por quê?<br />

278. UFMG<br />

Todos os seguintes poemas, extraídos de Pau-Brasil,<br />

de Oswald de Andrade, são marcados pela visualidade<br />

e pela síntese verbal, exceto:<br />

a) Aprendi com meu filho de dez anos<br />

Que a poesia é a descoberta<br />

Das coisas que eu nunca vi.<br />

“3 de maio”<br />

b) Bananeiras<br />

Sol<br />

O cansaço da ilusão<br />

Igrejas<br />

O ouro na serra de pedra<br />

A decadência<br />

c) Coqueiros<br />

Aos dois<br />

Aos três<br />

Aos grupos<br />

Altos<br />

Baixos<br />

d) Lá fora o luar continua<br />

E o trem divide o Brasil<br />

Como um meridiano.<br />

e) O transatlântico mesclado<br />

Dlendlena e esguicha luz<br />

Postretutas e famias sacolejam<br />

“São José del Rei”<br />

“Longo da linha”<br />

“Noturno”<br />

“Bonde”<br />

279.<br />

Pneumotórax<br />

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.<br />

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.<br />

Tosse, tosse, tosse.<br />

Mandou chamar o médico:<br />

– Diga trinta e três.<br />

– Trinta e três...trinta e três...trinta e três...<br />

– Respire.<br />

– O senhor tem uma escavação no pulmão<br />

[esquerdo e o pulmão direito infiltrado.<br />

– Então, doutor, não é possível tentar o<br />

[pneumotórax?<br />

– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango<br />

argentino.<br />

Manuel Bandeira<br />

A ironia costuma ser um recurso comum na poesia,<br />

usada, geralmente, para criar subjetividades pretendidas<br />

por poetas em seus poemas. Considerando o tema<br />

e o conteúdo do texto, marque a única alternativa em<br />

que o trecho presente, de maneira mais clara, enfatiza<br />

o lado irônico de Manuel Bandeira.<br />

a) “... suores noturnos”<br />

b) “Tosse, tosse, tosse.”<br />

c) “Diga trinta e três.”<br />

d) “O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo...”<br />

e) “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”<br />

280. UFV-MG<br />

Leia o seguinte fragmento do Manifesto da poesia<br />

Pau-Brasil:<br />

Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus<br />

e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia<br />

233


íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual,<br />

amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação<br />

militar. Pau-Brasil.<br />

O trabalho da geração futurista foi ciclópico.<br />

Acertar o relógio império da literatura nacional.<br />

Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser<br />

regional e puro em sua época.<br />

O estado de inocência substituindo o estado de<br />

graça que pode ser uma atitude do espírito.<br />

ANDRADE, Oswald de. Poesia Pau-Brasil. In: SCHWARTZ, Jorge.<br />

Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos críticos.<br />

São Paulo: Edusp, Iluminuras, Fapesp, 1995. p. 138.<br />

Assinale a alternativa que não interpreta os ideais<br />

estéticos modernistas propostos no trecho citado.<br />

a) A poesia Pau-Brasil pressupõe o retorno ao primitivismo,<br />

às origens nacionais.<br />

b) O manifesto propõe o “estado de inocência”, o<br />

resgate cultural, com sua “energia íntima” – um<br />

redescobrimento do Brasil das origens – sob a<br />

ótica da moderna sociedade.<br />

c) O Manifesto da poesia Pau-Brasil defende que a<br />

literatura deveria tratar unicamente da cor local e<br />

da cultura contemporânea e repudia o resgate das<br />

raízes culturais brasileiras.<br />

d) Sem rejeitar a influência futurista, a poesia Pau-<br />

Brasil valoriza a herança do passado, utilizando<br />

metáforas como “reza”, “Carnaval”, “sabiá”, e<br />

propõe “acertar o relógio” da literatura nacional.<br />

e) A poesia Pau-Brasil propõe “Ser regional e puro<br />

em sua época”: resgatar os valores da cultura<br />

regional do povo brasileiro, mas sem perder de<br />

vista as transformações do mundo moderno.<br />

281. UEL-PR<br />

A peça O rei da vela, escrita por Oswald de Andrade,<br />

em 1933, foi montada em 1967 pelo Teatro Oficina,<br />

com direção de José Celso Martinez Corrêa. Sobre a<br />

peça, considere as afirmativas a seguir.<br />

I. Apropriou-se da produção dramatúrgica brasileira,<br />

já consagrada àquela época, e que se reportava à<br />

tragédia grega.<br />

II. Foi além da esfera teatral, unindo, num mesmo<br />

espetáculo, a música, a literatura e as artes plásticas.<br />

III. Graças a esta peça o Brasil pôde entrar na era das<br />

superproduções teatrais.<br />

IV. Caracterizou-se por realizar uma crítica sarcástica<br />

e perturbadora da vida nacional.<br />

Estão corretas apenas as afirmativas:<br />

a) I e II d) I e IV<br />

b) I e III e) II, III e IV<br />

c) II e IV<br />

282. PUC-RS<br />

O fazendeiro criara filhos<br />

Escravos escravas<br />

Nos terreiros de pitangas e jabuticabas<br />

Mas um dia trocou<br />

O ouro da carne preta e musculosa<br />

As gabirobas e os coqueiros<br />

Os monjolos e os bois<br />

Por terras imaginárias<br />

Onde nasceria a lavoura verde do café.<br />

234<br />

Esse poema, de Oswald de Andrade, exemplifica o<br />

movimento nativista... . O poeta, por meio de uma<br />

poesia reduzida ao ..., buscou uma interpretação de<br />

seu país.<br />

a) Antropófago, visual<br />

b) Verde-Amarelo, simbólico<br />

c) Terra Roxa e Outras Terras, discursivo<br />

d) Anta, concreta<br />

e) Pau-Brasil, essencial.<br />

283. FCMSC-SP<br />

Movimentos<br />

I. Pau-Brasil<br />

II. Verde-Amarelo<br />

III. Antropofagia<br />

Objetivos<br />

1. Resposta ao conservadorismo manifestado pelo<br />

movimento da anta.<br />

2. Revalorização do primitivo, por meio de uma arte<br />

que redescobrisse o Brasil.<br />

3. Proposição de uma estrutura nacionalista.<br />

A associação correta é:<br />

a) I – 2; II – 3; III – 1 c) I – 1; II – 2; III – 3<br />

b) I – 3; II – 2; III – 1 d) I – 3; II – 1; III – 2<br />

284. UEL-PR<br />

O recruta<br />

O noivo da moça<br />

Foi para a guerra<br />

E prometeu se morresse<br />

Vir escutar ela tocar piano<br />

Mas ficou para sempre no Paraguai<br />

ANDRADE, Oswald de. Obras completas.<br />

São Paulo: Ed. Globo/Secretaria de Estado da Cultura, 1990<br />

Sobre o poema de Oswald de Andrade, é correto afirmar:<br />

a) A ironia presente no poema reforça o caráter de<br />

irreverência num texto com tendência prosaica.<br />

b) A prática do poema curto revela o desprezo do eu<br />

lírico pelo tema da Guerra do Paraguai.<br />

c) A expressão “se morresse”, do terceiro verso, indica<br />

a certeza da moça de que seu noivo não voltaria.<br />

d) A expressão “Vir escutar ela” revela um desconhecimento<br />

do autor sobre a norma gramatical.<br />

e) O termo “Mas”, do último verso, confirma a única<br />

interpretação possível do texto, já anunciada nos<br />

versos três e quatro.<br />

285. FCMSC-SP<br />

3 de maio<br />

Aprendi com meu filho de dez anos<br />

Que a poesia é a descoberta<br />

Das coisas que eu nunca vi.<br />

Oswald de Andrade<br />

As cinco alternativas apresentam afirmações extraídas<br />

do Manifesto da poesia Pau-brasil, de autoria de<br />

Oswald de Andrade. Assinale a que está relacionada<br />

com o poema 3 de maio.<br />

a) “Só não se inventou uma máquina de fazer versos<br />

– já havia o poeta parnasiano.”<br />

b) “... contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio<br />

geômetro e pelo acabamento técnico.”


PV2D-07-54<br />

c) “Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão<br />

do mundo. Ver com os olhos livres.”<br />

d) “A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira,<br />

com passarinhos cantando na mata<br />

resumida das gaiolas...”<br />

e) “Temos a base dupla e presente – a floresta e a<br />

escola.”<br />

286. UFU-MG<br />

amor<br />

humor<br />

Em relação ao poema acima transcrito, de Oswald de<br />

Andrade, assinale a alternativa correta.<br />

a) A prosa poética é uma conquista do movimento<br />

modernista, que abala a distinção entre os gêneros<br />

literários. Com o advento deste procedimento<br />

poético, as narrativas ganham densidade lírica em<br />

detrimento da situação dramática. Cabe ao leitor<br />

preencher as lacunas do enredo poetizado.<br />

b) O emprego do verso livre revela a valorização da<br />

unidade rítmica e semântica dessa forma poética,<br />

que se caracteriza por conter um pensamento<br />

inteligível, lógico e completo e se apóia numa organização<br />

sintática linear, sem rupturas ou elisões.<br />

c) O poeta modernista tem outra noção de poeticidade:<br />

aplica-se aos torneios verbais, em busca da<br />

assonância, da musicalidade e da grandiloqüência,<br />

no intuito de chocar assim o leitor burguês pela<br />

exuberância da forma poética obtida.<br />

d) A síntese radical constitui uma tendência da poesia<br />

modernista: trata-se de uma linha de experimentação<br />

da linguagem que retoma a teoria futurista das<br />

palavras em liberdade, aproximando o discurso<br />

poético de outros mais adequados à civilização<br />

da técnica e da velocidade.<br />

287. UFMG<br />

Todas as alternativas apresentam informações corretas<br />

sobre Pau-Brasil, exceto:<br />

a) Atualiza a poesia parnasiana e recupera sua<br />

aura.<br />

b) Corrobora a idéia de que a modernidade deve ser<br />

radical.<br />

c) Opta por se aproximar da fala brasileira.<br />

d) Transgride os limites entre prosa e poesia.<br />

e) Utiliza a paródia e a linguagem neológica.<br />

288. UFMG<br />

Todos os seguintes fragmentos, retirados de manifestos<br />

do Modernismo brasileiro, apresentam princípios<br />

também contidos na obra Pau-Brasil, exceto:<br />

a) A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e<br />

neológica. A contribuição milionária de todos os<br />

erros. Como falamos. Como somos.<br />

b) A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e<br />

de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino,<br />

são fatos estéticos.<br />

c) Contra os importadores de consciência enlatada.<br />

A existência palpável da vida. E a mentalidade<br />

pré-lógica (...)<br />

d) Temos de construir essa grande nação, integrando<br />

na Pátria comum todas as nossas expressões<br />

históricas, étnicas, sociais, religiosas e políticas.<br />

Pela força centrípeta do elemento tupi.<br />

e) Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos,<br />

nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas<br />

questões cambiais, sem perder de vista o Museu<br />

Nacional.<br />

289. Fatec-SP<br />

I. Há águias de sertão, que criam nos montes altos,<br />

e emas tão grandes como as de África, umas<br />

brancas e outras malhadas de negro que, sem<br />

voarem do chão, com uma asa levantada ao alto<br />

ao modo de vela latina, correm com o vento como<br />

caravelas, e contudo as tomam os índios a cosso<br />

nas campinas.<br />

Frei Vicente do Salvador<br />

II. Há águias de sertão<br />

E emas tão grandes como as de África<br />

Umas brancas e outras malhadas de negro<br />

Que com uma asa levantada ao alto<br />

Ao modo de vela latina<br />

Correm com o vento<br />

Oswald de Andrade<br />

Assinale a alternativa incorreta.<br />

a) O texto I pertence à crônica histórica sobre o<br />

Brasil-Colônia e tem, mais que valor literário propriamente<br />

dito, grande interesse como reflexo das<br />

condições primitivas da cultura brasileira.<br />

b) O texto II utiliza o texto I como matriz, a partir da<br />

qual busca restabelecer as fontes da nacionalidade<br />

na literatura brasileira.<br />

c) O texto II identifica-se com a poesia Pau-Brasil,<br />

estilo inaugurado por Oswald de Andrade no movimento<br />

modernista.<br />

d) O texto II constitui uma paródia do texto I, na medida<br />

em que praticamente o reproduz, satirizando<br />

a visão ingênua da natureza brasileira primitiva.<br />

e) A operação de “reescritura” feita pelo texto II,<br />

apesar de consistir de simples recorte e remontagem,<br />

tem a capacidade de destacar imagens e<br />

traços de inventividade da linguagem descritiva<br />

do texto I.<br />

290. FMU-SP<br />

O tema da pátria distante foi retomado por muitos poetas.<br />

Um deles, Oswald de Andrade, do Modernismo.<br />

São características do Modernismo:<br />

a) linguagem coloquial, valorização do nacional, tom<br />

irônico, liberação absoluta da forma.<br />

b) nacionalismo, tom irônico, linguagem retórica,<br />

liberdade de composição.<br />

c) saudosismo, crítica social, verde-amarelismo,<br />

regras rígidas de composição.<br />

d) linguagem retórica, saudosismo, nacionalismo,<br />

regras rígidas de composição.<br />

e) linguagem retórica, liberdade de composição,<br />

cientificismo, tom irônico.<br />

235


291. UFSE<br />

Oferta<br />

Quem sabe O elevador<br />

Se algum dia Até aqui<br />

Traria O teu amor<br />

Os versos acima permitem afirmar corretamente que<br />

a poesia de Oswald de Andrade:<br />

a) revela o esforço, por parte do escritor, de acercar-se<br />

impessoalmente dos objetos e pessoas,<br />

respondendo aos métodos científicos das últimas<br />

décadas do século XIX.<br />

b) apresenta desarticulação total do verso, produzindo<br />

um modo novo de dispor o texto no espaço do papel,<br />

sendo, por isso, precursora da poesia concreta.<br />

c) deixa transparecer, pela temática e pelo tratamento<br />

dispensado à forma, a raiz neo-romântica que a<br />

caracteriza, responsável pelo caráter saudosista<br />

de grande parte da obra do autor.<br />

d) revela um poeta dilacerado entre matéria e espírito,<br />

valendo-se de todos os recursos lingüísticos para sugerir<br />

o seu desejo do transcendente: aliterações, rimas,<br />

ressonâncias internas, uso de letras maiúsculas.<br />

e) denota a aversão radical do poeta a integrar-se<br />

no ritmo da vida em sociedade, abandonando-se<br />

ao lirismo bucólico e buscando uma forma de<br />

expressão adequada ao seu ritmo interior.<br />

Texto para as questões de 292 a 297.<br />

Leia o texto de Oswald de Andrade.<br />

236<br />

Senhor feudal<br />

Se Pedro Segundo<br />

Vier aqui<br />

Com história<br />

Eu boto ele na cadeia.<br />

292. Unifesp<br />

De acordo com a norma-padrão, o último verso assumiria<br />

a seguinte forma:<br />

a) Eu boto-lhe na cadeia.<br />

b) Boto-no na cadeia.<br />

c) Eu o boto na cadeia.<br />

d) Eu lhe boto na cadeia.<br />

e) Lhe boto na cadeia.<br />

293. Unifesp<br />

Considere as seguintes características do Modernismo<br />

brasileiro:<br />

I. busca de uma língua brasileira;<br />

II. versos livres;<br />

III. ironia e humor.<br />

Nos versos de Oswald de Andrade:<br />

a) apenas I está presente.<br />

b) apenas III está presente.<br />

c) apenas I e II estão presentes.<br />

d) apenas I e III estão presentes.<br />

e) I, II e III estão presentes.<br />

294. Unifesp<br />

Considerando os pressupostos do Modernismo e da<br />

poética oswaldiana, é correto afirmar que a alusão a<br />

D. Pedro II, figura da corte portuguesa, sugere:<br />

a) a reafirmação da base literária brasileira, decalque<br />

dos valores europeus.<br />

b) a negação do valor da literatura portuguesa, apresentando<br />

a brasileira como insuperável.<br />

c) a sátira ao referencial artístico português e, por<br />

extensão, critica à importação dos valores literários<br />

europeus.<br />

d) o confronto entre a arte literária brasileira e a portuguesa,<br />

elucidando a inevitável influência desta<br />

para a formação daquela.<br />

e) a pouca influência recebida da arte literária portuguesa,<br />

o que confere autenticidade à literatura<br />

brasileira.<br />

295. Unifesp<br />

No contexto, a expressão “com história”, significa:<br />

a) um colóquio de intelectuais.<br />

b) uma conversa fiada.<br />

c) um comunicado urgente.<br />

d) uma prosa de amigos.<br />

e) um diálogo sério.<br />

296. Unifesp<br />

O título do poema de Oswald remete o leitor à Idade<br />

Média. Nele, assim como nas cantigas de amor, a idéia<br />

de poder retoma o conceito de:<br />

a) fé religiosa.<br />

b) relação de vassalagem.<br />

c) idealização do amor.<br />

d) saudade de um ente distante.<br />

e) igualdade entre as pessoas.<br />

297. Unifesp<br />

A correlação entre os tempos verbais está correta em:<br />

a) Se Pedro Segundo viesse aqui com história, eu<br />

botaria ele na cadeia.<br />

b) Se Pedro Segundo vem aqui com história, eu<br />

botava ele na cadeia.<br />

c) Se Pedro Segundo viesse aqui com história, eu<br />

boto ele na cadeia.<br />

d) Se Pedro Segundo vinha aqui com história, eu<br />

botara ele na cadeia.<br />

e) Se Pedro Segundo vier aqui com história, eu terei<br />

botado ele na cadeia.<br />

298. UFF-RJ<br />

Pero Vaz de Caminha<br />

a descoberta<br />

Seguimos nosso caminho por este mar de longo<br />

Até a oitava da Páscoa<br />

Topamos aves<br />

E houvemos vista de terra<br />

os selvagens<br />

Mostraram-lhes uma galinha<br />

Quase haviam medo dela<br />

E não queriam pôr a mão<br />

E depois a tomaram como espantados<br />

primeiro chá


PV2D-07-54<br />

Depois de dançarem<br />

Diogo Dias<br />

Fez o salto real<br />

as meninas da gare<br />

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis<br />

Com cabelos mui pretos pelas espáduas<br />

E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas<br />

Que de nós as muito olharmos<br />

Não tínhamos nenhuma vergonha<br />

ANDRADE, Oswald. Poesias Reunidas.<br />

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.80.<br />

O procedimento poético empregado por Oswald de<br />

Andrade no texto é:<br />

a) reconhecer e adotar a métrica parnasiana, criando<br />

estrofes simétricas e com títulos.<br />

b) recortar e recriar em versos trechos da carta de<br />

Caminha, dando-lhes novos títulos.<br />

c) imitar e refazer em prosa a carta de Caminha,<br />

criando títulos para as várias seções.<br />

d) reconhecer e retomar a prática romântica, dando<br />

títulos nacionalistas às estrofes.<br />

e) identificar e recusar os processos de colagem<br />

modernistas, dando-lhes títulos novos.<br />

299. UFPE<br />

Na questão a seguir escreva nos parênteses a letra<br />

(V) se a afirmativa for verdadeira ou (F) se for falsa.<br />

Observe:<br />

O céu jogava tina de água sobre o noturno que me<br />

devolvia a São Paulo.<br />

O comboio brecou lento para as ruas molhadas, furou<br />

a gare suntuosa e me jogou nos óculos mineiros de um grupo<br />

negro. Sentaram-me num automóvel de pêsames.<br />

Oswald Andrade<br />

( ) Seu autor é modernista da ultima fase, não tendo<br />

participado da Semana de Arte Moderna.<br />

( ) O nacionalismo de Oswald de Andrade foi uma<br />

volta ao ufanismo parnasiano, sem perspectiva<br />

crítica.<br />

( ) Principal divulgador da orientação nacionalista<br />

primitiva, participou do movimento Pau-Brasil e<br />

do movimento Antropofágico.<br />

( ) Oswaldo de Andrade escreveu os textos mais<br />

corrosivos da estética modernista, destruindo os<br />

padrões tradicionais de narrativa.<br />

( ) Como se pode observar no texto, Oswald de Andrade<br />

destacou-se pela inovação no uso dos termos<br />

com derivações e formações estrangeiras, além<br />

de metáforas inusitadas. Sua narrativa estabelece<br />

uma mistura entre o descritivo e o narrativo.<br />

300. Mackenzie-SP<br />

Bonde<br />

O transatlântico mesclado<br />

Dlendlena e esguicha luz<br />

Postretutas e famias sacolejam<br />

Oswald de Andrade<br />

Considere as seguintes afirmações.<br />

I. O texto apresenta linguagem concisa e aproveita,<br />

poeticamente, variantes lingüísticas populares.<br />

II. O texto utiliza a chamada “linguagem cinematográfica”<br />

dos modernistas a serviço da recriação<br />

de cena cotidiana.<br />

III. O uso de neologismo e a regularidade métrica do<br />

texto exemplificam a tendência estética do início<br />

do século XX.<br />

IV. O experimentalismo preconizado pelos poetas da<br />

Semana de 22 revela-se, por exemplo, no uso das<br />

palavras “postretutas” e “famias”, que concretizam,<br />

foneticamente, a idéia do sacolejo.<br />

Assinale:<br />

a) se todas estiverem corretas.<br />

b) se todas estiverem incorretas.<br />

c) se apenas I e II estiverem corretas.<br />

d) se apenas I, II e III estiverem corretas.<br />

e) se apenas I, II e IV estiverem corretas.<br />

301.<br />

Profundamente<br />

Quando ontem adormeci<br />

Na noite de São João<br />

Havia alegria e rumor<br />

Estrondos de bombas luzes de Bengala<br />

Vozes cantigas e risos<br />

Ao pé das fogueiras acesas.<br />

No meio da noite despertei<br />

Não ouvi mais vozes e risos<br />

Apenas balões<br />

Passavam errantes<br />

Silenciosamente<br />

Apenas de vez em quando<br />

O ruído de um bonde<br />

Cortava o silêncio<br />

Como um túnel.<br />

Onde estavam os que há pouco<br />

Dançavam<br />

Cantavam<br />

E riam<br />

Ao pé das fogueiras acesas?<br />

– Estavam todos dormindo<br />

Estavam todos deitados<br />

Dormindo<br />

Profundamente<br />

Quando eu tinha seis anos<br />

Não pude ver o fim da festa de São João<br />

Porque adormeci<br />

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo<br />

Minha avó<br />

Meu avô<br />

Totônio Rodrigues<br />

Tomásia<br />

Rosa<br />

Onde estão todos eles?<br />

– Estão todos dormindo<br />

Estão todos deitados<br />

Dormindo<br />

Profundamente.<br />

237


No poema de Manuel Bandeira encontram-se todos os<br />

caracteres do poeta, alinhados abaixo, exceto:<br />

a) sentimento de solidão.<br />

b) sentimento de perda.<br />

c) temática da cultura brasileira.<br />

d) temática da morte.<br />

e) temática pessoal, familiar.<br />

302. UFRJ<br />

Civilização pernambucana<br />

As mulheres andam tão louçãs*<br />

E tão custosas<br />

Que não se contentam com os tafetás<br />

São tantas as jóias com que se adornam<br />

Que parecem chovidas em suas cabeças e gargantas<br />

As pérolas rubis diamantes<br />

Tudo são delícias<br />

Não parece esta terra senão um retrato<br />

Do terreal paraíso<br />

ANDRADE, Oswald de. Poesias completas. Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1971. 5. ed., p. 144. In. MAIA, J. D.<br />

Literatura: textos & técnicas. São Paulo. Ática, 1995, p. 27.<br />

louçãs: elegantes, graciosas.<br />

O texto cria uma aproximação com a carta de Pero Vaz<br />

de Caminha, inspirado principalmente na linguagem,<br />

como se verifica nos dois primeiros versos.<br />

A característica da obra de Oswald de Andrade, comprovada<br />

através dessa aproximação, é:<br />

a) a ruptura com os padrões da língua literária culta.<br />

b) o resgate crítico do passado brasileiro por meio da<br />

paródia.<br />

c) a introdução das correntes de vanguarda nos textos<br />

modernistas.<br />

d) a visão ingênua de um Brasil moderno-primitivo.<br />

e) o deboche irônico do mundo dos acadêmicos e dos<br />

burgueses.<br />

303. PUC-MG<br />

A questão a seguir está relacionada à obra Memórias<br />

sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade.<br />

Todos os termos, destacados nas passagens extraídas<br />

de Memórias Sentimentais de João Miramar, são<br />

neologismos, exceto:<br />

a) “O furo do ambiente calmo da cabina cosmoramava<br />

pedaços de distância do litoral”<br />

b) “Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel<br />

arborizado das avenidas marinhas sem sol.”<br />

c) “O banqueiro cervejeiro interpelara-me na sala<br />

rubra metralhada de dáctilos e gráficos.”<br />

d) “Pantico não tivera educação desde criança e por<br />

isso amava vagamundear.”<br />

304. PUC-MG<br />

A questão abaixo está relacionada à obra Memórias sentimentais<br />

de João Miramar, de Oswald de Andrade.<br />

Em todas as alternativas, o recurso de linguagem corresponde<br />

à frase retirada de Memórias sentimentais<br />

de João Miramar, exceto em:<br />

a) Metonímia – “No quarto de dormir ralhos queridos<br />

não queriam que eu andasse com meu primo.”<br />

238<br />

b) Metáfora – “A viúva envelhecida era um peito de<br />

tábuas.”<br />

c) Comparação – “A costa brasileira depois de um<br />

pulo de farol sumiu como um peixe.”<br />

d) Personificação – “Eu pendia mais para bilhares<br />

centrais que para pesquisas científicas.”<br />

305. PUC-MG<br />

O crítico Antonio Candido faz a seguinte observação a<br />

respeito de algumas obras de Oswald de Andrade:<br />

Estilo baseado no choque (das imagens, das<br />

surpresas, das sonoridades), formando blocos curtos<br />

e às vezes simples frases que se vão justapondo de<br />

maneira descontínua, numa quebra total das seqüências<br />

corridas e compactas da tradição realista.<br />

Identifique a passagem retirada de Memórias sentimentais<br />

de João Miramar em que a observação feita<br />

pelo crítico não pode ser constatada.<br />

a) Um cão ladrou à porta barbuda em mangas de camisa<br />

e uma lanterna bicor mostrou os iluminados na<br />

entrada da parede. O cachorro deitado tinha duas<br />

caras com uma de esfinge e cabelos bebês.<br />

b) Além do orador ilustre escritor Machado Penumbra<br />

que foi muitíssimo cumprimentado, conheci nessa<br />

noite o fino poeta Sr. Fíleas de muita cultura e<br />

convidei-os para casa porque tinham talento.<br />

c) Chapelões e revolvers de último modelo saíam<br />

mecanicamente das telas bulhentas e passeavam<br />

calmos nas ruas irrigadas do pó vermelho.<br />

Tabeliães transmissões de papel tostado e selo do<br />

império com grilos milionários a saibam quantos.<br />

d) Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas<br />

gostosas. Rolah ia vinha derrapava entrava em<br />

túneis. Copacabana era um veludo arrepiado na<br />

luminosa noite varada pelas frestas da cidade.<br />

306. Fatec-SP<br />

Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori<br />

Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural.<br />

Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo,à<br />

Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao<br />

bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.<br />

Nunca fomos catequizados. Vivemos através de<br />

um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia.<br />

Ou em Belém do Pará.<br />

A partir da leitura do trecho do Manifesto antropófago,<br />

explique o sentido de “Antropofagia” como meio de<br />

nacionalização da arte.<br />

307. Mackenzie-SP<br />

Houve um fenômeno de democratização estética<br />

nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo.<br />

Copiar. Quadro de carneiros que não fosse<br />

de lã mesmo, não prestava. (...) Veio a pirogravura. As<br />

meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a<br />

máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do<br />

cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade<br />

de olho virado – o artista fotógrafo.<br />

Só não se inventou uma máquina de fazer versos<br />

– já havia o poeta parnasiano.<br />

Manifesto da poesia Pau-Brasil – Oswald de Andrade.<br />

No texto, o autor:


PV2D-07-54<br />

a) critica a estética naturalista, já que esta subordina<br />

os dados da observação da realidade aos do imaginário<br />

artístico.<br />

b) apóia a democratização estética, especialmente<br />

pelo fato de possibilitar que todos façam arte.<br />

c) vê no artista fotógrafo a grande renovação da arte<br />

do século XX.<br />

d) considera os parnasianos como artífices do verso<br />

e, portanto, como autênticos criadores de poesia.<br />

e) critica algumas manifestações estéticas devido à<br />

falta de criatividade artística que revelam.<br />

308. Mackenzie-SP<br />

erro de português<br />

Quando o português chegou<br />

Debaixo de uma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português.<br />

Oswald de Andrade<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Considerando que a oposição vestir vs. despir<br />

representa a oposição colonizador vs. colonizado,<br />

vemos, no primeiro pólo, a impotência diante<br />

do poder.<br />

b) O título apresenta clara e exclusivamente a denúncia<br />

da decadência da língua portuguesa, devido a<br />

um crescente descuido dos falantes.<br />

c) A ambigüidade do título ajuda a construir o significado<br />

de desestabilização de tudo o que é sério,<br />

respeitável e cristalizado.<br />

d) As ações do colonizador e do colonizado relacionam-se<br />

às idéias de cerceamento da liberdade;<br />

naquelas, a alegria do sol; nestas, a tristeza da<br />

chuva.<br />

e) O tom predominante de lamento triste propõe a<br />

recuperação positiva da figura do colonizador<br />

português, mal assimilada pelos índios.<br />

309.<br />

Lenda brasileira<br />

A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma<br />

à cara: o que saiu do mato foi o Veado Branco! Bentinho<br />

ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho e<br />

não pôde.<br />

– Deus me perdoe!<br />

Mas o Cussaruim veio vindo, veio vindo, parou<br />

junto do caçador e começou a comer devagarinho o<br />

cano da espingarda.<br />

O texto anterior pertence ao livro Libertinagem, de<br />

Manuel Bandeira.<br />

a) Por que podemos considerá-lo um poema em<br />

prosa ou uma prosa poética?<br />

b) Pelo título do poema em prosa, podemos relacioná-lo<br />

a que outra obra da literatura brasileira?<br />

Explique.<br />

3<strong>10</strong>. PUC-MG<br />

Leia atentamente o texto a seguir. Ele é um capítulo de<br />

Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald<br />

de Andrade.<br />

Gare do infinito<br />

Papai estava doente na cama e vinha um carro e<br />

um homem e o carro ficava esperando no jardim.<br />

Levaram-me para uma casa velha que fazia doces<br />

e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma<br />

figueira na janela.<br />

No desabafar do jantar noturno a voz toda preta<br />

de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que<br />

carregou meu pai.<br />

Todas as alternativas a seguir contêm afirmações<br />

possíveis para esse capítulo, exceto:<br />

a) A linguagem surrealista e metonímica provoca<br />

impacto no leitor e singulariza a percepção de<br />

mundo.<br />

b) O texto apresenta uma sintaxe, um vocabulário e<br />

uma visão de morte próprios de uma criança.<br />

c) O capítulo, relatando a morte do pai, pode ser<br />

sintetizado no título Gare do infinito.<br />

d) A escrita oswaldiana é densa e bem elaborada:<br />

carrega um máximo de imagens num mínimo<br />

espaço verbal.<br />

e) A ausência de pontuação empresta lentidão e<br />

afastamento das imagens enumeradas.<br />

Texto para as questões 311 e 312.<br />

[...] Nos consola é ver o povo inculto criando aqui<br />

uma música nativa que está entre as mais belas e<br />

mais ricas.<br />

Pois colhendo elementos alheios, triturando-os na<br />

subconsciência nacional, dirigindo-os, amoldando-os,<br />

se fecundando, a música popular brasileira viveu todo<br />

o século XIX, bem pouco étnica ainda. Mas no último<br />

quarto do século principiam aparecendo com mais<br />

frequência produções dotadas de fatalidade radical. E,<br />

no trabalho da expressão original e representativa, não<br />

careceu nem cinqüenta anos: adquiriu caráter, criou<br />

formas e processos típicos. Manifestações duma raça<br />

muito variada ainda como psicologia, a nossa música<br />

popular é variadíssima.<br />

Tão variada que às vezes desconcerta quem a<br />

estuda. [...]<br />

ANDRADE, Mário de. Pequena história da música. 6 ed.<br />

São Paulo: Martins/Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.<br />

311. UFRJ<br />

O escritor modernista Oswald de Andrade, no Manifesto<br />

antropófago (1928), afirma a propósito das relações<br />

entre a cultura brasileira e a de nossos colonizadores:<br />

Mas não foram cruzados que vieram.<br />

Foram fugitivos de uma civilização que estamos<br />

comendo, porque somos fortes[...}<br />

Do 1o período do 2o parágrafo do texto (Mário de<br />

Andrade), retire dois vocábulos que melhor traduzam<br />

a idéia do trecho destacado.<br />

239


312. UFRJ<br />

Explicite essa idéia, considerando o projeto modernista.<br />

313.<br />

Leia o capítulo a seguir, extraído de Memórias sentimentais<br />

de João Miramar, romance de Oswald de<br />

Andrade.<br />

Botafogo etc.<br />

Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel<br />

arborizado das avenidas marinhas sem sol.<br />

Losangos tênues de ouro bandeiranacionalizavam<br />

o verde dos montes interiores.<br />

No outro lado azul da baía a Serra dos Órgãos<br />

serrava.<br />

Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas<br />

gostosas. Rolah ia vinha derrapava entrava em túneis.<br />

Copacabana era um veludo arrepiado na luminosa<br />

noite varada pelas frestas da cidade.<br />

A partir da leitura do texto, caracterize a prosa de<br />

Oswald de Andrade.<br />

314. Unicamp-SP<br />

Texto I<br />

erro de português<br />

Quando o português chegou<br />

Debaixo duma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português<br />

Oswald de Andrade, in: Poesias reunidas<br />

Texto II<br />

(...)<br />

Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval.<br />

O índio vestido de Senador do império (...). Ou<br />

figurando nas óperas de Alencar cheio de bons<br />

sentimentos.<br />

(...)<br />

Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria.<br />

(...):<br />

(...)<br />

Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do<br />

céu (...)<br />

Oswald de Andrade, Manifesto Antropófago<br />

Levando em conta a leitura do poema erro de português<br />

(texto I) e dos fragmentos do Manifesto Antropófago<br />

(texto II), responda às questões a seguir.<br />

a) O que exprime o quarto verso do poema?<br />

b) Que relação os três últimos versos estabelecem<br />

com os três primeiros?<br />

c) Que relação o poema, como um todo, estabelece com<br />

as idéias presentes nos fragmentos do Manifesto?<br />

315. FGV-SP<br />

Tendo como base o fato de a obra Macunaíma, de<br />

Mário de Andrade, ser uma das maiores representações<br />

literárias das renovações formais e temáticas do<br />

Modernismo brasileiro, sobretudo no que se refere<br />

ao pensamento crítico exposto no Manifesto Antro-<br />

240<br />

pofágico de Oswald de Andrade, leia com atenção os<br />

fragmentos extraídos da obra em questão e desenvolva<br />

os itens que se seguem.<br />

Texto 1<br />

Era assim. Saudaram todos os santos da pajelança,<br />

o Boto Branco que dá amores Xangô, Omulu, Iroco<br />

Ochosse, a Boiúna Mãe feroz, Obatalá que dá força pra<br />

brincar muito, todos esses santos e o çairê se acabou.<br />

Tia Ciata sentou na tripeça num canto e toda aquela<br />

gente suando, médicos padeiros engenheiros rábulas<br />

polícias criadas focas assassinos, Macunaíma, todos<br />

vieram botar as velas no chão rodeando a tripeça. As<br />

velas jogaram no teto a sombra da mãe-de-santo imóvel.<br />

Já quase todos tinham tirado algumas roupas e o respiro<br />

ficara chiado por causa do cheiro de mistura budum coty<br />

pitium e o suor de todos. Então veio a vez de beber. E<br />

foi lá que Macunaíma provou pela primeira vez o cachiri<br />

temível cujo nome é cachaça. Provou estalando com a<br />

língua feliz e deu uma grande gargalhada.<br />

“Macumba” em: ANDRADE, M. de. Macunaíma.<br />

São Paulo: Livraria Martins, 1976.<br />

Texto 2<br />

Estávamos ainda abatido por termos perdido a<br />

nossa muiraquitã, em forma de sáurio, quando talvez<br />

por algum influxo metapsíquico, ou, qui lo sá, provocado<br />

por algum libido saudoso, como explica o sábio<br />

tudesco, doutor Sigmundo Freud (lede Fróide), se nos<br />

deparou em sonho um arcanjo maravilhoso. Por ele<br />

soubemos que o talismã perdido estava nas diletas<br />

mãos do doutor Venceslau Pietro Pietra, súbdito do<br />

Vice-Reinado de Peru, e de origem francamente florentina,<br />

como os Cavalcantis de Pernambuco. E como<br />

o doutor demorasse na ilustre cidade anchietana, sem<br />

demora nos partimos para cá, em busca do velocino<br />

roubado. As nossas relações actuais com o doutor Venceslau<br />

são as mais lisonjeiras possíveis; e sem dúvida<br />

mui para breve recebereis a grata nova de que hemos<br />

reavido o talismã: e por ela vos pediremos alvíçaras.<br />

“Carta pras Icamiabas” em: ANDRADE, M. de. Macunaíma.<br />

São Paulo: Livraria Martins, 1976.)<br />

a) O processo antropofágico manifesta-se, no primeiro<br />

texto, tanto no plano de conteúdo como no<br />

plano de expressão. Explique como esse processo<br />

se manifesta temática e lingüisticamente.<br />

b) Relacione os dois fragmentos tendo como fio condutor<br />

o efeito de sentido verdadeiro versus falso.<br />

316. UFRJ<br />

Escapulário<br />

No Pão de Açúcar<br />

De Cada Dia<br />

Dai-nos Senhor<br />

A Poesia<br />

De Cada Dia<br />

in: ANDRADE, Oswald de. Poesia reunidas. 5a ed.<br />

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1917, p. 75<br />

Nota: escapulário: objeto de devoção formado por<br />

dois quadrados de pano bento, com orações ou uma<br />

relíquia, que os devotos trazem ao pescoço.<br />

A crítica literária considera que a poesia de Oswald de<br />

Andrade apresenta duas vertentes: uma ‘destrutiva’ e<br />

uma ‘construtiva’. Explique de que modo esses dois<br />

traços aparecem na intertextualidade realizada por<br />

Oswald no poema.


PV2D-07-54<br />

317.<br />

Todas as afirmações abaixo, a respeito de Macunaíma,<br />

de Mário de Andrade, são corretas, exceto:<br />

a) Trata-se de uma antologia do folclore brasileiro,<br />

coletânea das lendas e dos mitos indígenas e<br />

folclóricos, uma verdadeira rapsódia.<br />

b) Macunaíma é um herói repleto de contradições,<br />

individualmente, alheio a problemas sociais e políticos,<br />

sem preocupações morais, um verdadeiro<br />

anti-herói, que se contrapõe a uma sociedade<br />

tecnológica, moderna.<br />

c) Depois de derrotar o Gigante Piaimã e reconquistar<br />

o amuleto, a pedra muiraquitã, Macunaíma, doente e<br />

cansado de viver, não achando mais graça no mundo,<br />

resolve ir para o céu e, sem voltar para o Uraricoera,<br />

transforma-se na constelação Ursa Maior.<br />

d) “Carta pras Icamiabas” é uma paródia e uma sátira<br />

violenta ao caráter afetado e formal do estilo<br />

parnasiano da época.<br />

e) O espaço e o tempo da narrativa não são delimitados:<br />

indeterminados, misturam-se livremente<br />

dentro do chamado universo mítico da obra.<br />

318.<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Lá sou amigo do rei<br />

Lá tenho a mulher que eu quero<br />

Na cama que escolherei<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Aqui eu não sou feliz<br />

Lá a existência é uma aventura<br />

(...)<br />

Em Pasárgada tem tudo<br />

É outra civilização<br />

Tem um processo seguro<br />

De impedir a concepção<br />

Tem telefone automático<br />

Tem alcalóide à vontade<br />

Tem prostitutas bonitas<br />

Para a gente namorar<br />

E quando eu estiver mais triste<br />

Mas triste de não ter jeito<br />

Quando de noite me der<br />

Vontade de me matar<br />

– Lá sou amigo do rei –<br />

Terei a mulher que eu quero<br />

Na cama que escolherei<br />

Vou-me embora pra Pasárgada.<br />

O caráter ____________ do poema revela-se pela<br />

referência à possibilidade de viver plenamente a vida,<br />

sem quaisquer impedimentos.<br />

a) Confessional<br />

b) Satírico<br />

c) Caótico<br />

d) Sincrético<br />

e) Hermético<br />

319. PUC-SP<br />

01 Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Lá sou amigo do rei<br />

Lá tenho a mulher que eu quero<br />

Na cama que escolherei<br />

05 Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Aqui eu não sou feliz<br />

Lá a existência é uma aventura<br />

De tal modo inconseqüente<br />

<strong>10</strong> Que Joana a Louca de Espanha<br />

Rainha e falsa demente<br />

Vem a ser contraparente<br />

Da nora que nunca tive.<br />

As estrofes apresentadas são do poema de Manuel<br />

Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada. Do poema<br />

como um todo é incorreto afirmar que:<br />

a) a palavra Pasárgada refere-se ao nome de uma<br />

famosa cidade fundada pelo rei Ciro, na Pérsia.<br />

b) a metáfora dominante no poema é a busca da<br />

felicidade, materializada em Pasárgada, espécie<br />

de terra prometida.<br />

c) o texto é elaborado em redondilha maior e isso lhe<br />

dá a marca de poesia popular.<br />

d) dialoga com a Canção do exílio, de Gonçalves<br />

Dias, por força do advérbio de lugar que designa<br />

dois espaços diferentes.<br />

e) constitui-se de versos brancos e de métrica irregular,<br />

caracterizadores da poética modernista.<br />

Texto para as questões de 320 a 323.<br />

Sacha e o poeta<br />

Quando o poeta aparece,<br />

Sacha levanta os olhos claros,<br />

Onde a surpresa é o sol que vai nascer.<br />

O poeta a seguir diz coisas incríveis,<br />

Desce ao fogo central da Terra,<br />

Sobe na ponta mais alta das nuvens,<br />

Faz gurugutu pif paf,<br />

Dança de velho,<br />

Vira Exu,<br />

Sacha sorri como o primeiro arco-íris.<br />

O poeta estende os braços, Sacha vem com ele.<br />

A serenidade voltou de muito longe<br />

Que se passou do outro lado?<br />

Sacha mediunizada<br />

– Ah-pa-papapá-papá–<br />

Transmite em Morse ao poeta<br />

A última mensagem dos Anjos.<br />

Manuel Bandeira<br />

320. Faenquil-SP<br />

O poema de Bandeira, como se pode notar desde o<br />

título, fala da relação entre Sacha e o poeta. De acordo<br />

com o poema, pode-se perceber que Sacha é:<br />

a) um bebê, pois ainda não sabe falar (“gurugutu pif paf”<br />

e “pa-papapá-papá”) e está descobrindo o mundo.<br />

b) uma adolescente, pois reflete sobre a vida e<br />

acompanha o poeta em suas andanças (“O poeta<br />

estende os braços, Sacha vem com ele”).<br />

241


c) uma mulher por quem o poeta tem grande amor e<br />

carinho e para quem dedica seu poema (“Quando o<br />

poeta aparece, Sacha levanta os olhos claros”).<br />

d) uma pessoa idosa, cuja experiência é aproveitada<br />

pelo poeta como inspiração (“Sacha mediunizada”<br />

e “Transmite em Morse ao poeta”).<br />

e) um espírito que é apresentado como a fonte de<br />

inspiração do poeta e que lhe transmite a “última<br />

mensagem dos anjos”.<br />

321. Faenquil-SP<br />

Sacha sorri como o primeiro arco-íris.<br />

Assinale a alternativa que melhor explica o significado<br />

deste verso no contexto do poema.<br />

a) O sorriso de Sacha faz o eu lírico recordar bons<br />

momentos de seu tempo de infância.<br />

b) O sorriso de Sacha permite ao poeta expressar o<br />

carinho que ele sente por ela.<br />

c) O eu lírico vê, no sorriso de Sacha, uma pontinha de<br />

tristeza que se esconde por trás de sua beleza.<br />

d) A espontaneidade do sorriso de Sacha é, para o<br />

eu lírico, uma revelação de beleza, ingenuidade e<br />

vida.<br />

e) Para o eu lírico, o sorriso de Sacha é uma recompensa<br />

pelos sofrimentos e pelas dificuldades da vida.<br />

322. Faenquil-SP<br />

Segundo o poema, a criação poética é:<br />

a) resultado da técnica, do domínio da linguagem e<br />

do estudo da literatura.<br />

b) um trabalho árduo e cuidadoso, por meio do qual<br />

o poeta exprime seus pensamentos.<br />

c) fruto da inspiração que brota da vontade do poeta<br />

de exprimir seus sentimentos.<br />

d) uma brincadeira, por meio da qual se descobre e<br />

se significa o mundo.<br />

e) resultado do engajamento político do poeta, do<br />

seu desejo de criticar a sociedade e suas hipocrisias.<br />

323. Faenquil-SP<br />

O poema de Bandeira revela traços típicos da poesia<br />

moderna, tais como:<br />

a) o gosto do popular, a incorporação do folclore<br />

brasileiro e o interesse em descrever a realidade<br />

concreta.<br />

b) o rigor de construção, a obediência aos princípios<br />

ditados pela tradição poética e o verso livre.<br />

c) o uso de uma linguagem despojada e a liberdade<br />

de criação dos temas e das formas de expressão.<br />

d) a incorporação de elementos típicos da realidade<br />

brasileira e o equilíbrio clássico da composição.<br />

e) a objetividade, a racionalidade e a harmonia<br />

construídas de acordo com as regras da arte<br />

clássica.<br />

324. UFU-MG<br />

A propósito do poema, de autoria de Manuel Bandeira,<br />

transcrito a seguir, assinale a alternativa correta.<br />

242<br />

Madrigal tão engraçadinho<br />

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje<br />

na minha<br />

[vida, inclusive o porquinho-da-índia que<br />

[me deram quando eu tinha seis anos.<br />

a) O título do poema contém ironia, tipicamente<br />

modernista, que mantém a forma tradicional do<br />

madrigal romântico no que concerne ao número de<br />

estrofes. Além disso, conserva intacta a temática<br />

relacionada com o idílio pastoril parnasiano.<br />

b) O primeiro verso do poema é branco, pois não rima,<br />

e bárbaro, pois excede as 12 sílabas poéticas; de<br />

outro modo, as rimas externas e misturadas dos outros<br />

versos do poema constroem o versolibrismo.<br />

c) Este poema dialoga com outro, pertencente ao livro<br />

Libertinagem. Em ambos, o eu poético reprisa seu<br />

amor por um porquinho-da-índia antropomorfizado,<br />

construindo, assim, uma maneira bem humorada<br />

de questionar o lirismo amoroso passadista.<br />

d) Neste poema, desde o seu título, é possível reconhecer<br />

dados da poética modernista em sua fase<br />

combativa: uso de palavras de cunho coloquial,<br />

inserção de prosa no poema e resgate de cânones<br />

poéticos do Barroco.<br />

325. Fatec-SP<br />

Texto I<br />

Mulher, irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e curvo<br />

Jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são galas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia.<br />

Joaquim Manuel de Macedo<br />

Texto II<br />

Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em<br />

cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele se ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredita não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA<br />

Manuel Bandeira<br />

Assinale a alternativa incorreta.<br />

a) A “tradução” feita por Manuel Bandeira do poema<br />

de Joaquim Manuel de Macedo consiste no recurso<br />

chamado paródia.<br />

b) A transformação do texto original no texto de<br />

Bandeira tem como conseqüência a perda do<br />

sentido poético, principalmente porque se perde<br />

a originalidade.<br />

c) No texto I, o amor e o amante aparecem idealizados<br />

pela linguagem. A idealização é revelada<br />

e desfeita na relação entre “um homem terno e<br />

curvo” X “um sujeito”, “jurar amor” X “jurar uma<br />

paixão do tamanho de um bonde” e “chorar pranto<br />

de sangue” X “se ele se rasgar todo”.


PV2D-07-54<br />

d) A comparação dos dois textos revela o tratamento<br />

dado ao tema e à linguagem nas estéticas romântica<br />

e modernista.<br />

e) A “tradução” de “as lágrimas são galas da mentira /<br />

E o juramento manto da perfídia” por “É lágrima de<br />

cinema / É tapeação / Mentira” expõe a oposição<br />

entre o uso da linguagem formal e o da linguagem<br />

coloquial no texto poético.<br />

326. Fuvest-SP<br />

Oração a Teresinha do Menino Jesus<br />

Perdi o jeito de sofrer.<br />

Ora essa.<br />

Não sinto mais aquele gosto cabotino da tristeza.<br />

Quero alegria! Me dá alegria,<br />

Santa Teresa!<br />

Santa Teresa não, Teresinha...<br />

Teresinha... Teresinha...<br />

Teresinha do Menino Jesus.<br />

(...)<br />

Manuel Bandeira, Libertinagem.<br />

Sobre este trecho do poema, só não é correto afirmar<br />

o que está em:<br />

a) Ao preferir Teresinha a Santa Teresa, o eu lírico<br />

manifesta um desejo de maior intimidade com o<br />

sagrado, traduzida, por exemplo, no diminutivo e<br />

na omissão da palavra “Santa”.<br />

b) O feitio de oração que caracteriza estes versos<br />

não é o caso único em Libertinagem nem é raro<br />

na poesia de Bandeira.<br />

c) Embora com feitio de oração, estes versos utilizam<br />

principalmente a variedade coloquial da linguagem.<br />

d) Em “do Menino Jesus”, qualificativo de Teresinha,<br />

pode-se reconhecer um eco da predileção de<br />

Bandeira pelo tema da infância, recorrente em<br />

Libertinagem e no conjunto de sua poesia.<br />

e) Apesar de seu feitio de oração, estes versos<br />

manifestam a intenção desrespeitosa e mesmo<br />

sacrílega em relação à religião estabelecida.<br />

327. F. M. ABC-SP<br />

De Manuel Bandeira, é válido dizer que:<br />

a) foi um poeta típico do período crepuscular anterior<br />

ao Modernismo.<br />

b) voltou-se sobretudo para o mundo interior, procurando<br />

captar, com sua sensibilidade delicada, as<br />

nuanças da sombra, do indefinido, da morte.<br />

c) foi um dos grandes agitadores da literatura brasileira<br />

e, em sua obra, salientam-se experiências<br />

semânticas que fazem dele um precursor da<br />

poesia concreta.<br />

d) soube conciliar a notação intimista com o registro<br />

do mundo exterior, e sua obra poética abrange<br />

desde poemas de tom parnasiano até experiências<br />

concretistas.<br />

e) exaltou a cidade natal, fez a apologia da preguiça<br />

criadora, valorizou os mitos amazônicos.<br />

Texto para as questões de 328 a 330.<br />

O martelo<br />

As rodas rangem na curva dos trilhos<br />

Inexoravelmente.<br />

Mas eu salvei do meu naufrágio<br />

Os elementos mais cotidianos.<br />

O meu quarto resume o passado em todas<br />

[as casas que habitei.<br />

Dentro da noite<br />

No cerne duro da cidade<br />

Me sinto protegido<br />

Do jardim do convento<br />

Vem o pio da coruja<br />

Doce como um arrulho de pomba.<br />

Sei que amanhã quando acordar<br />

Ouvirei o martelo do ferreiro<br />

Bater corajoso o seu cântico de certezas.<br />

Manuel Bandeira<br />

328. Mackenzie-SP<br />

“Pio de coruja”, na tradição popular, significa “mau<br />

agouro”. “Som de martelo”, por sua vez, é considerado<br />

um som desagradável e irritante. Levando isso em<br />

conta, pode-se dizer que, nesse poema, o eu lírico:<br />

a) confirma as expectativas do leitor quanto aos sentimentos<br />

e sensações que esses sons provocam.<br />

b) quebra a expectativa do leitor quanto ao som do<br />

martelo, mas não quanto ao pio da coruja.<br />

c) quebra a expectativa do leitor quanto ao pio da<br />

coruja, mas não quanto ao som do martelo.<br />

d) cria um efeito irônico, ao associar esses sons a<br />

um sentimento de proteção.<br />

e) produz efeito humorístico, ao associar esses sons<br />

a um sentimento de tédio.<br />

329. Mackenzie-SP<br />

Assinale o fragmento que, no poema, sugere a passagem<br />

do tempo, a transitoriedade da vida.<br />

a) “Doce como um arrulho de pomba.”<br />

b) “Do jardim do convento / Vem o pio da coruja.”<br />

c) “As rodas rangem na curva dos trilhos / Inexoravelmente.”<br />

d) “Os elementos mais cotidianos.”<br />

e) “Bater corajoso.”<br />

330. Mackenzie-SP<br />

Assinale a afirmação correta.<br />

a) Em “Ouvirei o martelo do ferreiro/Bater” tem-se<br />

uma metonímia.<br />

b) A primeira estrofe particulariza a idéia geral da<br />

segunda estrofe.<br />

c) “Ouvirei o martelo do ferreiro” denota circunstância<br />

de causa para o fato de acordar.<br />

d) A conjunção “Mas”, que aparece na primeira estrofe,<br />

estabelece oposição entre “monotonia” e<br />

“intranqüilidade”.<br />

e) O verso “Os elementos mais cotidianos” remete<br />

às experiências mais simples, menos valorizadas<br />

pelo eu lírico.<br />

243


331. UFPE<br />

Manuel Bandeira reuniu grande parte da sua poesia em<br />

um único volume, o que nos permite observar que:<br />

( ) em Estrela da vida inteira estão reunidas várias<br />

antologias de Bandeira; entre outras, as primeiras,<br />

A cinza das horas e Carnaval, em que revela ainda<br />

tendências parnasianas e simbolistas, e outras,<br />

como Ritmo dissoluto, Estrela da manhã, Estrela<br />

da tarde e, por último, Mafuá do Malungo.<br />

( ) as referências biográficas tornam-se necessárias,<br />

pois sua poesia tem caráter confidencial. A tuberculose,<br />

a decadência familiar, a saudade difusa da<br />

terra natal explicam a arte contida em “toda uma<br />

vida que poderia ter sido e que não foi.”<br />

( ) na evolução de sua obra, o poeta, em adesão ao<br />

Modernismo, abandonou o lirismo em favor de<br />

críticas mordazes ao Parnasianismo, adotando, a<br />

partir de então, somente formas estéticas radicais<br />

de vanguarda.<br />

( ) a tristeza do autor de Estrela da vida inteira tomou<br />

uma direção lamentosa e doentia. O poeta<br />

não conseguiu, assim, realizar o que disse em<br />

versos: “Não quero saber do lirismo que não é<br />

libertação”.<br />

( ) seus poemas trazem como marca a simplicidade da<br />

linguagem clara, acessível e direta, marcada pela<br />

consciência da fragilidade da vida, e revelam um<br />

olhar que capta o que está por trás das coisas.<br />

Texto para as questões de 332 a 335.<br />

I<br />

Se é doce no recente, ameno estio<br />

Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,<br />

E, lambendo as areias e os verdores,<br />

Mole e queixoso deslizar-se o rio;<br />

Mais doce é ver-te de meus ais vencida,<br />

Dar-me em teus brandos olhos desmaiados<br />

Morte, morte de amor, melhor que a vida.<br />

II<br />

Doçura de, no estio recente,<br />

Ver a manhã toucar-se de flores,<br />

E o rio<br />

mole<br />

queixoso<br />

Deslizar, lambendo areias e verduras;<br />

Bocage<br />

Doçura muito maior<br />

De te ver<br />

Vencida pelos meus ais<br />

Me dar nos teus brandos olhos desmaiados<br />

Morte, morte de amor, muito melhor do que a vida, puxa!<br />

Manuel Bandeira<br />

332. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Em I e II, o eu lírico dirige-se explicitamente à<br />

amada morta.<br />

b) As semelhanças formais entre os textos I e II<br />

asseguram a identidade de sentido entre eles.<br />

c) A linguagem informal, em I, reveste-se de expressões<br />

coloquiais.<br />

244<br />

d) Em I, o uso de verbo na primeira pessoa e de<br />

interjeição é índice da emotividade do eu.<br />

e) A interjeição “puxa!” (texto II) é, ao mesmo tempo, expressão<br />

de êxtase amoroso e índice de irreverência.<br />

333. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Em I e II, amor e morte compõem uma antítese<br />

em que os termos se excluem mutuamente.<br />

b) Em I e II, a caracterização de rio colabora para a<br />

criação de um efeito de espiritualidade amorosa.<br />

c) Em II, a distribuição gráfica dos versos sugere o<br />

movimento do rio.<br />

d) Em II, a palavra verduras tem sentido oposto ao<br />

de verdores (texto I).<br />

e) Em I e II, a estrutura narrativa, apoiando-se no presente<br />

do subjuntivo, caracteriza ação hipotética.<br />

334. Mackenzie-SP<br />

No texto II, Bandeira recupera, dos versos de Bocage:<br />

a) a idealização do mundo natural.<br />

b) o sofrimento amoroso típico do egocentrismo<br />

exacerbado.<br />

c) a concepção platônica de amor, característica da<br />

poesia clássica.<br />

d) os versos brancos de tradição modernista.<br />

e) o tom irreverente dos poemas românticos.<br />

335. Mackenzie-SP<br />

O texto II é prova de que o Modernismo brasileiro, em<br />

sua fase heróica:<br />

a) apoiou-se no princípio da imitação artística, típico<br />

da arte quinhentista.<br />

b) repetiu clichês poéticos, confirmando um ideal de<br />

estética romântica.<br />

c) produziu poesia inovadora, apoiada no princípio<br />

da “arte pela arte”.<br />

d) consagrou uma linguagem poética de tom solene<br />

e grandiloqüente.<br />

e) recuperou a tradição literária de forma crítica e<br />

criativa.<br />

336.<br />

No início do século XX, surgiram algumas tendências,<br />

verdadeiras expressões artísticas revolucionárias e<br />

fundadoras da modernidade. Elas enfocavam tanto<br />

a euforia das grandes invenções (a Belle Époque)<br />

quanto o pessimismo do período entreguerras, ambos<br />

frutos da Era da Máquina. A literatura incorpora<br />

essas transformações por meio de maior dinamismo<br />

da linguagem e da ruptura com os padrões estéticos<br />

estabelecidos até então. Assinale a seguir o texto que<br />

não pode ser relacionado com tal período.<br />

a) O capoeira<br />

– Qué apanhá sordado?<br />

– O quê?<br />

– Qué apanhá?<br />

Pernas e cabeças na calçada.<br />

b) pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática


PV2D-07-54<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

Da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

c) Cota zero<br />

Stop.<br />

A vida parou<br />

ou foi o automóvel?<br />

d) <strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />

Última flor do Lácio, inculta e bela,<br />

És, a um tempo, esplendor e sepultura:<br />

Ouro nativo, que na ganga impura<br />

A bruta mina entre os cascalhos vela...<br />

Amo-te assim, desconhecida e obscura,<br />

Tuba de alto clangor, lira singela,<br />

Que tens o trom e o silvo da procela<br />

E o arrolo da saudade e da ternura!<br />

e) Paisagem<br />

Na atmosfera violeta<br />

A madrugada desbota<br />

Uma pirâmide quebra o horizonte<br />

Torres espirram do chão ainda escuro<br />

Pontes trazem nos pulsos rios bramindo<br />

Entre fogos<br />

Tudo novo se desencapotando.<br />

337. Fuvest-SP<br />

Leia atentamente o texto.<br />

Poema só para Jaime Ovalle<br />

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro<br />

(Embora a manhã já estivesse avançada.)<br />

Chovia<br />

Chovia uma triste chuva de resignação<br />

Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da<br />

noite.<br />

Então me levantei,<br />

Bebi o café que eu mesmo preparei.<br />

Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e<br />

fiquei<br />

[pensando...<br />

– Humildemente pensando na vida e nas mulheres<br />

que amei.<br />

Manuel Bandeira,<br />

Transcreva o verso que sugere a solidão do poeta.<br />

338.<br />

Leia a seguir o poema Pneumotórax, de Manuel<br />

Bandeira.<br />

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.<br />

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.<br />

Tosse, tosse, tosse.<br />

Mandou chamar o médico:<br />

– Diga trinta e três.<br />

– Trinta e três ...trinta e três... trinta e três...<br />

– Respire.<br />

....................................................................................<br />

– O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo<br />

e o pulmão direito infiltrado.<br />

– Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?<br />

– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.<br />

Assinale a alternativa correta com relação a esse texto.<br />

a) O léxico presente no texto comprova sua filiação<br />

à estética modernista; entretanto, a metrificação<br />

utilizada desautoriza tal afirmação.<br />

b) É um exemplo de prosa poética: não adota estruturas<br />

métricas anticonvencionais e comprova<br />

a ironia e o sentimento tragicômico do autor com<br />

relação à morte, como comprova a expressão<br />

“tango argentino”.<br />

c) Comprova que a divisão didática entre os gêneros<br />

literários (lírico, épico/narrativo, dramático), que<br />

afirma serem estes excludentes entre si, nem sempre<br />

corresponde à realidade, já que eles podem<br />

se entrecruzar.<br />

d) Este texto é um poema, mas nele não há poesia,<br />

já que a proposta modernista é romper com a<br />

experiência literária do passado.<br />

e) É um texto no qual a subjetividade não encontra<br />

espaço para sua manifestação plena, posto que o<br />

coloquialismo e o prosaico, tão presentes na obra<br />

do autor, não favorecem a qualidade poética.<br />

339. UFF-RJ<br />

Observe as estrofes abaixo.<br />

1. Oh! que saudades que eu tenho<br />

Da aurora da minha vida.<br />

Da minha infância querida<br />

Que os anos não trazem mais.<br />

Casimiro de Abreu<br />

2. – Voei ao Recife, no cais<br />

Pousei, na rua da Aurora<br />

– Aurora da minha vida,<br />

Que os anos não trazem mais!<br />

– Que os anos, não, nem os dias<br />

Que isso cabe às cotovias.<br />

Manuel Bandeira<br />

Em qual das alternativas encontram-se características<br />

dos movimentos literários aos quais pertenceram,<br />

respectivamente, os dois poetas anteriores?<br />

a) 1. Culto à forma<br />

2. Descrição da realidade<br />

b) 1. Volta aos modelos greco-latinos<br />

2. Idealização da mulher<br />

c) 1. Objetivismo<br />

2. Retorno ao passado<br />

d) 1. Forma poética tradicional<br />

2. Apego à rima e à métrica<br />

e) 1. Subjetivismo<br />

2. Paródia e fuga ao rigor formal<br />

245


340.<br />

Evocação do Recife<br />

(...)<br />

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos<br />

livros<br />

Vinha da boca do povo na língua errada do povo<br />

<strong>Língua</strong> certa do povo<br />

Porque ele é que fala gostoso o português do<br />

Brasil<br />

Ao passo que nós<br />

O que fazemos<br />

É macaquear<br />

A sintaxe lusíada<br />

A vida com uma porção de coisas que eu não<br />

entendia bem<br />

Terras que eu não sabia onde ficavam<br />

(...)<br />

Qual característica modernista de conteúdo está presente<br />

nesse excerto?<br />

341. Fatec-SP<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Lá sou amigo do rei<br />

Lá tenho a mulher que eu quero<br />

Na cama que escolherei<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Aqui eu não sou feliz<br />

Lá a existência é uma aventura<br />

De tal modo inconseqüente<br />

Que Joana a Louca de Espanha<br />

Rainha e falsa demente<br />

Vem a ser contraparente<br />

Da nora que nunca tive<br />

E como farei ginástica<br />

Andarei de bicicleta<br />

Montarei em burro bravo<br />

Subirei no pau-de-sebo<br />

Tomarei banhos de mar!<br />

E quando estiver cansado<br />

Deito na beira do rio<br />

Mando chamar a mãe d’água<br />

Pra me contar as histórias<br />

Que no tempo de eu menino<br />

Rosa vinha me contar<br />

Vou-me embora pra Pasárgada<br />

Em Pasárgada tem tudo<br />

É outra civilização<br />

Tem um processo seguro<br />

De impedir a concepção<br />

Tem telefone automático<br />

Tem alcalóide à vontade<br />

Tem prostitutas bonitas<br />

Para a gente namorar<br />

E quando eu estiver mais triste<br />

Mas triste de não ter jeito<br />

Quando de noite me der<br />

Vontade de me matar<br />

– Lá sou amigo do rei –<br />

246<br />

Terei a mulher que eu quero<br />

Na cama que escolherei<br />

Vou-me embora pra Pasárgada.<br />

A respeito do poema Vou-me embora pra Pasárgada,<br />

é correto afirmar que:<br />

a) assume a atitude vanguardista do movimento<br />

antropofágico.<br />

b) nega o irracionalismo modernista, imaginando<br />

Pasárgada como reflexo do mundo real.<br />

c) recupera valores românticos na linguagem, ao<br />

empregar versos livres.<br />

d) resgata o tema romântico da evasão, opondo um<br />

espaço “lá” ao espaço “aqui”.<br />

e) supera o ideal modernista de valorização do futuro,<br />

ao mencionar produtos da tecnologia.<br />

342. USF-SP<br />

Aplica-se à arte de Manuel Bandeira a seguinte afirmação:<br />

a) Foi uma das mais vivas e panfletárias poesias da<br />

nossa literatura, com seu humor ferino e poder de<br />

corrosão.<br />

b) A simplicidade é a marca própria da sua inspiração,<br />

traduzida em linguagem atenta aos fatos e<br />

sentimentos do cotidiano.<br />

c) Sua melhor fase foi marcada pelo nacionalismo e<br />

pelo pitoresco, sempre utilizando o folclore como<br />

matéria de poesia.<br />

d) Um sentimento fervorosamente católico aliou-se,<br />

nesta poesia, a um sentido de combate aos horrores<br />

da História moderna.<br />

e) É sem dúvida graciosa e superficial, pelo que foi<br />

combatida pelos poetas modernistas.<br />

343. Fuvest-SP<br />

Indique a alternativa em que a aproximação estabelecida<br />

está correta.<br />

a) A terra paradisíaca, em Gonçalves Dias, é projeção<br />

nacionalista; a Pasárgada, de Manuel Bandeira, é<br />

anseio intimista de evasão.<br />

b) O lirismo de Gregório de Matos é conflitivo e confessional;<br />

o de Cláudio Manuel da Costa é sereno<br />

e impessoal.<br />

c) A ficção regionalista e imatura do século XIX ganhou<br />

força ao abraçar as teses do determinismo<br />

científico, no século XX.<br />

d) José de Alencar buscou expressar nossa diversidade<br />

cultural – projeto que só a obra de Machado<br />

de Assis viria a realizar.<br />

e) A figura do malandro, positiva em Manuel Antônio<br />

de Almeida, é o alvo de Mário de Andrade em sua<br />

sátira Macunaíma.<br />

Texto para as questões 344 e 345.<br />

Satélite<br />

Fim de tarde,<br />

No céu plúmbeo<br />

A Lua baça<br />

Paira.


PV2D-07-54<br />

Muito cosmograficamente<br />

Satélite.<br />

Desmetaforizada,<br />

Desmitificada,<br />

Despojada do velho segredo de melancolia,<br />

Não é agora o golfão de cismas,<br />

O astro dos loucos e enamorados,<br />

Mas tão-somente<br />

Satélite.<br />

Ah Lua deste fim de tarde,<br />

Demissionária de atribuições românticas;<br />

Sem show para as disponibilidades sentimentais!<br />

Fatigado de mais-valia,<br />

Gosto de ti, assim:<br />

Coisa em si,<br />

– Satélite.<br />

Manuel Bandeira<br />

344. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Os versos, todos em redondilha menor, confirmam,<br />

no ritmo, o tom de tédio.<br />

b) O céu avermelhado do fim de tarde contrasta com<br />

a Lua emergente e sem brilho.<br />

c) A Lua, vista apenas como um satélite, é sentida<br />

e expressa de maneira grandiloqüente e com um<br />

sentimentalismo exacerbado.<br />

d) As duas negações a respeito da Lua, que estão<br />

nos versos 7 e 8, ratificam-se no verso 9, em que<br />

a Lua aparece despida de um “velho segredo”.<br />

e) Os decassílabos da primeira estrofe confirmam<br />

o desejo de despojamento de sentimento e de<br />

palavras.<br />

345. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa incorreta. Pressupõe-se que:<br />

a) em outro tempo, atribuiu-se à lua um segredo de<br />

melancolia.<br />

b) a Lua dos loucos e enamorados é atribuição romântica.<br />

c) a Lua, espetáculo para sentimentalismos e emoções<br />

fáceis, não é a lua essencial, que o poeta quer.<br />

d) o poeta está cansado da exploração que foi feita<br />

da lua.<br />

e) o poeta nega os sentimentos.<br />

Texto para as questões 346 e 347.<br />

Texto I<br />

Abriram-se os braços do guerreiro adormecido e<br />

seus lábios; o nome da virgem ressoou docemente.<br />

A juruti, que divaga pela floresta, ouve o terno<br />

arrulho do companheiro; bate as asas, e voa ao aconchegar-se<br />

ao tépido ninho. Assim a virgem do sertão<br />

aninhou-se nos braços do guerreiro.<br />

Quando veio a manhã, ainda achou Iracema<br />

ali debruçada, qual borboleta que dormiu no seio do<br />

formoso cacto. Em seu lindo semblante acendia o pejo<br />

vivos rubores; e como entre os arrebóis da manhã cin-<br />

tila o primeiro raio do sol, em suas faces incendiadas<br />

rutilava o primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído<br />

amor.<br />

ALENCAR, José de. Iracema, 1865.<br />

Texto II<br />

A primeira vez que vi Teresa<br />

Achei que ela tinha pernas estúpidas<br />

Achei também que a cara parecia uma perna<br />

Quando vi Teresa de novo<br />

Achei que os olhos eram muito mais velhos que<br />

[o resto do corpo<br />

(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando<br />

[que o resto do corpo nascesse)<br />

Da terceira vez não vi mais nada<br />

Os céus se misturaram com a terra<br />

E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a<br />

[face das águas.<br />

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem, 1960.<br />

346. UFRJ<br />

A que estilos literários pertencem os textos I e II e<br />

como se caracteriza a relação amorosa em cada um<br />

deles?<br />

347. UFRJ<br />

Qual a mudança que se constata na forma como é vista<br />

a mulher, na terceira estrofe do texto II, em relação às<br />

duas primeiras?<br />

348. Vunesp<br />

O bicho<br />

Vi ontem um bicho<br />

Na imundície do pátio<br />

Catando comida entre os detritos.<br />

Quando achava alguma coisa,<br />

Não examinava nem cheirava:<br />

Engolia com voracidade.<br />

O bicho não era um cão,<br />

Não era um gato,<br />

Não era um rato.<br />

O bicho, meu Deus, era um homem.<br />

Observando o poema de Manuel Bandeira, podemos<br />

encontrar uma única expressão que indica o sentimento<br />

do poeta.<br />

a) Qual é essa expressão, que sentimento ela indica<br />

e como deve ser gramaticalmente classificada?<br />

b) Esse sentimento está enfatizado através de um<br />

processo estilístico que engloba os predicativos<br />

do sujeito. Dê o nome desse processo.<br />

349. UFSCar-SP<br />

Não permita Deus que eu morra<br />

Sem que ainda vote em você;<br />

Sem que, Rosa amigo, toda<br />

Quinta-feira que Deus dê,<br />

Tome chá na Academia<br />

Ao lado de vosmecê,<br />

Rosa dos seus e dos outros,<br />

Rosa da gente e do mundo,<br />

247


248<br />

Rosa de intensa poesia<br />

De fino olor sem segundo;<br />

Rosa do Rio e da Rua,<br />

Rosa do sertão profundo<br />

Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira.<br />

Nesse poema, Manuel Bandeira cita, direta ou indiretamente,<br />

obras de outros autores.<br />

a) Identifique o nome de uma dessas obras e o de<br />

seu autor.<br />

b) O poema de Bandeira está escrito em versos livres?<br />

Por quê?<br />

350. Fuvest-SP<br />

Porquinho-da-Índia<br />

Quando eu tinha seis anos<br />

Ganhei um porquinho-da-índia.<br />

Que dor de coração me dava<br />

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!<br />

Levava ele pra sala<br />

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos<br />

Ele não gostava:<br />

Queria era estar debaixo do fogão.<br />

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas ...<br />

– O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.<br />

Manuel Bandeira<br />

a) Aponte, no poema, dois aspectos de estilo que<br />

estejam relacionados ao tema da infância. Explique<br />

sucintamente.<br />

b) Qual é o elemento comum entre a experiência<br />

infantil e a experiência adulta presentes no poema?<br />

Explique sucintamente.<br />

351. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa correta sobre Antônio de Alcântara<br />

Machado.<br />

a) Em seus contos nota-se o aproveitamento de<br />

temas ligados ao cotidiano da cidade de São<br />

Paulo.<br />

b) Dá especial destaque à alta sociedade paulistana,<br />

ressaltando a complexidade psicológica das personagens.<br />

c) Seu estilo informal valoriza o linguajar do migrante<br />

nordestino.<br />

d) Embora contemporâneo de Mário e de Oswald de<br />

Andrade, evitou adotar os princípios estéticos do<br />

Modernismo de 22.<br />

e) Os contos reunidos em Brás, Bexiga e Barra Funda<br />

representam o ponto alto da ficção intimista do<br />

século XX.<br />

352. UFAM<br />

São livros de Antônio de Alcântara Machado e Jorge<br />

de Lima, respectivamente:<br />

a) Brás, Bexiga e Barra Funda e Sentimento do<br />

mundo.<br />

b) Martim-Cererê e A túnica inconsútil.<br />

c) Brás, Bexiga e Barra Funda e Libertinagem.<br />

d) Juca Mulato e XIV Alexandrinos.<br />

e) Laranja da China e Invenção de Orfeu.<br />

Texto para as questões 353 e 354.<br />

Um dos maiores benefícios que o movimento moderno<br />

nos trouxe foi justamente esse: tornar alegre a<br />

literatura brasileira. Alegre quer dizer saudável, viva,<br />

consciente de sua força, satisfeita com seu destino.<br />

Até então no Brasil a preocupação de todo escritor<br />

era parecer grave e severo. O riso era proibido. A pena<br />

molhava-se no tinteiro da tristeza e do pessimismo.<br />

O papel servia de lenço. De tal forma que os livros<br />

espremidos só derramavam lágrimas. Se alguma idéia<br />

caía vinha num pingo delas. A literatura nacional não<br />

passava de uma queixa gemebunda.<br />

Por isso mesmo o segundo tranco da reação foi<br />

mais difícil: integração no ambiente. Fazer literatura brasileira<br />

mas sem choro. Disfarçando sempre a tristeza do<br />

motivo quando inevitável. Rindo como um moleque.<br />

Antônio de Alcântara Machado, Cavaquinho e saxofone.<br />

353. Unifesp<br />

Entre os textos de Manuel Bandeira (de O ritmo dissoluto),<br />

transcritos nas cinco alternativas, aquele que<br />

comprova a opinião de Alcântara Machado é:<br />

a) E enquanto a mansa tarde agoniza,<br />

Por entre a névoa fria do mar<br />

Toda a minhalma foge na brisa;<br />

Tenho vontade de me matar.<br />

b) A beleza é um conceito.<br />

E a beleza é triste.<br />

Não é triste em si,<br />

Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.<br />

c) Sorri mansamente... em um sorriso pálido... pálido<br />

Como o beijo religioso que puseste<br />

Na fronte morta de tua mãe... sobre a sua fronte<br />

morta...<br />

d) Noite morta.<br />

Junto ao poste de iluminação<br />

Os sapos engolem mosquitos.<br />

e) A meiga e triste rapariga<br />

Punha talvez nessa cantiga<br />

A sua dor e mais a dor de sua raça...<br />

Pobre mulher, sombria filha da desgraça!<br />

354. Unifesp<br />

Assinale a alternativa que indica apenas as obras<br />

de ficção que, por serem anteriores ao “movimento<br />

moderno”, contrariam as observações apresentadas<br />

no texto de Antônio de Alcântara Machado.<br />

a) A moreninha, Lucíola, Dom Casmurro.<br />

b) O sertanejo, O cortiço, O ateneu.<br />

c) Memórias de um sargento de milícias, Memórias<br />

póstumas de Brás Cubas, O noviço.<br />

d) Memorial de Aires, Iracema, O missionário.<br />

e) A normalista, Os sertões, Canaã.<br />

355. UEL-PR<br />

Com relação à obra Novelas paulistanas, de Alcântara<br />

Machado, é correto afirmar:<br />

a) Apresenta um quadro pitoresco da sociedade paulistana<br />

da década de 1920. Seu poder descritivo explora<br />

as relações humanas, incorporando ao quadro<br />

nacional a figura do imigrante e fornecendo, assim,<br />

uma visão mais ampla da sociedade brasileira.


PV2D-07-54<br />

b) Voltada para a realidade circundante, nega a incorporação<br />

do negro como parte formativa da cultura<br />

brasileira, revelando, com isso, um olhar preconceituoso<br />

diante da diversidade étnica do Brasil.<br />

c) Assim como grande parte da prosa modernista,<br />

é marcada pelo rigor formal e pela escassez de<br />

inovações estéticas, o que confere ao discurso de<br />

Alcântara Machado um tom tradicional e erudito.<br />

d) A utilização do tom coloquial projeta Alcântara<br />

Machado rumo a um paralelo com a idealização<br />

romântica, pois os imigrantes são idealizados e<br />

aproximados à figura do índio romântico, ou seja,<br />

o imigrante é visto como um prolongamento da<br />

figura do herói nacional.<br />

e) O humor é conseguido pela adoção do sentimentalismo<br />

romântico, sobretudo no que se refere à<br />

figura do imigrante.<br />

356. Fasm-SP<br />

Brás, Bexiga e Barra Funda, obra escrita por Alcântara<br />

Machado em 1927, compõe-se de onze narrativas<br />

curtas e traz como subtítulo “Notícias de São Paulo”.<br />

Deste livro como um todo, pode-se afirmar que:<br />

a) apresenta estilo seco e uma linguagem sintaticamente<br />

complexa com predominância de períodos<br />

longos e de orações subordinadas, que dificultam<br />

a leitura do texto.<br />

b) caracteriza o modo de vida do brasileiro e oferece o<br />

recorte paulistano da família tradicional bandeirante.<br />

c) está impregnado de uma atmosfera de reportagem<br />

que o aproxima do jornal por captar o fato, o instantâneo<br />

da vida cotidiana.<br />

d) revela aversão ao estilo afetado e ao convencionalismo<br />

literário, mas não sofreu influência nem<br />

do cinema nem do jornal.<br />

e) caricaturiza o brasileiro classe média, homem da<br />

cidade, vivendo situações de revolta e indignação,<br />

arroubos de brasilidade e comicidade cotidiana.<br />

357.<br />

Alcântara Machado escreveu Brás, Bexiga e Barra Funda,<br />

em 1927. A respeito dessa obra, é incorreto afirmar que:<br />

a) se encontram nela exemplos de uma ágil literatura citadina,<br />

muito de divertimento e um olhar sobre os novos<br />

bairros operários e de classe média de São Paulo.<br />

b) se caracteriza por uma linguagem em que se<br />

notam nitidamente procedimentos renovadores<br />

de construção, cuja marca maior são a concisão<br />

e a brevidade.<br />

c) apresenta narrativas montadas à semelhança da<br />

linguagem cinematográfica, com planos, seqüências<br />

cortes espaço-temporais, elipses, fragmentos,<br />

superposição de planos.<br />

d) é habitada por personagens tiradas da realidade da<br />

vida: o carcamano extrovertido, as costureirinhas<br />

das fábricas e do comércio em geral, as crianças<br />

pobres e humildes, os “intalianinhos”.<br />

e) é uma grande sátira ao imigrante italiano que,<br />

morando no Brás, desejava alcançar a Avenida<br />

Paulista e, por isso, a obra mostra-se como crítica<br />

aos ítalo-brasileiros por serem uma ameaça à<br />

família tradicional paulistana.<br />

358.<br />

Leia atentamente os fragmentos abaixo e responda<br />

à questão.<br />

Texto I<br />

Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual<br />

é tão prodigiosa que falam numa língua e escrevem<br />

noutra. Assim chegado a estas plagas hospitalares,<br />

nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da<br />

etnologia da terra, e dentre muita surpresa e assombro<br />

que se nos deparou por certo não foi das menores tal<br />

originalidade lingüística. Nas conversas, utilizam-se os<br />

paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso<br />

de feição e impuro na vernaculidade (...). Mas si de<br />

tal desprezível língua se utilizam na conversação os<br />

naturais desta terra, logo que tomam da pena, se despojam<br />

de tanta asperidade, (...), exprimindo-se numa<br />

outra linguagem, (...) que com imperecível galhardia,<br />

se intitula: língua de Camões!<br />

Texto II<br />

(...) A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros<br />

Vinha da boca do povo na língua errada do povo<br />

<strong>Língua</strong> certa do povo.<br />

Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil<br />

Ao passo que nós<br />

O que fazemos<br />

É macaquear<br />

A sintaxe lusíada (...)<br />

O texto I pertence ao capítulo “Carta pras Icamiabas”, da<br />

obra Macunaíma, de Mário de Andrade. O texto II é trecho<br />

do poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira.<br />

Assinale a afirmação incorreta com relação às obras.<br />

a) O poeta Bandeira defende o prosaico e faz uma<br />

exaltação da língua popular brasileira, uma das<br />

marcas da estética modernista.<br />

b) Ao utilizar termos como galhardia para a linguagem<br />

escrita e desprezível língua para o discurso oral, Mário<br />

de Andrade se opõe à idéia apresentada pelo eu lírico<br />

do poema, que defende a fala gostosa brasileira.<br />

c) Ambos os textos propõem uma reflexão lingüística:<br />

a diferença entre os registros no uso da língua, a<br />

qual pode ser exemplificada no contraste entre o<br />

português oral e o escrito.<br />

d) O texto I representa algo bem diferente do restante do<br />

corpo da rapsódia. A carta rompe com a disposição<br />

coloquial que até então se encarregava da narração<br />

e instaura uma linguagem formal e empolada.<br />

e) Os dois autores, modernistas da 1ª geração, usam<br />

o humor para apontar o mesmo ponto do programa<br />

estético que os une: a defesa da vertente brasileira<br />

da língua portuguesa, em contraste com a tendência<br />

academicista, parnasiana, comum na época.<br />

359. Fatec-SP<br />

Identifique os procedimentos lingüísticos e o estilo de<br />

época que caracterizam o trecho a seguir de Alcântara<br />

Machado.<br />

Trem misterioso. Noite fora noite dentro. O chefe<br />

vinha recolher os bilhetes de cigarro na boca. Chegava<br />

a passagem bem perto da ponta acesa e dava uma<br />

chupada para fazer mais luz. Via mal e mal a data e<br />

ia guardando no bolso.<br />

249


a) Períodos longos. Coordenação e subordinação.<br />

Pré-Modernismo.<br />

b) Períodos curtos. Subordinação. Frases nominais.<br />

Barroco.<br />

c) Períodos curtos. Coordenação. Frases nominais.<br />

Modernismo.<br />

d) Períodos longos. Coordenação. Flashes.<br />

360. Mackenzie-SP<br />

“Assim, essas cenas cotidianas transformam em heróis<br />

não aqueles que se destacaram dos demais por feitos<br />

grandiosos, mas justamente o contrário: homens e<br />

mulheres perdidos no anonimato da cidade grande,<br />

vivendo a mesma vidinha feita de pequenas tragédias<br />

e muitas comédias. Os robespierres, washingtons,<br />

cíceros e ulisses mostram que o verdadeiro grande<br />

personagem não é este ou aquele indivíduo, mas<br />

sim a multidão dos pequenos heróis de todos os dias<br />

que, juntos, compõem o retrato de São Paulo dos<br />

anos 20”.<br />

O trecho acima dá claras informações a respeito de:<br />

a) Brás, Bexiga e Barra Funda.<br />

b) Pathé-Baby.<br />

c) Laranja da China.<br />

d) Mana Maria.<br />

e) Serafim Ponte Grande.<br />

361. Mackenzie-SP<br />

Os primeiros escritos de nossa vida documentam<br />

precisamente a instauração do processo: são informações<br />

que viajantes e missionários europeus colheram<br />

sobre a natureza e o homem brasileiro (...) É graças<br />

a essas tomadas diretas da paisagem, do índio e dos<br />

grupos sociais nascentes, que captamos as condições<br />

primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia<br />

contar com o fenômeno da palavra-arte.<br />

Em mais de um momento, a inteligência brasileira,<br />

reagindo contra certos processos agudos de europeização,<br />

procurou, nas raízes da terra e do nativo,<br />

imagens para se afirmar em face do estrangeiro.<br />

Assinale a alternativa em que aparece o nome de um<br />

autor que não apresentou tal tendência em qualquer<br />

parte de usa obra.<br />

a) Oswald de Andrade<br />

b) José de Alencar<br />

c) Gonçalves Dias<br />

d) Antônio de Alcântara Machado<br />

e) Mário de Andrade<br />

362. PUC-MG<br />

Todas as afirmativas a seguir se referem aos elementos<br />

narrativos dos contos da obra Brás, Bexiga e Barra<br />

Funda, exceto:<br />

a) muitos enredos se revestem de humor.<br />

b) as personagens traduzem determinada época.<br />

c) o contexto é paulistano, com influências italianas.<br />

d) o narrador é distante e frio ante os fatos narrados.<br />

e) cada conto se faz independente, com temáticas<br />

variadas.<br />

250<br />

363. PUC-MG<br />

- Na avenida Água Branca os bondes formando cordão<br />

esperavam campainhando o zé-pereira.<br />

- Aqui, Miquelina.<br />

Os três espremeram-se no banco onde já havia três.<br />

E gente no estribo. E gente na coberta. E gente nas<br />

plataformas. E gente do lado da entrevia.<br />

A alegria dos vitoriosos demandou a cidade. Berrando,<br />

assobiando e cantando. O mulato com a mão no<br />

guindaste é quem puxava a ladainha:<br />

- O Palestra levou na testa!<br />

E o pessoal entoava:<br />

Ora pro nobis!<br />

O trecho anterior, de Brás, Bexiga e Barra Funda – Notícias<br />

de São Paulo, faz juz ao título da obra, porque:<br />

a) apresenta frases nominais, vinculadas ao caráter<br />

jornalístico proposto no título.<br />

b) usa metonímias que garantem personagens italianos,<br />

segundo propõe o título.<br />

c) retrata uma cena pertencente ao espaço sugerido<br />

pelo título.<br />

d) conta um fato extraordinário, de caráter noticioso,<br />

de acordo com a afirmação do título.<br />

e) faz ironia à cultura italiana, conforme o título evidencia.<br />

364. PUC-MG<br />

Todas as alternativas a seguir apresentam trechos da<br />

obra Brás, Bexiga e Barra Funda, que trazem em destaque<br />

espressões que se relacionam a características<br />

das personagens, exceto:<br />

a) Fazem parte do dia-a-dia paulistano: “– Diga a ela<br />

que eu a espero amanhã de noite, às oito horas,<br />

na rua... atrás da Igreja de Santa Cecília. Mas que<br />

ela vá sozinha, hein? Sem você. O barbeirinho<br />

também pode ficar em casa. – Barbeirinho nada!<br />

Entregador da Casa Clark!”<br />

b) São nomeados de forma a expressar a relação<br />

ítalo-brasileira: “Depois que os seus olhos cheios<br />

de estrabismo e despeito vêem a lanterninha traseira<br />

do Buick desaparecer, Bianca resolve dar um<br />

giro pelo bairro. Imaginando cousas. Roendo as<br />

unhas. Nervosíssima. Logo encontra a Ernestina.<br />

Conta tudo à Ernestina.”<br />

c) Expressam a influência italiana através de estrangeirismo:<br />

“O capital acendeu um charuto. O conselheiro<br />

coçou os joelhos disfarçando a emoção.<br />

A negra de broche serviu o café. – Dopo o doutor<br />

me dá a resposta. Io só digo isto: penso bem.”<br />

d) São parte de um contexto urbano: “Dem-dem! O<br />

bonde deu um solavanco, sacudiu os passageiros,<br />

deslizou, rolou, seguiu. Dem-dem!”<br />

e) Inserem-se em uma sociedade violenta: “a entrada<br />

de lisetta em casa marcou época na história<br />

dramática da família Garbone. Logo na porta um<br />

safanão. Depois um tabefe. Outro no corredor.<br />

Intervalo de dois minutos. Foi então a vez das<br />

chineladas. Para remate. Que não acabava mais.<br />

O resto da gurizada (...) reunido na sala de jantar<br />

sapeava de longe.”


PV2D-07-54<br />

365. PUC-MG<br />

O título da obra Brás, Bexiga e Barra Funda - Notícias<br />

de São Paulo, de Alcântara Machado, só não<br />

se relaciona:<br />

a) ao vínculo paulista com a cultura italiana.<br />

b) ao espaço da narrativa.<br />

c) à imparcialidade com que as histórias são narradas.<br />

d) a acontecimentos cotidianos que a obra relata.<br />

e) ao estilo jornalístico que perpassa os contos.<br />

366. Mackenzie-SP<br />

Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Primo<br />

o doutor pense bem. E poi me dê a sua resposta. Domani,<br />

dopo domani, na outra semana, quando quiser,<br />

io resto à sua disposição. Ma pense bem!<br />

O trecho acima faz parte de:<br />

a) Amar, verbo intransitivo.<br />

b) Serafim Ponte Grande.<br />

c) Brás, Bexiga e Barra Funda.<br />

d) Laranja da China.<br />

e) Memórias sentimentais de João Miramar.<br />

367. PUC-SP<br />

Alcântara Machado escreveu Brás, Bexiga e Barra Funda,<br />

em 1927. A linguagem de sua obra, ainda que prosaica e<br />

objetiva, é marcada por procedimentos estilísticos poéticos,<br />

denunciados pela presença de figuras de linguagem.<br />

Assim, indique a alternativa em que, em trechos da obra<br />

citada, ocorre a presença de uma metáfora.<br />

a) Aristodemo deu folga no serviço. Também levou<br />

um colosso de cópias.<br />

b) O violão e a flauta recolhendo de farra emudeceram<br />

respeitosamente na calçada.<br />

c) O vestido de Carmela coladinho no corpo era de<br />

organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora.<br />

Sapatinhos verdes. Bago de uva marengo para os<br />

lábios dos amadores.<br />

d) Não é assim não. Retumbante tem que estalar,<br />

criaturas, tem que retumbar! É palavra... onomatopaica.<br />

RETUMBANTE.<br />

e) Resolveu primeiro apertar o homem no vencimento<br />

da letra. E acendeu um Castro Alves.<br />

Capítulo 4<br />

370. FAAP-SP<br />

Texto I<br />

Minha terra tem palmeiras<br />

Onde canta o sabiá;<br />

As aves que aqui gorjeiam,<br />

Não gorjeiam como lá.<br />

Gonçalves Dias<br />

Texto II<br />

Minha terra tem macieiras da Califórnia<br />

onde cantam gaturamos de Veneza.<br />

Os poetas da minha terra<br />

são pretos que vivem em torres de ametista,<br />

os sargentos do exército são monistas, cubistas,<br />

368. Unicamp-SP<br />

O conto “Gaetaninho” começa com a fala “– Xi, Gaetaninho,<br />

como é bom!” e termina com a seguinte afirmação:<br />

“Quem na boléia de um dos carros do cortejo<br />

mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista<br />

da gente era o Beppino”.<br />

Antônio Alcântara Machado. “Gaetaninho”, in Brás, Bexiga e Barra<br />

Funda. Belo Horizonte/Rio de Janeiro, Villa Rica Ed. Reunidas, 1994.<br />

A fala inicial é de Beppino, mencionado também no<br />

último parágrafo.<br />

a) A que ele se referia como sendo bom?<br />

b) Ambos os trechos citados têm relação direta com o<br />

núcleo central da narrativa. Que núcleo é esse?<br />

c) Que relação há entre os nomes próprios das personagens<br />

e o título do livro?<br />

369. Fuvest-SP<br />

(…) No fundo o imponente castelo. No primeiro<br />

plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo.<br />

Descendo a ladeira numa disparada louca o fogoso<br />

ginete. Montado no ginete o apaixonado caçula do<br />

castelão inimigo de capacete prateado com plumas<br />

brancas. E atravessada no ginete a formosa donzela<br />

desmaiada entregando ao vento os cabelos cor de<br />

carambola.<br />

A. de Alcântara Machado, Carmela<br />

(…) Íamos, se não me engano, pela rua das<br />

Mangueiras, quando, voltando-nos, vimos um carro<br />

elegante que levavam a trote largo dois fogosos cavalos.<br />

Uma encantadora menina, sentada ao lado de<br />

uma senhora idosa, se recostava preguiçosamente<br />

sobre o macio estofo e deixava pender pela cobertura<br />

derreada do carro a mão pequena que brincava com<br />

um leque de penas escarlates.<br />

José de Alencar, Lucíola<br />

Nesses excertos, observa-se que a maioria dos substantivos<br />

são modificados por adjetivos ou expressões<br />

equivalentes. Comparando os dois textos:<br />

a) aponte em cada um deles o efeito produzido por<br />

tal recurso lingüístico;<br />

b) justifique sua resposta.<br />

os filósofos são polacos vendendo a prestações.<br />

A gente não pode dormir<br />

com os oradores e os pernilongos.<br />

Os sururus em família têm por testemunha a<br />

Gioconda.<br />

Eu morro sufocado<br />

em terra estrangeira.<br />

Nossas flores são mais bonitas<br />

nossas frutas são mais gostosas<br />

mas custam cem mil réis a dúzia.<br />

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade<br />

e ouvir um sabiá com certidão de idade!<br />

Murilo Mendes<br />

251


O texto II pertence ao estilo de época do:<br />

a) Modernismo. d) Pré-modernismo.<br />

b) Dadaísmo. e) Simbolismo.<br />

c) Futurismo.<br />

371. Fuvest-SP<br />

Só em torno de 30, e depois, o Brasil histórico e concreto,<br />

isto é, contraditório e já não mais mítico, seria o<br />

objeto preferencial de um romance neo-realista e de<br />

uma literatura abertamente política. Mas ao longo dos<br />

anos propriamente modernistas, o Brasil é uma lenda<br />

sempre se fazendo.<br />

Alfredo Bosi, Céu, Inferno<br />

Aceitando-se o que afirma o texto, poder-se-ia coerentemente<br />

complementá-lo com o seguinte período:<br />

a) “Lendário é o coronel do cacau de Jorge Amado,<br />

tanto ou mais que o senhor de engenho de José<br />

Lins do Rego.”<br />

b) “É assim que se deve reconhecer o modo pelo qual<br />

se opõem as narrativas de Graciliano Ramos e as<br />

de Clarice Lispector.”<br />

c) “Em sua obra-prima ficcional, Macunaíma, Mário<br />

de Andrade veio a recusar esse país mítico-lendário,<br />

abrindo aquela vertente neo-realista.”<br />

d) “Se na fase modernista mais impetuosa a personagem<br />

Macunaíma deu o tom, na subseqüente deu-o<br />

o nordestino de Graciliano Ramos e de José Lins<br />

do Rego.”<br />

e) “Veja-se, como ilustração dessa passagem, que a<br />

saga regionalista de um Érico Veríssimo deu lugar<br />

ao universalismo da ficção de Clarice Lispector”.<br />

372. Fuvest-SP<br />

Em determinada época, o romance brasileiro “procurou<br />

(...) enraizar fortemente as suas histórias e os seus<br />

personagens em espaços e tempos bem circunscritos,<br />

extraindo de situações culturais típicas a sua visão<br />

do Brasil.”<br />

Alfredo Bosi<br />

Essa afirmação aplica-se a:<br />

a) Vidas Secas e Fogo Morto.<br />

b) Macunaíma e A Hora da Estrela.<br />

c) A Hora da Estrela e Serafim Ponte Grande.<br />

d) Fogo Morto e Serafim Ponte Grande.<br />

e) Vidas Secas e Macunaína.<br />

373. Mackenzie-SP<br />

Ficou conhecida como Geração de 1930, na prosa<br />

modernista, um grupo de escritores que refletiu a problemática<br />

político-social do Brasil da época.<br />

Não faz parte de tal geração:<br />

a) Graciliano Ramos<br />

b) José Lins do Rego<br />

c) Jorge Amado<br />

d) João Guimarães Rosa<br />

e) Rachel de Queiroz<br />

374. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa na qual aparece um trecho que<br />

não pode ser creditado a qualquer escritor na prosa<br />

modernista dos anos trinta.<br />

252<br />

a) Já não pareciam condenados a trabalhos forçados:<br />

assimilavam o interesse da produção. E o senhor<br />

de engenho premiava-lhes as iniciativas adquirindo-lhes<br />

os produtos a bom preço.<br />

b) Chape-chape. As alpercatas batiam no chão<br />

rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as<br />

pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se<br />

desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu.<br />

Considerar-se plantado em terra alheia! Engano.<br />

c) Toda a gente tinha achado estranha a maneira como<br />

o Capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de<br />

Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém<br />

sabia de onde, com o chapéu barbicado puxado<br />

para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente<br />

erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava<br />

e ao mesmo tempo fascinava as pessoas.<br />

d) Explico ao senhor: o diabo vive dentro do homem,<br />

os crespos do homem – ou é o homem arruinado,<br />

ou o homem dos avêssos. Solto, por si, cidadão,<br />

é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que<br />

digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco<br />

– é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido.<br />

Êste caso – por estúrdio que me vejam – é<br />

de minha certa importância.<br />

e) Antônio Balduíno fala. Ele não está fazendo discurso,<br />

gente. Está é contando o que viu na sua vida<br />

de malandro. Narra a vida dos camponeses nas<br />

plantações de fumo, o trabalho dos homens sem<br />

mulheres, o trabalho das mulheres nas fábricas de<br />

charuto. Perguntem ao Gordo se pensarem que é<br />

mentira. Conta o que viu. Conta que não gostava<br />

de operário, de gente que trabalhava.<br />

375. UEL-PR<br />

Na década de 30 do século XX:<br />

a) o Modernismo viu esgotados seus ideais, com<br />

a retomada de uma prosa e de uma poesia de<br />

caráter conservador.<br />

b) a poesia se renovou significativamente, graças<br />

a poetas como Carlos Drummond de Andrade e<br />

Murilo Mendes.<br />

c) não houve surgimento de grandes romancistas, o<br />

que só viria a ocorrer na década seguinte.<br />

d) predominou, ainda, o ideário modernista dos primeiros<br />

momentos, sendo central a figura de Graça<br />

Aranha.<br />

e) a poesia abandonou de vez o emprego do verso,<br />

substituindo-o pela composição de palavras soltas<br />

no espaço da página.<br />

376. UEL-PR<br />

Na década de 30, revelaram-se escritores que souberam<br />

revitalizar as conquistas estéticas e culturais da primeira<br />

fase do Modernismo, tais como os autores de:<br />

a) Sagarana e Laços de família.<br />

b) Memórias sentimentais de João Miramar e Contos<br />

novos.<br />

c) Triste fim de Policarpo Quaresma e Canaã.<br />

d) Menino de engenho e O quinze.<br />

e) Paulicéia desvairada e Martim-Cererê.


PV2D-07-54<br />

377. UFPE<br />

Acerca do romance de 1930, analise as proposições<br />

abaixo.<br />

( ) O ciclo do romance regional de 1930 é um dos principais<br />

da prosa dessa geração. É o regionalismo nordestino,<br />

abordando a decadência da região, tendo como<br />

tema único o êxodo rural provocado pela seca.<br />

( ) Graciliano Ramos, alagoano, iniciou-se na literatura<br />

com Caetés. Tem como obras principais Vidas<br />

secas, São Bernardo e Angústia, nas quais analisa<br />

a realidade da vida rural do Nordeste, com aspereza,<br />

linguagem rigorosa, precisa e despojada, sem<br />

nenhuma concessão sentimental.<br />

( ) José Lins do Rego, paraibano, aborda, em seus<br />

livros, o ciclo da cana-de-açúcar, o esplendor e<br />

a decadência dos engenhos do Nordeste e do<br />

patriarcalismo rural. Em suas obras, mistura biografia<br />

com ficção. Nelas predomina a linguagem<br />

espontânea e repetitiva.<br />

( ) Raquel de Queiroz, cearense, escreveu como livro<br />

de estréia O quinze. Sua narrativa sintoniza-se<br />

com o regionalismo da geração de 1930, em que<br />

se pode notar a pré-consciência do subdesenvolvimento.<br />

Nesta fase de sua obra, destaca-se<br />

ainda Caminho de pedra. Mais tarde, a escritora<br />

abandonou os temas de denúncia social.<br />

( ) Jorge Amado, baiano, em um realismo precário,<br />

mas pitoresco, descreve, em Jubiabá, as agruras<br />

da seca do sertão baiano.<br />

378. UFRGS-RS<br />

Assinale a afirmação correta sobre o romance de 1930.<br />

a) Predominou, entre os autores, uma preocupação<br />

de renovação estética seguindo os padrões da<br />

vanguarda literária européia.<br />

b) Na obra de José Lins do Rego predomina a<br />

narrativa curta de recriação do modo de vida dos<br />

senhores de engenho.<br />

c) Os autores, em suas obras, tematizaram os problemas<br />

sociais com o intuito de denunciar as agruras<br />

das populações menos favorecidas.<br />

d) O caráter regionalista dos romances deste período<br />

deve-se à reprodução fiel do linguajar típico de<br />

cada região.<br />

e) A obra de Jorge Amado pode ser considerada<br />

uma exceção, no conjunto da época, porque seus<br />

romances apresentam uma grande inovação na<br />

estrutura narrativa.<br />

379. UFSC<br />

Mário Quintana, considerado pela crítica um lírico autêntico,<br />

possuía rigoroso domínio da forma poética e uma<br />

agilidade criadora que lhe permitiam passar de uma inspiração<br />

a outra, sem deter-se em lugares-comuns. Seus<br />

poemas têm um direcionamento mais filosófico do que<br />

social. Assinale as proposições em que o comentário está<br />

correto de acordo com o texto de Mário Quintana.<br />

01. Que dança que não se dança?/ Que trança não se<br />

destrança?/ O grito que voou mais alto/ Foi um grito<br />

de criança. O autor fez uso, nesse texto, a exemplo<br />

dos simbolistas, da musicalidade obtida pela repetição<br />

e/ou semelhança de palavras e sons.<br />

02. Eu quero os meus brinquedos novamente!/ Sou<br />

um pobre menino... acreditai.../ Que envelheceu,<br />

um dia, de repente!... Mário Quintana revela saudade<br />

da infância, tempo feliz, em contraste com o<br />

desagrado da velhice digna de piedade.<br />

04. Ah!, se eu pudesse, tardezinha pobre,/ Eu pintava trezentos<br />

arco-íris/ Nesse tristonho céu que nos encobre<br />

... O poeta faz uso das figuras de linguagem hipérbole<br />

(exagero) e prosopopéia (personificação).<br />

08. Quantas coisas perdidas e esquecidas/ no teu baú<br />

de espantos... Bem no fundo,/ uma boneca toda<br />

estraçalhada!/ É ela, sim! Só pode ser aquela,/ a<br />

jamais esquecida Bem-Amada./ Em vão tentas<br />

lembrar o nome dela.../ E em vão ela te fita... e<br />

a sua boca/ tenta sorrir-te mas está quebrada!<br />

Mário Quintana, através de metáforas, sugere<br />

uma divagação pelo seu tempo de infância, haja<br />

vista a saudade da menina amada, de cujo nome<br />

e sorriso não consegue lembrar-se.<br />

16. A morte deveria ser assim:/ um céu que pouco a<br />

pouco anoitecesse/ e a gente nem soubesse que<br />

era o fim. O poeta faz uma reflexão em torno do<br />

mistério que a palavra morte sugere, porque não<br />

sabe como, nem quando vai ocorrer, mas aspira a<br />

que seja simples e suave como o anoitecer.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

Texto para as questões 380 e 381.<br />

Além do horizonte, deve ter<br />

Algum lugar bonito pra viver em paz<br />

Onde eu possa encontrar a natureza<br />

Alegria e felicidade com certeza.<br />

Lá nesse lugar o amanhecer é lindo<br />

com flores festejando mais um dia que vem vindo<br />

Onde a gente possa se deitar no campo<br />

Se amar na selva, escutando o canto dos pássaros.<br />

380. UFPE<br />

Roberto e Erasmo Carlos estão falando de um lugar<br />

ideal, de um ambiente campestre, calmo.<br />

A natureza representou a afirmação do nacionalismo<br />

brasileiro, nos períodos romântico e modernista.<br />

Partindo deste pressuposto, assinale a alternativa<br />

incorreta.<br />

a) “O exotismo e a exuberância da natureza brasileira<br />

tanto inspiraram os autores românticos quanto os<br />

modernistas.”<br />

b) “O ufanismo nacionalista foi explorado no Romantismo,<br />

enquanto no Modernismo havia, para o<br />

nacionalismo, uma perspectiva crítica.”<br />

c) “Para os românticos, a natureza exerceu profundo<br />

fascínio; nela eles viam a antítese da civilização<br />

que os oprimia.”<br />

d) “No Modernismo, os princípios nacionalistas defendidos<br />

por seus representantes incluíam o culto à natureza,<br />

comprometido com a visão européia de mundo.”<br />

e) “Nas várias tendências do movimento modernista,<br />

a natureza não se apresenta transfigurada, mas<br />

real. Os modernistas não se consideravam nacionalistas<br />

exaltados só pelo simples fato de serem<br />

brasileiros. Antes de mais nada, não tinham medo<br />

de falar dos males do Brasil.”<br />

253


381. UFPE<br />

Nos poemas, contos e romances cuja temática é nordestina,<br />

a literatura moderna apresenta a Natureza<br />

quase sempre inóspita, agressiva. Qual dos fragmentos<br />

não justifica esta afirmação?<br />

a) Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada,<br />

ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar<br />

gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens<br />

fortes, brutos como Fabiano, sinha Vitória e os<br />

dois meninos. Graciliano Ramos, em Vidas secas.<br />

b) Há uma miséria maior do que morrer de fome no<br />

deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã.<br />

José Américo de Almeida, em A bagaceira.<br />

c) Tirei mandioca de chãs que o vento vive a esfolar e<br />

de outras escalavradas pela seca faca solar. João<br />

Cabral de Melo Neto, em Morte e vida severina.<br />

d) Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando de<br />

retirantes se arranchara (...) Em toda a extensão<br />

da vista, nem uma outra árvore surgia. Só aquele<br />

velho juazeiro, devastado e espinhento, verdejaria<br />

a copa hospitaleira na desolação cor de cinza da<br />

paisagem. Raquel de Queiroz, em O quinze.<br />

e) Este açúcar veio de uma usina de açúcar em<br />

Pernambuco(...) Este açúcar era cana e veio dos<br />

canaviais extensos que não nascem por acaso no<br />

regaço do vale. Ferreira Gullar, em O açúcar.<br />

382. UFF-RJ<br />

Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha<br />

1 Muitos deles ou quase a maior parte dos que andavam<br />

ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços.<br />

E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços<br />

furados e nos buracos uns espelhos de pau, que<br />

pareciam espelhos de borracha; outros traziam três<br />

daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos<br />

cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a<br />

saber, metade deles da sua própria cor, e metade<br />

de tintura preta 2 , a modos de azulada; e outros<br />

quartejados de escaques 3 . Ali andavam entre eles<br />

três ou quatro moças, bem moças e bem gentis,<br />

com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas,<br />

e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas<br />

e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem<br />

olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.<br />

2 Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que<br />

mais contra o sul vimos até a outra ponta que<br />

contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos<br />

vista, será tamanha que haverá nela bem<br />

vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao<br />

longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras,<br />

delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima<br />

toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De<br />

ponta a ponta, é toda praia parma 4 , muito chã 5 e<br />

muito formosa.<br />

3 Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande,<br />

porque, a estender olhos, não podíamos ver<br />

senão terra com arvoredos, que nos parecia muito<br />

longa. Nela, até agora, não pudemos saber que<br />

haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal<br />

254<br />

ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de<br />

muito bons ares, assim frios e temperados, como<br />

os de Entre Douro e Minho, poque neste tempo de<br />

agora os achávamos como os de lá.<br />

4 Águas são muitas: infindas. E em tal maneira é<br />

graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela<br />

tudo, por bem das águas que tem.<br />

Carta de Pero Vaz de Caminha. in: PEREIRA, Paulo Roberto (org.) Os<br />

três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil.<br />

Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, pp.39-40<br />

Vocabulário<br />

1. “espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha”:<br />

associação de imagem, com a tampa de um vasilhame de<br />

couro, para transportar água ou vinho, que recebia o nome<br />

de “espelho” por ser feita de madeira polida.<br />

2. “tintura preta, a modos de azulada”: é uma tintura feita<br />

com o sumo do fruto jenipapo.<br />

3. “escaques”: quadrados de cores alternadas como os do<br />

tabuleiro de xadrez.<br />

4. “parma”: lisa como a palma da mão.<br />

5. “chã”: terreno plano, planície.<br />

Assinale o fragmento que representa uma retomada<br />

modernista da carta de Pero Vaz de Caminha.<br />

a) O Novo Mundo nos músculos/ Sente a seiva do<br />

porvir. Castro Alves<br />

b) Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o sabiá.<br />

Golçalves Dias<br />

c) A terra é mui graciosa/ Tão fértil eu nunca vi. Murilo<br />

Mendes<br />

d) Irás a divertir-te na floresta,/ sustentada, Marília,<br />

no meu braço.Tomás Antônio Gonzaga<br />

e) Todos cantam sua terra / Também vou cantar a<br />

minha. Casimiro de Abreu.<br />

383. ITA-SP<br />

Certos traços da vertente realista-naturalista da literatura<br />

brasileira renascem com força nos anos 30 do século<br />

XX. Um marco desse renascimento é a publicação,<br />

em 1938, do livro Vidas secas, de Graciliano Ramos,<br />

romance acerca do qual é possível dizer:<br />

I. Ele registra com nitidez as seqüelas da miséria<br />

sobre uma família pobre de retirantes nordestinos,<br />

miséria essa que acaba levando as personagens<br />

a um estágio de degradação moral.<br />

lI. Diferentemente da narrativa realista do século XIX,<br />

o tema desse livro não é mais o adultério feminino<br />

e as relações de interesse que marcam a classe<br />

burguesa, mas sim as condições precárias de<br />

pessoas humildes do sertão brasileiro.<br />

III. Apesar de as personagens viverem em condições<br />

desumanas, elas mantêm a sua dignidade e não<br />

perdem o seu caráter nem a sua humanidade.<br />

Está(ão) correta(s):<br />

a) I e II.<br />

b) I e III.<br />

c) II e III.<br />

d) apenas III.<br />

e) todas.


PV2D-07-54<br />

384.<br />

Observe a tela Guernica do pintor espanhol Pablo<br />

Picasso e leia o texto a seguir do modernista brasileiro<br />

Jorge de Lima<br />

Compare o poema narrativo de Jorge de Lima, “O grande<br />

desastre aéreo de ontem”, com o quadro Guernica,<br />

de Pablo Picasso.<br />

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma<br />

flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista,<br />

em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com<br />

sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e<br />

pernas de dançarinas arremessadas na explosão.<br />

Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor.<br />

Vejo a nadadora belíssima, no seu último<br />

salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.<br />

Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como<br />

se dançassem ainda. (...) Ó amigos, o paralítico vem<br />

com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente,<br />

vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as<br />

nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que<br />

Deus é o arrebol.<br />

LIMA, Jorge de. Poesia. Nossos Clássicos 26.<br />

Rio de Janeiro: Agir, 1963. p. 64-65.<br />

Arrebol: vermelhidão do pôr-do-sol.<br />

Marque a alternativa errada.<br />

a) Na tela, o pintor fez uso de “pedaços” de realidades,<br />

como se fossem palavras que, somadas,<br />

formam um todo de entendimento.<br />

b) No texto, há flashes de uma mesma realidade,<br />

porém, plenamente configurada.<br />

c) Em ambas as obras, a maneira de abordagem de<br />

cada um dos temas deveu-se a escolhas absolutamente<br />

pessoais.<br />

d) A abordagem de uma tragédia nas duas peças<br />

artísticas é irrelevante, já que o processo de “construção”<br />

eliminou a emocionalidade dos autores.<br />

e) Na pintura, a “montagem” da obra é bem mais<br />

subjetiva do que no texto escrito.<br />

385. PUC-PR<br />

Na seguinte narrativa curta de Mário Quintana, podemos<br />

observar algumas características da obra do escritor:<br />

História<br />

Era um desrecalcado, pensavam todos. Pois já assassinara<br />

uma bem-amada, um crítico e um amigo.<br />

Mas nunca mais encontrou amada, nem crítico, nem<br />

amigo. Ninguém mais que lhe mentisse, ninguém<br />

mais que o incompreendesse, nem nunca mais um<br />

inimigo íntimo...<br />

E vai daí ele se enforcou.<br />

Selecione a alternativa que melhor descreve as características<br />

da obra de Mário Quintana:<br />

a) A destruição indiscriminada, cega e desumana do<br />

mundo circundante.<br />

b) Individualismo auntêntico e generoso, mas carregado<br />

de crítica social.<br />

c) Desconfiança diante das convenções sociais<br />

estabelecidas.<br />

d) Visão desencantada, irônica e crítica da humanidade,<br />

materializada pela força da palavra poética.<br />

e) Nostalgia e saudade dos objetos antigos e do<br />

passado.<br />

386. UFSC<br />

Em relação a Mário Quintana, sua obra e o excerto<br />

abaixo, do livro Poemas, é correto afirmar que:<br />

Fere de leve a frase... E esquece... Nada / Convém<br />

que se repita... / Só em linguagem amorosa agrada /<br />

A mesma coisa cem mil vezes dita.<br />

01. O texto poético caracteriza-se por apresentar muitas<br />

inversões que atendem estilisticamente ao ritmo dos<br />

versos. No excerto, por exemplo, a palavra Só pode<br />

ser deslocada: ‘em linguagem amorosa só agrada’,<br />

sem alteração de significado.<br />

02. Percebe-se, no excerto acima, uma preocupação<br />

metalingüística do autor, que extravasa em alguns<br />

poemas suas próprias concepções sobre<br />

a poesia.<br />

04. A idéia de o poema ser ‘único’, uma das características<br />

da obra de Mário Quintana, está presente<br />

no excerto acima.<br />

08. São características de Mário Quintana, entre<br />

outras: a natureza pessoal, quase autobiográfica,<br />

de sua obra; o cultivo da forma; e o humor.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

387. PUC-RS<br />

Leia o texto que se segue.<br />

Lá adiante, em plena estrada, o pasto se enramava,<br />

e uma pelúcia verde, verde e macia, se estendia no<br />

chão até perder de vista.<br />

A caatinga despontava toda em grelos verdes [...]<br />

Insetos cor de folha – “esperanças” = saltavam<br />

sobre a grama.<br />

[...]<br />

Mas a triste realidade duramente ainda recordava<br />

a seca.<br />

Passo a passo, na babugem macia, carcaças sujas<br />

maculavam a verdura.<br />

Reses famintas, esquálidas, magoavam o focinho<br />

no chão áspero, que o mato ainda tão curto mal cobria,<br />

procurando em vão apanhar nos dentes os brotos<br />

pequeninos.<br />

Trata-se de trecho de ___________, de Rachel de<br />

Queiroz – obra que se caracteriza pela ___________,<br />

evidenciando a consciência crítica da autora acerca<br />

do problema da seca. É dessa forma que a obra se<br />

associa ao que se convencionou denominar romance<br />

_________.<br />

a) Fogo morto – regionalista<br />

b) O quinze – denúncia - de vanguarda<br />

c) São Bernardo – verossimilhança – nacionalista<br />

d) O quinze – verossimilhança – de 30<br />

e) Jubiabá – denúncia - regionalista<br />

255


388. UFV-MG<br />

Leia atentamente o poema abaixo.<br />

Canção do Exílio<br />

Minha terra tem macieiras da Califórnia<br />

onde cantam gaturamos de Veneza.<br />

Os poetas da minha terra<br />

são pretos que vivem em torres de ametista,<br />

os sargentos do exército são monistas, cubistas,<br />

os filósofos são polacos vendendo a prestações.<br />

A gente não pode dormir<br />

com os oradores e os pernilongos.<br />

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.<br />

Eu morro sufocado<br />

em terra estrangeira.<br />

Nossas flores são mais bonitas<br />

nossas frutas mais gostosas<br />

mas custam cem mil réis a dúzia.<br />

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade<br />

e ouvir um sabiá com certidão de idade!<br />

MENDES, Murilo. O menino experimental: antologia. Org. Affonso<br />

Romano de Sant’Anna. São Paulo: Summus, 1979. p. 31.<br />

Disserte sobre a visão do nacionalismo segundo Murilo<br />

Mendes, apresentando tendências da literatura modernista<br />

que se evidenciam no poema acima.<br />

389. Unirio-RJ<br />

Metade Pássaro<br />

A mulher do fim do mundo<br />

Dá de comer às roseiras,<br />

Dá de beber às estátuas,<br />

Dá de sonhar aos poetas.<br />

A mulher do fim do mundo<br />

Chama a luz com um assobio.<br />

Faz a virgem virar pedra,<br />

Cura a tempestade,<br />

Desvia o curso dos sonhos.<br />

Escreve cartas ao rio,<br />

Me puxa do sono eterno<br />

Para os seus braços que cantam.<br />

Murilo Mendes<br />

a) Cite o movimento de vanguarda a que o texto<br />

acima pode ser associado.<br />

b) No texto, o autor desestrutura o senso e instaura<br />

o contra-senso.<br />

Teça um breve comentário que justifique a afirmativa<br />

acima.<br />

390. UFF-RJ<br />

Quinze de Novembro<br />

Deodoro todo nos trinques<br />

Bate na porta de Dão Pedro Segundo.<br />

“- Seu imperadô, dê o fora<br />

que nós queremos tomar conta desta bugiganga.<br />

Mande vir os músicos.”<br />

O imperador bocejando responde<br />

“Pois não meus filhos não se vexem<br />

me deixem calçar as chinelas<br />

podem entrar à vontade:<br />

só peço que não me bulam nas obras completas de<br />

Victor Hugo.”<br />

Murilo Mendes. Poesia completa e prosa.<br />

256<br />

O poeta Murilo Mendes apresenta um fato histórico<br />

construído também por discursos diretos que refletem<br />

uma visão crítica e irônica da Proclamação da<br />

República. Justifique como os diferentes registros de<br />

língua, na caracterização da fala dos personagens,<br />

constroem a visão crítica e irônica da Proclamação<br />

da República.<br />

391. PUCCamp-SP<br />

Em sua obra, se acentuam os contrastes de requinte<br />

e fartura das casas-grandes com a promiscuidade e a<br />

miséria das senzalas, a sensualidade desenfreada e<br />

a subserviência dos homens do eito. Mas há também<br />

o homem e a paisagem. Certamente a observação se<br />

concentra na zona açucareira do Nordeste, rica de<br />

tradições que datam do século XVI, no momento em<br />

que se decompõe essa estrutura tradicional por força<br />

de uma nova ordem econômica.<br />

Antonio Candido & José Aderaldo Castello. Presença da Literatura<br />

Brasileira - Modernismo. 6 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1997.<br />

Quando ocorre uma expressão literária comprometida<br />

com a realidade que acima se descreve, os textos<br />

ficcionais que resultam desse compromisso têm como<br />

principal traço o<br />

a) nacionalismo.<br />

b) universalismo.<br />

c) intimismo.<br />

d) regionalismo.<br />

e) cosmopolitismo.<br />

392. UFF-RJ<br />

As pedras disformes<br />

lembram cousas enormes:<br />

– Os monstros que não couberam na arca de Noé!<br />

E em meio à limpidez de um céu sem manchas<br />

Tremeluz,<br />

Infernalmente luminoso,<br />

Um sol assassino!<br />

Oh! Paisagem nua!<br />

– DOR.<br />

Ascenso Ferreira. Catimbó<br />

Ascenso Ferreira, poeta do modernismo, traduz na sua<br />

poesia as razões, a tradição, a paisagem e o viver do<br />

povo do nordeste, poesia também expressa a seguir<br />

pelos traços marcantes do pintor Cícero Dias.<br />

Identifique a passagem que apresenta um sentimento<br />

do sertão diferente da visão crítica predominante no<br />

poema de Ascenso Ferreira, de estética modernista.


PV2D-07-54<br />

a) Oh! Que saudades<br />

Do luar da minha terra<br />

Lá na serra branquejando<br />

Folhas secas pelo chão!<br />

Este luar cá da cidade<br />

Tão escuro não tem aquela saudade<br />

Do luar lá do sertão.<br />

Catulo da Paixão Cearense, Luar do Sertão.<br />

b) Quando olhei a terra ardendo<br />

Qual fogueira de São João,<br />

Eu perguntei a Deus do céu<br />

Porque tamanha judiação.<br />

Que fogueira, que fornalha,<br />

no meu pé de prantação.<br />

Por falta d’água perdi meu gado<br />

morreu de sede meu alazão.<br />

Luiz Gonzaga. Asa Branca.<br />

c) (Glória a Deus Senhor nas altura<br />

E viva eu de amargura<br />

Nas terra do meu senhor)<br />

Carcará<br />

Pega, mata e come,<br />

Carcará<br />

Num vai morrer de fome.<br />

Carcará,<br />

Mais coragem do que home,<br />

Carcará<br />

Pega, mata e come.<br />

João do Vale/ José Cândido. Carcará.<br />

d) E se somos Severinos<br />

Iguais em tudo na vida,<br />

Morremos de morte igual,<br />

Mesma morte severina:<br />

Que é a morte de que se morre<br />

De velhice antes dos trinte,<br />

De emboscada antes dos vinte,<br />

De fome um pouco por dia<br />

João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.<br />

e) Nordeste, terra de São Sol!<br />

Irmã enchente, vamos dar graças a Nosso Senhor,<br />

que a minha madrasta Seca torrou seus anjinhos<br />

para os comer.<br />

São Tomé passou por aqui?<br />

Passou, sim senhor!<br />

Pajeú! Pajeú!<br />

Vamos lavar Pedra Bonita, meus irmãos,<br />

com o sangue de mil meninos, amém!<br />

Jorge de Lima, Poemas.<br />

393. UFU-MG<br />

Assinale a alternativa que não se refere à obra São<br />

Bernardo, de Graciliano Ramos.<br />

a) Na personalidade de Paulo Honório, percebe-se<br />

uma fatalidade que o coloca no limiar do infortúnio:<br />

após o suicício de Madalena e o abandono por<br />

parte daqueles que o cercavam, reconhece sua<br />

brutalidade e egoísmo, porém é incapaz de lutar<br />

contra esses sentimentos.<br />

b) A fazenda-título São Bernardo é um empreendimento<br />

que a ambição de Paulo Honório, por<br />

meio de inovações tecnológicas, transforma em<br />

um típico exemplo da penetração de elementos<br />

capitalistas modernos no campo brasileiro.<br />

c) Paulo Honório, narrador de São Bernardo, adquire<br />

uma consciência de sua problemática, suficiente<br />

para promover uma mudança radical em sua personalidade.<br />

Despe-se de sua máscara, tornandose<br />

uma personagem sentimental e flexível.<br />

d) A narrativa apresenta-se em primeira pessoa e<br />

não perde a objetividade, apesar de tratar da vida<br />

do próprio narrador: o fato de a narração ocorrer<br />

após o desenrolar dos acontecimentos garante ao<br />

narrador a consciência necessária à objetividade<br />

radical do homem.<br />

394. UFU-MG<br />

Com relação às personagens de São Bernardo, de<br />

Graciliano Ramos, assinale a alternativa incorreta.<br />

a) Paulo Honório é egoísta, ciumento, invejoso, cínico<br />

e vil por natureza. Contudo, no decorrer da narrativa,<br />

ao relembrar a sua trajetória de vida, assume<br />

uma postura crítica.<br />

b) A presença constante do padre Silvestre na fazenda<br />

mostra que Paulo Honório conhecia e valorizava<br />

o poder da Igreja no esquema sociopolítico da<br />

República Velha.<br />

c) Madalena é vista na narrativa como vítima, tanto<br />

do meio quanto do indivíduo. Aspira à liberdade e,<br />

por isso, luta para não se curvar à servidão. Não<br />

conseguindo, suicida-se.<br />

d) Margarida criou Paulo Honório como se fosse sua<br />

mãe. A presença dela na fazenda justifica-se, apenas,<br />

pelo amor e consideração de Paulo Honório.<br />

395. Ufla-MG<br />

Considerando a leitura de São Bernardo, de Graciliano<br />

Ramos, é incorreto afirmar que nessa obra o protagonista,<br />

Paulo Honório:<br />

a) lança-se desesperadamente ao trabalho, após a<br />

morte de Madalena, na tentativa de esquecer o<br />

fracasso que foi sua vida.<br />

b) volta-se para si mesmo e escreve seu livro, buscando<br />

o sentido de sua vida.<br />

c) preocupa-se demasiadamente com o conflito e a<br />

instabilidade econômica provocados pela decadência<br />

da fazenda.<br />

d) é dominado pelo egoísmo e pelo instinto de posse,<br />

provocando, com isso, o abandono de todos.<br />

e) é astucioso, desonesto, não hesitando em amedrontar<br />

ou corromper para conseguir o que deseja.<br />

396. Fatec-SP<br />

I.<br />

... encontro-me aqui em São Bernardo, escrevendo.<br />

As janelas estão fechadas. Meia noite. Nenhum<br />

rumor na casa deserta.<br />

Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai<br />

apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me, rolar no colchão<br />

até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar<br />

sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com que<br />

me entreter.<br />

Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e acendo-a.<br />

Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena<br />

persegue-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor<br />

da mesa. Aperto as mãos de tal forma que me firo com<br />

as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os<br />

beiços a ponto de tirar sangue.<br />

257


De longe em longe sento-me fatigado e escrevo<br />

uma linha. Digo em voz baixa:<br />

– Estraguei a minha vida, estraguei-a estupidamente.<br />

A agitação diminui.<br />

– Estraguei a minha vida estupidamente.<br />

II.<br />

...vou deitar ao papel as reminiscências que me<br />

vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi.<br />

O texto II é parte da fala do narrador no 1º capítulo de<br />

Dom Casmurro, de Machado de Assis. Comparando-o<br />

com a fala de Paulo Honório, no último capítulo de São<br />

Bernardo (texto I), é correto afirmar que:<br />

a) ambas as personagens tentam recuperar o passado<br />

através do relato da própria vida, valendo-se, para<br />

tanto, da narrativa em primeira pessoa.<br />

b) a lembrança da mulher amada, presente em ambos<br />

os relatos, desencadeia as duas narrativas que,<br />

intencionalmente, são feitas em terceira pessoa.<br />

c) ambas as personagens, sentindo o peso da velhice,<br />

voltam-se para o passado, numa ávida tentativa de recuperar<br />

a alegria e a tranqüilidade da juventude. Para<br />

tanto, valem-se da narrativa em primeira pessoa.<br />

d) a insônia, causada pelo remorso de uma vida que<br />

poderia ter sido e que não foi, leva ambas as personagens<br />

a permanecerem acordadas. E, para passar<br />

o tempo, escrevem. A narrativa é feita em terceira<br />

pessoa, já que se trata de um narrador onisciente,<br />

isto é, que conhece os fatos na sua totalidade.<br />

e) perseguidos pela sombra do passado e angustiados<br />

pela solidão, ambos os narradores recorrem à<br />

narrativa para afastar seus fantasmas. Utilizam-se,<br />

para isso, da narrativa em primeira pessoa, que<br />

lhes permite um distanciamento maior.<br />

397. Mackenzie-SP<br />

As janelas estão fechadas. Meia-noite. Nenhum rumor<br />

na casa deserta. Levanto-me, procuro uma vela, que a<br />

luz vai apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me, rolar no<br />

colchão até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar<br />

sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com que<br />

me entreter. Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e<br />

acendo-a. Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena<br />

persegue-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor<br />

da mesa. Aperto a mão de tal forma que me firo com<br />

as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os<br />

beiços a ponto de tirar sangue.<br />

Assinale a alternativa correta sobre o fragmento.<br />

a) Pertence a um romance da terceira geração modernista<br />

brasileira.<br />

b) Faz parte de obra que compõe, ao lado de Fogo<br />

morto e Menino de engenho, o ponto máximo da<br />

produção de José Lins do Rego.<br />

c) Detalhes do tempo e do espaço são adequados à<br />

expressão da tortura que o narrador se impõe.<br />

d) Faz parte de um romance cujo protagonista defende<br />

a reforma agrária.<br />

e) Apresenta um narrador personagem indiferente às<br />

reminiscências do passado.<br />

398. Mackenzie-SP<br />

Pela manhã Madalena trabalhava no escritório, mas à<br />

tarde saía a passear, percorria as casas dos moradores.<br />

Garotos empalamados e beiçudos agarravam-se à saia<br />

258<br />

dela. Foi à escola, criticou o método de ensino do Padilha<br />

e entrou a amolar-me reclamando um globo, mapas, outros<br />

arreios que não menciono porque não quero tomar<br />

o incômodo de examinar ali o arquivo. Um dia, distraidamente,<br />

ordenei a encomenda. Quando a fatura chegou,<br />

tremi. Um buraco: seis contos de réis. Calculem. Contive-me<br />

porque tinha feito tenção de evitar dissidências<br />

com minha mulher e porque imaginei mostrar aquelas<br />

complicações ao governador quando ele aparecesse<br />

aqui. Em todo o caso era despesa supérflua.<br />

Graciliano Ramos, São Bernardo<br />

No fragmento exposto, o narrador:<br />

a) lembra episódios que o fizeram reconhecer em<br />

Madalena a eficiência que buscara ao procurar<br />

uma mulher para ser mãe de seus herdeiros e<br />

professora humanitária na fazenda.<br />

b) afirma seu desejo de viver bem com a mulher, por<br />

reconhecer a necessidade dos gastos e a sensatez<br />

com que ela analisava a vida na fazenda.<br />

c) descreve o dia-a-dia na fazenda, valorizando a<br />

intensa e cuidadosa atividade da mulher junto às<br />

crianças, mas criticando o seu excesso de gastos<br />

nas compras necessárias.<br />

d) cita a ocorrência em que a aplicação de Madalena no<br />

controle da escola não impediu a adulteração de documentos,<br />

geradora dos principais incidentes narrados.<br />

e) cita fatos que evidenciam a desigualdade entre<br />

duas maneiras de ver os desprotegidos, cujo<br />

desenvolvimento constitui aspecto importante do<br />

drama da obra.<br />

399. Mackenzie-SP<br />

Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo<br />

perfeita saúde.<br />

O que estou é velho. (...) cinqüenta anos gastos<br />

sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O<br />

resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão<br />

que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro<br />

a sensibilidade embotada.<br />

Cinqüenta anos! Quantas horas inúteis! (...) Comer<br />

e dormir como um porco! (...) E depois guardar comida<br />

para os filhos, para os netos, para muitas gerações.<br />

Que estupidez! (...)<br />

Penso em Madalena com insistência. Se fosse<br />

possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se<br />

fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente<br />

o que aconteceu.<br />

Graciliano Ramos – São Bernardo.<br />

Em São Bernardo, a velhice é o momento em que o<br />

narrador e protagonista Paulo Honório:<br />

a) aproveita, apesar dos problemas cotidianos, toda<br />

a riqueza e o prestígio que conseguiu durante a<br />

sua vida de sacrifícios.<br />

b) vê-se falido economicamente e se conscientiza de<br />

que sua vida foi consumida inutilmente na posse<br />

da fazenda São Bernardo.<br />

c) reconhece a forma desumana como tratou Madalena<br />

e as demais pessoas, mas não é capaz de<br />

reconstruir novo projeto de vida.<br />

d) sente-se contrariado, pois, apesar de saudável física<br />

e emocionalmente, constata que viveu apenas<br />

em função dos outros.<br />

e) avalia o passado positivamente, contrastando-o<br />

com a solidão do presente e a incerteza do futuro.


PV2D-07-54<br />

400.<br />

Poema das Sete Faces<br />

Carlos Drummond de Andrade<br />

Quando nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

O bonde passa cheio de pernas:<br />

pernas brancas pretas amarelas.<br />

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu<br />

[coração.<br />

Porém meus olhos<br />

não perguntam nada.<br />

O homem atrás do bigode<br />

é sério, simples e forte.<br />

Quase não conversa.<br />

Tem poucos, raros amigos<br />

o homem atrás dos óculos e do bigode,<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

mais vasto é meu coração.<br />

Eu não devia te dizer<br />

mas essa lua<br />

mas esse conhaque<br />

botam a gente comovido como o diabo.<br />

Após a leitura desse poema de Carlos Drummond, tirado<br />

do livro Alguma Poesia, indique o entendimento errado.<br />

a) A cor azul, na 2ª estrofe, tem a conotação de<br />

“melhor”.<br />

b) A ausência de pontuação no 2º verso da 3ª estrofe<br />

metaforiza o sentido de quantidade, proximidade<br />

e mistura.<br />

c) As palavras “olhos” (3ª estrofe) e “Deus” (5ª estrofe)<br />

estão relacionadas ao sentimento de vazio, de<br />

falta de expectativa.<br />

d) Na penúltima estrofe perpassa o sentimento de<br />

descrença.<br />

e) Na última estrofe, esvaziando a sensação de tristeza,<br />

o poeta cria o clima típico do Romantismo satânico.<br />

401.<br />

Todas as afirmativas abaixo, a respeito de Vidas secas,<br />

de Graciliano Ramos, são corretas, exceto:<br />

a) Os meninos, criaturas ingênuas, alimentam sonhos<br />

simples (como o de ver em Fabiano um modelo<br />

a ser copiado), enquanto seus pais ambicionam<br />

para eles um futuro melhor.<br />

b) O que faz Sinha Vitória diferente de Fabiano é seu<br />

obsessivo desejo de posse (uma cama de couro,<br />

igual à do Seu Tomás da bolandeira), além da<br />

sua capacidade de observação das coisas e dos<br />

problemas relacionados à família.<br />

c) O nome Baleia transcende a ironia e funciona<br />

mais como uma compensação para a secura da<br />

terra e das vidas secas, o que se comprova pela<br />

antropomorfização do animal.<br />

d) Um dos maiores conflitos vividos por Fabiano é<br />

reconhecer-se um bicho: marginalizado e inferiorizado,<br />

vive se comparando a animais.<br />

e) A morte para a cachorra Baleia conota a possibilidade<br />

de encontrar um mundo cheio de<br />

pessoas diferentes daquelas que ela conhecera,<br />

num espaço limitado, inferior àquele em que ela<br />

vivera.<br />

402. PUC-SP<br />

Otto Maria Carpeaux, analisando o romance de<br />

Graciliano Ramos, afirma: “Após ter lido Angústia<br />

até o fim, é preciso rever as primeiras páginas, para<br />

compreendê-las”. Isso se justifica porque o romance<br />

apresenta:<br />

a) um mundo fechado em si mesmo, mas com linhas<br />

narrativas independentes e soltas.<br />

b) estrutura circular em que início e fim se tocam em<br />

relação de causa e efeito.<br />

c) relação temporal em que o passado e o presente<br />

se interpenetram, dando ao texto uma estrutura<br />

labiríntica.<br />

d) narração em terceira pessoa, com linha narrativa<br />

ondulatória.<br />

e) desordem na seqüência narrativa como conseqüência<br />

do distúrbio mental que acometera a<br />

personagem.<br />

403. UFPE<br />

Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, é um<br />

livro autobiográfico. Sobre essa obra, podemos afirmar<br />

que:<br />

( ) Foi escrito quando o autor esteve preso, no presídio<br />

de Ilha Grande, em 1936, com outros acusados<br />

de crime político, esse livro não inclui elementos<br />

ficcionais.<br />

( ) trata-se de um curto relato sobre o tempo que o<br />

autor passou na prisão, sob a ditadura de Getúlio<br />

Vargas. Esse relato caracteriza-se, sobretudo, por<br />

sua incontestável objetividade.<br />

( ) a obra extrapola a narração dos sofrimentos pessoais,<br />

alcançando a universalidade ao denunciar<br />

a injustiça e a humilhação imposta pelos governos<br />

autoritários.<br />

( ) só dez anos depois dos acontecimentos, ao filtrar<br />

e amadurecer as lembranças, é que o autor relatou<br />

suas impressões, em discurso indireto, fugindo aos<br />

diálogos.<br />

( ) Graciliano teve, como companheira de prisão,<br />

Olga Benário Prestes (esposa de Prestes). No<br />

livro, descreve a cena em que Olga é arrastada<br />

do cárcere, para ser enviada à Gestapo, junto com<br />

outra estrangeira, Elisa Berger.<br />

259


404. PUC-SP<br />

Os acontecimentos retratados no filme Memórias<br />

do cárcere, com base no livro de Graciliano Ramos,<br />

referem-se:<br />

a) ao período da Revolução de Isidoro Lopes e à<br />

Marcha da Coluna Prestes.<br />

b) às conspirações de intelectuais, principalmente<br />

nordestinos, no combate a Vargas.<br />

c) às tentativas de eliminar as oposições logo após<br />

o Governo Provisório.<br />

d) às manobras de Vargas para sufocar as rebeliões<br />

militares contra seu governo.<br />

e) à repressão aos comunistas no período posterior<br />

ao levante da Aliança Nacional Libertadora.<br />

405. ITA-SP<br />

O romance São Bernardo, de Graciliano Ramos,<br />

publicado em 1934, é narrado em primeira pessoa<br />

pelo narrador-personagem Paulo Honório, que decide<br />

escrever o livro em determinada altura da sua vida. O<br />

principal motivo que levou Paulo Honório a escrever<br />

a sua história foi:<br />

a) o desejo de mostrar como ele conseguiu, com enorme<br />

esforço, tornar-se um proprietário rural bem-sucedido,<br />

apesar de sua origem extremamente humilde.<br />

b) o desejo de mostrar como se formavam os conflitos<br />

políticos e sociais no interior do Nordeste brasileiro,<br />

tema recorrente na ficção da chamada “Geração<br />

de 1930”.<br />

c) a tristeza que toma conta dele depois que a fazenda<br />

São Bernardo deixa de ser produtiva, o que ela<br />

tinha sido graças ao seu empenho.<br />

d) tentar compreender o que teria levado Madalena<br />

ao fim trágico da sua existência, bem como as razões<br />

de a vida conjugal deles não ter se realizado<br />

como ele gostaria.<br />

e) revelar quais foram os motivos pelos quais Madalena<br />

se matou, visto que ela se sentia culpada por<br />

ter traído o marido com Padilha, antigo proprietário<br />

da São Bernardo.<br />

406. ITA-SP<br />

Leia o texto seguinte.<br />

Graciliano Ramos:<br />

Falo somente com o que falo:<br />

Com as mesmas vinte palavras<br />

girando ao redor do sol<br />

que as limpa do que não é faca:<br />

de toda uma crosta viscosa,<br />

resto de janta abaianada,<br />

que fica na lâmina e cega<br />

seu gosto da cicatriz clara.<br />

(...)<br />

João Cabral de Melo Neto<br />

a) No poema, João Cabral faz referência ao estilo<br />

de Graciliano Ramos. Destaque um trecho do<br />

excerto exposto e comente a caracterização feita<br />

pelo autor do poema.<br />

b) Justifique a colocação dos dois pontos após o<br />

nome Graciliano Ramos no título do poema.<br />

260<br />

407. Unicamp-SP<br />

Leia o seguinte trecho extraído do romance Angústia:<br />

Onde andariam os outros vagabundos daquele tempo?<br />

Naturalmente, a fome antiga me enfraqueceu<br />

a memória. Lembro-me de vultos bisonhos que se<br />

arrastavam como bichos, remoendo pragas. Que fim<br />

teriam levado? Mortos nos hospitais, nas cadeias,<br />

debaixo dos bondes, nos rolos sangrentos das favelas.<br />

Alguns, raros, teriam conseguido, como eu, um<br />

emprego público, seriam parafusos insignificantes na<br />

máquina do Estado e estariam visitando outras favelas,<br />

desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro<br />

as pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas<br />

almas de parafusos fazendo voltas num lugar só.<br />

Graciliano Ramos, Angústia.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Record, 56ª ed., 2003, pp.140-1.<br />

a) No momento da narração, a posição social do<br />

narrador-personagem difere de sua condição de<br />

origem? Responda sim ou não e justifique.<br />

b) Na citação mostrada, o termo ‘parafusos’ remete<br />

ao verbo ‘parafusar’ que, além do significado mais<br />

conhecido, também tem o sentido de ‘pensar’,<br />

‘cismar’, ‘refletir’, ‘matutar’. Como esses dois<br />

sentidos podem ser relacionados ao modo de ser<br />

do narrador-personagem?<br />

c) De que maneira o segundo sentido do verbo<br />

‘parafusar’ está expresso na técnica narrativa de<br />

Angústia?<br />

Texto para as questões 408 e 409.<br />

Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela<br />

divisão do trabalho.<br />

Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram<br />

de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento<br />

das letras nacionais. Padre Silvestre<br />

ficaria com a parte moral e as citações latinas; João<br />

Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe;<br />

prometi ao Arquimedes a composição tipográfica;<br />

para a composição literária convidei Lúcio Gomes de<br />

Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu<br />

traçaria o plano, introduziria na história rudimentos<br />

de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o<br />

meu nome na capa. (...)<br />

Mas o otimismo levou água na fervura, compreendi<br />

que não nos entendíamos.<br />

João Nogueira queria o romance em língua de<br />

Camões, com períodos formados de trás para diante.<br />

Calculem.<br />

Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da<br />

revolução de outubro, tornou-se uma fera, exige devassas<br />

rigorosas e castigos para os que não usaram<br />

lenços vermelhos. Torceu-me a cara. (...)<br />

Afastei-o da combinação e concentrei as minhas<br />

esperanças em Lúcio Gomes de Azevedo Gondim,<br />

periodista de boa índole e que escreve o que lhe<br />

mandam.<br />

Trabalhamos alguns dias. (...)<br />

A princípio tudo correu bem, não houve entre nós<br />

nenhuma divergência. A conversa era longa, mas cada<br />

um prestava atenção às próprias palavras, sem ligar<br />

importância ao que o outro dizia. Eu por mim, entusiasmado<br />

com o assunto, esquecia constantemente<br />

a natureza de Gondim e chegava a considerá-lo uma


PV2D-07-54<br />

espécie de folha de papel destinada a receber as idéias<br />

confusas que me fervilhavam na cabeça.<br />

O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do<br />

nosso primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apresentou-me<br />

dois capítulos datilografados, tão cheios de<br />

besteiras que me zanguei:<br />

– Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o<br />

troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá<br />

ninguém que fale dessa forma!<br />

Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em<br />

seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade<br />

e replicou amuado que um artista não pode escrever<br />

como fala.<br />

– Não pode? perguntei com assombro. E por<br />

quê?<br />

Azevedo Gondim respondeu que não pode porque<br />

não pode.<br />

– Foi assim que sempre se fez. A literatura é a<br />

literatura, Seu Paulo. A gente discute, briga, trata de<br />

negócios naturalmente, mas arranjar palavras com<br />

tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo,<br />

ninguém me lia.<br />

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. São Paulo, Martins, 1969.<br />

408. UERJ<br />

Azevedo Gondim e o narrador possuem concepções diferentes<br />

acerca da escrita literária. Apresente, resumidamente,<br />

as duas concepções, comprovando-as com<br />

uma frase de cada personagem sobre o assunto.<br />

409. UERJ<br />

Na fala do narrador sobre a composição do livro,<br />

estão claras algumas relações de dominação que<br />

caracterizam a sociedade brasileira. Identifique, no<br />

segundo parágrafo, duas referências que expressem<br />

essa dominação.<br />

4<strong>10</strong>. Unicamp-SP<br />

No trecho a seguir, retirado de um dos capítulos de<br />

São Bernardo, de Graciliano Ramos, Paulo Honório<br />

faz algumas considerações sobre as diferenças na<br />

maneira de falar que acabam provocando desentendimentos<br />

entre ele e Madalena.<br />

No começo das nossas desavenças todas as<br />

noites aqui me sentava, arengando com Madalena.<br />

Tínhamos desperdiçado tantas palavras!<br />

– Para que serve a gente discutir, explicar-se?<br />

Para quê?<br />

Para que, realmente? O que eu dizia era simples,<br />

direto e procurava debalde em minha mulher concisão<br />

e clareza. Usar aquele vocabulário, vasto, cheio de<br />

ciladas, não me seria possível. E se ela tentava a minha<br />

linguagem resumida, matuta, as expressões mais<br />

inofensivas e concretas eram para mim semelhantes a<br />

cobras: faziam voltas, picavam e tinham significação<br />

venenosa.<br />

a) Como é possível explicar, com base na história<br />

pessoal das personagens, as diferenças na maneira<br />

de falar entre Paulo Honório e Madalena?<br />

b) A diferença de linguagem é um sintoma do conflito<br />

existente entre essas duas personagens. De<br />

que maneira tal diferença contribui para o conflito<br />

básico do romance?<br />

411. Unicamp-SP<br />

Em Angústia de Graciliano Ramos, encontramos seqüências<br />

instigantes:<br />

Penso em indivíduos e em objetos que não têm<br />

relação com os desenhos: processos, orçamentos, o<br />

diretor, o secretário, políticos, sujeitos remediados que<br />

me desprezam porque sou um pobre-diabo.<br />

Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos<br />

cafés e preguiçando, indecentes.<br />

(...)<br />

Fomos morar na vila. Meteram-me na escola de<br />

seu Antônio Justino, para desasnar, pois, como disse<br />

Camilo quando me apresentou ao mestre, eu era um<br />

cavalo de dez anos e não conhecia a mão direita.<br />

Aprendi leitura, o catecismo, a conjugação dos<br />

verbos. O professor dormia durante as lições. E a<br />

gente bocejava olhando as paredes, esperando que<br />

uma réstia chegasse ao risco de lápis que marcava<br />

duas horas. Saíamos em algazarra.<br />

Graciliano Ramos, Angústia.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Record, 56ª.ed., 2003, pp. 8-9 e 15.<br />

a) Que processos permitem as construções ‘preguiçando’<br />

e ‘desasnar’ na língua?<br />

b) Se substituirmos ‘preguiçando’ por ‘descansando’<br />

e ‘desasnar’ por ‘aprender’, observamos uma relação<br />

diferente com a poesia da língua. Explicite<br />

essa diferença.<br />

c) O uso de ‘desasnar’ pode nos remeter, entre outras<br />

palavras, a ‘desemburrecer’ e ‘desemburrar’.<br />

No Dicionário Houaiss da língua portuguesa (ed.<br />

Objetiva, 2001), o verbete ‘desemburrar’ apresenta<br />

como acepções tanto ‘livrar-se da ignorância’,<br />

quanto ‘perder o enfezamento’, e marca sua etimologia<br />

como des + emburrar. Seguindo nossa<br />

consulta, encontramos no verbete ‘emburrar’ o<br />

ano de 1647 que, segundo a Chave do Dicionário<br />

Houaiss, indica a“data em que [essa palavra] entrou<br />

no português”. A fonte dessa datação é a obra<br />

Thesouro da lingoa portuguesa, composta pelo<br />

Padre D. Bento Pereyra, publicada em Lisboa.<br />

Embora ‘desemburrecer’ não apareça no dicionário,<br />

encontramos ‘emburrecer’, cuja entrada no português ,<br />

segundo o Dicionário Houaiss, data de 1998, atestada<br />

pela obra de Celso Pedro Luft Dicionário prático de<br />

regência verbal, publicada em São Paulo.<br />

O verbete ‘desasnar’ data de 1713, atestado pela<br />

obra Vocabulário portuguez e latino de Rafael<br />

Bluteau, publicada em Coimbra-Lisboa.<br />

Tendo em vista as observações apresentadas – a<br />

presença ou não desses verbetes no dicionário, as<br />

datas de entrada no português e as fontes que atestam<br />

essas entradas – o que se pode compreender<br />

sobre a relação entre o dicionário e a língua?<br />

412.<br />

Graciliano Ramos é uma das figuras mais importantes<br />

do grupo de escritores do Nordeste surgidos na década<br />

de 1930. É considerado um dos maiores ficcionistas<br />

brasileiros.<br />

a) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos não<br />

é da década de 1930.<br />

b) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos é<br />

escritor mas não é ficcionista.<br />

261


c) O texto não apresenta qualquer informação errônea.<br />

d) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos pertence<br />

ao grupo sulino.<br />

413.<br />

Vidas secas organiza-se em treze capítulos ou partes.<br />

A primeira e a última relatam, respectivamente, a chegada<br />

à velha fazenda e a saída de lá. Essa construção,<br />

segundo Antonio Candido, “forma um anel de ferro, em<br />

cujo círculo sem saída se fecha a vida esmagada da<br />

pobre família de retirantes – agregados – retirantes”.<br />

Considerando a análise de Antonio Candido e a leitura<br />

dos trechos anteriores, que idéia não se justifica pela<br />

construção da obra?<br />

a) Nomadismo como saída para a sobrevivência.<br />

b) A vida desenvolvida em ciclos que se repetem.<br />

c) Previsão de destino assemelhado para proprietário<br />

e agregado.<br />

d) Instabilidade como única certeza.<br />

e) Tragicidade como marca do destino dos migrantes.<br />

414. UFPE<br />

Em Vidas secas, romance de Graciliano Ramos, a<br />

linguagem é econômica, despojada, precisa e clara.<br />

Nesse caso, podemos afirmar que:<br />

1. a linguagem simboliza a realidade nordestina.<br />

2. a linguagem não é literária.<br />

3. a linguagem é adequada ao tema de que ela fala:<br />

a seca.<br />

4. a linguagem é pobre.<br />

Assinale o que achar correto.<br />

a) Estão certas 3 e 4.<br />

b) Estão certas 1 e 3.<br />

c) Estão certas 1 e 4.<br />

d) Estão certas 3 e 2.<br />

e) Estão certas as quatro afirmativas.<br />

415. UFR-RJ<br />

Escrito por Graciliano Ramos em 1938, Vidas secas é<br />

uma obra-prima do Modernismo e mesmo de toda a literatura<br />

brasileira. Trata-se de narrativa pungente, onde o<br />

drama do nordestino, tangido de seu lar pela inclemência<br />

da seca, é contado de forma árida, seca e bastante realista,<br />

numa sintonia bastante eficaz entre forma e conteúdo.<br />

O texto a seguir é um excerto de Vidas secas.<br />

Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava.<br />

Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se.<br />

Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido<br />

assim, desde que ele se entendera. E antes de se<br />

entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos<br />

bons misturados com anos ruins. A desgraça estava<br />

em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena<br />

trabalhar. Ele marchando para a casa, trepando a<br />

ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se<br />

avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.<br />

RAMOS, Graciliano. Vidas secas.<br />

São Paulo: Martins, s/d. 28. ed., p. 59.<br />

Assinale a afirmativa que indica uma característica do<br />

Modernismo e do estilo do autor, tomando por base<br />

a leitura do texto.<br />

262<br />

a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as<br />

metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta<br />

consonância com a prolixidade do texto.<br />

b) O estilo direto do texto está sintonizado com a<br />

narrativa, que descreve uma cena de grande<br />

movimentação e presença de personagens.<br />

c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de<br />

exuberância natural com um personagem tímido,<br />

reservado e de poucas ambições.<br />

d) O texto é direto, econômico, interessa mais a<br />

angústia interior dos personagens do que seus<br />

próprios atos.<br />

e) A fatalidade da situação é explorada ao limite máximo,<br />

com a natureza pactuando com as angústias<br />

do personagem, mas, ao final, subjugando-se.<br />

416. Mackenzie-SP<br />

Considera-se que na obra Vidas secas temos uma<br />

perfeita adequação da técnica literária à realidade<br />

expressa. Assim, para demonstrar a ausência de possibilidades<br />

de mudança, a narração é feita pela adoção<br />

de todas as técnicas mencionadas abaixo, exceto:<br />

a) uma construção por fragmentos, com fatos arranjando-se<br />

sem se integrarem.<br />

b) uso de quadros quase destacados nos quais os<br />

fatos se arranjam sem se integrarem.<br />

c) uma construção integrada, composta por fatos<br />

também integrados.<br />

d) uso de quadros destacados, sugerindo um mundo<br />

incompreensível.<br />

e) construções fragmentadas, sugerindo um mundo<br />

incompreensível e captadas por manifestações<br />

isoladas.<br />

417. ITA-SP<br />

Assinale a melhor opção, considerando as seguintes<br />

asserções sobre Fabiano, personagem de Vidas secas,<br />

de Graciliano Ramos.<br />

I. Devido às dificuldades pelas quais passou no<br />

sertão, tornou-se um homem rude, mandante da<br />

morte de vários inimigos seus.<br />

II. Comparava-se, com orgulho, aos animais, pois era<br />

um homem errante que vivia fugindo da seca.<br />

III. Sentia-se fraco para exigir seus direitos diante de<br />

patrões e autoridades, por isso não se considerava<br />

um homem, mas um bicho.<br />

Está(ão) correta(s):<br />

a) apenas a I. d) I e III<br />

b) apenas a III. e) II e III<br />

c) I e II<br />

418.<br />

Assinale a afirmação incorreta a respeito de Alguma<br />

poesia, de Carlos Drummond de Andrade:<br />

a) O indivíduo é “um eu todo retorcido”, profundamente<br />

deslocado em relação ao mundo exterior,<br />

um verdadeiro gauche.<br />

b) O conhecimento amoroso, o amor é amargo, um<br />

amar/amaro, como ilustram os poemas Quadrilha<br />

e Sentimental.


PV2D-07-54<br />

c) Publicado em 1930, Alguma poesia, volume que<br />

constitui obra de estréia do autor, distancia-se do<br />

poema-piada e do prosaísmo, aspectos marcantes<br />

da poesia modernista de 1922.<br />

d) O lirismo se faz presente nos poemas e marca o<br />

estilo do autor. Mas apresenta-se contido, muito<br />

mais refletido que sentido, espécie de antilirismo<br />

que faz de Drummond um dos poetas mais singulares<br />

da nossa literatura.<br />

e) Há poemas que falam da própria poesia, isto é,<br />

poemas metalingüísticos. Neles, o poeta refere-se<br />

ao ato e à necessidade de escrever e revela que a<br />

poesia nasce dos seres, dos fatos, às vezes até do<br />

inabitual, do incomum, do obscuro do cotidiano.<br />

419. Unicap-PE<br />

Assinale verdadeiro (V) ou falso (F).<br />

Vidas secas, de Graciliano Ramos, inicia-se assim:<br />

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam<br />

duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado<br />

o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente<br />

andavam pouco, mas como haviam repousado<br />

bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem<br />

três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra.<br />

A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos<br />

galhos pelados da catinga rala.<br />

( ) O texto anterior situa, de imediato, o leitor no tema<br />

central da obra do alagoano: a realidade nordestina,<br />

o tempo da seca (como hoje), haja vista a<br />

planície avermelhada, os juazeiros, o rio seco, os<br />

galhos pelados.<br />

( ) O juazeiro é árvore característica da caatinga nordestina.<br />

Sua casca rica serve como sabão e dentifrício. É<br />

uma árvore que, para os retirantes, fornece sombra<br />

e, para o gado, além de sombra, alimento.<br />

( ) O poético no texto de Graciliano Ramos já pode<br />

ser vivenciado na antítese implícita nos dois<br />

adjetivos: avermelhada e verdes, pois é possível<br />

ler o primeiro como indício de morte, dada a sua<br />

proximidade com seca, e o segundo, como indício<br />

de vida, uma vez que o juazeiro é uma das poucas<br />

plantas cuja folhagem, na seca, permanece viva<br />

por muito tempo.<br />

( ) O emprego de um termo como juazeiro atesta<br />

a universalidade de Vidas secas, confirmando<br />

a validade da concepção de que é inteiramente<br />

possível ler qualquer obra literária, desvinculandoa<br />

de motivos temporais e espaciais.<br />

( ) A expressão galhos pelados da catinga rala é uma<br />

descrição objetiva do Nordeste castigado pela<br />

seca, por onde os retirantes caminham: galhos<br />

pelados, porque sem folhas, e catinga rala porque<br />

a vegetação, além de perder as folhas, é pouco<br />

espessa, tem pouca densidade.<br />

420. Unicap-PE<br />

Esta questão (de interpretação) refere-se a Vidas<br />

secas, de Graciliano Ramos. Com a chegada da<br />

seca, Fabiano, Sinha Vitória e os filhos iniciam uma<br />

nova fuga. O último capítulo dessa obra do alagoano<br />

tem este título: “Fuga”. Durante a caminhada, o casal<br />

ensaia “pedaços” de conversa. Reproduz-se, a seguir,<br />

um trecho desses ensaios.<br />

– Por que não haveriam de ser gente, possuir<br />

uma cama igual à de Seu Tomás da bolandeira? Fabiano<br />

franziu a testa: lá vinham os despropósitos. Sinha<br />

Vitória insistiu e dominou-o. Por que haveriam de ser<br />

sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos?<br />

Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias.<br />

Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano<br />

respondeu que não podiam.<br />

– O mundo é grande.<br />

Realmente para eles era bem pequeno, mas<br />

afirmavam que era grande – e marchavam, meio<br />

confiados, meio inquietos. Olharam os meninos que<br />

olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos.<br />

Em que estariam pensando? zumbiu Sinha<br />

Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma<br />

objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa.<br />

( ) A cama de Seu Tomás é um símbolo. Símbolo é<br />

“aquilo que substitui ou sugere algo”. Em Vidas<br />

secas, a cama é símbolo de conforto, desejado<br />

por Sinha Vitória para si e para sua família.<br />

( ) A frase “Sinha Vitória insistiu e dominou-o” atesta<br />

o feminismo existente no meio rural nordestino.<br />

( ) A palavra bicho(s) aparece no texto três vezes. É<br />

uma alusão à condição de vida dos nordestinos<br />

interioranos, em tempo da seca, condição que,<br />

no texto em questão, é reafirmada outras vezes,<br />

como em: “zumbiu Sinha Vitória”, “Fabiano rosnou<br />

uma objeção”.<br />

( ) Mas, em zumbiu, essa condição (de bicho) está<br />

ainda mais intensificada, porque, além de essa<br />

palavra (zumbir) nomear ruídos emitidos por<br />

animais, em alguns interiores nordestinos – (no<br />

estado de Alagoas, por exemplo, onde Graciliano<br />

nasceu) zumbi também designa a alma de certos<br />

animais.<br />

( ) A convicção de serem bichos está na mente<br />

de Sinha Vitória: “Por que não haveriam de ser<br />

gente...?” e no “rosnado” de Fabiano: “Menino é<br />

bicho miúdo, não pensa” – frase que subentende:<br />

só bicho grande pensa. No entanto, mesmo com<br />

essa convicção, as personagens de Vidas secas<br />

são, intensamente, seres; símbolos de seres humanos,<br />

pois elas pensam, falam, indagam, têm<br />

consciência da sua condição de bicho. E o único<br />

que tem consciência da sua condição (de bicho)<br />

é o homem.<br />

Texto para as questões de 421 a 423.<br />

Leia atentamente o trecho, extraído de Vidas secas, de<br />

Graciliano Ramos, e responda as questões a seguir:<br />

[Sinha Vitória] Pensou de novo na cama de varas e mentalmente<br />

xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinham-se<br />

acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa<br />

cama de lastro de couro, como outras pessoas.<br />

Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido.<br />

Fabiano, a princípio, concordara com ela, mastigara<br />

cálculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a<br />

armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário<br />

economizando na roupa e no querosene. Sinha Vitória<br />

respondera que isso era impossível, porque eles vestiam<br />

mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se<br />

todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam<br />

candeeiros na casa.<br />

263


421. Faenquil-SP<br />

No segundo parágrafo, o móvel necessário refere-se:<br />

a) ao dinheiro necessário para comprar a cama.<br />

b) à cama desejada por Sinha Vitória.<br />

c) ao couro e à armação que Fabiano desejava<br />

comprar.<br />

d) ao querosene para a iluminação da casa e às roupas<br />

que precisavam comprar para as crianças.<br />

e) aos cálculos feitos por Fabiano para poder pagar<br />

todas as contas da casa.<br />

422. Faenquil-SP<br />

Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa.<br />

Este trecho, no contexto do parágrafo, funciona como<br />

uma resposta de:<br />

a) Fabiano, criticando o desejo de Sinha Vitória de<br />

possuir uma cama.<br />

b) Sinha Vitória, criticando a idéia de Fabiano de<br />

economizar no querosene para poderem comprar<br />

a cama.<br />

c) Fabiano, aborrecendo-se com a insistência de<br />

Sinha Vitória, que não reconhecia seu esforço.<br />

d) Sinha Vitória, insistindo na idéia de que merecia<br />

uma cama, pois nem candeeiro tinham.<br />

e) Fabiano, prometendo a Sinha Vitória que tentaria<br />

adquirir uma cama para eles.<br />

423. Faenquil-SP<br />

Considerando-se a situação em que vivia a família de<br />

Fabiano em Vidas secas, pode-se dizer que a cama<br />

representa:<br />

a) uma crítica ao materialismo das personagens que,<br />

quase não tendo o que comer, desejam possuir<br />

bens que não podem comprar.<br />

b) uma tentativa de reação à seca e à miséria, pois<br />

é um símbolo de estabilidade e de conforto.<br />

c) a dureza de Fabiano, homem rude e bruto, que<br />

não oferecia nenhum conforto à família.<br />

d) a força do amor entre Sinha Vitória e Fabiano,<br />

apesar de toda dificuldade e miséria.<br />

e) a futilidade de Sinha Vitória, pois, ao invés de se<br />

preocupar em vestir os filhos, buscava conforto<br />

para ela mesma.<br />

424. PUCCamp-SP<br />

A leitura de romances como Vidas secas, São Bernardo ou<br />

Angústia permite afirmar sobre Graciliano Ramos que:<br />

a) sua grande capacidade fabuladora e o tom lírico<br />

de sua linguagem servem a uma obra dominada<br />

pelo impulso, em que se mesclam romantismo e<br />

realismo, poesia e documento.<br />

b) sua obra transcreve as limitações do regional ao evoluir<br />

para uma perspectiva universal, ao mesmo tempo<br />

em que sua expressão parte para o experimentalismo<br />

e para as invenções vocabulares inovadoras.<br />

c) sua obra, preocupada em fixar os costumes e<br />

as falas locais do meio rural e da cidade, é um<br />

registro fiel da realidade nordestina, quase um<br />

documentário transfigurado em ficção.<br />

d) sua obra, toda condicionada pela realidade humana<br />

e social de uma árida região de coronéis e<br />

cangaceiros, apresenta uma narrativa linear, mas<br />

de linguagem exuberante, própria dos grandes<br />

contadores de histórias.<br />

264<br />

e) tanto o enfoque trágico do destino do homem<br />

ligado às raízes regionais quanto a análise dos<br />

conflitos existenciais do homem urbano conferem<br />

uma dimensão universal à sua obra.<br />

425. Fuvest-SP<br />

Procura da Poesia<br />

Não faças versos sobre acontecimentos.<br />

Não há criação nem morte perante a poesia.<br />

Diante dela, a vida é um sol estático,<br />

não aquece nem ilumina.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />

Estão paralisados, mas não há desespero,<br />

há calma e frescura na superfície intata.<br />

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />

(...)<br />

Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.<br />

No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da<br />

poesia e a incitação a que se penetre “no reino das<br />

palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o<br />

poeta de A rosa do povo:<br />

a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz<br />

de se opor ao mundo capitalista.<br />

b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância<br />

da variedade padrão da linguagem.<br />

c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não<br />

podem nem devem ser interpretados.<br />

d) as intenções sociais da poesia não a dispensam<br />

de ter em conta o que é próprio da linguagem.<br />

e) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia<br />

fala apenas de si mesma, são superiores aos<br />

poemas que falam também de outros assuntos.<br />

426. UFR-RJ<br />

Leia o fragmento abaixo, retirado do romance Vidas<br />

secas:<br />

... Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor.<br />

Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez<br />

que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor.<br />

Alarmou-se. Ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe<br />

dera uma impressão bastante penosa: sempre que os<br />

homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía<br />

logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente<br />

só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram<br />

bonitas. Às vezes decorava algumas e empregavaas<br />

fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que<br />

um pobre da laia dele usar conversa de gente rica?<br />

Sinha Terta é que tinha uma ponta de língua terrível.<br />

Era: falava tão bem quanto as pessoas da cidade,<br />

Se ele soubesse falar como Sinha Terta, procuraria<br />

serviço em outra fazenda, haveira de arranjar-se. Não<br />

sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se<br />

como um menino, coçava os cotovelos,<br />

aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar<br />

as coisas de um infeliz que não tinha nem onde cair<br />

morto! Não viam que isso não estava certo? Que iam<br />

ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que<br />

iam ganhar?...<br />

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 37 ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1977. p. <strong>10</strong>3


PV2D-07-54<br />

Graciliano Ramos apresenta em suas obras problemas<br />

do Nordeste do Brasil e, ao mesmo tempo, desenvolve<br />

um trabalho universal por apresentar uma visão crítica<br />

das relações humanas. A partir do trecho apresentado,<br />

pode-se afirmar que o autor:<br />

a) denuncia a opressão social realizada através do<br />

abuso de poder político, que está representado na<br />

fala de Fabiano.<br />

b) critica o trabalhador rural nordestino, representado<br />

na figura de Fabiano, por sua ignorância e falta de<br />

domínio da língua culta.<br />

c) deixa claro que a incapacidade de usar uma linguagem<br />

“boa” não isola Fabiano do mundo dos<br />

que usam “palavras difíceis”, pois sua esperteza<br />

pode-se concretizar de outras maneiras.<br />

d) mostra que a sociedade oferece oportunidades<br />

iguais para os que possuem o domínio de uma<br />

linguagem culta e para os que não o possuem, e<br />

as pessoas mais trabalhadoras atingirão o posto<br />

de classe dominante.<br />

e) mostra a relação estreita entre linguagem e poder,<br />

denunciando a opressão ao trabalhador nordestino,<br />

transparente nas diferenças entre a língua<br />

falada pelo opressor e a falada pelo oprimido.<br />

427. UFR-RJ<br />

Leia o fragmento abaixo, extraído de Vidas secas, de<br />

Graciliano Ramos.<br />

Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava.<br />

Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiouse.<br />

Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim,<br />

desde que ele se entendera. E antes de se entender,<br />

antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons misturados<br />

com anos ruins. A desgraça estava em caminho,<br />

talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele<br />

marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando<br />

seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope,<br />

com vontade de matá-lo. Virou o rosto para fugir à<br />

curiosidade dos filhos, benzeu-se. Não queria morrer.<br />

Ainda tencionava correr o mundo, ver terras, conhecer<br />

gente importante como seu Tomás da bolandeira. Era<br />

uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ela,<br />

sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la.<br />

Não queria morrer. Estava escondido no mato como<br />

tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca,<br />

andaria com a cabeça levantada, seria homem.<br />

– Um homem, Fabiano.<br />

Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro.<br />

Não, provavelmente não seria um homem: seria aquilo<br />

mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos,<br />

quase uma rês na fazenda alheia.<br />

Considere as seguintes afirmações sobre o fragmento<br />

acima.<br />

I. Interessa ao narrador registrar, além da tragédia<br />

natural provocada pela seca, a opressão social<br />

que recai sobre Fabiano.<br />

II. Para não demonstrar seus sentimentos diante da<br />

proximidade da desgraça, Fabiano evita o olhar<br />

dos filhos.<br />

III. Fabiano tenta compreender o mundo, mas, respondendo<br />

ao conflito interno, rebela-se contra o<br />

seu destino.<br />

Quais estão corretas?<br />

a) Apenas I d) Apenas II e III<br />

b) Apenas I e II e) I, II e III<br />

c) Apenas I e III<br />

428. FEI-SP<br />

(Fabiano) “Com uma raiva excessiva, a que se misturava<br />

alguma esperança, deu uma patada no chão”<br />

(Cachorra Baleia) “Defronte do carro de bois faltou-lhe<br />

a perna traseira.”<br />

a) O que comparativamente significam os termos destacados,<br />

dentro do contexto do livro Vidas secas?<br />

b) Qual o autor desta obra?<br />

429. Unicamp-SP<br />

Em Vidas secas, após ter vencido as dificuldades<br />

postas no início da narrativa, Fabiano afirma: Fabiano,<br />

você é um homem.... Corrige-se logo depois: Você é<br />

um bicho, Fabiano. Em seguida, encontra-se com a<br />

cadelinha, diz: Você é um bicho, Baleia.<br />

Ao chamar a si mesmo e à Baleia de “bicho”, Fabiano<br />

estabelece uma identificação com ela. Na leitura de<br />

Vidas secas, pode-se perceber vários motivos para<br />

essa identificação. Cite dois desses motivos.<br />

430. Fuvest-SP<br />

A flor e a náusea<br />

Preso à minha classe e a algumas roupas,<br />

vou de branco pela rua cinzenta.<br />

Melancolias, mercadorias espreitam-me.<br />

Devo seguir até o enjôo?<br />

Posso, sem armas, revoltar-me?<br />

Olhos sujos no relógio da torre:<br />

Não, o tempo não chegou de completa justiça.<br />

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações<br />

e espera.<br />

O tempo pobre, o poeta pobre<br />

fundem-se no mesmo impasse.<br />

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.<br />

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.<br />

(...)<br />

Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.<br />

a) Em A rosa do povo, o poeta se declara anticapitalista.<br />

Nos três primeiros versos do excerto, esse<br />

anticapitalismo se manifesta? Justifique sucintamente<br />

sua resposta.<br />

b) De acordo com os dois últimos versos do excerto,<br />

como se manifesta, no campo da linguagem, o<br />

impasse de que fala o poeta? Explique resumidamente.<br />

431. ITA-SP<br />

O romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, publicado<br />

em 1938, é um marco da ficção social brasileira,<br />

pois registra de forma bastante realista a vida miserável<br />

de uma família de retirantes que vive no sertão<br />

nordestino. A cachorra Baleia tem um papel especial<br />

no livro, pois é sobretudo na relação dos personagens<br />

com esse animal que podemos perceber que elas não<br />

se desumanizam, apesar de suas condições de vida.<br />

Considerando essa idéia, explique qual a importância<br />

do capítulo “Baleia” no romance.<br />

265


432.<br />

A seguir, é apresentado um fragmento do romance<br />

Angústia, uma das obras basilares do modernista<br />

Graciliano Ramos. Autor da geração neo-realista,<br />

Graciliano Ramos desenvolveu toda sua obra com<br />

uma linguagem sem requintes artísticos, mas precisa<br />

e eficiente, e abordou temas profundamente comprometidos<br />

com a questão da justiça social. Após a leitura,<br />

marque a opção em que se descreve o único traço não<br />

encontrado no fragmento em questão.<br />

A minha camisa estufa no peito, é um desastre.<br />

Quando caminho, a cabeça baixa, como a procurar<br />

dinheiro perdido no chão, há sempre muito pano subindo-me<br />

na barriga, machucando-se, e é necessário<br />

puxá-lo, ajeitá-lo, sujeitá-lo com o cinto, que se afrouxa.<br />

Estes movimentos contínuos dão-me a aparência<br />

de um boneco desengonçado, uma criatura mordida<br />

pelas pulgas. A camisa sobe constantemente, não há<br />

meio de conservá-la estirada. Também não é possível<br />

manter a espinha direita. O diabo tomba para a frente,<br />

e lá vou marchando como se fosse encostar as mãos<br />

no chão. Levanto-me. Sou um bípede, é preciso ter<br />

a dignidade dos bípedes. Um cachorro como Julião<br />

Tavares andar empertigado, e eu curvar-me para a<br />

terra, como um bicho! Desentorto o espinhaço. Que<br />

é que me pode acontecer? Se dr. Gouveia passar<br />

por mim, finjo não vê-lo. É impossível pagar o aluguel<br />

da casa. Não pago. Hei de furtar? Dr. Gouveia<br />

que se lixe.<br />

a) Por ser modernista, Graciliano Ramos ousa, ao<br />

fazer registro pouco fiel da realidade, criar personagens<br />

exóticos, além do padrão convencional.<br />

b) Sua linguagem é caracterizada pelo emprego de<br />

períodos curtos, com farta pontuação e clareza de<br />

raciocínio.<br />

c) É significativa a porção da obra de Graciliano Ramos<br />

em que se privilegiam a análise e a descrição<br />

da emocionalidade interior das personagens.<br />

d) Mostra a constante tematização do conflito entre<br />

homem e meio social, no contexto de uma relação<br />

sempre tensa.<br />

e) Na abordagem da problemática social, avulta o<br />

senso crítico negativista do autor, o que permite<br />

classificá-lo próximo do modelo machadiano.<br />

433.<br />

Leia o texto a seguir.<br />

O romance regionalista atinge seu ponto culminante.<br />

Narrado em terceira pessoa, o livro centra-se no drama<br />

de uma família nordestina fugindo da seca, girando<br />

em círculo, lutando para subsistir. O drama social e<br />

geográfico da miserável região e do homem que lá<br />

vive configura-se literariamente num estilo seco, sem<br />

o menor traço de sentimentalismo.<br />

A que romance de Graciliano Ramos refere-se o texto<br />

anterior?<br />

434. UEL-PR<br />

Leia os trechos a seguir, do romance Vidas secas, de<br />

Graciliano Ramos, e indique a alternativa incorreta.<br />

266<br />

Trecho 1<br />

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam<br />

duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado<br />

o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente<br />

andavam pouco, mas como haviam repousado<br />

bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem<br />

três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra.<br />

A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos<br />

galhos pelados da catinga rala.<br />

Trecho 2<br />

... E andavam para o sul, metidos naquele sonho.<br />

Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os<br />

meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e<br />

necessárias. Eles, dois velhinhos, acabando-se como<br />

uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que<br />

iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a<br />

uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos<br />

nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O<br />

sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos,<br />

como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos.<br />

a) Os dois trechos são, respectivamente, o início do<br />

primeiro capítulo e o final do último capítulo do<br />

romance Vidas secas, o que indica a circularidade<br />

do enredo, que tem relação com a vida das famílias<br />

pobres nordestinas, ciclicamente obrigadas a<br />

se mudarem por causa das secas que atingem a<br />

região em que vivem.<br />

b) Nos dois trechos e em todo o romance é possível<br />

perceber a crítica do autor ao modelo políticoeconômico<br />

brasileiro daquele momento histórico,<br />

o que levou os críticos a enquadrarem no grupo<br />

de obras denominado “romance social de 1930”.<br />

c) Nesses trechos está presente o estilo literário<br />

característico das obras de Graciliano Ramos,<br />

marcado, entre outros recursos, pelo uso de frases<br />

curtas, pela concisão vocabular e pela utilização<br />

do discurso indireto livre.<br />

d) No primeiro trecho, os verbos no tempo pretérito<br />

indicam a longa caminhada das personagens<br />

pelo sertão nordestino em busca de um lugar<br />

onde possam se instalar; no segundo, os verbos<br />

no tempo futuro revelam os sonhos de Fabiano e<br />

Sinha Vitória por uma vida melhor na cidade.<br />

e) O romance Vidas secas é considerado um clássico<br />

da literatura brasileira pelo fato de Graciliano<br />

Ramos tê-lo construído com enredo linear e<br />

seqüência progressiva dos acontecimentos, com<br />

personagens bem caracterizadas física e psicologicamente,<br />

com marcações temporais precisas e<br />

com a presença de um narrador-personagem, na<br />

figura de Fabiano, que conta sua própria história<br />

de luta contra a miséria no sertão nordestino.<br />

435. UFV-MG<br />

Sobre a construção dos personagens do romance<br />

Vidas secas, é incorreto afirmar que:<br />

a) no drama dos retirantes, Graciliano interessa-se<br />

pela investigação do aspecto social, da hostilidade<br />

da terra nordestina, ignorando o aspecto psicológico<br />

de seus personagens.<br />

b) na narrativa, todos os personagens representam,<br />

realmente, “vidas secas”: mostradas em linguagem<br />

sóbria, racional, lúcida, exprimem a visão de um<br />

mundo árido e sombrio.


PV2D-07-54<br />

c) Graciliano apresenta seus personagens com uma<br />

visão fatalista, de total negação e destruição, enfim,<br />

de anulação do homem, num mundo sem amor.<br />

d) o “herói” personagem é sempre um problema:<br />

retirante, não aceita o mundo, nem a si mesmo,<br />

em sua dura realidade.<br />

e) o autor constrói seus personagens como figuras<br />

humanas animalizadas, vítimas de um ambiente<br />

de desencanto e indiferença, de uma terra áspera,<br />

dura e cruel.<br />

436. UFV-MG<br />

A respeito de Vidas secas, de Graciliano Ramos,<br />

somente não podemos afirmar que:<br />

a) os personagens, Fabiano, Sinha Vitória e os filhos,<br />

são convertidos em criaturas brutalizadas, numa<br />

sugestão de que a dureza do solo nordestino<br />

aproxima a vida humana da vida animal.<br />

b) a obra insere-se no chamado romance de 1930 por<br />

uma total fidelidade aos experimentalismos lingüísticos<br />

da fase heróica do movimento modernista.<br />

c) a narrativa denuncia o flagelo do sertão nordestino,<br />

onde o homem, fundindo-se ao seu meio, é<br />

arrastado por um destino adverso e inútil.<br />

d) o retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios<br />

pensamentos, expressa-se, quase sempre, através do<br />

discurso indireto livre de um narrador onisciente.<br />

e) embora composta de pequenas narrativas isoladas,<br />

a obra mantém a estrutura de um romance<br />

pela presença quase constante de seus personagens<br />

e por uma sucessão temporal.<br />

437. Fuvest-SP<br />

Sobre Fogo morto, é correto afirmar que:<br />

a) o caráter estanque de suas partes constitutivas<br />

é sublinhado pela mudança do foco narrativo em<br />

cada uma delas, indo da primeira à terceira pessoa<br />

narrativa.<br />

b) a relativa descontinuidade de sua visão tripartite é<br />

contrastada pela recorrência de temas e motivos<br />

internos que atravessam todo o romance.<br />

c) o caráter descontínuo e inconcluso de seu enredo<br />

é compensado pelas reflexões do narrador personagem,<br />

que conferem finalização e acabamento<br />

ao romance.<br />

d) o caráter estanque de sua divisão tripartite é, no<br />

entanto, convertido à unidade pela comunicabilidade<br />

e entendimento mútuo das personagens<br />

principais.<br />

e) a cada uma das classes sociais nele representadas,<br />

o romance reserva um estilo de narrar próprio:<br />

erudito para os senhores de engenho, oral-popular<br />

para as camadas humildes e cangaceiros.<br />

438. UFMG<br />

Todas as alternativas expressam uma correta correspondência<br />

entre as personagens de Fogo morto, de<br />

José Lins do Rego, e suas características, exceto:<br />

a) Mestre José Amaro: vítima do progresso da industrialização<br />

e do poder do latifundiário, vê na terra<br />

e no cangaço a saída para uma vida melhor para<br />

os oprimidos.<br />

b) Coronel Lula de Holanda: coronel sem carisma,<br />

símbolo da decadência dos engenhos de canade-açúcar,<br />

é exemplo da prepotência aliada à<br />

hipocrisia religiosa.<br />

c) Capitão Vitorino: alvo de chacotas e zombarias,<br />

faz-se defensor dos oprimidos, lutando contra<br />

qualquer tipo de injustiça.<br />

d) Antônio Silvino: personagem histórica, cangaceiro<br />

que tira dos ricos para dar aos pobres, torna-se a<br />

esperança de libertação dos oprimidos.<br />

e) Coronel José Paulino: latifundiário, coloca-se ao<br />

lado dos cangaceiros na luta contra os poderosos<br />

políticos, na tentativa de instaurar uma nova<br />

ordem social.<br />

439. PUC-RS<br />

A personagem Lula de Holanda, criada por José<br />

Lins do Rego, no ciclo da cana-de-açúcar, representa<br />

a:<br />

a) aristocracia decadente.<br />

b) burguesia operosa.<br />

c) nobreza idealista.<br />

d) indústria insensível.<br />

e) intelectualidade rebelde.<br />

440. Fatec-SP<br />

Entre as obras memorialistas de José Lins do Rego e<br />

que pertencem ao ciclo da cana-de-açúcar, pode-se<br />

mencionar:<br />

a) Doidinho.<br />

b) Cangaceiros.<br />

c) Memórias do cárcere.<br />

d) Incidente em Antares.<br />

441. PUCCamp-SP<br />

Sobre José Lins do Rego, é correto afirmar que:<br />

a) definiu-se, certa vez, como “apenas um baiano romântico<br />

e sensual”, assumindo-se como contador<br />

de histórias de pescadores e marinheiros de sua<br />

terra.<br />

b) retratou em suas obras a dura relação entre o homem<br />

e o meio, em especial a condição subumana<br />

do nordestino retirante.<br />

c) sempre se declarou escritor espontâneo e instintivo,<br />

consciente de que sua obra continha muito de<br />

sua experiência pessoal em regiões da Paraíba e<br />

de Pernambuco.<br />

d) escreve a saga da pequena burguesia depois de<br />

1930, num tom leve e descontraído de crônica de<br />

costumes.<br />

e) é considerado mais por ter publicado a obra marco<br />

da literatura social nordestina, A bagaceira, do que<br />

pelos méritos de grande escritor.<br />

442. Fuvest-SP<br />

Numa espécie de projeção utópica, sua personagem,<br />

um tipo de idealista bobo e desacreditado, alude a<br />

mudanças na estrutura social do Nordeste com o<br />

advento de outra ordem em que o privilégio ceda ao<br />

princípio de justiça. Daí a crítica falar inclusive em<br />

figura quixotesca.<br />

267


Dentre as personagens de Fogo morto, qual se enquadra<br />

melhor nessa definição?<br />

a) Lula de Holanda<br />

b) Coronel José Paulino<br />

c) Antônio Silvino<br />

d) Mestre José Amaro<br />

e) Vitorino Carneiro da Cunha<br />

443. Fatec-SP<br />

O trecho abaixo foi extraído da terceira parte do romance<br />

Fogo morto, de José Lins do Rego.<br />

Nunca mais que o cabriolé de seu Lula enchesse as<br />

estradas com a música de suas campainhas. A família<br />

do Santa Fé não ia mais à missa aos domingos. A<br />

princípio correra que era doença no velho. Depois<br />

inventaram que o carro não podia rodar, de podre<br />

que estava. Os cavalos não agüentavam mais com<br />

o peso do corpo.<br />

Sobre essa obra, podemos afirmar:<br />

a) o romance é o retrato da desintegração de seres<br />

humanos, da decadência de uma sociedade na<br />

sub-região açucareira, no Nordeste brasileiro.<br />

O encerramento das atividades do engenho<br />

Santa Fé representa o fim de uma estrutura<br />

econômica.<br />

b) o romance chama-se Fogo morto porque aborda<br />

o problema das queimadas nas plantações de<br />

cana-de-açúcar.<br />

c) Fogo morto enfoca a viagem de uma família nordestina<br />

que foge da seca em busca de um lugar<br />

melhor para sobreviver.<br />

d) em Fogo morto, José Lins do Rego afasta-se do<br />

regionalismo que marcou suas obras anteriores<br />

– Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque<br />

Ricardo e Usina.<br />

e) o romance é dividido em três partes. Na parte final,<br />

o engenho Santa Fé é destruído por um incêndio<br />

provocado pelo cangaceiro Antônio Silvino.<br />

Texto para as questões 444 e 445.<br />

– Minha velha, amanhã tenho que ganhar os<br />

campos. Não sou marica para ficar assim dentro de<br />

casa. As eleições estão aí e nestes últimos dias nada<br />

tenho feito. Vou dar uma queda no José Paulino que<br />

vai ser um estouro.<br />

– Vitorino, eu te acho ainda muito machucado.<br />

– Não tenho mais nada. Você viu o compadre e<br />

o cego como estavam andando? Apanharam muito e<br />

não ficaram de papo pro ar numa rede como mulher<br />

parida. Um homem que se preza não deve se entregar.<br />

Vou para a cabala, amanhã na feira de Serrinha. Quero<br />

olhar para a cara de Manuel Ferreira. Este cachorro<br />

vive na Serrinha roubando o povo com parte de que<br />

é deputado. É outra safadeza de José Paulino, deixar<br />

que vá para a Assembléia do Estado um tipo como<br />

Manuel Ferreira. Boto abaixo tudo isto.<br />

444. PUC-RS<br />

Considerando a * das personagens, a linguagem sem<br />

marcas significativas de * e a temática reveladora das<br />

estruturas históricas brasileiras, é possível associar o<br />

texto de José Lins do Rego ao romance*.<br />

268<br />

a) verossimilhança – preciosismo – modernista<br />

b) configuração – nacionalismo – realista<br />

c) indefinição – preciosismo – pré-modernista<br />

d) verossimilhança – regionalismo – de 30<br />

e) indefinição – verossimilhança – naturalista<br />

445. PUC-RS<br />

Vitorino, personagem de_________, de José Lins do<br />

Rego, conversa com sua esposa sobre os motivos que<br />

o impelem a sair de casa, após ter sido surrado por<br />

questões políticas. Demonstra uma atitude _________<br />

e _____________, já que pretende enfrentar o poder<br />

de José Paulino.<br />

a) Vidas secas – estéril – oportunista<br />

b) Fogo morto – ingênua – sonhadora<br />

c) Vidas secas – valente – impulsiva<br />

d) Fogo morto – realista – ufanista<br />

e) Menino de engenho – infantil – romântica<br />

446. UEL-PR<br />

Nesses dois romancistas do Nordeste, a paisagem<br />

surge de maneira diferente. Num, a região canavieira<br />

está intimamente ligada às recordações da infância e<br />

da adolescência, material de seus romances; no outro,<br />

a natureza interessa ao romancista só enquanto propõe<br />

o momento da realidade hostil que a personagem<br />

tem de enfrentar. Representam as duas tendências,<br />

respectivamente, as obras:<br />

a) Capitães da areia – Vidas secas.<br />

b) O tempo e o vento – Doidinho.<br />

c) Angústia – Fogo morto.<br />

d) Menino de engenho – São Bernardo.<br />

e) Gabriela, cravo e canela – Clarissa.<br />

447.<br />

Assinale a altenativa que apresenta uma obra que não<br />

pertence ao mesmo autor de Fogo morto.<br />

a) Menino de engenho d) Bangüê<br />

b) O moleque Ricardo e) Vidas secas<br />

c) Riacho doce.<br />

448.<br />

José Lins do Rego classificou seus romances em três<br />

grupos. Quais são esses grupos?<br />

449.<br />

O romance Fogo morto divide-se em três partes, cada<br />

uma delas centralizada em uma personagem. Quais<br />

são essas partes?<br />

450.<br />

Leia o texto a seguir.<br />

Menino de engenho<br />

Coitado do Santa Fé! Já o conheci de fogo morto. E<br />

nada é mais triste do que engenho de fogo morto. Uma<br />

desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem<br />

rural uma melancolia de cemitério abandonado. Na<br />

bagaceira, crescendo, o mata-pasto de cobrir gente, o<br />

melão entrando pelas fornalhas, os moradores fugindo<br />

para outros engenhos, tudo deixado para um canto, e até<br />

os bois de carro vendidos para dar de comer aos seus<br />

donos. Ao lado da prosperidade e da riqueza do meu avô,


PV2D-07-54<br />

eu vira ruir, até no prestígio de sua autoridade, aquele<br />

simpático velhinho que era o Coronel Lula de Holanda,<br />

com o seu Santa Fé caindo aos pedaços. Todo barbado,<br />

como aqueles velhos dos álbuns de retratos antigos, sempre<br />

que saía de casa era de cabriolé e de casimira preta.<br />

A sua vida parecia um mistério. Não plantava um pé de<br />

cana e não pedia um tostão emprestado a ninguém.<br />

REGO, José Lins do. Menino de engenho. 33. ed.<br />

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. pp. 121-123.<br />

Destaque do texto uma passagem que indique o caráter<br />

memorialista do romance de José Lins do Rego.<br />

451. Mackenzie-SP<br />

Texto I<br />

A violência habitual como forma de comportamento<br />

ou meio de vida ocorre no Brasil através de diversos<br />

tipos sociais, de que o mais conhecido é o cangaceiro<br />

da região nordestina, devido a circunstâncias muitas<br />

vezes já comentadas. Mas o valentão armado, atuando<br />

isoladamente ou em bando, é fenômeno geral em<br />

todas as áreas onde a pressão da lei não se faz sentir,<br />

e onde a ordem privada desempenha funções que em<br />

princípio caberiam ao poder público.<br />

Como essas áreas são geralmente menos atingidas<br />

pela influência imediata da civilização urbana, é natural<br />

que o regionalismo literário, que as descreve, tenha<br />

abordado desde cedo o jagunço e o bandido. Com<br />

efeito, o nosso regionalismo nasceu ligado à descrição<br />

da tropelia, da violência grupal e individual, “normais”, de<br />

certo modo, nas sociedades rústicas do passado.<br />

Antonio Candido<br />

Texto II<br />

O capitão Antônio Silvino voltava a tomar conta<br />

de seus pensamentos. Admirava a vida errante daquele<br />

homem, dando tiroteios, protegendo os pobres,<br />

tomando dos ricos. Este era o homem que vivia na<br />

sua cabeça. Este era o seu herói. Para ele só havia<br />

uma grandeza no mundo, era a grandeza do homem<br />

que não temia o governo, do homem que enfrentava<br />

quatro estados, que dava dor de cabeça nos chefes de<br />

polícia, que matava soldados, que furava cercos, que<br />

tinha poder para adivinhar os perigos. Se um dia visse<br />

o capitão Antônio Silvino seria um homem feliz.<br />

José Lins do Rego – Fogo morto<br />

Considere as afirmações que seguem sobre os textos<br />

I e II.<br />

I. O comentário sobre o regionalismo literário brasileiro,<br />

apresentado no texto I, diz respeito aos romances<br />

escritos tanto no século XIX como no século XX.<br />

II. O texto II exemplifica o destaque dado pelo regionalismo<br />

literário brasileiro ao valentão armado<br />

referido no texto I.<br />

III. É característica dos romances regionalistas brasileiros<br />

terem o jagunço nordestino como protagonista,<br />

como em Vidas secas, de Graciliano Ramos, e<br />

Inocência, de Taunay.<br />

Assinale:<br />

a) se todas estiverem corretas.<br />

b) se nenhuma estiver correta.<br />

c) se apenas I estiver correta.<br />

d) se apenas I e II estiverem corretas.<br />

e) se apenas II e III estiverem corretas.<br />

452. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa incorreta.<br />

a) A temática regionalista, presente na literatura brasileira,<br />

foi tratada diferentemente pelos escritores,<br />

em função de traços específicos de cada momento<br />

histórico.<br />

b) O romance da segunda geração do Modernismo<br />

brasileiro tem como aspecto relevante a temática<br />

regionalista, como atestam as obras de José Lins<br />

do Rego.<br />

c) Apesar de aparentemente paradoxal, a expressão<br />

regionalismo universalizante é adequadamente<br />

usada pela crítica para caracterizar a obra de<br />

Guimarães Rosa.<br />

d) O aspecto pitoresco da cor local é elemento idealizado<br />

pelos escritores do século XX, quando tratam<br />

da temática regionalista.<br />

e) Obras de temática regionalista, como Os sertões,<br />

de Euclides da Cunha, denunciam a marginalização<br />

a que está submetido o homem do sertão.<br />

453.<br />

Leia os versos a seguir e responda à questão.<br />

Estranha neve: espuma, espumas apenas<br />

Que o vento espalha, bolha em baile no ar,<br />

vinda do Tietê alvoroçado<br />

ao abrir as comportas,<br />

espuma de dodecilbenzeno irredutível,<br />

emergindo das águas profanadas<br />

do rio-bandeirante, hoje rio despejo<br />

de mil imundícies do progresso.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Discurso de primavera e algumas<br />

sombras. Rio de Janeiro: Editora Record, 1994.<br />

Nos versos do poeta, “rio-bandeirante” significa:<br />

a) a pequena importância do rio Tietê no processo<br />

de povoamento do interior de São Paulo.<br />

b) a importante contribuição do rio Tietê para a expansão<br />

da pecuária no sertão nordestino.<br />

c) que o rio Tietê serviu como via fluvial, ligando o<br />

interior de São Paulo às minas de Cuiabá (monções).<br />

d) a contribuição do rio Tietê para o escoamento da produção<br />

aurífera até os portos do Rio de Janeiro.<br />

e) a grande importância do rio Tietê para o deslocamento<br />

dos tropeiros paulistas para a região Sul.<br />

454. PUC-SP<br />

Eu não sabia nada. Levava para o colégio um corpo<br />

sacudido pelas paixões de homem feito e uma alma<br />

mais velha do que o meu corpo. Aquele Sérgio, de Raul<br />

Pompéia, entrava no internato de cabelos grandes e<br />

com uma alma de anjo cheirando a virgindade. Eu não:<br />

era sabendo de tudo, era adiantado nos anos, que ia<br />

atravessar as portas do meu colégio.<br />

Menino perdido, menino de engenho.<br />

O trecho citado, do romance Menino de engenho,<br />

de José Lins do Rego, prepara o leitor para a segunda<br />

obra do ciclo da cana-de-açúcar, Doidinho,<br />

ao mesmo tempo que retoma O Ateneu, de Raul<br />

Pompéia. Em que os romances Doidinho e O Ateneu<br />

se assemelham?<br />

269


455. Fuvest-SP<br />

Leia atentamente o texto a seguir.<br />

Pedro Boleeiro chegou na porta do mestre José Amaro<br />

com um recado do coronel Lula. Era para o mestre<br />

aparecer no engenho para conserto nos arreios do<br />

carro. O mestre ouviu o recado, deixou que o negro<br />

falasse à vontade. E depois, como não tivesse gostado,<br />

foi-se abrindo com o outro.<br />

– Todo mundo pensa que o mestre José Amaro é<br />

criado. Sou um oficial, Seu Pedro, sou um oficial que<br />

me prezo. O coronel Lula passa por aqui, me tira o<br />

chapéu como um favor, nunca parou para saber como<br />

vou passando. Tem o seu orgulho. Eu tenho o meu.<br />

Moro em terra dele, não lhe pago foro, porque aqui<br />

morou meu pai, no tempo do seu sogro. Fui menino<br />

por aqui. Para que tanto orgulho?<br />

José Lins do Rego, Fogo morto.<br />

a) Por que o romance se intitula Fogo morto?<br />

b) De autor(es) contemporâneo(s) de José Lins do<br />

Rego, cite dois romances que, à semelhança de<br />

Fogo morto, focalizam problemas sociais e econômicos<br />

do Nordeste.<br />

456. Vunesp<br />

A palavra da velha conduzia o filho como se<br />

empurrasse um cego na estrada. O Santo gritava,<br />

gritava com um vozeirão de roqueira. Aparício e os<br />

cabras chegavam para ele. E ele que tinha aos seus<br />

pés milhares de criaturas parecia não enxergar os<br />

cangaceiros de chapéu na cabeça. De repente, porém,<br />

como se os seus olhos se abrissem, olhou fixamente<br />

para Aparício e os seus homens. E manso, tal uma<br />

ventania que se abrandasse numa brisa mansinha,<br />

fixou no terror das caatingas a sua atenção. Com a<br />

voz de homem para homem, não mais de santo para<br />

impuros, foi dizendo:<br />

– Deus do céu e o meu santo mártir S. Sebastião<br />

te mandou para perto de mim.<br />

E marchou para o meio dos cangaceiros, rompendo<br />

por entre os romeiros que caíam a seus pés,<br />

com a cabeça erguida e as barbas açoitadas pelo<br />

vento. Aparício, quando viu-o de perto, ajoelhou-se.<br />

O rifle caiu-lhe das mãos, enquanto o Santo punhalhe<br />

na cabeça os dedos magros. Podia-se escutar os<br />

rumores dos bichos da terra naquele silêncio de mundo<br />

parado. E soturno, com a voz que saía de uma furna, o<br />

Santo ergueu para o céu o seu canto. E as ladainhas<br />

irromperam de todos os recantos do arraial. Muitos<br />

cangaceiros começaram a chorar. Aparício, porém,<br />

possuiu-se de fúria, e era uma fera acuada, com<br />

milhares de cachorros na boca da toca. E ergueu-se.<br />

E já com o rifle na mão esquerda fitou o Santo, cara<br />

a cara, e com a mão direita cheia de anéis puxou o<br />

punhal da bainha e disse aos berros:<br />

– Povo, eu não tenho medo.<br />

in REGO, José Lins do. Cangaceiros. 6. ed.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1976, p.8.<br />

José Lins do Rego (1901-1957) faz parte de uma<br />

geração de romancistas engajados na realidade<br />

cultural do nosso país. Sua prosa de ficção caracteriza-se<br />

pelo forte tom de oralidade, de regionalismos<br />

léxicos e sintáticos que aproximam seu discurso da<br />

fala popular. Localize, na primeira frase, em discurso<br />

270<br />

direto, um desses “erros gramaticais” tão freqüentes na<br />

espontaneidade da expressão popular oral e, a seguir,<br />

responda ao que se pede.<br />

a) Que “erro” foi cometido?<br />

b) Que formulação o discurso direto teria sem esse<br />

“erro”?<br />

457.<br />

A literatura aproveita-se constantemente dos textos<br />

que já foram produzidos e os transforma, apresentando-os<br />

de outra maneira, sob outro ponto de vista. Leia<br />

os textos a seguir, em que Alice Ruiz parodia o texto<br />

de Carlos Drummond de Andrade, José.<br />

Texto I<br />

Drumundana<br />

e agora maria?<br />

o amor acabou<br />

a filha casou<br />

o filho mudou<br />

teu homem foi pra vida<br />

que tudo cria<br />

a fantasia<br />

que você sonhou<br />

apagou<br />

à luz do dia<br />

e agora maria?<br />

vai com as outras<br />

vai viver<br />

com a hipocondria<br />

Alice Ruiz<br />

Texto II<br />

José<br />

E agora, José?<br />

A festa acabou,<br />

a luz apagou,<br />

o povo sumiu,<br />

a noite esfriou,<br />

e agora, José?<br />

e agora, Você?<br />

Você que é sem nome,<br />

que zomba dos outros,<br />

Você que faz versos,<br />

que ama, protesta?<br />

e agora, José?<br />

(...)<br />

Carlos Drummond de Andrade<br />

Após leitura atenta dos dois poemas, percebe-se que,<br />

por meio da paródia, Alice Ruiz apropria-se do texto de<br />

Drummond e dá um novo significado ao sentido original<br />

do poema. Marque a alternativa que mostra com qual<br />

finalidade a poetisa alterou a idéia de José.<br />

a) Debochar do desencanto e da falta de perspectiva<br />

de José.<br />

b) Criticar o desamparo do homem comum na sociedade<br />

capitalista.<br />

c) Ridicularizar o sofrimento sentido pelo personagem<br />

do poema.<br />

d) Mostrar-se contra o uso da linguagem coloquial<br />

dentro da literatura.<br />

e) Somar ao sentido crítico de José o desamparo de<br />

mulheres contemporâneas.


PV2D-07-54<br />

458. Ufla-MG<br />

No gênero narrativo, temos, como uma de suas manifestações,<br />

a novela. Classifica-se como novela o<br />

livro A morte e a morte de Quincas Berro D’água, de<br />

Jorge Amado. Todas as alternativas justificam essa<br />

afirmativa, exceto:<br />

a) O número de páginas é menor que o de outras<br />

manifestações narrativas.<br />

b) Apresenta personagens e situações mais densas e<br />

complexas, com passagem mais lenta do tempo.<br />

c) Temos a valorização de um evento, um corte mais<br />

limitado da vida.<br />

d) A passagem do tempo é mais rápida, às vezes um<br />

dia e uma noite.<br />

e) O narrador assume uma maior importância como<br />

contador de um fato passado.<br />

459. Unirio-RJ<br />

Publicado em 1956, Vila dos confins é exemplo de romance<br />

regionalista. O fragmento de texto cuja temática<br />

não está voltada para o regional é:<br />

a) O fogo, bem defronte do rancho festivo, alumiava<br />

o terreiro. Lúcio pôs-se a observar a agonia da<br />

lenha verde que se estorcia, estalava de dor, estoirava<br />

em protestos secos e se finava, chiando,<br />

espumando de raiva vegetal. (A bagaceira)<br />

b) O Senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que<br />

não seja: que situado sertão é por os campos<br />

gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo,<br />

terras altas, demais do Urucúia. (Grande sertão:<br />

veredas)<br />

c) Sim senhor, hóspede que demorava demais,<br />

tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro<br />

das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma<br />

noite. (Vidas secas)<br />

d) E como se não bastasse a claridade das duas horas,<br />

ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam<br />

de calor. – A cabeça da menina planejava. (Legião<br />

estrangeira)<br />

e) Acompanha o Paraíba com as várzeas extensas<br />

e entrava de caatinga. Ia encontrar as divisas de<br />

Pernambuco nos tabuleiros de pedra de fogo.<br />

(Menino de Engenho)<br />

460. Femp-PA<br />

Quanto a aspectos da atividade literária de José Lins<br />

do Rego e Jorge Amado:<br />

I. destacaram-se como contadores de histórias, em<br />

que o homem simples do Nordeste, com seus<br />

defeitos e virtudes, é personagem constante.<br />

II. tornou-se marcante a presença da infância e da<br />

adolescência em seus romances – daí o caráter<br />

memorialista que suas obras de maior destaque<br />

tiveram.<br />

III. destacaram-se também na arte de fazer o verso<br />

– especialmente o soneto.<br />

IV. foram combatidos, por determinados setores da<br />

crítica, pela utilização, em inúmeras passagens de<br />

seus romances, de uma linguagem marcadamente<br />

coloquial.<br />

V. evitaram, sempre que possível, ao longo da atividade<br />

literária, a abordagem de questões de ordem<br />

social e política.<br />

a) I, II, V d) II, III<br />

b) II, IV, V e) I, IV<br />

c) III, IV, V<br />

461. UFPE<br />

Capitães de areia, de Jorge Amado, faz parte do Modernismo,<br />

dentro do romance regional de 30. Sobre<br />

essa obra, podemos afirmar que:<br />

( ) Capitães de areia descreve a ação dos grupos<br />

revolucionários e faz parte da primeira fase das<br />

obras do autor, junto com Jubiabá.<br />

( ) o livro narra a vida de meninos abandonados nas<br />

ruas de Salvador, os quais, apesar de marginais<br />

(viviam de furto), ao final, organizam-se como um<br />

grupo político que defende idéias revolucionárias.<br />

( ) a narrativa é precedida de cartas à redação de<br />

jornais e de reportagens sobre a necessidade de<br />

se tomar providências em relação ao bando de<br />

delinqüentes juvenis (os capitães de areia), o que<br />

dá ares de veracidade à história.<br />

( ) a história dramática narrada no livro está dividida<br />

em três partes, sendo a última “Canção da Bahia,<br />

Canção da Liberdade”. “Porque a revolução é uma<br />

pátria e uma bandeira” é a frase final que dá um<br />

toque de esperança à obra.<br />

( ) o personagem central, Pedro Bala, torna-se líder<br />

político, comandando uma brigada de choque:<br />

“Intervém em comícios, greves, lutas obreiras.<br />

A luta mudou seus destinos... para que depois<br />

continuasse a mudar o destino de outras crianças<br />

abandonadas do país”.<br />

462. UEL-PR<br />

Assinale a alternativa correta a respeito de A morte e a<br />

morte de Quincas Berro D’Água, de Jorge Amado.<br />

( ) O romance trata de uma mesma pessoa, que<br />

passa, no decorrer da trama, de Joaquim Soares<br />

da Cunha, um funcionário exemplar, a Quincas<br />

Berro D’Água, um beberrão ligado à boemia, a<br />

vagabundos e a prostitutas.<br />

( ) Nesse romance, Jorge Amado retoma a temática<br />

de algumas de suas obras anteriores e discute os<br />

problemas ligados ao ciclo do cacau no Nordeste.<br />

( ) Quincas Berro D’Água e Joaquim Soares da<br />

Cunha, devido a uma confusão da agência funerária,<br />

tiveram suas identidades trocadas, e seus<br />

cadáveres foram enviados às famílias erradas.<br />

( ) Joaquim Soares da Cunha era odiado pela família<br />

e amado pelos boêmios, ao passo que Quincas<br />

Berro D’Água era idolatrado pela família e odiado<br />

pelos boêmios.<br />

( ) É um romance escrito em plena ditadura de Getúlio<br />

Vargas, que se destina ao retrato da realidade<br />

social da época e, por isso, ignora traços de um<br />

realismo fantástico.<br />

271


463. Ufla-MG<br />

Sobre o trecho:<br />

Era o cadáver de Quincas Berro D’Água, cachaceiro,<br />

debochado e jogador, sem família, sem lar, sem flores e<br />

sem rezas. Não era Joaquim Soares da Cunha, correto<br />

funcionário da Mesa de Rendas Estadual, aposentado<br />

após vinte e cinco anos de bons e leais serviços,<br />

esposo modelar, a quem todos tiravam o chapéu e<br />

apertavam a mão.<br />

A morte e a morte de Quincas Berro D’água – Jorge Amado<br />

e de acordo com a compreensão da leitura desse livro,<br />

marque a alternativa correta.<br />

a) Trata-se de uma comparação preconceituosa entre<br />

duas pessoas que tinham, coincidentemente, o<br />

mesmo nome.<br />

b) Demonstra a preferência do autor por personagens<br />

que representam pessoas sérias e bem vestidas.<br />

c) Retrata, no pensamento da filha, a saudade e o<br />

apreço que sente pelo pai, ainda que vagabundo.<br />

d) Há uma crítica à importância que a sociedade dá<br />

a valores que constituem padrões criados por ela<br />

mesma.<br />

e) Há na descrição da personagem o retrato de um<br />

homem fraco que não soube aproveitar a sorte que<br />

a vida lhe proporcionara.<br />

464. Fatec-SP<br />

Pode-se afirmar que Jorge Amado, cujos oitenta anos<br />

foram largamente comemorados, apresenta duas vertentes<br />

na sua produção literária. Seus primeiros romances<br />

distinguem-se pela denúncia social, com matizes políticos<br />

e depoimentos líricos a respeito dos desvalidos da vida.<br />

A partir dos anos 1950, seus romances abandonam os<br />

esquemas de literatura ideológica e retratam os costumes<br />

provincianos, o pitoresco regional e o humorismo extraído<br />

do cotidiano. Assinale a alternativa que contém uma obra<br />

de cada uma dessas fases, respectivamente.<br />

a) Jubiabá – O país do carnaval.<br />

b) Tenda dos milagres – Gabriela, cravo e canela.<br />

c) Capitães da areia – Teresa Batista cansada de<br />

guerra.<br />

d) O cavaleiro da esperança – Terras do sem-fim.<br />

e) Tieta do agreste – Dona Flor e seus dois maridos.<br />

465. Mackenzie-SP<br />

O tempo e o vento:<br />

a) apresenta-se como um romance histórico, dividido<br />

em três partes, com personagens reais, cujo tempo<br />

se limita ao período da Guerra do Paraguai.<br />

b) constitui um poema épico, apresentando a colonização<br />

e o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.<br />

c) trata-se de um longo romance, que mostra o desenvolvimento<br />

do Rio Grande do Sul, do século<br />

XVIII ao XX, através das fictícias famílias Terra e<br />

Cambará.<br />

d) mostra-se como um dos pontos mais altos da literatura<br />

regionalista romântica, trazendo personagens<br />

totalmente estereotipadas.<br />

e) é um livro de contos em que o autor, Érico Veríssimo,<br />

expõe a valentia do povo gaúcho, seus hábitos<br />

e cultura próprios.<br />

272<br />

Texto para as questões 466 e 467.<br />

“Sempre que acontece alguma coisa importante, está<br />

ventando” — costumava dizer Ana Terra. Mas entre todos<br />

os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para<br />

sempre na memória, pois o que sucedera nele tivera a<br />

força de mudar-lhe a sorte por completo. Mas em que dia<br />

da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em<br />

que ano? Bom, devia ter sido em 1777: ela se lembrava<br />

bem porque esse fora o ano da expulsão dos castelhanos<br />

do território do Continente. Mas na estância onde Ana vivia<br />

com os pais e os dois irmãos, ninguém sabia ler, e mesmo<br />

naquele fim de mundo não existia calendário nem relógio.<br />

Eles guardavam de memória os dias da semana; viam<br />

as horas pela posição do sol; calculavam a passagem<br />

dos meses pelas fases da lua; e era o cheiro do ar, o<br />

aspecto das árvores e a temperatura que lhes diziam das<br />

estações do ano. Ana Terra era capaz de jurar que aquilo<br />

acontecera na primavera, porque o vento andava bem<br />

doido, empurrando grandes nuvens brancas no céu, os<br />

pessegueiros estavam floridos e as árvores que o inverno<br />

despira se enchiam outra vez de brotos verdes.<br />

466. PUC-RS<br />

O trecho em questão refere-se a um acontecimento determinante<br />

para a vida de Ana Terra, que desencadeia<br />

toda a saga de O tempo e o vento, qual seja<br />

a) a viagem para Santa Fé.<br />

b) o cerco ao sobrado.<br />

c) o nascimento de Pedro Terra.<br />

d) o encontro com Pedro Missioneiro.<br />

e) a morte de seu amado.<br />

467. PUC-RS<br />

A personagem Ana Terra, que dá nome a um dos capítulos<br />

de O continente, tem sua imagem associada<br />

às idéias de:<br />

a) resistência, teimosia e irreverência.<br />

b) força, perseverança e fidelidade.<br />

c) aventura, amor e generosidade.<br />

d) obstinação, irresponsabilidade e irreverência.<br />

e) delicadeza, beleza e aventura.<br />

468. UEM-PR<br />

Sobre o romance Incidente em Antares, de Érico Veríssimo,<br />

assinale o que for correto.<br />

01. Incidente em Antares, romance pertencente à<br />

terceira fase da prosa de Érico Veríssimo, tem<br />

elementos regionalistas nítidos, mas supera as<br />

preocupações do regionalismo ao utilizar a história<br />

do Rio Grande do Sul como recurso para retratar<br />

criticamente o momento pelo qual passava o Brasil<br />

como um todo, utilizando, para tal fim, a mescla de<br />

fatos históricos e ficcionais, sendo os últimos de<br />

dois tipos: verossímeis ( realistas) e fantásticos.<br />

02. Incidente em Antares, romance considerado pertencente<br />

à segunda fase da prosa de Érico Veríssimo,<br />

pode ser descrito como um típico romance<br />

regionalista. Tal afirmação pode ser justificada<br />

através de exemplos tirados do texto, como a<br />

minuciosa reconstituição do passado histórico de<br />

Antares, feito com base em documentos encontrados<br />

por pesquisadores.


PV2D-07-54<br />

04. Incidente em Antares é, basicamente, a saga<br />

de duas famílias, inicialmente inimigas, depois<br />

tornadas aliadas pelas circunstâncias. Da mesma<br />

maneira O tempo e o vento é um romance histórico,<br />

centrado nas vidas das várias gerações das<br />

famílias Vacariano e Campolargo.<br />

08. Incidente em Antares é, basicamente, um romance<br />

psicológico, empenhado em desvendar ao leitor as<br />

motivações inconscientes das suas personagens.<br />

Como exemplo, tem-se Valentina e Pedro Paulo,<br />

com sua atração proibida, reprimida, que jamais<br />

chega a se realizar, mas que é visível e plenamente<br />

analisada para o leitor.<br />

16. Incidente em Antares, romance da primeira fase da<br />

prosa de Érico Veríssimo, compõe, juntamente com<br />

Clarissa e Olhai os lírios do campo, uma trilogia que<br />

fez enorme sucesso junto ao público feminino, por<br />

sua temática branda, lírica e afetuosa, sua linguagem<br />

poética e seu tratamento ingênuo e otimista<br />

de assuntos como a adolescência, a vida pacata<br />

numa cidadezinha gaúcha, o primeiro amor.<br />

32. A construção da personagem Quitéria Campolargo<br />

é considerada “problemática” por muitos estudiosos:<br />

seu comportamento sofre uma mudança<br />

radical. De matrona poderosa, mandona, respeitada<br />

por todos, ela passa a defender os pobres e<br />

a tomar seu partido em praça pública, sem que<br />

haja explicação clara dos motivos de tal mudança.<br />

Embora o contexto de sua mudança seja fantástico,<br />

não se pode, logicamente, esperar que uma<br />

alteração tão grande de comportamento aconteça<br />

numa personagem bem construída.<br />

64. A relação das personagens Ritinha e Joãozinho<br />

Paz é comovente, e a metáfora escolhida pelo<br />

padre para significar a Joãozinho que a mulher está<br />

a salvo vem enfatizar seu significado simbólico no<br />

contexto do romance: a viúva, grávida, despedindo-se<br />

do marido amado, é comparada à Virgem<br />

Maria, fugindo da perseguição de Herodes.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

469. UFRGS-RS<br />

Assinale a alternativa correta em relação a O continente,<br />

de Érico Veríssimo.<br />

a) As mulheres, por não suportarem sozinhas os<br />

encargos dos filhos e da casa, lançam-se como<br />

estratégicas guerreiras fortalecendo a ação dos<br />

seus homens.<br />

b) Descendente direta de Ana Terra, Bibiana, ao<br />

casar-se com o capitão Rodrigo Cambará, rompe<br />

com a tradição indígena, herdada de sua avó, e<br />

sofre por não conseguir gerar um filho do sexo<br />

masculino.<br />

c) O episódio “Um certo Capitão Rodrigo” gira em<br />

torno da chegada a Santa Fé do forasteiro Rodrigo<br />

Cambará, que encarna o ideal da bravura do gaúcho<br />

e tem o perfil de um homem dominado pelos<br />

prazeres carnais.<br />

d) O continente, título que evoca a conquista do território<br />

do Rio Grande do Sul, recobra um período<br />

histórico que vai das missões jesuíticas no século<br />

XVIII até a segunda metade do século XX, atingindo<br />

a urbanização crescente em Porto Alegre.<br />

e) A personagem Luzia, em razão de suas reações<br />

estranhas, que oscilam entre a crueldade e a<br />

sedução, dá origem, entre os habitantes de Santa<br />

Fé, à lenda da Teiniaguá.<br />

470. UCPel-RS<br />

Em relação a Érico Veríssimo, todas as alternativas<br />

são corretas, exceto:<br />

a) Utiliza a técnica do contraponto, interpretando<br />

diversas histórias, influenciado por traduções que<br />

realizou da obra de Aldous Huxley.<br />

b) Registra os valores e os costumes de uma pequena<br />

burguesia que se tornava, pouco a pouco, o setor<br />

social mais representativo de Porto Alegre.<br />

c) Em O tempo e o vento, o ciclo se dá pela sucessão<br />

de duas famílias-chave, os Terra e os Cambará,<br />

que se aproximam várias vezes pelo casamento.<br />

d) Em Incidente em Antares, retoma a temática do interior,<br />

agora sob uma perspectiva crítica, refletindo a realidade<br />

social e política do Brasil nos anos sessenta.<br />

e) Aborda, em toda sua obra, o caráter materialista da<br />

vida, vendo o homem como um produto biológico<br />

sujeito inteiramente às pressões sociais e à carga<br />

hereditária.<br />

471.<br />

Gabriela agitou-se no sono, o árabe transpusera a<br />

porta. Estava com a mão estendida, sem coragem de<br />

tocar o corpo dormido. Por que apressar-se? Se ela gritasse,<br />

se fizesse um escândalo, fosse embora? Ficaria<br />

sem cozinheira, outra igual a ela jamais encontraria. O<br />

melhor era deixar o pacote na beira da cama. No outro<br />

dia, demoraria mais em casa, ganhando sua confiança<br />

pouco a pouco, terminaria por conquistá-la.<br />

Sua mão quase tremia pousando o embrulho.<br />

Gabriela sobressaltou-se, abriu os olhos, ia falar<br />

mas viu Nacib de pé, a fitá-la. Com a mão, instintivamente,<br />

procurou a coberta mas tudo que conseguiu – por<br />

acanhamento ou por malícia? – foi fazê-la escorregar da<br />

cama. Levantou-se a meio, ficou sentada, sorria tímida.<br />

Não buscava esconder o seio agora visível ao luar.<br />

— Vim lhe trazer um presente, – gaguejou Nacib.<br />

Ia botar em sua cama. Cheguei agorinha...<br />

Ela sorria, era de medo ou era para encorajar?<br />

Tudo podia ser, ela parecia uma criança, as coxas<br />

e os seios à mostra como se não visse mal naquilo,<br />

como se nada soubesse daquelas coisas, fosse toda<br />

inocência. Tirou o embrulho da mão dele:<br />

— Obrigada, moço, Deus lhe pague.<br />

Desatou o nó, Nacib a percorria com os olhos, ela<br />

estendeu sorrindo o vestido sobre o corpo, acariciouse<br />

com a mão:<br />

— Bonito...<br />

Espiou os chinelos baratos, Nacib arfava.<br />

— O moço é tão bom...<br />

O desejo subia no peito de Nacib, apertava-lhe a<br />

garganta. Seus olhos se escureciam, o perfume de<br />

cravo o tonteava, ela tomava do vestido para melhor<br />

o ver, sua nudez cândida ressurgia.<br />

— Bonito... Fiquei acordada, esperando pro<br />

moço me dizer a comida de amanhã. Ficou tarde,<br />

vim deitar...<br />

— Tive muito trabalho – as palavras saíam-lhe<br />

a custo.<br />

273


— Coitadinho... Não tá cansado?<br />

Dobrava o vestido, colocava os chinelos no chão.<br />

— Me dê, penduro no prego.<br />

Sua mão tocou a mão de Gabriela, ela riu:<br />

— Mão mais fria...<br />

Ele não pôde mais, segurou-lhe o braço, a outra<br />

mão procurou o seio crescendo ao luar. Ela o puxou<br />

para si:<br />

— Moço bonito...<br />

O perfume de cravo enchia o quarto, um calor vinha<br />

do corpo de Gabriela, envolveu Nacib, queimava-lhe a<br />

pele, o luar morria na cama. Num sussurro entre beijos,<br />

a voz de Gabriela agonizava:<br />

— Moço bonito...<br />

Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela, Parte I.<br />

a) Qual é o aspecto da obra de Jorge Amado que o<br />

texto permite perceber?<br />

b) Qual a imagem feminina que se pode abstrair do<br />

trecho?<br />

c) Na construção da cena, o narrador sugere ao leitor<br />

sensações de vários tipos. Indique uma dessas<br />

sensações.<br />

472.<br />

I. Não me encontro com ninguém<br />

(tenho fases, como a lua...)<br />

No dia de alguém ser meu<br />

Não é dia de eu ser sua...<br />

Cecília Meireles<br />

II. Sou talvez a visão que Alguém sonhou,<br />

Alguém que veio ao mundo pra me ver<br />

E que nunca na vida me encontrou!<br />

Florbela Espanca<br />

III. Quadrilha<br />

João amava Teresa que amava Raimundo<br />

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili<br />

que não amava ninguém.<br />

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o<br />

convento,<br />

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,<br />

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes<br />

que não tinha entrado na história.<br />

Carlos Drummond de Andrade<br />

Assinale a alternativa incorreta.<br />

Sobre a relação entre os textos mostrados, afirma-se<br />

que:<br />

a) há uma confluência entre eles, na afirmação do<br />

eterno desencontro, inerente à busca amorosa.<br />

b) os dois primeiros unem-se num tom de lamento<br />

poético, enquanto o terceiro, definindo-se pela<br />

incorporação, ao poético, do cotidiano prosaico,<br />

encaminha-se para o tom de ironia e de humor.<br />

c) os dois primeiros fragmentos, com métrica regular,<br />

opõem-se ao poema Quadrilha, que transgride a<br />

métrica tradicional, o que vem confirmar a postura<br />

ideológica dos textos.<br />

d) no poema Quadrilha, a sucessão de especificações<br />

dos três primeiros versos introduz a idéia de<br />

desencontro, confirmada nos três últimos versos.<br />

e) os três textos unem-se pelo fato de apresentarem<br />

o tema por meio de um eu que fala e se assume,<br />

contando e lamentando a própria história.<br />

274<br />

Texto para as questões de 473 a 475.<br />

I<br />

No meio do caminho<br />

No meio do caminho tinha uma pedra<br />

tinha uma pedra no meio do caminho<br />

tinha uma pedra<br />

no meio do caminho tinha uma pedra.<br />

Nunca me esquecerei desse acontecimento<br />

na vida de minhas retinas tão fatigadas.<br />

Nunca me esquecerei que no meio do caminho<br />

tinha uma pedra<br />

tinha uma pedra no meio do caminho<br />

no meio do caminho tinha uma pedra.<br />

Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia, 1930<br />

II<br />

Marcelino Freire, erudito, 2002<br />

Comemorou-se no dia 31 de outubro de 2002 o centenário<br />

de nascimento de Carlos Drummond de Andrade<br />

(1902-1987), o mais importante poeta brasileiro do século<br />

XX. No meio do caminho é provavelmente o poema mais<br />

polêmico de Drummond e do Modernismo: provocou<br />

verdadeiro escândalo entre os espíritos conservadores!<br />

Foi essa avalanche de opiniões que levou Drummond a<br />

publicar Uma pedra no meio do caminho – biografia de<br />

um poema (Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1967), um<br />

documento exemplar da sociologia do gosto literário.<br />

São 194 páginas que reúnem críticas contundentes<br />

e ridicularizadoras, caricaturas, traduções e alguns<br />

elogios ao poema.<br />

473. Ibmec-SP<br />

Aponte, dentre as alternativas seguintes, a que caracteriza<br />

o aspecto mais surpreendente do poema<br />

drummondiano e que é capaz de explicar o impacto<br />

produzido na época de sua publicação.<br />

a) Trata-se da forma profundamente desrespeitosa com<br />

que Drummond se refere ao verso Nel mezzo del<br />

camin di nostra vita, de Dante Alighieri, retomado por<br />

Olavo Bilac num de seus mais famosos sonetos.<br />

b) As demasiadas repetições do verso No meio<br />

do caminho tinha uma pedra são extremamente<br />

redutoras e empobrecedoras, do ponto de vista<br />

semântico.


PV2D-07-54<br />

c) De acordo com a norma culta, o poema apresenta<br />

incorreções inadmissíveis, tais como a regência<br />

exótica do verbo “esquecer”.<br />

d) O poema não passa de uma baboseira futurista,<br />

marca indelével da fase de loucura que acometeu<br />

Drummond, na época em que o escreveu.<br />

e) O poema caracteriza a época contemporânea,<br />

prosaica e muito agitada, em que poucos param<br />

para refletir sobre a existência. A mensagem, de<br />

tão simples, inquieta o leitor pelo modo redundante<br />

com que se estrutura.<br />

474. Ibmec-SP<br />

Na “biografia do poema”, Drummond afirma que “não<br />

pretende expor nenhum fato de ordem moral, psicológica<br />

ou filosófica” e que somente queria “dar a sensação<br />

de monotonia e chateação, a começar pelas palavras”.<br />

Segundo ele, o poema havia servido “para dividir no<br />

Brasil as pessoas em duas categorias mentais”. De<br />

fato, o poema apresenta uma estrutura irônica, como<br />

se nota já nos versos iniciais:<br />

No meio do caminho tinha uma pedra<br />

tinha uma pedra no meio do caminho<br />

A seguir, estão exposto versos de diversos autores.<br />

Em qual das passagens o autor empregou o mesmo<br />

recurso retórico usado por Drummond nos versos<br />

expostos?<br />

a) Ó mar salgado, quanto do teu sal<br />

São lágrimas de Portugal.<br />

Fernando Pessoa<br />

b) Mais dura, mais cruel, mais rigorosa<br />

Sois, Lisi, que o cometa, rocha ou muro<br />

Mais rigoroso, mais cruel, mais duro<br />

Que o Céu vê, cerca o Mar, a Terra goza.<br />

Jerônimo Baía<br />

c) São Paulo – metrópole<br />

o metrô – bisturi que rasga<br />

o ventre da noite...<br />

Clínio Jorge<br />

d) Sou Ana, da cama<br />

da cana, fulana, bacana<br />

Sou Ana de Amsterdam.<br />

Chico Buarque<br />

e) Vão chegando as burguesinhas pobres,<br />

e as crianças das burguesinhas ricas,<br />

e as mulheres do povo, e as lavadeiras<br />

Manuel Bandeira<br />

475. Ibmec-SP<br />

No último terceto de “Legado”, de Claro enigma (1950),<br />

Carlos Drummond de Andrade faz alusão ao seu verso<br />

mais polêmico:<br />

De tudo quanto foi meu passo caprichoso<br />

Na vida, restará, pois o resto se esfuma,<br />

Uma pedra que havia no meio do caminho.<br />

O texto II, em forma de homenagem, combina o nome do<br />

poeta Drummond com seu verso mais famoso. Marcelino<br />

Freire utiliza a linguagem de novas mídias na construção<br />

de um poema, simultaneamente, verbal e visual.<br />

Entre todos esses poemas estabelece-se uma relação<br />

de:<br />

a) plágio.<br />

b) desmistificação.<br />

c) reprodução.<br />

d) intertextualidade.<br />

e) usurpação.<br />

476.<br />

Leia o poema Itabira, de Carlos Drummond de Andrade,<br />

para responder à questão.<br />

Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.<br />

Na cidade toda de ferro.<br />

As ferramentas batem como sinos.<br />

Os meninos seguem para a escola.<br />

Os homens olham para o chão.<br />

Os ingleses compram a mina.<br />

Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota<br />

incomparável.<br />

A crítica de caráter político encontrada no texto de<br />

Drummond está expressa no verso:<br />

a) Cada um de nós tem seu pedaço no pico do<br />

Cauê.<br />

b) As ferraduras batem como sinos.<br />

c) Os ingleses compram a mina.<br />

d) Na cidade toda de ferro.<br />

e) Os meninos seguem para a escola.<br />

477. Mackenzie-SP<br />

Construção<br />

Um grito pula no ar como foguete.<br />

Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes<br />

hirtos.<br />

O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.<br />

O sorveteiro corta a rua.<br />

E o vento brinca nos bigodes do construtor.<br />

Carlos Drummond de Andrade<br />

Vocabulário<br />

caliça = resíduo de cal ou argamassa ressequida<br />

andaime = estrado provisório de tábuas, sustentado por<br />

armação de madeira ou metálica, sobre o qual os operários<br />

trabalham nas construções<br />

hirto = completamente imóvel, estacado<br />

Assinale a afirmativa que caracteriza adequadamente<br />

o estilo do poema.<br />

a) Poesia em que os neologismos, depois de anos<br />

de ranço purista, entram no texto como um grito<br />

de moleque paulistano.<br />

b) Poesia de quem um dia se autodenominou “poeta<br />

menor”, reconhecendo em sua arte a atitude intimista<br />

dos “crepusculares” do começo do século.<br />

c) Poesia esquelética, em que as metáforas não são<br />

simples ornamentos, mas expressões insubstituíveis<br />

na configuração poética.<br />

d) Poesia concreta, com uso construtivo dos espaços<br />

brancos e desprezo ao verso.<br />

e) Poesia de vertente intimista, que toca os limites<br />

da música e tem o tom de fuga e de sonho.<br />

275


478. UFBA<br />

276<br />

Retrato de família<br />

Este retrato de família<br />

está um tanto empoeirado.<br />

Já não se vê no rosto do pai<br />

quanto dinheiro ele ganhou.<br />

Nas mãos dos tios não se percebem<br />

as viagens que ambos fizeram.<br />

A avó ficou lisa, amarela,<br />

sem memórias da monarquia.<br />

Os meninos, como estão mudados.<br />

O rosto de Pedro é tranqüilo,<br />

usou os melhores sonhos.<br />

E João não é mais mentiroso.<br />

O jardim tornou-se fantástico.<br />

As flores são placas cinzentas.<br />

E a areia, sob pés extintos,<br />

é um oceano de névoa.<br />

No semicírculo das cadeiras<br />

nota-se certo movimento.<br />

As crianças trocam de lugar,<br />

mas sem barulho: é um retrato.<br />

Vinte anos é um grande tempo.<br />

Modela qualquer imagem.<br />

Se uma figura vai murchando,<br />

outra, sorrindo, se propõe.<br />

Esses estranhos assentados,<br />

meus parentes? Não acredito.<br />

São visitas se divertindo<br />

numa sala que se abre pouco.<br />

Ficaram traços da família<br />

perdidos no jeito dos corpos.<br />

Bastante para sugerir<br />

que um corpo é cheio de surpresas.<br />

A moldura deste retrato<br />

em vão prende suas personagens.<br />

Estão ali voluntariamente,<br />

saberiam –– se preciso –– voar.<br />

Poderiam sutilizar-se<br />

no claro-escuro do salão,<br />

ir morar no fundo dos móveis<br />

ou no bolso de velhos coletes.<br />

A casa tem muitas gavetas<br />

e papéis, escadas compridas.<br />

Quem sabe a malícia das coisas,<br />

quando a matéria se aborrece?<br />

O retrato não me responde,<br />

ele me fita e se contempla<br />

nos meus olhos empoeirados.<br />

E no cristal se multiplicam<br />

os parentes mortos e vivos.<br />

Já não distingo os que se foram<br />

dos que restaram. Percebo apenas<br />

a estranha idéia de família<br />

viajando através da carne.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia: A rosa do povo.<br />

In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Carlos Drummond de<br />

Andrade: obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. pp.180-181.<br />

São afirmações verdadeiras sobre o poema:<br />

01. O sujeito poético, numa atitude contemplativa, percebe<br />

a realidade enfocada, contudo, em seguida,<br />

o objeto contemplado é ele próprio.<br />

02. O retrato, objeto que se interpõe entre o sujeito<br />

poético e a realidade sonhada, funciona como um<br />

elemento dissipador de mágoas do passado em<br />

família.<br />

04. O sujeito poético se vê como um indivíduo rebelde<br />

que se infiltra no mundo da família, para enxergá-la<br />

no seu aspecto negativo, isto é, alienador.<br />

08. O objeto real focado – o retrato – se transforma<br />

em abstração, quando os seus limites são quebrados,<br />

fundindo presente e passado na memória do<br />

sujeito poético.<br />

16. A realidade do retrato é ampliada, numa dimensão<br />

temporal e espacial, por meio do fluxo da memória.<br />

32. O eu lírico, ao falar do retrato, destaca a ação<br />

corrosiva do tempo sobre os seres e os objetos<br />

do cotidiano.<br />

64. O retrato evoca uma imagem melancólica do<br />

passado, no sujeito poético, e, com isso, ele<br />

passa a viver uma relação de desencanto com o<br />

presente.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

479. PUC-RS<br />

Não faças versos sobre acontecimentos.<br />

Não há criação nem morte perante a poesia.<br />

Diante dela, a vida é um sol estático,<br />

Não aquece nem ilumina.<br />

Uma das constantes na obra poética de Carlos<br />

Drummond de Andrade, como se verifica nos versos<br />

acima, é:<br />

a) a louvação do homem social.<br />

b) o negativismo destrutivo.<br />

c) a violação e a desintegração da palavra.<br />

d) o questionamento da própria poesia.<br />

e) o pessimismo lírico.<br />

Texto para as questões 480 e 481.<br />

A questão refere-se à estrofe do “Poema de sete faces”,<br />

retirada de Alguma poesia:<br />

Eu não devia te dizer<br />

mas essa lua<br />

mas esse conhaque<br />

botam a gente comovido como o diabo.<br />

480. PUC-MG<br />

No verso “botam a gente comovido como o diabo”,<br />

Drummond ressalta um aspecto marcante da poesia<br />

modernista, ao fazer uso de:<br />

a) linguagem popular.<br />

b) vocabulário raro.<br />

c) termos difíceis.<br />

d) palavras sofisticadas.


PV2D-07-54<br />

481. PUC-MG<br />

Na estrofe, percebe-se a ausência quase total de<br />

pontuação. Essa aparente indiferença pela gramática<br />

foi assim explicada pelos modernistas:<br />

a) Alguns poetas não sabiam pontuar corretamente e<br />

preferiam deixar a pontuação por conta do leitor.<br />

b) Os poetas achavam que pontuar era perder tempo<br />

em uma época, para eles, marcada pela velocidade.<br />

c) Os poetas entendiam que os versos deveriam<br />

ser registrados exatamente como surgiam, sem<br />

alterações e consertos.<br />

d) Os poetas não queriam que a pontuação direcionasse<br />

a interpretação que o leitor faria do texto.<br />

482.<br />

Aponte nos textos a seguir duas características do<br />

Modernismo.<br />

I. Anedota búlgara<br />

Era uma vez um czar naturalista<br />

que caçava homens.<br />

Quando lhe disseram que também se caçam<br />

borboletas e andorinhas,<br />

ficou muito espantado<br />

e achou uma barbaridade.<br />

II. Hipótese<br />

E se Deus é canhoto<br />

e criou com a mão esquerda?<br />

Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.<br />

III. Cota zero<br />

Stop.<br />

A vida parou<br />

ou foi o automóvel?<br />

Calos Drummond de Andrade<br />

483. Umesp<br />

É incorreto afirmar sobre a obra de Carlos Drummond<br />

de Andrade que:<br />

a) seu posicionamento individualista o afasta da<br />

problemática do homem comum, do dia-a-dia.<br />

b) uma de suas temáticas é a reflexão em torno da<br />

própria poesia.<br />

c) a lembrança de Itabira, sua terra natal, aparece<br />

em parte de sua obra.<br />

d) ocorre-lhe, muitas vezes, a mostragem de uma<br />

angústia proveniente de acreditar que não há saída<br />

para a problemática existencial.<br />

e) a ironia madura é uma das características mais<br />

marcantes de sua poesia.<br />

484. UERJ (modificado)<br />

Procura da poesia<br />

Não faças versos sobre acontecimentos.<br />

Não há criação nem morte perante a poesia.<br />

(...)<br />

Não faças poesia com o corpo,<br />

esse excelente, completo e confortável corpo, tão<br />

infenso à efusão lírica.<br />

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.<br />

(...)<br />

Não dramatizes, não invoques,<br />

não indagues. Não percas tempo em mentir.<br />

(...)<br />

Não recomponhas<br />

tua sepultada e merencória infância.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />

(...)<br />

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.<br />

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.<br />

Espera que cada um se realize e consume<br />

com seu poder de palavra<br />

e seu poder de silêncio.<br />

(...)<br />

Chega mais perto e contempla as palavras.<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela resposta,<br />

pobre ou terrível, que lhe deres:<br />

Trouxeste a chave?<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião:<br />

19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.<br />

O poema de Carlos Drummond de Andrade apresenta<br />

um conjunto de instruções para o fazer poético que<br />

podem ser distribuídas em duas partes, conforme a<br />

mudança de atitude enunciativa do eu lírico. Explique<br />

em que consiste essa mudança.<br />

485. Mackenzie-SP<br />

Leia com atenção o trecho a seguir.<br />

Um inseto cava<br />

cava sem alarme<br />

perfurando a terra<br />

sem achar escape.<br />

Que fazer, exausto,<br />

em país bloqueado,<br />

enlace de noite<br />

raiz e minério?<br />

Eis que o labirinto<br />

(oh razão, mistério)<br />

presto se desata:<br />

em verde, sozinha,<br />

antieuclidiana,<br />

uma orquídea forma-se.<br />

Carlos Drummond de Andrade, em sua Antologia poética,<br />

classificou tematicamente sua poesia em nove<br />

compartimentos. Assinale aquele no qual se encaixa<br />

o poema mostrado.<br />

a) A própria poesia<br />

b) Amigos<br />

c) O choque social<br />

d) Exercícios lúdicos<br />

e) O indivíduo<br />

277


486. FEI-SP<br />

Assinale a série em que todas as obras são de Carlos<br />

Drummond de Andrade.<br />

a) Sentimento do mundo – A rosa do povo – Claro<br />

enigma<br />

b) Claro enigma – Clã do jabuti – Kiriale<br />

c) Confissões de minas – Câmara ardente – Broquéis<br />

d) Lição de coisas – Amar, verbo intransitivo – Contos<br />

de aprendiz<br />

e) Brejo das almas – Paulicéia desvairada – Fazendeiro<br />

do ar<br />

Texto para as questões 487 e 488.<br />

Procura da poesia<br />

Não faças versos sobre acontecimentos.<br />

Não há criação nem morte perante a poesia.<br />

(...)<br />

Não faças poesia com o corpo,<br />

esse excelente, completo e confortável corpo, tão<br />

infenso à efusão lírica.<br />

278<br />

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.<br />

(...)<br />

Não dramatizes, não invoques,<br />

não indagues. Não percas tempo em mentir.<br />

(...)<br />

Não recomponhas<br />

tua sepultada e merencória infância.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />

(...)<br />

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.<br />

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.<br />

Espera que cada um se realize e consume<br />

com seu poder de palavra<br />

e seu poder de silêncio.<br />

(...)<br />

Chega mais perto e contempla as palavras.<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela resposta,<br />

pobre ou terrível, que lhe deres:<br />

Trouxeste a chave?<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião:<br />

19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987<br />

487. UERJ (modificado)<br />

Reescreva o verso “esse excelente, completo e confortável<br />

corpo, tão infenso à efusão lírica.”, substituindo<br />

por sinônimos as palavras destacadas e procedendo<br />

às alterações necessárias.<br />

488. UERJ<br />

Aníbal Machado, autor mineiro contemporâneo de<br />

Carlos Drummond de Andrade, também comenta, no<br />

fragmento a seguir, o comportamento das palavras.<br />

(As palavras) “Estão soltas, em férias. Nada significam<br />

ainda. E enquanto esperam ser chamadas ao silêncio<br />

do poema, adejam livres na luz de limbo, anteriores<br />

ao mistério que ainda vão gerar.”<br />

Aníbal Machado<br />

Transcreva do poema de Drummond um verso cujo<br />

sentido seja correspondente ao expresso por Aníbal<br />

Machado em “livres na luz de limbo, anteriores ao mistério<br />

que ainda vão gerar” e justifique sua resposta.<br />

Texto para as questões 489 e 490.<br />

Muitas coisas se dizem, que não deviam ser ditas;<br />

muitas outras se calam, que não mereciam calar-se.<br />

As palavras são as mesmas, em um e outro caso; só<br />

a conveniência delas, na circunstância, é que varia. E<br />

na variação, fica o dito por não dito. A menos que o<br />

convicto (ou o teimoso) diga: “Digo e repito.”<br />

Também cabe referir aquelas coisas manifestadas com<br />

a ressalva: “Diga-se de passagem.” Em geral, são as<br />

que não passam, as mais relevantes no discurso, e a<br />

matéria que parecia principal descolore em função do<br />

que parecia acessório.<br />

Dizer, bendizer, maldizer, confundem-se na massa de<br />

sons. Tudo escapando da mesma boca, mas vozes<br />

diferentes atropelam-se nesse anunciar-se de juízos,<br />

interesses, paixões e estados de espírito que se desmentem<br />

uns aos outros.<br />

Contradizer-se é ainda uma solução para o conflito<br />

que nossos impulsos sucessivos travam por meio e à<br />

custa de palavras.<br />

É tão incoerente essa trama verbal a desenvolver-se<br />

no tempo, que se procura dar-lhe nexo, apelando para<br />

fórmulas: “Como eu ia dizendo...” “O que é mesmo<br />

que eu estava dizendo?” O dizer de um precisa ser<br />

acionado pelo dizer do outro, e do acoplamento (linguagem<br />

espacial em curso) dos dizeres surge novo dizer,<br />

que é o anterior e é outro. De modo que ninguém diz<br />

propriamente o que diz, mas só o que lhe ocorre (se<br />

ocorre) dizer, ou lhe é soprado na ocasião.(...)<br />

Entre o dizível e o indizível balança a criação do poeta,<br />

flutua o êxtase dos namorados. Dizer o que jamais<br />

soube ser dito, aspiração de manipulador de vocábulos,<br />

que talvez nem saiba dizer o sabido. Haverá algo<br />

a dizer, absolutamente inefável, que nem os anjos<br />

conseguissem exprimir nem os homens entender?<br />

Andrade, Carlos Drummond de: “Dizer e suas conseqüências”.<br />

In Os dias lindos – Crônicas. 2ª ed.<br />

Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1978, pp. 69-70.<br />

489. Vunesp<br />

Após a leitura, explique o que entendeu por:<br />

“O dizer de um precisa ser acionado pelo dizer do<br />

outro (...)”<br />

490. Vunesp<br />

Identifique no texto, e depois transcreva, frases ou<br />

expressões em que Drummond se define como um<br />

“manipulador de vocábulos”.<br />

491. UFPE<br />

São Paulo é um palco de bailados russos,<br />

Sarabandam a tísica, a ambição, a inveja, os crimes,<br />

E também as apoteoses da ilusão.<br />

Mário de Andrade<br />

Alguns anos vivi em Itabira<br />

Principalmente nasci em Itabira.<br />

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.<br />

...............................................................<br />

Itabira é apenas uma fotografia na parede.<br />

Mas como dói!<br />

Carlos Drummond de Andrade


PV2D-07-54<br />

Algumas semelhanças e diferenças podem ser observadas<br />

entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de<br />

Andrade. Analise-as.<br />

( ) Enquanto Mário de Andrade foi da geração de<br />

1922, que deu início ao Modernismo, Drummond<br />

é considerado como sendo da geração de 1930, a<br />

qual, embora seguindo o que preconizava a geração<br />

anterior, consolidou a liberdade da forma poética e<br />

usou tanto temas universais como intimistas.<br />

( ) Ambos celebram sua cidade natal (São Paulo e<br />

Itabira), embora desencantados e sem o ufanismo<br />

dos parnasianos.<br />

( ) A obra de ambos abrange prosa e poesia: Drummond<br />

escreveu crônicas, contos e poemas, e Mário<br />

de Andrade escreveu poemas, contos, romances e<br />

uma rapsódia, como ele classificou, Macunaíma,<br />

o herói sem nenhum caráter.<br />

( ) Mário de Andrade, em Clã do jabuti, inicia uma fase<br />

de nacionalismo estético e pitoresco, que reflete a<br />

busca do primitivismo, do ingênuo, do folclórico, da<br />

alma nacional. A mesma tendência pode-se verificar<br />

em Drummond, a partir de A rosa do povo.<br />

( ) Ambos, como a última fase de sua poesia, apresentaram<br />

como novidade poemas de temas eróticos,<br />

reunidos em livros: O amor natural, de Drummond,<br />

e Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade.<br />

492.<br />

Dentre os autores da geração literária de Cecília Meireles,<br />

destaca-se:<br />

a) Jorge Amado, autor de Menino de engenho, obra<br />

que, denunciando a exploração da mão-de-obra<br />

infantil, deu início ao regionalismo crítico brasileiro.<br />

b) Vinícius de Moraes, poeta de inspiração parnasiana,<br />

que incorporou nos sonetos o experimentalismo<br />

estético da segunda geração modernista.<br />

c) Carlos Drummond de Andrade, poeta emotivo<br />

e confessional, que se manteve distante das<br />

conquistas estéticas da geração modernista de<br />

1922.<br />

d) Graciliano Ramos, que escreveu romance de temática<br />

regionalista, denunciando a trágica condição<br />

de sobrevivência dos retirantes nordestinos.<br />

e) Guimarães Rosa, escritor de ficção intimista, que,<br />

utilizando-se do fluxo de consciência, promoveu a<br />

ruptura da estrutura narrativa linear.<br />

493. FMU-SP<br />

A poesia de Cecília Meireles se caracteriza por:<br />

a) predominância de versos livres, linguagem elaborada,<br />

temas políticos, concepção materialista do<br />

mundo.<br />

b) habilidade formal, imagens sensoriais, contemplação<br />

do mundo, musicalidade, espiritualismo.<br />

c) versos tradicionalmente regulares, tom coloquial,<br />

temas históricos, visão nacionalista do mundo.<br />

d) sugestão, musicalidade, imagens sensoriais, visão<br />

materialista do mundo.<br />

e) prosa poética, temas históricos ou de viagens,<br />

cosmopolitismo, tom retórico, visão marxista do<br />

mundo.<br />

494. PUC-RS<br />

O livro de Cecília Meireles que evoca os “tempos do<br />

ouro” denomina-se:<br />

a) Romanceiro da Inconfidência.<br />

b) Baladas para el-Rei.<br />

c) Vaga música.<br />

d) Retrato natural.<br />

e) Romance de Santa Clara.<br />

495. Fuvest-SP<br />

Como o próprio título indica, no Romanceiro da Inconfidência,<br />

de Cecília Meireles, os romances têm como<br />

referência nuclear a frustrada rebelião na Vila Rica do<br />

século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que:<br />

a) a base histórica utilizada no poema converte-se no<br />

lirismo transcendente e amargo que caracteriza as<br />

outras obras da autora.<br />

b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura<br />

narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes<br />

de uma elaborada prosa poética.<br />

c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade<br />

de interferir no curso dos episódios essenciais da<br />

rebelião, alterando-lhes o rumo.<br />

d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão<br />

poética no desenvolvimento dos fatos centrais<br />

quanto motiva o lirismo reflexivo.<br />

e) a preocupação com a fidedignidade histórica e<br />

com o tom épico atenua o sentimento dramático<br />

da vida, habitual na poesia da autora.<br />

Texto para as questões de 496 a 498.<br />

Embalo da canção<br />

01 Que a voz adormeça<br />

02 que canta a canção!<br />

03 Nem o céu floresça<br />

04 nem floresça o chão.<br />

05 (Só – minha cabeça,<br />

06 Só – meu coração.<br />

07 Solidão.)<br />

08 Que não alvoreça<br />

09 nova ocasião!<br />

<strong>10</strong> Que o tempo se esqueça<br />

11 de recordação!<br />

12 (Nem minha cabeça<br />

13 nem meu coração.<br />

14 Solidão!<br />

Cecília Meireles<br />

496.<br />

Assinale a alternativa correta sobre o texto.<br />

a) As formas verbais presentes na primeira estrofe<br />

expressam certezas.<br />

b) A redundância de paralelismos concretiza o ritmo<br />

sugerido no título do poema.<br />

c) O uso dos travessões (versos 5 e 6) atenua o<br />

sentido de solidão.<br />

d) Na terceira estrofe, a recordação do passado é<br />

ironizada pelo eu.<br />

e) Na terceira estrofe, nova ocasião e recordação<br />

referem-se a experiências vividas num momento<br />

do passado.<br />

279


497.<br />

Assinale a afirmação correta sobre o texto.<br />

a) Na primeira estrofe, o eu cita experiências do<br />

passado.<br />

b) alvorecer e florescer expressam o desejo de um<br />

mundo melhor.<br />

c) Em nem floresça o chão, tem-se oração sem<br />

sujeito.<br />

d) A quarta estrofe retoma a segunda para aprofundar<br />

a idéia de solidão.<br />

e) A forma verbal adormeça expressa o apelo a um<br />

tu, a quem o eu se dirige.<br />

498.<br />

Considerando o texto, assinale a alternativa correta<br />

sobre Cecília Meireles.<br />

a) Reincorporou à lírica do Modernismo a temática<br />

intimista, aliada à modulação de metros breves<br />

mais tradicionais.<br />

b) Influenciada pelo experimentalismo estético, buscou,<br />

na concisão dos versos livres, a objetividade<br />

expressiva.<br />

c) Conciliou o ideal de impassibilidade da expressão<br />

poética ao visionarismo de quadros bucólicos.<br />

d) Sua linguagem prosaica representa o ponto alto<br />

da poesia modernista brasileira.<br />

e) Inovou a poesia brasileira, desenvolvendo a temática<br />

religiosa em sonetos de inspiração camoniana.<br />

499. UFPE<br />

Eu não dei por esta mudança,<br />

tão simples, tão certa, tão fácil;<br />

Em que espelho ficou perdida a minha face?<br />

Cecília Meireles<br />

Vou-me embora pra Pasárgada,<br />

Lá sou amigo do rei<br />

Lá tenho a mulher que quero<br />

na cama que escolherei<br />

Vou-me embora pra Pasárgada.<br />

Manuel Bandeira<br />

Sobre Cecília Meireles e Manuel Bandeira, podemos<br />

afirmar que:<br />

( ) ambos são poetas que aderiram ao Modernismo,<br />

embora tenham experimentado outras tendências<br />

estéticas anteriores.<br />

( ) Bandeira eliminou posteriormente os resíduos<br />

parnasianos e simbolistas de sua poesia, os quais<br />

podem ser observados em Cinza das Horas e<br />

Carnaval. Como se lê em sua poesia, predominam<br />

o lirismo do eu e o subjetivismo.<br />

( ) Bandeira empresta à sua poesia um caráter confidencial,<br />

mas, ao contrário dos poetas românticos,<br />

observa-se que ironiza seus próprios desejos,<br />

considerando-os ilusões.<br />

( ) Cecília Meireles, considerada uma neo-simbolista,<br />

é, contudo, bastante objetiva na construção de sua<br />

temática poética.<br />

( ) apesar da delicadeza de suas imagens e da propriedade<br />

de seus símbolos, como no texto transcrito, a<br />

poesia de Cecília tem caráter inovador e futurista.<br />

280<br />

500.<br />

A bossa-nova é um estilo de música popular brasileira<br />

que se consolidou no final dos anos 50, [...] projetou-se<br />

sobre uma geração mais nova de compositores, que<br />

inclui Caetano Veloso e Chico Buarque, e contou ainda<br />

com notáveis letristas, sendo que um dos mais famosos<br />

foi o poeta e diplomata Vinícius de Moraes.<br />

SADIE, Stanley. Dicionário Grove de Música. Edição concisa.<br />

Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 125.<br />

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a bossa-nova,<br />

é correto afirmar que esse estilo:<br />

a) manteve os valores da música tradicional, como o<br />

samba e o baião, praticados nos bailes populares<br />

do Rio de Janeiro e de São Paulo.<br />

b) suplantou as características rítmicas e marcantes<br />

do samba por um maior refinamento rítmico, melódico<br />

e harmônico, com textos mais intimistas e<br />

coloquiais.<br />

c) possibilitou o enriquecimento do tradicional samba<br />

urbano no eixo Rio-São Paulo, por trazer a influência<br />

do rock norte-americano.<br />

d) popularizou o uso de instrumentos eletroacústicos<br />

como a guitarra e os teclados eletrônicos, bem<br />

como promoveu o surgimento de grandes bandas.<br />

e) facilitou a difusão da canção popular por desenvolver<br />

uma harmonia simples e melodias de fácil<br />

memorização.<br />

501.<br />

Instrução: para responder à questão, associar a Coluna<br />

A, que apresenta informações relativas ao Modernismo,<br />

aos autores indicados na Coluna B.<br />

Coluna A<br />

1. Em Os sapos, o poeta apresenta uma crítica contumaz<br />

aos parnasianos.<br />

2. A irreverência da primeira fase se traduz em Memórias<br />

sentimentais de João Miramar.<br />

3. A produção do poeta vincula-se à fase de reconstrução<br />

da estética.<br />

4. O Simbolismo é revisitado em sua obra.<br />

5. A irreverência deu lugar ao lirismo romântico.<br />

Coluna B<br />

( ) Oswald de Andrade<br />

( ) Carlos Drummond de Andrade<br />

( ) Vinícius de Moraes<br />

( ) Manuel Bandeira<br />

A numeração correta da Coluna B, de cima para<br />

baixo, é:<br />

a) 1 – 4 – 3 – 5 d) 5 – 2 – 3 – 4<br />

b) 2 – 3 – 5 – 1 e) 2 – 3 – 5 – 4<br />

c) 1 – 2 – 4 – 5<br />

502. UERJ<br />

(...)<br />

Atrás de portas fechadas,<br />

à luz de velas acesas,<br />

entre sigilo e espionagem,<br />

acontece a Inconfidência.<br />

(...)


PV2D-07-54<br />

05 LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,<br />

ouve-se em redor da mesa.<br />

E a bandeira já está viva,<br />

e sobe, na noite imensa.<br />

E os seus tristes inventores<br />

<strong>10</strong> já são réus – pois se atreveram<br />

a falar em Liberdade<br />

(que ninguém sabe o que seja).<br />

Através de grossas portas,<br />

sentem-se luzes acesas,<br />

15 – e há indagações minuciosas<br />

dentro das casas fronteiras.<br />

“Que estão fazendo, tão tarde?<br />

Que escrevem, conversam, pensam?<br />

Mostram livros proibidos?<br />

20 Lêem notícias nas Gazetas?<br />

Terão recebido cartas<br />

de potências estrangeiras?”<br />

(...)<br />

Ó vitórias, festas, flores<br />

das lutas da Independência!<br />

25 Liberdade – essa palavra<br />

que o sonho humano alimenta:<br />

que não há ninguém que explique,<br />

e ninguém que não entenda!<br />

(...)<br />

MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência.<br />

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.<br />

O poema de Cecília Meireles enfoca um momento específico<br />

de tensão política e de oposição aos poderes<br />

estabelecidos na história do Brasil.<br />

Os únicos versos que não apresentam explicitamente<br />

essa referência histórica estão transcritos na seguinte<br />

alternativa:<br />

a) entre sigilo e espionagem, / acontece a Inconfidência.<br />

(v. 3 e 4)<br />

b) LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, / ouve-se em<br />

redor da mesa. (v. 5 e 6)<br />

c) – e há indagações minuciosas / dentro das casas<br />

fronteiras. (v. 15 e 16)<br />

d) Ó vitórias, festas, flores / das lutas da Independência!<br />

(v. 23 e 24)<br />

503.<br />

Soneto de fidelidade<br />

Vinícius de Moraes<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama<br />

Eu possa me dizer do amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

A respeito da poesia de Vinícius de Moraes, assinale<br />

verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmação a<br />

seguir.<br />

( ) Sob a forma de soneto, privilegia temáticas líricas,<br />

sobretudo o amor e suas múltiplas manifestações.<br />

( ) Celebra a sensualidade com versos que apresentam<br />

imagens a respeito do sexo e do corpo.<br />

( ) O cunho erótico dos poemas exclui a experiência<br />

mística do amor.<br />

A seqüência correta é:<br />

a) V – F – F d) V – F – V<br />

b) V – V – F e) F – F – V<br />

c) F – V – F<br />

504. UERJ<br />

(...)<br />

Atrás de portas fechadas,<br />

à luz de velas acesas,<br />

entre sigilo e espionagem,<br />

acontece a Inconfidência.<br />

(...)<br />

05 LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,<br />

ouve-se em redor da mesa.<br />

E a bandeira já está viva,<br />

e sobe, na noite imensa.<br />

E os seus tristes inventores<br />

<strong>10</strong> já são réus – pois se atreveram<br />

a falar em Liberdade<br />

(que ninguém sabe o que seja).<br />

Através de grossas portas,<br />

sentem-se luzes acesas,<br />

15 – e há indagações minuciosas<br />

dentro das casas fronteiras.<br />

“Que estão fazendo, tão tarde?<br />

Que escrevem, conversam, pensam?<br />

Mostram livros proibidos?<br />

20 Lêem notícias nas Gazetas?<br />

Terão recebido cartas<br />

de potências estrangeiras?”<br />

(...)<br />

Ó vitórias, festas, flores<br />

das lutas da Independência!<br />

25 Liberdade – essa palavra<br />

que o sonho humano alimenta:<br />

que não há ninguém que explique,<br />

e ninguém que não entenda!<br />

(...)<br />

MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência.<br />

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.<br />

A necessidade de transformação, em meio a uma<br />

sociedade politicamente repressora, está presente em<br />

todo o fragmento do poema apresentado.<br />

Essa necessidade mostra-se, de forma mais clara, em:<br />

a) a falar em Liberdade / (que ninguém sabe o que<br />

seja). (v. 11 e 12)<br />

b) Através de grossas portas, / sentem-se luzes<br />

acesas, (v. 13 e 14)<br />

c) Que estão fazendo, tão tarde? / Que escrevem,<br />

conversam, pensam? (v. 17 e 18)<br />

d) Terão recebido cartas / de potências estrangeiras?<br />

(v. 21 e 22)<br />

281


505.<br />

Leia as estrofes abaixo, de Vinícius de Moraes, e a<br />

afirmação que as segue.<br />

01 Uma lua no céu apareceu<br />

02 cheia e branca; foi quando, emocionada<br />

03 a mulher a meu lado estremeceu<br />

04 e se entregou sem que eu dissesse nada.<br />

05 Larguei-as pela jovem madrugada<br />

06 ambas cheias e brancas e sem véu<br />

07 perdida uma, a outra abandonada<br />

08 uma nua na terra, outra no céu.<br />

Por meio de versos ______________ em que é perceptível<br />

um lirismo ______________ , típico de sua<br />

poesia, Vinícius de Moraes aproxima a mulher e a lua,<br />

fundindo-as, em alguns momentos, como acontece no<br />

verso de número _____.<br />

Assinale a alternativa que preenche corretamente as<br />

lacunas acima.<br />

a) octossílabos – amoroso – 06<br />

b) heptassílabos – social – 07<br />

c) decassílabos – moralizante – 08<br />

d) octossílabos – despojado – 07<br />

e) decassílabos – sensual – 06<br />

506. Unirio-RJ<br />

A um passarinho<br />

Para que vieste<br />

Na minha janela<br />

Meter o nariz?<br />

Se foi por um verso<br />

Não sou mais poeta<br />

Ando tão feliz!<br />

Vinícius de Moraes<br />

a) Segundo o texto, qual é a condição fundamental<br />

para a criação poética?<br />

b) Qual o gênero literário a que pertence o texto?<br />

507. UFSC<br />

Assinale as proposições em que o comentário está de<br />

acordo com o texto de Vinícius de Moraes.<br />

01. De repente do riso fez-se o pranto/ Silencioso e<br />

branco como a bruma/ E das bocas unidas fez-se a<br />

espuma/ E das mãos espalmadas fez-se o espanto.<br />

Nesses versos, o poeta usa, a exemplo dos parnasianos<br />

e simbolistas, vocabulário coloquial e simples,<br />

próprio da linguagem cotidiana. Não há rimas.<br />

02. Notou que sua marmita/ Era o prato do patrão/ Que<br />

sua cerveja preta/ Era o uísque do patrão/ Que seu<br />

macacão de zuarte/ Era o terno do patrão/ Que o<br />

casebre onde morava/ Era a mansão do patrão/<br />

Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do<br />

patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do<br />

patrão/ (...) E o operário disse: Não! A exemplo<br />

de padre José de Anchieta, do Barroco, que em<br />

Sermões procurou mostrar as disparidades sócioeconômicas<br />

entre os índios e os colonizadores<br />

portugueses no século XIX, Vinícius de Moraes, no<br />

poema Operário em construção, procurou registrar<br />

o contraste existente entre operário e patrão.<br />

04. O poeta reinterpreta o Natal, fazendo alusão ao<br />

comunismo, nos seguintes versos: Nasceu num<br />

282<br />

estábulo/ Pequeno e singelo/ Com boi e charrua/<br />

Com foice e martelo.<br />

08. Em E agora José?/ A festa acabou,/ a luz apagou,/<br />

o povo sumiu,/ a noite esfriou,/ e agora, José?,<br />

Vinícius manifesta o desejo de morrer, uma das<br />

características da literatura parnasiana.<br />

16. Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem<br />

nas meninas/ Cegas inexatas... são versos do<br />

poema A rosa de Hiroshima.<br />

Some os números dos itens corretos.<br />

508. UFSCar-SP<br />

Balada das meninas de bicicleta<br />

Meninas de bicicleta<br />

Que fagueiras pedalais<br />

Quero ser vosso poeta!<br />

Ó transitórias estátuas<br />

Esfuziantes de azul<br />

Louras com peles mulatas<br />

Princesas da zona sul:<br />

As vossas jovens figuras<br />

Retesadas nos selins<br />

Me prendem, com serem puras<br />

Em redondilhas afins.<br />

Que lindas são vossas quilhas<br />

Quando as praias abordais!<br />

E as nervosas panturrilhas<br />

Na rotação dos pedais:<br />

Que douradas maravilhas!<br />

Bicicletai, meninada<br />

Aos ventos do Arpoador<br />

Solta a flâmula agitada<br />

Das cabeleiras em flor<br />

Uma correndo à gandaia<br />

Outra com jeito de séria<br />

Mostrando as pernas sem saia<br />

Feitas da mesma matéria.<br />

Permanecei! vós que sois<br />

O que o mundo não tem mais<br />

Juventude de maiôs<br />

Sobre máquinas de paz<br />

Enxames de namoradas<br />

Ao sol de Copacabana<br />

Centauresas transpiradas<br />

Que o leque do mar abana!<br />

A vós o canto que inflama<br />

Os meus trint’anos, meninas<br />

Velozes massas em chama<br />

Explodindo em vitaminas<br />

Bem haja a vossa saúde<br />

À humanidade inquieta<br />

Vós cuja ardente virtude<br />

Preservais muito amiúde<br />

Com um selim de bicicleta<br />

Vós que levais tantas raças<br />

Nos corpos firmes e cruz:<br />

Meninas, soltai as alças<br />

Bicicletai seios nus!<br />

No vosso rastro persiste<br />

O mesmo eterno poeta


PV2D-07-54<br />

Um poeta – essa coisa triste<br />

Escravizada à beleza<br />

Que em vosso rastro persiste<br />

Levando sua tristeza<br />

No quadro da bicicleta.<br />

Vinícius de Moraes<br />

Quais as características da poesia de Vinícius de<br />

Moraes presentes no texto acima?<br />

509.<br />

Soneto da devoção<br />

Essa mulher que se arremessa, fria<br />

E lúbrica em meus braços, e nos seios<br />

Me arrebata e me beija e balbucia<br />

Versos, votos de amor e nomes feios.<br />

Essa mulher, flor de melancolia<br />

Que se ri dos meus pálidos receios<br />

A única entre todas a quem dei<br />

Os carinhos que nunca a outra daria.<br />

Essa mulher que a cada amor proclama<br />

A miséria e a grandeza de quem ama<br />

E guarda a marca dos meus dentes nela.<br />

Essa mulher é um mundo! – uma cadela<br />

Talvez... – mas na moldura de uma cama<br />

Nunca mulher nenhuma foi tão bela!<br />

Vinícius de Moraes, Poesia completa e prosa.<br />

Trace uma análise do poema de Vinícius de Moraes<br />

tanto no aspecto formal quanto no que se refere ao<br />

conteúdo.<br />

5<strong>10</strong>. PUCCamp-SP<br />

Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo<br />

Vindas do sal do mar, os braços em cruz<br />

A flor dos lábios entreaberta para o beijo<br />

A pele a fulgurar todo o pólen da luz<br />

A quadra anterior introduz um soneto de Vinícius de<br />

Moraes. Nesses versos, o leitor pode comprovar a<br />

seguinte características da lírica amorosa do poeta:<br />

a) dilaceramento provocado pela paixão carnal e pela<br />

ânsia de salvação religiosa.<br />

b) reconhecimento da fugacidade do tempo, revelada<br />

num momento de excitação sensual.<br />

c) celebração da amada num quadro cotidiano,<br />

valorizando-se o estilo típico dos modernistas<br />

combativos.<br />

d) visão mística, na qual os desejos são sublimados<br />

e a natureza é divinizada.<br />

e) exaltação erótica, integrada no mundo natural e<br />

elevada ao plano do sublime.<br />

511. PUC-SP<br />

Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda.<br />

Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida<br />

em ti.<br />

Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino<br />

frágil,<br />

fiquei sem poder chorar, quando caí.<br />

Cecília Meireles<br />

A realidade exterior, presente na poesia de Cecília<br />

Meireles, toma forma a partir de elementos instáveis,<br />

móveis e etéreos. A recriação poética dessa realidade<br />

revela a visão de mundo da autora. – Assim sendo:<br />

a) identifique o tema que está presente no poema<br />

acima.<br />

b) transcreva os termos que, no poema, caracterizam<br />

o tema.<br />

512. UFSCar-SP<br />

Leia o texto seguinte.<br />

Reinvenção<br />

A vida só é possível<br />

reinventada.<br />

Anda o sol pelas campinas<br />

e passeia a mão dourada<br />

pelas águas, pelas folhas. . .<br />

Ah! tudo bolhas<br />

que vêm de fundas piscinas<br />

de ilusionismo . . . — mais nada.<br />

Mas a vida, a vida, a vida<br />

a vida só é possível<br />

reinventada. [...]<br />

Cecília Meireles<br />

Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de<br />

Cecília Meireles, encontramos traços de seu estilo:<br />

a) sempre marcado pelo momento histórico.<br />

b) ligado ao vanguardismo da geração de 22.<br />

c) inspirado em temas genuinamente brasileiros.<br />

d) vinculado à estética simbolista.<br />

e) de caráter épico, com inspiração camoniana.<br />

513. Vunesp<br />

A questão faz referência a uma passagem do romance<br />

Incidente em Antares, de Érico Veríssimo<br />

(1905-1975).<br />

Incidente em Antares<br />

Fez-se um novo silêncio. De fora vinham vozes<br />

humanas. De vez em quando se ouvia o zumbido<br />

do elevador do hospital. Tombou uma pétala de uma<br />

das rosas. Quitéria soltou um suspiro. Zózimo agora<br />

parecia adormecido. Tibério pensou em Cleo com uma<br />

saudade tátil.<br />

– Neste quarto, Tibé – disse Quitéria – dentro<br />

destas quatro paredes o Zózimo e eu temos falado<br />

em assuntos em que nunca tínhamos tocado antes.<br />

Nossa morte, por exemplo…<br />

– Pois não lhes gabo o gosto – resmungou Tibério.<br />

– Tibé, tens fama de valente. Vives contando bravatas,<br />

proezas em revoluções e duelos… patacoadas!<br />

No entanto tens medo de pensar na tua morte, tens<br />

horror a encarar a realidade. – Tirou os óculos, limpoulhes<br />

as lentes com um lencinho, e depois prosseguiu:<br />

– Que esperas mais da vida? Os nossos filhos estão<br />

criados, não precisam mais de nós. Mais que isso: não<br />

querem saber de nós, de nossas idéias, de nossas<br />

manias, de nossa maneira de pensar e viver. Acho que<br />

todo homem vê sua cara todas as manhãs no espelho,<br />

na hora de se barbear. Que é que o espelho diz? Diz<br />

que o tempo passa sem parar. E que essas manchas<br />

que a gente tem no rosto (tu, eu, o Zózimo, todos os<br />

283


que chegam à nossa idade), essas manchas pardas são bilhetinhos que a Magra escreve na nossa pele. Eu<br />

leio todos os dias esses recados, mas tu, Tibé, tu és analfabeto ou então te fazes de desentendido.<br />

Érico Veríssimo. Incidente em Antares. 12. ed. Porto Alegre: Editora Globo. 1974, p.<strong>10</strong>4.<br />

Um dos fatos mais terríveis para os seres humanos é a morte, que, por esta razão, torna-se tema dominante<br />

nas artes de todos os tempos. Nas religiões, o tema da morte é também constante, pela busca de uma solução<br />

para o problema, por meio da afirmação da existência da alma e de divindades que acolheriam as almas<br />

após a morte do corpo. Partindo deste comentário, releia atentamente o fragmento de Incidente em Antares e<br />

estabeleça, interpretando o que diz Quitéria, a diferença entre o modo como ela considera a morte e o modo<br />

como, na opinião da própria Quitéria, Tibério reage à idéia da morte.<br />

Capítulo 5<br />

514. UEL-PR<br />

O Modernismo, em sentido amplo, tem fases distintas,<br />

havendo mesmo que se considerar o fato de<br />

que as influências de suas convicções mais fortes se<br />

fizeram sentir várias décadas depois da Semana de<br />

Arte Moderna. Pense-se, por exemplo, na inspiração<br />

que Oswald de Andrade e sua Antropofagia ofereceram<br />

aos movimentos de contracultura da década de<br />

60, entre eles o Tropicalismo.<br />

Na própria década de 20, a pluralidade já se<br />

faz sentir, por exemplo, nos vários “nacionalismos”:<br />

Macunaíma é mais problemático e menos cívico que<br />

Martim Cererê. Também quanto à forma literária, há<br />

muita diferença entre o verso piadístico e lúdico de<br />

Oswald de Andrade e a intensidade subjetiva com a<br />

qual é filtrada, por um ângulo tido como “futurista”, a<br />

vida da metrópole nascente.<br />

Na década de 30, vencidos os impulsos mais<br />

arrebatados de experimentalismo estético, a poesia e<br />

o romance amadurecem com uma geração de artistas<br />

brilhantes. Na lírica, o sentimento da inadaptação ao<br />

mundo desemboca na figura do Gauche ou na do<br />

visionário em cujos versos não faltam imagens surrealistas.<br />

Na ficção, o peso da realidade se faz sentir em<br />

diversas obras regionalistas, sobretudo do Nordeste,<br />

muito marcadas pelos respectivos ciclos econômicos:<br />

da cana-de-açúcar e do cacau, por exemplo. Nem<br />

faltaram, nessa mesma década e na seguinte, autores<br />

mais intimistas, dedicados à sondagem do interior<br />

humano, e autores revolucionários, cujas linguagens,<br />

particularizadas, deram novo fôlego à expressão<br />

literária no Brasil.<br />

São autores que, havendo estreado na década de<br />

1940, acabaram por criar, em gêneros diferentes,<br />

aquelas “linguagens extremamente particularizadas”<br />

a que se refere a frase final do texto:<br />

a) Érico Veríssimo e Vinícius de Moraes.<br />

b) Jorge de Lima e Ferreira Gullar.<br />

c) Érico Veríssimo e Guimarães Rosa.<br />

d) João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa.<br />

e) João Cabral de Melo Neto e Jorge de Lima.<br />

515. UFRN<br />

Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento<br />

da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.<br />

Viver é muito perigoso.<br />

Com relação ao autor do fragmento acima, pode-se<br />

dizer:<br />

284<br />

I. Ao retratar o sertão mineiro em sua obra-prima,<br />

ele consegue recriá-lo, reinventá-lo através da<br />

linguagem, e o resultado disso é a universalização<br />

do regional.<br />

II. Ambientada em Canudos, sua principal obra o consagrou<br />

no gênero novelístico. Nela ele trabalha três<br />

elementos estruturais: a terra, o homem, a luta.<br />

III. Quando publicou, em 1956, sua obra mais notável<br />

– uma coletânea de crônicas tão primorosas<br />

quanto as de Rubem Braga –, ele deu uma nova<br />

dimensão à prosa regionalista.<br />

É(São) correta(s) a(s) afirmação(ões):<br />

a) II. d) II e III.<br />

b) I. e) I, II e III.<br />

c) III.<br />

516. PUC-SP<br />

O conto “São Marcos”, que integra a obra Sagarana,<br />

de João Guimarães Rosa, apresenta linguagem<br />

marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os<br />

órgãos sensoriais como meios de conhecimento da<br />

realidade, em suas diferentes situações narrativas.<br />

No ponto culminante da narrativa, o narrador é<br />

afetado em sua capacidade sensorial, particularmente<br />

ligada:<br />

a) ao olfato, que lhe permite perceber o “cheiro de<br />

musgo. Cheiro de húmus. Cheiro de água podre”,<br />

bem como o “odor maciço, doce ardido, do pau<br />

d’alho”.<br />

b) à visão, que lhe permite contemplar as plantas, as<br />

aves, os insetos, as cores e os brilhos da natureza,<br />

como em “debaixo do angelim verde, de vagens<br />

verdes, um boi branco, de cauda branca”.<br />

c) ao tato, que se ativa “com o vento soprando do<br />

sudoeste, mas que mudará daqui a um nadinha,<br />

sem explicar a razão”, além de lhe permitir sentir<br />

o “horror estranho que riçava-me a pele e os pêlos”.<br />

d) ao paladar, ativado na mastigação “de uma folha<br />

cheirã da erva-cidreira, que sobe em tufos na beira<br />

da estrada”, e usada, segundo a personagem, para<br />

“desinfetar”.<br />

e) à audição, que lhe faculta “distinguir o guincho<br />

do paturi do coincho do ariri, e até dissociar as<br />

corridas das preás dos pulos das cotias, todas<br />

brincando nas folhas secas”.


PV2D-07-54<br />

517. ITA-SP<br />

O conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães<br />

Rosa, faz parte do livro Sagarana, de 1946.<br />

Nesse texto, o personagem central vive aquilo que<br />

aparentemente é um processo de conversão cristã,<br />

que se inicia quando ele:<br />

a) é socorrido por um casal pobre, após ele ter sido vítima<br />

de uma emboscada, na qual quase morreu.<br />

b) conversa com um padre, que lhe diz que o que<br />

aconteceu com ele foi um sinal de Deus para que<br />

ele desse outra direção a sua vida.<br />

c) vive cerca de sete anos no povoado do Tombador,<br />

levando uma vida de trabalho e de oração.<br />

d) resiste ao convite de Joãozinho Bem-Bem para<br />

entrar no bando de cangaceiros, tentação essa a<br />

que não foi fácil resistir.<br />

e) enfrenta, sozinho, o bando de Joãozinho Bem-<br />

Bem, que estava prestes a cometer uma atrocidade<br />

contra uma família de inocentes.<br />

518. Fazu-MG<br />

Na ficção regionalista de Guimarães Rosa:<br />

a) os elementos regionais são condutores de um sentido<br />

profundo dos problemas existenciais do homem.<br />

b) o virtuosismo da linguagem denota a preocupação<br />

de transcrever literalmente a fala sertaneja.<br />

c) o gênero épico é enfatizado pela narrativa sem<br />

interferências líricas.<br />

d) o folclore brasileiro é ressaltado em detrimento do<br />

caráter universal da obra.<br />

e) os conflitos e tensões das personagens individuais<br />

inexistem, uma vez que só interessa a complexidade<br />

da personagem maior, o Sertão.<br />

519. UEL-PR<br />

Em relação ao modo como Guimarães Rosa retrata o<br />

sertão mineiro, é correto afirmar que o autor<br />

a) se apóia em tipos humanos e paisagens reais,<br />

valendo-se, no entanto, de uma linguagem absolutamente<br />

inventiva e pessoal.<br />

b) se vale sobretudo dos diálogos, em que busca registrar<br />

com exatidão o modo de falar do sertanejo.<br />

c) se socorre de lendas e mitos populares, o que dá à<br />

sua prosa o caráter de uma válida documentação<br />

folclórica.<br />

d) se vale da paisagem como cenário de histórias que, na<br />

verdade, poucas marcas trazem da cultura regional.<br />

e) se filia à tradição do regionalismo naturalista,<br />

buscando demonstrar teses de caráter científico<br />

e determinista.<br />

520. UFRGS-RS<br />

Grande sertão: veredas rompe com a narrativa conhecida<br />

como Romance de 1930 e estabelece um novo<br />

padrão para a narrativa longa brasileira. Entretanto, a<br />

obra de Guimarães Rosa não rompe com<br />

a) a ambientação preferencialmente rural.<br />

b) o foco narrativo na terceira pessoa.<br />

c) a crítica ao latifúndio.<br />

d) a denúncia social.<br />

e) a linguagem enxuta e discreta.<br />

521. UFPR<br />

A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:<br />

a) continua o regionalismo dos fins do século passado,<br />

sem grandes inovações.<br />

b) exprime problemas humanos, em estilo próprio,<br />

baseado na contribuição lingüística regional.<br />

c) descreve tipos de várias regiões do Brasil, na<br />

tentativa de documentar a realidade brasileira.<br />

d) fixa os tipos regionais, com precisão científica.<br />

e) idealiza o tipo sertanejo, continuando a tradição<br />

de Alencar.<br />

522. FMU-SP<br />

O núcleo temático de Grande sertão: veredas, de<br />

Guimarães Rosa, é:<br />

a) as guerras dos jagunços.<br />

b) a ânsia do Absoluto que coloca o narrador na encruzilhada<br />

entre Deus e o Diabo, o bem e o mal,<br />

o ser e o não-ser.<br />

c) uma longa viagem através dos sertões, para cumprir<br />

um voto de vingança.<br />

d) as desavenças entre famílias rivais.<br />

e) o real-fantástico em parâmetros indefinidos, tendo<br />

como pano de fundo o rio São Francisco e o Sertão.<br />

523. PUCCamp-SP<br />

Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento<br />

da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.<br />

Viver é muito perigoso.<br />

Pelo fragmento de Grande sertão: veredas, de João<br />

Guimarães Rosa, percebe-se que neste romance,<br />

como em outros textos regionalistas do autor:<br />

a) o conflito entre o “eu” e o mundo se realiza pela<br />

interação entre as personagens e o sertão, que<br />

acaba por ser mítico e metafísico.<br />

b) o sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes<br />

sofrem as agressões do meio hostil e adverso à<br />

sobrevivência humana.<br />

c) não existe uma região a que geograficamente se<br />

possa chamar “sertão”: ela é fruto da projeção do<br />

inconsciente das personagens.<br />

d) a periculosidade da vida das personagens está circunscrita<br />

ao meio físico e social em que vivem.<br />

e) há um conceito muito restrito de sertão, reduzido<br />

a palco de lutas entre bandos de jagunços.<br />

524. Fuvest-SP<br />

Diadorim me chamou, fomos caminhando, no meio da<br />

queleléia do povo. Mesmo eu vi o Hermógenes: ele se<br />

amargou engulindo de boca fechada. – ‘Diadorim’ – eu<br />

disse – ‘esse Hermógenes está em verde, nas portas<br />

da inveja...’ Mas Diadorim por certo não me ouviu bem,<br />

pelo que começou dizendo: – ‘Deus é servido...’<br />

No texto exposto, há elementos que permitem identificar<br />

o romance do qual foi extraído. O romance é:<br />

a) Os sertões.<br />

b) Grande sertão: veredas.<br />

c) O coronel e o lobisomem.<br />

d) O quinze.<br />

e) Vidas secas.<br />

285


525. UFRGS-RS<br />

Leia os trechos abaixo, extraídos do romance Grande<br />

sertão: veredas, de João Guimarães Rosa.<br />

1. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida<br />

da gente se guarda em trechos diversos, cada um<br />

com seu signo e sentimento, uns com os outros<br />

acho que nem não misturam.<br />

2. Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de<br />

briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira<br />

em árvore, no quintal, no baixo do córrego. [...]<br />

Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro; um<br />

bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se<br />

viu –; e com máscara de cachorro.<br />

3. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que<br />

não seja: [...] Lugar sertão se divulga: é onde<br />

os pastos carecem de fechos; onde um pode<br />

torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de<br />

morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus,<br />

arredado do arrocho de autoridade.<br />

4. Eu queria decifrar as coisas que são importantes.<br />

E estou contando não é uma vida de sertanejo,<br />

seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria<br />

entender do medo e da coragem, e da gã que<br />

empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo<br />

ao suceder.<br />

5. [...] sempre que se começa a ter amor a alguém,<br />

no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de<br />

certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na<br />

idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino<br />

dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço<br />

fatal, carecendo de quer, e é um só facear com<br />

as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota<br />

é depois.<br />

Associe adequadamente as seis afirmações abaixo<br />

com os cinco fragmentos transcritos acima.<br />

( ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim,<br />

Riobaldo procura entender a diferença desse amor<br />

imposto pelo destino.<br />

( ) O narrador busca definições exemplares do sertão,<br />

espaço que não se pode dimensionar.<br />

( ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão<br />

sinais da existência de um interlocutor presente.<br />

( ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua<br />

região, narrando o seu desejo de compreender<br />

os sentimentos e as forças que movem a vida<br />

humana.<br />

( ) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos<br />

episódios vividos pelos seres humanos.<br />

( ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do<br />

pacto, pode assumir várias formas, como a de<br />

animais.<br />

A seqüência correta de preenchimento dos parênteses,<br />

de cima para baixo, é<br />

a) 3 – 2 – 5 – 4 – 1 – 3<br />

b) 5 – 3 – 2 – 4 – 1 – 2<br />

c) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 4<br />

d) 5 – 3 – 4 – 2 – 2 – 1<br />

e) 4 – 1 – 3 – 1 – 5 – 2<br />

Texto para as questões 526 e 527.<br />

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os<br />

crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o<br />

homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não<br />

tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor<br />

286<br />

aprova? Me declare tudo, franco – é alta mercê que me<br />

faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio<br />

que me vejam – é de minha certa importância. Tomara<br />

não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e<br />

instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe<br />

agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já<br />

sabia, esperava por ela – já o campo! Ah, a gente,<br />

na velhice, carece de ter uma aragem de descanso.<br />

Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito.<br />

Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo,<br />

este vosso servidor. Fosse lhe contar... Bem, o diabo<br />

regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres,<br />

nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não é<br />

o ditado: “menino – trem do diabo”? E nos usos, nas<br />

plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes...<br />

O diabo na rua, no meio do redemunho...<br />

Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.<br />

526. Unifesp<br />

A fala expressa no texto é de Riobaldo. De acordo com<br />

o narrador, o diabo:<br />

a) vive preferencialmente nas crianças, livre e fazendo<br />

as suas traquinagens.<br />

b) é capaz de entrar no corpo humano e tomar posse<br />

dele, vivendo aí e perturbando a vida do homem.<br />

c) só existe na mente das pessoas que nele acreditam,<br />

perturbando-as mesmo sem existir concretamente.<br />

d) não existe como entidade autônoma, antes reflete<br />

os piores estados emocionais do ser humano.<br />

e) é uma condição humana e não está relacionado<br />

com as coisas da natureza.<br />

527. Unifesp<br />

O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma peculiar<br />

de escrita, denunciada pelos recursos lingüísticos<br />

empregados pelo escritor. Dentre as características<br />

do texto, está:<br />

a) o emprego da linguagem culta, na voz do narrador,<br />

e o da linguagem regional, na voz da personagem.<br />

b) a recriação da fala regional no vocabulário, na<br />

sintaxe e na melodia da frase.<br />

c) o emprego da linguagem regional predominantemente<br />

no campo do vocabulário.<br />

d) a apresentação da língua do sertão fiel à fala do<br />

sertanejo.<br />

e) o uso da linguagem culta, sem regionalismos, mas<br />

com novas construções sintáticas e rítmicas.<br />

Texto para as questões de 528 a 530.<br />

Essas coisas todas se passaram tempos depois.<br />

Talhei de avanço, em minha história. O senhor tolere<br />

minhas más devassas no contar. É ignorância. Eu<br />

não converso com ninguém de fora, quase. Não sei<br />

contar direito. Aprendi um pouco foi com o compadre<br />

meu Quelemém; mas ele quer saber tudo diverso:<br />

quer não é o caso inteirado em si, mas a sobre-coisa,<br />

a outra coisa. Agora, neste dia nosso, com o senhor<br />

mesmo – me escutando com devoção assim – é que<br />

aos poucos vou indo aprendendo a contar corrigido.<br />

E para o dito volto.


PV2D-07-54<br />

528. Vunesp<br />

O romance, do qual o trecho acima foi extraído, veio a<br />

público em 1956 e é uma das mais importantes obras<br />

da literatura brasileira. Nele, um velho fazendeiro,<br />

recolhido a uma vida de paz e descanso, conta a um<br />

interlocutor, forasteiro e homem da cidade, os episódios<br />

de seu movimento passado de jagunço. Levando<br />

em conta o trecho transcrito, as ponderações feitas e o<br />

conhecimento da obra, responda à questão a seguir.<br />

Qual é o assunto de que trata o trecho acima?<br />

529. Vunesp<br />

Qual é o nome do narrador personagem do romance?<br />

Quais os nomes de uma personagem ambígua da obra,<br />

que inicialmente se apresenta como homem e ao final<br />

se revela mulher?<br />

530. Vunesp<br />

Qual é o título do romance? Qual é o nome de seu autor?<br />

531. UFG-GO<br />

Diversos motivos narrativos compõem a trama de<br />

Campo geral, texto da obra Manuelzão e Miguilim, de<br />

Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo principal para<br />

a composição do enredo desse conto?<br />

a) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim.<br />

b) A instabilidade sentimental da mãe de Miguilim.<br />

c) A observação do mundo pela ótica de Miguilim.<br />

d) A rivalidade entre Tio Terez e o pai de Miguilim.<br />

e) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim<br />

532. ITA-SP<br />

O romance A hora da estrela, de Clarice Lispector,<br />

publicado em 1977, pouco antes da morte da autora,<br />

é um dos livros mais famosos da ficção brasileira<br />

contemporânea. Podemos fazer algumas relações<br />

entre esta obra e alguns livros importantes de nossa<br />

tradição literária. Por exemplo:<br />

I. Pode-se dizer que o livro de Clarice começa no<br />

ponto em que Vidas secas termina, pois Graciliano<br />

Ramos mostra as personagens indo para uma<br />

cidade grande, e a autora localiza a personagem<br />

central do livro vivendo numa metrópole.<br />

II. Assim como em Memórias póstumas de Brás<br />

Cubas, o narrador de Clarice narra os fatos e<br />

comenta acerca da forma como está narrando.<br />

III. É possível pensar que Macabéa mantém alguns<br />

traços da heroína romântica, não quanto à beleza<br />

física, mas à inteligência e ao caráter, o que a aproxima<br />

de algumas personagens de José de Alencar.<br />

Está(ão) correta(s):<br />

a) apenas I. d) apenas II e III.<br />

b) apenas II. e) todas.<br />

c) apenas I e II.<br />

533. Fuvest-SP<br />

Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a<br />

novela Campo geral (Miguilim), de Guimarães Rosa:<br />

I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva<br />

para o aprendizado de Miguilim, seja nas experiências<br />

imediatas do cotidiano, seja na investigação do<br />

valor e do sentido profundo dessas experiências.<br />

II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos<br />

mostra que a vida rústica do sertanejo é pobre<br />

como experiência – o que pode ser compensado<br />

pela imaginação poética de quem sabe desligar-se<br />

daquela vida.<br />

III. No momento final da narrativa, é em sentido literal<br />

e simbólico que um novo mundo se revela para<br />

Miguilim – mundo que também se abre para uma<br />

vida de novas experiências.<br />

A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:<br />

a) as afirmações I e III são corretas.<br />

b) as afirmações I e II são corretas.<br />

c) as afirmações II e III são corretas.<br />

d) a afirmação II é correta.<br />

e) a afirmação III é correta.<br />

534. ITA-SP<br />

O poema abaixo consta do livro Paisagem com figuras,<br />

de João Cabral de Melo Neto, publicado em 1955.<br />

Cemitério Pernambucano<br />

Nesta terra ninguém jaz,<br />

pois também não jaz um rio<br />

noutro rio, nem o mar<br />

é cemitério de rios.<br />

Nenhum dos mortos daqui<br />

vem vestido de caixão.<br />

Portanto, eles não se enterram,<br />

são derramados no chão.<br />

Vêm em redes de varandas<br />

abertas ao sol e à chuva.<br />

Trazem suas próprias moscas.<br />

O chão lhes vai como luva.<br />

Mortos ao ar-livre, que eram,<br />

hoje à terra-livre estão.<br />

São tão da terra que a terra<br />

nem sente sua intrusão.<br />

Este texto mostra com clareza duas das marcas mais<br />

recorrentes da obra de João Cabral, que são:<br />

a) a presença do realismo de cunho social, que se<br />

nota nas referências ao mundo nordestino, aliada<br />

à racionalidade típica de boa parte da poesia<br />

moderna.<br />

b) a presença do realismo de cunho social, mas<br />

associado a uma visão do mundo ainda herdeira<br />

do Romantismo, o que se nota pela presença das<br />

imagens naturais.<br />

c) a preocupação em descrever a paisagem nordestina<br />

e a intenção de reproduzir a fala popular.<br />

d) o caráter mais racional e sóbrio da poesia, que<br />

evita o derramamento emocional, aliado a certa<br />

herança realista no que diz respeito à valorização<br />

da cultura brasileira.<br />

e) O rigor construtivo do poema, que deixa de lado<br />

a emoção e as convenções românticas, o que faz<br />

desse texto um bom exemplo de poesia metalingüística.<br />

287


535.<br />

Em Primeiras estórias, de Guimarães Rosa:<br />

a) é patente o fascínio pelo ilógico.<br />

b) há um apelo ao lúdico e ao mágico.<br />

c) à oralidade sertaneja juntam-se termos eruditos,<br />

arcaicos etc.<br />

d) o foco é o sertão do norte de Minas Gerais, mas<br />

há também contos urbanos.<br />

e) todas as alternativas anteriores são verdadeiras.<br />

Texto para as questões 536 e 537.<br />

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu<br />

tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo<br />

ausência: e o rio-rio-rio – o rio – pondo perpétuo [grifo<br />

nosso]. Eu sofria já o começo da velhice – esta vida era<br />

só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias,<br />

cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E<br />

ele? Por quê? Devia de padecer demais.<br />

De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar o<br />

vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse<br />

sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas<br />

abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava,<br />

com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava<br />

lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que<br />

nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse – se<br />

as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.<br />

ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias.<br />

Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.<br />

536. UFRN<br />

Pode-se afirmar que, na expressão em destaque no<br />

fragmento textual, a manifestação da função poética<br />

da linguagem evidencia o dinamismo do tempo.<br />

Esse dinamismo é representado por:<br />

a) ritmo cadente e neologismo.<br />

b) assonância e reiteração de vocábulo.<br />

c) onomatopéia e uso de metáfora.<br />

d) efeitos de eco e uso de metonímia.<br />

537. UFRN<br />

No quadro do Modernismo literário no Brasil, a obra<br />

de Guimarães Rosa destaca-se pela inventividade da<br />

criação estética. Considerando-se o fragmento em<br />

análise, essa inventividade da narrativa roseana pode<br />

ser constatada meio do(a):<br />

a) recriação do mundo sertanejo pela linguagem, a<br />

partir da apropriação de recursos da oralidade.<br />

b) aproveitamento de elementos pitorescos da cultura<br />

regional que tematizam a visão de mundo simplista<br />

do homem sertanejo.<br />

c) resgate de histórias que procedem do universo<br />

popular, contadas de modo original, opondo realidade<br />

e fantasia.<br />

d) sondagem da natureza universal da existência<br />

humana, através de referência a aspectos da<br />

religiosidade popular.<br />

288<br />

538. PUC-SP<br />

E o tucano, o vôo, reto, lento como se voou embora,<br />

xô, xô! mirável, cores pairantes, no garridir ; fez sonho.<br />

Mas a gente nem podendo esfriar de ver. Já para o<br />

outro imenso lado apontavam. De lá, o sol queria sair,<br />

na região da estrela-d’alva. A beira do campo, escura,<br />

como um muro baixo, quebrava-se, num ponto,<br />

dourado rombo, de bordas estilhaçadas. Por ali, se<br />

balançou para cima, suave, aos ligeiros vagarinhos,<br />

o meiosol, o disco, o liso, o sol, a luz por tudo. Agora,<br />

era a bola de ouro a se equilibrar no azul de um fio. O<br />

Tio olhava no relógio. Tanto tempo que isso, o Menino<br />

nem exclamava. Apanhava com o olhar cada sílaba<br />

do horizonte.<br />

Sobre o trecho acima, do conto Os cimos, de Guimarães<br />

Rosa, é incorreto afirmar que:<br />

a) é texto descritivo caracterizador da natureza, representada<br />

pela presença da ave e do amanhecer.<br />

b) utiliza recursos de linguagem poética como a<br />

onomatopéia, a metáfora e a enumeração.<br />

c) descreve o tucano, utilizando frase nominal e de<br />

encadeamento de palavras com força adjetiva.<br />

d) apresenta um estilo repetitivo que confunde o<br />

leitor e impede a manifestação da força poética<br />

do texto.<br />

e) pinta com luz e cor a linha do horizonte, onde em<br />

dourado rombo, de bordas estilhaçadas, nasce o<br />

sol.<br />

539. UFMG<br />

Leia estes trechos:<br />

Dizem-se, estórias. Assim mesmo, no tredo estado<br />

em que tacteia, privo, mal-existente, o que é, cabidamente,<br />

é o filho tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática<br />

verdade.<br />

GUIMARÃES ROSA, João. A benfazeja. Primeiras estórias, 45. ed.<br />

O pecurrucho tinha cabeça chata e Macunaíma inda<br />

a achatava mais batendo nela todos os dias e falando<br />

pro guri:<br />

– Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo<br />

ganhar muito dinheiro.<br />

ANDRADE, Mário de. Macunaíma, 31. ed.<br />

Com base nessa leitura, é incorreto afirmar que os<br />

dois trechos:<br />

a) assinalam a semelhança indiscutível entre pai e<br />

filho.<br />

b) reescrevem, à sua maneira, ditados e expressões<br />

populares.<br />

c) referem-se a situações que envolvem pai e filho.<br />

d) utilizam a linguagem coloquial do povo brasileiro.<br />

540. UFES<br />

Urbanização e aspectos culturais<br />

A cidade sempre foi um signo que as artes – e a literatura<br />

em particular, desde o período barroco até os dias<br />

atuais – souberam interpretar. Desse modo, considere<br />

os textos a seguir citados e também os contextos<br />

históricos e literários aos quais eles pertencem, para<br />

responder à questão.


PV2D-07-54<br />

Texto XII, de Adolfo Caminha – Bom-Crioulo, 1895:<br />

Tudo avultava desmesuradamente em sua imaginação<br />

de marinheiro de primeira viagem. Bom-<br />

Crioulo tinha prometido levá-Io aos teatros, ao<br />

Corcovado, à Tijuca, ao Passeio Público, a toda<br />

parte. Haviam de morar juntos, num quarto da<br />

rua da Misericórdia, num comodozinho de quinze<br />

mil-réis onde coubessem duas camas de ferro, ou<br />

mesmo uma só, larga, espaçosa[...]<br />

Texto XIII, de Machado de Assis – “Pai contra mãe”<br />

(Relíquias da casa velha, 1906):<br />

Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro<br />

a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas<br />

públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa,<br />

o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava<br />

e a quantia de gratificação. [...] Protestava-se com<br />

todo o rigor da lei contra quem o acoutasse.<br />

Texto XIV, de Augusto dos Anjos – “As cismas do<br />

destino” (Eu, 1912):<br />

A noite fecundava o ovo dos vícios / Animais. Do<br />

carvão da treva imensa / Caía um ar danado de<br />

doença / Sobre a cara geral dos edifícios! / / / Tal<br />

uma horda feroz de cães famintos, / Atravessando<br />

uma estação deserta, / Uivava dentro do eu, com a<br />

boca aberta, / A matilha espantada dos instintos!<br />

Texto XV, de Guimarães Rosa – “Campo geral”<br />

(Corpo de baile, 1956):<br />

O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim,<br />

lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava<br />

para a escola, depois aprendia ofício. – “Você<br />

mesmo quer ir?”<br />

Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar.<br />

Sua alma, até ao fundo, se esfriava.<br />

Texto XVI, de Luis Fernando Verissimo – “Outra do<br />

analista de Bagé” (O analista de Bagé, 1981):<br />

Diz que quando recebe um paciente novo no seu<br />

consultório a primeira coisa que o analista de Bagé<br />

faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem,<br />

claro, pois em mulher, segundo ele, “só se bate<br />

pra descarregá energia”. Depois do joelhaço, o<br />

paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã<br />

coberto com um pelego.<br />

De acordo com o Texto XV, pode-se inferir que Miguilim<br />

necessita de óculos para corrigir uma deficiência visual<br />

(ametropia). Entre as ametropias estão a miopia e a<br />

hipermetropia. Sobre essas ametropias, julgue como verdadeiro<br />

(V) ou como falso (F) o que se afirma abaixo.<br />

I. A miopia é um defeito da visão que não permite<br />

visão nítida de um objeto distante, pois, estando os<br />

músculos ciliares relaxados, o foco imagem do olho<br />

está antes da retina, portanto, formando a imagem<br />

de um objeto distante antes da retina. ( )<br />

II. A lente corretora da miopia deve ser divergente e<br />

um míope não precisa usar lentes para perto. ( )<br />

III. A lente corretora da hipermetropia deve ser convergente.<br />

( )<br />

A seqüência correta, de cima para baixo, é:<br />

a) F, F, F d) V, V, F<br />

b) F, F, V e) V, V, V<br />

c) F, V, V<br />

541. Fuvest-SP<br />

O romance é narrado na primeira pessoa, em ininterrupto<br />

monólogo, por Riobaldo, velho fazendeiro do<br />

norte de Minas, antigo jagunço, que conta a sua vida<br />

e a sua angústia.<br />

A. Candido e J. A. Castello<br />

O autor do romance a que se refere o texto acima é<br />

também o de:<br />

a) Chapadão do bugre.<br />

b) O garimpeiro.<br />

c) Vila dos confins.<br />

d) Sagarana.<br />

e) O coronel e o lobisomem.<br />

542. PUC-SP<br />

Assinale, nas alternativas abaixo, todas extraídas do<br />

conto “São Marcos”, o trecho que indica a presença<br />

de uma gradação.<br />

a) “E as flores rubras, vermelhíssimas, ofuscantes,<br />

queimando os olhos, escaldantes de vermelhas,<br />

cor de guelras de traíra, de sangue de ave, de boca<br />

e bâton.”<br />

b) “E, nas ilhas, penínsulas, istmos e cabos, multicrescem<br />

taboqueiras, tabuas, taquaris, taquaras,<br />

taquariúbas, taquaratingas e taquarassus.”<br />

c) “E, pois, foi aí que a coisa se deu, e foi de repente,<br />

[...] um ponto, um grão, um besouro, um<br />

anu, um urubu, um golpe de noite... E escureceu<br />

tudo.”<br />

d) “Vou. Pé por pé, pé por si... Peporpé, peporsi...<br />

Pepp or pepp, epp or see …Pêpe orpepe, heppe<br />

Orcy…”<br />

e) “Debaixo do angelim verde, de vagens verdes,<br />

um boi branco, de cauda branca. E, ao longe,<br />

nas prateleiras dos morros cavalgavam-se três<br />

qualidades de azul.”<br />

543. PUC-SP<br />

A respeito do conto “São Marcos”, de João Guimarães<br />

Rosa, é incorreto afirmar que:<br />

a) é um conto de linguagem marcadamente sinestésica,<br />

isto é, que ativa os órgãos sensoriais como<br />

meios de conhecimento da realidade, em suas<br />

diferentes situações narrativas.<br />

b) refere as ações domingueiras do personagem<br />

narrador Izé, que se embrenha no mato, carregando<br />

uma espingarda a tiracolo com o firme<br />

propósito de caçar irerês, narcejas, jaburus e<br />

frangos-d’água.<br />

c) desenvolve um tenebroso caso de ação sobrenatural,<br />

por obra de um feiticeiro, que produz cegueira<br />

temporária no protagonista e da qual ele se safa<br />

por meio de uma reza brava, sesga, milagrosa e<br />

proibida.<br />

d) vem introduzido por uma epígrafe, extraída da<br />

cultura popular, das cantigas do sertão e que condensa<br />

e dá, sugestivamente, o tom da narrativa.<br />

e) caracteriza o espaço dos bambus, lugar onde se<br />

encontram gravados os nomes dos reis leoninos<br />

e onde se trava floral desafio entre o narrador e<br />

Quem será.<br />

289


544. UEL-PR<br />

O trabalho com a linguagem por meio da recriação<br />

de palavras e a descrição minuciosa da natureza, em<br />

especial da fauna e da flora, são uma constante na<br />

obra de João Guimarães Rosa. Esses elementos são<br />

recursos estéticos importantes que contribuem para<br />

integrar as personagens aos ambientes onde vivem,<br />

estabelecendo relações entre natureza e cultura. Em<br />

“Sarapalha”, conto inserido no livro Sagarana, de<br />

1946, referências do mundo natural são usadas para<br />

representar o estado febril de Primo Argemiro.<br />

Com base nessa afirmação, assinale a alternativa em<br />

que a descrição da natureza mostra o efeito da maleita<br />

sobre a personagem Argemiro.<br />

a) É aqui, perto do vau da Sarapalha: tem uma<br />

fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca<br />

de pedra seca, do tempo de escravos; um rego<br />

murcho, um moinho parado; um cedro alto, na<br />

frente da casa; e, lá dentro uma negra, já velha,<br />

que capina e cozinha o feijão.<br />

b) Olha o rio, vendo a cerração se desmanchar. Do<br />

colmado dos juncos, se estira o vôo de uma garça,<br />

em direção à mata. Também, não pode olhar muito:<br />

ficam-lhe muitas garças pulando, diante dos olhos,<br />

que doem e choram, por si sós, longo tempo.<br />

c) É de-tardinha, quando as mutucas convidam as muriçocas<br />

de volta para casa, e quando o carapana mais o<br />

mossorongo cinzento se recolhem, que ele aparece, o<br />

pernilongo pampa, de pés de prata e asas de xadrez.<br />

d) Estava olhando assim esquecido, para os olhos...<br />

olhos grandes escuros e meio de-quina, como os<br />

de uma suaçuapara... para a boquinha vermelha,<br />

como flor de suinã....<br />

e) O cachorro está desatinado. Pára. Vai, volta, olha,<br />

desolha... Não entende. Mas sabe que está acontecendo<br />

alguma coisa. Latindo, choramingando,<br />

chorando, quase uivando.<br />

Texto para as questões 545 e 546.<br />

No conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães<br />

Rosa, o protagonista é um homem rude e cruel,<br />

que sofre violenta surra de capangas inimigos e é<br />

abandonado como morto, num brejo.<br />

Recolhido por um casal de matutos, Matraga passa<br />

por um lento e doloroso processo de recuperação, em<br />

meio ao qual recebe a visita de um padre, com quem<br />

estabelece o seguinte diálogo:<br />

– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade<br />

que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?<br />

– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não<br />

tira o estribo do pé de arrependido nenhum... (...) Sua<br />

vida foi entortada no verde, mas não fique triste, de modo<br />

nenhum, porque a tristeza é aboio de chamar demônio,<br />

e o Reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira de sua<br />

algibeira, desde que você esteja com a graça de Deus,<br />

que ele não regateia a nenhum coração contrito.<br />

545. Fuvest-SP<br />

A linguagem figurada amplamente empregada pelo padre<br />

é adequada ao seu interlocutor? Justifique sua resposta.<br />

546. Fuvest-SP<br />

Transcreva uma frase do texto que tenha sentido<br />

equivalente ao da frase não regateia a nenhum coração<br />

contrito.<br />

290<br />

547.<br />

A partir da leitura do texto, responda:<br />

– Severino retirante,<br />

deixe agora que lhe diga:<br />

eu não sei bem a resposta<br />

da pergunta que fazia,<br />

se não vale mais saltar<br />

fora da ponte e da vida<br />

nem conheço essa resposta,<br />

se quer mesmo que lhe diga<br />

é difícil defender,<br />

só com palavras, a vida,<br />

ainda mais quando ela é<br />

esta que vê, severina<br />

mas se responder não pude<br />

à pergunta que fazia,<br />

ela, a vida, a respondeu<br />

com sua presença viva.<br />

E não há melhor resposta<br />

que o espetáculo da vida:<br />

vê-la desfiar seu fio,<br />

que também se chama vida,<br />

ver a fábrica que ela mesma,<br />

teimosamente, se fabrica,<br />

vê-la brotar como há pouco<br />

em nova vida explodida<br />

mesmo quando é assim pequena<br />

a explosão, como a ocorrida;<br />

mesmo quando é uma explosão<br />

como a de há pouco, franzina;<br />

mesmo quando é a explosão<br />

de uma vida severina.<br />

Morte e vida severina – João Cabral de Melo Neto<br />

De acordo com o texto, pode-se deduzir:<br />

a) Não há respostas para a vida severina.<br />

b) A resposta da vida severina é uma fábrica franzina.<br />

c) A resposta para a vida é o espetáculo da vida,<br />

mesmo severina.<br />

d) A vida desfia seu fio que em nada tem de vida<br />

severina.<br />

e) A vida só se defende com palavras em todas as<br />

circunstâncias.<br />

548.<br />

Considere as seguintes afirmações:<br />

I. Essa estória desenvolve simultaneamente um<br />

estudo sobre a psicologia juvenil urbana e um<br />

comentário metalingüístico sobre o processo da<br />

criação artística, especialmente aquela de caráter<br />

mágico, gerada pelo improviso.<br />

II. Estória de um ser que parece ter vindo ao mundo<br />

para purificá-lo e que é escarnecido por uma comunidade<br />

incapaz de compreender o alcance de seus<br />

atos, de sua condição de pessoa iluminada.<br />

III. Partindo de uma sugestão anedótica, calcada no<br />

cotidiano urbano, Guimarães Rosa mais uma vez<br />

tematiza a loucura, focalizando-a agora sob um<br />

viés tragicômico.<br />

I, II e III referem-se, respectivamente, aos seguintes<br />

contos de Primeiras estórias de João Guimarães<br />

Rosa:


PV2D-07-54<br />

a) “Darandina”, “O espelho” e “Famigerado”;<br />

b) “Pirlimpsiquice”, “A benfazeja” e “Darandina”;<br />

c) “A benfazeja”, “Darandina” e “A terceira margem<br />

do rio”;<br />

d) “A menina de lá”, “Partida do audaz navegante” e<br />

“Darandina”;<br />

e) “Darandina”, “Nada e a nossa condição”, “Sorôco,<br />

sua mãe, sua filha”.<br />

549. PUC-SP<br />

Segundo Antonio Candido, referindo-se à obra de<br />

Guimarães Rosa, ser jagunço, torna-se, além de uma<br />

condição normal no mundo-sertão, uma opção de comportamento,<br />

definindo um certo modo de ser naquele<br />

espaço. Daí a violência produzir resultados diferentes<br />

dos que esperamos na dimensão documentária e socio-lógica,<br />

– tornando-se, por exemplo, instrumento de<br />

redenção. Assim sendo, o ato de violência que em A hora<br />

e vez de Augusto Matraga justifica tal afirmação é:<br />

a) seguir a personagem uma trajetória de vida desregrada,<br />

junto às mulheres, ao jogo de truque e<br />

às caçadas.<br />

b) ser ferido e marcado a ferro, após ter sido abandonado<br />

pela mulher e por seus capangas.<br />

c) cumprir penitência por meio da reza, do trabalho<br />

e do auxílio aos outros para redenção de seus<br />

pecados.<br />

d) integrar o bando de Joãozinho-Bem-Bem e<br />

vingar-se dos inimigos, principalmente do Major<br />

Consilva.<br />

e) reencontrar-se, em suas andanças, com Joãozinho<br />

Bem-Bem, matá-lo e ser morto por ele.<br />

550. UEL-PR<br />

Leia os trechos retirados de “O burrinho pedrês”, de<br />

Guimarães Rosa, e considere as afirmativas feitas. A<br />

seguir, assinale a opção correta.<br />

Era um burrinho pedrês, miúdo e resignado,<br />

vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não<br />

sei onde no sertão. Chamava-se Sete-de-Ouros, e já<br />

fora tão bom, como outro não existiu e nem pode haver<br />

igual. (...) Mas nada disso vale fala, porque a estória<br />

de um burrinho, como a história de um homem grande,<br />

é bem dada no resumo de um só dia de sua vida. (...)<br />

Mas, nem bem Sinoca terminava, e já, morro abaixo,<br />

chão a dentro, trambulhavam, emendados, três trons<br />

de trovões. (...)<br />

– É para vigiar o Silvino, todo o tempo, que ele<br />

quer mesmo matar o Badu e tomar rumo. Agora,<br />

eu sei, tenho a certeza. Não perde os dois de olho,<br />

Francolim Ferreira<br />

(...) Badu agora dormia de verdade, sempre<br />

agarrado à crina. Mas Sete-de-Ouros não descansou.<br />

Retomou a estrada, e, já noite alta, quando chegaram à<br />

Fazenda, ele se encostou, bem na escada da varanda,<br />

esperando que o vaqueiro se resolvesse a descer. Ao<br />

fim de um tempo, o cavaleiro acordou. (...)<br />

I. A aliteração em “dentro”, “trambulhavam”, “três<br />

trons de trovões” alude ao barulho da trovoada, que<br />

prenuncia a tempestade e o perigo iminente.<br />

II. Na fábula, são introduzidas algumas digressões<br />

que vão sendo narradas por vaqueiros ao longo<br />

de sua jornada. Essas digressões são causos que<br />

pontuam a narrativa, criando uma atmosfera de<br />

suspense para o desfecho da história do burrinho<br />

pedrês e de Silvino e Badu.<br />

III. O narrador da fábula faz uso de discurso direto<br />

e indireto, articulando-os de forma que o tempo<br />

da narrativa seja percebido tanto num passado<br />

(acontecido) como num presente (acontecendo).<br />

a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.<br />

b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.<br />

c) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.<br />

d) Todas as afirmativas estão corretas.<br />

e) Todas as afirmativas estão incorretas.<br />

551. UERJ<br />

− Uai, eu?<br />

Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto;<br />

que vale enterrar minhocas? De como aqui me vi, sutil<br />

assim, por tantas cargas d’água. No engano sem desengano:<br />

o de aprender prático o desfeitio da vida.<br />

Sorte? A gente vai – nos passos da história que<br />

vem. Quem quer viver faz mágica. Ainda mais eu, que<br />

sempre fui arrimo de pai bêbedo. Só que isso se deu, o<br />

que quando, deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que<br />

saudades que eu não tenha... Ah, meus bons maus-tempos!<br />

Eu trabalhava para um senhor Doutor Mimoso.<br />

Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama<br />

– olh’alegre, justo, inteligentudo – de calibre de quilate<br />

de caráter. Bom até-onde-que, bom como cobertor,<br />

lençol e colcha, bom mesmo quando com dor-decabeça:<br />

bom, feito mingau adoçado. Versando chefe<br />

os solertes preceitos. Ordem, por fora; paciência por<br />

dentro. Muito mediante fortes cálculos, imaginado de<br />

ladino, só se diga. A fim de comigo ligeiro poder ir ver<br />

seus chamados de seus doentes, tinha fechado um<br />

piquete no quintal: lá pernoitavam, de diário, à mão,<br />

dois animais de sela – prontos para qualquer aurora.<br />

Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás,<br />

com a maleta dos remédios e petrechos, renquetrenque,<br />

estudante andante. Pois ele comigo proseava, me<br />

alentando, cabidamente, por norteação – a conversa<br />

manuscrita. Aquela conversa me dava muitos arredores.<br />

Ô homem! Inteligente como agulha e linha, feito<br />

pulga no escuro, como dinheiro não gastado. Atilado<br />

todo em sagacidades e finuras – é de fimplus! de<br />

tintínibus... – latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso,<br />

para ele, era fritada de meio ovo. O que porém bem.<br />

ROSA, João Guimarães. Tutaméia: terceiras estórias.<br />

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.<br />

A obra de Guimarães Rosa, citado como grande renovador<br />

da expressão literária, é também reconhecida pela<br />

contribuição lingüística, devido à utilização de termos<br />

regionais, palavras novas, não-dicionarizadas, a que<br />

chamamos neologismos, especialmente para expressar<br />

situações ou opiniões de seus personagens.<br />

a) Retire do primeiro parágrafo um exemplo de neologismo<br />

e explique, em uma frase completa, o seu<br />

sentido no texto.<br />

b) Compare o adjetivo inteligentudo (par. 2) com<br />

barbudo, barrigudo, sortudo. Escreva duas formas<br />

da língua padrão − a primeira com duas palavras;<br />

a segunda com uma palavra − que equivalem semanticamente<br />

ao neologismo inteligentudo.<br />

291


552. Fuvest-SP<br />

Ao contista de Primeiras estórias, as manifestações<br />

da loucura interessam não como casos clínicos, e sim<br />

como campo propício à invasão do extraordinário, do<br />

mítico, do mágico – numa palavra, da poesia – que<br />

irrompem no meio das acomodações cotidianas, questionando<br />

o que é considerado normal.<br />

Adaptado de Paulo Rónai<br />

a) O questionamento de que se fala na afirmação<br />

acima ocorre no conto Darandina (em que se narra<br />

a história do homem que sobe em uma palmeira)?<br />

Explique sucintamente.<br />

b) E no conto Tarantão, meu patrão (no qual se conta<br />

a cavalgada do velho João-de-Barros-Diniz-Robertes,<br />

com seus acompanhantes, rumo à cidade), o<br />

referido questionamento ocorre?<br />

Justifique resumidamente sua resposta.<br />

553. Fuvest-SP<br />

As meninas Nhinhinha e Brejeirinha são, respectivamente,<br />

personagens principais de “A menina de lá” e<br />

de “Partida do audaz navegante”, contos de Primeiras<br />

estórias.<br />

a) Embora ambos os contos tenham como ambiente<br />

o meio rural, há, neles, elementos que permitam<br />

assinalar uma diferença de nível social entre<br />

essas personagens? Justifique sucintamente sua<br />

resposta.<br />

b) Qual dessas personagens se vincula primordialmente<br />

à própria literatura e qual se relaciona<br />

também, de modo explícito, à religião? Justifique<br />

brevemente sua resposta.<br />

554. Fuvest-SP (modificado)<br />

O fragmento abaixo pertence à novela Campo Geral<br />

(Miguilim), de João Guimarães Rosa.<br />

E o Dito mesmo gostava, pedia: ‘Conta mais, conta<br />

mais...’ Miguilim contava, sem carecer de esforço,<br />

estórias compridas, que ninguém nunca tinha sabido,<br />

não esbarrava de contar, estava tão alegre, nervoso,<br />

aquilo para ele era o entendimento maior.<br />

a) As qualidades atribuídas ao Miguilim contador<br />

de histórias aproximam-no ou distanciam-no do<br />

modo de narrar que celebrizou Guimarães Rosa?<br />

Justifique sua resposta.<br />

b) O desfecho da novela sugeriria que Miguilim<br />

encontrará limitações para desenvolver suas<br />

qualidades de contador de histórias? Justifique<br />

sua resposta.<br />

555.<br />

Todas as afirmações abaixo, a respeito de Morte e<br />

vida severina, de João Cabral de Melo Neto, são<br />

corretas, exceto:<br />

a) É o drama de um retirante nordestino que, premido<br />

pela seca, foge em busca da vida, e por onde<br />

passa só encontra a morte.<br />

b) Severino, retirante ou peregrino, em sua fuga<br />

em direção ao Recife, seguindo como guia o Rio<br />

Capibaribe, pensa em desistir da viagem, mas,<br />

impulsionado pelo espectro da morte, prossegue<br />

em direção a seu destino.<br />

292<br />

c) A morte, que ocupa e povoa a maior parte das cenas<br />

da obra, é apresentada de maneira uniforme,<br />

única.<br />

d) A última fala do mestre Carpina corresponde à<br />

resposta à última pergunta feita pelo retirante Severino<br />

e traduz a defesa do que lhe parece difícil,<br />

“a explosão de uma vida severina”.<br />

e) Ao ouvir a conversa dos coveiros, Severino descobre<br />

que seguia seu próprio enterro.<br />

556. PUC-RS<br />

A partir do livro de estréia, __________, uma das<br />

características do estilo de Clarice Lispector é a adjetivação<br />

__________.<br />

a) O lustre – pictórica<br />

b) A maçã no escuro – preciosa<br />

c) A cidade sitiada – coloquial<br />

d) Perto do coração selvagem – surpreendente<br />

e) A legião estrangeira – popular<br />

557. UFRGS-RS<br />

Considere as seguintes afirmações.<br />

I. Adélia Prado é escritora de tendências feministas,<br />

que não demonstra atenção aos temas cotidianos<br />

e religiosos.<br />

II. Lygia Fagundes Telles vem construindo uma obra<br />

ficcional em que predominam personagens do<br />

sexo feminino atribuladas por problemas existenciais.<br />

III. A obra de Clarice Lispector renova a ficção brasileira<br />

com uma dimensão reflexiva voltada tanto<br />

para o fazer literário quanto para os processos de<br />

consciência.<br />

Quais estão corretas?<br />

a) Apenas I.<br />

b) Apenas II.<br />

c) Apenas III.<br />

d) Apenas II e III.<br />

e) I, II e III.<br />

558. UFC-CE<br />

Clarice Lispector se dizia uma escritora “sentidora”. O<br />

termo se justifica porque Clarice:<br />

I. registrava impressões, idéias e sentimentos,<br />

guiando-se pelo fluxo da consciência.<br />

II. sondava a mente das personagens, privilegiando<br />

assim a seqüência das ações e suas causas.<br />

III. separava com rigor os mundos interno e externo<br />

das personagens, a imaginação e a realidade.<br />

A análise das afirmativas nos permite afirmar corretamente<br />

que:<br />

a) apenas I é verdadeira.<br />

b) apenas II é verdadeira.<br />

c) apenas III é verdadeira.<br />

d) I e II são verdadeiras.<br />

e) I e III são verdadeiras.


PV2D-07-54<br />

559. UEL-PR<br />

Eu estava agora tão maior que me via mais. Tão grande<br />

como uma paisagem ao longe. Eu era ao longe. (...)<br />

como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se<br />

me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo.<br />

O fragmento anterior revela a crise do ato de criação,<br />

a dificuldade de colocar em palavras as sensações<br />

mais profundas e silenciosas – o que é um dos traços<br />

característicos da prosa ficcional de:<br />

a) Clarice Lispector.<br />

b) Mário de Andrade.<br />

c) Érico Veríssimo.<br />

d) Euclides da Cunha.<br />

e) Marques Rebelo.<br />

560. UFMG<br />

Todas as alternativas apresentam características de<br />

Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, exceto:<br />

a) Ausência de fronteiras rígidas entre os gêneros,<br />

revelada na mistura de prosa e poesia.<br />

b) Linguagem caracterizada por oralidade e coloquialismo,<br />

segundo o Modernismo de 22.<br />

c) Narração introspectiva, marcada por uma subjetividade<br />

que se projeta sobre o mundo narrado.<br />

d) Relativização do tempo cronológico, com embaralhamento<br />

de passado e presente.<br />

561. UFSM<br />

Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não<br />

parecia compreender que estava só no mundo. Os<br />

olhos lacrimejavam sempre, as mãos repousavam<br />

sobre o vestido preto e opaco, velho documento de<br />

sua vida. No tecido já endurecido encontravam-se<br />

pequenas crostas de pão coladas pela baba que lhe<br />

ressurgia agora em lembrança do berço.<br />

Pelo fragmento citado, percebe-se que, na obra de<br />

Clarice Lispector:<br />

a) as personagens estão constantemente chorando<br />

a perda de um ente querido.<br />

b) o menor abandonado é objeto de paixão e solidariedade.<br />

c) o estilo naturalista é marcado pelas referências à<br />

decomposição da matéria.<br />

d) as personagens, envolvidas em seu próprio<br />

mundo, estranham ou ignoram o mundo circundante.<br />

e) as mulheres, em geral, aspiram a entrar no mercado<br />

de trabalho.<br />

562. UFC-CE<br />

Sobre Clarice Lispector e sua obra, pode-se afirmar<br />

corretamente que:<br />

a) Laços de família foi sua primeira obra publicada.<br />

b) Perto do coração selvagem é uma obra neo-realista.<br />

c) os temas ligados à existência desaparecem em<br />

Laços de família.<br />

d) seus escritos reúnem crônicas, romances e narrativas<br />

infanto-juvenis.<br />

e) a história literária situa a escritora na segunda fase<br />

do Modernismo brasileiro.<br />

563. Fuvest-SP<br />

A respeito de Clarice Lispector, nos contos de Laços<br />

de família, seria correto afirmar que:<br />

a) parte freqüentemente de acontecimentos surpreendentes<br />

para banalizá-los.<br />

b) elabora o cotidiano em busca de seu significado<br />

oculto.<br />

c) é altamente intimista, vasculhando o âmago das<br />

personagens com rara argúcia.<br />

d) é regionalista hermética.<br />

e) opera na área da memória, da auto-análise e do<br />

devaneio.<br />

564. UFES<br />

É correto afirmar que, nos contos de Laços de família,<br />

de Clarice Lispector:<br />

a) tal como em Gota d’água, de Chico Buarque &<br />

Paulo Pontes, aparecem personagens proletários<br />

e malandros do submundo carioca.<br />

b) tal como em O país d’el rey, de Roberto Almada,<br />

busca-se no Brasil urbano e pós-moderno o espaço<br />

privilegiado para a ação.<br />

c) tal como em Noite na taverna, de Álvares de<br />

Azevedo, ocorrem casos de homicídio, suicídio e<br />

antropofagia.<br />

d) tal como em Quincas Borba, de Machado de Assis,<br />

são insistentes as chamadas e referências a um<br />

suposto leitor.<br />

e) tal como em O burrinho pedrês, de Guimarães<br />

Rosa, os personagens não se envolvem em questões<br />

de caráter político-partidário.<br />

565. PUCCamp-SP<br />

Leia com atenção os seguintes excertos de contos do<br />

livro Laços de família, de Clarice Lispector.<br />

Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava.<br />

E para aqueles que junto da porta ainda a olharam<br />

uma vez, a aniversariante era apenas o que parecia<br />

ser: sentada à cabeceira da mesa imunda, com a mão<br />

fechada sobre a toalha como encerrando um cetro,<br />

e com aquela mudez que era a sua última palavra.<br />

(“Feliz aniversário”)<br />

Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava<br />

um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia<br />

lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto – ela<br />

o abafava com a mesma habilidade que as lides em<br />

casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer<br />

compras ou levar objetos para consertar, cuidando do<br />

lar e da família à revelia deles. (“Amor”)<br />

Em ambos os excertos, destaca-se um dos temas<br />

estruturadores do livro Laços de família, já que nele<br />

a autora:<br />

a) explora o imaginário feminino, cuja natureza idealizante<br />

liberta a mulher de qualquer preocupação<br />

existencial.<br />

b) denuncia o conformismo burguês da mulher, fazendo-nos<br />

ver que seus inúteis devaneios a afastam<br />

da realidade.<br />

c) satiriza a hipocrisia dos laços familiares, propondo<br />

em lugar deles a harmonia de um mundo politicamente<br />

mais aberto e mais democrático.<br />

293


d) desvela as tensões entre o universo íntimo e complexo<br />

da mulher e as condições objetivas do cotidiano<br />

em que ela deve desempenhar seu papel.<br />

e) revela a solidez íntima da mulher, mais preparada<br />

para o sucesso das relações familiares do que o<br />

homem, obcecado por valores materiais.<br />

Texto para as questões de 566 a 572.<br />

A partida dos homens<br />

1 Aproximou-se da janela, sentiu frio nos ombros<br />

nus, olhou a terra onde as plantas viviam quietas. O<br />

globo movia-se e ela estava sobre ele de pé. Junto<br />

a uma janela, o céu por cima, claro, infinito. Era<br />

inútil abrigar-se na dor de cada caso, revoltar-se<br />

contra os acontecimentos, porque os fatos eram<br />

apenas um rasgão no vestido, de novo a seta muda<br />

indicando o fundo das coisas, um rio que seca e<br />

deixa ver o leito nu.<br />

2 A frescura da tarde arrepiou sua pele, Joana não<br />

conseguiu pensar nitidamente – havia alguma<br />

coisa no jardim que a deslocava para fora de seu<br />

centro, fazia-a vacilar... Ficou de sobreaviso. Algo<br />

tenta mover-se dentro dela, respondendo, e pelas<br />

paredes escuras de seu corpo subiam ondas leves,<br />

frescas, antigas. Quase assustada quis trazer a<br />

sensação à consciência, porém cada vez mais era<br />

arrastada para trás numa doce vertigem, por dedos<br />

suaves. Como se fosse de manhã. Perscrutou-se,<br />

subitamente atenta como se tivesse avançado<br />

demais. De manhã?<br />

3 De manhã. Onde estivera alguma vez, em que terra<br />

estranha e milagrosa já pousara para agora sentirlhe<br />

o perfume? Folhas secas sobre a terra úmida.<br />

O coração apertou-se-lhe devagar, abriu-se, ela não<br />

respirou um momento esperando... Era de manhã,<br />

sabia que era de manhã... Recuando como pela mão<br />

frágil de uma criança, ouviu, abafado como em sonho,<br />

galinhas arranhando a terra. Uma terra quente,<br />

seca... O relógio batendo tin-dlen...tin...dlen... o sol<br />

chovendo em pequenas rosas amarelas e vermelhas<br />

sobre as casas... Deus, o que era aquilo senão ela<br />

mesma? mas quando? não sempre...<br />

4 As ondas cor-de-rosa escureciam, o sonho fugia.<br />

Que foi que perdi? que foi que perdi? Não era<br />

Otávio, já longe, não era o amante, o homem infeliz<br />

nunca existira. Ocorreu-lhe que este deveria estar<br />

preso, afastou o pensamento impaciente, fugindo,<br />

precipitando-se... Como se tudo participasse da<br />

mesma loucura, ouvindo subitamente um galo próximo<br />

lançar seu grito violento e solitário. Mas não<br />

é de madrugada, disse trêmula, alisando a testa<br />

fria... O galo não sabia que ia morrer! O galo não<br />

sabia que ia morrer! Sim, sim: papai que é que eu<br />

faço? Ah, perdera o compasso de um minueto...<br />

Sim... o relógio batera tin dlen, ela erguera-se na<br />

ponta dos pés e o mundo girava muito mais leve<br />

naquele momento. Havia flores em alguma parte?<br />

e uma grande vontade de se dissolver até misturar<br />

seus fios com o começo das coisas. Formar<br />

uma só substância, rósea e branda – respirando<br />

mansamente como um ventre que se ergue e se<br />

abaixa, que se ergue e se abaixa... (...)<br />

Clarice Lispector. Perto do coração selvagem<br />

294<br />

566. Unirio-RJ<br />

O sentido de “... os fatos eram apenas um rasgão no<br />

vestido,” (par. 1) é:<br />

a) trariam conseqüências desastrosas.<br />

b) representavam uma preocupação dolorosa.<br />

c) apresentavam uma solução passageira.<br />

d) causariam sofrimento irreversível.<br />

e) não continham a solução para seus problemas.<br />

567. Unirio-RJ<br />

A dificuldade que a personagem encontra, inicialmente,<br />

de penetrar no seu íntimo se dá por:<br />

a) medo de descobrir suas verdades.<br />

b) interferência de um elemento externo.<br />

c) dificuldade de se desligar do passado.<br />

d) desconhecimento de seus verdadeiros sentimentos.<br />

e) falta de um parâmetro em sua vida.<br />

568. Unirio-RJ<br />

A expressão que representa a primeira sensação,<br />

indício de presentificação do passado, é:<br />

a) “... a seta muda...” (par. 1)<br />

b) “... o fundo das coisas,” (par. 1)<br />

c) “A frescura da tarde...” (par. 2)<br />

d) “... ondas leves, frescas, antigas.” (par. 2)<br />

e) “... doce vertigem,” (par. 2)<br />

569. Unirio-RJ<br />

A expressão que marca o mergulho de Joana no seu<br />

interior e caracteriza o passado é:<br />

a) “... o fundo das coisas,” (par. 1)<br />

b) “... o leito nu.” (par. 1)<br />

c) “De manhã.” (par. 3)<br />

d) “... alguma vez,” (par. 3)<br />

e) “não sempre...” (par. 3)<br />

570. Unirio-RJ<br />

Que passagem traduz um momento de conflito interior<br />

de Joana?<br />

a) “Joana não conseguiu pensar nitidamente” (par. 2)<br />

b) “Onde estivera alguma vez,” (par. 3)<br />

c) “Recuando como pela mão frágil de uma criança,”<br />

(par. 3)<br />

d) “Que foi que eu perdi? Que foi que eu perdi?” (par. 4)<br />

e) “Havia flores em alguma parte?” (par. 4)<br />

571. Unirio-RJ<br />

Que passagem traduz, simultaneamente, integração<br />

e reinício?<br />

a) “O galo não sabia que ia morrer!” (par. 4)<br />

b) “ela erguera-se na ponta dos pés” (par. 4)<br />

c) “... o mundo girava muito mais leve...” (par. 4)<br />

d) “... uma grande vontade de se dissolver...”<br />

(par. 4)<br />

e) “Havia flores em alguma parte?” (par. 4)


PV2D-07-54<br />

572. Unirio-RJ<br />

Quanto à narrativa do texto, assinale a afirmativa<br />

improcedente.<br />

a) Há aprofundamento no eu, num mergulho atemporal.<br />

b) Há poucos fatos ligados à ação propriamente<br />

dita.<br />

c) A não-linearidade aponta uma preocupação em<br />

manter o elo autor-leitor.<br />

d) A narrativa está centrada num momento de violência<br />

interior da personagem.<br />

e) ambiente e descrição não apresentam uma feição<br />

puramente descritiva, mas subjetiva, interiorizada.<br />

573. Fatec-SP<br />

Lóri estava suavemente espantada. Então isso<br />

era a felicidade. De início sentiu-se vazia. Depois seus<br />

olhos ficaram úmidos, era a felicidade, mas como sou<br />

mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O<br />

amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos<br />

poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade?<br />

Que faço dessa paz estranha e aguda, que<br />

já está começando a me doer como uma angústia,<br />

como um grande silêncio de espaços? A quem dou<br />

minha felicidade, que já está começando a me rasgar<br />

um pouco e me assusta. Não quero ser feliz prefiro a<br />

mediocridade.<br />

Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou livro dos prazeres<br />

Considere as seguinte características de estilo:<br />

I. Exacerbação do momento interior, que a escritora<br />

explora de modo a produzir, pela intensa<br />

auto-análise da personagem, uma nova e aguda<br />

consciência da vida.<br />

II. Transfiguração da realidade pela análise psicológica<br />

da reação da personagem, que se objetiva na<br />

descrição exterior dos fatos narrados.<br />

III. Emprego de uma técnica própria de descrição intimista,<br />

que se alinha com um projeto de educação<br />

existencial, traço marcante da obra de Clarice.<br />

Identificam-se no texto as características apontadas<br />

em:<br />

a) I e II.<br />

b) I e III.<br />

c) II e III.<br />

d) I, somente.<br />

e) II, somente.<br />

574. PUCCamp-SP<br />

Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs<br />

um ovo! ela quer o nosso bem!<br />

Todos correram de novo à cozinha e rodearam<br />

mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho,<br />

esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem<br />

triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria<br />

nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a<br />

filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente<br />

um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou<br />

uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com<br />

certa brusquidão:<br />

– Se você mandar matar esta galinha nunca mais<br />

comerei galinha na minha vida!<br />

– Eu também! jurou a menina com ardor.<br />

A mãe, cansada, deu de ombros.<br />

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha<br />

passou a morar com a família. A menina, de volta<br />

do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a<br />

corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda<br />

se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele<br />

estado!” A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos,<br />

menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o<br />

terraço dos fundos, usando suas duas capacidades:<br />

a da apatia e a do sobressalto.<br />

No excerto acima, do conto “Uma galinha”, Clarice<br />

Lispector, a autora de Laços de família:<br />

a) utiliza a ave para projetar nela a condição da mulher<br />

enquanto fêmea reprodutora, dona de casa e<br />

ser reflexivo.<br />

b) alegoriza a condição da mulher moderna, emancipada<br />

das estritas funções domésticas, e no entanto<br />

saudosa delas.<br />

c) estabelece uma analogia entre a criação artística e<br />

o parto, mostrando o quanto há neles de sofrimento<br />

e o nenhum reconhecimento que obtêm no mundo<br />

moderno.<br />

d) afasta-se do tema que estrutura seu livro e pratica<br />

uma forma singular de humor, num conto ao mesmo<br />

tempo cruel e anedótico.<br />

e) vale-se de uma galinha para simbolizar nela a<br />

crise de uma família de classe média cujos laços<br />

afetivos há muito se desataram.<br />

Texto para as questões de 575 a 580.<br />

Amor<br />

Um pouco cansada, com as compras deformando<br />

o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou<br />

o volume no colo e o bonde começou a andar.<br />

Recostou-se então no banco procurando conforto, num<br />

suspiro de meia satisfação.<br />

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira<br />

e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam<br />

para si, malcriados, instantes cada vez mais completos.<br />

A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado<br />

dava estouros. O calor era forte no apartamento que<br />

estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo<br />

nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que<br />

se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o<br />

calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as<br />

sementes que tinha na mão, não outras, mas essas<br />

apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa<br />

com o cobrador de luz, crescia a água enchendo<br />

o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas,<br />

o marido chegando com os jornais e sorrindo de<br />

fome, o canto importuno das empregadas do edifício.<br />

Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e<br />

forte, sua corrente de vida.<br />

Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa<br />

hora da tarde a árvores que plantara riam dela. Quando<br />

nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No<br />

entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo<br />

engrossara um pouco e era de se ver o modo como<br />

cortava blusas para os meninos, a grande tesoura<br />

dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente<br />

artístico encaminhara-se há muito no sentido de<br />

tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu<br />

gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara<br />

a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo<br />

era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se<br />

295


emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia<br />

ser feita pela mão do homem.<br />

No fundo, Ana sempre tivera necessidade de<br />

sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente<br />

lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num<br />

destino de mulher, com a surpresa de nele caber como<br />

se o tivesse inventado. O homem com quem casara<br />

era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram<br />

filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe<br />

estranha como uma doença de vida. […]<br />

575. Unifesp<br />

De acordo com o texto, pode-se afirmar que a personagem<br />

Ana:<br />

a) sintetiza as qualidades da mulher burguesa e rica,<br />

que se responsabiliza pelo lar e em momento<br />

algum questiona suas atribuições.<br />

b) é símbolo da mãe e da esposa de classe baixa,<br />

que vê nas tarefas do lar a verdadeira forma de<br />

ser feliz, mas almeja ser independente.<br />

c) representa a mulher de classe média que cuida de<br />

suas tarefas, mas não sente prazer nisso, pois é<br />

incomodada por sua família.<br />

d) é produto de uma sociedade feminista, o que<br />

se pode confirmar pela autonomia que tem para<br />

realizar suas tarefas.<br />

e) constitui a referência do lar de classe média, no<br />

qual tem como missão a tarefa de organizá-lo e<br />

de cuidar dos familiares.<br />

576. Unifesp<br />

No texto, afirma-se que Ana “plantara as sementes”<br />

e “E cresciam árvores”. Mais adiante: “Certa hora da<br />

tarde as árvores que plantara riam dela”. Essa última<br />

frase, tomada em conjunto com as anteriores, traz ao<br />

texto um tom de:<br />

a) comicidade. d) ironia.<br />

b) profecia. e) indignação.<br />

c) perplexidade.<br />

577. Unifesp<br />

“Certa hora da tarde era mais perigosa.”<br />

De acordo com o texto, essa informação deve ser<br />

entendida como<br />

a) um cansaço que envolvia Ana, depois de ter-se<br />

dedicado intensamente às tarefas do lar.<br />

b) um desconforto de Ana, pois sua importância se<br />

perdia nesse período, quando não era requisitada<br />

nas tarefas do lar.<br />

c) uma irritação de Ana em relação à família, por não<br />

ter o reconhecimento devido pelas tarefas que<br />

exercia.<br />

d) uma forma de Ana reafirmar seu papel e sua importância<br />

no seio familiar, pois todos dependiam dela.<br />

e) um incômodo que Ana sentia, devido tanto ao<br />

excesso de tarefas que desempenhava quanto ao<br />

modo rotineiro de realizá-las.<br />

578. Unifesp<br />

“No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir<br />

a raiz firme das coisas.” A forma encontrada por ela<br />

para atingir esse objetivo foi:<br />

296<br />

a) assumir plenamente a organização de um lar.<br />

b) dar espaço real à sua íntima desordem.<br />

c) esquecer sua juventude anterior, sua doença de<br />

vida.<br />

d) plantar sementes, mesmo que árvores não crescessem.<br />

e) ficar sozinha à tarde para recuperar suas forças.<br />

579. Unifesp<br />

O gosto de Ana pelo decorativo revela uma forma de:<br />

a) cuidar harmoniosamente da família, eliminando os<br />

problemas.<br />

b) engajar a família na análise e superação dos<br />

problemas, íntimos ou não.<br />

c) sublimar os problemas de natureza íntima, criando<br />

uma aparente harmonia.<br />

d) canalizar todas as tensões para a arrumação da<br />

casa, já que ela e a família não tinham problemas.<br />

e) aperfeiçoar a casa e a família, fazendo com que<br />

todos se comportassem de forma semelhante.<br />

580. Unifesp<br />

O narrador afirma que Ana caiu num destino de mulher.<br />

No texto, esse destino é descrito com o objetivo de<br />

propor uma reflexão sobre:<br />

a) a juventude e a velhice.<br />

b) a importância de ser mãe.<br />

c) as diferenças sociais.<br />

d) o papel da mulher na sociedade.<br />

e) a família como verdadeira instituição social.<br />

581. UFRGS-RS<br />

A hora da estrela<br />

Clarice Lispector<br />

A moça tinha ombros curvos como os de uma<br />

cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se<br />

realizaria muito mais se desse ao delicado lador de<br />

restaurar fios, quem sabe se de seda. Ou de luxo:<br />

cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzideirinha<br />

mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de<br />

açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só que não<br />

era. Não sabia que era infeliz.<br />

(...) Nascera inteiramente raquítica, herança do<br />

sertão - os maus antecedentes de que falei. Com dois<br />

anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres<br />

ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera<br />

as botas.<br />

(...) Macabéa era na verdade uma figura medieval<br />

enquanto Olímpico de Jesus se julgava peçachave,<br />

dessa que abrem qualquer porta. Macabéa<br />

simplesmente não era técnica, ela era só ela. (...) Mas<br />

Macabéa de um modo geral não se preocupava com<br />

o próprio futuro: ter futuro era luxo.<br />

Sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector, é correto<br />

afirmar que:<br />

a) a narrativa mistura vários planos de realidade, que<br />

permitem uma visão multifacetada da personagem<br />

central.<br />

b) Macabéa é uma nordestina retirante, e o desfecho<br />

de sua história é semelhante ao de Fabiano e de<br />

Sinha Vitória, personagem de Graciliano Ramos.


PV2D-07-54<br />

c) a heroína do livro, como a maioria dos brasileiros<br />

em situação de privação, revolta-se contra as<br />

injustiças.<br />

d) a escritora usa uma linguagem técnica com predomínio<br />

de termos exatos, para advertir sobre<br />

problemas sanitários brasileiros.<br />

e) a narrativa põe em destaque a disposição de<br />

Macabéa em lutar pela igualdade e pela ascensão<br />

social.<br />

582. Fuvest-SP<br />

Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns<br />

difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história<br />

não tem nenhuma técnica, nem de estilo, ela é ao<br />

deus-dará. Eu que também não mancharia por nada<br />

deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma<br />

vida parca como a da datilógrafa.<br />

Clarice Lispector, A hora da estrela.<br />

Em A hora da estrela, o narrador questiona-se quanto<br />

ao modo e, até, à possibilidade de narrar a história.<br />

De acordo com o trecho acima, isso deriva do fato de<br />

ser ele um narrador:<br />

a) iniciante, que não domina as técnicas necessárias<br />

ao relato literário.<br />

b) pós-moderno, para quem as preocupações de<br />

estilo são ultrapassadas.<br />

c) impessoal, que aspira a um grau de objetividade<br />

máxima ao relato.<br />

d) objetivista, que se preocupa apenas com a precisão<br />

técnica do relato.<br />

e) autocrítico, que percebe a inadequação de um<br />

estilo sofisticado para narrar a vida popular.<br />

583. PUC-SP<br />

Assinale a alternativa que não está de acordo com a<br />

personagem Macabéa, do romance A hora da estrela,<br />

de Clarice Lispector.<br />

a) Nordestina pobre, anônima e semi-analfabeta,<br />

era impotente para a vida e não fazia falta a ninguém.<br />

b) Tinha a “felicidade pura dos idiotas” e “vivia num<br />

atordoado limbo entre céu e inferno”.<br />

c) Personagem-título do romance, embora feita de<br />

matéria rala, tornou-se, na vida, a grande estrela<br />

com que sempre sonhou.<br />

d) Ingênua, acreditou no que a cartomante lhe disse,<br />

mas acabou sendo atropelada e morta por um<br />

Mercedes amarelo.<br />

e) Viveu um conto de fadas às avessas, delineando<br />

um contraponto bíblico sem, contudo, apresentar<br />

a coragem e o heroísmo dos fortes.<br />

584. UFPE<br />

As três quadras mostradas abaixo são de João Cabral<br />

de Melo Neto, poeta pernambucano, da chamada geração<br />

de 45, autor de Morte e vida severina, obra que<br />

tem como subtítulo Auto de natal pernambucano.<br />

– Essa cova em que estás,<br />

com palmos medida<br />

É a conta menor<br />

que tiraste em vida<br />

– É de bom tamanho,<br />

nem largo nem fundo<br />

é a parte que te cabe<br />

deste latifúndio<br />

– Não é cova grande<br />

é cova medida<br />

é a terra que querias<br />

ver dividida<br />

( ) A técnica despojada realça o aspecto dramático<br />

das quadras que iniciam o Funeral do Lavrador,<br />

em que se pode observar o desejo do autor de<br />

extrair o máximo de significação de cada palavra,<br />

numa linguagem despida de ornamentos.<br />

( ) No trecho anterior, todas as quadras são introduzidas<br />

por um travessão, simbolizando a fala<br />

dos lavradores presentes ao enterro, como uma<br />

espécie de reza, que descreve, para os que ouvem,<br />

quem era o morto.<br />

( ) No subtítulo, Auto evidencia a influência do teatro<br />

medieval vicentino; natal tem a ver com o<br />

nascimento que mudará a vida do personagem e<br />

pernambucano remete ao lugar onde se desenrola<br />

a narrativa. As injustiças sociais são descritas<br />

pelo eu-poético com distanciamento, em terceira<br />

pessoa.<br />

( ) O Auto Morte e vida severina narra a trajetória de<br />

um sertanejo que abandona sua terra de origem,<br />

com destino ao litoral, onde, afinal, apenas encontra<br />

o desespero e a morte.<br />

( ) Ao usar o nome próprio Severino como adjetivo,<br />

para caracterizar a morte e a vida, o eu lírico representa<br />

todos os retirantes que sofrem com a seca<br />

e perdem sua identidade pela sina que os iguala.<br />

585. Fuvest-SP<br />

Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num<br />

aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada felicidade<br />

que era inexplicável: no cais do porto viu um<br />

arco-íris. Experimentando o leve êxtase, ambicionou<br />

logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió,<br />

espocarem mudos fogos de artifício. Ela quis mais<br />

porque é mesmo uma verdade que quando se dá a<br />

mão, essa gentinha quer todo o resto, o zé-povinho<br />

sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito<br />

algum, pois não é?<br />

Clarice Lispector, A hora da estrela<br />

Considerando-se no contexto da obra o trecho destacado,<br />

é correto afirmar que, nele, o narrador:<br />

a) assume momentaneamente as convicções elitistas<br />

que, no entanto, procura ocultar no restante da<br />

narrativa.<br />

b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos<br />

da própria Macabéa diante dos fogos de artifício.<br />

c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a<br />

reação de Macabéa frente ao espetáculo.<br />

d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente<br />

as injustiças sociais e cobrando sua superação.<br />

e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito<br />

antipopular, desenvolvendo-a na direção da ironia.<br />

297


586. UniCOC-SP<br />

Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples:<br />

a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo:<br />

não tinha. Se der para me entenderem, está bem [...]<br />

Tendo em vista o fragmento acima e a leitura da obra<br />

A hora da estrela de Clarice Lispector, assinale a<br />

alternativa incorreta:<br />

a) O escritor narrador é onipotente, porque cria um<br />

destino, mas não é onisciente, pois a verdade que<br />

inventa ele não a conhece inteira: sua protagonista<br />

escapa-lhe das mãos.<br />

b) A obra conta várias histórias: a história da nordestina,<br />

a história de Rodrigo, que se vê refletido na<br />

personagem, e a história de como escrever um<br />

livro com uma personagem e fatos ralos.<br />

c) A mais ostensiva marca de existência de Macabéa<br />

é ser uma explícita negação: nem bonita,<br />

nem culta, nem inteligente, nem inteligente,<br />

nem independente financeiramente, nem ligada<br />

amorosamente a um homem que a conduzisse<br />

e a amparasse, Macabéa percorre o romance<br />

acumulando camadas narrativas dessa negação.<br />

Enfim, “era incompetente para a vida”.<br />

d) Ao narrar as “fracas aventuras” da personagem,<br />

Rodrigo S. M. fala de si mesmo, transformando-se,<br />

portanto, também em personagem do texto. Temos,<br />

então, a personagem narrada em 3 a pessoa<br />

e um escritor-narrador-personagem.<br />

e) Olímpico, Glória e Carlota revelam um traço comum<br />

com Macabéa: são personagens que não<br />

apresentam superioridade discursiva, o que inviabiliza<br />

a integração de todos na cultura urbana.<br />

587. UFRGS-RS<br />

Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as afirmações<br />

a seguir, referentes ao romance A hora da estrela, de<br />

Clarice Lispector.<br />

( ) Embora o título principal do romance seja A hora<br />

da estrela, a autora propõe uma série de títulos<br />

alternativos.<br />

( ) Clarice evidencia preocupações incomuns em<br />

sua obra, como a reflexão sobre a linguagem e a<br />

busca do sentido secreto que se esconde por trás<br />

do aparentemente visível.<br />

( ) Antes de iniciar o relato da história de Macabéa, o<br />

narrador faz comentários sobre as dificuldades inerentes<br />

ao ato de escrever e sobre o seu receio quanto<br />

ao destino da personagem que está criando.<br />

( ) A narração do romance é feita por três vozes distintas:<br />

a de Rodrigo S. M., a de Macabéa e a de<br />

Olímpico.<br />

( ) Uma das distrações de Macabéa, durante a madrugada,<br />

é ligar o radinho emprestado por uma<br />

colega de quarto e sintonizar a Rádio Relógio, que<br />

assinala com um tique-taque cada minuto.<br />

A seqüência correta de preenchimento dos parênteses,<br />

de cima para baixo, é:<br />

a) V – F – V – F – V<br />

b) V – V – F – F – V<br />

c) F – V – F – V – F<br />

d) V – F – F – F – V<br />

e) F – F – V – V – F<br />

298<br />

588. UniCOC-SP<br />

Leia o seguinte trecho da obra A hora da estrela, de<br />

Clarice Lispector:<br />

Ele – Pois é.<br />

Ela – Pois é o quê?<br />

Ele – Eu só disse pois é!<br />

Ela – Mas “pois é” o quê?<br />

Ele – Melhor mudar de conversa porque você não<br />

me entende.<br />

(...)<br />

Ele – E então?<br />

Ela – Então o quê?<br />

Ele – Olhe, eu vou embora porque você é impossível!<br />

A partir da leitura do excerto e da obra, assinale a<br />

alternativa incorreta.<br />

a) Diferentemente de Macabéa, Olímpico não assume<br />

sua incapacidade de falar sobre sua vida interior,<br />

mas, igualmente à sua conterrânea, também não<br />

consegue se expressar.<br />

b) Nos questionamentos de Macabéa e Olímpico,<br />

as respostas não conseguem se coadunar com<br />

as perguntas, levando cada um para o seu lado,<br />

isolando-os progressivamente.<br />

c) O questionamento de Macabéa sobre o significado<br />

de palavras vai de encontro à experiência fictícia<br />

de Rodrigo S.M. de escrever a história, já que ele<br />

se posiciona como um narrador seguro e hábil com<br />

as palavras.<br />

d) O relacionamento de Macabéa e Olímpico está, em<br />

grande parte, baseado no poder e no efeito das<br />

palavras que eles não conhecem. Um dos problemas<br />

é a inabilidade dele em perceber o esforço de<br />

Macabéa para dizer algo bonito e interessante.<br />

e) Ao perguntar a Olímpico o significado de palavras<br />

muitas ouvidas na Rádio Relógio, sem saber,<br />

Macabéa desafia a competência lingüística dele e,<br />

conseqüentemente, enfurece-o.<br />

589.<br />

Observe as afirmações abaixo.<br />

I. O enredo deste conto remete à idéia de que a<br />

aquisição da civilidade pode ocorrer a qualquer<br />

momento.<br />

II. Este conto problematiza a acumulação de bens<br />

apresentando a possibilidade do despojamento<br />

material.<br />

III. Estudo de psicologia social, este conto comenta o<br />

comportamento coletivo.<br />

IV. A narração da última cavalgada do protagonista<br />

assemelha-se a uma paródia das novelas de<br />

cavalaria medieval.<br />

V. Análise metalingüística sobre o processo de criação<br />

artística, incluindo-se aí o papel importante do<br />

improviso.<br />

Os comentários acima correspondem, respectivamente,<br />

aos seguintes contos de Primeiras estórias, de<br />

Guimarães Rosa:<br />

a) Os irmãos Dagobé, Nada e nossa condição, Darandina,<br />

Tarantão, meu patrão e Pirlimpsiquice<br />

b) A menina de lá, Substância, A terceira margem do<br />

rio, Os cimos e A partida do audaz navegante


PV2D-07-54<br />

c) Luas-de-mel, As margens da alegria, Fatalidade,<br />

Seqüência e Pirlimpsiquice<br />

d) Os irmãos Dagobé, A benfazeja, Sorôco, sua mãe,<br />

sua filha, Tarantão, meu patrão e Famigerado<br />

e) Famigerado, Nada e nossa condição, O cavalo<br />

que bebia cerveja, O espelho e Um moço muito<br />

branco<br />

590. UEBA<br />

Leia atentamente os trechos abaixo.<br />

I. Poeta modernista da 3ª geração, criou uma “poesia<br />

substantiva” em que da palavra se retiram os resíduos<br />

sentimentais. É autor do antológico poema<br />

Morte e vida severina.<br />

II. Ficcionista da geração de 45 do Modernismo brasileiro,<br />

criou uma obra com timbre personalíssimo<br />

em que se destacam o uso intensivo da metáfora<br />

insólita, a entrega ao fluxo da consciência e a ruptura<br />

com o enredo factual. Entre tantos, escreveu<br />

Laços de família.<br />

Estamos falando, respectivamente, de:<br />

a) João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector.<br />

b) Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles.<br />

c) Murilo Mendes e Rachel de Queiroz.<br />

d) Jorge de Lima e Lígia Fagundes Telles.<br />

e) Vinícius de Moraes e Adélia Prado.<br />

591. PUC-RS<br />

Entre a paisagem / (fluía) / de homens plantados<br />

na lama; / de casas de lama / plantadas em ilhas<br />

/ coaguladas na lama; / paisagem de anfíbios / de<br />

lama e lama. / Como o rio, / aqueles homens / são<br />

como cães sem plumas. / Um cão sem plumas / é<br />

mais / que um cão saqueado; / é mais que um cão<br />

assassinado.<br />

As estrofes acima são exemplos do traço de ...... e<br />

de ...... que existe no poema de João Cabral de Melo<br />

Neto.<br />

a) rebeldia – ódio pela sociedade<br />

b) melancolia – indiferença pelo mundo<br />

c) ternura – paixão pela existência<br />

d) compaixão – solidariedade ao homem<br />

e) saudade – medo do quotidiano<br />

592. Mackenzie-SP<br />

Leia as afirmações abaixo a respeito da obra de João<br />

Cabral de Melo Neto:<br />

I. A Espanha e suas paisagens ocupam parte importante<br />

de sua poesia.<br />

II. Apresenta preocupação com a estética e a arquitetura<br />

da poesia.<br />

III. A própria arte e suas várias manifestações aparecem<br />

como tema constante em seus poemas.<br />

Assinale:<br />

a) se todas são corretas.<br />

b) se apenas II e III são corretas.<br />

c) se apenas I e III são corretas.<br />

d) se apenas I e II são corretas.<br />

e) se nenhuma é correta.<br />

593. PUC-RS<br />

Entre a paisagem<br />

o rio fluía<br />

como uma espada de líquido espesso;<br />

como um cão<br />

humilde e espesso.<br />

Entre a paisagem<br />

(fluía)<br />

de homens plantados na lama;<br />

de casas de lama<br />

plantadas em ilhas<br />

coaguladas na lama;<br />

paisagem de anfíbios<br />

de lama e lama<br />

Como demonstram as estrofes anteriores, é no livro O<br />

cão sem plumas que João Cabral de Melo Neto inicia<br />

a temática centrada no:<br />

a) social.<br />

b) eu.<br />

c) poético.<br />

d) objeto.<br />

e) despojamento.<br />

594. UFPE<br />

O cão sem plumas é um poema de João Cabral de<br />

Melo Neto que pode ser lido como uma denúncia da<br />

degradação do rio Capibaribe, provocada pela poluição<br />

ambiental. Considere correta(s) a(s) proposição(ões)<br />

na(s) qual(is) se transcrevem versos do poema onde<br />

essa denúncia é evidente; caso contrário, considere<br />

a(s) proposição (ões) errada(s):<br />

( ) “A cidade é passada pelo rio como uma rua é<br />

passada por um cachorro”.<br />

( ) “Aquele rio nada sabia da água do copo de<br />

água”.<br />

( ) “Aquele rio jamais se abre aos peixes”<br />

( ) [O rio tinha] “Algo da estagnação dos palácios cariados,<br />

comidos de mofo e erva-de-passarinho”.<br />

( ) [Aquele rio] “abre-se em flores pobres e negras”.<br />

595. PUC-RS<br />

O lápis, o esquadro, o papel;<br />

o desenho, o projeto, o número:<br />

o engenheiro pensa o mundo justo,<br />

mundo que nenhum véu encobre.<br />

A estrofe acima ilustra a assertiva de que a poesia<br />

de João Cabral de Melo Neto revela um rigor ... e a<br />

preocupação com o ....<br />

a) técnico – problema social<br />

b) semântico – fazer poético<br />

c) estilístico – ambiente regional<br />

d) formal – momento político<br />

e) métrico – conflito estético<br />

596. UFSCar-SP<br />

O sertanejo falando<br />

A fala a nível do sertanejo engana:<br />

as palavras dele vêm, como rebuçadas<br />

(palavras confeito, pílula), na glace<br />

de uma entonação lisa, de adocicada.<br />

299


300<br />

Enquanto que sob ela, dura e endurece<br />

o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,<br />

dessa árvore pedrenta (o sertanejo)<br />

incapaz de não se expressar em pedra.<br />

Daí porque o sertanejo fala pouco:<br />

as palavras de pedra ulceram a boca<br />

e no idioma pedra se fala doloroso;<br />

o natural desse idioma fala à força.<br />

Daí também porque ele fala devagar:<br />

tem de pegar as palavras com cuidado,<br />

confeitá-las na língua, rebuçá-las;<br />

pois toma tempo todo esse trabalho.<br />

João Cabral de Melo Neto. A educação pela pedra.<br />

Nova Fronteira, 1996, p. 16.<br />

Esse poema consta na primeira parte de A educação<br />

pela pedra, considerada pelo autor sua obra máxima.<br />

Depois de uma leitura atenta, responda:<br />

a) Qual o contraste entre a busca da palavra e o resultado<br />

de sua execução na boca do sertanejo?<br />

b) A que se refere, no texto, a palavra ela, no primeiro<br />

verso da segunda estrofe? Justifique sua resposta.<br />

597. UFPE<br />

Correlacione os autores abaixo com trechos de algumas<br />

de suas obras, apresentados a seguir.<br />

1. Gilberto Freyre<br />

2. Ariano Suassuna<br />

3. João Cabral de Melo Neto<br />

4. Carlos Drummond de Andrade<br />

( ) Essa cova em que estás / Com palmos medida,<br />

É a conta menor / que tiraste em vida.<br />

É de bom tamanho / nem largo nem fundo,<br />

É a parte que te cabe/ deste latifúndio.<br />

( ) E agora José? / A festa acabou,<br />

A luz apagou, / o povo sumiu,<br />

A noite esfriou, / e agora José?<br />

( ) A singular predisposição do português para a<br />

colonização híbrida e escravocrata dos trópicos<br />

explica em grande parte o seu passado étnico,<br />

ou antes, cultural, de povo indefinido entre Europa<br />

e África. A influência africana fervendo sob<br />

a européia dá um acre requeime à vida sexual,<br />

à alimentação, à religião. A indecisão étnica e<br />

cultural entre a Europa e a África parece ter sido<br />

a mesma em Portugal como em outros trechos<br />

da península.<br />

( ) Chicó: Que latomia é essa para o meu lado?<br />

Você quer me agourar?<br />

João Grilo: (erguendo-se) Ah, e você está vivo?<br />

Chicó: Estou, que é que você está pensando?<br />

Não é besta não?<br />

A seqüência correta é:<br />

a) 1, 2, 3, 4<br />

b) 3, 2, 4, 1<br />

c) 4, 2, 1, 3<br />

d) 1, 3, 2, 4<br />

e) 3, 4, 1, 2<br />

598. UEL-PR<br />

A recorrência temática verificada nos textos e nas imagens<br />

destaca mazelas presentes no cenário social brasileiro.<br />

Sobre o tema, considere as afirmativas a seguir.<br />

I. No poema Morte e vida severina, a descrição do<br />

biótipo próprio aos “Severinos” remete para uma<br />

outra forma de morte: a negação da existência<br />

pela privação das condições materiais, a morte<br />

severina.<br />

II. Na pintura Os retirantes, Portinari aborda a miséria<br />

a partir de um foco diferenciado, que situa os indivíduos<br />

como sujeitos ativos de suas histórias.<br />

III. Em Graciliano Ramos, o abraço dos esfarrapados<br />

revela a inquietação dos que ousam superar o<br />

pavor e temem retornar ao estado de prostração<br />

anterior.<br />

IV. A fotografia de Sebastião Salgado contextualiza as<br />

mudanças observadas na paisagem nordestina,<br />

decisivas para conter o fluxo migratório.<br />

Estão corretas apenas as afirmativas:<br />

a) I e III.<br />

b) I e IV.<br />

c) II e III.<br />

d) I, II e IV.<br />

e) II, III e IV.<br />

599. Fuvest-SP<br />

– Finado Severino,<br />

quando passares em Jordão<br />

e os demônios te atalharem<br />

perguntando o que é que levas...<br />

(...)<br />

– Dize que levas somente<br />

coisas de não:<br />

fome, sede, privação.<br />

As “coisas de sim” estão, correspondentemente, em:<br />

a) vacuidade – repleção – carência.<br />

b) fartura – carência – vacuidade.<br />

c) repleção – carência – saciedade.<br />

d) satisfação – saciedade – fartura.<br />

e) vacuidade – fartura – repleção.<br />

600. UFMG<br />

Sobre o adjetivo severina, da expressão Morte e vida<br />

severina que intitula a peça de João Cabral de Melo<br />

Neto, todas as afirmativas estão certas, exceto:<br />

a) Refere-se aos migrantes nordestinos que, revoltados,<br />

lutam contra o sistema latifundiário que oprime<br />

o camponês.<br />

b) Pode ser sinônimo de vida árida, estéril, carente<br />

de bens materiais e de afetividade.<br />

c) Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca<br />

escorraça do sertão e o latifúndio escorraça da<br />

terra.<br />

d) Qualifica a existência negada, a vida daqueles<br />

seres marginalizados determinada pela morte.<br />

e) Dá nome à vida de homens anônimos, que se<br />

repetem física e espiritualmente, sem condições<br />

concretas de mudança.


PV2D-07-54<br />

601. Fuvest-SP<br />

É correto afirmar que, em Morte e vida severina:<br />

a) a alternância das falas de ricos e de pobres, em<br />

contraste, imprime à dinâmica geral do poema o<br />

ritmo da luta de classes.<br />

b) a visão do mar aberto, quando Severino finalmente<br />

chega ao Recife, representa para o retirante a<br />

primeira afirmação da vida contra a morte.<br />

c) o caráter de afirmação da vida, apesar de toda a<br />

miséria, comprova-se pela ausência da idéia de<br />

suicídio.<br />

d) as falas finais do retirante, após o nascimento de<br />

seu filho, configuram o momento afirmativo, por<br />

excelência, do poema.<br />

e) a viagem do retirante, que atravessa ambientes<br />

menos e mais hostis, mostra-lhe que a miséria é a<br />

mesma, apesar dessas variações do meio físico.<br />

602. Fuvest-SP<br />

Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão<br />

de que vida incomoda bastante, alma que não cabe<br />

bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha,<br />

toda supersticiosa, que se por acaso viesse<br />

alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver – se<br />

desencantaria de súbito de princesa que era e se<br />

transformaria em bicho rasteiro.<br />

a) Descreva o recurso poético utilizado pela autora<br />

em imaginavazinha, forma que escapa à gramática<br />

da língua.<br />

b) Justifique o uso de imaginavazinha, utilizando<br />

dados do contexto em que se acha e considerando<br />

também a posição do narrador em relação à<br />

personagem central, em A hora da estrela.<br />

603. Unicamp-SP<br />

Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto,<br />

traz como subtítulo “auto de natal pernambucano”. Sabendo-se<br />

que a palavra auto “designa toda peça breve,<br />

de tema religioso ou profano, em circulação durante a<br />

Idade Média” (Massaud Moisés, Dicionário de Termos<br />

Literários), responda às questões a seguir.<br />

Capítulo 6<br />

606. UFPR<br />

O Concretismo brasileiro apóia-se, principalmente,<br />

numa estrutura dinâmica “verbivocovisual”. Assinale<br />

a alternativa que não corresponde às características<br />

dessa estrutura.<br />

a) Estruturação ótico-sonora funcional<br />

b) As palavras tornam-se polivalentes, estabelecendo<br />

novas formas de inter-relacionamento<br />

c) A estrutura globalizante gera um significado<br />

d) Preferência pelo verso regular ímpar e musical<br />

e) Apesar de sua existência múltipla, apresenta<br />

unidade<br />

a) Explique o porquê das adjetivações “de natal” e<br />

“pernambucano”, contidas no subtítulo, considerando<br />

o enredo da peça.<br />

b) Qual é o sentido do adjetivo “severina” aplicado à<br />

“morte e vida”?<br />

c) Comumente usa-se a expressão “vida e morte”;<br />

no título da peça de João Cabral, entretanto, a<br />

seqüência é “morte e vida”. Explique o porquê<br />

dessa inversão.<br />

604. Fuvest-SP<br />

Em A hora da estrela, o narrador apresenta a seguinte<br />

reflexão: Pois na hora da morte a pessoa se torna<br />

brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de<br />

cada um e é quando como no canto coral se ouvem<br />

agudos sibilantes.<br />

Com base nela, responda às questões abaixo.<br />

a) Por que o romance tem o título de A hora da estrela?<br />

b) Por que é irônica a relação entre o título e a história<br />

de Macabéa?<br />

605. Fuvest-SP<br />

Leia com atenção os seguintes versos de João Cabral<br />

de Melo Neto em Morte e vida severina.<br />

– E belo porque com o novo<br />

todo o velho contagia.<br />

Belo porque corrompe<br />

com sangue novo a anemia.<br />

Infecciona a miséria<br />

com a vida nova e sadia.<br />

Com oásis, o deserto,<br />

com ventos, a calmaria.<br />

a) Contextualize esses versos no poema de João<br />

Cabral, indicando o evento a que se referem e a<br />

relação desse evento com a fala final de Seu José<br />

ao retirante.<br />

b) Que valor deu o poeta aos verbos contagiar,<br />

corromper e infeccionar no contexto da estrofe<br />

transcrita? Explique.<br />

607. ITA-SP<br />

Decretando o fim do verso e abolindo (a) (o) ..., esses<br />

vanguardistas procuram elaborar novas formas de<br />

comunicação poética em que predomine o aspecto<br />

material do signo, de acordo com as transformações<br />

ocorridas na vida moderna. Neste sentido (a) (o)…,<br />

explora basicamente (a) (o) ..., jogando com formas,<br />

cores, decomposição e montagem das palavras etc.,<br />

criando estruturas que se relacionam visualmente.<br />

a) sintaxe tradicional – concretismo – significante<br />

b) metrificação – poesia-práxis – significado<br />

c) lirismo – poema-processo – concreto<br />

d) versificação – neoconcretismo – sonoridade<br />

e) sintaxe – bossa-nova – ritmo<br />

301


608. FCMSC-SP<br />

Sobre o Concretismo, está errado afirmar que:<br />

a) baseou-se, em sua formulação teórica, nos ensinamentos<br />

de Mallarmé, Pound e Joyce.<br />

b) teria semelhanças, ou seria comparável ao<br />

movimento denominado Pau-Brasil, de 30 anos<br />

antes.<br />

c) a brevidade e a concisão de seus poemas retomam<br />

a linha evolutiva do poema-minuto, de Oswald de<br />

Andrade, na década de 20.<br />

d) Mário de Andrade foi figura poética de proa e líder<br />

do movimento.<br />

e) indiscutivelmente poético, esse movimento, se não<br />

atingiu a prosa, pelo menos influenciou a música<br />

e a pintura.<br />

609. FCC-SP<br />

… a composição de elementos básicos de linguagem<br />

organizados ótico-acusticamente no espaço gráfico<br />

por fatores de proximidade e semelhança, como uma<br />

espécie de ideologia para uma dada emoção, visando<br />

à apresentação direta – presentificação – do objeto.<br />

Um poeta identificado com a filosofia desse movimento<br />

estético é:<br />

a) João Cabral de Melo Neto.<br />

b) Paulo Mendes Campos.<br />

c) Décio Pignatari.<br />

d) Geir Campos.<br />

6<strong>10</strong>.<br />

Considere o texto:<br />

Posições do corpo<br />

Sob o azul<br />

sobre o azul<br />

subazul<br />

subsol<br />

subsolo<br />

Cassiano Ricardo<br />

Todas as características que se seguem encontram-se<br />

no poema acima, exceto:<br />

a) o aproveitamento do espaço concreto, em que a<br />

palavra se dimensiona visualmente.<br />

b) a presença de sintaxe antidiscursiva, suprimindo<br />

os elementos de ligação tradicionais da frase.<br />

c) incorporação de temas e formas do folclore, numa<br />

aproximação com ufanismo romântico.<br />

d) tendência à criação vocabular, à sintaxe apurada<br />

e à maior concisão de linguagem.<br />

e) técnica da repetição, como elemento decisivo para<br />

a fixação da mensagem nuclear do poema.<br />

611. Unimep-SP<br />

Observando a linguagem e as idéias, relacione os<br />

textos às corretes literárias.<br />

a) Simbolismo<br />

b) Modernismo<br />

c) Romantismo<br />

d) Concretismo<br />

e) Barroco<br />

302<br />

I. ( )<br />

Nasce o sol, e não dura mais que um dia;<br />

Depois da luz se segue a noite escura;<br />

Em tristes sombras morre a formosura,<br />

Em contínuas tristezas a alegria.<br />

II. ( )<br />

Escutai-me, leitor, a minha história<br />

É fantasia sim, porém amei-a.<br />

Sonhei-a em sua palidez marmórea,<br />

Como a ninfa seios nus... Não sonho glória,<br />

Escrevi porque a alma tinha cheia<br />

Numa insônia que o spleen entristecia<br />

De vibrações convulsas de ironia!<br />

III. ( )<br />

Assim eu quereria o meu último poema<br />

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples<br />

e menos<br />

[intencionais<br />

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas<br />

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume<br />

A pureza das chamas em que se consomem os<br />

diamantes<br />

[mais límpidos<br />

A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.<br />

IV. ( )<br />

Pelas regiões tenuíssimas da bruma<br />

vagam as Virgens e as Estrelas raras...<br />

Como o leve aroma das searas<br />

todo o horizonte em derredor perfuma.<br />

V. ( )<br />

um corpo cai morto<br />

um morto cai corpo<br />

um cai morto<br />

um corpo cai<br />

um morto um<br />

morto corpo<br />

um cai<br />

corpo<br />

morto<br />

612. FCMSC-SP<br />

Forma<br />

Reforma<br />

Disforma<br />

Transforma<br />

Conforma<br />

Informa<br />

Forma<br />

Esse poema de José Lino Grünewald é escrito dentro<br />

dos princípios do Concretismo, movimento poético<br />

brasileiro da década de 50, neste século XX. No<br />

Concretismo:<br />

I. a poesia não fica apenas no âmbito do consumo<br />

auditivo.<br />

II. à noção de poesia se incorpora um novo elemento:<br />

o visual.<br />

III. o apelo à comunicação não-verbal exerce papel<br />

fundamental.


PV2D-07-54<br />

Escreveu-se corretamente em:<br />

a) I e II apenas.<br />

b) I e III apenas.<br />

c) II e III apenas.<br />

d) I, II e III.<br />

e) nenhuma das frases.<br />

613. Vunesp<br />

Por que é então que este livro<br />

tão longamente é enviado<br />

a quem faz uma poesia<br />

de distinta liga de aço?<br />

Envio-o ao leitor contra,<br />

Enviou-o ao leitor maugrado<br />

e intolerante, o que Pound<br />

diz de todos o mais grato;<br />

àquele que me sabendo<br />

não poder ser de seu lado,<br />

soube ler com acuidade<br />

poetas revolucionados.<br />

O trecho faz parte do poema-dedicatória A Augusto de<br />

Campos (Agrestes, 1985). O poeta, autor também de<br />

Auto do Frade, Museu de tudo, A escola das facas, A<br />

educação pela pedra etc., refere-se a Augusto de Campos<br />

como leitor ideal e alude à corrente poética a que<br />

este pertence. O autor do trecho e a corrente poética<br />

desse virtual leitor são, respectivamente:<br />

a) Ferreira Gullar e Concretismo.<br />

b) Haroldo de Campos e Neoconcretismo.<br />

c) Caetano Veloso e Tropicalismo.<br />

d) João Cabral de Melo Neto e Concretismo.<br />

e) Carlos Drummond de Andrade e “geração de<br />

45”.<br />

614. UEL-PR<br />

O movimento neoconcreto, no Brasil, surge em 1959, a<br />

partir do manifesto escrito por Ferreira Gullar. Algumas<br />

de suas características são o distanciamento da arte<br />

figurativa e a aproximação com o geométrico, inclusive<br />

buscando o rompimento entre o espaço vivencial e o<br />

da obra. Analise as imagens a seguir.<br />

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema,<br />

é correto afirmar que são neoconcretistas apenas as<br />

imagens:<br />

a) I e II.<br />

b) I e III.<br />

c) II e IV.<br />

d) I, II e IV.<br />

e) II, III e IV.<br />

615. UEL-PR<br />

Leia a estrofe inicial, transcrita abaixo, do poema A<br />

bomba suja, de Ferreira Gullar.<br />

Introduzo na poesia<br />

a palavra diarréia.<br />

Não pela palavra fria<br />

mas pelo que ela semeia.<br />

GULLAR, Ferreira. Toda Poesia.<br />

É correto afirmar que nesse poema se encontra:<br />

a) o intuito de correlacionar aspectos estéticos com<br />

elementos comumente considerados pouco líricos,<br />

o que se faz presente também na obra de João<br />

Cabral de Melo Neto.<br />

b) o gosto pelo escândalo, através da supervalorização<br />

de elementos lexicais que causam impacto ao<br />

romper com a tradição da versificação em língua<br />

portuguesa.<br />

c) o primeiro momento na poesia brasileira em que se<br />

recorre a termos ou a idéias considerados pouco<br />

líricos.<br />

d) uma forte influência parnasiana, que se traduz na expressão<br />

“palavra fria”, tão utilizada por Olavo Bilac.<br />

e) uma preocupação metalingüística incomum na<br />

geração à qual pertence Ferreira Gullar.<br />

616. UFSM-RS<br />

Vestibular<br />

Paulo Roberto Parreiras<br />

desapareceu de casa.<br />

Trajava calças cinza e camisa branca<br />

e tinha dezesseis anos.<br />

Parecia com teu filho, teu irmão,<br />

teu sobrinho, parecia<br />

com o filho do vizinho<br />

mas não era. Era Paulo<br />

Roberto Parreiras<br />

que não passou no vestibular.<br />

Recebeu a notícia quinta-feira à tarde,<br />

ficou triste<br />

e sumiu.<br />

De vergonha? de raiva?<br />

GULLAR, Ferreira. Dentro da noite veloz.<br />

Assinale (F) falso ou (V) verdadeiro para as afirmações<br />

abaixo. Após o preenchimento, assinale a alternativa<br />

que corresponde à opção correta.<br />

( ) Vestibular, pelo seu estilo despojado, pela ausência<br />

de metro e rima, enquadra-se numa concepção<br />

poética moderna.<br />

( ) A ausência de uma linguagem figurada, de recursos<br />

métricos e rítmicos retira de Vestibular as<br />

características de um texto poemático.<br />

303


( ) A poesia está nos fatos (Oswald de Andrade, em<br />

Poesia Pau-Brasil); o aspecto poético presente em<br />

Vestibular encontra-se na angústia e na preocupação<br />

geradas por um fato corriqueiro.<br />

( ) O emprego do pronome possessivo “teu” em vez de<br />

“seu” denota uma proximidade entre autor e leitor.<br />

( ) Vestibular é um poema narrativo, marcado por<br />

simplicidade e coloquialidade.<br />

a) V – F – V – F – V d) V – V – V – F – V<br />

b) V – F – V – V – V e) F – V – V – F – F<br />

c) V – F – F – V – V<br />

Texto para as questões 617 e 618.<br />

Meu povo, meu poema<br />

Meu povo e meu poema crescem juntos<br />

como cresce no fruto<br />

a árvore nova<br />

No povo meu poema vai nascendo<br />

como no canavial<br />

nasce verde o açúcar<br />

No povo meu poema está maduro<br />

como o sol<br />

na garganta do futuro<br />

Meu povo em meu poema<br />

se reflete<br />

como a espiga se funde em terra fértil<br />

Ao povo seu poema aqui devolvo<br />

menos como quem canta<br />

do que planta<br />

Ferreira Gullar<br />

617. Cesgranrio-RJ<br />

Assinale a opção que contém a idéia central da primeira<br />

estrofe do poema de Ferreira Gullar.<br />

a) O poema, por meio do povo, se solidifica para o<br />

futuro.<br />

b) A poesia atinge sua função social plena.<br />

c) A visão do futuro vai-se potencializar pela união<br />

entre povo e poema.<br />

d) O poema é o alimento do povo que o conduz ao<br />

crescimento.<br />

e) A essência do povo e a realização da forma poética<br />

estão dissociadas.<br />

618. Cesgranrio-RJ<br />

Muitas vezes, em um mesmo poema, encontram-se<br />

traços que se repetem em outras estéticas literárias,<br />

como se percebe no texto, de Ferreira Gullar.<br />

Assinale o que não se encontra nesse texto.<br />

a) Dualismo e antíteses, como no Barroco.<br />

b) Valorização de elementos da natureza, como no<br />

Romantismo.<br />

c) Inversão sintática, herança dos poetas latinos,<br />

como no Parnasianismo.<br />

d) Presença da metáfora e das cores, como no Simbolismo.<br />

e) Uso do verso livre, como no Modernismo.<br />

304<br />

619. Unitau-SP<br />

Segundo o poeta Mário Chamie, o movimento poético<br />

que opõe à palavra-coisa, do concretismo, a palavraenergia,<br />

que não considera o poema como um objeto<br />

estático e fechado e, sim, como um produto dinâmico<br />

passível de transformação pela influência ou manipulação<br />

do leitor, é:<br />

a) o hermetismo.<br />

b) o cubismo.<br />

c) o simbolismo.<br />

d) o dadaísmo.<br />

e) a poesia-práxis.<br />

620. UFPR<br />

O poema que se segue integra o volume intitulado<br />

Muitas vozes, publicado por Ferreira Gullar no ano<br />

de 1999.<br />

Ouvindo apenas<br />

e gato e passarinho<br />

e gato<br />

e passarinho (na manhã<br />

veloz<br />

e azul<br />

de ventania e ar<br />

vores<br />

voando)<br />

e cão<br />

latindo e gato e passarinho<br />

(só<br />

rumores<br />

de cão<br />

e gato<br />

e passarinho<br />

ouço<br />

deitado<br />

no quarto<br />

às dez da manhã<br />

de um novembro<br />

no Brasil)<br />

Acerca do poema acima reproduzido, considere as<br />

seguintes afirmativas:<br />

I. No plano da linguagem poética, pelo menos um dos<br />

procedimentos empregados pelo autor em Muitas<br />

vozes encontra-se exemplificado em “Ouvindo<br />

apenas”: o texto espacializado (a linguagem de<br />

base visual).<br />

II. O sujeito lírico de “Ouvindo apenas” mantém-se<br />

desligado do mundo objetivo, mostrando-se insensível<br />

a estímulos físicos.<br />

III. O emprego de quadras e tercetos isométricos<br />

associa “Ouvindo apenas” ao modelo estrutural<br />

do soneto.<br />

IV. O poema justapõe dois registros da realidade: fora<br />

dos parênteses, os elementos da realidade são<br />

relacionados de forma objetiva; dentro dos parênteses,<br />

fica evidenciada a atuação do componente<br />

subjetivo.<br />

V. Embora use recursos do fazer poético concretista,<br />

Ferreira Gullar harmoniza a ousadia formal com a<br />

representação da emoção.


PV2D-07-54<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.<br />

b) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras.<br />

c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.<br />

d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.<br />

e) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras.<br />

621. PUC-PR<br />

Leia o poema a seguir:<br />

o bicho alfabeto<br />

tem vinte e três patas<br />

ou quase<br />

por onde ele passa<br />

nascem palavras<br />

e frases<br />

com frases<br />

se fazem asas<br />

palavras<br />

o vento leve<br />

o bicho alfabeto<br />

passa<br />

fica o que não se escreve<br />

Paulo Leminski<br />

Identifique a alternativa correta.<br />

a) A metalinguagem, presente no poema transcrito, é<br />

um recurso exclusivo da poesia contemporânea.<br />

b) Aproximando o alfabeto a um ser capaz de se<br />

movimentar o poeta favorece a idéia central do<br />

poema: tudo o que tem a ver com palavras está<br />

sujeito a mudanças.<br />

c) Paulo Leminski, representante da poesia marginal,<br />

enfatiza no poema a inutilidade da palavra<br />

escrita.<br />

d) Ao apresentar o alfabeto como um bicho com número<br />

ímpar de patas, Leminski cria a idéia de um<br />

desequilíbrio que prejudica a expressão poética.<br />

e) A ausência de metáforas e de rimas é característica<br />

não apenas do poema citado, mas de toda a obra<br />

de Paulo Leminski.<br />

622. PUC-SP<br />

beba coca cola<br />

babe cola<br />

beba coca<br />

babe<br />

caco<br />

cola<br />

cola<br />

c l o a c a<br />

caco<br />

Décio Pignatari<br />

Alfredo Bosi afirma que, no contexto da poesia brasileira,<br />

o Concretismo afirmou-se como antítese à vertente<br />

intimista e estetizante dos anos 40 e repropôs lemas,<br />

formas e, não raro, atitudes peculiares ao Modernismo<br />

de 1922 em sua fase mais polêmica e mais aderente<br />

às vanguardas européias. Leia atentamente o poema<br />

acima a aponte as características da poesia concreta<br />

presentes nele.<br />

623. UFES<br />

Na poesia concreta, ocorrem a distribuição dos itens<br />

lexicais na ordem sintática, a ausência de integração<br />

entre as frases, o corte no interior das palavras, a intensificação<br />

do uso de repetições sonoras, a abolição do<br />

verso, a não-linearidade, o uso construtivo dos espaços<br />

em branco, entre outros recursos e procedimentos,<br />

constituindo uma constelação de significados.<br />

No poema acima, dada a ausência de conectores e de<br />

sinais de pontuação, comente como se estabelecem<br />

os nexos de coerência, relacione-os ao efeito visual e,<br />

a partir disso, desenvolva uma interpretação.<br />

624. Vunesp<br />

Sabemos que a poesia concreta adota, entre outros<br />

procedimentos, a valorização do poema no espaço<br />

branco da página. Com apoio das artes gráficas, os<br />

textos ganham em expressividade visual. Baseado<br />

neste comentário, releia o poema de Arnaldo Antunes,<br />

como foi originalmente editado na figura adiante, e<br />

reponda ao que se pede.<br />

ANTUNES, Arnaldo. Tudos. 3ª ed. São Paulo: Iluminuras, 1993.<br />

a) Em que sentido esse texto poderia se enquadrar<br />

nos parâmetros da poesia concreta?<br />

b) Justifique sua resposta fazendo uma descrição de,<br />

pelo menos, um procedimento gráfico expressivo<br />

na construção do poema.<br />

305


Texto para as questões 625 e 626.<br />

306<br />

Poética de Anchieta<br />

Anchieta escrevia na areia,<br />

E a maré levava...<br />

Anchieta escrevia na areia,<br />

E a maré levava...<br />

O bom jesuíta havia assim criado<br />

uma espécie de antecipação<br />

do computador ...<br />

Zuca Sardanga<br />

625. Mackenzie-SP<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) No poema, valoriza-se a obra do jesuíta pelo fato<br />

de, já no século XVI, Anchieta ter inventado uma<br />

técnica que seria utilizada somente no século<br />

XX.<br />

b) O poema deixa evidente que não há diferenças<br />

entre “escrever na areia” e “escrever no computador”,<br />

já que os registros serão sempre apagados<br />

da memória histórica.<br />

c) Explicita-se, no texto, o seguinte aspecto da<br />

manifestação artística: as qualidades literárias de<br />

um autor dependem, essencialmente, do suporte<br />

utilizado.<br />

d) No texto está subentendida a idéia de efemeridade<br />

do registro gráfico, dada a facilidade com que se<br />

podem “perder” os textos.<br />

e) Ao evidenciar a inutilidade da produção jesuítica<br />

no verso E a maré levava..., o texto desqualifica o<br />

teor poético da obra de Anchieta.<br />

626. Mackenzie-SP<br />

A primeira estrofe do poema recupera, da tradição<br />

poética medieval, o seguinte traço:<br />

a) a idealização da natureza, presente nas cantigas<br />

de amor.<br />

b) a progressão textual lógico-argumentativa, típica<br />

das cantigas de amigo.<br />

c) o vocabulário erudito das novelas de cavalaria.<br />

d) a ironia corrosiva das cantigas de maldizer.<br />

e) o ritmo cantante da métrica popular, presente nos<br />

cancioneiros.<br />

627. Unicamp-SP<br />

Leia com atenção o poema de Carlos de Oliveira e<br />

responda às questões que se seguem.<br />

Lavoisier<br />

Na poesia,<br />

natureza variável<br />

das palavras,<br />

nada se perde<br />

ou cria,<br />

tudo se transforma:<br />

cada poema,<br />

no seu perfil<br />

incerto<br />

e caligráfico,<br />

já sonha<br />

outra forma.<br />

O princípio elaborado por Lavoisier diz que: na natureza<br />

nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.<br />

O que teria levado Carlos de Oliveira a dar a esse<br />

poema o título de Lavoisier?<br />

Texto para as questões 628 e 629.<br />

Samba da caixa preta<br />

(da série Poesia numa hora dessas?)<br />

Nosso amor explodiu no ar<br />

e foi destroço pra tudo que é<br />

lado.<br />

Recuperaram aquele colar<br />

e um bilhete chamuscado<br />

dizendo “não tente me achar,<br />

entre nós está tudo acabado.”<br />

E dentro da caixa preta<br />

o meu coração a pulsar.<br />

Oi, a pulsar.<br />

Luís Fernando Veríssimo<br />

628. Mackenzie-SP<br />

O texto:<br />

a) sugere que, mesmo após o término, tenham restado<br />

marcas de um relacionamento amoroso.<br />

b) expõe a contradição entre as fases de conflito (Nosso<br />

amor explodiu no ar) e aquelas de perfeita harmonia<br />

entre os amantes (o meu coração a pulsar).<br />

c) atribui às freqüentes ações de terroristas a impossibilidade<br />

do amor nos dias atuais.<br />

d) refere-se, por meio do verbo “explodir”, ao momento<br />

em que um amor desabrochou, e, em seguida,<br />

narra o seu desfecho trágico.<br />

e) denota o sarcasmo do “eu” em face da perda da<br />

mulher amada em um acidente aéreo.<br />

629. Mackenzie-SP<br />

É correto afirmar que o Samba da caixa preta:<br />

a) minimiza a intensidade da ruptura amorosa por<br />

meio da exploração de imagens que transmitem<br />

tranqüilidade.<br />

b) se apropria de traços de letras de samba, principalmente<br />

pelo uso de Oi, expressão comum em<br />

performances musicais desse gênero.<br />

c) apresenta subtítulo que reflete a adequação do<br />

tipo de texto à situação em que foi produzido.<br />

d) comprova, por meio do trecho entre aspas, que o<br />

ser amado já havia tentado escapar do eu lírico<br />

muitas vezes.<br />

e) confere maior destaque às características das<br />

personagens e dos espaços do que às da situação<br />

em foco.<br />

630. UFES<br />

O chamado palavrão (“palavra grosseira e/ou obscena”),<br />

quando usado em textos literários, pode produzir diversos<br />

efeitos no leitor, da rejeição à surpresa, do asco ao<br />

humor, do desprezo à reflexão, e até mesmo uma certa<br />

indiferença, dado o desgaste provocado pelo seu uso<br />

cada vez mais indiscriminado na vida cotidiana.<br />

Explique que diferenças, ou semelhanças, há no uso<br />

do palavrão nos textos abaixo, de Gregório de Matos<br />

(Define a sua cidade) e de Rubem Fonseca (Intestino<br />

grosso).


PV2D-07-54<br />

“Se de dous ff composta está a nossa Bahia, errada a<br />

ortografia, a grande dano está posta: eu quero fazer<br />

aposta e quero um tostão perder, que isso a há de<br />

perverter, se o furtar e o foder bem não são os ff que<br />

tem esta cidade ao meu ver.”<br />

“Você não acha que a pornografia falada está desaparecendo?<br />

Nos campos de futebol coros de meninas<br />

entoam esportivamente canções como esta, que ouvi<br />

domingo: Um, dois, três, / quatro, cinco, mil. / Eu quero<br />

que o Flu / vá pra puta que o pariu. Ambas as palavras,<br />

puta e pariu, derivam do palavrão-chave, que é foder.<br />

É evidente que, no caso, as palavras estão tendo um<br />

efeito catártico, de alívio de tensões e pressões.”<br />

631.<br />

Relacione as obras abaixo com seus respectivos<br />

autores.<br />

I Quarup ( ) Fernando Gabeira<br />

II. O que é isso, companheiro? ( ) Lygia Fagundes<br />

Teles<br />

III. O vampiro de Curitiba ( ) Dalton Trevisan<br />

IV. Feliz ano velho ( ) Antônio Callado<br />

V. As meninas ( ) Marcelo Rubens<br />

Paiva<br />

a) I, II, III, V, IV. d) II, V, III, I, IV.<br />

b) V, IV, III, II, I.<br />

c) III, V, I, IV, II.<br />

e) IV, V, II, I, III.<br />

632.<br />

O Paraná também apresenta autores de renome nacional<br />

e internacional. Dentre esses, há um contista<br />

conhecido em vários países do mundo, em cujas<br />

línguas foram traduzidas obras de sua autoria como O<br />

vampiro de Curitiba, Cemitério de elefantes e Novelas<br />

nada exemplares.<br />

Essa consideração inicial associa-se a:<br />

a) Paulo Leminski.<br />

b) Cristóvão Tezza.<br />

c) Emiliano Perneta.<br />

d) Dalton Trevisan.<br />

e) Emílio de Meneses.<br />

633. UFR-RJ<br />

Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres<br />

amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem<br />

uma pedrinha cor-de-bife que faz “tuim” na cabeça da<br />

gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, é<br />

claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura),<br />

onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco.<br />

Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na minha<br />

terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam<br />

apitam de repente e sem hora marcada. Elas não são<br />

mais das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos<br />

camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranqüilidade<br />

e aflição.<br />

BONASSI, Fernando. “15 cenas de descobrimento de Brasis”. In:<br />

MORICONI, Ítalo (org). Os cem melhores contos brasileiros do século.<br />

Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 607.<br />

Sobre o uso do nível de linguagem empregado no texto,<br />

é correto afirmar que é:<br />

a) inaceitável, por ser tratar de um texto literário, cujo<br />

nível de linguagem exigido é o culto.<br />

b) adequado às intenções de crítica e de denúncia<br />

do mundo contemporâneo.<br />

c) inadequado para abordar o tema romântico do exílio<br />

de uma perspectiva crítica e contemporânea.<br />

d) aceitável por se tratar de texto literário, mas inadequado<br />

à intenção jornalística do autor.<br />

e) inadequado porque os escritores brasileiros<br />

contemporâneo não falam nem escrevem dessa<br />

maneira.<br />

634. FCMSC-SP<br />

Obras de Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Clarice Lispector<br />

e Lygia Fagundes Telles atestam o fato de que:<br />

a) a linguagem (desagregadora) e a visão do mundo<br />

(reivindicatória, anárquica) dos modernistas de<br />

primeira geração constituem a fonte primeira de<br />

inspiração dos contistas contemporâneos.<br />

b) a poesia de caráter social e reivindicatória tem<br />

caracterizado a criação literária dos autores modernos.<br />

c) estilos muito semelhantes, com traços de neoromantismo,<br />

dominam a criação literária contemporânea.<br />

d) o conto, de tendências diversas (de denúncia<br />

social, intimista, de especulação da existência),<br />

tem sido uma constante da produção literária<br />

contemporânea.<br />

e) romances politicamente comprometidos, neonaturalistas,<br />

de denúncia das mazelas da sociedade,<br />

constituem o aspecto mais importante da literatura<br />

da geração de 1930.<br />

635. FGV-SP<br />

Observe o trecho a seguir, retirado de Cemitério de<br />

elefantes, de Dalton Trevisan.<br />

Há um cemitério de bêbados na minha cidade.<br />

Nos fundos do mercado de peixe e à margem do<br />

rio ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são<br />

felizes. A população considera os animais sagrados,<br />

provê as suas necessidades de cachaça e peixe com<br />

pirão de farinha.<br />

No trivial, contentam-se com as sobras do mercado.<br />

Quando ronca a barriga, ao ponto de perturbar-lhes<br />

a sesta, saem do abrigo e, arrastando os pesados pés,<br />

atiram-se à luta pela vida. Enterram-se no mangue até<br />

os joelhos na caça ao caranguejo ou, tromba vermelha<br />

no ar, espiam a queda dos ingás maduros.<br />

Elefantes mal feridos coçam perebas, sem nenhuma<br />

queixa, escarrapachados sobre as raízes<br />

que servem de cama e cadeira, a beber e beliscar<br />

pedacinho de peixe.<br />

A respeito desse trecho, assinale a alternativa correta.<br />

a) O tratamento dado ao tema é sarcástico e até<br />

satírico.<br />

b) Os pormenores da descrição são índices da revolta<br />

das personagens.<br />

c) O tema caracteriza o texto como um conto policial.<br />

d) O texto trata de um fato do cotidiano narrado com<br />

traços do Neo-realismo.<br />

e) No fragmento, predomina um narrador na primeira<br />

pessoa.<br />

307


Texto para as questões de 636 a 640.<br />

– Vem, Dudu!<br />

O cachorrinho não ia. Dona Casemira preparava<br />

a comida do cachorrinho e levava até ele.<br />

– Está com fome, Dudu?<br />

Dona Casemira botava o prato de comida na frente<br />

do cachorrinho.<br />

– Come tudo, viu, Dudu?<br />

Dona Casemira passava o dia inteiro falando<br />

com Dudu.<br />

– Que dia feio, hein, Dudu?<br />

– Vamos ver nossa novela, Dudu?<br />

– Vamos dar uma volta, Dudu?<br />

Dona Casemira e seu cachorrinho viveram juntos<br />

durante sete, oito anos. Até que Dona Casemira morreu.<br />

E no velório de Dona Casemira, lá estava o cachorrinho<br />

sentado num canto, com o olhar parado. A certa<br />

altura do velório o cachorrinho suspirou e disse:<br />

– Pobre da Dona Casemira...<br />

Os parentes e amigos se entreolharam. Quem dissera<br />

aquilo? Não havia dúvida. Tinha sido o cachorro.<br />

– O que... o que foi o que você disse? – perguntou<br />

um neto mais decidido, enquanto os outros recuavam,<br />

espantados.<br />

– Pobre da Dona Casemira – repetiu o cachorro.<br />

– De certa maneira, me sinto um pouco culpado...<br />

– Culpado por quê?<br />

– Por nunca ter respondido às perguntas dela. (...)<br />

Agora é tarde.<br />

A sensação foi enorme. Um cachorro falando!<br />

Chamem a TV!<br />

– E por que – perguntou o neto mais decidido<br />

– você nunca respondeu?<br />

– É que eu sempre interpretei como sendo perguntas<br />

retóricas...”<br />

Luís Fernando Veríssimo, O analista de Bagé.<br />

636.<br />

O narrador do texto acima:<br />

a) permanece isento em relação aos fatos narrados,<br />

jamais os comentando ou neles interferindo.<br />

b) dá nome, a certa altura, ao sentimento que experimentava<br />

diante da vida da protagonista.<br />

c) indica não ser indiferente à solidão em que vivia<br />

Dona Casemira.<br />

d) é onisciente em relação a Dudu, mas não o é em<br />

relação à dona do cachorro.<br />

e) participa discretamente da ação narrada, sem o<br />

que não seria possível desenvolvê-la.<br />

637.<br />

Na narrativa, a verossimilhança:<br />

a) deve-se à linguagem de dicção infantil, que caracteriza<br />

a história como um típico caso comentado<br />

entre crianças.<br />

b) cede lugar ao elemento supra-real, que possibilita<br />

os efeitos de imprevisível humor.<br />

c) deve-se à cena do velório, por meio da qual se<br />

esclarecem os fatos até então enigmáticos.<br />

d) quebra-se durante o velório, com a interferência<br />

dos parentes e amigos.<br />

e) cede lugar ao humor na cena do velório, reconstituindo-se<br />

imprevisivelmente na última frase.<br />

308<br />

638.<br />

De acordo com o texto considere as seguintes afirmações.<br />

I. O autor vale-se, basicamente, de três espaços<br />

distintos no desenvolvimento da narrativa.<br />

II. O tempo da narrativa não está organizado de modo<br />

linear.<br />

III. As repetições de palavras intentam um efeito de<br />

ingenuidade, a ser quebrado por um fino humor.<br />

Dessas afirmações, apenas:<br />

a) I está correta.<br />

b) II está correta.<br />

c) I e II estão corretas.<br />

d) I e III estão corretas.<br />

e) II e III estão corretas.<br />

639.<br />

Assinale a alternativa em que se analisa corretamente<br />

o tipo de humor criado pelo texto.<br />

a) Combinação entre o macabro e o ridículo.<br />

b) Contraste entre o lírico e o grotesco.<br />

c) Seqüência de clímax e anticlímax.<br />

d) Contraste entre o macabro e o irônico.<br />

e) Combinação entre o fantástico e o irônico.<br />

640.<br />

Indique a seqüência segundo a qual se apresentam no<br />

texto os excepcionais atributos de Dudu.<br />

a) Remorso; análise de discurso; interlocução.<br />

b) Constrangimento; remorso; emprego equivocado<br />

de expressão.<br />

c) Análise de discurso; emprego equivocado de<br />

expressão; melancolia.<br />

d) Equívoco de expressão; conhecimento de figura<br />

de linguagem; remorso.<br />

e) Melancolia; interlocução; conhecimento de figura<br />

de linguagem.<br />

641. UFES<br />

atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendmultipuorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivoracidade<br />

city<br />

cité<br />

O primeiro dos três “versos” do poema “cidade /<br />

city / cité”, de Augusto de Campos, compõe-se de<br />

uma longa “palavra” em que se pode subentender<br />

o termo “cidade” após “atro[cidade]”, “cadu[cidade]”,<br />

“capa[cidade]”, “causti[cidade]”, “dupli[cidade]” e,<br />

assim por diante, até “voracidade”, a que se seguem<br />

os “versos” “city” e “cité”. Com base nessa obra, é<br />

correto afirmar que:<br />

a) a poesia concreta defendia o êxodo urbano, ou<br />

seja, a fuga da cidade para o campo em busca de<br />

condições mais saudáveis de vida.<br />

b) o caráter cosmopolita da poesia concreta se pode<br />

ilustrar com a presença plurilíngüe de vocábulos<br />

como “cidade”, “city” e “cité”.


PV2D-07-54<br />

c) o poema de Augusto de Campos busca, a um tempo,<br />

a “fero[cidade]” e a “simpli[cidade]” da Bossa<br />

Nova e da Tropicália, respectivamente.<br />

d) os poemas concretistas privilegiaram o trabalho<br />

com versos de métrica regular e bastante extensos<br />

(como em “velo[cidade]” e “multipli[cidade]”.<br />

e) o termo “voracidade” (“atributo daquele que<br />

devora”), fechando o verso, confirma o caráter<br />

monótono e homogêneo que a cidade possui.<br />

642. PUCCamp-SP<br />

Possa ser que ele diga oxente Getúlio, mas você<br />

não recebeu o meu recado, que é isso, Getúlio, vá<br />

sentando aí e vamos resolver esse assunto, você é<br />

meus pecados, seu Getúlio. Uma coisa dessas. Eu<br />

digo: o senhor não entendeu o que eu falei. Eu falei que<br />

o homem que o senhor mandou em Paulo Afonso – e<br />

me diga logo, mandou ou não mandou? Me diga logo,<br />

me diga logo! Mandei seu Getúlio, mas a coisa correu<br />

diferente, vamos conversar. (...) Aquele homem que o<br />

senhor mandou nessa condição, no hudso preto com<br />

Amaro, que nem estava lá na hora e estava dormindo<br />

na Chefatura ou olhando os crentes na rua Duque de<br />

Caxias, que ele apreciava os cantos dos crentes, eu<br />

acho, pois então, aquele homem que o senhor mandou<br />

não é mais aquele. Eu era ele, agora eu sou eu.<br />

Nesse trecho do romance Sargento Getúlio, de João<br />

Ubaldo Ribeiro:<br />

a) o narrador-protagonista imagina o que dirá ao<br />

chefe que lhe deu a espinhosa missão, se este<br />

fingir que não se lembra das ordens proferidas<br />

ou se disser que a missão fora atribuída a outra<br />

pessoa.<br />

b) o narrador protagonista, sabendo que caíra numa<br />

armadilha política, pensa em explicar-se com o<br />

chefe, mostrando-lhe o quanto os perigos corridos<br />

reduziram o ímpeto e a valentia do antigo<br />

sargento.<br />

c) o narrador cede a palavra ao protagonista, entrando<br />

em seus pensamentos e revelando o que faria<br />

Getúlio tão logo este se visse cara a cara com o<br />

chefe que lhe dera a missão de trazer o preso a<br />

Aracaju.<br />

d) Getúlio, enraivecido com a recente morte de<br />

Amaro, tece planos de vingança contra o chefe<br />

que lhe ordenara uma viagem da qual ele não<br />

poderia voltar, a menos que renunciasse à própria<br />

identidade.<br />

e) Getúlio projeta um possível diálogo com seu<br />

chefe, a cujas evasivas responderá com fatos e a<br />

quem revelará sentir-se outro homem, depois da<br />

verdadeira saga que foi sua viagem de volta com<br />

o preso.<br />

643. UFRGS-RS<br />

As características apontadas a seguir estão presentes<br />

nos contos de Rubem Fonseca, à exceção de:<br />

a) problematização do homem urbano e da impossibilidade<br />

do relacionamento afetivo estável.<br />

b) dissecação das causas da violência urbana e os<br />

efeitos desta na vida e na psicologia do brasileiro.<br />

c) desvelamento das modificações dos padrões de<br />

comportamento sexual e dos conflitos daí decorrentes.<br />

d) representação dos tipos sociais em suas próprias linguagens,<br />

respeitando estilo e código adequados.<br />

e) utilização de técnicas ultramodernas de comunicação<br />

sem abrir mão de uma utopia comunitária.<br />

644. Fuvest-SP<br />

Os acontecimentos foram sabidos e compreendidos<br />

mediante minha observação pessoal, direta,<br />

ou então, segundo o testemunho de alguns dos<br />

envolvidos. Às vezes interpretei episódios e<br />

comportamentos – não fosse eu um advogado<br />

acostumado, profissionalmente, ao exercício da<br />

hermenêutica.<br />

O trecho acima, de A grande arte, pretende emprestar<br />

credibilidade ou verossimilhança à seguinte técnica<br />

compositiva desse romance:<br />

a) criação de enredos interligados e produção de<br />

suspense.<br />

b) mistura de narrador-personagem e narrador onisciente.<br />

c) junção de monólogo interior e narrativa em terceira<br />

pessoa.<br />

d) associação de ponto de vista subjetivo e objetividade<br />

científica.<br />

e) multiplicação dos focos narrativos e produção do<br />

suspense.<br />

Texto para as questões de 645 a 647.<br />

A nuvem<br />

– Fico admirado como é que você, morando<br />

nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira<br />

sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar!<br />

E meu amigo falou de água, telefone, Light em<br />

geral, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos<br />

na rua, etc. etc. etc.<br />

Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas,<br />

grávido de razões. Mas que posso fazer?<br />

Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se<br />

eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem<br />

é que vai agüentar me ler? Acho que o leitor gosta de<br />

ver suas queixas no jornal, mas em termos.<br />

Além disso, a verdade não está apenas nos<br />

buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade<br />

que as amendoeiras neste inverno deram um<br />

show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar?<br />

E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma<br />

jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses<br />

encantamentos de moça por um senhor maduro<br />

duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que<br />

importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo<br />

terna e gravemente; sem melancolia, porque sem<br />

ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na<br />

brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as<br />

cinzas de meu crepúsculo.<br />

E olhem só que tipo de frase estou escrevendo!<br />

Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para<br />

o chão – e seus tradicionais buracos.<br />

Rubem Braga – Ai de ti, Copacabana!<br />

309


645. Fatec-SP<br />

É correto afirmar que, a partir da crítica que o amigo<br />

lhe dirige, o narrador cronista:<br />

a) sente-se obrigado a escrever sobre assuntos<br />

exigidos pelo público.<br />

b) reflete sobre a oposição entre literatura e realidade.<br />

c) reflete sobre diversos aspectos da realidade e sua<br />

representação na literatura.<br />

d) defende a posição de que a literatura não deve<br />

ocupar-se com problemas sociais.<br />

e) sente que deve mudar seus temas, pois sua escrita<br />

não está acompanhando os novos tempos.<br />

646. Fatec-SP<br />

Em E olhem só que tipo de frase estou escrevendo!<br />

Tome tenência, velho Braga, o narrador:<br />

a) chama a atenção dos leitores para a beleza do<br />

estilo que empregou.<br />

b) revela ter consciência de que cometeu excessos<br />

com a linguagem metafórica.<br />

c) exalta o estilo por ele conquistado e convida-se a<br />

reverenciá-lo.<br />

d) percebe que, por estar velho, seu estilo também<br />

envelheceu.<br />

e) dá-se conta de que sua linguagem não será entendida<br />

pelo leitor comum.<br />

647. Fatec-SP<br />

Com relação ao gênero do texto ao lado, é correto<br />

afirmar que a crônica:<br />

a) parte do assunto cotidiano e acaba por criar reflexões<br />

mais amplas.<br />

b) tem como função informar o leitor sobre os problemas<br />

cotidianos.<br />

c) apresenta uma linguagem distante da coloquial,<br />

afastando o público leitor.<br />

d) tem um modelo fixo, com um diálogo inicial seguido<br />

de argumentação objetiva.<br />

e) consiste na apresentação de situações pouco<br />

realistas, em linguagem metafórica.<br />

Texto para as questões 648 e 649.<br />

Pontuar é sinalizar gramatical e expressivamente um<br />

texto.<br />

Celso Cunha, Gramática do Português Contemporâneo, p.618.<br />

Texto I<br />

– Que bom vento o trouxe a Catumbi a semelhante<br />

hora? perguntou Duarte, dando à voz uma expressão<br />

de prazer, aconselhada não menos pelo interesse que<br />

pelo bom-tom.<br />

– Não sei se o vento que me trouxe é bom ou mau,<br />

respondeu o major sorrindo por baixo do espesso bigode<br />

grisalho; sei que foi um vento rijo. Vai sair?<br />

– Vou ao Rio Comprido.<br />

– Já sei; vai à casa da viúva Meneses. Minha mulher<br />

e as pequenas já devem estar: eu irei mais tarde,<br />

se puder. Creio que é cedo, não? Lopo Alves tirou o<br />

chapéu e viu que eram nove horas e meia. Passou a<br />

mão pelo bigode, levantou-se, deu alguns passos na<br />

sala, tornou a sentar-se e disse:<br />

– Dou-lhe uma notícia, que certamente não espera.<br />

Saiba que fiz... fiz um drama.<br />

– Um drama! Exclamou o bacharel.<br />

Machado de Assis, Contos.<br />

3<strong>10</strong><br />

Texto II<br />

A Chegada<br />

E quando cheguei à tarde na minha casa lá no 27,<br />

ela já me aguardava andando pelo gramado, veio me<br />

abrir o portão pra que eu entrasse com o carro, e logo<br />

que saí da garagem subimos juntos a escada pro terraço,<br />

e assim que entramos nele abri as cortinas do centro e<br />

nos sentamos nas cadeiras de vime, ficando com nossos<br />

olhos voltados pro alto do lado oposto, lá onde o sol ia se<br />

pondo, e estávamos os dois em silêncio quando ela me<br />

perguntou “que que você tem?”, mas eu, muito disperso,<br />

continuei distante e quieto, o pensamento solto na vermelhidão<br />

lá do poente, e só foi mesmo pela insistência<br />

da pergunta que respondi “você já jantou?” e como ela<br />

dissesse “mais tarde” eu então me levantei e fui sem<br />

pressa pra cozinha (ela veio atrás), tirei um tomate da<br />

geladeira, fui até a pia e passei uma água nele, (...)<br />

Raduan Nassar, Um copo de cólera.<br />

648. UFF-RJ<br />

a) A diferença de pontuação nos textos I e II revela<br />

características de escritores que se expressam<br />

segundo estéticas de composição literária distintas.<br />

Identifique, pela forma de expressão de cada<br />

fragmento, a estética literária a que se vinculam.<br />

b) Compare duas diferentes possibilidades de pontuação<br />

– uma feita por Machado de Assis e outra<br />

por Raduan Nassar – em estruturas com funções<br />

semelhantes, apontando o efeito de sentido que<br />

produzem.<br />

649. UFF-RJ<br />

Com base no fragmento de Raduan Nassar (texto II):<br />

a) transcreva um exemplo de regência verbal de uso<br />

coloquial.<br />

b) reescreva a frase – “que que você tem?” – de<br />

acordo com a modalidade escrita culta.<br />

c) identifique, no trecho abaixo, um termo que representa<br />

um recurso de ênfase característico de<br />

estilização da oralidade e dispensável na modalidade<br />

escrita: e logo que saí da garagem subimos<br />

juntos a escada pro terraço, e assim que entramos<br />

nele abri as cortinas do centro e nos sentamos nas<br />

cadeiras de vime, texto II, (linhas 3 - 4 - 5).<br />

650. Fuvest-SP<br />

I. (Fabiano) ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe<br />

dera uma impressão bastante penosa: sempre que<br />

os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele<br />

saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente<br />

só serviam para encobrir ladroeiras.<br />

Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e<br />

empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as.<br />

Para que um pobre da laia dele deve usar<br />

conversa de gente rica?<br />

II. Havia coisas que (Macabéa) não sabia o que<br />

significavam. Uma era “efeméride”. E não é que<br />

seu Raimundo só mandava copiar com sua letra<br />

linda a palavra efemérides ou efeméricas? Achava<br />

o termo efemérides absolutamente misterioso.<br />

Quando o copiava prestava atenção a cada letra<br />

(...) Enquanto isso a mocinha se apaixonara pela<br />

palavra efemérides.


PV2D-07-54<br />

O tema comum aos dois textos é a relação das personagens<br />

com a linguagem culta. Desse ponto de<br />

vista, explique:<br />

a) em que Fabiano e Macabéa se assemelham;<br />

b) em que se distinguem um do outro.<br />

651. Vunesp<br />

No trecho a seguir transcrito, publicado no Pasquim<br />

(18.06.70), Caetano Veloso realiza, na prática, o que<br />

sugere programaticamente em três versos do poema<br />

<strong>Língua</strong>. Depois de ler tal trecho, indique os três versos<br />

mencionados e justifique sua resposta:<br />

deus, brotas. deus, circuladô de fuló do poeta dos campos.<br />

fulano deus. senhor dos lírios. deus, senhor do medo que<br />

tenho dos hippies e de algumas cores. senhor das flores,<br />

dos círculos, dos hexágonos. senhor dos circos, dos curtocircuitos,<br />

dos coitos, das menstruações. deus do momento<br />

em que eu não entendo o nazismo e os soldados outra<br />

coisa do nazismo. do momento em que eu sinto saudade,<br />

do momento em que eu sinto muita saudade porque as<br />

pessoas não se incomodam mais e já não querem senão<br />

deus, as poucas pessoas. deus dos índios sem história e<br />

das praias. deus do círculo da aldeia, do ciclo da história.<br />

da mesa. deus, porque não aprendi a te invocar: brotas<br />

não seja a maldição que minha mãe talvez temeu.<br />

em Alegria, Alegria (uma caetanave organizada por<br />

Waly Salomão). Rio de Janeiro: ~3 Pedra Q Ronca<br />

Ed., s/d., pp. 67-68.<br />

<strong>Língua</strong><br />

Gosto de sentir a minha língua roçar<br />

A língua de Luís de Camões<br />

Gosto de ser e de estar<br />

E quero me dedicar<br />

A criar confusões de prosódia<br />

E uma profusão de paródias<br />

Que encurtem dores<br />

E furtem cores como camaleões<br />

Gosto do Pessoa na pessoa<br />

Da rosa no Rosa<br />

E sei que a poesia está para a prosa<br />

Assim como o amor está para a amizade<br />

E quem há de negar que está lhe é superior<br />

E quem há de negar que esta lhe é superior<br />

E deixa os portugais morrerem à míngua<br />

Minha pátria é minha língua<br />

652. Fuvest-SP<br />

Ana Clara fazendo amor. Lião fazendo comício. Mãezinha<br />

fazendo análise. As freirinhas fazendo doce,<br />

sinto daqui o cheiro quente de doce de abóbora. Faço<br />

filosofia. Ser ou estar. (...) Na cidade me desintegro<br />

porque na cidade eu não sou, eu estou: estou competindo.<br />

(...) Ora, se sacrifico o ser para apenas estar,<br />

acabo me desintegrando (essencial e essência) até<br />

a pulverização total. Vaidade das vaidades. Apenas<br />

vaidade. A conclusão é bíblica, mas responde a todas<br />

as perguntas deste mundo desintegrado e confuso.<br />

a) Fundamentando-se no texto dado, identifique a técnica<br />

narrativa básica de composição de As meninas,<br />

de Lygia Fagundes Telles. Justifique sua resposta.<br />

b) Nesse trecho, apontam alguns dos temas recorrentes<br />

no romance. Identifique pelo menos dois<br />

deles, ilustrando-os com passagens do texto.<br />

653. UFSCar-SP<br />

O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive<br />

nas mais antigas recordações de minha infância: belo,<br />

imenso, no alto do morro, atrás de casa. Agora vem<br />

uma carta dizendo que ele caiu.<br />

Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e<br />

morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés<br />

de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge<br />

(que nós chamávamos simplesmente<br />

“tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a<br />

cobiça de toda a meninada do bairro, porque fornecia<br />

centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me<br />

da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens<br />

coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão,<br />

e dos canteiros de flores humildes, “beijos”,<br />

violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao<br />

lado de casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como<br />

árvores sagradas protegendo a família. Cada menino<br />

que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco,<br />

a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e<br />

subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas<br />

do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio<br />

na brisa da tarde.<br />

Rubem Braga: Cajueiro. In: O Verão e as Mulheres. 5a ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 84-5.<br />

O trecho remete-nos a um dos temas preferidos<br />

pelos escritores românticos, que é também um tema<br />

corrente em vários poetas modernistas e muito cultivado<br />

por nossos cronistas. Esse tema, dominante<br />

no trecho, é:<br />

a) a exuberância da natureza tropical.<br />

b) a diversidade das árvores frutíferas brasileiras.<br />

c) o contraste entre o ambiente selvagem e o ambiente<br />

urbano.<br />

d) a saudade da infância.<br />

e) a necessidade de comunicação por carta.<br />

654. FGV-SP<br />

Leia os dois textos a seguir. O texto I contém as duas<br />

estrofes finais da letra da canção Arranha-céu, de<br />

Orestes Barbosa e Sílvio Caldas. O texto II apresenta<br />

uma tradução do poema nº 85, do poeta romano Catulo,<br />

do séc. I a.C. Compare os dois poemas e responda<br />

às questões.<br />

Texto I<br />

(...)<br />

Cansei de olhar as reclames<br />

E disse ao peito: Não ames,<br />

Que esta mulher não te quer.<br />

Descansa. Fecha a vidraça.<br />

Esquece aquela desgraça,<br />

Esquece aquela mulher.<br />

Deitei-me então sobre o peito,<br />

Vieste em sonho ao meu leito<br />

E eu acordei – que aflição!<br />

Pensando que te abraçava,<br />

Alucinado, apertava<br />

Eu mesmo meu coração.<br />

In: Chão de estrelas, J. Ozon Editor, s/d.<br />

311


Texto II<br />

Odeio e amo. Talvez tu me perguntes por que<br />

procedo assim.<br />

Não sei, mas sinto isto dentro de mim e me<br />

angustio.<br />

Tradução de Lauro Mistura.<br />

As características dos textos II e III permitem aproximá-los<br />

de textos:<br />

a) Futuristas. d) Românticos.<br />

b) Concretistas. e) Modernistas.<br />

c) Naturalistas.<br />

Texto para as questões 655 e 656.<br />

Amor<br />

01 A verdade é que devemos tudo aos amores infelizes,<br />

aos amores que não dão certo. A poesia se<br />

faz antes ou depois do amor, ninguém jamais fez<br />

um bom poema durante um amor feliz. Pois se o<br />

amor está tão bom, pra que interrompê-lo? O amor<br />

feliz não é assunto de poesia. Literatura é quando<br />

o amor ainda não veio ou quando já acabou,<br />

literatura durante é mentira. Ou ela é empolgação<br />

ou é remorso, revolta, saudade, tédio, divagação<br />

desesperada – enfim, tudo que dá bom texto.<br />

02 Desconfie de quem explica um estado de exaltação<br />

criativa dizendo que está amando. Algo deve estar<br />

errado.<br />

03 – Você está amando, mas ela não está correspondendo,<br />

é isso?<br />

04 – Não, não. Ela também me ama. É maravilhoso.<br />

05 – É maravilhoso, mas você sabe que não pode<br />

durar, é isso? Seu poema é sobre a transitoriedade<br />

de todas as coisas, sobre o efêmero, sobre o fim<br />

inevitável da felicidade num mundo em que...<br />

06 – Não! É sobre a felicidade sem fim!<br />

07 – Não pode ser.<br />

08 – Mas é. Acabei o poema e vou fazer uma canção.<br />

Depois, talvez, uma cantata. E estou pensando<br />

num romance. Tudo inspirado no nosso amor. Não<br />

posso parar de criar. Estou transbordando de amor<br />

e idéia. Crio dia e noite.<br />

09 – E a mulher amada?<br />

<strong>10</strong> – Quem? Ah, ela. Bom, ela sabe que a atenção<br />

que não lhe dou, dou ao nosso amor perfeito.<br />

11 Está explicado. Ele não canta a amada ou seu<br />

amor. Está fascinado por ele mesmo, amando. E<br />

o poema certamente é ruim.<br />

12 Porque o amor, para ser de verdade, tem de emburrecer.<br />

Só devem lhe ocorrer bobagens para<br />

dizer ou escrever durante um caso de amor. Ou<br />

é kitch, de mau gosto, piegas ou copiado, ou não<br />

é amor. Qualquer sinal de originalidade pode até<br />

ser suspeito.<br />

13 – Esses seus versos para mim... Estão ótimos.<br />

14 – Obrigado.<br />

15 – Essas juras de amor, essas rimas, essa métrica...<br />

De onde você tirou tudo isso?<br />

16 – Eu mesmo inventei. Pensando em você.<br />

17 – Seu falso!<br />

18 – O quê?<br />

19 – Só deixando de pensar em mim por algumas<br />

horas você faria uma coisa assim pensando em<br />

mim. Só tomando distância, escrevendo e reescrevendo,<br />

raciocinando e burilando, você faria isto.<br />

312<br />

Um verso plagiado do Vinícius eu entenderia. Um<br />

verso original, e bom desse jeito, é traição. Só não<br />

sendo sincero você seria tão inteligente!<br />

20 – Mas...<br />

21 – Não fale mais comigo.<br />

22 Pronto. O amor acabou, agora você pode ser criativo<br />

sem remorso. Você está infeliz, mas console-se.<br />

Pense em como isso melhorará o seu estilo.<br />

Adap.: Verissimo, Luis Fernando. O Estado de S. Paulo: 25/07/1999.<br />

655. UFRJ<br />

A partir da leitura do texto, depreende-se que:<br />

a) os textos literários cujo tema é o amor tratam de<br />

um sentimento utópico.<br />

b) os poemas feitos nos momentos de amor são<br />

criativos e interessantes.<br />

c) fazer poemas sobre o amor exige um afastamento<br />

da relação amorosa.<br />

d) só a reciprocidade no relacionamento amoroso<br />

enseja um bom texto poético.<br />

e) os textos verdadeiramente literários são os que<br />

tratam da temática amorosa.<br />

656. UFRJ<br />

Os diálogos, nesse texto, têm a função de:<br />

a) caracterizar o discurso indireto na narrativa.<br />

b) refutar o ponto de vista do autor por meio dos<br />

personagens.<br />

c) reproduzir o ponto de vista dos personagens sobre<br />

o amor.<br />

d) servir de recurso para a argumentação às idéias<br />

do autor.<br />

e) demonstrar o alto grau de alienação daquele que<br />

se sente amando.<br />

657.<br />

A principal preocupação do teatro jesuítico do século<br />

XVI era:<br />

a) divulgar a língua portuguesa aos nativos.<br />

b) “civilizar” os indígenas e dar educação religiosa.<br />

c) desenvolver o gosto pela cultura.<br />

d) desenvolver o teatro profissional no país.<br />

658.<br />

Anchieta fazia autos, como o Auto da pregação universal.<br />

O auto sempre apresenta um fundo religioso.<br />

Quem também escreveu autos foi:<br />

a) Machado de Assis.<br />

b) Bocage.<br />

c) Gil Vicente.<br />

d) Tomás Antônio Gonzaga.<br />

e) Martins Pena.<br />

659. UFPR<br />

Dias Gomes, Ariano Suassuna, Oduvaldo Vianna Filho<br />

e Plínio Marcos são dramaturgos brasileiros contemporâneos<br />

que escreveram, respectivamente:<br />

a) O Santo Inquérito, O auto da compadecida, Rasga<br />

coração, Navalha na carne.<br />

b) O pagador de promessas, Os ossos do barão, O<br />

assalto, O abajur lilás.


PV2D-07-54<br />

c) O berço do herói, A pena e a lei, O último carro,<br />

Quando as máquinas param.<br />

d) As primícias, Álbum de família, À prova de fogo,<br />

Barrela.<br />

e) O rei de Ramos, Farsa da boa preguiça, Senhora<br />

da boca do lixo, Homens de papel.<br />

660.<br />

As primeiras companhias teatrais brasileiras surgiram:<br />

a) no século XVI.<br />

b) no século XVII.<br />

c) no século XVIII.<br />

d) no século XIX.<br />

e) no século XX.<br />

661.<br />

São nomes dos primórdios do teatro de caráter nacional:<br />

a) João Caetano e Martins Pena.<br />

b) Gil Vicente e Plínio Marcos.<br />

c) Dias Gomes e Ariano Suassuna.<br />

d) Martins Pena e Padre Anchieta.<br />

e) Padre Anchieta e Machado de Assis.<br />

662.<br />

Assinale a alternativa que apresenta uma obra que não<br />

pertence a Martins Pena, dramaturgo do Romantismo<br />

brasileiro.<br />

a) O juiz de paz na roça<br />

b) O noviço<br />

c) Auto da Compadecida<br />

d) O Judas em Sábado de Aleluia<br />

e) Quem casa, quer casa<br />

663. UCPR<br />

Coube a_____atingir o ponto mais alto do teatro romântico<br />

brasileiro. Numa linguagem simples e correta, retratou<br />

os variados tipos da sociedade do século XIX.<br />

a) Martins Pena<br />

b) Procópio Ferreira<br />

c) Joaquim Manuel de Macedo<br />

d) Machado de Assis<br />

e) Cornélio Pena<br />

664.<br />

A obra tem como momento histórico da ação a época<br />

da Revolução Farroupilha (RS–1834). Estamos falando<br />

de _______, peça teatral de Martins Pena.<br />

a) O juiz de paz na roça<br />

b) O noviço<br />

c) Os meirinhos<br />

d) Quem casa, quer casa<br />

e) O caixeiro da taverna<br />

665.<br />

Assinale a alternativa incorreta com relação à obra O<br />

noviço, de Martins Pena.<br />

a) A ação de O noviço apresenta evidentes elementos<br />

de farsa, que se observam na ação rápida, irreverente<br />

e debochada e no tom caricatural.<br />

b) A peça é uma comédia de costumes, apresentando<br />

aspectos típicos e pitorescos do cotidiano de uma<br />

sociedade.<br />

c) O noviço é uma obra típica do Romantismo por apresentar<br />

a idealização da realidade e sentimentalismo.<br />

d) Alguns temas da peça são a denúncia de inescrupulosos,<br />

questionamento de vocação forçada<br />

e condenação do patronato.<br />

e) Destacam-se como características românticas na<br />

obra a presença do final feliz e o maniqueísmo.<br />

666.<br />

Assinale a seqüência de obras que completa as afirmativas<br />

a seguir.<br />

I. O autor de Os dois ou o inglês maquinista é o<br />

mesmo de:<br />

II. O autor de O demônio familiar é o mesmo de:<br />

III. O autor de O moço loiro é o mesmo de:<br />

IV. O autor de A capital federal é o mesmo de:<br />

a) O noviço; Iracema; A Moreninha; O dote.<br />

b) O Judas em Sábado de Aleluia; Mãe; O dote; As<br />

doutoras.<br />

c) Caiu o ministério; Leonor de Mendonça; Senhora;<br />

A torre em concurso.<br />

d) Os irmãos das almas; Lucíola; A torre em concurso;<br />

As doutoras.<br />

667.<br />

Assinale a alternativa que apresente um dramaturgo<br />

do século XX.<br />

a) José de Alencar d) João Caetano<br />

b) Gil Vicente e) Dias Gomes<br />

c) Martins Pena<br />

668. UEL-PR<br />

As teses amplas do nacionalismo cênico estribamse<br />

em dois postulados: prestígio à dramaturgia brasileira<br />

e procura de um estilo brasileiro de encenação.<br />

Assim exposto, o programa não pode deixar de ser<br />

aceito por todos que têm consciência estética. Faz<br />

parte daquilo que se chamaria consenso geral, tão<br />

óbvios são os seus propósitos. Sabe-se que não há<br />

grande teatro sem uma correspondente literatura dramática.<br />

[...] Com respeito ao Brasil, a conclusão parece<br />

crucial, assimilado o ensinamento da história: haverá<br />

um teatro brasileiro de mérito quando se impuser uma<br />

dramaturgia independente e autêntica.<br />

Esse é um dado da questão. Como, todavia, o teatro<br />

não se contém no texto e se realiza no espetáculo,<br />

deve-se concluir também que a encenação precisa<br />

ser brasileira. Isto é, não mera cópia das conquistas<br />

técnicas e expressivas dos diretores e intérpretes<br />

europeus e norte americanos, mas o resultado do<br />

aprofundamento da sensibilidade nacional.<br />

MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. 5. ed.<br />

São Paulo: Ática. 1994. p. 90-91.<br />

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o teatro<br />

brasileiro, é correto afirmar:<br />

a) O desenvolvimento da dramaturgia exige uma<br />

postura histórica de resgate de tradições, como fez<br />

a cultura romana com relação aos textos gregos.<br />

313


) A conquista de uma dramaturgia autêntica e independente,<br />

por si só, é suficiente para garantir o caráter<br />

orgânico e nacionalista do teatro brasileiro.<br />

c) A exemplo dos gregos, o teatro brasileiro é nacional,<br />

porque sempre produziu suas obras em<br />

consonância com o seu público contemporâneo.<br />

d) Um brasileiro que se dispõe a interpretar Shakespeare<br />

deverá imitar os grandes atores ingleses<br />

para conseguir a fidelidade da interpretação.<br />

e) O surgimento de um teatro brasileiro autêntico<br />

depende do desenvolvimento de valores cênicos<br />

e de uma dramaturgia nacionais.<br />

669.<br />

Peça de Nélson Rodrigues, desenvolve-se em diferentes<br />

planos; o da vida real, concreta, objetiva; e o<br />

da imaginação, desregrada, libertada. Consiste no<br />

que se pode chamar de “tragédia de memória”, e afirmou-se<br />

como um marco do teatro moderno brasileiro.<br />

Trata-se de:<br />

a) Álbum de família.<br />

b) A falecida.<br />

c) Vestido de noiva.<br />

d) Eles não usam black-tie.<br />

e) Navalha na carne.<br />

Texto para as questões 670 e 671.<br />

Ato Primeiro<br />

Cena I<br />

Ambrósio, só de calça preta e chambre – No<br />

mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintamna<br />

cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não<br />

tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem<br />

pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da<br />

fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são<br />

poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a<br />

empregar todos os meios, não consegue enriquecerse?<br />

Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, eu era<br />

pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei.<br />

O como não importa; no bom resultado está o mérito...<br />

Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se<br />

em algum tempo tiver que responder pelos meus atos,<br />

o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis<br />

criminais fizeram-se para os pobres...<br />

670.<br />

O fragmento acima pertence à obra O noviço. Nele,<br />

Ambrósio apresenta seus métodos e sua cosmovisão<br />

social. Indique o trecho que justifica a seguinte sentença:<br />

Os fins justificam os meios.<br />

671.<br />

Explique a afirmação presente nas três últimas orações<br />

do excerto.<br />

Texto para as questões 672 e 673.<br />

Leia atentamente este fragmento da peça O rei da vela,<br />

de Oswald de Andrade.<br />

Abelardo I: Não faça entrar mais ninguém hoje,<br />

Abelardo.<br />

Abelardo II: A jaula está cheia... Seu Abelardo!<br />

Abelardo I: Mas esta cena basta para nos identificar<br />

perante o público. Não preciso mais falar com nenhum<br />

dos meus clientes. São todos iguais. Sobretudo<br />

314<br />

não me traga pais que não podem comprar sapatos<br />

para os filhos...<br />

Abelardo II: Esse está se queixando de barriga<br />

cheia. Não tem prole numerosa. Só uma filha... Família<br />

pequena!<br />

Abelardo I: Não confunda, seu Abelardo! Família<br />

é uma coisa distinta. Prole é de proletário. A família<br />

requer a propriedade e vice-versa. Quem não tem<br />

propriedades deve ter prole. Para trabalhar, os filhos<br />

são a fortuna do pobre...<br />

672.<br />

Comente o início da segunda fala de Abelardo I.<br />

673.<br />

Pelo fragmento apresentado, você diria que o texto<br />

de Oswald de Andrade pertence ao teatro de temática<br />

social? Justifique a resposta.<br />

674. UFRN<br />

Observe atentamente as seguintes declarações:<br />

1. Sucesso em matéria de crítica e público, Gota<br />

D’água é uma adaptação que Nelson Rodrigues<br />

fez da Medéia, de Eurípedes, transportando-a para<br />

uma favela do subúrbio carioca.<br />

2. Martins Pena, com sua comédia de costumes<br />

permeada por sutil sátira social e realismo ingênuo,<br />

pode ser considerado o responsável pela<br />

consolidação do teatro brasileiro.<br />

3. Em Eles não usam Black-tie, marco da dramaturgia<br />

brasileira, Oduvaldo Viana aborda a luta de operários<br />

por condições de vida menos ultrajantes.<br />

4. Na peça O pagador de promessas, Dias Gomes<br />

apresenta o drama de um homem simples que,<br />

buscando salvar seu animal de estimação, luta<br />

contra toda uma sociedade.<br />

O total correspondente à soma dos números que<br />

antecedem as declarações incorretas é:<br />

a) 8 d) 5<br />

b) 7 e) 4<br />

c) 6<br />

675.<br />

De Vestido de Noiva, peça de teatro de Nelson Rodrigues,<br />

considerando o tema desenvolvido, não se<br />

pode dizer que aborda.<br />

a) o passado e o destino de Alaíde por meio de suas<br />

lembranças desregradas.<br />

b) o delírio de Alaíde caracterizado pela desordem da<br />

memória e confusão entre a realidade e o sonho.<br />

c) o mistério da imaginação e da crise subconsciente<br />

identificada na superposição das figuras de Alaíde<br />

e de Madame Clessi.<br />

d) o embate entre Alaíde, com suas obsessões e<br />

Lúcia, a mulher-de-véu, antagonista e um dos<br />

móveis da ação.<br />

e) a vida passada de Alaíde revelada no casual achado<br />

de um velho diário e de um maço de fotografias.<br />

676. Unicamp-SP<br />

Considera-se a estréia da peça Vestido de noiva<br />

(1943), de Nelson Rodrigues, um marco na renovação<br />

do teatro brasileiro. Cite a principal novidade estrutural<br />

da peça e comente.


PV2D-07-54<br />

677. Unicamp-SP<br />

Por que no encerramento da peça uma rubrica indica<br />

que a Marcha Nupcial e a Marcha Fúnebre devem ser<br />

executadas simultaneamente?<br />

As questões 678 e 679 tomam por base um<br />

fragmento de peça teatral Dr. Getúlio, sua vida e<br />

sua glória, de Dias Gomes (1922-1999) e Ferreira<br />

Gullar (1930).<br />

Segunda Parte<br />

[...]<br />

Cessa a Bateria<br />

Autor<br />

E enquanto essas coincidências<br />

iam assim coincidindo,<br />

num clube então existente,<br />

um homem muito ladino<br />

fazia uma conferência<br />

sobre um tema pertinente,<br />

com este título: “Como<br />

se depõe um Presidente”.<br />

Volta a Bateria. Entram homens e mulheres, todos com<br />

lanternas. Entre eles, vêm também as Aves de Rapina.<br />

Lacerda entra no meio do grupo que percorre o palco<br />

dançando e logo forma um círculo, no centro do qual,<br />

sobre um praticável, fica o conferencista.<br />

Lacerda<br />

É simples:<br />

em primeiro lugar<br />

é preciso levantar<br />

a bandeira moralista:<br />

mostrar que o Governo é corrupto,<br />

composto de chantagistas,<br />

de ladrões,<br />

de rufiões,<br />

cafetões e vigaristas,<br />

de tubarões,<br />

charlatães,<br />

maganões<br />

e descuidistas.<br />

Isto é muito importante.<br />

Com a bandeira moralista<br />

ganha-se então por inteiro<br />

a famosa classe média,<br />

que sonha ter em virtudes<br />

o que lhe falta em dinheiro.<br />

E como a virtude é rara<br />

e difícil de provar,<br />

torna-se fácil apontar<br />

corrupção no governo.<br />

Gatunagem,<br />

malandragem,<br />

ladroagem,<br />

tratantagem<br />

(Discursa)<br />

Enquanto o povo dorme, os gatunos agem.<br />

In: Gomes, Dias & Gullar, Ferreira. Dr. Getúlio, sua vida e sua glória.<br />

678. Vunesp<br />

A ação da peça teatral Dr. Getúlio, sua vida e sua glória,<br />

de Dias Gomes e Ferreira Gullar, se desenvolve numa<br />

quadra de escola de samba como ensaio de um enredo<br />

sobre a vida de Getúlio Vargas. No trecho transcrito, a<br />

personagem Autor introduz a personagem Lacerda,<br />

que passa a discorrer sobre o melhor modo de depor o<br />

presidente. Releia o trecho e, a seguir, responda.<br />

a) Ao sugerir a seus correligionários que levantem<br />

a “bandeira moralista” para abalar o governo, a<br />

personagem acaba incorrendo numa contradição<br />

também de ordem moral. Analisando a própria fala<br />

de Lacerda, demonstre essa contradição.<br />

b) Explique, com base no contexto, o significado dos<br />

versos “...a famosa classe média / que sonha ter<br />

em virtudes / o que lhe falta em dinheiro”.<br />

679. Vunesp<br />

As repetições de elementos podem tornar-se expressivas,<br />

particularmente quando apresentam implicações<br />

de ordem semântica e estilística nas frases em que<br />

ocorrem. Releia com atenção a fala da personagem<br />

Lacerda e, a seguir:<br />

a) demonstre que a rima em – agem na última seqüência<br />

da fala de Lacerda (de “Gatunagem” até “os gatunos<br />

agem”) não é somente um processo de repetição de<br />

sons, mas tem implicações no plano do conteúdo;<br />

b) explique a razão pela qual a personagem se serve<br />

intensamente de repetições e redundâncias em seu<br />

discurso.<br />

680. Vunesp<br />

A questão baseia-se numa cena do texto dramático<br />

Auto da compadecida.<br />

Chicó — Mas padre, não vejo nada de mal em se<br />

benzer o bicho.<br />

João Grilo — No dia em que chegou o motor novo<br />

do major Antônio Morais o senhor não benzeu?<br />

Padre — Motor é diferente, é uma coisa que todo<br />

mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.<br />

Chicó — Eu acho cachorro uma coisa muito melhor<br />

do que motor.<br />

Padre — É, mas quem vai ficar engraçado sou<br />

eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo<br />

mundo faz isso, mas benzer cachorro?<br />

João Grilo — É, Chicó, o padre tem razão. Quem<br />

vai ficar engraçado é ele e uma coisa é benzer motor<br />

do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do<br />

major Antônio Morais.<br />

Padre (mão em concha no ouvido) — Como?<br />

João Grilo — Eu disse que uma coisa era o motor<br />

e outra o cachorro do major Antônio Morais.<br />

Padre — E o dono do cachorro de quem vocês<br />

estão falando é Antônio Morais?<br />

João Grilo — É. Eu não queria vir, com medo<br />

de que o senhor se zangasse, mas o major é rico e<br />

poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de<br />

perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas disse<br />

a Chicó: o padre vai se zangar.<br />

Padre (desfazendo-se em sorrisos) — Zangar<br />

nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter<br />

direito de se zangar? Falei por falar, mas também vocês<br />

não tinham dito de quem era o cachorro!<br />

João Grilo (cortante) — Quer dizer que benze,<br />

não é?<br />

315


316<br />

Padre (a Chicó) — Você o que é que acha?<br />

Chicó — Eu não acho nada mais.<br />

Padre — Nem eu. Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus.<br />

Ariano Suassuna, Teatro Moderno. Auto da compadecida.<br />

A espontaneidade dos diálogos, a força poética de seu texto e a capacidade de exprimir o espírito popular<br />

de nossa gente fazem com que o escritor Ariano Suassuna (1927) seja reconhecido como um dos principais<br />

autores brasileiros contemporâneos. Diz o crítico Sábato Magaldi que a religiosidade de Ariano pode espantar<br />

aos cultores de um catolicismo acomodatício, mas responde às exigências daqueles que se conduzem por<br />

uma fé verdadeira.<br />

Com base nessa observação, responda às questões a seguir.<br />

a) Por que, segundo aquele padre, é fácil benzer um motor?<br />

b) Em que sentido o fragmento apresentado encerra uma crítica ácida ao modo como o padre comanda a<br />

sua paróquia?


PV2D-07-54<br />

<strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong> 5 – Gabarito<br />

01. C 02. B<br />

03. F, V, V, V, F<br />

04. F, V, V, V, F<br />

05. A<br />

06. a) “Não tem o raquitismo exaustivo<br />

dos mestiços neurastênicos<br />

do litoral.”<br />

b) O autor é claramente influenciado<br />

pelo Determinismo, o<br />

qual afirma que o meio (A<br />

terra), a raça (O homem) e<br />

o momento histórico (A luta)<br />

determinam o comportamento<br />

humano.<br />

c) Na verdade, o fenômeno<br />

social é a miséria, a ignorância,<br />

o fanatismo religioso<br />

e a marginalização política a<br />

que ficam sujeitos os sertanejos<br />

nordestinos.<br />

07. B 08. B<br />

09. 23 (01 + 02 + 04 + 16)<br />

<strong>10</strong>. E 11. C<br />

12. a) Ironiza o fato de muitos<br />

acreditarem que o Brasil<br />

se resume a seu litoral e a<br />

algumas cidades.<br />

b) Esse momento literário<br />

acaba por focalizar questões<br />

que estavam além do<br />

eixo Rio – São Paulo, ou<br />

ainda, distante das questões<br />

burguesas apenas, atingindo<br />

a periferia das grandes<br />

cidades, como fez Lima<br />

Barreto.<br />

13. Graça Aranha: Canaã; Lima<br />

Barreto: Clara dos anjos; Monteiro<br />

Lobato: Urupês; Euclides<br />

da Cunha: À margem da história.<br />

14. B 15. A 16. D<br />

17. D 18. C<br />

19. A simplicidade.<br />

20. 51 (01 + 02 + 16 + 32)<br />

21. C 22. D 23. B<br />

24. D 25. D 26. E<br />

27. C 28. A 29. B<br />

30. E 31. B<br />

32. A estrada não é descrita, tendo<br />

em vista a riquesa natural da<br />

área, mas em seus aspectos<br />

àridos e difíceis.<br />

33. D<br />

34. a) A terceira parte de Os sertões,<br />

de Euclides da Cunha,<br />

denomina-se “A luta”.<br />

b) “Canudos não se rendeu”<br />

c) “(...) rugiam raivosamente<br />

(...)”<br />

d) O que descrevia era tão<br />

dolorosamente absurdo que<br />

poucos acreditariam.<br />

35. a) Determinismo.<br />

b) Explicava as ações humanas<br />

a partir de três fundamentos:<br />

o meio, a raça e o momento.<br />

A adesão de Euclides da<br />

Cunha às teses deterministas<br />

aparece em vários pontos<br />

do livro. No trecho citado,<br />

o meio ambiente (no caso, o<br />

clima quente) age de forma<br />

decisiva na determinação<br />

da conformação moral dos<br />

habitantes (marcada pela<br />

apatia e pela incapacidade<br />

natural ao trabalho intelectual).<br />

c) O Naturalismo, cujas idéias<br />

tomavam por base concepções<br />

científicas, entre as<br />

quais as do Determinismo.<br />

36. A natureza é mostrada de forma<br />

viva e atuante (superando o<br />

sentido puramente científico do<br />

relato), influenciando no desenrolar<br />

dos acontecimentos que<br />

teriam lugar ali. e) As 4expressões<br />

que indicam a ação da natureza<br />

são: “a caatinga o afoga”,<br />

“agride”, “estonteia”, “enlaça”,<br />

“repulsa” etc. Repare que essas<br />

imagens mostram uma natureza<br />

plena de contradições, que,<br />

ajuizadas, serão as causas<br />

mais profundas da guerra que<br />

o livro narra.<br />

37. M, J, M<br />

38. B 39. C<br />

40. Deve ser assinalada a declaração<br />

O porte físico do jagunço<br />

contraria o aprimoramento<br />

evolutivo da espécie.<br />

41. Corretas: III e IV.<br />

42. A primeira das quatro declarações<br />

está errada, porque é<br />

a “A luta”, e não “A terra”, que<br />

nasce da reportagem escrita por<br />

Euclides da Cunha, enquanto<br />

correspondente de O Estado<br />

de São Paulo. “A terra” e “O<br />

homem” foram partes anexadas<br />

posteriormente à cobertura in<br />

loco das operações militares<br />

em Canudos. A segunda declaração<br />

é falsa, por afirmar que<br />

Os sertões “Adotam um estilo<br />

de oratória religiosa, quando<br />

descrevem as crenças dos jagunços.”.<br />

Se Oratória se define<br />

como a prática ou a arte do<br />

bem dizer, com vistas a ensinar,<br />

persuadir e comover, a oratória<br />

religiosa se expressa sob as<br />

formas de sermão, homilia,<br />

panegírico e oração fúnebre, e<br />

serve para incutir no ouvinte os<br />

dogmas e as verdades de uma<br />

determinada religião. Não é isso<br />

que se observa em Os sertões.<br />

O cientificismo de Euclides da<br />

Cunha o impede de defender<br />

crenças religiosas e o leva a<br />

considerar o messianismo de<br />

Canudos um retrocesso do<br />

cristianismo ao judaísmo. A terceira<br />

declaração é verdadeira,<br />

pois, em Os sertões ,“A luta”<br />

focaliza episódios heróicos de<br />

viagem e guerra, a exemplo<br />

das construções épicas. O<br />

envio de tropas caracteriza o<br />

deslocamento geográfico dos<br />

combatentes e o teor bélico da<br />

campanha. O próprio escritor<br />

refere-se a Canudos como a<br />

“Tróia de taipa dos jagunços”,<br />

reconhecendo a grandiosidade<br />

épica dos feitos. A quarta declaração<br />

é igualmente verdadeira,<br />

pois Os sertões desenvolvem<br />

considerações de ordem científica<br />

e abrigam proposições que<br />

serão sustentadas durante toda<br />

a obra. Como se sabe, uma tese<br />

pode ser de natureza literária,<br />

filosófica, científica e reunir<br />

subsídios múltiplos. Em “A luta”,<br />

observam-se as contribuições<br />

da Antropologia, da Geografia,<br />

da Sociologia, da Psicologia, da<br />

Biologia e de outros campos de<br />

317


conhecimento, arregimentados<br />

para defender, por exemplo,<br />

a proposição de que a guerra<br />

animaliza o civilizado.<br />

43. a) O romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, pois trata<br />

de forma crítica e realista<br />

a realidade dos retirantes<br />

nordestinos retratados na<br />

família de Fabiano.<br />

b) Porque, ainda que influenciado<br />

pelo determinismo<br />

do século XIX, Euclides<br />

da Cunha retrata de forma<br />

realista e crítica a realidade<br />

do sertão.<br />

44. C 45. A 46. E<br />

47. E 48. D 49. C<br />

50. Quaresma estudou a nossa<br />

geografia, conhecia o nome dos<br />

nossos heróis, a língua tupi, o<br />

folclore, sempre com um elevado<br />

sentimento de patriotismo.<br />

51. E 52. B 53. A<br />

54. B 55. D<br />

56. a) Lima Barreto é considerado<br />

autor pré-modernista porque<br />

antecipa características do<br />

modernismo como: nacionalismo<br />

crítico, linguagem<br />

coloquial.<br />

b) Triste fim de Policarpo Quaresma<br />

/ Recordações do<br />

escrivão Isaías Caminha /<br />

Clara dos Anjos<br />

57. a) Armando Borges é médico.<br />

É um mau-caráter, engana<br />

os outros e apropria-se de<br />

artigos médicos alheios. Ao<br />

caracterizar seu estilo de<br />

escrever como “clássico”,<br />

Lima Barreto reforça a idéia<br />

de que a personagem representa<br />

a tradição, o academicismo<br />

vazio e falso.<br />

b) O romance caracteriza-se<br />

pela linguagem coloquial,<br />

oposta, portanto, à linguagem<br />

de Armando Borges.<br />

Essa característica pode ser<br />

considerada antecipação do<br />

Modernismo.<br />

58. Porque Policarpo idealizou a<br />

pátria a partir de seus estudos<br />

da geografia, do folclore, da língua,<br />

da música, da agricultura<br />

e da política do Brasil. No final,<br />

vê que tudo resultara inútil e<br />

318<br />

desilude-se por não conseguir<br />

realizar as reformar radicais<br />

com que sonhara.<br />

59. F, V, V, F, F<br />

60. Corretas: 01, 02, 16, 32.<br />

61. B<br />

62. a) O requerimento escrito por<br />

Policarpo sugerindo a adoção<br />

do tupi-guarani como<br />

língua oficial e a adoção<br />

de hábitos indígenas, como<br />

cumprimentar as pessoas<br />

chorando.<br />

b) Policarpo é integro e idealista.<br />

Parte de um ideal de<br />

pátria e choca-se com a<br />

pátria real, que o consome.<br />

63. O poema, na seqüência, relaciona<br />

as três partes de que se<br />

compõe a obra máxima de Euclides<br />

da Cunha. Até a palavra<br />

chão, o texto alude à 1ª parte<br />

de Os sertões – A terra –, até<br />

a 1ª palavra meses, a alusão é<br />

à 2ª parte – O Homem – e daí<br />

até o final revela-se a 3ª parte<br />

– A Luta – e algumas das suas<br />

implicações.<br />

64. E<br />

65. Essa afirmação está correta. O<br />

esforço da obra para penetrar<br />

fundo na realidade brasileira é<br />

percebido principalmente por<br />

meio da crítica às figuras carreiristas,<br />

pedantes, bajuladoras e<br />

incompetentes que se utilizam<br />

do patriotismo ingênuo para<br />

subir socialmente e exercer<br />

poder.<br />

66. a) O homem do violão é Ricardo<br />

Coração dos Outros.<br />

b) Porque ele era o professor<br />

de violão de Policarpo.<br />

c) Ao requerimento apresentado<br />

pelo major para transformar<br />

em tupi-guarani a nossa<br />

língua oficial.<br />

67. V, V, V, V, V, F<br />

68. B<br />

69. O autor a que se refere o texto<br />

é Lima Barreto. Dentre seus<br />

romances, destacam-se Recordações<br />

do escrivão Isaías Caminha<br />

e Triste fim de Policarpo<br />

Quaresma.<br />

70. B 71. E 72. C<br />

73. E 74. C 75. A<br />

76. B 77. A 78. A<br />

79. B 80. E<br />

81. Angústia diante da vida: em<br />

todo o poema e já a partir do<br />

título.<br />

Imagem da decomposição da<br />

carne: nas duas últimas estrofes<br />

Linguagem exótica: palavras<br />

como carbono, amoníaco, epigênese,<br />

hipocondríaco, verme,<br />

podre, carnificina.<br />

Como pode se observar, Augusto<br />

dos Anjos não negligencia<br />

a forma: usa soneto e versos<br />

decassílabos.<br />

82. B 83. E<br />

84. a) Mamparreiro = vadio, preguiçoso.<br />

b) Para Lobato, fazendeiro<br />

no interior de São Paulo, a<br />

explicação para a apatia, a<br />

indolência e a incapacidade<br />

produtiva do Jeca encontrava-se<br />

nas facilidades de<br />

sobrevivência proporcionadas<br />

pela mandioca, milho e<br />

cana. Se em Urupês e Velha<br />

Praga (1914) Lobato atribuía<br />

preponderância às teses<br />

raciais e climáticas para a<br />

pobreza, chegando a culpar<br />

o trabalhador do campo por<br />

sua condição, nos artigos de<br />

1918 refletia sobre a questão<br />

nacional do saneamento. E<br />

através de uma explicação<br />

médica-científica que Lobato,<br />

preocupado com a reprodução<br />

da força de trabalho<br />

improdutiva, mudaria a sua<br />

concepção do caboclo brasileiro.<br />

A inficiência do Jeca<br />

não era mais uma questão<br />

de inferioridade racial, mas<br />

sim um problema médicosanitário.<br />

O caipira é doente.<br />

Ele é pobre porque é doente<br />

e assim não produz. Esta<br />

mudança de concepção passava<br />

pela crença positiva de<br />

Lobato na ciência.<br />

85. B 86. C 87. D<br />

88. A 89. E 90. B<br />

91. D 92. C<br />

93. A preocupação com a observação<br />

e com a interpretação da<br />

realidade brasileira.


PV2D-07-54<br />

94. F, F, F, V, V, V<br />

95. A 96. C 97. E<br />

98. D 99. A<br />

<strong>10</strong>0. O excerto de Álvaro de Campos<br />

relaciona-se ao futurismo,<br />

que valoriza a superexitação<br />

vertiginiosa dos sentidos, provocada<br />

pela velocidade, pelo<br />

delírio, pelo ritmo febril da<br />

sociedade industrial.<br />

<strong>10</strong>1. A<br />

<strong>10</strong>2. a) Fernando Pessoa, com tal<br />

poema, denuncia os erros,<br />

prejuízos e sofrimentos<br />

decorrentes das Grandes<br />

Navegações no cotidiano<br />

da vida portuguesa.<br />

b) O adjetivo “pequena” aponta<br />

para a idéia de visão de<br />

mundo limitada, incapacidade<br />

de retirar lições de<br />

vida, mesmo em situações<br />

adversas.<br />

<strong>10</strong>3. a) Apenas o caos, o acaso.<br />

b) Não haveria regras, apenas<br />

a liberdade, postura oposta<br />

à dos clássicos, que seguem<br />

regras e são rígidos<br />

na forma.<br />

<strong>10</strong>4. D <strong>10</strong>5. Futurismo<br />

<strong>10</strong>6. E <strong>10</strong>7. E <strong>10</strong>8. B<br />

<strong>10</strong>9. D 1<strong>10</strong>. B 111. E<br />

112. C 113. A 114. C<br />

115. B 116. E 117. E<br />

118. D 119. B 120. D<br />

121. Ambos os textos são metalingüísticos,<br />

pois discutem o<br />

próprio fazer artístico.<br />

122. A sensação de desapontamento<br />

é comum, segundo Rachel<br />

de Queiroz, porque o texto<br />

produzido não corresponde<br />

ao esforço despendido em sua<br />

produção.<br />

123. A ave simboliza a liberdade e<br />

para isso é preciso ter asa. No<br />

plano imagético, as asas estariam<br />

sugeridas na letra “V”,<br />

que remete às asas abertas<br />

de um pássaro. Esse “vôo” da<br />

letra V se expande pelo texto<br />

na retomada fonética do som<br />

/v/ em palavras como “suave”,<br />

“leve”, “amavio”, “vida”, “vôo”.<br />

124. Ao ver o vôo da ave, o eu lírico<br />

se entristece (1a estrofe), já<br />

que dessa forma conscienti-<br />

za-se do fato de não ser livre,<br />

de não “ter não sei quê do<br />

vôo suave” dentro do seu ser<br />

(última estrofe).<br />

125. As interrogações refletem o<br />

intenso questionamento do eu<br />

lírico. Haver uma única e longa<br />

resposta sugeriria a impossibilidade<br />

de respostas fáceis<br />

ou diretas a esse processo de<br />

auto-análise.<br />

126. C 127. A 128. E<br />

129. A<br />

130. a) O pronome ele tem como<br />

referente o poeta, enquanto<br />

eles é referência aos<br />

leitores (os que lêem).<br />

b) Em relação a ele há duas<br />

dores, a sofrida e a fingida,<br />

já que em relação a eles<br />

há qualquer dor que não<br />

seja sentida e identificada,<br />

devido a sua inconsciência<br />

diante da vida.<br />

131. D<br />

132. Esses versos pertencem a<br />

Alberto Caeiro. Como podemos<br />

perceber, Alberto Caeiro<br />

escreve com uma linguagem<br />

simples e com um vocabulário<br />

limitado de um poeta camponês<br />

pouco ilustrado. Pratica<br />

o realismo sensorial, numa<br />

atitude de rejeição às atitudes<br />

da poesia simbolista.<br />

133. Os títulos fazem referência aos<br />

heterônim os do autor, os<br />

quais são faces da personalidade<br />

do poeta que buscou<br />

apresentar a complexidade e<br />

a multiplicidade do homem.<br />

134. D 135. D<br />

136. A<br />

137. a) Alberto Caeiro representa o<br />

“camponês sábio”, o “guardador<br />

de rebanhos”; o poeta<br />

que se insurge contra a<br />

poesia, contra tudo o que<br />

certa tradição consagrou<br />

como poética (a rima, a<br />

métrica, a linguagem figurada,<br />

as metáforas). É um<br />

pensador que se expressa<br />

em versos e que propõe<br />

uma “filosofia” contra a especulação<br />

filosófica, contra<br />

a abstração, contra a metafísica,<br />

contra o misticismo.<br />

b) Nos dois textos, há o despojamento<br />

(apontado no<br />

item anterior). Em Caeiro,<br />

a simplicidade da “forma”<br />

é também “conteúdo”, intenção,<br />

programa. Por isso,<br />

realiza uma poesia intencionamente<br />

prosáica, com<br />

o livre andamento da prosa,<br />

enfática, redundante,<br />

com os recursos retóricos<br />

de quem visa a convencer<br />

e não a encantar ou comover,<br />

mesmo que, muitas<br />

vezes, encante exatamente<br />

pela simplicidade. É a linguagem<br />

de um camponês<br />

inculto.<br />

138. E<br />

139. a) Ao pedir que o sepultem<br />

“sem cruz”, Alberto Caeiro<br />

explicita sua rejeição ao<br />

cristianismo ao dizer, na<br />

seqüência, que “foi buscar<br />

os deuses”. Mostra uma<br />

recusa ao monoteísmo e<br />

uma aceitação implícita ao<br />

paganismo.<br />

b) A palavra “deuses” mostra<br />

a recusa de Caeiro à nação<br />

de um princípio unitário,<br />

abstrato, antecedente. Vai<br />

nessa mesma direção o<br />

sentido do verso “A natureza<br />

é partes sem um<br />

todo”. O que interessa a<br />

Caeiro são as coisas em si,<br />

concretas e singulares, as<br />

flores, as árvores, os rios,<br />

e não o conceito generalizante<br />

que as engloba sob<br />

o nome de “natureza”.<br />

140. B 141. C 142. D<br />

143. B 144. D<br />

145. a) As marcas formais que<br />

realçam a monotonia a<br />

que se refere o tema do<br />

poema são: as rimas, que<br />

se repetem ao longo de<br />

todo o poema (ia/ou/ia/ou);<br />

o último verso de cada<br />

estrofe, que é exatamente<br />

o mesmo (“Desde ontem<br />

a cidade mudou.”), funcionando<br />

como uma espécie<br />

de refrão; e, finalmente<br />

(e mais fracamente), a<br />

distribuição em quadras<br />

da organização estrófica<br />

do poema.<br />

319


) A quebra da monotonia,<br />

para o poeta, é provocada<br />

pela morte do dono da<br />

tabacaria em frente da<br />

qual ele passava todos os<br />

dias.<br />

c) A morte do dono da tabacaria<br />

vem quebrar a<br />

monotonia da vida do eu<br />

lírico porque o local e seu<br />

dono serviam para ele<br />

como ponto de referência<br />

(“Um ponto de referência<br />

de quem sou.”); assim,<br />

essa perda representa para<br />

ele igualmente perda de<br />

parte de sua identidade (“é<br />

morte aquilo onde estou.”),<br />

bem como reconhecimento<br />

de sua insignificância no<br />

mundo que o rodeia (“Se<br />

morrer, não falto”).<br />

146. O futurismo faz apologia ao<br />

mundo moderno, à máquina, à<br />

velocidade. Os segmentos que<br />

justificam: “um motor exprime<br />

/ ser completo como uma<br />

máquina / triunfante como um<br />

automóvel / calores de carvão”<br />

etc.<br />

147. A 148. C 149. D<br />

150. B<br />

151. a) Álvaro de Campos<br />

b) Alberto Caeiro<br />

c) Ricardo Reis<br />

152. E 153. B 154. A<br />

155. A 156. B<br />

157. a) Para o poeta, o piano é<br />

um artifício imitador da<br />

natureza, uma intromissão<br />

humana (aliás, inútil) na<br />

busca da perfeição (associada<br />

à natureza).<br />

b) O piano representa a própria<br />

arte na sua ânsia de se<br />

aproximar da essência na<br />

natureza para exprimi-la.<br />

158. A primeira e a terceira estrofes<br />

do Poema X podem ser associadas<br />

a Fernando Pessoa. A<br />

primeira, por indicar a possibilidade<br />

de entrever algum significado<br />

além do identificável<br />

imediatamente pelos sentidos;<br />

a terceira, pela expressividade<br />

melancólica e abstrata. A<br />

segunda e a quarta estrofes<br />

320<br />

podem ser associadas a Alberto<br />

Caeiro, pela maneira como,<br />

em ambas, o “guardador de<br />

rebanhos” trata a Natureza:<br />

como algo concreto, acabado<br />

em si, sem nenhum significado<br />

exterior ou interior.<br />

159. a) A entrada para a Academia<br />

Italiana de Letras.<br />

b) Álvaro de Campos se<br />

mostra desiludido com a<br />

rendição do poeta italiano<br />

ao chamado acadêmico.<br />

c) O texto I, de Marinetti, evidencia<br />

o posicionamento dos<br />

futuristas contrários à vida<br />

acadêmica, razão pela qual<br />

Álvaro de Campos manifesta<br />

sua desilusão diante do que<br />

considera um retrocesso,<br />

uma traição do fundador do<br />

movimento aos seus próprios<br />

princípios.<br />

160. A 161. D 162. D<br />

163. C 164. C 165. D<br />

166. A 167. C<br />

168. Corretas: 2 e 3. 169. A<br />

170. C 171. D 172. E<br />

173. C 174. A 175. D<br />

176. O texto Hagar, o Horrível permite<br />

uma leitura irônica do Romantismo<br />

e do Parnasianismo<br />

pela presença da natureza, pela<br />

expressão enfática de emoções<br />

(o emprego das exclamações)<br />

e pela preocupação formal (“é<br />

só colocar rima nisso aí”) como<br />

característica da expressão<br />

poética.<br />

O texto Radical Chic, em uma<br />

combinação de linguagem verbal<br />

e não-verbal, trabalha ironicamente<br />

com uma se-qüência<br />

de idéias que se desconstroem<br />

no último quadro, buscando a<br />

expressão do humor – uma<br />

das características presentes<br />

no Modernismo.<br />

177. D 178. A<br />

179. V, V, F, F, V<br />

180. a) Sim. O poeta usa a linguagem<br />

para falar sobre a<br />

linguagem.<br />

b) Versos livres, oralidade e<br />

liberdade temática.<br />

181. B<br />

182. F, V, V, V, F<br />

183. <strong>10</strong> (02 + 08) 184. D<br />

185. A 186. D 187. C<br />

188. A 189. B 190. C<br />

191. D 192. A 193. C<br />

194. D 195. C 196. B<br />

197. E 198. E 199. A<br />

200. D 201. D 202. D<br />

203. D 204. A 205. C<br />

206. a) A presença do índio.<br />

b) “que nem”, “gatão”.<br />

207. Versos livres e linguagem<br />

coloquial.<br />

208. a) Meus oito anos, de Casimiro<br />

de Abreu.<br />

b) Metrificação irregular, coloquialismo<br />

(plano formal);<br />

apelo ao cotidiano do eu<br />

lírico, prosaísmo (situações).<br />

c) “Fazendo grandes planos/E<br />

chutando lata”. Há a contradição<br />

entre uma coisa<br />

séria, pensar no futuro, e o<br />

descompromisso de chutar<br />

lata.<br />

209. A 2<strong>10</strong>. D 211. C<br />

212. D 213. B 214. C<br />

215. E 216. E 217. E<br />

218. V, F, V, F<br />

219. F, F, F, V<br />

220. A 221. E 222. A<br />

223. D 224. D 225. B<br />

226. A 227. D<br />

228. Os recursos formais valorizados<br />

pela linguagem modernista<br />

são: linguagem coloquial,<br />

liberdade formal. Esses recursos<br />

podem ser associados<br />

à experiência de que trata o<br />

poema: a busca de liberdade<br />

no aproveitamento das vivências<br />

mais corriqueiras.<br />

229. E 230. C<br />

231. 45 (01 + 04 + 08 + 32)<br />

232. C 233. E 234. B<br />

235. D 236. E 237. B<br />

238. D<br />

239. Para Mário de Andrade, dançar<br />

com religião é dançar de<br />

forma espontânea, prazerosa<br />

e feliz.<br />

240. a) o que falta pra certos<br />

moços de tendência modernista<br />

brasileiros é isso:


PV2D-07-54<br />

gostarem de verdade da<br />

vida. Eu não posso compreender<br />

um homem de<br />

gabinete e vocês todos,<br />

do Rio, de Minas, do Norte<br />

me parecem um pouco de<br />

gabinete demais; estudar é<br />

bom e eu também estudo.<br />

Mas depois do estudo do<br />

livro e do gozo do livro, ou<br />

antes vem o estudo e gozo<br />

da ação corporal. Fique<br />

sabendo duma coisa, se<br />

não sabe ainda: é com<br />

essa gente que se aprende<br />

a sentir e não com a<br />

inteligência e a erudição<br />

livresca.<br />

b) Mário de Andrade vê uma<br />

incorporação de elementos<br />

e valores da cultura popular<br />

à cultura erudita.<br />

241. a) Uma interpretação possível<br />

é “não há, de jeito nenhum,<br />

caminho para os amantes<br />

da Terra”. Outra interpretação<br />

é de que “não há<br />

caminho idêntico para os<br />

amantes da Terra”.<br />

b) A interpretação mais adequada<br />

é “não há caminho<br />

idêntico para os amantes<br />

da Terra” pois, de acordo<br />

com o texto, como as terras<br />

do Rio, de Minas e do Norte<br />

são admiráveis, longas<br />

caminhadas por esses<br />

caminhos seriam sempre<br />

interessantes. Já a interpretação<br />

de que “não há,<br />

de jeito nenhum, caminho<br />

para os amantes da Terra”<br />

torna o texto sem sentido.<br />

242. a) Albino: “fraco e submisso”<br />

José: “dignidade custora de<br />

um gesto de rebeldia.”<br />

Joaquim Prestes: “autoritarismo<br />

caprichoso e arbitrário<br />

que se arroga todos os<br />

direitos.”<br />

b) Sim, pois o poço representa<br />

os riscos e a submissão que<br />

engolem os trabalhadores.<br />

243. a) Porque o personagem tem<br />

sua existência vinculada ao<br />

trabalho.<br />

b) Sentia-se um vagabundo.<br />

244. B 245. A 246. B<br />

247. B 248. C 249. E<br />

promete a ser fiel a uma<br />

250. D 251. D 252. A<br />

das filhas de Vei, a Sol;<br />

253. C 254. C 255. B<br />

porém, ao brincar com uma<br />

256. E 257. A<br />

259. C 260. B<br />

262. E<br />

263. V, V, V, V, V<br />

264. C 265. A<br />

258. C<br />

261. C<br />

266. E<br />

portuguesa, ele quebra<br />

sua promessa. Dentro do<br />

contexto da obra, entregarse<br />

à portuguesa revela a<br />

opção de Macunaíma pela<br />

sedução dos valores euro-<br />

267. B 268. D 269. B<br />

peus. Ele, portanto, deixa<br />

270. V, F, V, F<br />

de afirmar uma identidade<br />

271. V, V, F, F<br />

tropical (solar) própria, o<br />

272. C 273. C<br />

que configuraria a “opção<br />

274. a) Os três povos que forma- pela América”.<br />

ram nossa raça.<br />

b) Possíveis respostas: (1)<br />

b) A nacionalidade é explora- Macunaíma é o herói sem<br />

da neste episódio por meio nenhum caráter e, como ele<br />

do mito das três raças que nos representa (os brasilei-<br />

a constituem. A mistura é ros), a civilização européia<br />

abençoada, na medida em não poderia esculhambar<br />

que os três homens do epi- o “nosso caráter”. (2) Pelo<br />

sódio são irmãos. Pode-se fato de que, no contexto<br />

perceber aí, portanto, uma do livro, Macunaíma é que<br />

alusão à suposta democracia<br />

racial brasileira.<br />

esculhamba os valores<br />

europeus. (3) A afirmação<br />

275. a) Sim, Brás Cubas aspira ao expressa o despeito do<br />

gozo, ao poder e à glória, herói. No capítulo em ques-<br />

evidenciando uma trajetória<br />

individualista e indisciplinada<br />

que o afasta de<br />

ideologias, permitindo-lhe<br />

“se abandonar a todo repertório<br />

de idéias, gestos<br />

e formas que encontre em<br />

seu caminho.”<br />

b) Sim. “Macunaíma, o herói<br />

sem nenhum caráter”<br />

demonstra um comportatão,<br />

ele procura um jeito de<br />

ir atrás de Piaimã, que foi<br />

se curar na Europa. Tenta,<br />

sem sucesso, uma bolsa<br />

do governo para custear<br />

sua viagem. Não ir à Europa,<br />

portanto, não ocorre<br />

por convicção patriótica.<br />

278. A 279. E 280. C<br />

281. C 282. E 283. A<br />

mento contraditório, mul- 284. A 285. C 286. D<br />

tifacetado e de conduta 287. A 288. E 289. D<br />

complexa, guiado pelo<br />

prazer, pelo medo e pelo<br />

oportunismo.<br />

276. O subtítulo “o herói sem nenhum<br />

caráter” remete a “herói<br />

290. A 291. B<br />

293. E 294. C<br />

296. B 297. A<br />

299. F, F, V, V, V<br />

292. C<br />

295. B<br />

298. D<br />

descaracterizado” (malan- 300. E 301. D 302. B<br />

dragem, esperteza), distin- 303. C 304. D 305. B<br />

guindo-o do herói indianista 306. A Antropofagia propõe a<br />

romântico. Trata-se de um pro- seleção e o aproveitamento<br />

tagonista sem características<br />

consolidadas (o país é jovem,<br />

o povo está em formação) e<br />

sem característica única devido<br />

ao hibridismo em mescla<br />

cultural (rural urbano, tradição,<br />

modernidade).<br />

277. a) Não. No episódio em questão,<br />

Macunaíma se com-<br />

das influências culturais que<br />

formaram nossa nação, somando-as<br />

e mesclando-as<br />

com a nossa cultura, com a<br />

nossa raiz, propondo uma<br />

releitura de nossa História a<br />

partir desta ótica.<br />

307. E 308. C<br />

321


309. a) Quanto à forma, o texto<br />

caracteriza-se como prosa,<br />

quanto ao conteúdo, pode<br />

ser considerado como poesia,<br />

tendo em vista as<br />

subjetividades, o realismo<br />

fantástico ou ao menos improvável,<br />

além do gênero<br />

lenda.<br />

b) Não só pelo título, mas até<br />

mesmo pelo conteúdo, o<br />

texto remete a Macunaíma<br />

(Mário de Andrade), pelo<br />

registro da mitologia brasileira.<br />

3<strong>10</strong>. E<br />

311. “triturando-os” – “digerindo-os”<br />

312. O trecho destacado aponta<br />

para procedimentos significativos<br />

do projeto modernista:<br />

– a reflexão crítica sobre o<br />

passado;<br />

– a afirmação da cultura<br />

nacional;<br />

– a síntese das influências<br />

externas e internas, resultante<br />

da avaliação crítica da<br />

cultura nacional (conforme<br />

Movimento antropófago).<br />

313. Inventividade, utilização de neologismos,<br />

frases curtas, períodos<br />

independentes, fragmentação<br />

(fleches de memória),<br />

entre outras características<br />

inovadoras.<br />

314. a) O quarto verso do poema<br />

exprime o ressentimento<br />

do enunciador diante da<br />

aculturação do índio brasileiro<br />

pelo colonizador<br />

português.<br />

b) Os três últimos versos do<br />

poema estabelecem uma<br />

relação antitética com os<br />

três primeiros. Nestes,<br />

o autor aponta o que é<br />

a realidade histórica de<br />

descaracterização da cultura<br />

indígena; naqueles,<br />

afigura-se uma história potencial<br />

e mágica, sonhada<br />

pelo poeta, em que o índio<br />

pudesse ter influenciado a<br />

cultura européia. (O índio<br />

teria despido/O português).<br />

Cabe, ainda, lembrar que<br />

os três últimos versos, de<br />

natureza volitiva, reforçam<br />

322<br />

o quarto verso do texto<br />

(Que pena!).<br />

c) O poema, como um todo,<br />

estabelece com o Manifesto<br />

uma relação de reforço.<br />

Critica o índio cristianizado,<br />

europeizado. Mostra o aniquilamento<br />

do pensamento<br />

selvagem pela cultura racional<br />

do Ocidente, mas<br />

com aproveitamento ideológico<br />

das sugestões de<br />

cor local (índio vestido de<br />

Senador do Império; Contra<br />

o índio de tocheiro).<br />

Há, ainda, uma investida<br />

contra a idealização do<br />

índio, na construção alegórica<br />

de Alencar e dos românticos<br />

(Ou figurando nas<br />

óperas de Alencar cheio de<br />

bons sentimentos).<br />

315. a) No texto I, há o sincretismo<br />

religioso que aponta para<br />

a antropofagia também<br />

na utilização de um vocabulário<br />

que mistura várias<br />

fontes lingüísticas.<br />

b) No texto I, Macunaíma<br />

se revela nas suas práticas<br />

religiosas, com sua<br />

linguagem peculiar. Já o<br />

texto II apresenta ironia<br />

com relação ao discurso<br />

bem elaborado, mas pobre<br />

de conteúdo. Macunaíma<br />

utiliza uma linguagem que<br />

não é sua e soa de forma<br />

falsa.<br />

316. Os dois traços aparecem na<br />

paródia do discurso religioso. A<br />

vertente “destrutiva” pode ser<br />

observada na desconstrução<br />

do Pai Nosso; a “construtiva”<br />

fica evidente na reconstrução<br />

poética dessa prece, acrescentando-lhe<br />

novos elementos<br />

que garantem a dimensão<br />

estética do poema.<br />

317. E 318. A 319. E<br />

320. A 321. D 322. D<br />

323. C 324. C 325. B<br />

326. E 327. D 328. D<br />

329. C 330. A<br />

331. V, V, F, F, V<br />

332. E 333. C 334. A<br />

335. E 336. D<br />

337. “Bebi o café que eu mesmo<br />

preparei.”<br />

338. C 339. E<br />

340. A defesa da liberdade de expressão<br />

absorvendo o coloquialismo<br />

e as características da <strong>Língua</strong><br />

<strong>Portuguesa</strong> falada no Brasil.<br />

341. D 342. B 343. A<br />

344. D 345. E<br />

346. O texto I pertence ao Romantismo,<br />

e o texto II ao Modernismo.<br />

A relação amorosa,<br />

no texto I, caracteriza-se pelo<br />

lirismo e pela idealização. No<br />

texto II, a relação se caracteriza<br />

pela irreverência.<br />

347. O poeta acostuma-se e passa<br />

a aceitar Teresa como criatura<br />

de Deus e natural.<br />

348. a) A interjeição “Meu Deus!”<br />

indica a insatisfação e a<br />

surpresa do poeta.<br />

b) A seqüência “um cão”,<br />

“um gato”, “um rato”, “um<br />

homem” recebe o nome de<br />

gradação.<br />

349. a) O texto remete ao poema<br />

Canção do exílio, de Gonçalves<br />

Dias, especialmente<br />

nos primeiros versos, mas<br />

é possível, ainda, notarmos<br />

referências a Carlos Drummond<br />

de Andrade, no trecho<br />

“intensa poesia”, e ao<br />

livro Rosa do povo. Cite-se,<br />

também, que o último verso<br />

do texto faz lembrar Guimarães<br />

Rosa e o ambiente<br />

básico de sua obra Grande<br />

sertão: Veredas, além da<br />

referência à futura eleição<br />

de Guimarães Rosa à Academia<br />

Brasileira de Letras,<br />

nos versos 2, 3, 4, 5 e 6.<br />

b) Não, pois se trata de redondilhas<br />

maiores (sete<br />

sílabas), como no poema<br />

Canção do exílio, de<br />

Gonçalves Dias, ao qual<br />

Manuel Bandeira parodia.<br />

350. a) Há o uso dos diminutivos<br />

que remetem à linguagem<br />

infantil (“ternurinhas”,”bich<br />

inho”), além de uma certa<br />

“informalidade gramatical<br />

em “dor de coração”, “Levava<br />

ele”, “Pra” e a maneira<br />

prosaica, simples, franca


PV2D-07-54<br />

com que confessa sua<br />

paixão.<br />

b) A “dor de coração” que<br />

lhe dava era proveniente<br />

de um sentimento de rejeição,<br />

de indiferença do<br />

porquinho, assim como da<br />

namorada, a tudo que o eu<br />

lírico fazia para demonstrar<br />

seu sentimento (“não fazia<br />

caso nenhum das minhas<br />

ternurinhas”).<br />

351. A 352. E 353. D<br />

354. C 355. A 356. C<br />

357. E 358. B 359. C<br />

360. C 361. D 362. D<br />

363. C 364. E 365. C<br />

366. C 367. C<br />

368. a) Beppino, que já havia andado<br />

de automóvel no enterro<br />

de sua tia Peronetta, relata<br />

ao amigo Gaetaninho a<br />

sensação prazerosa de<br />

passear de carro.<br />

b) A narrativa gira em torno<br />

do desejo de Gaetaninho<br />

e dos meninos pobres do<br />

Brás de andar de carro, já<br />

que eles tinham acesso,<br />

quando muito, ao bonde.<br />

Ironicamente, Gaetaninho<br />

só anda de automóvel<br />

quando morre atropelado<br />

pelo bonde.<br />

c) Os nomes das personagens<br />

da narrativa (Beppino,<br />

Gaetaninho, Filomena) caracterizam<br />

as personagens<br />

como imigrantes (ou filhos<br />

de) italianos que vivem em<br />

bairros de nítida ambientação<br />

ítalo-paulistana – Brás,<br />

Bexiga e Barra Funda – e<br />

que constituem o próprio<br />

título da obra.<br />

369. a) No primeiro texto, o efeito<br />

é cômico; no segundo,<br />

aumenta a expressividade<br />

da descrição.<br />

b) Alcântara Machado é modernista<br />

e satiriza o romance<br />

romântico, enquanto<br />

Alencar é escritor romântico.<br />

370. A 371. D 372. A<br />

373. D 374. D 375. B<br />

376. D 377. F, V, V, V, F<br />

378. C<br />

379. 31 (01 + 02 + 04 + 08 + 16)<br />

380. D 381. E 382. C<br />

383. A 384. D 385. D<br />

386. 14 (02 + 04 + 08) 387. D<br />

388. O texto de Murilo Mendes é<br />

uma paródia de “Canção do<br />

exílio”, de Gonçalves Dias. Enquanto<br />

o texto romântico traz<br />

uma visão ufanista da pátria,<br />

Murilo Mendes, em sua “Canção<br />

do exílio”, traz uma visão<br />

crítica da terra natal. Exibe a<br />

face realista do Brasil: país da<br />

miscigenação, dominado pela<br />

cultura estrangeira, com sua<br />

fauna e sua flora em extinção.<br />

Após traçar esse retrato da<br />

pátria, revela um sentimento<br />

de saudade da pátria verdadeira.<br />

389. a) O texto de Murilo Mendes<br />

pode ser associado ao<br />

surrealismo pelas imagens<br />

oníricas que constrói.<br />

b) O autor desestrutura o<br />

senso e instaura o contra-senso<br />

com a relação<br />

que estabelece entre os<br />

verbos e os substantivos,<br />

como se pode notar no 2o ,<br />

no 3o e no 4o versos, entre<br />

outros.<br />

390. Deodoro usa linguagem coloquial,<br />

descontraída e inadequada,<br />

uma vez que seu<br />

interlocutor é o imperador. Já<br />

o imperador embora utilize<br />

uma linguagem mais contida,<br />

revela, em seu discurso, uma<br />

postura de descaso incompatível<br />

com sua posição e com a<br />

gravidade da situação. Esses<br />

diferentes registros de língua<br />

ironizam e criticam o fato histórico<br />

em questão.<br />

391. D 392. A 393. C<br />

394. D 395. C 396. A<br />

397. C 398. E 399. C<br />

400. E 401. E 402. B<br />

403. V, F, V, F, V<br />

404. E 405. D<br />

406. a) “Com as mesmas vinte<br />

palavras / girando ao redor<br />

do sol”. Estes versos configuram<br />

um dos principais<br />

atributos do romancista<br />

alagoano, que desperta<br />

admiração do poeta pernambucano:<br />

a concisão,<br />

a economia vocabular,<br />

a proverbial “secura” de<br />

sua dicção exata, objetiva,<br />

apegada ao essencial e<br />

refratária à adjetivação, à<br />

subordinação, ao ornamental.<br />

b) Os dois-pontos, pospostos<br />

ao nome do romancista,<br />

indicam a enumeração de<br />

seus atributos, das qualidades<br />

que constituem<br />

o texto do poema e seu<br />

conteúdo.<br />

407. a) Sim, Luís da Silva, narrador<br />

de Angústia, era descendente<br />

de antigos proprietários<br />

rurais, mas empobrece<br />

e vive do baixo salário que<br />

recebe como funcionário<br />

público.<br />

b) Como o próprio narrador se<br />

define, ele e os outros iguais<br />

a ele são parafusos sem<br />

utilidade, ou seja, são indivíduos<br />

incapazes de agir, de<br />

mudar a situação. São seres<br />

insignificantes na máquina<br />

social, frustrados e inquietos,<br />

pois têm consciência de<br />

que nada vai mudar.<br />

c) A narrativa afirma que<br />

parafusos fazem “voltas<br />

num lugar só”. Há no texto<br />

imagens, como a da cobra,<br />

por exemplo, que sempre<br />

se voltam numa construção<br />

típica de alguém obcecado<br />

por certos temas (reflexo<br />

de sua desordem interior).<br />

O próprio título da obra já<br />

remete a uma idéia fixa,a<br />

uma dor que não cessa,<br />

o eterno retorno de um<br />

sofrimento.<br />

408. Gondim considera que, para<br />

haver literatura, a linguagem<br />

precisa distanciar-se da fala<br />

cotidiana.<br />

Uma dentre as possibilidades:<br />

• um artista não pode escrever<br />

como fala.<br />

• Se eu fosse escrever como<br />

falo, ninguém me leria.<br />

323


324<br />

O narrador considera que o<br />

texto literário deve se aproximar<br />

da fala cotidiana.<br />

Há lá ninguém que fale dessa<br />

forma!<br />

409. Duas dentre as referências:<br />

• a posse do capital pelo<br />

narrador;<br />

• o poder de comando do<br />

narrador;<br />

• a divisão do trabalho na<br />

composição da obra;<br />

• a posterior propriedade<br />

sobre o produto final, ou<br />

seja, o livro;<br />

• a escola, representada<br />

no texto pelas normas da<br />

gramática escolar;<br />

• a autoridade religiosa.<br />

4<strong>10</strong>. a) Enquanto Paulo Honório<br />

teve pouca escolaridade,<br />

Madalena era professora.<br />

b) Paulo Honório é um empreendedor<br />

capitalista. Raramente<br />

teve suas vontades<br />

contrariadas. O conflito<br />

surge quando se casa com<br />

Madalena, que era mais<br />

humanista e sensível, contrapondo-se<br />

ao marido.<br />

411. a) A palavra “preguiçando” é<br />

formada por sufixação e<br />

“desasnar” é formada por<br />

parassíntese.<br />

b) “Ficar preguiçando” dá<br />

idéia de que os indivíduos<br />

a que o narrador se refere<br />

não trabalham, mas se a<br />

palavra for substituída por<br />

“descansando” dá idéia de<br />

que os indivíduos fazem<br />

uma pausa no trabalho,<br />

que é depois retomado.<br />

No caso de “desasnar”, a<br />

palavra significa deixar de<br />

ser asno, com conotação<br />

negativa, grosseira. Já<br />

“aprender” tem conotação<br />

positiva.<br />

c) Podemos compreender que<br />

os dicionários são registros<br />

de palavras usadas na língua.<br />

O uso das palavras<br />

é constatado em fontes<br />

escritas. Daí pode ser possível<br />

concluir que a “data<br />

de entrada” de uma palavra<br />

na língua pode ser anterior<br />

àquela registrada no dicionário,<br />

pois a palavra pode<br />

ter sido usada na linguagem<br />

oral bem antes de ser utilizada<br />

na linguagem escrita.<br />

412. C 413. C 414. B<br />

415. D 416. C 417. E<br />

418. B 419. V, V, V, F, V<br />

420. V, F, V, V, V<br />

421. B 422. B 423. B<br />

424. E 425. D 426. E<br />

427. B<br />

428. a) A animalização das personagens<br />

humanas que<br />

acaba por deixar a personagem<br />

Baleia quase<br />

“humana”.<br />

b) Graciliano Ramos.<br />

429. A dificuldade para se comunicar<br />

e defender seus direitos<br />

e o aspecto abrutalhado de<br />

Fabiano.<br />

430. a) Drummond se mostra<br />

anticapitalista ao demonstrar<br />

consciência de classe<br />

(“preso à minha classe<br />

e a algumas roupas”) e<br />

ao utilizar o jogo entre as<br />

palavras “mercadorias” e<br />

“melancolias” numa crítica<br />

ao consumismo.<br />

b) Há clara dificuldade de<br />

comunicação (“muros surdos”),<br />

já que há outras camadas<br />

semânticas (“sob a<br />

pele das palavras, há cifras<br />

e códigos”) nas palavras.<br />

Há o sentido conotativo<br />

que nem sempre é compartilhado<br />

por todos, ainda<br />

mais na linguagem poética<br />

em que isso se potencializa.<br />

431. O capítulo “Baleia” deu origem<br />

ao romance Vidas secas. Nele,<br />

Baleia adoece e Fabiano a<br />

mata, temendo que sofra de<br />

hidrofobia e passe a doença<br />

para os meninos. Esse capítulo<br />

é importante porque a<br />

cachorrinha, humanizada pelo<br />

narrador, é um parâmetro de<br />

humanidade que ora se contrapõe<br />

à desumanidade dos<br />

seres humanos, ora parece<br />

representar um veículo de<br />

humanização.<br />

432. A<br />

433. O texto anterior refere-se ao<br />

romance Vidas secas.<br />

434. E 435. A 436. B<br />

437. B 438. E 439. A<br />

440. A 441. C 442. E<br />

443. A 444. D 445. B<br />

446. D<br />

447. E<br />

448. Ciclo da cana-de-açucar (Menino<br />

de engenho, Doidinho,<br />

Bangüê, O moleque Ricardo,<br />

Usina); ciclo do cangaço, misticismo<br />

e seca (Pedra bonita e<br />

Cangaceiro); obras independentes<br />

(Pureza, Riacho doce,<br />

Água-mãe e Eurídice).<br />

449. 1a – “O mestre José Amaro”:<br />

nesta primeira parte, caracteriza-se<br />

o seleiro José Amaro,<br />

sua mulher e sua filha louca.<br />

2a – “O engenho de seu Lula”:<br />

narra-se o apogeu e a decadência<br />

do engenho Santa Fé<br />

e de seu proprietário, o coronel<br />

Lula de Holanda.<br />

3a – “Capitão Vitorino”: a<br />

terceira parte da obra trata<br />

de um dos heróis quixotescos<br />

de nossa literatura, o capitão<br />

Vitorio Carneiro da Cunha,<br />

compadre de José Amaro.<br />

450. “... eu vira ruir,...”<br />

451. D 452. D 453. B<br />

454. Ambos são narrativas em<br />

primeira pessoa, montadas a<br />

partir de lembranças infantis<br />

de vivências em internatos.<br />

455. a) O livro apresenta a decadência<br />

de um ciclo econômico<br />

no Nordeste, e Fogo morto<br />

indica o fim de um ciclo: o<br />

dos engenhos de açúcar.<br />

b) Vidas secas, de Graciliano<br />

Ramos, e Terras do semfim,<br />

de Jorge Amado.<br />

456. a) Cometeu-se um “erro” de<br />

concordância verbal. Com<br />

efeito, o sujeito composto<br />

“Deus do céu e o meu santo<br />

mártir S. Sebastião” exigirá<br />

o verbo no plural, já que<br />

esse verbo vem posposto<br />

ao sujeito.<br />

b) – Deus do céu e o meu santo<br />

mártir S. Sebastião te mandaram<br />

para perto de mim.


PV2D-07-54<br />

457. E 458. B 459. D<br />

460. E 461. V, V, V, V, V<br />

462. V, F, F, F, F 463. D<br />

464. C 465. C 466. D<br />

467. B 468. 65 (01 + 64)<br />

469. C 470. E<br />

471. a) O erotismo, que estaria<br />

presente em praticamente<br />

todas as obras do escritor,<br />

principalmente a partir de<br />

Gabriela, cravo e canela.<br />

b) No texto, a mulher aparece<br />

como um misto de ingenuidade<br />

infantil e sensualidade<br />

vibrante: “Tudo podia<br />

ser, ela parecia uma criança,<br />

as coxas e os seios à<br />

mostra como se não visse<br />

mal naquilo, como se nada<br />

soubesse daquelas coisas,<br />

fosse toda inocência”.<br />

c) De fato, para envolver e<br />

aproximar o leitor do erotismo<br />

da cena, o narrador<br />

apela para o olfato (o cheiro<br />

de cravo que exala de Gabriela)<br />

e para o tato (as mãos<br />

titubeantes de Nacib).<br />

472. E 473. E 474. B<br />

475. D 476. C 477. C<br />

478. 57 (01 + 08 + 16 + 32)<br />

479. D 480. A 481. D<br />

482. Entre outras, destacam-se a<br />

síntese, o uso de versos livres<br />

e o humor.<br />

483. A<br />

484. O eu lírico passa da recusa/<br />

rejeição à proposta/recomendação.<br />

485. A 486. A<br />

487. Uma dentre as alternativas:<br />

– avesso à emoção lírica;<br />

– contrário ao arrebatamento<br />

lírico;<br />

– incompatível com a veemência<br />

lírica.<br />

488. Uma dentre os versos: “Lá<br />

estão os poemas que esperam<br />

ser escritos.”, “Ei-los sós e mudos,<br />

em estado de dicionário.”<br />

Em ambos os trechos, as<br />

palavras nada significam ou<br />

comunicam, porque estão<br />

isoladas e inativas.<br />

489. Nesta crônica sobre as condições<br />

e as contradições do<br />

dizer, Drummond mostra, em<br />

especial na frase “O dizer de<br />

um precisa ser acionado pelo<br />

dizer do outro”, como aquilo<br />

que se diz depende da circunstância<br />

em que se diz e para<br />

quem se diz. Nesse sentido,<br />

o diálogo, isto é, a interação<br />

entre as pessoas é a fonte<br />

que faz florescer, que aciona a<br />

linguagem, enriquecendo-a e<br />

transformando-a. Observe que<br />

embora esta questão se concentre<br />

em apenas um pedaço<br />

do texto, ela pede uma leitura<br />

do seu conjunto, justamente<br />

por tratar-se de um pedaço<br />

– síntese, que engloba o texto<br />

como um todo.<br />

490. “Entre o dizível e o indizível,<br />

balança a criação do poeta...”;<br />

“Dizer o que jamais soube ser<br />

dito...”; “Haverá algo a dizer,<br />

absolutamente infalível...”<br />

Especialmente no último parágrafo<br />

do texto, Drummond<br />

deixa de falar da relação entre<br />

as pessoas em geral e os dizeres<br />

para, de forma indireta mas<br />

perceptível, colocar-se como<br />

manipulador de vocábulos,<br />

como poeta, como alguém em<br />

constante luta pela expressão,<br />

pela linguagem.<br />

491. V, V, V, F, F 492. D<br />

493. B 494. A 495. D<br />

496. B 497. D 498. A<br />

499. V, V, V, F, F 500. B<br />

501. B<br />

502. C 503. B 504. A<br />

505. E<br />

506. a) Ser triste, infeliz.<br />

b) Gênero lírico.<br />

507. 20 (04 + 16)<br />

508. Os elementos típicos da obra<br />

de Vinícius de Moraes são: o<br />

erotismo, o tom coloquial, o<br />

elogio da beleza feminina: a<br />

exploração de formas tradicionais<br />

(no caso, versos em<br />

redondilha maior), as referências<br />

ao cotidiano.<br />

509. Há rigor formal (soneto decassílabo)<br />

e o conteúdo é uma das<br />

marcas do autor: a mistura entre<br />

o amor e a sensualidade.<br />

5<strong>10</strong>. E<br />

511. a) Desvalimento.<br />

b) Onda, nuvem, frágil, elementos<br />

etéreos que não<br />

dão sustentação a ninguém:<br />

fugazes, voláteis, deixam o<br />

poeta só e desvalido quando<br />

passam.<br />

512. D<br />

513. Há diferença entre os modos<br />

de Quitéria e Tibério reagirem<br />

diante da presença da morte.<br />

Ela mostra-se aberta aos<br />

sinais de envelhecimento e<br />

da passagem do tempo, reconhecendo<br />

a naturalidade da<br />

morte – como em “Os nossos<br />

filhos estão criados, não precisam<br />

mais de nós” –, enquanto<br />

Tibério, segundo a visão de<br />

Quitéria, prefere se manter<br />

distante dos indícios de proximidade<br />

do fim da vida, como<br />

em “tens medo de pensar na<br />

tua morte”.<br />

514. D 515. B 516. B<br />

517. B 518. A 519. A<br />

520. A 521. B 522. B<br />

523. A 524. B 525. B<br />

526. D 527. B<br />

528. No trecho acima, o narrador<br />

fala de suas próprias dificuldades<br />

para contar a história.<br />

529. O narrador-personagem é<br />

Riobaldo. A personagem ambígua<br />

é Reinaldo, chamado<br />

de Diadorim apenas por Riobaldo,<br />

sendo Diadorina sua<br />

verdadeira identidade.<br />

530. Grande sertão: veredas. Seu<br />

autor é Guimarães Rosa.<br />

531. C 532. B 533. A<br />

534. A 535. E 536. B<br />

537. A 538. D 539. A<br />

540. E 541. D 542. C<br />

543. B 544. B<br />

545. Sim. O padre faz uso da linguagem<br />

regionalista, própria<br />

do homem do sertão; adequada<br />

à compreensão do seu<br />

interlocutor, Augusto Matraga,<br />

homem rude, criado e vivido<br />

no sertão.<br />

546. A frase do texto que tem o sentido<br />

equivalente é: Deus mede<br />

a espora pela rédea, e não tira<br />

o estribo do pé de arrependido<br />

nenhum...<br />

325


547. C 548. B 549. E<br />

550. D<br />

551. a) Desfeitio<br />

Na expressão “o desfeitio<br />

da vida”, pode-se ressaltar<br />

o sentido de que a vida não<br />

tem feição ou configuração<br />

certa.<br />

b) Uma dentre as formas:<br />

• muito inteligente<br />

• bastante inteligente<br />

• bem inteligente<br />

• deveras inteligente<br />

• assaz inteligente<br />

• inteligentíssimo<br />

552. a) “Darandina”, de Guimarães<br />

Rosa, aborda as fronteiras<br />

entre a normalidade e a<br />

loucura. O ponto climático<br />

da história ocorre no momento<br />

em que o pretenso<br />

louco desce da escada e<br />

exclama enfaticamente<br />

Viva a luta! Viva a liberdade!<br />

e é ovacionado pela<br />

multidão, o que leva o<br />

leitor ao questionamento<br />

da loucura.<br />

b) O conto Tarantão, meu<br />

patrão mostra um velho de<br />

escasso juízo que sai em<br />

sua última cavalgada para<br />

matar o sobrinho Magrinho.<br />

Depois de muitas aventuras,<br />

surge o anticlímax,<br />

sem o esperado desfecho<br />

trágico, novamente questionando<br />

o leitor sobre a<br />

loucura.<br />

553. a) Ninhinha está vinculada a<br />

um espaço rural mais afastado<br />

e primitivo. É também<br />

um espaço mítico, que se<br />

instaura já a partir dos topônimos:<br />

Serra do Mim, lugar<br />

chamado Temor-de-Deus.<br />

Brejeirinha associa-se a<br />

um espaço ainda rural, mas<br />

com articulação mais complexa:<br />

a presença do primo<br />

Zito, as referências à caixa<br />

de fósforo, ao chiclete e<br />

às narrativas inventadas<br />

pela protagonista, que nos<br />

remetem a outras séries<br />

literárias.<br />

326<br />

b) Brejeirinha, a contadora de<br />

histórias, é uma espécie de<br />

Sherazade, a princesa dos<br />

contos das Mil e uma noites,<br />

narradora de capacidade<br />

inventiva interminável.<br />

Ninhinha é a criança primordial,<br />

mágica, a quem o<br />

imaginário religioso popular<br />

e familiar atribui poderes<br />

miraculosos, entre eles o<br />

de profetizar a própria morte<br />

e antever o caixãozinho<br />

cor-de-rosa, com enfeites<br />

verdinhos.<br />

554. a) Guimarães e Miguilim<br />

aproximaram-se. Guimarães<br />

caracterizou-se pela<br />

versatilidade na arte de<br />

contar estórias compridas,<br />

sem carecer de esforço e<br />

que ninguém nunca tinha<br />

sabido.<br />

b) É possível responder a<br />

esse item de duas maneiras,<br />

ambas interpretativas:<br />

– Sair do Mutum tolhe a<br />

capacidade de contador<br />

de estórias, pois ele passa<br />

a enxergar claramente a realidade,<br />

em nítida oposição<br />

realidade X imaginação.<br />

– Não tolhe, porque suas<br />

reflexões podem se tornar<br />

reminiscências de um mundo<br />

mágico a ser resguardado.<br />

555. C 556. D 557. D<br />

558. A 559. A 560. B<br />

561. D 562. D 563. B<br />

564. E 565. D 566. E<br />

567. B 568. D 569. C<br />

570. D 571. E 572. C<br />

573. B 574. A 575. E<br />

576. D 577. B 578. A<br />

579. C 580. D 581. A<br />

582. E 583. C<br />

584. V, V, F, F, V<br />

585. E 586. E 587. A<br />

588. C 589. A 590. A<br />

591. D 592. A 593. A<br />

594. F, V, V, V, V 595. A<br />

596. a) Há um contraste entre a<br />

dificuldade na busca da palavra<br />

(que é um processo<br />

“doloroso”, feito “à força”)<br />

e a realização da fala que<br />

sai numa entonação “lisa”,<br />

“adocicada”.<br />

b) “Ela” retoma o termo “glace”.<br />

Há uma referência imagética:<br />

a dureza da palavra<br />

pedra está mascarada na<br />

doçura das palavras confeitadas,<br />

adocicadas por<br />

essa glace.<br />

597. E 598. A 599. D<br />

600. A 601. E<br />

602. a) “Imaginavazinha” é uma<br />

invenção lingüística de<br />

Clarice Lispector, procedimento<br />

comum no tipo<br />

de escrita criativa que ela<br />

pratica, fundindo poesia e<br />

prosa. Acrescendo ao pretérito<br />

imperfeito do verbo<br />

imaginar o sufixo -zinha,<br />

formador de diminutivos,<br />

o verbo ganha uma carga<br />

de afetividade notável e<br />

provoca um efeito de “estranhamento”<br />

lingüístico.<br />

b) A forma diminutiva insólita<br />

revela a empatia e a comiseração<br />

do narrador, Rodrigo<br />

S. M., por sua personagem.<br />

Tudo se passa como<br />

se a ternura aproximasse o<br />

narrador da personagem,<br />

no instante em que ela<br />

manifesta essa mínima humanidade,<br />

sua imaginação<br />

limitada e dolorosa.<br />

603. a) De Natal: celebração da<br />

natalidade, do nascimento,<br />

da vida.<br />

Pernambucano: adaptação<br />

dos tradicionais autos de<br />

Natal da Idade Média (que<br />

celebravam o nascimento<br />

de Cristo) às condições<br />

físicas e sociais de Pernambuco.<br />

b) Severina: severa, cruel.<br />

c) Trajetória da morte (negação<br />

da vida, como, por<br />

exemplo, as dificuldades da<br />

existência “severina”: miséria,<br />

fome etc.) para a vida<br />

(reafirmação do mistério da<br />

beleza da vida e renovação<br />

das esperanças).


PV2D-07-54<br />

604. a) A obra A hora da estrela<br />

alude, metaforicamente,<br />

à morte, ao instante de<br />

fulguração rápida, mas<br />

reveladora de todo um<br />

sentido da existência. É a<br />

epifania.<br />

b) A hora da estrela, banal<br />

e reveladora, é o instante<br />

maior de Macabéa, anônima,<br />

estatelada na rua, mas<br />

objeto da atenção fugaz<br />

dos transeuntes anônimos.<br />

605. a) Os versos transcritos ocorrem<br />

no episódio propriamente<br />

“natalino” da peça de<br />

João Cabral: o nascimento<br />

da criança. Este episódio<br />

funciona, no contexto da<br />

obra, como defesa da vida,<br />

ainda que se trate de uma<br />

defesa fraca e hesitante<br />

(apenas mais uma “vida<br />

severina”).<br />

Por isso, o mestre carpina<br />

toma o evento como argumento<br />

contra o pretendido<br />

suicídio do retirante.<br />

b) Os verbos em questão têm,<br />

no contexto, o seu sentido<br />

alterado, invertido: em vez<br />

das ações deletérias (destrutivas)<br />

que habitualmente<br />

indicam, eles ganham<br />

sentido positivo, pois operam<br />

em favor do “novo” (a<br />

nova vida, a esperança de<br />

redenção social) contra o<br />

“velho” (o status quo injusto,<br />

opressor, desumano).<br />

606. D 607. A 608. D<br />

609. C 6<strong>10</strong>. C<br />

611. E, C, B, A, D 612. D<br />

613. D 614. B 615. A<br />

616. B 617. C 618. A<br />

619. E 620. B 621. B<br />

622. A disposição gráfica do poema<br />

no papel, buscando uma espacialização<br />

e uma visualização<br />

do texto, conforme algumas<br />

experiências do Cubismo e<br />

do Futurismo. Além disso, o<br />

poema submete as palavras<br />

do slogan publicitário “Beba<br />

Coca-Cola” a um processo de<br />

desmontagem e remontagem,<br />

dando origem a novas sílabas<br />

e palavras a partir da troca de<br />

apenas alguns fonemas.<br />

623. Ao dividir as palavras, o poeta<br />

sugere as idéias de terra, ter,<br />

erra, ara e o termo rat. Isso<br />

gera a coerência do texto, já<br />

que esses termos remetem ao<br />

campo semântico da questão<br />

agrícola e da divisão de terra.<br />

A má distribuição de terras está<br />

explícita na divisão irregular<br />

das palavras no poema.<br />

624. a) Na disposição espacial das<br />

palavras.<br />

b) A ampliação das palavras<br />

“pensa” e “nunca”.<br />

625. D 626. E<br />

627. Carlos de Oliveira, poeta<br />

português contemporâneo,<br />

trabalha o fato de a literatura<br />

explorar sempre um mesmo<br />

universo de palavras (“nada se<br />

cria, nada se perde”) para criar<br />

seus poemas; no entanto, os<br />

poemas estão em constante<br />

busca de novas formas (“tudo<br />

se transforma”).<br />

628. A 629. B<br />

630. É possível estabelecer comparações<br />

– de ordem lingüística<br />

e, inevitavelmente, literária<br />

– entre o uso do palavrão “foder”,<br />

no poema Define a sua<br />

cidade, de Gregório de Matos,<br />

e “puta que o pariu”, “puta”,<br />

“pariu” e/ou “foder”, no trecho<br />

do conto Intestino grosso, de<br />

Rubem Fonseca.<br />

Basicamente, em Gregório,<br />

o vocábulo aponta para uma<br />

corrosiva e desbocada crítica<br />

à situação de permissiva licenciosidade<br />

reinante na Bahia,<br />

então colônia portuguesa. À<br />

crítica a tais abusos e desregramentos<br />

morais, o poema<br />

acrescenta a denúncia de<br />

roubo e, por extensão, considerado<br />

o contexto histórico<br />

em que se localiza a obra<br />

gregoriana, de desmandos e<br />

de corrupção, ao reunir num<br />

sintagma os dois “ff” – “furtar<br />

e foder”. Poder-se-ia ampliar a<br />

resposta indicando traços estilísticos<br />

do Barroco presentes<br />

no poema, como o hipérbato,<br />

e o jogo cultista-conceptista<br />

inscrito nos versos de verve<br />

fescenina do intitulado Boca<br />

do Inferno.<br />

O teor político e sacrílego do<br />

poema de Gregório, em especial<br />

a partir do palavrão nele<br />

contido, se esvazia no trecho<br />

de Rubem Fonseca. Aqui,<br />

a banalização do chamado<br />

palavrão se acentua já no fato<br />

de ser enunciado por “coros de<br />

meninas”, a que, supostamente,<br />

se reservaria uma imagem<br />

de pureza e casticismo vernáculo.<br />

Além da banalização<br />

que desgasta a contundência<br />

do palavrão, o trecho também<br />

aponta para o “efeito<br />

catártico”, coletivo, de seu uso.<br />

Poder-se-ia ampliar a resposta<br />

indicando traços estilísticos<br />

da literatura contemporânea<br />

presentes no trecho, como o<br />

coloquialismo da linguagem,<br />

a presença “naturalizada” de<br />

termos chulos e a reflexão de<br />

caráter metalingüístico.<br />

631. D 632. D 633. B<br />

634. D 635. A 636. C<br />

637. B 638. D 639. E<br />

640. E 641. B 642. E<br />

643. E 644. B 645. C<br />

646. B 647. A<br />

648. a) Texto I: Realismo<br />

Texto II: Modernismo<br />

b) O candidato deverá apresentar<br />

duas possibilidades<br />

de pontuação, como por<br />

exemplo:<br />

Marcação de diálogo: o<br />

emprego do travessão no<br />

texto I marca a fala diferenciada<br />

de cada personagem;<br />

o uso das aspas no<br />

texto II apresenta o diálogo<br />

incorporado ao fluxo da<br />

narrativa.<br />

Uso do ponto: no texto I indica<br />

o término de um período<br />

da narrativa, enquanto sua<br />

substituição pela vírgula<br />

no texto II destaca a lembrança<br />

de seqüência de<br />

ações.<br />

649. a) E quando cheguei à tarde<br />

na minha casa lá no 27<br />

(Regência do verbo chegar).<br />

327


) Que você tem?<br />

O que você tem?<br />

O que é que você tem?<br />

Que é que você tem?<br />

Que tem você?<br />

c) e assim que entramos<br />

nele.<br />

650. a) Macabéa e Fabiano assemelham-se<br />

no desconhecimento<br />

da linguagem culta<br />

e no fascínio que sentem<br />

por palavras ‘misteriosas’,<br />

cujos sentidos, de certa<br />

forma, ignoram.<br />

b) Macabéa quer, a todo<br />

custo, aprender a usar as<br />

palavras que ouve, fascinada<br />

por elas. Já Fabiano,<br />

reconhecendo a linguagem<br />

como instrumento de dominação,<br />

às vezes decoravaas<br />

e empregava-as para<br />

depois esquecê-las.<br />

651. E quero me dedicar<br />

A criar confusão de prosódia<br />

E uma profusão de paródias.<br />

– manuseio livre da língua<br />

(confusão de prosódia)<br />

– o texto de, Caetano Veloso<br />

utiliza profusamente as<br />

paródias<br />

652. a) Monólogo interior como<br />

forma de expressar o fluxo<br />

de consciência.<br />

b) A desintegração de Ana<br />

Clara pela prostituição e<br />

drogas (Ana Clara fazendo<br />

amor).<br />

328<br />

O engajamento político de<br />

Lião (Lião fazendo comício).<br />

653. D 654. D 655. C<br />

656. D 657. B 658. C<br />

659. A 660. C 661. A<br />

662. C 663. A 664. A<br />

665. C 666. A 667. E<br />

668. E 669. C<br />

670. O como não importa: no bom<br />

resultado está o mérito.<br />

671. Quem é rico não precisa justificar<br />

seus atos, já que a lei é<br />

feita apenas para os pobres.<br />

672. Destacar a ruptura no clima de<br />

fantasia do teatro: o personagem<br />

esclarece ao público que<br />

ele representa um tipo social;<br />

Mas esta cena basta para nos<br />

identificar perante o público.<br />

673. Sim. (Destacar o conceito de<br />

família ligado à propriedade<br />

que o personagem expõe:<br />

quem não tem propriedade<br />

não tem família; pobre não tem<br />

família, tem prole.<br />

674. E 675. E<br />

676. A peça rompe com a regra<br />

clássica do teatro que prevê<br />

as três unidades: uma ação,<br />

um tempo e um espaço. O<br />

dramaturgo divide a ação em<br />

três planos (da memória, da<br />

alucinação e da realidade) que<br />

se interpenetram ao longo da<br />

obra.<br />

677. A obra aproxima os símbolos<br />

de amor e morte em vários<br />

momentos. A Marcha Fúnebre<br />

indica a morte de Alaíde, e a<br />

Marcha Nupcial, o casamento<br />

de Lúcia com Pedro.<br />

678. a) A proposta serve para<br />

fins imorais, já que visa a<br />

caluniar o governo para<br />

manipular a classe média.<br />

b) A classe média se vê como<br />

guardiã da moralidade,<br />

como espécie de compensação<br />

de sua falta de<br />

recursos.<br />

679. a) A repetição sonora indica<br />

que a semelhança, além de<br />

fonética, também é semântica:<br />

atividades imorais.<br />

b) Busca impressionar os assistentes,<br />

já que uma mentira<br />

muito repetida pode ser<br />

tomada como verdade.<br />

680. a) Segundo o padre, “Benzer<br />

motor é fácil, todo mundo<br />

faz isso...”, “... é uma coisa<br />

que todo mundo benze”.<br />

O autor critica o fato de o<br />

padre se deixar levar pelas<br />

convenções.<br />

b) O padre porta-se como subserviente<br />

e interesseiro, ao<br />

curvar-se diante do poder<br />

de mando do “major”; simultaneamente,<br />

despreza<br />

a simplicidade e a boa-fé<br />

dos dois populares que o<br />

procuram para benzer o<br />

cão.

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