15.04.2013 Views

O QUE É A FILOSOFIA?

O QUE É A FILOSOFIA?

O QUE É A FILOSOFIA?

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Schelling e Hegel. Hegel definiu poderosamente o conceito pelas Figuras de sua criação e os Momentos de<br />

sua autoposição: as figuras tornaram-se pertenças do conceito, porque constituem o lado sob o qual o<br />

conceito é criado por e na consciência, por meio da sucessão de espíritos, enquanto os momentos erigem o<br />

outro lado, pelo qual o conceito se põe a si mesmo e reúne os espíritos no absoluto do Si. Hegel mostrava,<br />

assim, que o conceito nada tem a ver com uma idéia geral ou abstrata, nem tampouco com uma Sabedoria<br />

in-criada, que não dependeria da própria filosofia. Mas era ao preço de uma extensão indeterminada da<br />

filosofia, que não deixava subsistir o movimento independente das ciências e das artes, porque reconstituía<br />

universais com seus próprios momentos, e só tratava os personagens de sua própria cria-<br />

cão como figurantes fantasmas. Os pós-kantianos giravam cm torno de uma enciclopédia universal do<br />

conceito, que remeteria sua criação a uma pura subjetividade, em lugar de propor uma tarefa mais modesta,<br />

uma pedagogia do conceito, que deveria analisar as condições de criação como fatores de momentos que<br />

permanecem singulares(8). Se as três idades do conceito são a enciclopédia, a pedagogia e a formação<br />

profissional comercial, só a segunda pode nos impedir de cair, dos picos do primeiro, no desastre absoluto do<br />

terceiro, desastre absoluto para o pensamento, quaisquer que sejam,,bem entendido, os benefícios sociais do<br />

ponto de vista do capitalismo universal.<br />

(8) Sob uma forma voluntariamente escolar, Frédéric Cossutta propôs uma pedagogia do conceito muito<br />

interessante: Eléments pour Ia lecture des textes philosophiques, Ed. Bordas.<br />

O que é um Conceito?<br />

I<br />

<strong>FILOSOFIA</strong><br />

Não há conceito simples. Todo conceito tem componentes, e se define por eles. Tem portanto uma<br />

cifra. <strong>É</strong> uma multiplicidade, embora nem toda multiplicidade seja conceituai. Não há conceito de um só<br />

componente: mesmo o primeiro conceito, aquele pelo qual uma filosofia "começa", possui vários<br />

componentes, já que não é evidente que a filosofia deva ter um começo e que, se ela determina um, deve<br />

acrescentar-lhe um ponto de vista ou uma razão. Descartes, Hegel, Feuerhach não somente não começam<br />

pelo mesmo conceito, como não têm o mesmo conceito de começo. Todo conceito é ao menos duplo, ou<br />

triplo, etc. Também não há conceito que tenha todos os componentes, já que seria um puro e simples caos:<br />

mesmo os pretensos universais, como conceitos últimos, devem sair do caos circunscrevendo um universo<br />

que os explica (contemplação, reflexão, comunicação...). Todo conceito tem um contorno irregular, definido<br />

pela cifra de seus componentes. <strong>É</strong> por isso que, de Platão a Bergson, encontramos a idéia de que o conceito<br />

é questão de articulação, corte e superposição. <strong>É</strong> um todo, porque totaliza seus componentes, mas um todo<br />

fragmentário. <strong>É</strong> apenas sob essa condição que pode sair do caos mental, que não cessa de espreitá-lo, de<br />

aderir a ele, para reabsorvê-lo.<br />

Sob quais condições um conceito é primeiro, não absolutamente, mas com relação a um outro? Por<br />

exemplo, outrem é necessariamente segundo em relação a um eu? Se ele o é, é na medida em que seu<br />

conceito é aquele de um outro — sujeito que se apresenta como um objeto — especial com relação ao eu:<br />

são dois componentes. Com efeito, se nós o identificarmos a um objeto especial, outrem já não é outra coisa<br />

senão o outro sujeito, tal como ele aparece para mim; e se nós o identificarmos a um outro sujeito, sou eu que<br />

sou outrem, tal como eu lhe apareço. Todo conceito remete a um problema, a problemas sem os quais não<br />

teria sentido, e que só podem ser isolados ou compreendidos na medida de sua<br />

solução: estamos aqui diante de um problema concernente à pluralidade dos sujeitos, sua relação, sua<br />

apresentação recíproca. Mas tudo muda evidentemente se acreditamos descobrir um outro problema: em que<br />

consiste a posição de outrem, que o outro sujeito vem somente "ocupar" quando ele me aparece como objeto<br />

especial, e que eu venho, por minha vez, ocupar como objeto especial quando eu lhe apareço? Deste ponto<br />

de vista, outrem não é ninguém, nem sujeito nem objeto. Há vários sujeitos porque há outrem, não o inverso.<br />

Outrem exige, então, um conceito a priori de que devem derivar o objeto especial, o outro sujeito e o eu, não<br />

20 ▲<br />

21 ▲<br />

27 ▲

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!